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Análise comportamental do comportamento verbal: Considerações

teóricas e experimentais úteis para a prática clínica.

Elisa T. Sanabio
Universidade de Brasília

Os diversos estudos sobre comportamento verbal têm investigado os possíveis


efeitos de estímulos verbais sobre o comportamento não verbal. Esses estímulos
podem ser fornecidos por uma outra pessoa (por exemplo, o experimentador) e/ou
podem ser gerados pelo próprio indivíduo. Nesse último caso, esses estímulos
verbais consistem em descrições de relações entre o próprio comportamento e
seus eventos antecedentes e conseqüentes, sendo tais descrições denominadas
de auto-relatos. Uma questão crítica nos estudos de auto-relatos é a
correspondência entre os comportamentos verbal e não verbal: quando a
correspondência entre o auto-relato e o desempenho não verbal é observada, é
comum a conclusão de que o comportamento não verbal do sujeito estava sob
controle de estímulos verbais gerados pelo próprio sujeito durante o experimento.
Entretanto, tal conclusão apresenta três problemas principais. O primeiro deles
refere-se a afirmação de que estímulos verbais foram gerados inevitavelmente
durante o procedimento experimental. Vários estudos encontrados na literatura
demonstram que a formulação de instruções (estímulos verbais) não é condição
necessária para que as contingências exerçam controle sobre o comportamento.
O segundo está relacionado com a noção de que os auto-relatos estariam sendo
controlados pelos estímulos verbais produzidos pelo sujeito, isto é, os auto-relatos
seriam um retrato fidedigno desses estímulos. Estudos têm demonstrado que tais
relatos podem estar sob controle de outras variáveis ambientais, além dos
estímulos que parecem descrever. Um terceiro e último problema está relacionado
com a noção de os processos verbais que ocorrem durante a sessão determinam
o comportamento não verbal observado. Para a Análise do Comportamento, toda
e qualquer causa deve ser buscada no ambiente, isto é, qualquer relação
comportamento-comportamento é estabelecida por contingências ambientais. Tais
considerações podem funcionar como importantes orientações para a prática
clinica, pois questionam procedimentos terapêuticos que priorizam apenas
alterações do comportamento verbal e que consideram os relatos do cliente um
reflexo fidedigno dos seus eventos privados.

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