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O Popular - Organização Jaime Câmara 12/03/09 12:38

Goiânia, 2 de abril de 2006

I NICIAL
Qual incentivo? Zuhair Mohamad

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O POPULAR ouve artistas, produtores e
agentes públicos sobre qual é o melhor
caminho para apoiar o setor cultural
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Num sobrado alugado no Setor Itatiaia II,
Mundo região norte de Goiânia, um projeto de
Esporte descentralização cultural funcionou por dez
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meses. Iniciado em março de 2005 por um
grupo de artistas e produtores, o
COLUNAS Comunidade Fazarte teve aprovado projeto
Giro
Direito e Justiça
na Lei Municipal de Incentivo à Cultura em
2004, captou R$ 44 mil e bancou, entre Lucas Faria, economista e músico:
Coluna social
Memorandum crítico das leis de incentivo
outras coisas, o aluguel da casa que dava
Crônicas e
outras histórias guarida às atividades de ensino-aprendizagem cultural da comunidade ao
redor. Findo o dinheiro público que deu “start” ao Fazarte, os coordenadores
SERVIÇOS buscam agora caminhar com as próprias pernas.
E-mail
Cartas dos leitores O Fazarte é, no entanto, uma das poucas iniciativas culturais em Goiás que
Assinatura
Acontece
se incomodam com a dependência de verba pública. Vários artistas
Tempo hoje reclamam freqüentemente da “falta de apoio público” para seus projetos.
Indicadores Diante de tantos reclames, O POPULAR foi ouvir agentes públicos e
Na telinha
Cinema privados acerca dos propósitos das leis de incentivo, na maioria das vezes
Horóscopo única forma de realização cultural.
Guia do Assinante
Central
do Assinante Segundo Patrícia Vieira, da coordenação do Fazarte, um grupo de
produtores e professores ligados ao projeto se reunirá na sexta-feira para
CHARGE traçar planos à continuidade das aulas artísticas ministradas para e com o
envolvimento da comunidade. E continuar envolvendo a comunidade é uma
das saídas já em estudo, diz ela. “Tem gente que propôs até que nos
ESPECIAIS cotizássemos para bancar o aluguel de uma casa que funcionasse como
Mestre Rosa
Agenda de Negócios sede”, afirma Patrícia.
Agenda Goiânia
Rally do Batom
Goianão 2006
“Mas a saída será mesmo o voluntariado, a doação do trabalho abnegado
Retrospectiva 2005 das pessoas, dos professores que nos apóiam. Se o professor Guaraná [de
Prêmio Propaganda capoeira de Angola] se dispuser a dar aulas na praça, ok, é por aí que
Agenda Goiás
vamos caminhar. Estamos conscientes de que não dá mais para ficar
dependente de verba pública”, afirma Patrícia, sem deixar de criticar as
políticas de fomento na área cultural.

“Tentamos parceria com a prefeitura de Goiânia e entramos com projetos


na Goyazes [a lei estadual de incentivo], mas o retorno foi dos mais
incoerentes. A verdade é que o Estado é um grande produtor e não se
interessa por projetos de arte-educação”, reclama a produtora cultural.

Reclamações
A dificuldade de conseguir apoio público ou patrocínio privado é
generalizada no meio artístico goiano. Um sem-número de artistas e
produtores goianos reclama de critérios e burocracias para trabalhar com
esses instrumentos de fomento, já adotados há cinco anos tanto pelo
governo estadual quanto pela prefeitura da capital. Em 2004, a produtora e
selo musical Monstro Discos teve rejeitado pela Secretaria Estadual da
Fazenda um patrocínio de R$ 100 mil oferecido pela distribuidora da Coca-
Cola em Goiás para a realização do 10º Festival Goiânia Noise. “A

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alegação da secretaria na época foi de que essa renúncia estouraria o


orçamento do Estado naquele mês”, recorda Leonardo Ribeiro, o Léo
Bigode, um dos sócios da Monstro Discos.

Sem o apoio, o festival não arrefeceu, mas teve que recuar no show
internacional que anunciara (da banda norte-americana MC5). Cancelou a
participação dos gringos e reviu custos e programação. “O engraçado
dessa história é que nós não podemos usar um patrocínio de R$ 100 mil,
mas o governo apoiou o filme de Zezé Di Camargo com um valor muito
superior a isso”, critica o produtor e baterista Léo Bigode. Ele se refere aos
cerca de R$ 600 mil dado ao filme dos irmãos cantores pelo governo de
Goiás, via Lei de Incentivo à Cultura do Estado (Lei Goyazes).

“O problema destas leis é que, além de colocar os artistas de pires na mão


atrás de patrocínios, elas facultam aos próprios governos disputar os
minguados recursos com os artistas”, diz Lucas Faria, músico e economista.
Segundo Faria, há pelo menos dois artigos “equivocados” na Lei 13.613, a
Lei Goyazes, cujo texto foi assinado pelo governo em maio de 2000. Lucas
Faria se refere aos artigos 5º, que estabelece o percentual máximo (5%) de
crédito outorgado (prorrogação de imposto devido por 60 dias) às empresas
patrocinadoras de cultura no Estado, e ao 7º, que define os beneficiários da
lei em dois incisos. No entendimento de Faria, o art. 5º inviabiliza na prática
a concessão da prorrogação dos créditos caso algumas empresas
patrocinem vários projetos num único mês.

“Se essas empresas somarem mais de R$ 150 mil em patrocínios, que é o


teto admitido na lei, esse valor de fato furaria o caixa do governo. Ora, se
não pode conceder de fato, por que estabelecer de direito?”, questiona o
músico-economista, que diz preferir que o governo adotasse um Fundo
Estadual de Cultura.

Fundo de cultura
E este Fundo está a caminho. A Assembléia Legislativa de Goiás aprovou
no último dia 21 o projeto de lei nº 68/2006 que cria o Fundo de Arte e
Cultura de Goiás, apelidado de “Fundo Cultural”. De autoria do Executivo e
apresentado pelo deputado Fábio Tokarski (PCdoB), o projeto objetiva dotar
o Estado de um mecanismo de incentivo direto (com dotação de 0,5% da
receita líquida do governo, algo em torno de R$ 36 milhões anuais), mas
Lucas Faria chama atenção para artigos da proposta que “não blindam a lei
da participação direta do próprio Executivo na verba em benefício próprio”.

O parágrafo único do Art. 4º assinala que “observada a legislação vigente,


poderá a Agepel, com a aprovação do Conselho Estadual de Cultura e
ouvida a Secretaria do Planejamento e Desenvolvimento, baixar normas e
instruções complementares e estabelecer planos de aplicação e utilização
dos recursos do Fundo”. E Lucas volta a questionar: “Alguém duvida que o
Conselho não se oporia às iniciativas do governo?”

Presidente da Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico Teixeira (Agepel),


Nasr Chaul admite os problemas da lei, mas acha que é uma questão de
“maturação” da legislação entre os próprios produtores, artistas e
empresários. “Nossa média de projetos contemplados é muito boa se
considerarmos que o Estado não tinha nada antes. E isso só não foi mais
amplo porque estamos ainda num processo de sedução do empresariado e
formação de captadores no meio artístico”, disse Chaul.

Sobre a possibilidade de projetos do Executivo estadual competirem com os


da demanda dos artistas pelas verbas autorizadas via Lei Goyazes, o
presidente da Agepel reconhece que a lei faculta, mas diz que a agência
“nunca usou nem vai usar desse recurso”. A afirmação do presidente da
Agepel responde também à crítica velada de artistas e produtores goianos
de que a Agepel estaria usando a lei na realização de projetos de vulto do
governo, como o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica)
e o Festival Canto da Primavera. “O Fica tem uma rubrica própria no

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Produzir Cultural, não precisa lançar mão da lei”, rebate Chaul.

Sobre os vários aspectos levantados sobre a Lei Goyazes e o vindouro


Fundo Cultural, Chaul diz entender a função “reguladora” que a Secretaria
da Fazenda tem sobre os projetos culturais aprovados e que a proposta de
criação do Fundo Estadual de Cultura é um projeto do governo para ampliar
as políticas estatais. A respeito da crítica de que o Fundo não estaria
“blindado” à utilização do poder público, Chaul responde que a lei “faculta,
mas não obriga” e que a “Agepel será a gestora do Fundo para ajudar aos
outros e não a si própria”.

“Além do que, a lei do Fundo precisa ser regulamentada ainda, ela sequer
foi aprovado pelo governador”, informa. Sobre as reclamações freqüentes
da classe artística, Chaul acha “ruim” a dependência buscada pelo meio
cultural. “Há casos de projetos que pedem R$ 400 mil quando se sabe que
não precisariam nem da metade. Tem gente que quer sobreviver de projeto
cultural.”

No caso da lei municipal, o quadro não muda muito. O Decreto nº 2040, de


15 de junho de 2005, determina que os recursos “aplicam-se também aos
projetos culturais do Poder Executivo Municipal, não estando os mesmos
sujeitos aos limites estabelecidos no artigo antecedente” (sobre Art. 1º da lei
que criou o FAC). Já o Art. 45 estabelece que os “projetos oriundos do
Poder Executivo Municipal, financiados pelo FAC, deverão ter seu mérito
apreciado pelo Secretário Municipal de Cultura”. A reportagem tentou ouvir
o secretário municipal de Cultura, Kleber Adorno, mas até o fechamento da
edição ele não havia retornado aos pedidos de entrevista solicitados à
assessoria.
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