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Esperaria que na chamada silly season a ausência de notícias afectasse também as boas notícias. Com
todas as limitações de uma observação empírica e superficial fiquei com a impressão de que as
boas notícias são até mais numerosas - nos jornais por exemplo - do que nas épocas normais de
trabalho .
Assim, em oito dias apenas recolhi estas páginas de notícias e artigos que me pareceram interessan-
tes.
Há uns tempos fizeram-me a observação de que nem tudo o que vem publicado no Jornal das
Boas Notícias corresponde a este aparente critério. De facto, muitas vezes, a boa notícia não é o
facto narrado ou comentado, mas a opinião crítica, justa e razoável que sobre ele é emitida.
Este número é enviado antecipadamente em relação ao planeado porque nele resolvi incluir o co-
municado da Comissão Nacional Justiça e Paz sobre o Tratado de Nice, recebido ontem. Por ou-
tro lado, e com surpresa minha, a colecção de artigos e notícias já era volumosa de mais.
Para isso contribuem duas entrevistas que vivamente recomendo: a Michael Novak (publicada em
Junho, no Público) e a João Bénard da Costa (de Agosto, no Diário de Notícias) e um artigo de
fundo sobre a influência das tecnologias de comunicação naquilo que nós somos (Nós somos o
que vimos e lemos).
Desejo a todos umas boas e úteis férias. Esta utilidade pode ser melhor percebida nas várias refle-
xões sobre férias e turismo deste número.
Pedro Aguiar Pinto
Quem não usar os olhos para ver, terá de usá-los para chorar.
Foerster
A Milésima Audiência do Papa................................. 1 A Milésima Audiência do Papa
Padre da União Não Promete Milagres........................ 2
In: PÚBLICO, Quinta-feira, 2 de Agosto de 2001
Pior é impossível ........................................................ 2
Exames Nacionais: Matemática e Física voltam a A Praça de São Pedro,
registar médias negativas............................................. 3 no Vaticano, foi on-
Ética das férias ou férias da ética ................................ 4 tem a "praça da ju-
A teoria do tempo e do medo ....................................... 5 ventude", disse o Papa
Entrevista com Michael Novak................................... 5 João Paulo II na sua
Papa pede fim da violência a Arafat ........................... 8 1000ª audiência geral
Onde estão os milhões? ............................................... 9 das quartas-feiras.
Rosas com espinhos.................................................... 9 Desde que foi eleito, em Outubro de 1978, o
O regresso dos marxistas ............................................ 11
Dois pesos e duas medidas.......................................... 11 Papa Wojtyla, 81 anos, dirigiu-se a cerca de 16
A vida é bela............................................................ 12 milhões de pessoas. Ontem, a audiência 1000
Estamos entretidos com as festas de Verão... ................. 13 foi assinalada por umas 20 mil pessoas, onde
Cerca de 90 famílias recebem novas casas no Bairro predominavam os jovens. Na alocução, foi
dos Alfinetes............................................................. 14 precisamente aos mais novos que João Paulo II
Monsenhor Weizhu foi libertado.................................. 14 se dirigiu, dizendo-lhes que devem ser teste-
O Bispo Zhang Weizhu reaparece ao fim de dezoito munhas da esperança num mundo conturbado.
meses ....................................................................... 14 "Levem o evangelho a todos os que estão a
Mensagem do Santo Padre para o XXII Dia
Mundial do Turismo ................................................. 14
viver dificuldades nas suas vidas." Nos encon-
Questões de ambiente.................................................. 16 tros das quartas-feiras com os fiéis que vão a
Papa honra a memória do Cardeal Wyszynski ............. 17 Roma, o Papa faz sempre uma alocução em
16 Pessoas presas na Algéria por terem Bíblias............. 17 forma de catequese. 1983 foi o ano com mais
Nós somos o que vimos e lemos..................................... 18 audiências (49), mas foi em 1979 que mais gen-
Bispo procura fiéis na praia ........................................ 21 te viu João Paulo II: 1,585 milhões de pessoas.
Poupanças................................................................ 21 Mais do que no ano passado, quando a Igreja
Transportes de Luanda.............................................. 21 assinalou o Jubileu (1,463 milhões de pessoas).
"Não vou a uma sala de cinema para me distrair" ........ 22
Os suspeitos do costume .............................................. 23 Depois da audiência de ontem, João Paulo II
Ai, Porto, Porto! ....................................................... 24 regressou à sua residência de Verão, em Castel-
O TRATADO DE NICE...................................... 25 gandolfo, no sudeste de Roma. A.M.
Há dias, num semanário local, o técnico José Mouri-
Padre da União Não Promete Milagres nho revelou que considerava o David Barreirinhas
Por JOÃO PAULO LEONARDO não como um padre, mas como um amigo. E é assim
In: Público Quinta-feira, 2 de Agosto de 2001 que o eclesiástico entende as suas funções no clube,
Desde criança que gosta de futebol. Agora, o padre David Bar- com disponibilidade, atitude de serviço, procurando
reirinhas aceitou o convite para ser o conselheiro espiritual da ser mais um amigo dos jogadores, técnicos e dirigen-
União de Leiria tes. "Uma equipa de futebol não é só um conjunto de
Na cidade, não se homens que entram para o campo e querem ganhar,
fala de outra coisa. pois cada jogador tem uma dimensão humana, pes-
Uns riem-se e iro- soal, familiar, social e espiritual, que quer valorizar",
nizam, outros a- disse. "E a SAD percebeu isso e é por isso que faz
creditam que o pa- sentido a minha presença", esclareceu o padre Barrei-
dre David Bar- rinhas, que pretende aproximar-se dos jogadores co-
reirinhas, anunciado mo amigo, com espírito de abertura, tal como faz em
há pouco tempo Marrazes, onde é vigário paroquial, e na Escola Afon-
como o novo reforço da União Desportiva de Leiria, so Lopes Vieira, em Leiria, onde lecciona Educação
fará uns milagres para ajudar a campanha futebolística Moral e Religiosa Católica. Aliás, é por esta ordem
do clube. A medida é inovadora numa equipa de fute- que valoriza as suas funções: "Primeiro a paróquia,
bol e, na última semana, os "media" de todo o país depois a escola e só depois o futebol".
não têm dado descanso ao vigário paroquial dos Mar- O padre nasceu em Paris, numa família de emigrantes,
razes, freguesia limítrofe de Leiria. Os ecos da insólita e tem duas irmãs. Acompanhado pelos seus pais, re-
"contratação" já chegaram a Espanha. gressou a Portugal e fez a escola primária na Moita da
David Barreirinhas avisa que da sua parte "não vai Roda, freguesia do Souto da Carpalhosa (Leiria), a
haver milagres", esses, só "os jogadores poderão fazê- terra de origem da família, ingressando depois no Se-
los". "E espero que esta época, façam muitos, para minário de Leiria, mas só para estudar. Mais tarde,
dar alegrias aos sócios e simpatizantes" encontrou a vocação sacerdotal a meio do curso do
Os resultados vão depender da equipa de futebol, diz, Seminário Maior, que encerrou, prosseguindo os es-
e vaticina: "Se a equipa jogar como no domingo, con- tudos em Coimbra, onde tirou a licenciatura em Teo-
tra o Boavista [no Torneio da Cidade de Leiria], so- logia. Aos 24 anos, foi ordenado diácono, e estagiou
bretudo na segunda parte, com dedicação, esforço, em Ourém, tendo sido nomeado vigário paroquial
força de vontade e espírito de grupo, ganhará todos dos Marrazes em Setembro de 1998. E é desde então
os jogos. A União não ganhou porque eu estava lá, que tem cimentado a sua paixão por Leiria e as suas
mas porque jogou bem", frisou. gentes, e agora pelo futebol.
Mas a sua presença pelo menos teve efeitos na dispo- Paulo Duarte, um dos jogadores mais antigos do
sição dos sócios e adeptos, que, no domingo, recebe- plantel, está convicto que, apesar de eventuais
ram o padre Barreirinhas com fortes aplausos. "Senti- diferentes religiões existente na equipa, "cada um
me emocionado e posso imaginar a influência que isto procurará o apoio na medida em que sentir essa
pode ter sobre os jogadores, quando os adeptos gri- necessidade".
tam por eles e pedem vitórias."
Benfiquista assumido Pior é impossível
O clube precisa do carinho da sociedade civil, subli- In: Portugal Diário 28-07-2001 13:26:10
nha o padre da União, como já é conhecido, e que, na António Barreto
última época, acompanhou todos os jogos no Muni- Ficámos a saber: em matemática, a nota mínima de
cipal de Leiria. Em criança, jogava futebol, apesar de acesso ao Ensino Superior, para cursos que exigem o
jogar mal, reconhece. Começou a ver a União de Lei- conhecimento daquela matéria, desceu este ano de
ria com o seu pai, a partir dos oito ou nove anos de sete vírgula qualquer coisa para cinco e umas poeiras.
idade. Ainda hoje, prestes a fazer 29 anos em Outu- Há casos piores, ainda noutras variantes de matemáti-
bro próximo, guarda "com estima" duas colecções de ca, também na física, sem falar na biologia, na geome-
cromos, das épocas de 1980/81 e 1982/83, do tempo tria e até, em certos casos, no alemão ou na química.
que o húngaro Lajos Baroti treinava o seu clube de Além disso, é possível entrar com notas negativas em
coração, o Benfica, de quem recorda alguns jogado- grande parte dos cursos. As situações podem variar,
res, como os irmãos Bastos Lopes, Bento ou Laranjei- conforme se trate de ensino público ou privado, uni-
ra. versitário ou politécnico, ou ainda de uns casos espe-
E é por gostar tanto de futebol que aceitou o convite ciais em ciência, no Porto, ou no serviço social, tam-
da administração da SAD da União de Leiria (que, bém do Porto. Há quem entre no Ensino Superior
inclusive, integra crentes de religiões diferentes), da com notas, nas provas específicas, que podem oscilar
direcção técnica e também do capitão da equipa, tor- entre um valor (disse bem, um valor) e os sete ou oi-
nando-se, assim, o primeiro conselheiro espiritual no to. Tudo, com supervisão e caução do Ministério da
futebol português.
Jornal das Boas Notícias Sexta-feira, 10 de Agosto de 2001 pág. 2
Educação. É o mais completo e garantido atestado de fazem as contas. Toda a gente anda a enganar toda a
mediocridade e demagogia que aquele ministério, com gente, mas toda a gente parece feliz. Não se pode pe-
boa consciência, se atribui a si próprio. Com a cum- dir melhor à democracia.
plicidade do CRUP, Conselho de Reitores das Uni- Desenganem-se os que gostariam de ver cada facul-
versidades Públicas Portuguesas. dade ou cada universidade a estabelecer os seus crité-
Quem esperava que, após uns anos de experiência e rios e as suas condições. Os que desejariam que a en-
de avaliação, se dessem uns passos no sentido de re- trada na universidade fosse o resultado de provas de
forçar a exigência e a seriedade, enganou-se. O siste- mérito, nas quais venceriam os que mais estudaram e
ma de acesso ao ensino superior continua dominado melhor recompensa merecem. Os que esperariam que
por alguns critérios nefastos que produzem estes re- as universidades concorressem entre si para conquis-
sultados. Em primeiro lugar, a demagogia. O princí- tar os melhores alunos (e, já agora, os melhores pro-
pio é o do direito de todos ao ensino superior, o que fessores). Os que veriam com bons olhos que a can-
faz com que o mérito seja secundário. O bom desem- didatura a uma universidade fosse também, além da
penho escolar só funciona quando há uma grande componente objectiva por intermédio de concurso,
procura, muito superior ao número de lugares: é o um processo pessoal, por candidatura e entrevista. Os
caso da medicina, por exemplo. Na maior parte dos que continuam a acreditar que as universidades deve-
casos, entra quase toda a gente, muitas vezes com riam ser locais de desenvolvimento da ciência e da
classificações verdadeiramente vergonhosas. Sem falar cultura, destinados também a aprender a pensar, a
nos sistemas de quotas (madeirenses, açorianos, emi- investigar e a criticar, em vez de serem fábricas de
grantes, originários dos países africanos de língua por- frustração e de diplomas medíocres. Os que defen-
tuguesa, etc.), que permitem a péssimos alunos entrar dem que a universidade é um local de esforço e de
por via administrativa e de favor. exigência, requisitos que, se estão ausentes desde o
Os outros critérios não são de melhor qualidade. O acesso, nunca mais poderão estar em vigor. Desenga-
sistema é nacional e muito centralizado, o que torna nem-se todos!
difícil que as universidades escolham os seus alunos Mas não se pense que o assunto é exclusivamente
entre os melhores, de modo pessoal, com provas es- universitário. Ou politécnico. Ou educativo. Não.
peciais e até entrevistas. As poucas possibilidades le- Muito pelo contrário. O que se faz no acesso à uni-
gais existentes que dariam um pouco mais de respon- versidade é o pior exemplo que se pode dar a uma
sabilidade aos estabelecimentos de ensino não são população. O que se está a dizer aos portugueses é
aproveitadas ou, quando o são, servem em geral para que o esforço não serve para nada, ou para pouco.
admitir ainda piores alunos. A preocupação política Que o rigor é dispensável. Que o estudo é pouco mais
do governo reside no aumento sem limites, a fim de do que inútil. Que a pontualidade e o cumprimento
contentar o maior número de famílias e de jovens, do dever são facultativos. Que a aparência é mais im-
mesmo se mais de metade, depois de uma despesa portante do que a realidade. Que se pode sempre al-
pública e privada considerável, nunca acabará qual- drabar um pouco. Que as “cunhas” são aceitáveis.
quer curso. O principal objectivo das escolas é o de Que o desperdício de recursos públicos não é coisa
recrutar o maior número de estudantes, sem critério, a grave. Que os cadernos de encargos não são para
fim de, por essa via, receber mais dinheiro do orça- cumprir. Que se pode mentir nos tribunais. Que se
mento de Estado. É-lhes indiferente o facto de mui- pode fugir ao fisco. Em poucas palavras, que se pode
tos desses candidatos, que abandonarão os estudos viver à borla.
um ou dois anos depois, só servirem para aumentar a
dotação financeira. No ensino privado, aliás, a preo- Exames Nacionais: Matemática e Física voltam
cupação é a mesma: quanto maior o número de can- a registar médias negativas
didatos admitidos, maior o volume de propinas a re- In: SAPO Portugal on-line, 2001-08-02
ceber. O desempenho dos alunos do ensino secundário, na
Outra preocupação do governo é a das estatísticas: as primeira fase dos exames nacionais, voltou a registar
escolares e as do desemprego. Umas dezenas de mi- uma média negativa nas disciplinas de Matemática e
lhares de jovens matriculados no ensino superior du- Física, já que os valores apurados se situam nos 7,4 e
rante uns anos melhoram consideravelmente as taxas 9,3, respectivamente.
de escolarização superior a apresentar internacional- Contudo, a disciplina de Física destaca-se por registar
mente, a justificar fundos europeus e a publicitar, in- um ligeiro aumento em relação a anos anteriores.
ternamente, em momento de eleições. Por outro lado, Em 1999 a média da classificação de exame foi de 8,6
essa espécie de ocupação, que consiste em arrastar-se e em 2000 de 8,4.
pelos anfiteatros das faculdades, faz baixar a taxa de Estes indicadores, hoje divulgados, referem-se aos
desemprego e é uma dor de cabeça a menos. Os jo- alunos internos que, à semelhança de anos anteriores,
vens aproveitam, os pais vivem uns tempos na ilusão, conseguiram uma prestação superior à dos alunos
os professores resignam-se, os responsáveis pelo mi- externos e auto-propostos em todas as disciplinas.
nistério deliciam-se e os dirigentes das universidades Na realidade, do total de 12 disciplinas em exame, a