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A

Substância
Marcos Santos

Dedico este livro,


Á cratera de silêncios
talhados
No universo da mística
verdade,

Para si,
De mim.
                                                                                                    PREFÁCIO

Este livro, é o resultado de uma análise profunda do


conhecimento, perante a inexistência de recursos escritos. A
base de todo este saber não é mais do que o pensamento, as
considerações, os fundamentos existenciais na mais nobre bíblia
humana escrita no lugar mais recôndito do ser.
O apoio que considerei relevante para este livro foi a verdade
esculpida no centro do universo humano como resultado de uma
avaliação sem portas nem paredes por deitar abaixo.
É um facto irrevogável, por sua vez contestável mas sobretudo
respeitado pelo ser mais desacreditado do universo do
pensamento.
Apoiei-me em vivências antecedentes á minha existência e corro
agora o risco de perder toda e qualquer credibilidade ao dizer
que todos os factos foram vividos não de uma forma existencial
mas transpondo o obstáculo do tempo.
Á primeira vista pode parecer ilusório, sem qualquer fundamento
mas cabe á vossa consciência e á vossa inteligência perceber e
saber separar essa diferença, no meu ponto de vista este livro
cabe perfeitamente em determinada prateleira, determinada
porque este livro revela a meditação do ser no seu segredo
oculto da mais preliminar revelação enquanto vida.
É um dos meus livros mais meditados e trabalhosos sem
qualquer apoio de qualquer entidade seja ela de que natureza
for.
A relação que mantive com a introspecção que transpunha a
barreira da época foi de uma dificuldade acrescida pelo
retrocesso que tive de fazer do presente para um passado
longínquo, foi trabalho árduo.
Deixo-vos então esta obra como o reflexo de um espelho,
silêncios talhados no universo da mística verdade.
                                                
A Consagração

Estou de pé no centro da sala, vitoriosa, a luz do Sol raia, a sala


essa mantêm-se fria nas paredes intactas do movimento do ano,
no meu peito brilham todas as constelações do universo através
de um raio que entra pelo buraco da fechadura,
todo o movimento se mantêm silencioso dentro destas paredes
onde cada uma guarda a sua história, dirijo-me agora á janela
visionária de contemplações mundanas e por entre o gelo
entranhado e farta de olhares, mais uma vez observo através de
ti a paragem do universo.
Sento-me relaxadamente na cadeira que baloiça a minha alma
entre tudo e entre todos os pensamentos que um dia hão-de
permanecer, nesta viagem de encontro.
Pleno o dia de sensações que se manifestam em mim como
despertar das emoções ocultadas na razão de uma consciência
trancada.
Caminho agora pelos corredores do meu castelo de paredes de
pedra estancadas pelas relvas lamacentas do perdurar dos anos
e do frio que nelas criou, a relação que mantenho com o meu
castelo é de uma confidente memória que ficou resguardada
nestas paredes íngremes e no momento protagonizado por um
novo amanhecer. Envolto pela mera circunstância de ainda
permanecer no cúmplice estado congeminado pelo sussurrar dos
assobios temporais numa espécie de chamamento dos Deuses
numa menção honrosa ao universo astral.
Curto o espaço que o tempo tem entre a minha consciência e a
minha passagem, farta de horas longas de pensamentos
contínuos, nas madrugadas longínquas feita de pequenos nadas
e longos olhares penetrantes no dia que sucedeu á fatídica hora
da mudança, de caminhares apressados nas ruas envelhecidas
protagonizadas de uma vida cravada nas longas ramificações
das árvores que acompanham a brancura das casas.
A luta interna que me devasta o sossego de ambições futuras
atadas na pressuposta resolução feita de paredes sem portas
que não me fazem parar, sobretudo sabendo que dentro daquilo
que expiro na real concepção do ser, jamais o tempo o parará,
oportunamente criará a insustentável
Inquietude de me ver cingido ás circunstâncias que povoam o
estado de inúmeras reflexões dentro das quatro paredes que
envolvem toda esta incógnita do amanhecer e do virar da
página.
Tempestivamente recolho-me num estado de cansaço pós
reflexão, sobre a emotividade que gera agora a recusa de estar
vencido sobre mim mesmo, numa reviravolta da vontade e da
força que sobrepõe á temporária desilusão juntamente com a
frustração estampada no decair da cabeça como uma derrota.
Ajoelho-me hipocritamente sobre a divina imagem enlaçando as
mãos como de uma força interna se tratasse, naquele momento
de indignação e perante a promiscuidade que envolve todo
aquele ambiente de peso sobre a consciência quase como se
estivesse a ser chicoteado pela franca mentira atulhada naquela
selvática encomenda feita pelo diabo em forma de Vaticano. A
pressa com que me ajoelhei e levantei era como se me
desatasse de uma tortura imposta pela circunstância de não me
enquadrar neste cenário de falsidades que corroem as mentes.
No momento em que parei, relembrei rapidamente toda aquela
sensação de inconsciência levada pela incapacidade de me
movimentar perante tanta violência causada pela mágica
dissolução de estarmos cientes da ofuscada tentação que caia
sobre mim como se fosse puxado pela mão do diabo.
Em breves segundos relembrei. Segundos esses primordiais para
a tranquila consciência do estar consciente, muito embora me
tenha abalado todo este episódio de uma liberdade arrogante
constituída por homens que se dizem ser a voz do Além.
Caminho num céu aberto de manifestações pessoais coberto
pelo estar fundido com o universo de pensamentos unipessoais
que me levam de volta ao meu real mundo dentro do castelo que
me recolhe como uma subvenção do meu estado de sentir e
pensar todo o universo.
Esta singularidade, não manifestada entre os homens e as
mulheres que juntos procuraram a verdade submersa no mundo
oculto que transportam sobre si toda esta imensidão de
circunstâncias na sua relativa e complexa fusão entre o ser e
toda a filosofia envolvente no permanecimento do estar.
A hipotética relação entre o bem e o mal, escrita nos velhos
livros, coloca a razão no equilíbrio de ambos travando uma luta
devastadora que levará á exaustão tornando-se assim num
impasse.
Cheiro o perfume das camélias carregadas de botões que
desabrocham toda a particularidade da beleza prescrita na
fecunda imensidão de uma pétala caída tornando-se despida
sobre um chão coberto por um tapete avermelhado.
A magnifica mudança, provocada pelas trocas de uma constante
força, que permanecem ligadas numa relação de envolvência
concebida no estado natural da sua procriação e da sua morte
como consequências de uma nova folhagem onde se reacende a
chama de um novo nascimento. O ciclo é sempre o mesmo, o
botão concebido como o ventre materno, o desabrochar como a
chama de um novo “amanhecer” as pétalas que surgem como o
desenvolvimento do ser, a mudança da sua cor que pressupõe
ser o seu amadurecimento, e entretanto na sua secagem rugosa
e posterior o seu envelhecimento e por fim o cair das pétalas; a
morte imediata.
Sento-me diante da janela mundana, num pensamento distante,
bem lá no alto onde as ovelhas pastam direccionadas pela vara
do pastor que as encaminha para o cimo do monte verdejante de
uma povoação campestre e rica de costumes e manjares de
(chorar por mais).
Perco-me no aroma típico das casas, nas mão enrugadas de
sabedoria, no chapéu de palha poisado no banco e a mesa farta
de carnes tratadas com a perícia e cuidado de mais um ano que
passou, tudo na minha boca sabe a pouco.
As roupas cobertas pelo cheiro da lareira e lá fora a chuva que
não pára, não tarda ai e as folhas estariam cobertas pelo “manto
de brancura da indescritível paisagem fotográfica, parada no
tempo que a não deixou morrer.
Ah… se soubésseis o que me vai na alma quando aqui me sinto.
Se por um bocadinho respirásseis o vento que me passa.
Se conseguísseis perceber toda esta grandeza que me dificulta e
me cala absorvendo toda esta paisagem inigualável que respira
parada.
Na noite que cai, todas as estrelas invadem o universo. Não é
preciso ter olhos para ver. Gélida a manhã de canto, sorriso do
outro lado da rua, que posso eu mais querer quando tenho tudo
isto?
Se um dia a manhã não abrir então eu estarei morto, e serei
mais um dos tantos filhos do intemporal dia seguinte.
Por momentos, no meio de farrapos de neve que caíam, o Sol
sorriu meio envergonhado, estatelou-se na janela húmida da
noite de orvalho que antecedeu, e de repente…choveram
pequenos raios cintilantes do calor que fugiu.
O momento permaneceu parado por segundos, fiquei gelado no
meio de um deslumbramento que me encheu a alma.
Quis o dia amanhecer enquanto bocejavam as galinhas num
cocorocó orquestral, num instante dei por mim já numa rua
estreita que ia de encontro aos folares recheados de carne feitos
com primor, com um acompanhamento silencioso enquanto
mordiscava o primeiro das duas fatias que havia comido, nesse
instante a minha mente saboreava o momento único de prazer
do qual eu desfrutava o mais que podia, e num entretanto…
clipe…”evaporei-me” antes que a vontade me voltasse para a
desejosa gulosice de comer o folar.
“Farto de sabores” voltei-me para o lado de fora e caminhei
agreste diante de um passeio alegre de cachopas que a bem
dizer seguiam direitinhas para a missa das sete, assim anunciava
o relógio monumental daquela catedral para lá dos montes, que
se elevam diante de um vale de casas como o recheio de uma
cereja, manifesta a paisagem soberana eleita numa junção de
várias alterações terrestre, que dali fizeram o alpendre aberto de
uma vila acanhada no leito de duas elevações como um castelo
sem telhado. Calcei as sulipas e coberto por uma manta desci a
estrada de volta á peregrinação que sustenta a minha vontade
de conhecer o mundo para lá da janela mundana do meu castelo
e por entre as casas feitas da pedra atulhada por manifestações
da natureza e do tempo, que acolhiam as almas naqueles
colchões de palha esburacados que ainda se mantinham úteis
nas velhas mãos que neles seguravam.
Ainda no meio do monte onde a noite já se fazia, caminhava
entre as falas dos pássaros e demais animais. Amanheceu
depressa. Foi descanso de pouca dura, estava na hora de por os
pés ao caminho.
O olhar da criança suja de lama, calcando a terra numa
manifestação de alegoria que trás á ideia a plenitude de um
sentimento profundo na expressão de uma focagem virtuosa da
sua beleza ancestral.
Calcando a estrada modificada pelas intempéries de jornadas
diárias, segui caminho deixando para trás toda uma ideia de
bem-estar e bem viver protagonizado pelas gentes e sabores
daquela terra no entanto, levo comigo o castelo de pedra para
reflexões, meditações e descansos. O velho caminho de ferro
ligado á outra margem, conduz-me numa viagem do pouca terra
agora já esquecido e “enjaulado” naquele coberto que tantos
anos terá quanto o comboio ali permanecido contudo, as linhas
paralelas proporcionam ainda a capacidade de não me esquecer
daquelas viagens de uma beleza cujo o sentimento guardado é
indescritível, por mais que da memória eu possa puxar. Neste
entretanto, enquanto viajava na memória, qual o espanto em
que me deparo nos subúrbios de mim e da mudança citadina e
das gentes que nela vive como qualquer coisa de estranho.
Muito embora, até eu pudesse ter estado enclaustrado no
pensamento continuo de mim para com o mundo e no entanto,
não me tivesse apercebido da sua transformação, mas em todo o
caso, afinal, talvez até tenha algum repudio pela sua
transformação e por todos os melindres nela envolto.
A viagem segue-se agora no meio de socalcos e vinhas, mais lá
para a frente avista-se a pequena vila abalroada pelas encostas
que a protegem como filha da natureza, parece até ser de
propósito com o propósito, sente-se já os cheiros típicos da terra.
Encontro isoladamente a casa que em outros tempos alojou
senhores em quartos devidamente aconchegados, claro que hoje
pouco sobra dela mas continua a servir portanto, foi lá que
passei a noite.
Num frio intenso e húmido que percorre aquela vila rodeada de
finas camadas de gelo entranhadas no cimo das encostas que
alberga a vila acanhada do Douro. Amanheceu, e já os cestos se
arrebatavam das uvas que os homens e mulheres de mangas
arregaçadas e com um pano em volta da cabeça carregavam
sobre elas os cestos pesados para o lagar, não conheciam outro
mundo.
Calcei as sulipas, vesti a “farda” domingueira e mais uma vez fiz-
me á estrada, passei os longos carvalhos do monte e de
bragasta em mão fui abrindo caminho por entre as silvas que me
tapavam a vista, derrubando-as atravessei caminho e fui de
encontro pelo encosto do monte á parte interior do fim ou do
principio do Rio Douro (depende sempre do ponto de vista).
A maresia vinha lá do longe.
Olhei á minha volta e veio-me á cabeça a sensação de um
abandono, da minha parte, ou da parte do mundo, que me
olhava sempre com uma certa distância no que respeita ao modo
de eu ver a vida em sociedade e o modo como a sociedade me
vê. Talvez por isso, eu tenha vindo gradualmente e sem se dar
conta disso, afastando-me e criando um mundo dentro de outro
mundo.
Mundo esse perigoso. Digo perigoso, em virtude de não ser uma
escolha, mas sim uma forma de estar na vida, para com a
sociedade e para comigo mas ao contrário daquilo que se possa
pensar esta forma de estar também têm as suas consequências
e as razões nela evocadas. Contudo, poucos são aqueles que
optam por esta via, é mais fácil cingirmo-nos á forma da
sociedade do que optarmos por uma nova…a de cada um.
Por isso, hoje, transporto comigo um sentimento e ao mesmo
tempo um pensamento de certa forma equivalente a uma
ambiguidade manifestamente obscura. Em todo o caso, não
deixa de ser por isso que manifesto em mim a certeza daquilo
que sou e daquilo que pretendo em relação a mim.
De certa forma, esta longa caminhada representa o
prosseguimento da minha aprendizagem e meditação de
múltiplos costumes, gentes, e tudo aquilo que as envolve; á
priori, parece ser um facto sem importância mas enganam-se
aqueles que assim pensam porque á posteriori e depois de uma
reflexão pode-se perceber que tudo tem importância na medida
em que nos assemelhamos sempre; mesmo que estejamos longe
da sua realidade e também da de cada um.
A coragem, ou talvez a inconsciência ou até e porque não; a
consciência me levem por caminhos que outros foram capazes
de percorrer carregando com eles o mistério que os mantinha e
lhes proporcionava o seguimento por um caminho atroz, cheio de
vitórias e derrotas que lhes davam ânimo para a sua caminhada.
A verdade que eles transportavam seria a água e o pão do seu
esforço.
Junto de mim e perto do universo, existem uma série de
compostos que proporcionam ou condicionam a constituição de
cada indivíduo, sempre subjugada pela circunstância de
estarmos pendentes de uma consideração pressupostamente
condicionante da certeza real e independente, de que cada um
se intitula.
A mera circunstância de eu ter decidido fazer esta longa
travessia, trás “acorrentada” a si o julgamento precoce de
múltiplas individualidades agarradas á incapacidade de uma auto
decisão e de levarem a cabo as suas concretizações que iram
traçar a via personalizada de cada individuo.
Sussurram em cânticos as aves poisadas nos ramos dos
pinheiros.
Sons medievais que se distinguem divinamente, numa
manifestação de esplendor recolhido no coração do mundo lírico,
as melodias soltas entre os ramos trazem repuxadas no âmago
uma indescritível essência natural herdada do fundador. Esta
simbiose harmoniosa, de cantos imaculados produzem novas
sensações da palavra pelo mundo divulgada, que originou a
unificação ou parte dela diante de uma ideologia e misticismo
fecundo num mundo de pobreza e crença. Esta palavra veio
posteriormente criar o abismo encoberto na devoção das gentes
seguidoras de um Deus maior.
Trás o vento em nome do tempo a mudança circunstancial de
uma fé abraçada á cruz intemporal que a verdade pensou mudar.
A promiscuidade com que hoje se fala dessa palavra leva-me a
reflectir sobre o mundo em que hoje vivemos, tirando elações
nada promissoras de uma vida “vestida” de ocultações, jogos e
imposturas de uma civilização que se rasteja com o peso da sua
consciência.
A cósmica imagem abisma da cruz trabalhada na mensagem e
não deixada ao acaso com a pressuposta razão da consagração
do levitado ser em redor de uma causa perdida, numa
ostentação de poder religioso, sobre a impiedosa fraqueza da
alma.
Estende-se agora o horizonte profundo e inatingível sobre o mar
infinito, com a ofuscada luz que raia em pleno voo da andorinha
numa libertação do bater de asas que apregoa as boas novas de
um novo amanhecer primaveril.
Cai sobre a terra o primeiro olhar do desabrochar da essência
que gera uma multiplicidade de florescimentos capazes de
invadir toda a sua externa beleza espontânea. A noite, cobre-me
agora o pensamento difusivo num mediterrâneo de concepções
alusivas ao místico labirinto do ser eu.
Complexas, as formas de manifestações internas produzidas na
raiz do ser, heréticas as concepções que suprimiram a excêntrica
voz do monte, das árvores, das flores, do lago e de todos os
oceanos que inalteravelmente banham as encostas rochosas da
erosão e do desgaste provocado por um senhor Deus tão natural
como as folhas das árvores, dos rios, dos vales e todos os
caminhos que comungam com o universo de genuinidade.
A causa de todas estas conquistas advém de uma quimera
formada na minha excentricidade como recomeço de uma real
fecundidade utópica, hoje exacerbada na consciência trancada.
Traz-me a astúcia o feitiço de permanecer vivo na cosmopolita
liberdade do pensamento na manhã que “naufragou a noite”;
rebento de um clarão intenso parido. Permite-me a voz da alma
sucumbir-me numa ideia de uma constatação que assinala a
continuidade da ilustre presença que se adivinha na resistente
demonstração de mim para com o mundo.
Assim prolongo a minha caminhada com a plena convicção de
que estou certo daquilo que penso com o dever de instituir a
verdade na bíblia difamada e difundida aos quatro ventos.
Desço pelo “carrilho”da elevada serra de encontro á planície que
“desliza” sobre um mato de ervas onde pastam as vacas vindas
da ladeira; esta metafísica que não se exprime por palavras,
leva-me por vezes ao subterfúgio da montanha onde me
encontro e analiso num entendimento do mundo que dentro de
mim gira. Lá longe, ouvem-se as ondas, filhas das marés vindas
do infinito, que vêm abraçar a costa e voltam a ir para depois as
suas irmãs em sua vez voltarem de novo á costa; e deslizando as
águas barulhentas as gaivotas lá ao fundo mergulham a cabeça
meticulosamente numa saudação lendária. Em tempos e no
tempo em que o tempo intemporal, permitia o mundo caminhar
no seu espaço numa leveza de ar que equacionava a existência
universal de uma era em que a sua excentricidade estava no seu
esplendor, algo entretanto e entre tantos mudou e mudou de
forma que atingiu a própria forma que no seu momento se
deformou contudo, embora neutra a posição da forma
continuamos aqui cada um formado ou deformado consoante a
sua formação ou até possivelmente a sua deforma ou seja: que
não tem forma. Nestas variantes todas cada um e só por si
mostra a sua unilateralidade na sua invulgar condição de ser,
numa pressuposta união entre o ser e a razão.
O ser que permite ao ser o ser consoante a sua razão. e+e= e/r=
(er) .
Esta equação permite-nos perceber que o ser está sempre
condicionado pela razão e esta por sua vez faz o equilíbrio das
suas emoções.
Rasgo de um crisântemo num chão levantado, arco-íris folhado,
sublime.
Enquanto me compenetrava na verdade esculpida na pedra
talhada, a dúvida persistia na mística percepção das ocultas
verdades que me invadiam para a caminhada do dia seguinte, e
neste momento no ponto mais longínquo atravessava-se á minha
frente o horizonte incandescente e por entre os ramos das
árvores, raios de luz se rompem como relâmpagos que se
espelham nas folhas dos troncos e que me iluminam de vida.
Num movimento circunferencial e na existência de um ponto
central á circunferência onde me encontro, desenha-se uma
identidade uniformizada de uma absoluta universalidade e de
uma excêntrica galáxia inexplorável, cuja sua totalidade é de
uma fonte inacabável. Estou agora sentado numa das rochas,
irmã de muitas outras, filha do núcleo da terra e á minha frente
observo este mar intenso de vida, este oceano de múltiplos
prazeres, utópico, relativamente ao universo terrestre, impotente
o ser quando se depara com esta vida por debaixo deste azul
profundo, intocável, que se resguarda na sua autenticidade como
fruto proibido. Esta imensidão que oculta os seus pilares e as
suas bases como referências ancestrais de princípios e valores
nela mergulhados, a imperceptibilidade que me faz retroceder ao
umbigo cósmico do grão á areia e ao seu desencadeamento,
como forma natural do posterior envolvimento nas fases da sua
actividade e alteração do mundo como pilar do conhecimento.
Este retrocesso não vem na história dos livros. Não. Este recuo
dá-se numa linguagem sentimental que trás á ideia a imagem do
seu sentimento, proporcionando-me a veloz viagem no tempo
que em nada se alterou, o holocausto que em boa medida nos
mostram em nada se sobrepõe á razão da verdade da
humanidade, e a toda a sua evolução enquanto existência.
Despenho-me em horrores primários, quase até pré-históricos
que me revelam uma tempo cabalista de uma sociedade sem
ambições de se tornar única, uma confraria de mentecaptos.
O rompimento da aurora traz-ma a sensação da desfolhada
caracterizada pelo aparecimento de uma nova unidade, sem
qualquer tipo de assemelho para como o outro ou mesmo de
uma conexão, a confraternização deixa de ser uma utopia para
passar a ser vista como um átomo isolado.
O vazio tomou parte de um comportamento do ser, que veio
posteriormente dar a conhecer o lado escuro da humanidade,
desempenhando um papel bárbaro, resultado de uma ausência
de diversos factores que se enquadrariam numa sociedade
aberta de princípios e valores.
Julgo que a verdade lícita, criará a insusceptibilidade de outra
verdade, que tentará criar o desequilíbrio da razão facultada.
O tempo suprime-se mascarado e tudo o que resta é aquilo em
que nós nos tornamos; o bafo que de dentro de nós sai cessa.
Apoquentam-se aqueles que o sossego já não sossega.
E enquanto isso acontece, a linha cintilante que atravessa o mar
de uma ponta á outra; sorri-me. E a descompressão dá-se.
E a esperança que invade a madrugada de Outono, num utópico
pensamento que a razão balança dependente sempre de uma
primeira sensação agarrada a uma meditação turva que engana
a mente, proporcionando-lhe um dilema que confunde a vontade
que cega a verdade embebida num momento contraditório da
circunstância que depende. E depois... a denúncia. O momento
da culpa que nos atravessa de uma ponta á outra e castiga, a
nobre verdade que nos afronta defronte do espelho que nos
rompe a alma e a desgraça que cai sobre os joelhos que nos
debruça e envergonha. Fútil manhã.
A procura que nos reserva o vazio, essa máxima que nos
mantêm sempre incompletos, inacessíveis ás nossas emoções
nessa insatisfação que nos moem, essa perceptibilidade que nos
aproxima... essa matéria que nos torna... essa incumbência que
trazemos na origem do ser, essa relação de proximidade que nos
oculta, essa sensível questão do existir, num absolutismo
imperfeito da nossa razão, essa qualidade de ser, essa raiz
templária.
“Elevo-me aos céus com a grandeza com que parto daqui” e lá
em baixo; a planície imóvel desmascara-se diante de mim como
se tornasse nua, a visão que agora se torna real desespera-
me...inconclusivo pela razão que dentro de mim corre, a imagem
perturbadora até demasiado perfeita esconde a sua magia por
detrás da sua essência e o alivio... equilibra agora o que me vai
nos subúrbios da minha concepção. O prefácio que oculta todo o
seu misticismo no núcleo onde é concebida a verdade comutável
do seu exterior, por imposição de uma alteração cósmica por sua
vez transformada pela acção degenerada do mundo, mostra
agora por acção dos ventos e das marés a sua complexa força
movida dentro de uma esfera que desassossega a culpa
adormecida dos seus intervenientes.
Chovem relâmpagos do céu estonteante como flechas indígenas,
faz-se luz entre a escuridão da noite, o barulho insurreccionado,
intangível, de uma força inigualável faz-se ouvir no lugar mais
longínquo do seu epicentro, extraordinariamente demolidor e
justo á sua medida, deixando a perplexidade tomar conta...
impotência humana, divina a essência do que é profundo e
natural, virtuosa natureza, inesperada e voraz.
O entendimento cósmico que crê ser de um conceptualismo
ainda infundado pela razão que me parece ainda permanecer no
segredo, sobre a alçada da mística criação, também ela ainda
oculta na sua origem, facto irrevogável num contexto onde a
verdade continua a ser posta sobre hipotéticas concepções.
A condição profunda, existencial da qual estamos pendentes,
escraviza-nos no íntimo tornando-nos prisioneiros da nossa
integridade fiel a uma constituição onde recai toda a nossa
origem como seres pensantes e portadores de uma
complexidade inacessível. A inviolabilidade com que nos
debatemos, pressupõe uma corrida contra o tempo cujo o nosso
conhecimento muito embora, tenha vindo a ter alguns avanços
não demonstra a factualidade razoável para uma concepção
ideológica credível na sua amplitude, o que isto implica a
continuidade de um místico universo de compreensão.
O gesto impensável, instintivamente lançado, empurrado pela
emotividade que demonstra a sua lealdade para com a sua
verdade universal, toda a grandeza desenhada pelo gesto que
advém de uma profunda relação de igualdade para com a
concepção de ser, “regada” na sua essência intangível onde o
abismado grão deu azo a uma raiz que por sua vez concebeu
uma estrutura complexa, impar, numa presença que oculta o
labiríntico e enigmático conceptualismo da consciência.
O núcleo designado como um átomo isolado, mantém dentro de
si a verdade universal que ao longo dos anos foi alvo de
sucessivas mudanças, não alterando no entanto a verdade pré
escrita, contudo, a deformação foi consciente num mundo onde
outras verdades foram sucessivamente impostas em
circunstâncias adversas á sua real criação. Silenciada a voz da
consciência, permitiu-se calar a razão e desvanecermos por
detrás da nossa imagem.
O substrato nada me permite, senão a subsistência da sua
verdade para com apocalíptica árvore da vida numa conjuntura
de múltiplos pensamentos consequentes mas infindáveis de um
enigmático começo, razão que os deuses ocultaram.
Esta procura fundada numa estrutura da relação mantida no seio
do ser e de uma referência genética extremamente complexa e
impalpável, conduzida por uma reflexão dentro de um
pressuposto real, considerando a razão de todas as razões, num
fundamento de semelhança congénita á presença soberba da
genuína concepção cósmica e próxima, num contexto onde o
recuo do tempo e do espaço se centraliza na união dos rios, dos
montes e do ser, num universo único.
O momento define-se em circunstâncias que cri despontarem no
útero da luz como réquiem da vida. Esta sensação revela-se num
mediatismo espontâneo de uma liberdade substancial numa
natureza de semelhanças e contornos pré concebidos antes de
qualquer aparecimento racional.
A mensagem transmite-se dia após dia, a sua receptividade
adulterada por incautos que incansavelmente procuram distorcer
a verdade secular e nativa de um universo celestial, no entanto,
novos cérebros foram concebidos e a mensagem foi cedendo,
perdendo o valor da sua fecundação, não preservando nem
originando novas raízes que divulgariam a sua genuinidade. – Já
foi tempo em que a Terra girava em torno do Sol. A via-sacra tem
vindo a mover mundos, abiótica a palavra, penitência de uma
cruzada, apaixonada e dolorosa caminhada da fé que se tornou o
alimento da consciência do ser que submergiu na doutrina de
uma vontade e posteriormente naufragou no encurralado
labirinto da verdade. Crentes aqueles que em si findaram.
A deselegância com que plantamos ervas daninhas no seio das
nossas fraquezas, considerando o erro do outro para justificação
dos nossos actos com o propósito de nos ilibarmos de um juízo
final da nossa consciência... e diante da casa de Cristo eu sou
visto mais ou menos como o Golias opositor de uma farsa que a
caracterizo como a mão que tira o pão da boca dos meninos.
A emoção paira no ar sobre as bíblicas palavras
esculpidas...regresso de um deus. Nobres os homens que
semeiam a verdade, nobres são também aqueles que a cultivam.
E trazida a manhã de novo, o céu rompe-se de azul e lá ao fundo
o arco-íris abre-se como um leque e por entre todo este encanto
que me adoça a vista ouve-se um musical abafado por entre
todas as partículas que circulam no ar de uma orquestra
resplandecente.
No entanto, a minha digressão ainda não acabou, continuo atrás
da verdade que a terra semeou e que um dia hei-de colher.
Ah, se a vontade dos homens se antepusesse á única questão
que os confronta, com a sua natural forma de se sobreporem ao
mundo como sendo eles o centro do universo. Ah, se fosse esta a
única verdade, se em volta de tudo isto a única existisse, se
todas as razões se cingissem á razão.
Ah! Se tudo fosse uno.
A simplicidade tornar-se-ia o centro de cada um e todas as coisas
haveriam de ser de todos o mundo partilharia este momento e
todas as coisas deixariam de ter sentido e nós não seriamos
milhões e tornar-nos-íamos no número um e então tudo o que eu
escrevera até aqui deixaria de ter qualquer sentido para passar a
fazer parte da história e em resultado disto, eu também não
estaria aqui, e não seria eu, passaria a ser o outro, a minha
essência desapareceria tal como todas as coisas e tudo se
tornaria opaco e a terra deixaria de existir, o Sol deixaria de ser
uma estrela e tudo seria escuro.
Contudo, quando me olho torno-me... e volto sempre aqui, a este
ponto de referência que me coloca no principio do mundo e no
principio da minha vulgar condição de ser, a altura permite-me o
recolhimento em análise de todas as minhas vitórias e de todas
as minhas derrotas, valores que abraço como conquistas internas
que se colocam perante mim num estado da minha luta sem
exclusão de qualquer circunstância, porque foram essas
circunstâncias que estiveram no centro de cada uma delas.
A hipotética e talvez até surreal coexistência do ser e da terra,
gera uma multiplicidade de riscos inerentes a um universo
antecedente contudo, a sua simultaneidade conserva na sua
fecundação uma relação de equilíbrios da sobrevivência de dois
pólos distintos mas que convergem numa união comum entre “o
bicho” homem e a terra protagonizada de uma riqueza submersa
nas suas entranhas.
A criação de novos mundos, veio provocar o caos das
sociedades, cujas suas doutrinas se regem por diferentes deuses,
defensores aguerridos de visões, cuja sua referencia antecede
qualquer um dos mortais deste século, religiões que mostram o
mundo cada uma á sua maneira, por vezes até empunhando a
arma sobre os frágeis braços das crianças tornando-lhes as suas
consciências mortas de violência.
A antemanhã abriu-se antes da hora, pronuncio de uma
mudança forçada, renúncia assinalada, tufão na madrugada,
aldeia rasgada, onda desvairada e entretanto, o silêncio rompeu
o momento e tudo permaneceu calado como uma manhã
fúnebre e de repente ouve-se lá ao um fundo um gemido que
estrondeou o mundo, uma mão pequena suja de lama se eleva, o
olhar perdido procura a mão que não acha e tudo se torna
demoroso, todos os segundos são horas de desafios e por
momentos ouve-se um silêncio de morte que desafiou a vida e a
criança nua caminha agora em direcção ao mar, senta-se na
areia e olha-o.
A imagem ficou gravada na memória como um açoite.
Jamais se perdeu.
Responso da culpa oculta no silêncio da universal consciência
humana, prelúdio do insensato olhar racional. E do outro lado do
mundo ecoam chamamentos inglórios da perda, sobre tudo da
inculpabilidade, do isolamento e da loucura.
Zorro! Fez-se noite no espelho do mar defunto.
O momento define-se como uma visão interna do universo
pensante, numa auto análise profunda e critica de uma raça que
se auto destrói dentro do mesmo habitat, a reflexão pretende
com ponderação, uma pesquisa pessoal do seu comportamento
para com o seu semelhante.
Estende-se ao longo deste percurso, um mundo de constantes
prazeres aromáticos e auditivos, a adição de ambos, faz renascer
a imagem bíblica do paraíso, esta congregação de cheiros da
natureza e de sons profundos que atravessam a terra de um
hemisfério ao outro, percorrem mundos de emoções num
sentimento comum e singular, de uma longevidade impar e
crescente.
Prolonga-se extensivamente o azul transparente das nascentes,
incorporadas no seio terrestre. Quedas de águas que se libertam
da ilustre cordilheira transmontana, carregada de uma pureza
sublime, desço a serra enquanto desliza sobre mim a bênção
desta água vinda do submerso de um universo peculiar.
O olhar permite á sensibilidade manifestar em prol do seu
encanto ou do seu repudio, as várias emoções vivas na alma,
consoante o sentimento narrado no momento, a expressão de
sentimentos instintivos revelam em si a verdade que a mente
transporta, na sua real concepção.
O estoicismo racional com que nos confrontamos, demonstra o
esgotamento plural da humanidade, relativamente á capacidade
de viver em sociedade, não menos perceptível é também, o
“fantástico” contra-censo existente num mundo onde o
pressuposto seria a unanimidade de um conjunto relativamente
á sua sobrevivência num universo de todos, cuja igualdade seria
uma norma adquirida num mundo onde predominaria a justiça
para todos.
Não menos importante, é também a escalada ao monte,
recomeço de um caminho já percorrido, na insistente e árdua
“luta das barreiras”, pontos de alcance longínquos, apostas de
um eu numa porta sem chave, estado emocional
contrabalançado pela incerteza de pontos diferentes mas que se
equilibram como contra-pesos, numa relação de intimidade
única.
É esta a complexidade que nos limita, esta a fumaça que nos
venda os olhos, esta a real ocultação dos prazeres sentidos no
submerso e recôndito misticismo da génese.
... e funde-se em chama manchada a lua, mãe de um universo
de estrelas, madrasta da noite rumorosa, filha de um céu
incandescente, visionária luz resplandecente.
Exilei o pensamento numa postura silenciada pela
incompreensão das palavras, elaborei dentro de uma
conceptualizada visão universal de uma franqueza com que me
afronto diante de um reflexão de mim próprio, custou-me o
desconsola de não ter vivido as minhas ideias, ideias essas que
são a minha edificação, a plenitude da minha existência, a
continuidade.
No sussurrar da alma depreende-se o conflito interno de noções
e concepções construídas ao longo dos anos na formação de
inúmeras visões, algumas até criadas pela mera impressão de
parecer, tornando a clareza da consciência duvidosa perante a
incerteza insolúvel do esclarecimento da sua percepção.
A lua desce o pano de mais uma noite, na morta conquista que o
olhar apregoa no sábio pensamento de uma inércia indignação
da imagem que prescreve o recomeço de um outro dia de
desamparo cristão.
E entretanto; a saudade...aquela visão que nos fica, que
acompanha e nos rói a vontade, o arrependimento de não ter
feito e novamente recomeçamos tudo de novo, como se fosse a
primeira vez e a saudade então desvanece naquela hipotética
concretização daquilo que nos roeu o intimo durante anos.
E a Terra volta a girar.
A perda. Essa interminável dor, essa dúvida perante os
hipotéticos ses, essa dificuldade de aceitar, esse arrependimento
cabal sufocado por todas as incertezas, essa incompreensão da
factualidade, essa dificuldade que nos cala diante de uma
impotência, essa rara consciencialização da verdade, essa
lucidez viva que nos encontra no mais fundo dos poços da nossa
existência, essa inacessível compreensão do sentimento inglório,
esse cruel universo onde existimos como únicos.
Esse é o encontro do ser no lugar mais recôndito de si, esse o
silêncio que perturba a alma no desequilíbrio das emoções, “o
fantasma” que vive acordado no seio da existência, a promessa
culpabilizada como uma fuga á pressão da consciência, a
questão que quando se coloca abre a porta do abismo, esse fruto
proibido.
A janela aberta para o mundo, a incógnita sensação do vazio de
estarmos sozinhos, a paragem que ofusca todo o universo
humano, a sensação estranha de um abandono da parte que nos
preenche, a inconclusiva presença do espírito no seio do ser, o
caminhar atabalhoado não se sabe bem para onde, a
circunstância do desvanecimento que nos coloca na interrogativa
procura da consciência que possuímos mas que no entanto
periodicamente esconde-se e nós continuamos ali, num
existencialismo sonegado.
Soam gritos mudos de lá longe, ruídos que “sufocam” a
consciência, tremores internos de sobressalto, trovoadas vinda lá
do longe e tão de perto sentidas, choros de meia noite, curvada
a criança de cócoras brinca...
...e o céu escuro humedece a terra.
A estrada térrea ao abandono, prenuncia o infinito da sua
terminação, o cheiro mórbido de caminhos inacabados realça o
esgotamento físico “engolido” pela secura da terra e pelo
desgaste provocado pela erosão.
Caminho sobre os corpos sem nome, pedaços de vida recolhidos
pelo tempo, originários de outros mundos, noutras épocas de
infortunadas lutas, tão reais como os tempos de hoje.
Ao percorrer este caminho longínquo do mundo que a vista nada
alcança, a vontade e a força interna trava agora uma “batalha”
entre essa mesma vontade e o desânimo de a vista nada
alcançar mas no entanto, a procura e acreditação fazem
percorrer dentro de mim uma verdade e unificação bombeada
nas minhas veias que me regam e levam a minha consciência
ao fim do mundo.
E ao parar...recordo todos os caminhos percorridos como
pressupostos ensinamentos, vitórias e derrotas, ambas vistas de
igual forma e apostadas á sorte numa desigualdade que nada
me enfraquece nem desanima, esta caminhada que percorro
sem enfraquecimentos internos por mais diversificadas vozes
que se oponham á minha verdade.
No centro do meu reflexo avivam-se as dúvidas interrogatórias
do desconhecido, existências enevoadas na sua biografia,
análises elaboradas de uma auto compreensão.
“O dia nasceu com a mão fora da janela”, numa ante visão do
sonho pouco esclarecido da madrugada que se antecedeu,
sórdida a manhã que abriu, num enevoado meio baço de uma luz
encoberta pelas frias camadas gaseificadas num estado quase
como que compenetrado na sua fútil manhã.
De uma musicalidade expressa no silêncio que cobre o vale
encrespado no seio do rio transversal munido por uma força que
rasga a montanha no seio da sua impulsividade de estados
emparelhados e encrespados pela erosão que se faz sentir na
génese de uma ciência natural que oculta o seu esplendor.
Nada foi feito ao acaso, a simples manifestação de múltiplos
envolvimentos, cria no entanto, a sensação de uma mágica
controversa de um entrosamento inabalável na estreita melodia
do pensamento revirado na escolta da emoção de princípios
sazonais de uma razão impulsionadora caracterizada pela sua
união.
E em milésimos de segundos, tudo muda com num estalar de
dedos.
Todas as convicções fixas, inabaláveis que sustentaram toda
uma razão e todo um equilíbrio caracterizado pela sua solidez
baseado numa conformidade de todos os seus ideais isenta de
incoerências agora desaba como se de um castelo de cartas se
tratasse. A razão pela qual tudo isto sucede, aparentemente não
tem qualquer fundamento muito embora, até uma mera imagem
possa perturbar e dar inicio ao desencadeamento de sucessivas
manifestações outrora certezas de uma sustentável ou
insustentável razão que á priori teria tudo para vencer.
Afinal, todas as certezas estão recheadas de todas as incertezas,
embora até possa admitir que a razão tenha tamanha força que
jamais qualquer abalo a possa derrubar, porque se assim não
fosse tudo seria fumo.
E por momentos tudo se calou...o abalo natural convenceu-me, e
neste instante o respiro profundo, o desmoronamento de uma
incerteza pesada escorre agora sobre os meus ombros na
compreensão de uma vida hermética que resulta da união dos
seres e da terra e de uma liberdade que não acarreta a
promiscuidade do poder mas transporta consigo a satisfação de
uma independência e de uma obrigação coberta de valores
criados no principio de uma era, valores esses que se traduzem
na solidariedade entre os homens e as mulheres e no amor pelo
próximo, pilares que sustentam a consciência.
Adormeço sobre eles numa tranquilidade que me mantêm
inquestionável.
Razões que a própria razão desconhece, a não ser que a razão
não passe senão de uma série de conceitos e fundamentos
criados no seio de cada um ao longo dos tempos. Embora, assim
não me pareça. A razão de ser trás na sua evolução conceitos e
fundamentos de épocas a.C. que hoje ainda são visíveis na razão
de uma sociedade.
Hoje, o entulho amontoa-se concretamente nos subúrbios da
consciência humana, resultado de uma perda de sentido e de
uma integridade moral que hoje efectivamente conduz a um
anarquismo absolutamente condenatório a uma desinteligência
de uma sociedade em risco.
A tolerância; esse comportamento compreendido, essa luz de
equilíbrio racional, essa humana percepção do entendimento,
esse sossego próprio do conceito e da obrigação, essa realidade
lúcida maioritariamente ilusória capaz desassossegar o próximo
como se o próximo fosse a promessa incumprida e
incompreendida do mundo que o olha distantemente, como se
não existisse.
A procura; essa porta que não abre, esse muro que se depara,
essa batalha árdua dos dias, essa questão que a consciência
debate internamente num longo conflito de impedimentos
patentes na conduta do ser.
Essa morte enigmática que não revela a certeza, esse sussurrar
de conflitos interiores, essa dificuldade de aceitar a roda em que
giramos e tudo nos proporciona a frustração silenciada pelo
ranger dos dentes como uma perfeita impotência de nos
elevarmos e o dia nasce como se a noite não tivesse passado e o
tic-tac do relógio perpetua a cadencia de um naufrágio sobre o
tempo surreal do sustento.
Esperei. Meditei a complexidade da causa, sucumbi-me em
pensamentos resultantes de uma procura quase inacessível,
caminhei até ao âmago numa busca inglória, não
parei...mantive-me enquanto a arte assim mo permitir,
qualidades encarregues da busca e na reflexão impetuosa de um
dia a seguir ao outro, numa expectativa mística, infortunada pela
imperceptibilidade que se demarca na sua longevidade
missionária despontada no regaço do ser, e invejada pela
abandonada meditação sobre a sua eminente faculdade de
criação.
Já foi tempo. A vontade traz consigo a consequência assente na
causa, adia-se mais uma vez aquilo que nos vai na nossa
formação e deparamos com mais um atraso no relógio que nos
semeia o envelhecimento como sequela do osso estado
dependente sempre de um se.
Faz-se em demora o rendimento; fruto do desapontamento
criado na fraqueza do pensamento do ser, que se esconde na
vergonha que o evapora entre a multidão, ninguém se deu
conta, a dor interior corrói enquanto a verdade persistir no
entendimento de um recolhimento que nos afasta do mundo que
censura a posição e atitude enquanto a liberdade da cogitação
for um facto adquirido todavia, suportamos ainda o fardo de
vivermos numa embustice desavergonhada e distintamente
consigo permanecer revelando uma forma de viver independente
sem contacto ao nível da existência insistindo numa posição que
me desvia deste universo, do qual não compactuo.
A força que me evoca, subtérrea em relação ao que é imediato,
em contradições provenientes de uma complexidade que
abrange todo o processo lógico, logrado na herança mundana do
que é fundamentalmente, autêntico e intocável.
A reminiscência que me acolhe apoiada num equilíbrio racional,
concilia a consciência na relação com o bem e o mal, atribuindo
uma importância que não vai para alem daquilo que lhe é
merecedor contudo, o refúgio do monte que me abriga situa-se
na nascente de uma imponente deusa da vida, suscita a beleza
inconfundível de uma autenticidade cujo o seu esplendor abraça
toda a esfera.
Neva lá fora enquanto á janela espreito a lua submissa da noite
que a empolga, criando na vista a abominável sensação de
estarmos sós no meio de uma imensa luz que nos guia para a
utópica imagem mais que perfeita e enquanto desço a face do
monte, invejo a serenidade da paisagem que quase me obriga a
reflectir profundamente sobre todos os caminhos a percorrer
como se tratasse de todas as sementes que me dão a
oportunidade de viver no meio delas.
Tomem-me por louco aqueles que assim o entenderem que por
sua vez são aqueles que a sociedade os vê como “os
ignorantes”, ou chamem-me ousado aqueles para quem a
ousadia não passa senão de uma opção e não de uma conquista.
Parece-me então correcto afirmar que o ser possui
conhecimentos antecedentes á sua existência mesmo não os
tendo vivido, talvez até por razões religiosas que de alguma
forma lhe daria uma visão possível do mundo, real, não
absolutamente real mas possível, sobre hipotéticas presenças de
um outro universo de meditações e misticismos transcendentais,
realizados dentro de uma concepção ideológica presumivelmente
tão real como a dúvida dos incrédulos.
A liberdade é um conceito, que acarreta sempre alguns
compromissos para com a o outro e para consigo mesmo,
partindo-se de um principio que a razão está sobreposta ao
limite como obrigação de um final da liberdade de cada um no
entanto, esta liberdade camuflada de razões e de obrigações
constrói um mundo de privações relativamente á liberdade
condicional a que estamos sujeitos no que respeita á condição
humana sempre estrategicamente obrigada.
Sendo assim, posso pressupor que estamos diante de uma
maquinação de um sistema incoerente com todos os princípios
humanistas de que a existência se rege. Este maquiavelismo
sintomático ao qual estamos “condenados” de uma politica de
califas que protagonizam o circulo fechado para que os
chamados “muros” sejam hipoteticamente construídos na mente
do ser para que este não possa viver de uma forma digna; o
poder essa arma que usurpa as vontades dependentes de uma
criação utópica, que enfraquece e domina a diferença numa
sociedade que só lhe resta a demonstração da pobreza mental
fabricada pelos fracos.
A ânsia. Esse desequilíbrio que permanece intranquilo, essa
desunião humana que roda em volta de si, esse olhar que
acarreta a incompreensão do próximo, essa luta que trás a fúria
escondida no seio da existência, uma espécie de canibalismo
adormecido, essa escolha entre Deus e o diabo.
Foram folhas de Outono caídas dos arbustos que carregavam a
manhã nebulosa, de uma noite turbulenta que decidiu agitar o
pensamento que adormeceu desassossegadamente num dia que
fingiu ter-se escapulido da razão, formada no âmago de um
ranger tenebroso da ida.
Afogaram-se princípios em nebulosas partidas de uma
consciência intacta que incessantemente procura entre as suas
entranhas a verdade que sustenta a sua existência.
Nefasta a rigorosa inclusão de sonegadas atitudes concebidas
numa ideia de poder apoiada na exclusão de partes partindo de
um principio perigoso em virtude de ser concebido por uma
matéria explosiva que afasta a tranquilidade de uma próxima
relação com a posterioridade, nesta “viagem” que assombra o
principio de que tudo existe deste modo enquanto eu
permanecer e que todo o resto é pura abstracção da real
concepção da vontade e do querer.
Esta censura demolidora de uma razão aparentemente capaz de
sobreviver até á exaustão.
Dei por mim num silencio reflectivo de apatias, que me vinham
desassossegando a minha vontade de continuar a caminhada
que havia planeado nos subúrbios da minha consciência,
deparei-me, “numa estrada sem saída,” após me ter questionado
sobre determinadas estupefacções que considerei não serem e
não fazerem parte da minha estrutura como pessoa, percebi
num questionário aprofundado ao seio da minha existência, que
fui desmultiplicando toda a complexa razão porque tudo se havia
alterado, demolindo barreiras que questionavam toda a
inexistência de factos, percebi que o fundo da questão estava
longe de ser alcançada e nada se poderia resumir a uma
aparente desmistificação da estrutura que me completa.
Posto isto, tudo se tornara mais universalmente complexo, a
razão que deveria ser conhecedora de uma verdade, tornar-se-ia
imposta numa ideologia de misticismos sem que existisse uma
pré concebida história da humanidade. Hoje, mais do que nunca,
entendo, muito embora com algumas reservas, que cada vez
mais é –nos proporcionado no quotidiano razões concebidas
numa estrutura de impedimentos que nos cingem á nossa vulgar
condição de ser.
Mas...(tudo vale a pena se a alma não é pequena).
De novo voltei; enquanto tentava perceber a magnitude deste
universo, completo de mistificações que me prendiam quase a
uma constante meditação sobre mim e sobretudo o que faz de
mim aquilo que sou, á priori poderia pensar e chegar á conclusão
que tudo aquilo que sou deve-se a todas as gerações
antecedentes a mim mas isso seria simplificar a questão e
reduzi-la ao nada muito embora elas tenham também a sua
influência enquanto raízes da minha estrutura como ser
pensante, no entanto “as culpas” não se reduzem a tão pouco,
considerei isto como um grão no centro de um monte, nunca
menosprezando o grão que me encheu de vida muito embora
tudo se tornara mais complexo com a inserção num universo de
complexidades que tiveram impacto no desenvolvimento do ser
contudo, a terminação desse mesmo fosse concebida por mim.
Vi aquilo que jamais desejo voltar a ver. Era como se o mundo
sugasse o corpo, mas a integridade, a fidelidade a si mesmo, a
resistência por mais que saiba que não tem forças que cheguem,
mas que dentro do seu ser existem razões mais do que
suficientes para não ceder, e são essas razões fieis a si mesmo
que traçam o quadro macabro da supremacia que advém de uma
consciência intacta, que se manteve inatingível no centro da sua
formação como uma realidade para alem dos dias que decorrem
como insignificantes para aqueles que de si mesmo ousaram
trair.
Testemunhei e aprendi, mais do que derrotado fisicamente, ele
conseguiu-se manter para alem de todas as expectativas, por
mais abalado que estivesse, persistiu a razão que o manteve
erguido na sua fidelidade, na sua integridade e sobretudo na sua
formação como pessoa que jamais cedeu.
Foi decerto uma luta árdua, que ele venceu, por mais que as
forças já não chegassem. Jamais saiu pela porta de trás; venceu
no momento em que as vozes se calaram, foi silêncio que durou
uma eternidade pairado na lembrança que lhe valeu.
Alvorada despertou-se num grito glorioso, o momento tornou-se
num marco definitivo de uma lembrança que mudou a
perspectiva sobre si mesmo e vangloriou toda uma mensagem
futura que iluminou no entanto, nada se torna eterno, muito
embora o marco se tenha tornado definitivo, até porque; por
mais definitivo que o marco se possa ter tornado seria também
ilusório pensar que tudo mudou e o fim se alcançou, “foi só mais
uma carta que se jogou”.
Contudo o espelho onde é reflectida a vitória e como
consequência mais uma porta que se abriu pode no entanto
numa visão cujo o orgulho se sobrepõe á razão, pode por
instantes ou até mesmo definitivamente, enganar a consciência
atirando-o assim para um abismo quotidiano de uma incógnita
para o dia seguinte, “tudo fica em jogo” de modo a poder levar-
nos á loucura de um equilíbrio sonegado nas entranhas de um
auto convencimento.
A vontade, esse sentimento consciente dos riscos, essa razão
que trava forças com as emoções, essa penitencia que cria uma
exausta reflexão da razão e depois, todas as considerações,
todos os riscos que criam um muro e que traçam caminhos
obscuros e tudo acaba como sempre esteve, com ou sem razão
mas a vontade continua viva com um massacre quotidiano, a
oportunidade não surge e cingem-se ao á frustração dolorosa do
não poder, e rege-se ao conceito moral de que não abdica que
por sua vez encurta as possibilidades, ainda não chegou a hora
de olhar só envolta de si, como o Universo tão bem sabe fazer e
a diferença revela-se neste comportamento que se demarca.
Valeu a pena? Nem tudo vale a pena mesmo quando a alma não
é pequena, se me perguntarem se vale a pena? Neste contexto?
Sim, claro, tudo vale a pena se a alma não é pequena.
Contudo deixo ainda alguns resto de reticências, em virtude de a
linha não ser continua, ou como é costume dizer (nem tudo é
estrada). O valer a pena também pode servir de “ombro” ao
desconsolo de quem já gritou e não se ouve gritar, por mais que
a voz lhe doa. Será correcto dizer, que por mais que não nos
tenhamos apercebido, o universo onde vivemos actualmente,
passou a ser a pedra agarrada pela mão, protegida pelo coiro da
fisga e a pontaria exacta ao alvo que comemos ou vamos ser
comidos, esta realidade hoje presente numa sociedade de
promissores desaparecimentos relativos á fisgada que te
tombará. Cada vez mais, a uma velocidade perceptível de uma
caminhada para o abismo numa desassossegada janela que
mostra a luta entre os homens tentando á medida que vão
chegando provocar o seu derrube para mais uma vitória da
invulgar condição do ser este pressupostamente alterado no seu
estado psíquico hoje reafirmado como o ser mais estúpido do
mundo.
Este insecto nojento que nos morde e come aos bocadinhos na
passagem de um dia á dia onde nos escapam as emoções das
quais até por vezes nos demonstram quem nós realmente somos
por mais que não queiramos aceitar nesta consciência de
beldades.
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