Resposta do açaizeiro à aplicação de doses de boro, em relação a

doses de potássio em Latossolo Amarelo do Nordeste Paraense

CARLOS ALBERTO COSTA VELOSO (1), ISMAEL DE JESUS MATOS VIEGAS (2), DILSON
AUGUSTO CAPUCHO FRAZÃO(2), EDUARDO JORGE MAKLOUF CARVALHO (3) , ARYSTIDES
RESENDE SILVA(3) & CLEYSON DANILO MONTEIRO DOS SANTOS(4)

RESUMO - O presente trabalho tem como objetivo
determinar os níveis de potássio e boro, adequados para
a fase de formação e produção do açaizeiro no
Nordeste Paraense. O estudo foi desenvolvido no
município de Inhangapi, em Latossolo Amarelo textura
média, com delineamento experimental em blocos ao
acaso, no esquema fatorial 4 x 4, sendo 4 doses de
potássio e 4 doses de boro, em blocos ao acaso com
duas repetições. No primeiro ano as 4 doses testadas de
K2O foram 0, 42, 84 e 126g/planta e 4 doses de B
foram 0, 10, 20 e 30g/planta. Os dados obtidos pelas
variáveis alturas das plantas e circunferência do coleto,
foram avaliados estatisticamente, através de análise de
variância (teste F). Foram ajustadas curvas de regressão
para avaliação das respostas a aplicação de potássio e
boro. Os resultados indicaram que as doses mais
adequadas foram: 20 g/planta de B, aplicada em cada
ano de cultivo, aliada ao fornecimento de 128g/planta
de potássio no primeiro ano e 202g/planta de potássio
no segundo ano.
Como base nos resultados preliminares obtidos no
primeiro e segundo anos sobre as variáveis alturas das
plantas e circunferência do coleto fica confirmada não
só a importância do boro para a cultura do açaizeiro,
assim como o equilíbrio com o potássio.
Palavras-Chave: Euterpe oleracea, boro, potássio.
Introdução
O açaizeiro (Euterpe oleracea Mart.) é uma espécie
frutífera e produtora de palmito, nativa da Amazônia e
tem com centro de origem o Estado do Pará que é o
maior produtor e o principal consumidor, onde estão
estabelecidas densas e diversificadas populações
naturais.
Atualmente, a demanda e o potencial de mercado
do açaí cresceram de maneira significativa, deixando
de possuir uma dimensão regional para ganhar
importância nacional e mais recentemente
internacional, graças a qualidade nutricional da bebida,
resultante da maceração dos seus frutos, denominada
vinho ou suco de açai. O crescimento do mercado do
açaizeiro está associado aos benefícios à saúde, que a
ciência vem atribuindo à ingestão desse alimento que
apresenta baixo nível de calorias, altas concentrações de
vitaminas, fibras, sais minerais e elevado teor de
antocianinas [1].
A produtividade do açaizeiro, ainda é bastante
reduzida, e diversos fatores concorrem para isso, podendo-
se destacar a baixa fertilidade e a elevada acidez dos solos
onde estão sendo implantados os plantios racionais [2]. À
medida que os cultivos vão se intensificando, atualmente
com 2 mil pés de açaí plantados em terra firme, o
empobrecimento químico dos solos vai se tornando mais
expressivo devido à extração dos nutrientes pela plantas,
exportação pelas colheitas e perdas dos nutrientes do solo
via lixiviação, erosão, fixação, etc.., reduzindo a
disponibilidade para as plantas. Nestas condições, para a
obtenção da expressão máxima da produtividade biológica
da cultura, faz-se necessário a interação de diversos fatores
e, dentre estes, destaca-se a aplicação de nutrientes em
quantidades adequadas e em formas que possam ser
assimiladas pelas plantas. O baixo consumo de fertilizantes
e corretivos de acidez ainda é uma realidade na região
amazônica, apesar desta prática representar uma forma de
melhorar a fertilidade destes solos, de modo a proporcionar
produtividades mais rentáveis aos agricultores.
Apesar da importância da cultura do açaizeiro no
contexto agrícola paraense, dispõe-se de poucos resultados
de pesquisa que dêem sustentação ao cultivo racional e
recomendação das necessidades de corretivos e fertilizantes.
Além disso, a grande maioria do cultivo do açaizeiro
paraense está implantada em solos de baixa fertilidade
natural e com alto teor de alumínio trocável, exigindo o
emprego de corretivos e fertilizantes para uma produtividade
sustentada .
Na cultura do açaizeiro; em terra firme, em áreas de
produtores têm ocorrido sintomas de deficiência de boro,
necessitando com isso de correção e aplicação desse
nutriente, aliado ao fato de que a adubação potássica, tendo
como fonte o cloreto de potássio, ao longo dos vários
cultivos, tem reduzido a disponibilidade de boro, em
cultivos de coqueiro e de dendezeiro no Estado do Pará.

________________
(1)
Primeiro Autor é Pesquisador Embrapa Amazônia Oriental. Travessa Enéas Pinheiro s/n . Caixa Postal 48. Bairro Marco, Belém, PA, CEP 66095-
100 E-mail: veloso@cpatu.embrapa.br ;
(2)
Segundo e Terceiro Autor é Professor Colaborador da Universidade Federal Rural da Amazônia. Av. Tancredo Neves S/N. Caixa Postal 917
Belém, PA, CEP 66077-530 E-mail: matosviegas@hotmail.com .
(3)
Quarto e Quinto Autor é Pesquisador Embrapa Amazônia Oriental. Travessa Enéas Pinheiro s/n . Caixa Postal 48. Bairro Marco, Belém, PA, CEP
66095-100 E-mail: maklouf@cpatu.embrapa.br ; arystides@cpatu.embrapa.br .
(4)
Sexto Autor é estudante do curso de Agronomia Bolsista PIBIC/Embrapa.
 Desse modo, o objetivo deste trabalho foi açaizeiro com um ano de idade a partir de 42 g/planta de
determinar os níveis de potássio e boro adequados para potássio, ocorrendo inclusive deficiência de boro.A
a fase de formação e produção do açaizeiro em áreas de aplicação de 20 e 30 g/planta de boro, também reduziu a
terra firme. altura das plantas a partir de 84 g/planta de potássio. A
maior altura das plantas de açaizeiro com um ano de idade
Material e Métodos foi de 95,6 cm obtida com a aplicação de 10 g/planta de
boro aliada a 128 g/planta de potássio.
O trabalho está sendo conduzido em área de
Os resultados com relação a variável circunferência do
produtor no município de Inhangapi, em Latossolo
coleto são semelhantes aos obtidos com a variável altura
Amarelo textura média, cujos resultados da análise
das plantas. A dose máxima estimada de 89 g/planta de
química de solo na profundidade de 0 a 20 cm foram:
potássio na presença de 10 g de ulexita foi a que
pH(água) 4,4; P 2 mg/dm3; K 14 mg/dm3; Ca+Mg 0,9
proporcionou a maior circunferência de coleto de 11,6 cm
cmolc/dm3; Al 0,8 cmolc/dm3; H + Al 4,62 cmolc/dm3.
(Figura 3).
As parcelas experimentais são formadas por 8
Os resultados do efeito da interação das doses de
plantas em cada linha, sendo as 6 plantas centrais
potássio e boro na altura das plantas de açaizeiro com dois
consideradas úteis, no espaçamento de 6,0m x 4,0m,
anos de idade mostraram que a partir de 240 g/planta de
tendo o experimento o total de 256 plantas. O
potássio na ausência de boro e na presença de 40 e 60
delineamento experimental é de blocos ao acaso, no
g/planta de boro, reduziram a altura das plantas (Figura 2).
esquema fatorial 4 x 4, sendo 4 doses de potássio e 4
A aplicação da dose de 60 g/planta de boro causou efeito
doses de boro, em blocos ao acaso com duas
fitotóxico nas plantas A dose máxima estimada de potássio
repetições. No primeiro ano as 4 doses testadas de
na presença de 40 g/planta de boro foi de 202,55 g/planta
K2O foram 0, 42, 84 e 126g/planta e 4 doses de B
de K2O que correspondeu 198,47 cm de altura.
foram 0, 10, 20 e 30g/planta. Foram fornecidas doses
A exemplo do ocorrido com a variável altura das
constantes de 200 g/planta de uréia, 120 g/cova de
plantas, a circunferência do coleto também reduziu a partir
Arad por ocasião do plantio e 30 g/planta de sulfato de
da aplicação de 240 g/planta de potássio na presença de 40
magnésio. Em função dos resultados do primeiro ano
e 60 g/planta de boro (Figura 4). O maior valor da
foram definidas as doses para o segundo ano (2007),
circunferência do coleto de 18,2 cm foi obtido com 360
sendo: K2O (0, 120, 240 e 360g/planta). As doses de
/planta de potássio na presença de 20g/planta de boro. A
nitrogênio foram de 150 g/planta de uréia, de fósforo
aplicação e 40g/planta de boro em combinação com a dose
150 g/planta de Arad e de magnésio 50 g/planta de
máxima estimada de 195 g/planta de potássio resultou em
sulfato de magnésio Para os demais anos as doses serão
17,64cm de circunferência do coleto.
ajustadas em função das curvas de respostas dos anos
Os resultados preliminares com base nos dois primeiros
anteriores. O potássio está sendo fornecido na forma
anos indicam que o boro é importante para o açaizeiro, haja
de cloreto de potássio, o boro na de bórax, o nitrogênio
vista a ocorrência dos sintomas de deficiências nos
na de uréia e o fósforo na forma de Arad. Foram
tratamentos sem aplicação desse micronutriente. A dose de
avaliados os dados de altura das plantas e
20g/planta de boro se mostrou suficiente para atender a
circunferência do coleto e a partir do terceiro ano
necessidades nutricionais do açaizeiro no micronutriente
produção de frutos.O trabalho está sendo acompanhado
boro nos dois primeiros anos. Dose a partir de 60 g/planta
com analises de solo e tecido foliar. As amostras de
de boro no segundo ano causou efeito tóxico nas folhas do
solo foram coletadas antes da instalação do
açaizeiro. Observou-se também, que freqüência de
experimento e antes da adubação dos anos posteriores,
aplicação de boro deve ser estudada, pois se acredita que
na profundidade de 0-20 cm, para determinação de
aplicações anuais podem contribuir para ocorrência de
M.O, além de Al, pH e H+Al. A coleta de amostras de
toxidez.
folha foi efetuada no segundo ano de cultivo, sendo
coletada a quinta folha. A coleta de amostras de folha
foram efetuada segundo a metodologia preconizada Conclusões
para o dendezeiro por Víegas e Botelho [3]. Nas
Como base nos resultados preliminares obtidos no
amostras de folhas foram determinados os teores de N,
primeiro e segundo anos sobre as variáveis alturas das
P, K, Ca, Mg, S, B, Cu, Fe, Mn e Zn segundo
plantas e circunferência do coleto confirmou a importância
metodologia descrita por Malavolta et al. [4]. Os
do boro para a cultura do açaizeiro, assim como o
resultados foram avaliados estatisticamente, através de
equilíbrio com o potássio. A dose de 20 g/planta aplicada
análise de variância (teste F), para todas as variáveis.
em cada ano foi a mais indicada, aliada ao fornecimento de
Curvas de regressão foram ajustadas para avaliação das
128g/planta de potássio no primeiro ano a 202g/planta de
respostas a aplicação de K e B em função das variáveis.
potássio no segundo ano.
Discussão
Referências
Os resultados da interação da aplicação das doses [1] ROGEZ, H. Açaí: preparo, composição e melhoramento da
de potássio e bórax para a variável altura da planta de conservação. Belém, PA: EDUFPA, 200, 312p..
açaizeiro com um ano de idade são apresentados na [2] IBGE –Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística .
Figura 1. Observa-se que a aplicação de potássio na Disponível em: http:// www.ibge.gov.
ausência de boro reduziu a altura das plantas de
 [3] VIÉGAS, L DE J.M.; Botelho, S.M. Açaizeiro. In:
Recomendações de adubação e calagem para o estado do
Pará. Ed. Técnicos, CRAVO, M. da Silva; VIÉGAs, I DE
J.M.; BRASIL, E. C. Belém, PA: Embrapa amazônia
Ortiental, 2007. 262p.

[4] MALAVOLTA, E.; VITTI, G.C.; OLIVEIRA, S.A. 1989

Avaliação do estado nutricional das plantas: princípios e
aplicações. Piracicaba: Potafos, 201p.

2 2
B0 Y =80,6+0,335 X-0,003 X R =1 200
2 2
B10 Y =64,24+0,315 X-6,235E-4 X R =0,91
2 2
100 B20 Y =75,765+0,377 X-0,0021 X R =0,96 190
B30 Y =72,165+0,406 X-0,0025 X2R2=0,84
180
95
170

Atura da planta(cm)
90
160

150
Altura da planta(cm)

85

140

80
130

75 120
2 2
B0 Y =127,975+0,365 X-8,350E-4 X R =0,88
2 2
110 B20 Y =113,095+0,283 X-1,753E-4 X R =0,96
2 2
70 B40 Y =149,275+0,486 X-0,0012 X R =0,97
2 2
100 B60 Y =126,2+0,41931 X-7,99769E-4 X R =1

65 0 120 240 360

K2O (g por planta)

60
0 42 84 126
K2O (g por planta)

Figura 1. Efeito da interação das doses de potássio e de boro na Figura 2. Efeito da interação das doses de potássio e de boro na
altura de plantas de açaizeiro com um ano de idade. altura de plantas de açaizeiro com dois anos de idade.
 11,4 B0 Y =12,28+0,036 X-8,680E-5 X2R2=0,89
2
11,2 B20 Y =12,5+0,015 X R =0,90
11,0
19 B40 Y =15,595+0,021 X-5,381E-5 X2 R2=0,59
B60 Y =12,4+0,074 X-3,229E-4 X2R2=1
10,8
10,6 18
Circunferência do coleto(cm)

10,4
10,2 17

Circunferência do coleto(cm)
10,0
9,8 16
9,6
9,4
15
9,2
9,0 2 2
B0 Y =10,1+0,023 X-1,700E-4 X R =1 14
8,8 2 2
B10 Y =8,3+0,074 X-4,157E-4 X R =1
2 2
8,6 B20 Y =9,1+0,039 X-2,53E-4 X R =0,73
2 13
8,4 B30 Y =10,714-0,0030 X R =0,96
8,2
8,0 12
0 42 84 126
K2O (g por planta) 11
0 120 240 360
K2O(g/planta)

Figura 3. Efeito da interação das doses de potássio e de boro na Figura 4. Efeito da interação das doses de potássio e de boro na
circunferência do coleto de plantas de açaizeiro com um ano de circunferência do coleto de plantas de açaizeiro com dois anos de
idade. idade.