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Introdução
Planeamento pré-operatório
O planeamento pré-operatório é importante em qualquer procedimento cirúrgico, mas
torna-se essencial quando se pretende utilizar um procedimento a céu fechado, ou quase fechado,
com correcções nos 3 planos do espaço, como é o caso da metodologia de Ilizarov.
Um bom planeamento pré-operatório começa com a obtenção de boas radiografias,
incluindo todos as zonas osteo-articulares envolvidas e os segmentos ósseos contíguos em dois
planos ortogonais e, se necessário em mais dois planos oblíquos. É aconselhável também obter
radiografias simples das estruturas osteo-articulares correspondentes contralaterais que servirão
de padrão para guiar as correcções pretendidas. Geralmente estes exames são suficientes para
planear o tratamento, mas em deformidades mais complexas é aconselhável obter também uma
tomografia axial computadorizada, se possível com reconstruções 2D e 3D
Pré-montagem do aparelho
A pré-montagem, permite a construção de um aparelho mais leve e confortável, permitindo
diminuir o tempo operatório para metade quando comparada com a construção do aparelho
durante a intervenção cirúrgica. [4,5]
A pré-montagem básica para alongamento e correcção axial de um segmento ósseo começa
definindo-se os pontos de fixação em cada um dos segmentos do osso deformado. Estes pontos
de fixação podem ser constituídos por dois anéis o mais distantes possível, um anel e uma ponte
com um cravo, um semi-anel ou arco (Fig1A,B,C) [3,4,5,7,11], dependendo da necessidade em
estabilidade. O diâmetro do anel ou arco pode ser calculado no membro do paciente medindo o
diâmetro da zona do membro e acrescentando 6 cm. Em alternativa pode-se experimentar vários
anéis no membro do doente, escolhendo um que deixe um espaço de dois dedos entre o bordo
interno do anel e a pele a toda a volta. Os dois pontos de fixação são conectados por 3 bastões
roscados. Sé for necessária mais estabilidade, como no caso de doentes pesados, poderá ser
acrescentado mais um bastão roscado. Após completada a montagem do aparelho, este é testado
no membro do doente, para confirmar de novo se os diâmetros dos anéis e alinhamento estão
correctos.
Fig.1
Os anéis são fixados à estrutura óssea utilizando dois fios inseridos com uma angulação
superior a 60º entre si, um fio e um cravo roscado em angulo recto ou 2 cravos roscados,
consoante a melhor combinação que permita evitar as estruturas nobres da zona a tratar,
incluindo vasos sanguíneos, nervos e músculos (Fig.2A,C,D). Quando for necessário introduzir 2
fios com angulação inferior a 60º, deverão ser utilizados fios olivados (Fig.2B). Se for necessária
mais estabilidade, podem-se acrescentar mais fios ou cravos roscados.
Após feita a montagem das 2 partes do aparelho, correspondentes aos 2 segmentos, estas
são interligadas por 3 alongadores ou 2 charneiras e um bastão motor, consoante se procede em
primeiro lugar a um alongamento linear ou a uma correcção axial com alongamento simultâneo.
Fig.2
Aplicação do aparelho
Aplicamos o aparelho com o doente em posição supina numa mesa operatória normal ou
em marquesa ortopédica. O aparelho pré-montado é aberto em livro, fechado à volta do membro
e alinhado com a ajuda de um intensificador de imagem. São então colocados um fio no anel
proximal e outro no mais distal para alinhar e centrar o aparelho no membro, após o que são
introduzidos os restantes cravos roscados e fios. Procede-se então à corticotomia pelo método
descrito por Ilizarov, osteotomia percutânea com escopro com perfuração múltipla com broca
fina ou utilizando uma serra de Gigli.
Manipulação do aparelho em ambulatório
A correcção de uma deformidade congénita ou adquirida ou de uma consolidação viciosa
após fractura, é feita no período ambulatório, com início 5 a 10 dias após a aplicação do
aparelho. Esta correcção inclui a correcção de desvio de eixo, alongamento e correcção
rotacional ou translacional e é conseguida adaptando charneiras e bastões motores ao aparelho
inicial.
O planeamento destas modificações pode ser feita manualmente ou assistida por
computador. A primeira técnica é baseada na colheita de dados geométricos do segmento ósseo
deformado e são do doente e seu estudo em papel, o que permite encontrar os pontos charneira, a
velocidade e duração de correcção [14,15]. A técnica assistida por computador é baseada na
introdução dos dados respeitantes à posição espacial de determinados pontos da estrutura
deformada e normal num programa especial preparado para determinar a localização espacial dos
anéis e pontos charneira, velocidade e duração da correcção [14].
Embora teoricamente menos precisa, preferimos o planeamento manual porque é mais
económico, está sempre disponível, tem uma aplicação rápida e menos factores de erro, pois
permite o “ajusta pela melhor posição”, ao ser possível introduzir pequenas modificação na
localização do ponto charneira encontrado e observando a correcção que se obtém por rotação do
decalque sobre esse ponto.
Fig.3
5- Finalmente unem-se os dois anéis junto à deformidade com duas charneiras centradas ao
ponto charneira, com um eixo de rotação perpendicular ao plano da deformidade (Fig.5A)
e monta-se um bastão motor no lado oposto, retirando os bastões roscados que se
encontravam a ligar os dois anéis. Rodando o bastão motor à velocidade e com a duração
determinada, vai corrigir simultaneamente o encurtamento e desvio de eixo (Fig.5B).
Fig.5
Fig.7
Para corrigir uma deformidade rotacional
Este tipo de deformidade pode também ser corrigida cerca de 10 dias após a aplicação do
aparelho se é a única deformidade residual, ou antes da maturação do regenerado ósseo, após
uma correcção axial e alongamento.
A deformidade rotacional é medida clinicamente ou com auxílio de um exame por
tomografia axial computadorizada.
O dispositivo básico é constituído por 2 anéis unidos por 3 bastões curtos, cada um com
uma patilha deslizante e um bastão de tracção num dos anéis, que vão permitir um movimento de
rotação entre os dois anéis. Este dispositivo deve ser montado entre os dois anéis do aparelho
junto à deformidade, utilizando placas curtas, de modo a que o seu centro de rotação coincida
com o centro da tíbia (Fig.8A).
Rodando as porcas dos bastes de tracção à velocidade normal de ¼ de volta 4 vezes ao dia
durante o período calculado como descrito na Fig.14B, obtém-se a correcção da deformidade
rotacional (Fig.8B).
Fig.8
Bibliografia
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fixator for fixation. Clin. Orthop. And Rel.Res., 1992; 280:15-22.
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10 - Kumar A, Whittle AP: Treatment of complex (Schatzker type VI) fractures of the
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13 -McDonald MG, Burgess RC, Bolano LE, Nicholls PJ: Ilizarov treatment of pilon
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