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ISSN 1516-411X

Recomendações para o cultivo de alfafa na


região Sudeste do Brasil

46 Introdução
A alfafa (Medicago sativa), originária da Ásia Menor e do Sul do
Cáucaso, é uma leguminosa forrageira que se caracteriza por se adaptar a
diferentes tipos de clima e de solo, o que a torna conhecida em quase
todas as regiões agrícolas do mundo. Outra importante característica
dessa planta é o seu elevado valor nutritivo, com 20% a 25% de proteína
bruta na matéria seca, bem como a sua capacidade de produzir forragem
tenra e de boa palatabilidade aos animais.
Mundialmente, a ocorrência da alfafa é mais freqüente em regiões
de clima temperado, como nos Estados Unidos, na Rússia, no Canadá,
na Argentina e na Itália. Entretanto, mais recentemente, alguns
resultados experimentais com a planta têm revelado o potencial de seu
cultivo em ambientes tropicais, como no Sudeste do Brasil. Nesse
São Carlos, SP aspecto, instituições de pesquisa agrícola da região, principalmente da
Outubro de 2006
Embrapa (Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos, SP, e Embrapa
Gado de Leite, em Juiz de Fora, MG), têm demonstrado que a alfafa pode
Autores produzir até 20 t/ha de matéria seca por ano, com média de teor de
Joaquim Bartolomeu Rassini
proteína bruta de 25%, podendo ser fornecida aos animais na forma “in
Eng. Agr., Dr., Produção
Vegetal, Pesquisador da
natura” (verde) e picada, ou na forma de feno, ou ser utilizada em pastejo
Embrapa Pecuária Sudeste
Endereço eletrônico:
intensivo rotacionado.
rassini@cppse.embrapa.br
O objetivo desta publicação é o de estimular o cultivo de alfafa no
Reinaldo de Paula Ferreira Sudeste do País, em estabelecimentos pecuários com potencial de
Eng. Agr., Dr., Melhoramento
de Forrageiras, Pesquisador da produção, ou
Embrapa Pecuária Sudeste
Endereço eletrônico: seja, que
Foto: Reinaldo de Paula Ferreira

reinaldo@cppse.embrapa.br
disponham de
Adônis Moreira
Eng. Agr., Dr., Solos e Nutrição animais com
de Plantas, Pesquisador da
Embrapa Pecuária Sudeste altos índices
Endereço eletrônico:
adonis@cppse.embrapa.br zootécnicos,
bem como de
solos propícios
química e
fisicamente para
o plantio da
forrageira.
2 Recomedações para o cultivo de alfafa na região Sudeste do Brasil

Resultados de pesquisa com alfafa na região A quantidade de nitrogênio fixada


Sudeste do Brasil simbioticamente pela alfafa varia entre 120
No Brasil, os sistemas intensivos de e 330 kg/ha por ano, o que é suficiente para
produção animal, principalmente de leite seu desenvolvimento e para a produção de
bovino, surgiram em meados da década de forragem. Em cultivares mais adaptadas à
1980 e início da década de 1990, incentivando região Sudeste do Brasil, verificou-se que a
o cultivo de alfafa em regiões pouco estirpe SEMIA-116 apresentou excelentes
tradicionais, como a do Sudeste. Entretanto, nodulações, não ocorrendo deficiência de
por se tratar de uma planta exótica, que nitrogênio (amarelo-pálido nas folhas) e
depende dos novos fatores bióticos e abióticos observando-se plantas com níveis de 20% a
regionais, apresentou problemas de adaptação a 25% de proteína bruta.
essas novas condições ambientais, Adubações fosfatadas e potássicas
principalmente em relação às de solo. Nessa para cultivo de alfafa na região Sudeste,
época, as instituições de pesquisa agrícola tanto para formação como para manutenção
iniciaram experimentações com a planta e da cultura, devem se basear no Boletim
houve a formação da Rede Nacional de Técnico do IAC (Tabela 1).
Avaliação de Cultivares de Alfafa (Renacal), Na formação do alfafal, é
coordenada pela Embrapa Gado de Leite. recomendado que não se aplique mais de 60
As condições de solo, principalmente kg/ha de K 2O no sulco de plantio. Se a dose
quanto à química, estão entre os mais exceder esse valor, deve-se aplicar o
importantes fatores que interferem no cultivo restante em cobertura, cerca de 30 a 40 dias
de alfafa no País, em função da baixa a média após a emergência das plantas. Para o
fertilidade da maioria dos solos no Brasil. potássio em cobertura, aplicado após cada
Nesse aspecto, resultados de pesquisas de corte e a lanço, observou-se que há resposta
outros países revelam que o pH para essa linear no rendimento de matéria seca de
cultura deve se situar entre 6,5 e 7,5. Para as alfafa, com doses de até 100 kg/ha de K2O.
cultivares mais adaptadas às condições Apesar de a adubação orgânica ser
brasileiras, como as do Sudeste, a correção da fundamental no estabelecimento dos
acidez dos solos está baseada na saturação alfafais, bem como também ser fonte de
por bases, para a qual o nível de 80% é micronutrientes para a cultura, aplicações
desejado, refletindo pH na faixa de 6,0 a 6,5. de 30 kg/ha de FTE BR-12 foram suficientes
Por sua vez, o nitrogênio para a para que a planta não apresentasse sinais de
alfafa, como para as demais leguminosas, deficiência desses elementos.
pode ser suprido por meio da fixação
simbiótica de bactérias aeróbicas da espécie
Rhizobium melilotti (específica para alfafa).
Recomedações para o cultivo de alfafa na região Sudeste do Brasil 3

Tabela 1. Recomendação de adubação fosfatada e potássica para a cultura da alfafa, na região


Sudeste do Brasil, nas fases de implantação e de manutenção.

a
MS – matéria seca colhida. Para pastejo, MS = matéria fresca x 0,20; para feno, MS = feno x 0,85.
Fonte: adaptado do Boletim Técnico 100 do IAC (1996).

Outro fator importante, que pode tem maior potencial de desenvolvimento,


interferir no cultivo de alfafa no Brasil, é a suficiente para permitir a implantação e a
competição imposta pelas plantas daninhas à competição durante a primavera–verão,
cultura. Resultados experimentais obtidos na entrando nessa época com bom porte e com
região Sudeste revelaram que, durante o verão, sistema radicular desenvolvido. Mesmo com
numa comunidade infestante, com média de a diminuição do banco de invasoras durante
250 plantas/m2, composta por capim-braquiária o preparo do solo pelas sucessivas
(Brachiaria decumbens), picão-branco gradagens, bem como da limitação do efeito
(Galinsoga paviflora), capim-pé-de-galinha das plantas daninhas pela época de
(Eleusine indica), caruru-de-espinho semeadura da alfafa (outono–inverno),
(Amaranthus spinosus), grama-seda (Cynodon quando há menor incidência dessas plantas,
dactylon) e trapoeraba (Commelina certamente a população delas poderá
benghalensis), com predominância de capim- ressurgir. Nesse caso, em alfafais
braquiária, a interferência chegou a níveis de estabelecidos, pode-se utilizar o controle
60% de redução na produção de forragem de químico, por meio do herbicida imazethapyr
alfafa.Essa interferência de plantas em pós-emergência total, na dosagem de
indesejáveis no estabelecimento do alfafal é 1,0 l/ha do produto comercial. Na
tão significativa que é uma das principais ocorrência de gramíneas invasoras,
razões pelas quais a época de outono–inverno recomenda-se utilizar o graminicida
é recomendada como a ideal para o plantio, fluazifop-butil, também em pós-emergência
uma vez que nesse período é menor a total, na dosagem de 1,5 l/ha do produto
competição das plantas daninhas e a alfafa comercial.
4 Recomedações para o cultivo de alfafa na região Sudeste do Brasil

Apesar de possuir sistema radicular obtida de EP – PR ≥ 30 mm. Para Latossolos


pivotante agressivo, que atinge de 2 a 5 m de de textura média, que compõem grande parte
profundidade, embora em condições dos solos agriculturáveis brasileiros, aplica-se
controladas possa chegar a até 20 m, o que de 16 a 21 mm de água, para alcançar os
lhe confere bastante resistência às secas, a primeiros 20 cm de profundidade, que
alfafa necessita de água de irrigação, para corresponde à capacidade de armazenamento
atingir alto rendimento de forragem. Esse fato de água desses solos; isto é, determina-se a
faz com que nas condições do Sudeste seja quantidade a aplicar ou a lâmina de água.
considerada como cultura irrigada. Deve-se salientar que, apesar de empírico,
Entretanto, como para as demais culturas no como os demais métodos para se determinar o
Brasil, o manejo da irrigação tem sido realizado balanço hídrico, o método EPS envolve
de maneira empírica, ou seja, o momento de apenas duas variáveis climáticas de fácil
aplicação da água (isto é, a freqüência ou o monitoramento e aferição, mas que
turno de rega), bem como a quantidade de respondem por mais de 90% da demanda
água aplicada (isto é, a lâmina de água), é hídrica das plantas.
estabelecido de maneira predeterminada. A Duas considerações devem ser feitas
cada 3, 5, 6, 8 ou “n” dias sem chuvas – quanto à irrigação, que são específicas para a
“freqüência” –, aplica-se 5, 8, 10, 12, ou “n” alfafa. Antes do corte ou do pastejo, não se
mm de água – “quantidade ou lâmina de deve aplicar imediatamente água de irrigação,
água”. Esse método, que pode ocasionar os uma vez que o umedecimento da camada
maiores erros técnicos, econômicos e até superficial do solo nesse momento dificulta a
ecológicos na prática de irrigação, se deve a colheita de forragem, predispondo ao mofo o
dificuldades que o irrigante tem para calcular material a ser colhido, no caso de corte, ou
o balanço hídrico entre a planta e o solo por facilitando a compactação do solo, no caso de
meio de inúmeras fórmulas, bem como para pastejo.
monitorar e aferir diversos equipamentos. Outra consideração é a aplicação de
Para evitar essa prática, foi água durante a instalação da alfafa, ou seja,
desenvolvido para a cultura da alfafa o no início do desenvolvimento da planta
método de irrigação denominado EPS (nome (diferenciação foliar ou queda dos
derivado de “evaporação, precipitação, solo”), cotilédones), quando a irrigação pode ser até
que, além de exigir poucos cálculos, é de fácil prejudicial à cultura, uma vez que provoca
monitoramento. Durante o desenvolvimento crescimento superficial do sistema radicular.
da planta, quando a diferença entre a É recomendado que nessa época a planta seja
evaporação medida com um evaporímetro (EP, submetida a um déficit hídrico durante cinco a
medida direta em mm) e a precipitação pluvial sete dias, a fim de forçar sua fixação no solo
medida com um pluviômetro (PR, medida pelo desenvolvimento vertical das raízes.
direta em mm) atingir valor pouco superior ou Outro fator importante que tem
igual a 30 mm, aplica-se água, isto é, impedido o desenvolvimento da alfafa no
determina-se a freqüência ou o turno de rega, Brasil é que quase todo o cultivo dessa
Recomedações para o cultivo de alfafa na região Sudeste do Brasil 5

forrageira no País é originário de sementes Quanto às cultivares de alfafa, diversos


importadas da Argentina, do Chile e dos trabalhos realizados pela Rede Nacional de
Estados Unidos, em razão de problemas para Avaliação de Cultivares de Alfafa (Renacal)
produção de sementes, inerentes às condições indicaram que a Crioula ainda é a cultivar
brasileiras, principalmente climáticos. Dessa que mais se adapta à região Sudeste,
maneira, o custo das sementes, que em média é conforme se pode observar na Tabela 2.
de US$ 8/kg, é um dos fatores que mais onera e Porém, dados experimentais mais
conseqüentemente mais interfere na recentes obtidos pela Embrapa Pecuária
implantação da cultura no Brasil. Além disso, as Sudeste, em São Carlos, SP, evidenciaram
características morfológicas e as características que, além de alto potencial forrageiro, o
florais da planta exigem polinizadores de acesso LEN 4 é bastante tolerante a doenças
comportamento específico, que no caso da foliares e de raízes, o que indica que essa
alfafa são as abelhas melíferas. Entretanto, alfafa poderá ser lançada como cultivar na
algumas regiões brasileiras apresentam potencial região Sudeste. Contudo, observou-se que,
para produzir sementes de alfafa, com requisitos mesmo sendo inferior no rendimento de
ambientais que possibilitam obter alto forragem, a distribuição estacional de
rendimento de sementes com qualidade, como a produção de forragem da cultivar Crioula foi
dos Cerrados e a do Semi-Árido nordestino. mais uniforme do que a do material
Portanto, é necessário que as instituições promissor (LEN 4), o que comprova a maior
de pesquisa agrícola priorizem ações para adaptabilidade da cultivar Crioula à região.
geração de tecnologia de produção de
sementes dessa planta.

Tabela 2. Comportamento agronômico de cultivares de alfafa, em diversos locais da região


Sudeste do Brasil.

1
Produtividade (≥ 20 t de MS/ha por ano), tolerância a doenças, perenidade (manutenção de
estande).
6 Recomedações para o cultivo de alfafa na região Sudeste do Brasil

Recomendações básicas para a • Inocular as sementes com Rhizobium


implantação de um alfafal (estirpe SEMIA-116), ou adquirir sementes
já inoculadas.
Escolha da área • Profundidade de plantio, no máximo de 2
• Terreno plano, em solo com textura média, cm.
profundo, com boa drenagem, sem
compactação ou camada de impedimento, Adubação de formação ou implantação
preferencialmente de alta fertilidade. • Deve ser a lanço e incorporado ao solo em
• Se houver necessidade, corrigir a saturação toda a área, sendo realizada durante a
por bases para 80%, conforme análise do época de semeadura.
solo. • Dosagens de fósforo (P2O5) e de potássio
• O solo deve possuir nível alto de matéria (K2O) devem se basear nas recomendações
orgânica. da Tabela 1.
• Deve haver possibilidade de irrigação. • Aplicar também 30 kg/ha de FTE BR-12.

Preparo do solo Adubações de cobertura


• Coletar duas amostras de solo, sendo 20 • Devem ser a lanço, sobre a cultura.
subamostras por área homogênea • As dosagens de potássio (K2O) devem se
(amostras de 0 a 20 cm e de 20 a 40 cm). basear nas recomendações da Tabela 1,
• Aplicar metade da dose calculada de após cada corte.
calcário.
• Realizar adubação orgânica, mediante Adubações de manutenção
plantio de espécie vegetal de ciclo curto, • Devem ser a lanço, sobre a cultura.
como a crotalária (Crotalaria juncea) ou • As dosagens de fósforo (P2O5), se houver
outro adubo verde, ou aplicar esterco de necessidade, devem se basear nas
aves ou de curral. recomendações da Tabela 1.
• Se necessário, descompactar a área com • Após um ano, aplicar 30 kg/ha de FTE BR-
subsolador; realizar uma aração profunda 12, se houver necessidade.
(20 a 40 cm).
• Então, aplicar a metade restante de Manejo da cultura sob corte
calcário e realizar gradagens sucessivas • Altura de corte: 8 a 10 cm da superfície do
(duas ou três), até obter terreno bem solo.
destorroado. • Primeiro corte do alfafal: de 80 a 90 dias
após semeadura, em florescimento pleno,
Semeadura isto é, acima de 80% de florescimento.
• Cultivar Crioula. • Demais cortes, quando a cultura estiver
• Semeadura durante o outono (abril a com 10% de florescimento, que na prática
junho). se constata quando visualmente se
• Espaçamento de 15 a 30 cm entre linhas e observam as primeiras flores no alfafal
densidade de 20 kg/ha de sementes.
Recomedações para o cultivo de alfafa na região Sudeste do Brasil 7

• No inverno, a alfafa não floresce, devendo Doenças


ser cortada quando a brotação estiver com No Brasil, ainda não se tem o quadro
5 cm de altura. definido do problema que as doenças podem
causar à cultura da alfafa. Porém, em alguns
Pragas cultivos, pode-se observar murcha-bacteriana
Diversas pragas podem freqüentar o alfafal (Corynobacterium insidiosum), antracnose
e causar danos à planta, como a lagarta-da-soja (Colletrotrichum trifolii), fusariose (Fusarium
(Anticarsia gemmatalis), a lagarta-dos-arrozais sp.), podridão-das-raízes (Phytophtora
(Spodoptera frugiperda), o curuquerê-dos- megasperma), rizoctonia (Rhizoctonia solani),
capinzais (Mocis latipes), a lagarta-mede-palmo pinta-preta (Pseudopeziza medicaginis),
(Elasmopalpus lignosellus), a vaquinha (Diabrotica ferrugem-da-folha (Uromices striatus),
speciosa) e vários pulgões (Aphis glossypii, mancha-das-folhas (Cercospora medicaginis) e
Acurthosiphum pisem). Dentre essas pragas, as mosaico-da-alfafa (causado pelo vírus do
mais importantes para a alfafa no Brasil são os mosaico-da-alfafa, que é transmitido pelo
pulgões, devendo-se destacar que na região central pulgão).
do Estado de São Paulo o Aphis trifolii f. Essas doenças são mais evidentes na
maculata foi observado pela primeira vez em cultura durante o verão, podendo causar
São Carlos, enquanto o registro da ocorrência perdas significativas no alfafal, e, ao contrário
do Aphis crucivora nesta região foi o primeiro das pragas, são de difícil controle, dispondo-
relato no Brasil. se apenas do controle nas sementes e,
Todavia, em razão principalmente do principalmente, da tolerância varietal.
uso da forragem na alimentação animal, deve- Durante a implantação do alfafal, os
se evitar o controle químico dessas pragas na causadores de “damping off” (Fusarium spp. e
cultura, optando-se por métodos preventivos Rhizoctonia solani) podem ser controlados
(evitar infestação de plantas daninhas pelo tratamento de sementes com thiram (4,2
hospedeiras), culturais (preparo do solo, g/kg de sementes) e iprodione (1,0 g/kg de
irrigação), físicos (antecipação de corte ou sementes). Quando identificadas as murchas
pastejo no caso de aumento de determinada de caule ou de hastes (Fusarium spp.), essas
praga) e biológicos (preservação de inimigos também podem ser eliminadas do alfafal,
naturais, como as joaninhas – Cycloneda antecipando o corte ou pastejo.
sanguinea e alguns afídeos – Aphideus spp., e
uso de inseticidas biológicos – Bacillus Colheita da forragem para feno
thuringiensis). Nesse aspecto, cabe destacar O preparo do feno de alfafa envolve as
que durante oito anos de cultivo na Embrapa seguintes operações: corte manual ou
Pecuária Sudeste, optando por esses mecânico, secagem e armazenamento. O corte
métodos, não houve necessidade do controle deve ser feito pela manhã, quando é
químico de pragas em alfafa, observando-se, improvável a ocorrência de chuvas durante o
com isso, grande presença de inimigos dia. O ponto de enfardamento do material
naturais na cultura. (prensagem), para posterior armazenamento
8 Recomedações para o cultivo de alfafa na região Sudeste do Brasil

ou transporte, na prática, é observado cavalos de corrida e de montaria, optar pela


quando, ao torcer com as mãos uma alfafa. Se para animais com menor potencial
quantidade de alfafa seca, não se note zootécnico, o pecuarista dispõe de outras
umidade no material, a ponto de estar forrageiras com valor nutritivo adequado, bem
quebradiço (umidade entre 15% e 20%). A como mais adaptadas às condições de clima e
qualidade do feno de alfafa está diretamente de solo da região, como menor exigência em
relacionada à prática de secagem, que no fertilidade. b) Com base nas informações
Brasil é realizada em duas fases: exposição disponíveis sobre a cultura da alfafa na região
inicial da forragem verde ao sol, até perda de Sudeste, pode-se produzir de 20 a 25 t/ha de
50% do peso (fase de murcha), e secagem matéria seca por ano. Porém, por se tratar de
desse material espalhado à sombra, até planta exigente, esses níveis de rendimento
alcançar umidade entre 15% e 20% (fase requerem grande investimento na formação e
quebradiça). À sombra, o amontoamento pode na manutenção da cultura (preparo do solo,
influir na qualidade do feno, propiciando o sementes, corretivos, herbicidas, adubações,
desenvolvimento de fungos, o que deprecia irrigação, maquinário, etc.). Com isso, é
sua aparência pela presença de esporos. recomendado que, independentemente das
condições financeiras do produtor, o cultivo
Manejo da cultura sob pastejo de alfafa nas condições do Sudeste seja
• No Brasil, apesar de pouca informação baseado na busca de alto rendimento por área
sobre o assunto, pastagens exclusivas de e não no aumento da produção de forragem
alfafa têm suportado aproximadamente por meio de maior área plantada.
três unidades animais (uma unidade animal A viabilidade do cultivo de alfafa no
= 450 kg de peso vivo) por hectare, com Sudeste do Brasil será aumentada a partir do
produção diária de 20 kg de leite por vaca, momento em que se dispuser de tecnologias
sem consumo de alimento concentrado, o para produção de sementes dessa planta nas
que possibilita média de produção de leite condições de clima e de solo brasileiras.
diária de 54 kg/ha. Portanto, é fundamental que as instituições
• O pastejo é rotacionado, com um dia de de pesquisa agrícola priorizem sua atuação em
ocupação e de 24 a 36 dias de descanso. pesquisas sobre rendimento e qualidade de
sementes de alfafa.
Considerações finais
Os pecuaristas do Sudeste do Brasil
podem utilizar a alfafa em sistemas de
produção animal. Entretanto, essa decisão
deve se basear em dois princípios
fundamentais: a) Verificar para que categoria
animal a forragem de alfafa será fornecida. Se
para animais com altos índices zootécnicos na
produção de leite e ou de carne, ou para
Recomedações para o cultivo de alfafa na região Sudeste do Brasil 9

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Circular Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Comitê de Presidente: Alberto C. de Campos Bernardi
Técnica, 46 Embrapa Pecuária Sudeste publicações Secretário-Executivo: Edison Beno Pott
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1a edição on-line 2006 Expediente Revisão de texto: Edison Beno Pott


Editoração eletrônica: Maria Cristina Campanelli Brito

Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento

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