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Compostos Orgânicos Voláteis Em Tintas – Alternativas Para A Redução Das

Suas Emissões E Seu Impacto Industrial E Económico

De que são feitas as tintas ?

Os três componentes principais de uma tinta são: os pigmentos, o ligante e uma


substância dispersante (solvente) que mantenha os pigmentos e o ligante na forma
líquida. Os pigmentos formam uma superfície colorida agradável esteticamente e
reflectem raios de luz destrutivos, prolongando a duração da tinta. Devem ser opacos e
quimicamente inertes conferindo bom poder de cobertura e estabilidade à tinta. Podem
ser funcionais (metaborato de bário, sulfureto de zinco), metálicos, brancos (dióxido de
titânio) e coloridos, que se dividem em orgânicos (derivados da anilina) ou inorgânicos
(óxidos de ferro e metais pesados – chumbo, cádmio, crómio, cobre, ferro e prata). Os
pigmentos orgânicos são considerados atóxicos, pelo que são muito usados em pinturas
interiores e brinquedos para evitar a ingestão de metais pesados por crianças, são mais
brilhantes e mais claros e apresentam maior poder de tingimento do que os inorgânicos,
que por seu lado têm estabilidade térmica e à luz ultravioleta elevadas. Os ligantes são
materiais poliméricos resinosos ou líquidos que determinam a flexibilidade, durabilidade
e resistência química da tinta. Podem ser resinas alquídicas, poliéster, fenólicas,
poliuretânicas, epoxi, acrílicas, vinílicas ou celulósicas. Os mais utilizados são resinas
alquídicas e vinílicas conjugando propriedades coesivas e brilho com um preço baixo,
pois os óleos vegetais são a principal matéria prima utilizada no seu fabrico. A sua
toxicidade apenas é evidenciada pela ingestão de grandes quantidades de tinta, podendo
ocorrer distúrbios gastrointestinais.

Porque são poluentes as tintas de base solvente?

Os solventes são compostos orgânicos voláteis (COV) que determinam a


viscosidade e a tensão superficial da tinta, necessárias à correcta aplicação e secagem,
bem como outras propriedades como aplicação facilitada de camadas muito finas de

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revestimento. Também são utilizados na limpeza e lavagem de equipamentos usados, tais
como tanques, contentores e tubagens. Podem ser hidrocarbonetos aromáticos, alifáticos
(tolueno, xileno e trimetilbenzenos), cetonas (etilmetilcetona e isobutilmetillcetona),
álcoois, éteres glicol e ésteres. Apresentam pressão de vapor elevada devido a interacções
intermoleculares fracas entre as moléculas apolares, evaporando rapidamente à
temperatura ambiente. Estes compostos reagem com óxidos de azoto na presença de luz
solar formando ozono (principal componente do smog fotoquímico), ácido nítrico (um
dos responsáveis pela chuva ácida), aldeídos, cetonas e outros compostos orgânicos
resultantes da oxidação de COV.
A exposição a estes solventes causa tonturas, dores de cabeça, fadiga, distúrbios
gastrointestinais, problemas cardíacos e irritação dos olhos, nariz e garganta e
encefalopatia tóxica crónica, como resultado de danos no sistema nervoso central. Esta
última é considerada uma doença ocupacional pela União Europeia. A protecção das vias
respiratórias, dos olhos e da pele, bem como a utilização de vestuário de protecção é
essencial quando se trabalha com solventes. Pode destacar-se a utilização de máscaras
com filtro, cuja função é filtrar os vapores dos solventes e as partículas de tinta, a
aplicação de um creme isento de silicatos que impede a adesão das resinas e das tintas à
pele, o uso de luvas com revestimento especial como nitrilo ou vinilo e de óculos de
protecção, pois os efeitos dos solventes vão desde irritação até lesão irreversível da
córnea. Um exemplo é o dos peróxidos orgânicos que podem ter um efeito de
cauterização e causar cegueira. A utilização de solventes implica também a formação dos
trabalhadores no local de trabalho.
Existem alguns compostos orgânicos voláteis com elevado grau de oxidação ou
que são bastante estáveis, cuja actividade fotoquímica é considerada negligenciável, entre
os quais estão vários hidrocarbonetos halogenados como cloreto de metileno,
tricloroetano, percloroetileno, clorofluorcarbonetos, perfluorcarbonetos e também a
acetona. No entanto, alguns dos hidrocarbonetos clorados têm efeitos indesejáveis para a
saúde e o uso de clorofluorcarbonetos foi bastante restringido, pois estes destroem o
ozono na estratosfera, onde ele é necessário para protecção dos efeitos nocivos das
radiações ultravioleta, apesar de não formarem ozono na troposfera, onde ele é
prejudicial.

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Alternativas ecológicas às tintas de base solvente

Assim, tornou-se necessário desenvolver alternativas que permitissem baixar


substancialmente as emissões de COV, tais como uso de solventes hidrogenados, tintas
com alto teor de sólidos, tintas em pó, tintas de base aquosa, tintas curadas por radiação e
tintas com baixo teor de COV. Muitos solventes orgânicos são obtidos por destilação
directa do petróleo, o que traz vantagens no custo do produto, mas resulta na emissão de
compostos muito tóxicos durante o fabrico e a utilização. Tal acontece porque as
correntes de refinação que originam estes solventes não são sujeitas a tratamentos de
acabamento na origem, sendo colocados no mercado praticamente da mesma forma
como são obtidos no processo de refinação, apresentando elevadas concentrações de
compostos orgânicos aromáticos, azotados e de enxofre. Se for realizado um processo de
hidrogenação a alta pressão (superior a 200 atmosferas) obtém-se uma mistura de
parafinas e isoparafinas, sem compostos orgânicos aromáticos e um teor de enxofre da
ordem de 2 ppm, considerada não tóxica e com biodegradabilidade moderada.

Tintas com alto teor de sólidos

As tintas com alto teor de sólidos têm um conteúdo sólido superior a 80%, o que
implica que o ligante seja quimicamente modificado de modo a ter uma viscosidade
intrínseca muito mais baixa que os ligantes nas tintas de base solvente, que apresentam
um teor de sólidos muito baixo, cerca de 25%. Os ligantes utilizados incluem resinas
alquílicas, poliéster, acrílicas e poliuretânicas. Este tipo de tintas está dividido em três
categorias: tintas de secagem ao ar, que curam por exposição à humidade ou ao oxigénio
a temperaturas inferiores a 90ºC, tintas que são curadas num forno a temperaturas
elevadas (175ºC a 205ºC) e tintas constituidas por uma mistura de dois líquidos de baixa
viscosidade, em que um dos líquidos contém resinas reactivas e o outro um activador ou
catalisador que promove a polimerização das resinas.
As vantagens deste tipo de tinta são: facilidade de aplicação, elevada relação
custo / eficiência, redução das emissões de COV, do uso de solventes, do perigo de

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incêndio, do número de aplicações para obter uma determinada espessura do filme, dos
custos energéticos devido a tempo de cura reduzido e de problemas de odor, permitindo a
utilização do equipamento convencional. As emissões de COV por este tipo de tinta
podem ser ainda mais reduzidas se forem utilizadas resinas baseadas em hidratos de
carbono como a sacarose e ácidos gordos ou óleos polinsaturados. As desvantagens são:
necessidade de temperaturas de cura elevadas, sensibilidade a limpeza inadequada do
substrato, sensibilidade extrema à temperatura e à humidade, dificuldade em controlar a
espessura do filme, viscosidade elevada e variações da viscosidade com a temperatura.
Estas características fazem com que estas tintas não sejam muito utilizadas na indústria.
Embora estas tintas sejam um pouco mais caras que as tintas com baixo teor de sólidos,
os custos com o controlo de poluição são mais baixos e os custos do equipamento são
semelhantes.

Tintas em pó

As tintas em pó são fabricadas com matérias primas 100% sólidas, podendo ser
temoendurecíveis em que a resina pode ser epóxi, poliéster, poliuretânica, acrílica ou
híbrida (epoxi e poliéster) ou termoplásticas nas quais a resina pode ser de polietileno,
polipropileno, policloreto de vinilo ou poliéster. O revestimento produzido é de elevada
qualidade, durável, resistente à corrosão e à radiação ultravioleta. Também se verifica
uma redução de custos devido a menor ventilação necessária e a uma poupança de
energia, uma redução da exposição dos trabalhadores a vapores de solventes, facilidade e
rapidez na troca de cores, pois a limpeza com solventes é desnecessária e uma alta
eficiência de reutilização. Por outro lado é díficil fabricar pequenas quantidades e o local
de armazenamento da tinta tem de ser seco e fresco. É necessário investir em
equipamento especial para implementar esta alternativa em linhas de produção já
existentes, mas em linhas de produção novas os custos do equipamento são semelhantes
aos do equipamento para fabricar revestimentos líquidos. As aplicações industriais deste
tipo de tinta são acabamentos metálicos, peças industriais, revestimento de
electrodomésticos e móveis de jardim.

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Tintas de base aquosa

As tintas de base aquosa podem ser divididas em três categorias: solúveis


em água (as moléculas da resina estão completamente dissolvidas em água),
dispersões aquosas (pequenos agregados de partículas da resina insolúveis estão
em suspensão na água) e emulsões ou tintas de látex (os agregados são maiores,
sendo necessário um emulsionante para os manter em suspensão ). Algumas
propriedades da água, tais como tensão superficial, entalpia de vaporização,
entalpia de fusão, capacidade calorífica e constante dieléctrica muito elevadas
relativamente a outros líquidos são de extrema importância no fabrico das resinas
e das tintas de base aquosa. A compatibilidade da resina com a água é assegurada
por co-solventes, substâncias cuja parte polar é compatível com as regiões polares
da resina e com o solvente (água) e cuja parte apolar tem a função de melhorar a
compabilidade da água com as regiões apolares da resina.
Este tipo de tinta reduz a emissão de COV durante a sua produção e
aplicação, permitindo a utilização de processos de aplicação convencionais. A
necessidade de tratamento de resíduos perigosos é minimizada sendo possível a
deposição em aterro de alguns destes tipos de tinta como resíduos industriais
banais. Outras vantagens incluem aumento da eficácia de transferência devido à
possibilidade de recuperar e reutilizar algumas das tintas, excelentes propriedades
superficiais: brilho, resistência à fricção e o não amarelecimento do filme. Por
outro lado necessita de um maior tempo de secagem e maior temperatura do
forno, de um bom contolo temperatura / humidade, a área de armazenagem deve
ser fechada e aquecida, a limpeza após a cura é díficil, a eficácia de transferência
é reduzida, tem tendência a formar espuma, é mais cara que uma tinta de base
solvente e é necessário equipamento anti-corrosão, pois a água ataca o alumínio e
o aço convencional. Os co-solventes muitas vezes incorporados na tinta dissolvem
parcialmente alguns dos pigmentos orgânicos ou impurezas presentes nestes
(sangria) causando mudanças na tonalidade das cores. Os sectores automóvel e de

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material electrónico (computadores, impressoras, etc) são os que mais utilizam
este tipo de tinta.

Tintas curadas por radiação

As tintas curadas por radiação são constituídas por resinas, diluentes, aditivos,
pigmentos e fotoiniciadores. Este processo é realizado por luz ultravioleta ou um feixe de
electrões de baixa energia, cujo calor é absorvido secando e endurecendo os componentes
da tinta, formando-se um filme polimérico sólido praticamente sem evaporação de
solventes, enquanto nas tintas de base solvente convencionais por cada 100 gramas de
tinta, 70 gramas evaporam. As vantagens deste tipo de tinta são: redução dos custos de
produção, pois os tempos de cura são reduzidos a segundos, baixos custos energéticos,
investimento em sistemas de cura é mais baixo do que investimento em fornos
convencionais, brilho, maciez e resistência mecânica elevados, aplicação em substratos
termossensíveis e reduz perigo de incêndio e de explosão. As desvantagens são:
interferência dos pigmentos na cura, não é aplicável a todos os tipos de acabamento, é
necessário um sistema de extracção do calor em excesso e o ozono produzidos e os
geradores de feixe de electrões são caros, ocupam bastante espaço e o oxigénio tem um
efeito inibidor neste tipo de polimerização, pelo que é necessário criar uma atmosfera
inerte de azoto. Esta tecnologia é utilizada na indústria do papel, embalagens para
alimentos, acabamentos de madeira, aplicações médicas, fibras ópticas, chips e circuitos
internos de produtos electrónicos.

Tintas naturais e tintas recicladas

Existem várias tintas naturais fabricadas com resinas, pigmentos naturais e


minerais finamente divididos que não contêm solventes, mas libertam COV naturais
presentes, por exemplo, nas resinas de pinheiro e nos citrinos, podendo causar irritação
nos olhos e problemas respiratórios em pessoas sensíveis a estes compostos. Estas tintas
são mais caras, é necessário aplicar um maior número de camadas e o tempo de secagem

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é maior do que nas tintas de látex, mas são menos tóxicas. As tintas menos tóxicas são as
tintas de leite feitas com proteínas do leite, pigmentos naturais, cal e argila.
As tintas de base solvente podem ser recicladas por reprocessamento e adição de
resinas e corantes ou remistura. As tintas recicladas são testadas antes de serem colocadas
no mercado, a sua qualidade e duração são semelhantes às das tintas virgens, são mais
baratas e evitam a deposição das tintas de base solvente em aterros.

Legislação portuguesa e europeia

Tal como já foi referido anteriormente a emissão de COV, que posteriormente


participam em reacções químicas, é responsável pela acidificação e formação de ozono
troposférico e outros oxidantes fotoquímicos, que em concentrações elevadas prejudicam
não só a saúde humana, mas também as florestas, a vegetação e as culturas reduzindo o
seu rendimento. Como estes poluentes são transportados na atmosfera a longas distâncias,
o problema adquire uma dimensão transfronteiras, pelo que a União Europeia apesar de já
possuir legislação relativamente à redução da emissão de compostos orgânicos voláteis
propôs uma directiva relativa aos valores limite nacionais de emissão que estabelece
limites para a emissão de dióxido de enxofre, óxidos de azoto, COV e amoníaco por cada
estado membro.
Prevê-se que esta legislação contribua para uma redução de 50% (14,1 millhões
de toneladas em 1990 para 7,1 milhões de toneladas em 2010) das emissões de COV.
Apesar disso, será necessária uma redução ainda mais significativa (5,5 milhões de
toneladas em 2010) a longo prazo para proteger completamente a saúde pública e o
ambiente. Os sectores em que a utilização de solventes emissores de COV é maior são os
seguintes: tintas (1,5 milhões de toneladas), tintas de impressão (125 quilotoneladas),
cosmética, artigos de toilete e perfumaria (200 quilotoneladas – emissões não abrangidas
pela directiva), produtos de limpeza e polimento (300 quilotoneladas) e produtos
utilizados no retoque de veículos (45 quilotoneladas). Embora os sectores da pintura
decorativa e do retoque de veículos já manisfestem uma preferência pela utilização de
produtos com baixo teor de solventes pensa-se que será viável, técnica e

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economicamente, num período de tempo realista e sem comprometer a qualidade dos
produtos reduzir ainda mais o teor de COV destes produtos.
A Áustria, Dinamarca, Holanda, Suécia, França, Espanha e Alemanha já possuem
legislação relativa a limitação do teor de COV e proibição da venda de certos produtos,
protecção da saúde dos trabalhadores e existem rótulos ecológicos como MAL-code, NF
Environnement, AENOR medio ambiente e Blaue Engel para tintas e vernizes. Na
Grécia, Itália, Luxemburgo, Irlanda, Finlandia e Bélgica não há legislação que regule o
teor de COV com fins ambientais. Em Portugal o decreto lei 78/2004 de 3 de Abril define
valores limite de emissão e de concentração ao nível do solo de dióxido de enxofre,
óxidos de azoto, COV, amoniaco e compostos halogenados. O facto de vários sectores
industriais utilizarem produtos com baixo teor de COV não é suficiente para cumprir os
objectivos ambientais propostos pela Comissão Europeia devido aos elevado número de
produtores e à dificuldade em impor e controlar a sua observância. O preço dos solventes
incluidos nos produtos de pintura representam uma pequena percentagem do preço
destes, pelo que a eficácia de incentivos fiscais seria limitada, para além de que, para os
consumidores, factores como a qualidade do produto são mais importantes do que o
preço. Assim, a 23 de Dezembro de 2002, a Comissão Europeia decidiu propor uma
directiva que assegura uma abordagem harmonizada e coerente e permite que os estados
membros garantam a aplicação adequada das medidas propostas e tirem partido das
medidas já em vigor. Uma redução anual de 280 quilotoneladas até 2010 custará entre
108 e 157 milhões de euros, sendo largamente compensada pelos benefícios para a saúde:
582 milhões de euros, nos quais não estão incluidos os benefícios para a saúde dos
pintores e para os ecossistemas, o que demonstra que a aplicação da directiva trará
benefícios significativos.

Efeitos económicos e reacções dos industriais

A directiva proposta irá afectar o fabrico de tintas decorativas e a cadeia de


produção destes produtos. Os sectores afectados serão a indústria das tintas, a indústria
dos solventes e resinas e os fabricantes de aglutinadores e pigmentos. O cumprimento dos
teores de COV máximos previstos nos produtos à venda no mercado da União Europeia

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implicará custos com equipamento: os fabricantes de tintas terão de modificar ou
substituir as misturadoras, custos em investigação e desenvolvimento na indústria das
resinas e utilização de produtos alternativos no sector de retoque de veículos. Na
industria das tintas haverá custos com investigação, reformulação, investimento em
equipamento de aço inoxidável e desenvolvimento de novas resinas, o que levará a um
aumento de 1% a 1,5% no preço final de venda ao consumidor. As receitas da indústria
de solventes diminuirão cerca de 65 milhões de euros anuais devido à redução do
consumo de solventes, o que considerando o peso económico deste sector é um efeito
pouco significativo. Os custos fixos terão de ser distribuidos por um volume de produção
decrescente caso não sejam desenvolvidos substitutos dos solventes.
O aumento dos preços não se traduzirá numa diminuição das vendas, pois numa
obra de pintura os custos com material representam apenas 15% a 25% do custo total.
Contudo, os retalhistas terão de adaptar os seus equipamentos e os pintores profissionais
terão de ajustar os seus planos e métodos de trabalho aos novos produtos. A diminuição
da procura de produtos de base solvente será compensada pelo aumento da procura de
produtos de base aquosa, pelo que ocorrerá uma redistribuição interna no mercado global,
mas o impacto no emprego não será significativo. As pequenas e médias empresas serão
as mais afectadas, sobretudo as que produzem exclusivamente produtos de base solvente,
pois a necessidade de investimento, reconversão da mão de obra e adaptação será maior.
De modo a permitir uma reconversão mais gradual, as tintas de base solvente continuarão
a ser autorizadas para um vasto número de aplicações durante o período de transição
previsto na directiva, em vez de ser imposta a utilização apenas de solventes de base
aquosa e os teores máximos de COV fixados não têm em conta os desenvolvimentos
tecnológicos mais recentes.
Os industriais são, em geral, favoráveis a iniciativas que visem a redução das
emissões de COV, apesar de alguns terem dúvidas quanto à viabilidade à escala
comercial de alguns dos valores propostos para o teor máximo de solventes nas tintas a
partir de 2010. Algumas associações representativas como a UNIEP (Union
Internationale des Entrepreneurs de Peinture), a UEAPME (União Europeia do
Artesanato e das Pequenas e Médias Empresas) e a Union Chimica – Confapi afirmam
que os limitados recursos disponíveis, a falta de capacidade de investigação e

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desenvolvimento e o impacto acrescido da exploração em pequena escala dificultam a
aplicação da legislação proposta pelas pequenas e médias empresas. A proposta é apoiada
por todos os estados membros, embora a Itália e a Espanha tenham expressado algumas
reservas devido ao problema das pequenas e médias empresas e ao excesso de
regulamentação respectivamente. A proposta de valores nacionais de emissão estima que
Portugal emitirá 102 milhões de toneladas de COV em 2010 e os 15 países da União
Europeia emitirão 5581 milhões de toneladas (a directiva de valores de emissão
nacionais prevê emissões de 180 e 6510 milhões de toneladas respectivamente). A
directiva proposta resultará num benefício de 14,2 milhões de euros para Portugal e de
581,8 milhões de euros para os 15 estados membros da União Europeia.

Políticas ambientais na indústria das tintas

A preservação do ambiente, a protecção dos utilizadores, a saúde ocupacional e


segurança dos trabalhadores e o investimento em investigação são cada vez mais
importantes para as empresas fabricantes de tintas. Em Portugal podem destacar-se os
exemplos da Hempel, da CIN e da Robbialac.
A Hempel é uma empresa que produz tintas marítimas, industriais e de
construção. O fabrico de tintas e vernizes baseia-se num conjunto de operações de
mistura em que a quantidade de resíduos produzidos pode ser reduzida por aplicação de
tecnologias de recirculação, incorporação dos subprodutos formados ou modificação do
próprio processo. As medidas preventivas na formação de resíduos incluem: substituição
de cubas de ferro por cubas de aço inox, reutilização da água de lavagem após tratamento
em ETAR, reutilização do diluente de limpeza após decantação, utilização de sistemas de
produção automatizados e em circuito fechado e utilização de tampas metálicas ou
coberturas plásticas em sistemas abertos ou semi-abertos. Assim, a produção de resíduos
está associada sobretudo às embalagens das matérias primas e aos produtos utilizados na
limpeza de equipamento de produção. Desde 1998 que a Hempel tranfere a gestão de
resíduos de embalagens urbanas e não urbanas para a Sociedade Ponto Verde, de modo a
que todos os tipos de embalagens não reutilizaveis colocados no mercado originem
resíduos urbanos ou indústriais.

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A investigação e o desenvolvimento de novos produtos e novas matérias primas
mais ecológicas são realizadas não só nos três laboratórios centrais situados na
Dinamarca, em Espanha e em Singapura, mas também em todas as fábricas da Hempel
onde se efectua o estudo e a adaptação de produtos a condições locais específicas e que
também possuem laboratórios de controlo de matérias primas e de produtos acabados. De
modo a reduzir a toxicidade dos produtos os cromatos de chumbo e de zinco têm sido
substituidos por pigmentos anticorrosivos de fosfato de zinco, as formulações isentas de
estanho são uma alternativa aos produtos antivegetativos, reduzindo a libertação de
compostos organoestânicos nos mares e portos e o mercúrio utilizado como fungicida nas
tintas de emulsão tem sido substituido por outros fungicidas de igual eficiência, mas sem
riscos ambientais inerentes. Com o objectivo de reduzir substancialmente a utilização de
solventes orgânicos nas tintas estão em desenvolvimento ligantes de base aquosa e de alto
teor de sólidos.
A implementação dos programas Segurança e Controlo Total de Perdas (1993) e
Estratégia de Produção Mais Limpa (1998). Estes programas visam identificar todas as
exposições a perdas por acidentes ou erros e melhorar a competitividade empresarial,
tendo por base um conhecimento mais vasto das questões ambientais, o que se traduz em
valor económico, social e ambiental – as características base da sustentabilidade.
A CIN é uma empresa produtora de tintas e vernizes de base aquosa e de base
solvente, diluentes, betumes, massas e tintas em pó. As tintas de base aquosa e em pó
representam cerca de 72% da produção total. Conjuntamente com a utilização de
coberturas plásticas devidamente vedadas nas cubas abertas, no fabrico de tintas de base
solvente, a produção destas tintas contribui para a redução das emissões de COV. A
maioria dos produtos da CIN são comercializados em embalagens metálicas, pois estas
são mais facilmente recicláveis. À semelhança do que acontece na Hempel, a gestão e o
destino final das embalagens colocadas no mercado pela CIN é da responsabilidade da
Sociedade Ponto Verde, tal como está previsto na lei. Entre as actividades de
investigação e desenvolvimento realizadas pela CIN pode citar-se o o projecto
PROLIGALBA que consiste no desenvolvimento de uma tinta baseada numa resina
alquídica dispersável em água, formada a partir de óleos polinsaturados e contendo
grupos hidrófilos e de tintas baseadas em dispersões aquosas de resínas híbridas

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alquílicas ou acrílicas, com resistência à agua e durabilidade superiores em parceria com
a Agência de Inovação e a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
A Robbialac é uma empresa que actua nos sectores da repintura automóvel,
construção cívil e indústria. A quantidade e qualidade dos solventes utilizados define a
compatibilidade dos complexos sistemas de repintura e dos materiais de pintura com o
ambiente, pelo que os principais produtos da Robbialac são as tintas de base aquosa e as
tintas com alto teor de sólidos. A produção de tintas de base aquosa (com um teor
máximo de co-solventes de 10%) resulta numa poupança de matérias primas e recursos
para além de proteger o meio ambiente.
O desenvolvimento de alternativas ecológicas às tintas de base solvente, a
implementação de legislação em vários países e de políticas ambientais por parte das
indústrias que assentam na redução das emissões poluentes, do consumo de matérias
primas e da produção de resíduos resulta na protecção da saúde pública, no aumento da
produção de diversas indústrias, pois a saúde dos seus trabalhadores também é protegida,
verificando-se um aumento da eficiência energética dos processos de produção e na
preservação do ambiente. O carácter social, económico e ambiental destes factores ilustra
como a indústria pode contribuir para um desenvolvimento ambientalmente sustentado.

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Bibliografia
 www.europarl.eu.int/meetdocs/commitees/rett/2003120/COM_COM(2002
)0750_pt.pdf
 www.co.dakota.mn.us/cppm/Sustainability/paint.pdf
 www.p2pays.org/ref/01/0077/alternat.htm
 www.bat-dk.org/2004.CPH%20declaration%20on%20solvents%20and
%20paints-EN.final.htm
 www.mundocor.com.br/tintas/cura_radiacao_uv.htm
 www.carbono.com.br/artigo/Artigo2.htm
 www.carbono.com.br/artigo/Artigo3.htm
 www.mundocor.com.br/clariant_aquosas.htm
 www.adi.pt/sectores%20de%20actividade/projectos/proligalba.htm
 www.aerias.org/kview.asp?Docld=146&spaceid=1&subid=7
 www.healthyhomeplans.com/articles/information5.php
 www.hempel.pt
 www.cin.pt
 www.robbialac.pt
 www.diramb.gov.pt/data/basedoc/TXT_LN_26380_1_0001.htm

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