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CAPÍTULO 2 ele, as fontes são somente a lei (lex), os plebiscitos (plebiscita), os

senatus-consultos (senatusconsulta), as constituições imperiais (consti-


tutiones principum), os éditos dos magistrados (edicta
magistratuum) e a jurisprudência (responsa prudentium).
FONTES DO DIREITO
Leis e plebiscitos

As leis e plebiscitos eram manifestações coletivas do povo. As


primeiras, leges rogatae, tomadas nos comícios, de que só participavam
A produção das regias jurídicas se faz pelas fumes do direito, cidadãos romanos (populus romanus). Os comícios eram convocados
tias são os órgãos que têm a função ou poder de criar a norma pelos magistrados para deliberar sobre texto de lei por eles proposto.
jurídica e, por isso mesmo, se chamam "fontes de produção", Os segundos, plebiscita, forma anómala de fonte de direito, eram
Exemplo: os comícios (comitia), que votavam as leis em Roma. Por decisões da plebe, reunida sem os patrícios. Essas deliberações passa-
outro lado, podemos denominar "fontes de revelação" o produto da ram a ser válidas para a comunidade toda desde que a lei Hortênsia,
atividade dos órgãos que têm aquele poder ou função de legislar. em 286 a.C., assim determinou.
Assim, a própria regra jurídica, na forma como ela aparece ou se Interessante observar que são pouquíssimas as leis romanas de
revela. Exemplo, a lei (lex rogata) resultante de uma proposta feita real importância para o direito privado: não mais de 25. Conservou-se
pelos magistrados e votada pelos comícios em Roma. o nome de aproximadamente 800 leis nos 500 anos em que tais
fontes produziram direito.
COSTUME
Senatus-consultos
Entre as fontes do direito romano, no segundo sentido, está o
costume, que, no período arcaico, foi quase que exclusivamente a Os senatus-consultos (senatusconsultá) eram deliberações do
sua única fonte. O costume (mos, consuetudo, mores maíorum) é a senado, cuja função legiferante foi somente reconhecida no início
observância constante e espontânea de determinadas normas de com- do Principado (27 a.C. — 284 d.C.). Na República, os senatus-consul-
portamento humano na sociedade. Cícero o definiu como sendo apro- tos eram deliberações do senado, dirigidas mormente aos magistrados.
vado, sem lei, pelo decurso de longuíssimo tempo e pela vontade de No Principado, eram propostos pelos imperadores e, no início, consis-
todos: quod voluntate omnium sine lege vetustas comprobavit (De tiam, também, em instruções aos magistrados sobre o exercício de suas
inv. 2.22.67). Juliano o caracterizava como "inveterado": inveterata funções. Mais tarde, a partir do imperador Adriano (117 — 138 d.C.),
consucíudo (D. 1.3.32.1) e Ulpiano como "diuturno": diuturna con- passou-se a aprovar simplesmente, por aclamação, a proposta do impe-
suetudo (D. 1.3.33). De qualquer modo, a observância da regra con- rador (oraíio principís), transformando-se, destarte, o senatus-consulto
suetudinária deve ser constante e universal. numa forma indireta de legislação imperial.

OUTRAS FONTES DO DIREITO Constituições imperiais


Ao tratar das fontes do direito na época clássica, Gaio, nas As constituições imperiais eram disposições do imperador que não
Instituías (Gai. 1.2), nem sequer menciona o costume entre elas. só interpretavam a lei, mas, também, a estendiam ou inovavam. As
Para denominações variavam, conforme o conteúdo ou natureza delas:
edicta — ordenações de caráter geral, à semelhança das ordenações
17 dos magistrados republicanos, de que trataremos logo a seguir;
decreta

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— decisões do imperador, proferidas num processo; rescripta — res- Jurisprudência
postas dadas pelo imperador a questões jurídicas a ele propostas por
particulares em litígio ou por magistrados; mandato, — instruções Os pareceres dos jurisconsultos exerceram papel importante na
dadas pelo imperador, na qualidade de chefe supremo, aos funcioná- evolução do direito romano, desde os tempos antigos. As regras con-
rios subalternos. suetudinárias do direito primitivo, bem como as das XII Tábuas e
e outras, todas bastante simples e rígidas, tinham que ser interpretadas
para que pudessem servir às exigências de uma vida social e económica
Éditos dos magistrados
cada vez mais evoluída. Essa interpretação, nas origens remotas do
direito romano, estava afeta aos pontífices, que eram chefes religiosos.
Os éditos dos magistrados são fonte de direito importantíssima
Mais tarde, porém, passou a ser obra de juristas leigos (prudentes),
na República (510 — 27 a.C.). A determinação da regra jurídica a conhecedores do direito. Eles inovavam, criavam novas normas, par-
ser aplicada pelo juiz na decisão de uma questão controvertida cabia tindo das existentes: isto por meio da interpretação extensiva destas.
ao magistrado, especialmente ao pretor. Essa função se chamava Por exemplo: as XII Tábuas conheceram uma regra que punia, com
jurisdição (jus diccre) e, no desempenho dela, os pretores tiveram a perda do pátrio poder, o pai de família que vendesse três vezes
prerrogativas bastante amplas, baseadas no poder de mando, denomi- o filho. Desta regra, a interpretação jurisprudencial criou o instituto
nado impcrium. Podiam cies, quando julgavam necessário ou oportuno, da emancipação. Para isso, o pai deveria vender, formal e ficticia-
denegar a tutela jurídica, mesmo contra as regras do direito quirilário, mente, três vezes seu filho a um amigo de confiança. Este o libertava
ou, inversamente, conceder meios processuais a pretensões que não imediatamente após cada venda, com o que o filho voltava automati-
tinham amparo legal no mesmo direito. Assim, dependia de seu poder camente para o poder do pai. Após a terceira venda, porém, o filho
discricionário a aplicação ou não daquelas regras do direito quiritário. libertado já não retornava à sujeição do pai, cujo poder sobre ele
Tinham eles outros meios processuais também para introduzir inova- assim se extinguia.
ções, a fim do ajudar, suprir e até corrigir as regras do direito A interpretatio prudentium, entretanto, não foi enquadrada entre
quiritário. as fontes do direito na época republicana, que somente conheceu
Nesse mister, o pretor, tal qual os outros magistrados, promul- uma influência de fato dos juristas de renome.
gava seu programa ao assumir o cargo, revelando como pretendia agir O papel oficial dos juristas na atividade produtora de normas
durante o ano de seu exercício. Essa atividade normativa manifesta- jurídicas começou com o imperador Augusto (27 a.C. — 14 d.C.), que
va-se através do edito, como era chamado aquele programa. Com o conferiu a jurisconsultos mais conhecidos e apreciados o privilégio
edito, na realidade, o pretor criava novas normas jurídicas, ao lado de darem pareceres sobre questões de direito. Nesse mister, eles
das do direito quiritário. Essas novas normas pretorianas não podiam podiam agir como expressamente autorizados pelo imperador: ius res-
derrogar o direito quiritário, mas existiam paralelamente a ele. pondendi ex auctoritate principis. Por isso mesmo, esses pareceres
Embora houvesse a mudança anual dos magistrados, o edito vinculavam o juiz que decidia a causa, a não ser que houvesse pare-
passava a conter um texto estratificado, fruto da experiência dos ante- ceres contraditórios de igual valor. Posteriormente, os pareceres dos
cessores, formando o chamado edictum tralaticium. Inovações também jurisconsultos (responsa), versando sobre a aplicação das regras jurí-
podiam ser introduzidas pelo novo pretor, mediante o edito chamado dicas aos mais variados fatos da vida, concorreram para a elaboração
repentinum. dos princípios fundamentais do direito e representaram, desse modo,
A redação definitiva do edito do pretor foi obra do jurista Sálvio a manifestação mais original do génio criador dos romanos nesse
Juliano, por ordem do Imperador Adriano, por volta do ano 130 d.C. campo. Durante o Principado, nos primeiros séculos de nossa era,
(Edictum Perpeíuum Salvii Juliani). Tal compilação representou o uma plêiade de ilustres juristas deu sua contribuição grandiosa à ela-
fím da evolução desta fonte de direito. boração do direito de Roma.

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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS FONTES DO DIREITO

Historicamente considerando, o costume, as leis e os plebiscitos, com a


respectiva interpretação jurisprudencial, representaram as fontes do direito
quiritário (ius civile) na República (510 a.C. — 27 a.C.) e o edito do pretor,
evidentemente influenciado pelos senatus-consulíos antigos, a fonte do direito
pretoriano (ius honorarium) na mesma época.
Essas fontes continuaram formalmente no período do Principado (21 a.C.
— 284 d.C.). Entretanto, decaindo a importância dos comícios legislativos e
cstratificando-se o edito pretoriano com o Edito Perpétuo de Sálvio Juliano, a
atividade legislativa passou à alçada do imperador. Ele a exercia, então, pelos
senatus-consultos por ele propostos e simplesmente aclamados pelos
senadores. Depois, cada vez com menor disfarce, o imperador legislava por meio
das constituições imperiais, que eram as normas jurídicas por ele expedidas.
Na época pós-clãssica, de organização política monárquica absoluta (284
d.C. — 565 d.C.), a única fonte de direito era, praticamente, a vontade do
imperador, expressa em suas constituições. O conjunto de regras de direito por
ele editadas chamou-se de leges, em contraposição ao direito elaborado pelos
pareceres dos jurisconsultos da época clássica, cuja importância jurídica e
validade os imperadores reconheceram e que se denominou lura. As compilações
pós-clâssicas, culminando com a de Justiniano (527 d.C. — 565 d.C.), continham
justamente legcs e iura. O Código de Justiniano compõe-se das constituições
imperiais. O Digesto é uma coleção de fragmentos das obras e pareceres dos
jurisconsultos clássicos.

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