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presença da Igreja

missionária no mundo

A
o concluir mais um ano, a Catolicanet agradece a
companhia e confiança dos amigos internautas e
convida toda a comunidade católica a celebrar o
tempo do Advento, que prepara para o Natal, tempo
de acolher, com viva esperança, o envio da promessa
do Pai: Jesus, o Verbo que se fez carne. Em 2006,
através da Internet, a Catolicanet compartilhou com o mundo
os momentos fortes da Igreja, os pronunciamentos a respeito
de temas polêmicos e os documentos que surgiram, norteando
a prática religiosa dos fiéis. Sensibilizados pela necessidade
do povo timorense, que clama por justiça e paz, a Catolicanet
apoiou as campanhas de solidariedade entre as Igrejas do Brasil
e do Timor Leste, de Evangelização, Missionária, entre outras, e
projetos de formação missionária para crianças, adolescentes,
jovens e adultos. Durante todo o ano buscou ser presença de
Igreja, testemunha e anunciadora do Reino onde a necessidade
missionária se fez mais urgente.
É desejo da Catolicanet ajudar os católicos a descobrir sua
vocação cristã e contribuir para sua formação integral, para
que se tornem evangelizadores a serviço do Reino de Deus,
inseridos no mundo, seguindo as orientações da Igreja. Desta
forma, em 2007, a Catolicanet unida à Igreja na América Latina
e Caribe espera corresponder ao chamado da V Conferência
em Aparecida para sermos todos discípulos e missionários de
Jesus Cristo, para que nele, nossos povos tenham vida. “Eu sou
o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6).

A Catolicanet deseja a todos


um abençoado Natal e um próspero Ano Novo!

www.catolicanet.com.br

Campanha da Fraternidade 2007


A Amazônia será o enfoque da Campanha da Fraternidade em 2007, com o tema: Fraternidade
e Amazônia e o lema: “Vida e missão neste chão”.
A CF de 2007 poderá ser um grande momento para trazer a Amazônia para dentro do coração da
Igreja no Brasil. Será ocasião também para suscitar iniciativas e ações eficazes de valorização
e defesa daquela vasta e ameaçada região. A Amazônia representa para a Igreja um conjunto
de desafios postos à sua ação evangelizadora. Chegou a hora de uma grande ação solidária
para a evangelização da região amazônica. “Vida e missão nesse chão”.
O texto-base já está disponível nas livrarias.

Informações e material da CF 2007


Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
SE/Sul, Quadra 801 – Conj. B - 70401-900 – Brasília – DF - Tel.: (61) 2103-8300
E-mail: cnbb@cnbb.org.br

A Comissão Episcopal para a Amazônia, constituída em 2002, pela CNBB, pode também
ajudar nesta missão.
Informações:
Ir. Cecilia Tada, CMST (Secretária Executiva)
Tel: (61) 2103-8300 - E-mail: amazonia@cnbb.org.br
EDITORIAL
o espírito de natal
SUMÁRIO
DEZEMBRO 2006/10

O
tempo de Natal acelera a vida nas ruas e aquece o
comércio. O glamour das peças publicitárias e o brilho
nas decorações transformam o ambiente ao nosso redor,
misturando-se com desejos de paz, harmonia e felicidade.
Mesmo sabendo que nenhuma mercadoria anunciada,
e até mesmo os votos de Feliz Natal realizam de fato o
que prometem, somos envolvidos por um espetáculo contagiante.
Por outro lado, o vazio existencial e a busca do sentido da vida 1 - Atores representam auto
seguem nos desafiando. A humanidade anseia pela felicidade, ver- de Natal em Guildford, Inglaterra.
dade, fraternidade e paz: um anseio universal somente alcançado Foto: Daniel Berehulak
à luz da revelação de Deus, num menino que nasce em Belém. A 2 - Cartaz da CF 2007
celebração do Natal de Jesus tem por objetivo recordar a primeira Foto: Divulgação
vinda do Filho de Deus entre a humanidade e ao mesmo tempo nos
tornar vigilantes à espera de sua segunda vinda, no final dos tempos.
Ante à perda do sentido da vida, temos no Natal do Senhor razões  MURAL DO LEITOR--------------------------------------04
suficientes para aprofundar a nossa espiritualidade “enquanto força Cartas
do Espírito que sustenta e faz novas todas as coisas” (cf. Ap 21, 5).  OPINIÃO--------------------------------------------------05
O vazio existencial do ser humano na sociedade contemporânea é A vitória de Lula
Frei Betto
acelerado pela pressão do consumismo, que valoriza e reconhece a
pessoa pelo que ela tem, parece ter ou parece ser. Passa-se então  PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
a forjar uma aparência de sucesso, fama, beleza, magreza, não As ilusões são péssimas conselheiras
Rosa Clara Franzoi
importando o custo. Isso está afetando profundamente as relações
sociais. Por outro lado, percebemos uma sede de espiritualidade,  VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08
revelando a falta que ela faz. As pessoas têm desejos profundos Notícias do Mundo
Fides / ZENIT
de viver em comunhão ou união com o divino. Por influência da
mesma sociedade de consumo, notamos também uma variedade  ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
O menino anunciado pelos profetas
de ofertas e propostas de produtos da fé, nas diversas manifesta- João Pedro Baresi
ções religiosas que florescem por toda parte. Nessa busca ávida
pelo religioso, criam-se confusões: existem coisas úteis e coisas  TESTEMUNHO-------------------------------------------12
Alegrias e dificuldades na vida missionária
menos apropriadas. Deveríamos sempre nos voltar para Cristo. José Tolfo
Destacamos duas experiências na vida de Jesus, pilares que
até hoje sustentam o cristianismo como caminho espiritual: uma  FÉ E POLÍTICA -------------------------------------------14
O eleitor com deficiência
experiência mística e outra política. A Humberto Dantas, Ana Gutierrez e Fabio de Carvalho
Peter Macdiarmid

mística é a experiência de sentir-se Filho


 FORMAÇÃO MISSIONÁRIA----------------------------15
de Deus, enviado entre a humanidade Pelos caminhos da América - Puebla
como Salvador e Messias. Sendo Jesus Ramón Cazallas Serrano
da mesma humanidade que nós, porque
 MISSÃO HOJE-------------------------------------------19
é nosso irmão, essa consciência de ser A vez dos leigos
Filho do Pai abre a possibilidade a cada Luiza Maria da Silva Santos
um de nós de fazer a mesma experiência,  DESTAQUE DO MÊS -----------------------------------20
sentindo-nos seus filhos e filhas queri- Migrações: sinal dos tempos
dos (cfr. 1Jo 3, 1). Como seria diferente Alfredo J. Gonçalves
a humanidade se todos soubessem e  ATUALIDADE----------------------------------------------22
fossem respeitados como filhos e filhas A AIDS não dá trégua
de Deus, nas diferenças, nas raças e nas culturas! A segunda ex- Patrick Silva
periência de Jesus é de natureza político-religiosa. Ele nos revela  INFÂNCIA MISSIONÁRIA-------------------------------24
um Deus cheio de compaixão e misericórdia, que ama e cuida, Vem pra ver Jesus Menino
cura e restabelece a vida. Jesus não se isola das pessoas, mas Roseane de Araújo Silva
se aproxima de todos, especialmente dos rejeitados, até porque  CONEXÃO JOVEM--------------------------------------25
se não fizesse isso, a encarnação não teria sentido. O mundo se Saber fazer a diferença
Draiton José Vieira
desenvolveu de maneira extraordinária, e ao mesmo tempo não
consegue nos tornar mais humanos. A sociedade como um todo  IGREJA NA ÁSIA------------------------------------------26
está perdendo o essencial, a alma que dá sentido à existência. A 1º Congresso Missionário Asiático
Daniel Lagni
espiritualidade existe para recuperar a alma quando a perdemos,
a partir de uma união profunda com Deus, viver a solidariedade,  AMAZÔNIA-----------------------------------------------28
a justiça, a paz e a defesa da Criação integrados no seu conjunto Escutem o grito do povo!
Cecília de Paiva
com a mesma espiritualidade de Jesus. Esse é o verdadeiro espí-
rito do Natal na chegada do menino-Deus que nos leva a rejeitar  volta ao brasil---------------------------------------30
Notícias do Brasil
a ditadura da sociedade do espetáculo e do consumo.  CNBB / CIMI / CLAI / ITEPES

- Dezembro 2006 3
Mural do Leitor
Ano XXXIII - Nº 10 Dezembro 2006 Missão na China
O Conselho Missionário Arquidiocesa-
Diretor: Jaime Carlos Patias no de Curitiba - COMIDI recebeu notícias
do padre Valnei - missionário comboniano
Editor: Maria Emerenciana Raia que retornou à China. Ele já havia traba-
lhado lá por vários anos e por motivos de
saúde voltou ao Brasil, onde trabalhou na
Equipe de Redação: Joaquim F. Gon-
Paróquia Santa Amélia e também como
çalves, Ramón Cazallas, José Tolfo e
formador. Foi professor no curso de exten-
Rosa Clara Franzoi
são universitária em Missiologia na PUC- dificuldades. Mas a situação está melho-
PR, uma parceria com a arquidiocese de rando a cada ano: há várias paróquias
Colaboradores: Vitor Hugo Gerhard,
Curitiba - COMIDI. Domina bem a língua e e pessoas da arquidiocese de Curitiba
Lírio Girardi, Luiz Balsan, Roseane de
a escrita chinesa. Escreveu agradecendo que vão periodicamente ao encontro das
Araújo Silva, Júlio César, Manoel Apare- o apoio que recebeu do COMIDI e diz que comunidades daquela paróquia, algumas,
cido Monteiro, Humberto Dantas, Luiz voltou mais animado para a missão. Con- inclusive, sendo “adotadas” para terem
Carlos Emer, Giovanni Crippa tinua padre Valnei: “estou feliz por estar uma constante formação de lideranças
de volta, muito bonito e até emocionante e atividades afins.
Agências: Adital, Adista, CIMI, chegar aqui, foi como voltar para casa. Neste contexto, nossa paróquia de
CNBB, Dom Hélder, IPS, MISNA, Estou contente, pois não esqueci a língua Santa Margarida, sentiu-se impulsionada a
Pulsar, Vaticano chinesa e logo que cheguei participei de colaborar nesta obra de Deus e partimos,
várias celebrações. Estou agora vendo em entre os dias 12 e 15 de outubro, com 15
Diagramação e Arte: Cleber P. Pires que paróquia irei trabalhar, os desafios são missionários das cinco comunidades da
muitos, mas vale a pena estar presente paróquia (padre Paulo Mzé, Adelaide, José
Jornalista responsável: neste mundo tão diferente do nosso. Estou Jungles, Inez Fantin, Graziele Manfron,
Maria Emerenciana Raia (MTB 17532) vendo com o bispo como ajudar na pastoral Robério, Márcia, Diego, Júlio, Marinei,
em locais onde a Igreja ainda não está Rosinha, Roberto e irmã Silvana), do CO-
Administração: Eugênio Butti presente. Também estarei iniciando um MIDI (Lenir) e uma leiga vinda de Paraíba
trabalho com a Pastoral dos Surdos, algo do Sul, RJ (Alenyr). Constatamos que é
Sociedade responsável: que fiz em Curitiba com o padre Ricardo uma realidade muito difícil, pois há uma
Instituto Missões Consolata (responsável da Pastoral dos Surdos) e grande distância entre as comunidades
(CNPJ 60.915.477/0001-29) quero aos poucos desenvolver alguma e um desafio para o padre José Carlos
atividade aqui”. (CM), que sozinho demonstra ter uma
Impressão: Edições Loyola Padre Valnei envia um grande abraço vocação firme. Há comunidades em que
Fone: (11) 6914.1922 a todos e espera nossas notícias. O e-mail são necessárias viagens de seis horas
dele é reghelin@hotmail.com de barco para se chegar (quando o tem-
Colaboração anual: R$ 40,00 Será muito bom fazermos uma cor- po e a maré deixam!). Nosso grupo foi
BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2 rente de oração e comunicação com este dividido em seis comunidades, nas quais
Instituto Missões Consolata missionário que enfrenta o desafio de procuramos visitar as famílias, realizar
(a publicação anual de Missões é de 10 números) evangelizar na China. Que Deus continue celebrações, encontros e formação com
a chamar vocações para as missões Ad as lideranças, jovens, crianças, fazendo
Gentes. também um trabalho de entrosamento
Missões é produzida pelos
entre as pessoas. Os desafios foram mui-
Missionários e Missionárias da Consolata
Ir. Ivone Camerini tos: longa distância, seja por terra ou por
Fone: (11) 6256.7599 - São Paulo/SP
Coordenadora do COMIDI, Arquidiocese de Curitiba, PR. mar (alguns demoraram dez horas para
(11) 6231.0500 - São Paulo/SP
chegar a seu destino), desconfiança por
(95) 3224.4109 - Boa Vista/RR
parte dos moradores, divisões religiosas,
Missão em Guaraqueçaba pobreza etc. Mas, sem dúvida, tudo foi
Membro da PREMLA (Federação de Imprensa Desde 2003, a arquidiocese de Curi- superado pela aprendizagem que tivemos
Missionária Latino-Americana) e da UCBC tiba, através do COMIDI, assumiu um de ver naquele povo a esperança viva de
(União Cristã Brasileira de Comunicação Social) compromisso missionário com a diocese ter contato com Deus e na busca de con-
de Paranaguá, de colaborar, dentro do servar sua fé e lutar por justiça. Oxalá, as
Redação projeto paróquias-irmãs, na evangelização comunidades possam ser despertadas e as
Rua Dom Domingos de Silos, 110 da comunidade Senhor Bom Jesus, em pessoas saíam de si e de seu “mundinho”
02526-030 - São Paulo Guaraqueçaba. para irem ao encontro de comunidades
Fone/Fax: (11) 6256.8820 A paróquia de Guaraqueçaba é cons- mais carentes.
Site: www.revistamissoes.org.br tituída de 27 comunidades, sendo que
E-mail: redacao@revistamissoes.org.br 15 são em ilhas. Há grande carência de Grupo de Animação Missionária
lideranças, formação religiosa e outras Paróquia Santa Margarida, Curitiba, PR.

4 Dezembro 2006 -
A vitória de Lula

OPINIÃO
Vanderlei Almeida

Política social, controle da inflação e aumento


do salário mínimo foram fatores decisivos
para a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva.

de alguma forma, o governo se preocupa com eles. A questão


agora é como o governo agirá com aqueles que o elegeram:
abrirá a porta de saída para o Bolsa-Família, de modo que os
beneficiários produzam a própria renda, ou dará continuidade à
dependência deles em relação aos cofres públicos?

Reforma agrária
Lula comemora reeleição no dia do 2º turno das eleições 2006. A porta de saída reside em políticas que ampliem a oferta
de empregos e, sobretudo, na reforma agrária. Não há indícios
de Frei Betto de que o governo Lula pretenda alterar a estrutura fundiária do
país, ao contrário das teses defendidas historicamente pelo

O
PT. No máximo, o governo continuará funcionando como um
s pobres reconduziram Lula à Presidência da Repúbli- pronto-socorro de emergência frente aos conflitos no campo:
ca. Segundo o Ibope, apenas 11% de seus eleitores assentar acampados, desapropriar áreas sem interesse para
ganham mais de cinco salários mínimos por mês (R$ o latifúndio etc.
1.750). Dos que recebem até dois salários mínimos O mais provável é que o governo dê prosseguimento à re-
(R$ 700), 56% votaram nele. Desse contingente, ceita do Banco Mundial: tostões para os pobres e bilhões para
em 1989 apenas 37% deram seu voto ao candidato os ricos. Assim, aplaca-se a ira nas duas pontas da estrutura
do PT. A pesquisa se confirma quando encarada pelo nível de social. Aos pobres, políticas sociais que exigem do orçamento do
escolaridade. Neste ano, apenas 6% dos eleitores de Lula têm Executivo, cerca de R$ 10 bilhões por ano. Aos ricos, detentores
curso superior. Em 1989 eles somavam 11%, o mesmo índice dos títulos da dívida pública, o Bolsa-Fartura que lhes transfere
dos que haviam atingido a 4ª série do ensino fundamental. Agora, anualmente aproximadamente R$ 100 bilhões.
a turma que completou o primeiro ciclo soma 35%. Tudo pareceria simples se no porão das contas públicas
Vários fatores explicam o prestígio do governo Lula junto não houvesse uma bomba prestes a explodir: os limites da re-
aos setores mais pobres da população. Houve aumento real do lação dívida/PIB. Quanto mais - em valor e tempo - o governo
salário mínimo; cerca de quatro milhões de empregos formais pode transferir à cornucópia da elite? A resposta não parece
foram criados para quem ganha um ou dois salários mínimos; animadora vista do buraco em que anda o pífio crescimento do
a inflação está sob controle; o preço dos gêneros de primeira país. Se o PIB crescer, pode-se suportar relativo crescimento
necessidade mantém-se estável ou sofreu redução; o Bolsa- da dívida pública. Mas como desatar o nó do crescimento sem
Família distribui renda mínima para 11,1 milhões de famílias, cortar gastos públicos e reduzir os juros?
beneficiando mais de 40 milhões de pessoas. O governo quer manter acesa a vela destinada aos pobres
Tudo isso é pouco, pois não erradica as causas da miséria e a fogueira que aquece a renda dos ricos. Até agora, a saída
nem modifica as estruturas que situam o Brasil entre as dez que encontrou para agradar uns e outros é aumentar impostos,
nações mais desiguais. Porém, esse pouco é muito para quem hoje em 37,37% do PIB, e apertar ainda mais o cinto do ajuste
nunca teve nada. Os governos anteriores não tinham políticas fiscal. Assim, poderá manter o Bolsa-Família e o Bolsa-Fartura,
sociais. No máximo, ações emergenciais diante de enchentes e engordar sua poupança no exterior, hoje calculada em US$ 70
ou estiagem prolongada, e arremedos, como o Comunidade bilhões, um recorde comparado às administrações anteriores.
Solidária, que atingiam um universo restrito de famílias. Talvez a opção do novo governo Lula seja mesmo a de manter
Embora o Bolsa-Família não esteja isento de corrupção, tanto o Brasil no banho-maria das políticas neoliberais, sem tocar nas
no uso dos recursos quanto a beneficiários imerecidos, o fato é estruturas que impedem a redução da desigualdade social e
que eliminou os intermediários entre o cofre da República e o favorecem a multiplicação geométrica da fortuna dos 20% mais
bolso da família cadastrada, através do cartão magnético. Essa ricos da população. Se assim for, nem é preciso falar em “pacto
distribuição de renda mínima representa uma injeção mensal de social” ou “concertação”. Basta o PT entender-se com o PSDB
dinheiro nas regiões mais pobres, reativando o comércio local. e oficializar, como nos EUA, a alternância no poder, deixando o
O programa Luz para Todos, de fato, estendeu a energia aos PMDB entregue à sua sina de “hay gobierno, soy favorable”.
rincões mais distantes, e a agricultura familiar, responsável por Os descontentes que se organizem e mobilizem. 
sete de cada dez empregos no campo, tira proveito das linhas
de crédito do Pronaf. O que mais querem os pobres é dignida- Frei Betto é dominicano e escritor. Autor, em parceria com Luís Fernando Veríssimo, de “O desafio
de. Isso significa emprego, moradia, escola, saúde. Sentir que, ético” (Garamond), entre outros livros. Fonte: www.adital.com.br

- Dezembro 2006 5
Padre jesuíta e leiga missionária
assassinados
respeito pela cultura deste povo. E é justo afirmar que os cristãos
www.jesuitas-pi.com.br

sempre reconheceram e corresponderam em todos os momentos


com as nossas intervenções. Um bom número de jesuítas deu
ali suas vidas pela causa do Evangelho. (...)
Nos momentos mais difíceis para o povo moçambicano, como
na guerra civil, a Companhia de Jesus deu toda a assistência
que lhe foi possível nos campos de refugiados. Vibrou com o
povo pela alegria de retornarem à casa, depois do acordo de
paz assinado em Roma. E não poupou esforços para recons-
truir as escolas, os hospitais e até ajudar o governo a reativar
o posto fronteiriço em Mtengombalene. Tudo feito em parceria
com muitas instituições solidárias com o bem-estar do povo
moçambicano. (...)
E não será por causa de um ato covarde e violento que
iremos nos intimidar. Nossas vidas só têm sentido quando as
doamos aos demais.
Pedimos a todos para que colaborem com o governo da
República de Moçambique no sentido de estancar estas ondas
de violência que assolam o país. Só na Província de Tete, os
religiosos (padres combonianos, irmãs vicentinas e jesuítas)

N
foram vítimas de cinco ataques neste ano de 2006. A pergunta
o dia 6 de novembro, o padre Waldyr dos Santos, que paira em nossos corações é o por quê da violência somente
jesuíta brasileiro, e a leiga Idalina Gomes, missionária aos religiosos nesta Província?
portuguesa da Associação dos Leigos para o Desen- Humanamente não há palavras que expliquem o sucedido. O
volvimento foram assassinados, quando um grupo padre Waldyr e Idalina vieram para servir e foram barbaramente
armado assaltou a Missão de Fonte Boa, Província assassinados, quando sabemos que Moçambique precisa de
de Tete, no centro-norte de Moçambique. Durante
o assalto ficaram também feridos um jesuíta moçambicano, Ir.

Divulgação
José Andrade, de 76 anos e o leigo Fernando Carvalho. Idalina
Gomes tinha 30 anos e encontrava-se desde outubro de 2005
em Fonte Boa, apoiando a missão em projetos agrícolas e na
construção de um orfanato para crianças que vivem com o vírus
HIV. A seguir, publicamos trechos do comunicado do superior
provincial dos jesuítas em Moçambique, padre Carlos Giovanni
Salomão, sobre o crime:
“A região moçambicana da Companhia de Jesus (padres
e irmãos jesuítas) sente-se na obrigação de informar todos os
nossos amigos e amigas sobre o triste fato ocorrido numa das
nossas missões no centro-norte do país, Província de Tete,
Distrito de Tsangano, planalto de Angonia, que culminou com
o trágico assassinato do padre Waldyr dos Santos e de Idalina
Gomes, Leiga para o Desenvolvimento. (...)
É justo esclarecer que as mortes não foram de forma nenhu-
ma um ajuste de contas, como se veiculou em certos meios de
comunicação, mas sim um ato brutal na tentativa de intimidar
e desestabilizar as instituições religiosas na Província de Tete
e concretamente, os trabalhos que a Companhia de Jesus, as
Irmãs do Divino Pastor e os Leigos para o Desenvolvimento estão
desenvolvendo em prol do povo de Angonia, sobretudo no campo obreiros como eles, cheios de generosidade. Acreditamos que o
da evangelização, educação, saúde e dos projetos sociais que sangue deles, mais uma vez derramado em Angonia, ajudará a
visam o crescimento e o bem-estar deste povo tão sofrido. produzir frutos espirituais que só Deus Pai pode fazer brotar pela
A Companhia de Jesus tem uma longa história de comunhão sua imensa generosidade e misericórdia. Continuemos a pedir
com o povo no planalto de Angonia, mesclada com momentos de ao Senhor por eles e pelos seus familiares. Encomendamo-nos
alegrias e tristezas. Sempre procuramos conservar fidelidade e às vossas orações". 

6 Dezembro 2006 -
As ilusões são

pró-vocações
O próprio futuro tem
que ser sonhado.

péssimas conselheiras
de Rosa Clara Franzoi

Divulgação
N
ormalmente, somos tentados a pensar que a vocação
culmina no dia da formatura com o diploma. Mas,
não é assim. Esse dia marca o ponto de largada
para que a pessoa comece a “mostrar serviço”. A
vocação passa por um longo processo antes de
chegar à maturidade. Do chamado à proposta,
até sua concretização, ela passa por um tempo de busca, de
renúncias, de esforço, de lutas e de sonhos. Sim, também de
sonhos! Aliás, é do escritor Mário Quintana a expressão: “O
futuro tem que ser sonhado; felizes os que conseguem colocar
bem alto este seu sonho”. Nesse processo de maturação, a
vocação passa também por dúvidas e crises, elementos que
têm grande importância. Eles ajudam a pôr um ponto final
na questão: ou tudo é superado e se decide continuar, por
entender que aquele é o caminho certo, ou então ocorre a
desistência, e se busca outro caminho mais condizente com
os próprios sonhos. O medo é outro fator que pode atrapalhar
esse percurso. Na verdade, tudo o que se refere ao futuro,
assusta. O novo e o desconhecido sempre deixam uma certa A importância de sonhar o próprio futuro
insegurança. Ninguém abraça uma causa para fracassar em Sim, é muito importante sonhar o próprio futuro. Os sonhos
seguida. Só com a certeza da vocação, pode-se determinar ajudam a manter os olhos fixos na meta; animam e encorajam,
o futuro com segurança. Deus fez o ser humano, homem e para enfrentar tudo o que de negativo e desagradável possa
mulher, para que se realize e seja feliz. Ele começa fazendo vir pela frente. Porém, o importante, é não esquecer, que “os
a proposta e a partir daí, respeita a liberdade pessoal quanto sonhos” devem chegar à concretização; do contrário, estaremos
à resposta. Muitas vezes, a opção pode até parecer estranha, nos iludindo e a ilusão engana muita gente. A propósito, lembro-
confusa. Ela irá se tornando mais clara, na medida em que a me de uma fábula que diz o seguinte:
pessoa mostrar interesse e for dando a própria adesão. A aten- “Uma senhora dirigia-se ao mercado, levando na cabeça uma
ção à realidade e aos acontecimentos é um meio que ajuda a vasilha cheia de leite. Ia cantarolando e feliz. Cumprimentava
perceber a direção, rumo a qual Deus está apontando. a todos que por ela passavam. Naturalmente, sua alegria pro-
vinha dos pensamentos voltados para o que iria poder comprar
com o dinheiro do leite. Caminhava e se alimentava com estas
Quer ser um missionário/a? ilusões: com o dinheiro do leite, vou comprar um cesto com
100 ovos. No próximo verão, terei à minha volta cem pintinhos.
Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli Estes crescerão e com o equivalente dos frangos vendidos, vou
Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui comprar um porquinho. Trata-lo-ei com ração e tenho certeza
02611-001 - São Paulo - SP que o mercado me dará um bom dinheiro por ele quando estiver
Tel. (11) 6231-0500 - E-mail: rebra@uol.com.br gordo. Comprarei uma vaquinha que mais tarde me dará um
belo bezerrinho... Sonhava, sonhava, sonhava... Distraidamente,
Centro Missionário “José Allamano” - Pe. José Tolfo tropeçou numa pedra e caiu... adeus leite, adeus dinheiro, ovos,
Rua Itá, 381 - Pedra Branca
02636-030 - São Paulo - SP frangos, porquinho, vaquinha e bezerrinho...”
Tel. (11) 6232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br As ilusões são sempre péssimas conselheiras, especialmente,
quando se tem que tomar alguma decisão importante. Não nos
Missionários da Consolata - Pe. César Avellaneda deixemos orientar por elas. Se você quiser continuar a reflexão,
Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 o evangelho de Mateus (Mt 7, 24-27) pode ser útil. 
69072-970 - Manaus - AM
Tel. (92) 624-3044 - E-mail: amimc@ibest.com.br
Rosa Clara Franzoi é missionária e animadora vocacional.

- Dezembro 2006 7
do Sul sobre a ocupação colonial da península coreana
por parte do Império Nipônico, durante a Segunda Guerra
Mundial. Em especial, os coreanos contestam os livros
de história utilizados em escolas japonesas, que não
reconhecem as atrocidades cometidas pelo Exército
do Sol Levante na Coréia. A Igreja está engajada em
construir pontes e promover a plena reconciliação entre
os povos da Coréia e do Japão.

Nicarágua
Igreja e governo de Ortega
A Igreja Católica da Nicarágua pediu, em 9 de
novembro, a cooperação com o presidente eleito da
Frente Sandinista (FSLN, esquerda), Daniel Ortega,
em seu projeto de buscar o desenvolvimento do país
com o apoio de todos os setores. “O comandante
Ortega tem a responsabilidade de ter sido escolhido
por uma boa parte do povo da Nicarágua para buscar
o desenvolvimento e progresso desta pátria”, afirmou
VOLTA AO MUNDO

Timor Leste o arcebispo de Manágua, Leopoldo Brenes, após


Os jovens e a paz caminham juntos receber Ortega na sede da Cúria de Manágua. Orte-
A paz em Timor Leste recomeça com os jovens. ga, que governou durante o período revolucionário
Na pequena ilha, que em 2002 se tornou independente (1979-1990), regressará ao poder em 10 de janeiro
da Indonésia, durante o mês de novembro, realizaram- próximo, após ter ganhado a eleição presidencial
se manifestações com a participação de milhares de em 6 de novembro. O arcebispo considerou que os
jovens, na capital, Díli, que gritaram “Paz” a uma só partidos políticos que participaram do pleito devem
voz. O Timor Leste é uma nação em que 75% dos somar-se ao projeto de reconciliação e desenvol-
900 mil habitantes são jovens com menos de 30 anos. vimento social. A Igreja e a FSLN selaram há dois
Após a independência, no processo de reconstrução anos sua reconciliação, pondo fim à inimizade que
nacional, o governo apostou no esforço de reerguer tiveram durante o governo sandinista que perseguiu
um sistema de instrução pública, colocando a educa- os bispos por criticar a revolução. Ortega se reuniu
ção entre as prioridades nacionais. Hoje, os jovens com banqueiros, investidores estrangeiros, dirigentes
do Timor Leste dão testemunho do desejo de serem dos partidos rivais e com representantes da Igreja
parte ativa na construção de um futuro pacífico para Católica para promover um entendimento político que
o país, reunindo-se e fazendo ouvir a sua voz. Ao lhe permita impulsionar seu programa de governo,
lado deles, uniram-se diversos setores da sociedade: enfocado na redução da pobreza (70%).
a Igreja, que encorajou a manifestação pacífica, e
que os acompanha cotidianamente no caminho de Tunísia
formação humana e espiritual; as autoridades civis, O diálogo inter-religioso
com o primeiro-ministro José Ramos-Horta, que nas O diálogo entre cristãos e islâmicos, o papel dos
ruas manifestou o seu engajamento em favor da paz leigos nas pequenas comunidades cristãs da África
e para expressar a sua solidariedade e quadros do setentrional e o drama da imigração proveniente da
Exército e da polícia. África subsaariana, estiveram no centro da reunião
da Conferência dos Bispos da Região Norte da África
Coréia do Sul (CERNA), que se realizou em Tunis de 26 a 29 de
Encontro de bispos da Coréia e Japão outubro. No comunicado final, os bispos “agradece-
Compartilhar experiências pastorais, em um clima ram pela obra do Espírito nas diversas regiões onde
de troca e amizade; abordar estratégias comuns de exercitam seu serviço, com uma consciência mais viva
evangelização na Ásia: estes foram os pontos prin- dos frutos de amor e de esperança que subsistem”.
cipais do 12° Encontro de bispos da Coréia e Japão. Ao mesmo tempo, porém, os responsáveis pela Igreja
Trata-se de encontros periódicos, iniciados pelos Católica na África setentrional constataram “a difícil
bispos dos dois países para revisar questões históricas questão da continuidade da presença cristã nos locais
pendentes, à luz da verdade e da reconciliação. Nos onde não há uma ação pastoral direta; isso põe o
últimos anos, estes encontros se transformaram em problema da renovação das pessoas e de sua forma-
ocasiões de intercâmbio e partilha sobre temas de ção”. Em ajuda às obras dos sacerdotes, religiosos
pastoral, teologia e espiritualidade. e religiosas há diversos leigos. No que diz respeito
O 12º Encontro realizou-se na arquidiocese de às relações com o mundo islâmico, o comunicado
Daegu e abordou especialmente o tema “Formação da CERNA afirma que “os bispos aprofundaram o
do Clero”. Participaram dez bispos coreanos e seis sentido de sua responsabilidade quanto às relações
japoneses, que enfrentaram também assuntos relati- entre o mundo muçulmano e a Igreja universal, no
vos à evangelização, como a formação de sacerdotes momento em que se manifestaram incompreensões
e religiosos na China. Os encontros são realizados dolorosas”. O próximo encontro da CERNA se realizará
alternadamente em dioceses japonesas e coreanas, em Roma em junho de 2007. 
sempre em clima de cordialidade e amizade. Nos anos
passados, surgiram controvérsias entre Japão e Coréia Fontes: Fides, Zenit.
8 Dezembro 2006 -
INTENÇÃO MISSIONÁRIA
Para que no mundo inteiro os missionários

E. Assunção/Fátima Missionária
vivam com alegria e entusiasmo a sua
vocação no fiel seguimento de Cristo.
de Vitor Hugo Gerhard

T
odos pela missão... Muitíssimos com a missão... Os
chamados na missão...
Todos pela missão, pois, a Igreja é missionária por sua
própria natureza e cada batizado recebe, no batismo,
a tarefa de ser portador da Boa Notícia do Reino de
Deus. Ninguém em particular e nenhum setor da Igreja pode se
furtar à dimensão central da fé. Na carta Encíclica Redemptoris
Missio, João Paulo II dizia que “ou somos missionários” ou não Elisabete Santos, leiga missionária da Consolata, ensina em Mapinhane, Moçambique.
podemos sequer levar o nome de cristãos. Portanto, a Igreja em
seu conjunto e cada um dos batizados tem na fronte o selo da (200.000) pelo contingente de não-cristãos que habitam a terra
missão, indelével, intransferível, inadiável... (4,5 bilhões), chegaremos ao número de um missionário para
Muitíssimos com a missão, pois, o Espírito do Senhor faz cada 22.000 não batizados. O cálculo não se inscreve no espírito
nascer na Igreja, pessoas, grupos e instituições de caráter mis- da cristandade, mas nos dá uma idéia do quanto ainda temos
sionário e, ao longo da história não foi diferente. Nos primórdios por fazer até chegarmos à afirmação do Senhor quando diz que
foram as comunidades nascentes, seus mártires e confessores “um dia haverá um só rebanho e um só pastor”.
da fé. Depois vieram os mosteiros e seus centros de difusão da Viver com alegria e entusiasmo nem sempre é fácil, pois as
cultura e do modo de vida dos cristãos, evangelizando e “missio- peripécias do dia-a-dia não são capazes de gerar em nós estes
nando” aquele que hoje é conhecido como o continente da velha sentimentos. Às vezes nos prostram e desanimam. Recomeçar
tradição cristã, a Europa. Para os além-mares Deus fez surgir a cada manhã é uma necessidade que somente o seguimento
as muitas congregações e ordens religiosas que embarcaram do Mestre de Nazaré será capaz de reanimar os corações e
nas naus que singraram os oceanos. E nós, do continente da iluminar as mentes, fazendo com que as mãos trabalhem pelo
esperança, somos os herdeiros desta façanha venturosa. Reino e os pés caminhem nessa direção.
Os chamados na missão. A Congregação para a Evange- Neste final de ano, ao celebrarmos mais uma vez a festa da
lização dos Povos nos informa que existem atualmente cerca Encarnação do Verbo de Deus, que cada um dos missionários e
de 200.000 missionários e missionárias nos cinco continentes. missionárias do mundo se sintam reconfortados e confirmados
Sacerdotes, religiosos, religiosas e muitos leigos e leigas que, na vocação que receberam e a qual procuram ser fiéis. A eles,
chamados para sair da sua terra, foram capazes de responder nosso reconhecimento, amizade, oração e ajuda fraterna. 
prontamente, deixando tudo e arriscando-se em terras desco-
nhecidas e distantes. Se fizermos a divisão dos missionários Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoral da Diocese de Novo Hamburgo, RS.

Campanha para a Evangelização 2006

N
o domingo de Cristo Rei, 26 de novembro, foi lançada Do fruto da coleta, 45% ficam nas arqui/dioceses/prelazias;
em âmbito nacional, na Basílica de Aparecida, a Cam- 20% são repassados para o respectivo Regional da CNBB;
panha para a Evangelização 2006, que se estende até 35% são destinados à CNBB Nacional.
o 3º domingo do Advento, quando se faz a coleta em A CNBB Nacional utiliza a sua parte para financiar a confecção
todo o Brasil (dias 16 e 17 de dezembro). A Campa- dos subsídios da Campanha, cada ano (cerca de 25%), para
nha tem como lema “Discípulos e missionários”. Em uma carta subsidiar pequenos projetos de evangelização em todo o Brasil
enviada aos bispos do Brasil, o coordenador da Comissão da (15%) e para as atividades das Comissões Episcopais e do
Campanha para a Evangelização, Dom Raymundo Damasceno Secretariado Geral da CNBB (60%).
e o presidente da CNBB, Dom Geraldo Majella Agnelo, afirmam O material da Campanha foi encaminhado para todas as dioceses
que “com uma semana a mais de duração, espera-se que haja e prelazias do Brasil. O cartaz e os folhetos estão disponíveis
melhores condições para a motivação e o envolvimento das no site da CNBB: www.cnbb.org.br no link Campanhas.
comunidades católicas na Campanha e na Coleta”. Fonte: CNBB

- Dezembro 2006 9
O menino anun
espiritualidade

pelos profetas de João Pedro Baresi

Q
uando Jesus nasceu, João,
filho de Izabel e de Zacarias,
só tinha seis meses de idade.
Sem dúvida novinho demais,
apesar do nascimento mi-
lagroso, para questionar se
aquele menino seria o enviado de Deus,
o Salvador que todo o povo esperava há
séculos, conforme as promessas de Deus
e as visões dos profetas.
Mas, quando o menino cresceu e
passou dos 30 anos, era essa a pergunta
que mais angustiava aquele que agora se
chamava João Batista. Em sua pregação,
não tinha dúvidas. Com toda firmeza
anunciara ao povo: “Eis o Cordeiro de
Deus, Aquele que tira o pecado do mun-
do”. Mas, agora que estava apodrecendo
numa cadeia escura e úmida, por ordem
do rei Herodes, instigado por uma mulher
leviana, certeza e angústia coabitavam
em sua alma.
Mandou, então, alguns dos seus se-
guidores para perguntar a Jesus: “És tu
Aquele que deve vir, ou temos que esperar
um outro?”
Jesus respondeu apontando os sinais
pré-anunciados pelo profeta Isaías: “Ide
contar a João o que estais ouvindo e ven-
do: os cegos recuperam a vista, os coxos
andam, os leprosos são purificados e os
surdos ouvem, os mortos ressuscitam e
aos pobres é anunciada a Boa Notícia” (Mt
11, 4-5).O enviado de Deus, vislumbrado
pelos profetas na penumbra dos tempos,
estava andando pelas ruas da Palestina,
levando aos pobres a Boa Notícia de
que tinha chegado para eles o Reino de
Deus. Boa Notícia não só para os pobres Atores encenam auto de Natal em Guildford, Inglaterra.

10 Dezembro 2006 -
nciado

Jewel Samad
Somente pessoas despojadas
do espírito consumista
podem entender o verdadeiro
sentido do Natal.
Árvore de Natal em shopping center de Jacarta, Indonésia.
Daniel Berehulak

de Israel, mas para os pobres do mundo Os dois discípulos entenderam, afinal.


inteiro. Foi a eles que Jesus Ressuscitado Pelo contrário, a grande maioria do povo
enviou seus apóstolos, anunciando que não conseguiu reconhecer em Jesus o
despontara o sol de um novo e definitivo enviado de Deus, prometido pelos profetas.
dia feliz para a história do povo hebreu e Sobretudo os chefes. Não podiam, nem
de toda a humanidade. queriam entender que a libertação do Egito
fora só o começo do grande projeto para
Nova Aliança uma humanidade justa,
A Boa Notícia 
Evangelho  era que
O enviado de Deus fraterna, amorosa. Não
entenderam que a maior
Jesus veio cumprir a
obra iniciada por Deus
estava andando glória e a felicidade do
povo hebreu consistia no
no Egito, quando o povo
escravo fora libertado
pelas rua da Palestina fato de que Deus o esco-
lhera para ser semente
por Moisés. A Aliança
do Sinai agora era a
levando aos pobres a dessa nova humanidade.
Não atenderam ao apelo
aliança com toda a hu- Boa Notícia. urgente de João Batista e
manidade, selada com do próprio Jesus: “Con-
o sangue derramado na cruz e firmada na vertam-se, porque o Reino do Céu está
Ressurreição. É, sobretudo, o Evangelho próximo” (Mt 3, 2; 4, 17).
de Mateus, dirigido aos hebreus, que se
preocupa em mostrar as coincidências Natal verdadeiro
entre a história de Moisés e a de Jesus. É novamente Natal. Quais são as
Menino recém-nascido, ele se salva do pessoas que vão receber o Menino como
massacre dos inocentes, assim como se o enviado de Deus, em resposta aos
salvou Moisés da matança dos primogê- gritos de socorro de um mundo marcado
nitos, ordenada pelo faraó. Mais tarde, por tanto sofrimento, injustiça, medo do
ele repetirá a viagem do povo liberto, presente e ainda mais do futuro? Cer-
liderado por Moisés, saindo do Egito rumo tamente não são as distraídas da festa
à Palestina. Já adulto, ele subirá ao monte do consumismo. Nem as superficiais do
para proclamar a Nova Aliança, levando sentimentalismo religioso. Só aquelas
à perfeição os mandamentos que Moisés que trazem dentro de si as dores do parto
recebeu de Deus no Sinai. O Evangelho do mundo novo que custa a nascer e se
de Lucas termina relatando a aula de angustiam por ver que as promessas de
Bíblia que o Ressuscitado administra Deus demoram a se cumprir e, apesar de
para dois discípulos desanimados pela tudo isso, continuam a crer, esperar, amar
morte do Mestre. Sem meias palavras, e lutar. Só essas pessoas vão celebrar
Ele expressa sua surpresa em constatar o verdadeiro Natal. 
a cegueira deles: “Como sois sem inteli-
gência e lentos para crer em tudo o que João Pedro Baresi é missionário comboniano, coordenador da
os profetas falaram!” (Lc 24, 25). Comissão Justiça e Paz Sem Fronteiras.

- Dezembro 2006 11
Alegrias e
testemunho

dificuldades na vida missionária

Fotos: Arquivo
Padre José Tolfo, missionário,
relata trabalho de 17 anos
na República Democrática do
Congo, antigo Zaire, país da
África Central.

de José Tolfo

N
asci e cresci na roça, numa
pequena localidade ao noroes­
te do Rio Grande do Sul cha-
mada Navegantes. Venho de
uma família numerosa. Nesse
ambiente familiar e camponês,
desde cedo foram se formando dentro de
mim alguns valores: o amor ao trabalho,
o respeito para com todos, o espírito
comunitário e de partilha, a centralidade
da oração em família e na comunidade,
elementos que me ajudaram a viver uma
infância normal, como a de tantas crianças,
e foram traçando certo equilíbrio entre
trabalho, lazer, estudo e oração. Ainda ado-
lescente, em 1976, com 12 anos, o contato
com um colega seminarista e o convite
de um padre missionário da Consolata,
fizeram-me começar a pensar. A princípio
não me entusiasmei, porque tinha medo
de deixar o meu ambiente. Mas, no ano
seguinte, aceitei entrar no seminário em Padre José Tolfo segura busto do Bem-aventurado José Allamano em Roma.
Três de Maio, Rio Grande do Sul, para ver
se era por aí que o Senhor estava traçando país do Zaire, hoje República Democrática Foram momentos difíceis aqueles; mas
o seu caminho a meu respeito. Concluí a do Congo, situada no coração da África, me ajudaram a purificar as motivações e
primeira etapa da formação em São Paulo lugar do meu primeiro trabalho. Animava- a colocar a missão acima de tudo. As pa-
e Curitiba. Eu ia percebendo que dentro me o espírito vivo da Igreja daquele país, lavras de São Paulo: “tudo posso naquele
de mim estava crescendo a paixão pela principalmente no campo da liturgia. que me conforta” (Fl 4, 13), foram de muito
vida missionária. Fui interiorizando esse incentivo. Se os primeiros três meses foram
ideal e conhecendo os desafios que ele O envio e o início da missão sofridos, os seguintes começaram a ser
exigia. Queria ir para a África e lá partilhar A missão africana no aprendizado do mais serenos e até divertidos. Grande foi a
o meu ser de cristão e missionário. Antes francês exigiu muito de mim. Muitas vezes, minha alegria quando comecei a entender
mesmo da ordenação sacerdotal, em 1990, no silêncio da noite eu me perguntava: “O o que o povo dizia em sua língua; quando
comecei a me preparar para a missão no que vim fazer aqui? Para que tudo isso?” comecei a me expressar, e quando pude

12 Dezembro 2006 -
contar uma piada, fazendo todo mundo rir
à vontade. Daí em diante, a barreira lingüís­
tica deixou de ser obstáculo e começou a
ser sinal de inculturação. Foi maravilhoso,
fazendo-me esquecer as dificuldades do
início. Mas, o que é bom dura pouco, diz
o ditado. Quando comecei a me defender
no francês, tive que ir para outra missão.
A maioria do povo da região falava o
lingala. Mas, a quem confia, Deus vem
em socorro, e também o aprendizado do
lingala foi menos sofrido do que eu pen-
sava. Porém, na nova missão, encontrei
um ambiente de muito calor humano, e
tudo se tornou mais fácil.
Seminário Teológico IMC em Kinshasa, festa do 10° aniversário, 2004.
Desafios e alegrias passeando no shopping, perguntaram o transporte, e o que é pior, com uma total
Nos 17 anos vividos na República que gostaria de comprar naquele dia. E ausência do Estado. Algumas Igrejas e
do Congo, eu tive a graça de fazer três ele: “Estou vislumbrado com tantas coisas ONGs, procuram preencher o vazio deixado
bonitas experiências. A primeira, que durou belas, que não necessito de mais nada pela inoperância governamental.
seis anos, vividos na Mission Catholique para ser feliz”. É urgente uma formação que torne o
Neisu, bem no coração do continente. O espírito de sacrifício, de doação. país menos dependente do capital estran-
Ali, as comunidades eram mais de 100, Quantas mães têm que andar diariamente, geiro. Não é um paradoxo; é a utopia que
todas espalhadas na floresta. A segunda, a pé, mais de 25 quilômetros em busca de faz um povo crescer. Eu creio que o cami-
também com a duração de seis anos, e a lenha e carvão para revender na cidade, nho é a formação de homens e mulheres,
terceira, de cinco anos, a vivi na capital, e assim poder dar de comer aos filhos cidadãos, cristãos e missionários, com o
Kinshasa. Ali, acompanhei uma comunida- e fazê-los estudar. Os jovens chegam a espírito do projeto de Jesus, no coração,
de da periferia, a Paróquia Santa Mukasa caminhar 15 quilômetros e alguns passam na mente e nos lábios; tudo isso passa
por dois anos e os outros três, os passei o dia todo sem comer, para poder continuar pela auto-estima e pela auto-suficiência
no seminário teológico internacional da freqüentando a escola ou a faculdade. econômica. Este é um grande desafio para
Consolata. Nesses vários trabalhos eu a Igreja e para a sociedade local.
pude conhecer muitos valores da cultura Desafios missionários
africana, dos quais gostaria de destacar Em primeiro lugar eu coloco o processo Propostas
alguns: de inculturação, que começa com o apren- Uma Igreja mais inculturada: ainda
O sentido da acolhida. Como faz bem dizado da língua local e a capacidade de que o fenômeno da globalização tente
ser recebido com alegria, com danças, apreciar e assimilar as novas lógicas do reduzir as culturas e os valores à lógica
com gestos simples, mas carregados de ser e agir e de entrar no coração da cultura. do mercado, cada povo deve lutar para
amor. Aqueles são momentos de encon- Isso exige muita humildade, proximidade, conservar a própria identidade.
tro, de festa, de celebração. É como um e respeito. Mais atenção aos ministérios: a Igreja
biotônico que revigora, mantendo viva a Tensões, por conflitos e guerras. Há do Congo é ainda muito clerical. A figura
utopia do Reino. muito tempo, a África Central vive essas do líder da comunidade, o mokambi, está
A sentido da festa. Apesar das situ- tensões. A República do Congo é um país perdendo o seu valor e pouco se está
ações difíceis, onde às vezes, falta quase muito cobiçado pelas grandes potências, fazendo para promover e formar ministros
tudo, o povo da África, em geral, sabe devido à riqueza do seu solo: ouro, dia- leigos para novos ministérios.
encontrar motivos para sorrir, celebrar mante, urânio e madeira. O governo facilita Uma cultura democrática: podemos
e driblar as próprias situações. Lembro- o enriquecimento de uma minoria local e até questionar que tipo de democracia a
me de um fato: a um senhor que estava estrangeira, à custa da miséria do povo e da África necessita, e concretamente o Congo.
morte de milhões Veremos, porém, que antes, é urgente
de inocentes. Esta resgatar o valor do bem comum, para poder
realidade gera um superar os regionalismos e tribalismos,
contínuo desloca- que excluem e marginalizam.
mento de gente, O trabalho interdisciplinar e em equi-
em busca da so- pe: a missão exige um trabalho integrado,
brevivência e que de promoção humana e de evangelização.
têm a morte sem- Oxalá, pudéssemos contar com equipes
pre à espreita, por de leigos profissionais, para atuarem
causa da fome, nas diferentes áreas: saúde, educa-
violência, doen- ção, agricultura, administração, unindo
ças. A infra-estru- forças com os sacerdotes, religiosos e
tura está quase religiosas. A Evangelização passa por
toda destruída esse caminho. 
e em completo
abandono: es- José Tolfo é missionário da Consolata, membro da Secretaria
tradas, hospitais, para a Missão no IMC e do Centro Missionário José Allamano
Padre José Tolfo em animação missionária em Kinshasa, R.D. Congo. escolas, meios de em São Paulo.

- Dezembro 2006 13
Jaime C. Patias
O eleitor
fé e política

com deficiência
Diante do esforço da Igreja em promover Natália Dias Pastore,
na APAE, Vila Mariana, SP.

a Campanha da Fraternidade 2006, alunos


locais não possuírem estações ou pontos de transporte público
do curso de Terapia Ocupacional do Centro – metrô, trem e ônibus – num raio de um quarteirão. Em 17%
existia a disponibilidade de transporte público, mas os pontos e
Universitário São Camilo, orientados pelo estações não estavam adaptados. Assim, em apenas 3% dos

professor Humberto Dantas, realizaram locais visitados existiam condições mínimas de transporte. Com
relação às vagas reservadas para automóveis especiais e áreas

uma pesquisa nas eleições, analisando as para desembarque, a média de inexistência do recurso supera
90%. Semáforos especiais, e calçada considerada plana foram

dificuldades encontradas pelos eleitores com encontrados em cerca de 20% dos locais. Menos da metade
dos locais estava situada em ruas planas.

deficiência para o exercício do voto. Nos prédios, a situação é igualmente preocupante. Se por um
lado 86% das seções estavam localizadas em andar térreo, 56%
não tinham piso regularizado e considerado adequado, apenas
55% tinham rampa de acesso, 40% tinham escadas ou degraus
de Humberto Dantas, Ana C. Gutierrez e Fabio F. de Carvalho que separavam o eleitor da urna, mais de 80% dos locais não
tinham sanitários adaptados indicados e bebedouros. Por fim,

A
os símbolos internacionais de acessibilidade, deficiência visual
pesquisa pautou-se em uma série de leis que delimita e auditiva não foram encontrados em mais de 90% dos locais.
a atividade por parte desse conjunto de eleitores. As No terceiro ambiente foram verificadas as condições rela-
pessoas com deficiência física, auditiva e visual têm as cionadas especificamente à seção eleitoral. Mais de 80% das
mesmas prerrogativas legais em relação às eleições portas de acesso têm largura inferior a 1,20 metro – condição
que qualquer cidadão. A garantia plena de acesso, para aqueles que se locomovem com andadores e duas muletas.
com autonomia, às urnas é princípio freqüente em toda Além disso, cerca de 86% das urnas não estavam equipadas
a legislação. O Tribunal Superior Eleitoral garante que até 150 com fone de ouvido e 80% das listas de candidatos estavam
dias antes das eleições cabe ao eleitor com deficiência solicitar posicionadas em alturas superiores a 1,40 metro. É importante
local especial de votação que lhe permita acesso. Apesar da destacar que em mais de 60% dos casos, as urnas e mesas de
garantia, cartazes espalhados por dezenas de seções eleitorais assinaturas ofereciam condições adequadas para acesso.
afirmavam que por “local adaptado” entendia-se “andar térreo”. O estudo chega a três conclusões: a primeira diz respeito à
Um grupo de pesquisadores visitou 105 seções eleitorais sob incapacidade dos tribunais eleitorais de São Paulo de atender
responsabilidade dos 52 cartórios da cidade de São Paulo. Do as condições mínimas de acesso às pessoas com deficiência.
bairro da Brasilândia à Marsilac, do Jardim Helena à Perus, o A segunda questão diz respeito ao fato das condições para o
município foi inteiramente percorrido. As seções foram sortea- eleitor transcenderem aspectos relacionados à sensibilidade
das, utilizando-se como base os 380 endereços considerados dos tribunais eleitorais. Falta de transporte, ruas inadequadas
como “adaptados”. e ausência de condições de locomoção mostram que a cidade
não está preparada para acolher essas pessoas. Em terceiro
Resultados lamentáveis lugar, o fato da grande maioria dos pontos de votação ser em
Foi possível notar que a preocupação dos órgãos de Justiça escolas. Assim, ao mesmo tempo em que o eleitor não acessa
é mínima: todas as urnas têm inscrição em braile nos números, seu direito mais fundamental de dois em dois anos, as crianças
as listas de candidatos estão impressas em letra preta e fundo com deficiência não conseguem freqüentar diariamente as salas
branco, e o tamanho da fonte dessas listagens está próximo de aula em condições de autonomia. O lema “levanta-te e vem
do tamanho exigido pelas normas técnicas. No entanto, muito para o meio”, infelizmente, não esteve presente no exercício
ainda falta para pensarmos em dignidade e autonomia – ca- cidadão essencial: o voto. 
racterísticas necessárias à inclusão. A falta de acessibilidade
pode ser dividida em três questões: condições externas para Humberto Dantas é cientista político, professor do Centro Universitário São Camilo e coordenador
chegar ao local de votação, condições do prédio em que a de Cursos de Formação Política na Região Episcopal Lapa e na Diocese de Osasco-SP.
seção está localizada e condições da sala em que o indivíduo Ana Carolina Gutierrez e Fabio Fonseca de Carvalho são alunos de graduação do curso de Terapia
vota. No primeiro ambiente, chama a atenção o fato de 80% dos Ocupacional do Centro Universitário São Camilo.

14 Dezembro 2006 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

Pelos caminhos da América


A Conferência de Puebla
A Igreja confirma e aprofunda

Fotos: Angelo Costa Longa


as opções de Medellín.
de Ramón Cazallas Serrano

A
série de artigos "Pelos ca-
minhos da América", faz
memória das Conferências
Gerais do Episcopado Lati-
no-Americano (CELAM). Na
edição de setembro aborda-
mos a Conferência do Rio de Janeiro
(1955). Na edição de novembro foi a
vez de Medellín (1968). Recordamos
agora a III Conferência. Ela se reali-
zou na cidade mexicana de Puebla
de Los Angeles, das mil igrejas e de
uma grande e tradicional religiosidade
popular, entre os dias 27 de janeiro e
13 de fevereiro de 1979. O tema foi “A
evangelização no presente e no futuro
da América Latina”. As fontes inspira-
doras desta III Assembléia foram, além
dos documentos do Concílio Vaticano
II, a Exortação Apostólica Evangelii
Nuntiandi de Paulo VI, a Assembléia
de Medellín, e a presença do papa ► feições de crianças, golpeadas pela quase todo o nosso continente,
João Paulo II na inauguração e nos pobreza ainda antes de nascer... sem terra... em situação de depen-
discursos pronunciados em diferentes crianças abandonadas e, muitas dência... submetidos a sistemas
cidades do México. Era a primeira das vezes, exploradas de nossas ci- de comércio que os enganam e os
suas grandes viagens, especialmente dades, resultado da pobreza e da exploram;
em Oaxaca com os índios, e em Mon- desorganização moral da família; ► feições de operários, com freqüência
terrey com os operários. ► feições de jovens, desorientados mal remunerados, que têm dificul-
por não encontrarem seu lugar na dades de se organizar e defender
Os rostos da sociedade e frustrados... pela falta os próprios direitos;
América Latina de oportunidades de capacitação e ► feições de subempregados e de-
Quase no começo do documento ocupação; sempregados despedidos pelas
de Puebla, atentos à realidade do con- ► feições de indígenas e, com fre- duras exigências das crises eco-
tinente, os bispos contemplam “uma qüência, também de afro-america- nômicas... e dos frios cálculos eco-
situação de extrema pobreza generali- nos, que, vivendo segregados em nômicos...;
zada que adquire, na vida real, feições situações desumanas, podem ser ► feições de marginalizados e amontoa­
concretíssimas, nas quais deveríamos considerados como os mais pobres dos das nossas cidades, sofrendo
reconhecer as feições sofredoras de dentre os pobres; o duplo impacto da carência dos
Cristo” (31). O documento enumera ► feições de camponeses, que, como bens materiais e da ostentação da
as que mais impressionam: grupo social, vivem relegados em riqueza de outros setores sociais;

- Dezembro 2006 15
e todas as culturas. A sua Encarnação
Angelo Costa Longa

foi numa cultura determinada, concreta:


a cultura hebraica. Ele viveu como
qualquer cidadão judeu, e praticou os
costumes e a religiosidade, chorou pelas
situações humanas e por Jerusalém,
capital da sua terra. Ele foi o genuíno
evangelizador inculturado. Mas, clara-
mente transcendeu a própria cultura,
quando estavam em jogo os valores
do Reino, a vontade do Pai. Depois
da Ascensão do Senhor, podemos
constatar a expansão do Evangelho
em outras culturas e línguas: os di-
versos ritos e costumes religiosos que
ainda perduram na Igreja do Oriente
são uma demonstração concreta da
inculturação do Evangelho que houve
nos primeiros séculos da pregação
evangélica. Ainda mais, estes ritos se
desenvolvem em espaços e distâncias
Crianças mexicanas. relativamente curtos.
Para evangelizar uma cultura, além
► feições de anciãos cada vez mais seu cumprimento sem que se faça o de se ter um perfeito conhecimento dela,
numerosos, freqüentemente postos esforço permanente para reconhecer é necessário amá-la e amar, sobretudo,
à margem da sociedade do progres- a realidade e adaptar a mensagem ao povo. Puebla fala da “compreensão
so, que prescinde das pessoas que cristã ao homem de hoje, tornando-a afetiva” que o amor cria, muitas vezes
não produzem... (31-39) dinâmica, atraente e convincente. Mas acima da compreensão científica. Foi
► Os bispos continuam, analisando a adaptação, não é suficiente. Sem a vida evangélica de muitos pastores,
outras situações que chamam de mencionar explicitamente a palavra religiosos e leigos que souberam dar
angústias, afirmando que a “Igreja inculturação, o conceito, o método, e a vida na evangelização deste conti-
por força de um autêntico compro- os conteúdos dela estão explicitamente nente. As culturas não são um terreno
misso evangélico”, deve fazer ouvir a marcados em Puebla. vazio, carente de autênticos valores e
sua voz, denunciando e condenando a Igreja deve consolidar e favorecer
estas situações, sobretudo quando Evangelização nas culturas esses valores. Em todas elas pode-
os governos ou responsáveis se Para uma ação evangelizadora mos encontrar “os germes do Verbo”
confessam cristãos” (42). com realismo e eficácia, a Igreja deve presentes (GS, 57).
Aprofundando a leitura da realidade conhecer a cultura dos povos onde Em Puebla nasce uma intuição que
do continente e seguindo o método de se encontra. Em princípio, nenhuma é válida ainda hoje nos nossos dias:
Medellín, o ver-julgar-agir, o documento cultura humana é excluída pelo Evan- “importa verificar para onde se orienta
conclui que a situação de injustiça so- gelho. Cristo veio para todos os povos o movimento geral da cultura, e não
cial é um pecado a combater e aponta

Divulgação
caminhos com base na opção pelos
pobres. Neste caso, a evangelização
passa pela promoção da dignidade hu-
mana e o engajamento pela libertação
dos pobres é um dos compromissos
que se espera da Igreja.
Sem esquecer as grandes opções
de Medellín fortalecidas e sistemati-
zadas em Puebla, como as CEBs, a
Teologia da Libertação e a opção pelos
pobres, vejamos alguns elementos
que são próprios da III Conferência
Latino-Americana:

A Evangelização
Seguindo na linha da Evangelii
Nuntiandi, “a evangelização é a missão
própria da Igreja”, é a sua realidade
mais profunda, e não será possível o Papa João Paulo II e Rigoberta Menchú, Prêmio Nobel da Paz 1992.

16 Dezembro 2006 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

tanto os encraves que se detêm no

Jorge Uzon
passado, as expressões atualmente
vigentes, e não tanto as meramente
folclóricas” (398).

A promoção humana
No discurso inaugural da Assem-
bléia, o papa João Paulo II dizia aos
bispos: “A Igreja aprendeu das páginas
do Evangelho que sua missão evangeli-
zadora tem como parte indispensável a
ação em prol da justiça e as tarefas de
promoção humana e que entre evange-
lização e promoção humana há laços
muito fortes de ordem antropológica,
teológica e de caridade”.
Na concepção da Igreja a dignidade
é um valor evangélico e está fundado
na própria natureza humana. No con-
texto do continente, a década de 70,
os direitos humanos e a liberdade total
dos povos estavam sendo impedidos
de serem exercidos pelas ditaduras
militares. Em nível de sociedade nacio-
nal se dão as mais diversas violações,
sobretudo em forma de exploração e
marginalização, em contradição com
as exigências evangélicas. Em nível
internacional, nações ricas exploram
nações pobres.
A ação pela pessoa humana faz-se
especialmente pela defesa de seus
direitos individuais, sociais e pelos direi-
tos que na época são percebidos pela
sociedade. A nível internacional, a Igreja
pretende empenhar-se na constituição Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina.
da nova ordem internacional, onde se
superem as distorções exploradoras política como forma de superar as atuais nosso continente se sente estimulada,
em relação às nações mais pobres e injustiças sociais. apoiada e incentivada pelas orientações
indefesas. pastorais dos bispos.
A promoção humana desperta a As CEBs Com renovada esperança, a Confe-
consciência da pessoa em todas as Em Medellín as Comunidades Ecle- rência volta a tomar, na força do Espírito,
suas dimensões e a luta por si mes- siais de Base apenas despontavam a posição de Medellín que fez uma
mo como protagonista de seu próprio no continente. Puebla “assinala com clara e profética “opção preferencial e
desenvolvimento humano e cristão. alegria, como importante fato eclesial solidária pelos pobres”. Faz-se neces-
Educa para a convivência, dá impulso particularmente nosso e como esperança sária, diz o documento, a necessidade
à organização, fomenta a comunicação da Igreja a multiplicação de pequenas de conversão de toda a Igreja para esta
cristã dos bens, ajuda de modo eficaz a comunidades”. Após Medellín se tinham opção preferencial pelos pobres, em
comunhão e a participação (477). multiplicado, amadurecido e tornado vista à sua libertação integral. Não se
Na caminhada de Medellín a Puebla focos de evangelização e motores de trata de qualquer conversão, mas uma
neste trabalho de promover a dignidade libertação e desenvolvimento. Nascem de que leve a objetividade da libertação
humana em todas as suas formas e diversos fatores: anelo de relações mais dos pobres.
níveis, anunciando e denunciando, profundas e estáveis na fé, vivência da “Na Igreja da América Latina, nem
lutando por uma sociedade mais evan- realidade da Igreja como família de Deus, todos nós temos nos comprometido
gélica, não faltaram a perseguição e grande aspiração de justiça e sincero bastante com os pobres; nem sempre
o testemunho dos mártires. Bispos, sentido de solidariedade em ambiente nos preocupamos com eles e somos
padres, religiosos e religiosas e até caracterizado por rápidas transforma- com eles solidários. O serviço ao pobre
membros das Comunidades Eclesiais ções. Reafirma de modo sério e claro exige, de fato, uma conversão e puri-
de Base, pagaram com a própria vida a importância e a opção preferencial da ficação constante, para conseguir-se
o jeito de ser cristão na fraternidade Igreja na América Latina pelas CEBs, de uma identificação mais plena com Cristo
que vive e proclama a justiça e a ação modo que essa experiência eclesial do pobre e com os pobres” (1154).

- Dezembro 2006 17
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

Arquivo
Comla V realizado em 1995, Belo Horizonte, MG. Um chamado à missão Ad Gentes.

“Para viver e anunciar a exigência rança e a alegria de sua fé” (368).


Jaime C. Patias

da pobreza cristã, a Igreja deve re- Finalmente a generosidade venceu


ver suas estruturas e a vida de seus a mesquinhez, os horizontes aber-
membros, sobretudo dos agentes de tos substituem os currais regionais
pastoral, com vistas a uma conversão e diocesanos. Esta visão de Puebla
efetiva” (1157). abriu muitos corações para a “partilha
missionária” e para “ir além e mais
Dar de nossa pobreza longe”. A Missão supera as nossas
O documento de Puebla nos diz necessidades, e uma Igreja viva não
que “finalmente chegou para a Amé- pode esperar satisfazer as próprias
rica Latina a hora de se projetar para para ir anunciar a outros a salvação
além de suas fronteiras, Ad Gentes”. que vem de Deus. Puebla deixou um
Isto finalmente não é algo que qua- legado que deve continuar. Muito se
se se ignora e no último momento fez mas, muito mais fica por realizar.
se acrescenta para que a frase fique “A Missão está apenas nos seus come-
mais completa. Não se trata de uma ços” (João Paulo II na Carta Encíclica
Dom Luciano Mendes de Almeida.
figura decorativa, própria da linguagem Redemptoris Missio).
eclesiástica. É algo que teve de ser particularmente difíceis: grupos cuja Devemos constatar que foi impor-
aguardado por um prolongado período evangelização é urgente, como univer- tante a contribuição da Igreja brasileira
de tempo, mas, que, enfim, amadureceu sitários, operários, jovens etc. na Conferência de Puebla: cardeais,
como uma exigência vital no seio das Mesmo sabendo que aqui temos bispos, teólogos, religiosos e religiosas,
Igrejas particulares que peregrinam na muita Missão pela frente, os bispos mas entre todos, merece um destaque
América Latina. falam que finalmente temos que sair especial o querido dom Luciano Mendes
AIgreja no continente tem desafios de das nossas igrejas para partilhar com de Almeida, homem de síntese e de
evangelização muito sérios e urgentes, outras o dom da fé, “desde a nossa horizontes amplos. Na sua humildade,
uns permanentes e outros novos, os pobreza podemos oferecer algo de soube ter a palavra certa e a orientação
indígenas e os afro-americanos entre os original e importante como o sentido justa no meio de alguns momentos de
primeiros, e as mudanças socioculturais de salvação e libertação, a riqueza de tensão e de dificuldades. 
entre os segundos, que criam massas sua religiosidade popular, a experiência
de todos os estratos sociais em precária das Comunidades Eclesiais de Base, a Ramón Cazallas Serrano é missionário e diretor do Centro
situação de fé. Existem outras situações floração de seus ministérios, sua espe- Missionário José Allamano em São Paulo.

18 Dezembro 2006 -
A vez dos leigos

Missão
história missão
daHoje
Missão em Colniza, Mato Grosso, descreve realidade de pobreza e migração, além de
conscientizar sobre a necessidade de mais leigos participarem da vida da Igreja.

Texto e fotos de Luiza Maria da Silva Santos

T
anto a missão permanente como a missão periódica dos
leigos vem crescendo dia após dia. A missão periódica
é uma experiência de partilha e de “entre-ajuda” que
está se tornando cada vez mais sinal de vida cristã
rejuvenescida. Três leigos, eu, Paulinha e Guiomar, da
paróquia Santa Edwiges, no bairro de Sacomã, em São
Paulo, nos unimos a outras 30 pessoas entre leigos, padres,
religiosas e seminaristas da província dos padres Oblatos de
São José, e partimos para Colniza, no Mato Grosso.
Sonhávamos com uma experiência missionária fora do nosso
ambiente paroquial. Temos feito, ao longo dos últimos anos, Leigos em Colniza.
atividades parecidas com esta. Antes de cada envio somos in- tisse à vontade. Então ele começou a falar e falou de tal forma
formados sobre o ambiente que vamos encontrar, mas desta vez que nos deu a possibilidade de perceber muito da realidade de
fomos surpreendidos pelo grande número de igrejas evangélicas, Colniza. Ficamos no portão escutando coisas sobre a vida do
pela pobreza em que a maioria da população vive e a constante povo da cidade. Talvez tenha sido nossa atitude de escuta que
migração. Aos poucos nossas expectativas foram se adaptando fez com que ele caísse em si e parasse de falar. Percebeu que
à realidade local. Quando as expectativas são grandes, até as estava sem camisa, pediu desculpas e se retirou. De repente,
pequenas coisas nos enchem de alegria. veio nos receber todo arrumado e nos convidou para entrar. O
clima estava criado para podermos fazer nossa oração com a
Em Colniza família, que participou com muita alegria. Cada visita era uma
Chegamos a Colniza e fomos recebidos pelo pároco, padre surpresa, uma novidade e uma experiência de fraternidade. E
Nelson, da paróquia da Sagrada Família e seus companheiros, quanta riqueza se revelava! Todo mundo tinha testemunhos para
e pelos representantes das comunidades que constituem a pa- dar e emoções para revelar. Quando fizemos a segunda rodada
róquia. Cansados da longa viagem nos acomodamos na casa de visitas, a alegria foi ainda maior. Abraços foram trocados,
paroquial. No dia seguinte, um guia local se apresentou e em ouviam-se gargalhadas, improvisavam-se brincadeiras, e de
grupos de quatro, partimos novamente rumo à comunidade local vez em quando, sorvete para todos...
que nos esperava. De dia, a missão era feita pelos nossos pés,
que andavam de casa em casa. À tarde ou à noite a comunidade A missão nos enriquece
se reunia para rezar, celebrar e se aprofundar em alguns temas Enfim, chegamos à conclusão que é muito mais o que re-
importantes de nossa fé cristã. cebemos do que o que damos. As pessoas se entusiasmam,
Em uma de nossas visitas fomos atendidos por um homem depositam em nós uma enorme confiança, nos acolhem como
de uns 30 anos. Do jeito que reagiu, foi como se estivesse irmãos. Nossa presença motivou as pessoas para participarem
esperando alguém com quem falar. Deixamos que ele se sen- nos encontros de formação e nas celebrações. As pessoas se
mostravam muito curiosas e queriam saber como é a grande
cidade, a favela, o metrô, a escola do lugar onde moramos.
Completado o tempo da missão de duas semanas, tínhamos
vontade de ficar e continuar. E, retornando, partilhamos nossa
experiência missionária na nossa comunidade em São Paulo.
A riqueza missionária veio ao nosso encontro em duas verten-
tes: uma nasce dos encontros de espiritualidade, de oração e
de comunhão nos grupos. E a outra brota do contato com a
cultura local, o modo de vida do povo que sabe valorizar muito
as pequenas coisas e se entusiasma com nossa presença. 

Luiza Maria da Silva Santos é leiga membro do grupo de visitadores missionários,


Celebração em Colniza, MT. paróquia Santa Edwiges, Sacomã, SP.

- Dezembro 2006 19
Migrações: sinal d
Destaque do mês

O migrante deve ser para a Igreja a oportunidade de novas


relações, intercâmbio cultural e valorização das pessoas.
de Alfredo J. Gonçalves hoje no exterior, dos quais ao redor de por exemplo, a região de Foz do Iguaçu,
750 mil nos Estados Unidos. Ciudad del Este e Puerto Iguazú (fron-

D
Crescem ano a ano as levas de emi- teira entre Brasil, Paraguai e Argentina).
e início convém lançar um grantes asiáticos, latino-americanos e Enquanto boa parte destes migrantes são
olhar sobre a Mensagem do africanos que buscam a qualquer preço trabalhadores temporários a serviço das
papa Bento XVI para o Dia chegar nos países ricos do hemisfério safras agrícolas, outros cruzam e recruzam
Mundial do Migrante e do Re- norte, com destaque para os EUA, a diariamente as fronteiras, num comércio
fugiado de 2006. Diz o texto: Europa e o Japão. Cresce igualmente muito dinâmico, mas, nem sempre ao
“Entre os sinais dos tempos o número de imigrantes dos países da abrigo da lei.
hoje reconhecíveis devem certamente ex-União Soviética em direção à Europa
incluir-se as migrações, um fenômeno ocidental. E cresce, ainda, o número de Rostos e esperanças
que assumiu no decurso do século que há latino-americanos que procuram entrar no Quem são os migrantes e o que bus-
pouco se concluiu uma configuração, por Brasil, como é o caso dos peruanos, dos cam? Em sua mensagem, o papa alerta
assim dizer, estrutural, tornando-se uma bolivianos, dos chilenos, dos paraguaios, para o número crescente de mulheres
característica importante do mercado de entre outros. A exemplo de muitos países e jovens envolvidos no fenômeno das
trabalho a nível mundial, como conseqüên­ da América Latina, o Brasil tornou-se, a migrações. A grande maioria foge da
cia, entre outras coisas, do poderoso um só tempo, lugar de imigração e de miséria nas regiões pobres, saindo em
estímulo exercido pela globalização”. emigração, sem contar os milhares de busca de um futuro mais promissor. Outros
Já na Instrução Erga Migrantes Caritas pessoas que se deslocam no interior do migram por motivos de estudo ou traba-
Christi, documento do Pontifício Conse- território brasileiro. É grande também a lho. E muitos se vêem forçados a deixar
lho da Pastoral para os Migrantes e os quantidade de trabalhadores, homens e a própria terra por causa de conflitos,
Itinerantes, publicada em maio de 2004, mulheres, que transitam nos chamados abertos ou velados. Entre estes últimos
alertava-se que “as migrações hodiernas “complexos fronteiriços”, onde confinam vale sublinhar os milhões de refugiados
constituem o maior movimento de todos os limites de dois ou mais países, como, políticos e os “desplazados” pela violência
os tempos. Nessas últimas décadas, tal
fenômeno, que envolve cerca de duzentos

Banaras Khan
milhões de seres humanos, transformou-
se em realidade estrutural da sociedade
contemporânea e constitui um problema
cada vez mais complexo do ponto de vista
social, cultural, político, religioso, econô-
mico e pastoral” (Cfr. Apresentação).

Números e dados
Em ambos os parágrafos citados, a
palavra estrutural dá conta da importância e
da abrangência da mobilidade humana nas
análises sociológicas atuais. As migrações,
cada vez mais intensas, diversificadas e
complexas, representam um fenômeno
não apenas momentâneo, esporádico
e conjuntural, mas constituem um dado
fundamental da ordem econômica globa-
lizada. Estima-se entre 175 e 200 milhões
o número de pessoas que hoje residem
fora do país em que nasceram. Se a isso
acrescentarmos as migrações internas, a
estatística sobe a cifras surpreendentes.
Para nos restringirmos ao Brasil, segundo
o Ministério das Relações Exteriores, entre
dois e três milhões de cidadãos residem Famílias de refugiados afegãos, registrando-se no Centro de Quetta, Paquistão.

20 Dezembro 2006 -
dos tempos
brada. Contam-se hoje aos milhões os
jovens e mulheres que rompem todas as
fronteiras e superam todos os obstáculos
para replantar em terra estranha o sonho
de uma vida digna.

Migrante profeta
Apesar dos perigos do caminho, os
migrantes nunca são apenas vítimas. São
e pela guerrilha. Não podemos esquecer, também protagonistas de um novo tempo.

Jorge Uzon
ainda, as vítimas do tráfico internacional de Encontram-se na fronteira entre uma ordem
seres humanos, especialmente mulheres, mundial injusta e a necessidade de mudan-
meninos e meninas, em geral para fins de ças profundas e necessárias. O simples
exploração sexual. fato de migrar constitui, simultaneamente,
Uma quantidade expressiva de mi- uma denúncia e um anúncio. Denúncia de
grantes vive na clandestinidade, com seus relações desiguais entre povos e nações,
documentos irregulares, o que dificulta o as quais impedem uma cidadania plena,
livre acesso ao trabalho, à escola, à saúde, e anúncio de que temos de traçar novos
a uma moradia decente, enfim, aos direitos horizontes em direção a um novo mundo,
humanos básicos. Não raro ocultam-se a uma pátria universal: justa e solidária,
em sórdidos porões ou em longínquas plural e fraterna. É neste sentido que o
periferias. Muitos acabam por submeter-se papa considera as migrações como um
aos serviços mais sujos e pesados, mais sinal dos tempos.
perigosos e mal pagos, sem qualquer Parafraseando Euclides da Cunha,
possibilidade de proteção trabalhista ou poderíamos afirmar que o migrante é
assistência médico-hospitalar. No extremo, antes de tudo, um forte. Diante da pobreza
se descobertos pelas autoridades locais, ou da violência, ele não se deixa abater.
podem ser presos e deportados ao país Ele se move, ele se põe em marcha! Só
de origem, com a vergonha de retornar quem está morto não se move. Mais
de mãos vazias! ainda, ao mover-se, o migrante move
a história e move a própria Igreja. Abre
Raízes e sonhos o horizonte a caminhos novos. Dizia o
Por que tantas pessoas deixam sua monsenhor João Batista Scalabrini, bispo
pátria? Na base dos grandes movimentos de Piacenza, norte da Itália, considerado
migratórios encontram-se as mudanças de o pai e apóstolo dos migrantes: “o mundo
ordem estrutural. Transformações econô- anda depressa e nós não podemos ficar
Mãe refugiada amamenta em Coatepeque, Guatemala.
micas, políticas e sociais, em geral, são parados”. Suas palavras nasceram no
precedidas ou seguidas de deslocamentos tivarem o sonho do eldorado. As áreas contexto das grandes migrações transa-
humanos expressivos. A globalização da pobres tornam-se então lugares de saída, tlânticas, no final do século XIX e início do
economia, nas últimas décadas, tende enquanto as áreas ricas se convertem em século XX. Constituem o testemunho de
a agravar a assimetria entre os países pontos de chegada. Embora muitas vezes alguém que soube colocar-se em marcha,
centrais e periféricos. As disparidades as expectativas se quebrem pelo caminho nas pegadas dos migrantes. “Onde estão
entre uns e outros, ou entre regiões de – morte, roubo, prisão, deportação – os os migrantes”, concluía, “aí deve estar a
um mesmo país, leva as pessoas a cul- fluxos continuam com intensidade redo- Igreja”. De fato as migrações, em todos
os tempos, são como que um dos motores
Marco Di Lauro

da história.
Muitas vezes para os governos e as
autoridades aduaneiras o migrante é, ao
mesmo tempo, uma solução e um problema.
Solução porque se sujeita aos trabalhos
que os nativos recusam, problema porque
acaba exigindo o direito à cidadania. Ora,
tais governos querem somente trabalha-
dores, não cidadãos. Recusam estender
aos imigrantes o status de trabalhador e
os direitos de cidadão. Para a Igreja, ao
contrário, o migrante deve ser uma oportu-
nidade. Oportunidade de novas relações,
de intercâmbios recíprocos entre as várias
culturas e de enriquecimento mútuo. “Na
Igreja não há estrangeiros, mas irmãos”,
dizia o saudoso papa João Paulo II. 

Alfredo J. Gonçalves é sacerdote carlista, assessor da Comissão


Refugiados de guerra no Chade, África. para o Serviço da Caridade, Justiça e Paz – CNBB.

- Dezembro 2006 21
A AIDS não dá tr
Atualidade

de Patrick Silva
O Dia Internacional da Luta contra a AIDS (1 de dezembro)

N
o primeiro dia do mês de de- chama a atenção sobre a dimensão desta epidemia.
zembro, celebramos o Dia
Internacional da Luta contra
a AIDS. Ao longo das últimas
duas décadas, muito se falou e
se refletiu sobre o flagelo desta
pandemia. A difusão da doença é mais um
“sintoma” do contexto globalizado que hoje
vivemos. Dada a conhecer ao mundo a partir
dos Estados Unidos, a contaminação pelo
vírus HIV rapidamente deixou de pertencer
a esta ou aquela nação, para se tornar algo
a que todos os países deveriam responder.
Apesar dos muitos estudos que viriam
a ser feitos após a descoberta do vírus,
ainda hoje não se encontra disponível um
tratamento capaz de curar a doença. Ligada
aos chamados grupos com comportamentos
de risco, a AIDS foi sempre vista sob um
olhar preconceituo­so, que dificultou a vida
de quem tem que conviver com o vírus.
Note-se, no entanto, o enorme progresso
realizado, seja no campo médico, seja no
campo do preconceito.
Pessoas que vivem com o HIV hoje
estão espalhadas pelo mundo. Os números,
recentemente divulgados pela UNAIDS (ór-
gão das Nações Unidas responsável pelos
estudos sobre a AIDS) apontam para 39,5
milhões de infectados em todo o planeta.
Estima-se que 25 milhões de pessoas
morreram desde o surgimento da doença.
A África se destaca como o continente com
maior índice de soropositivos. A tal ponto
que a situação é hoje assustadora. As
campanhas realizadas em alguns países
africanos não tiveram o efeito esperado e
os órfãos da AIDS são hoje uma realidade
muito concreta, que deixam sombras sobre
Pessoa com HIV protesta pela falta de medicamentos diante do Ministério da Saúde, em Lima, Peru.
qual será o futuro de tais países. Segundo
o Banco Mundial, isso traz conseqüências
econômicas graves. O impacto macroeconô­ América Latina A epidemia de AIDS está se tornando
mico tem dois componentes centrais – a Quanto à situação na América Latina, o maior obstáculo na redução da pobreza.
doença pode reduzir o crescimento do pode-se dizer que assim como em ou- Assim, a prevenção e o tratamento preci-
Produto Interno Bruto (PIB) nos países mais tras regiões em desenvolvimento, o vírus sam ter um papel central nas estratégias
afetados, envolvendo efeitos sub-regionais HIV afeta de maneira desproporcional os nacionais das políticas sociais. Em 2005,
e regionais, e o número de contribuintes trabalhadores em idade mais produtiva, aproximadamente 66.000 pessoas morre-
do Imposto de Renda diminuirá com o infectando cerca de um em cada 20 adultos ram e 200.000 tiveram infecção recente.
decorrer do tempo, agravando o impacto na faixa de 15 a 49 anos, comprometendo Entre jovens na faixa de 15 a 24 anos,
econômico negativo. assim a força de trabalho ativa. estima-se que 0,4% das mulheres e 0,6%

22 Dezembro 2006 -
régua
em situação de pobreza parecem correr
O mapa da AIDS risco desproporcional de se contaminar.
Contudo, com base no Sistema Nacional
A UNAIDS, agência da ONU en- de Vigilância Sanitária, a epidemia parece
carregada de gerenciar o combate à estar estabilizada e a prevalência de HIV
doença, estima que o número de pes- permanece inalterada (0,6%) desde 2000.
soas que têm o vírus esteja próximo Por outro lado, tem-se observado uma
de 39,5 milhões, e que a vasta maioria tendência de diminuição de incidência na
desconhece estar infectada. O número Região Sudeste, que não é acompanhada
de pessoas contaminadas cresceu pelo Nordeste e Norte do Brasil, onde
em todo o mundo, mas o avanço da houve uma ligeira subida da prevalência,
doença foi mais sentido nas regiões de modo especial entre as mulheres. As
central e leste da Ásia e no leste da pessoas que vivem com o HIV freqüente-
Europa. Países como África do Sul, mente são vistas como “sem-vergonha”,
Uganda, Moçambique e Suazilândia,
e a infecção fica associada a grupos ou
na África, também tiveram aumentos
a comportamentos minoritários, como a
nos números de casos depois de uma
homossexualidade, por exemplo.
estabilização nos níveis de infecção.
Eitan Abramovich

Cerca de 40% das novas contamina- Em alguns casos, os soropositivos


ções ocorrem em pessoas com idades podem ser vinculados às “perversões”
entre 15 e 24 anos e o estudo calcula e a infecção é vista como a “punição”.
que 2,9 milhões de pessoas tenham Além disso, em algumas sociedades, a
morrido por doenças ocasionadas pela doença é encarada como o resultado da
Aids em 2006. Cerca de 76% das irresponsabilidade individual. Às vezes
mortes relacionadas com a doença em acredita-se que o vírus traz vergonha para
2006 ocorreram na África subsaariana. a família ou comunidade.
Dois terços das pessoas vivendo com
o vírus no mundo localizam-se na área. Assistência aos soropositivos
As mulheres estão mais suscetíveis do O Brasil, após ter sido considerado
que nunca aos riscos do vírus HIV, um dos possíveis países onde a AIDS
afirma o relatório. Na África subsaa-
mais teria impacto, fez um “tratamento de
riana, há 14 mulheres contaminadas
choque”. Após um início titubeante, foram
para cada dez homens.
tomadas decisões que viriam a colocá-lo
No Brasil na linha de frente do combate à doença.
A epidemia de AIDS avançou na O programa brasileiro de tratamento às
população com 50 anos ou mais, tanto pessoas com o vírus HIV é hoje consi-
homens como mulheres, enquanto derado uma referência mundial. Apesar
entre jovens do sexo masculino de coisas muito boas realizadas, surgem
retrocedeu, entre 1996 e 2005. O vozes preocupantes acerca das políticas
país também teve queda de 51,5% adotadas, escutando-se freqüentemente
na transmissão vertical (quando a que os programas estão economicamente
gestante transmite o vírus para o falidos e, portanto, mais inquietações se
filho). Os dados estão no “Boletim levantam para o futuro próximo.
Epidemiológico 2006”, divulgado pelo Nesta luta contra a doença, destaca-se
Ministério da Saúde, com base em a sociedade civil que se organizou para
notificações de serviços públicos e pri-
dar resposta ao problema que estava
vados. Desde que a doença começou
enfrentando. Os missionários da Conso-
a ser monitorada, em 1980, até junho
deste ano, o Brasil acumula 433.067
lata saíram à frente e, em 1991, abriram
casos. Somente no ano passado, aquela que é uma das primeiras casas
foram 33.142 registros, ou seja, 18 de acolhimento aos soropositivos: o Lar
casos em cada 100 mil habitantes. Betânia. Igualmente ajudaram a fundar a
É a menor incidência desde 2002. ONGAIDS do Estado de São Paulo para
Ao tratar dessa taxa por faixa etária, lutar pelos direitos dos infectados.
ela aumenta consideravelmente entre Em 15 anos de existência, o Lar Betânia
pessoas com 50 anos ou mais. Passa atendeu mais de 200 pessoas que aí pu-
de 18,2 casos por 100 mil habitantes deram recuperar forças físicas e espirituais
para 29,8 entre homens de 50 aos 59 para continuar a sua vida. O Lar Betânia é
dos homens eram soropositivos em 2005 anos. Para as mulheres, a taxa mais uma pequena gota em relação às enormes
no continente sul-americano. que dobra, subindo de 6 para 17,3. necessidades que ainda hoje existem no
A mesma tendência aparece entre os
No Brasil, o maior e mais populoso país vasto universo das pessoas com o vírus
maiores de 60 anos. Como resultado
da região, a epidemia já se fez presente HIV. No entanto, são estes pequenos gestos
da política de dez anos de distribuição
em todos os seus 26 estados. Embora a que ajudam a tornar o nosso mundo mais
dos medicamentos anti-retrovirais, a
prevalência nacional do HIV entre gestantes incidência de morte por Aids caiu de
humano e justo para todos. 
tenha permanecido abaixo de 0,5%, há 9,6 óbitos por 100 mil habitantes em
um número crescente de novas infecções 1996 para 6 em 2005. Patrick Silva é missionário e diretor do Lar Betânia, situado
entre mulheres, e aquelas que vivem na Zona Norte de São Paulo, SP.

- Dezembro 2006 23
“O que era noite tornou-se
dia, (...) porque há um
Deus que hoje nasceu!” Vempraver
Jesus Menino
Infância
Missionária
Zé Vicente
de Roseane de Araújo Silva

E
nquanto esperamos a Boa Nova do nascimento do
Deus Menino, vivemos a alegria de estar um pouco cerca de sete milhões com deficiência mental, três milhões com
grávidas e grávidos desta criança de tamanho poder, o deficiência física, um milhão e meio com múltiplas deficiências,
Verbo que se fez carne (Jo 1, 14), Jesus criança. É um 750 mil com deficiência visual e cerca de dois milhões com
momento de alegria porque recordamos o nascimento deficiência de audição. Todas as pesquisas realizadas nesta
de cada menina e menino que surge ao nosso lado, é a área, sob o ponto de vista médico, psicológico e educacional,
manifestação plena do Deus que nos dá a vida e ao gerar novas apontam para uma eficiente alternativa para reduzir estes índi-
vidas demonstra o quanto nos quer bem, o quanto nos ama. ces: a prevenção.
Nesta última edição do ano, gostaria de trazer à memória a O desafio apresentado este ano com a Campanha da
temática da Campanha da Fraternidade de 2006: as pes­soas Fraternidade é a acolhida ao diferente com amor. As pessoas
com deficiência. A CF apresentou-nos uma realidade bem pre- com deficiência são pessoas especiais sim, amadas pelo Deus
sente, porém, pouco assumida pela maioria da população que da Vida e integrantes do mesmo sonho de Deus para todos
não convive diariamente com as pessoas nesta situação. Neste nós. Na manjedoura de Belém, o Deus-Menino é acolhido
tempo de Advento, trago à nossa página da Infância Missionária, em meio aos pobres e marginalizados do seu tempo (Lc 2,
a realidade das crianças com necessidades especiais. Segundo 8-14), significando o acolhimento de todos os povos iguali-
o UNICEF, uma em cada 10 crianças convive com necessidades tariamente, a partir da aceitação do Reino do Pai. Que este
especiais e 190 milhões de crianças no mundo estão nessa reencontro com Deus-criança, razão da nossa esperança, “(...)
situação, das quais cerca de 150 milhões nos países não-de- Boa Notícia, que será uma grande alegria para todo o povo:
senvolvidos. A Organização Mundial de Saúde estima que no (...) um Salvador, que é o Messias, o Senhor” (Lc 2, 10b-11),
Brasil existam 15 milhões de pessoas com deficiência, dos quais fortaleça-nos na chegada de um ano realmente novo. Das
crianças do mundo – sempre amigas! 

Sugestão para Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná.

o grupo
Acolhida
Motivação (objetivo): celebrar o nascimento
de Jesus e as crianças e adolescentes com
necessidades especiais do nosso país.
Oração: Rezemos ao Deus Pai-Mãe por todas as
crianças recém-nascidas do Brasil e do continente
americano e também pelas poucas crianças que
nascem no continente europeu.
Partilha dos compromissos semanais
Leitura da Palavra de Deus: Lucas 2, 1-20, o
nascimento de Jesus.
Compromissos missionários: Ao nascer em
uma manjedoura, Jesus nos propõe um novo
jeito para tratar os excluídos e marginalizados
do seu tempo. Por esta razão, também nós,
missionários e missionárias, nos tornamos mais
amigos de Jesus, quando agimos sem precon-
ceito com os diferentes. Vamos pensar sobre o
que causa o preconceito?
Momento de agradecimento ao Deus da Vida
pelo nascimento de milhares de crianças em
nosso país.
Canto e despedida
Atividade comunitária: organizar com as
crianças na capela ou no salão comunitário, um
encontro de Natal encenando o nascimento de
Jesus. O objetivo é celebrar o Natal convidando
também outras crianças da comunidade. No final
do encontro partilhar o lanche.

24 Dezembro 2006 -
Saber fazer

conexão jovem
de Draiton José Vieira

a diferença M uitos de nossos jovens se encontram tristes por


se acharem, muitas vezes, incapazes de resolver
suas dificuldades ou de se afirmarem em casa,
na escola e na sociedade. Esse sentimento os
torna desmotivados para a vida. A sociedade

Divulgação
pós-moderna contribui significativamente para
Não diga a Deus que você que essa sensação aumente. O sistema capitalista desperta
continuamente nas pessoas e, conseqüentemente, nos jovens,
tem problemas. Diga aos seus o “amor” exagerado pelo dinheiro, pelo lucro, pelo consumo e

problemas que você tem Deus!


pelo sucesso. Em nosso país, a maioria dos jovens não tem
acesso aos produtos da sociedade consumista, aumentando o
desencanto com a vida.
Conhecemos jovens que foram exemplo e despertaram a
auto-estima em muitas pessoas. Através de sua vida, foram si-
nônimo de força, energia, alegria e criatividade. Será que vamos
cair no saudosismo e dizer que antigamente era melhor? Não
creio. Os recursos que os jovens possuíam antigamente, ainda
existem hoje, e são válidos. Basta, saber usá-los melhor. O que
falta atualmente para o jovem é saber encontrar nos problemas
que aparecem, a solução para sua vida. Se o jovem seguisse
o exemplo da rosa, talvez conseguisse se animar. A rosa nasce
com as pétalas fechadas e aos poucos vai se abrindo. É preciso
abrir-se para o novo, entender o mundo que nos cerca.

Atitudes para um mundo melhor


Na sociedade, que muitas vezes parece empurrar a juven-
tude para as drogas, a inatividade, a desvalorização de Deus,
ao invés de despertar o desejo de lutar por um futuro melhor,
o jovem deveria procurar fazer algo que tornasse o mundo um
lugar melhor para se viver. Contribuir para manter a vida do
planeta poderia ajudar. Como? Lendo, estudando, trabalhando
em equipe, plantando flores e árvores, dando um bom dia, ale-
grando-se com a conquista do outro, ajudando alguém, sendo
solidário, ignorando a estupidez e os desentendimentos, retri-
buindo com um sorriso às ofensas recebidas, dando uma palavra
de ânimo a quem precisa, fazendo uma oração pelo inimigo...
Pois, temos que ter jovens abertos, jovens que aprendem e
fazem a diferença.
O mundo “quase globalizado” prega a desvalorização do
sagrado, reduz a prática religiosa ao plano pessoal e margina-
liza Deus. Principalmente o Deus da justiça, da solidariedade,
que acredita no potencial do ser humano de fazer o bem para
si e para o outro.
Nós jovens, deveríamos olhar e aprender com Jesus Cristo.
Ele é o maior exemplo de que Deus acredita em nós. Jesus
escolheu 12 homens comuns na sociedade de sua época. Ele
mostrou aos seus discípulos e às pessoas que o seguiam, o
que cada um tinha de bom. Ele amava cada ser humano, e por
isso depositou esperança no coração de todos, numa época
em que a realidade massacrante não propiciava condições para
sonhar. Jesus despertou a possibilidade de mudar o mundo, de
fazer algo por este planeta, país, sociedade, família e pessoa,
eis a nossa missão! Jovem, você pode ser melhor do que já é.
E Deus o fez existir para ser cada vez melhor. Acredite! 

Draiton José Vieira é seminarista da Sagrada Família de Bérgamo em Curitiba, PR.

- Dezembro 2006 25
igreja no mundo

A história de Jesus na Ásia


1º Congresso Missioná
de Daniel Lagni daquela proposta, o caminho para este Ivan Dias, Prefeito da Congregação para
Congresso foi longo e repleto de desafios. a Evangelização dos Povos, Sepe e Dias,
As diversidades lingüísticas, culturais e as o cardeal de Bangcoc, Tailândia, Michael

P
distâncias dificultaram, mas não impedi- Michai Kitbunchu, o cardeal Ricardo Vidal,
romovido pela Federação das ram sua realização. Enfim, o Congresso arcebispo de Cebu, Filipinas e o cardeal
Conferências Episcopais da Ásia aconteceu enriquecido pela diversidade Telesphore Toppo, da Índia. Também esteve
(Fabc), com a colaboração da étnica, cultural e religiosa. presente o núncio apostólico da Tailândia,
Conferência dos Bispos Cató- Estiveram representados 25 países dom Salvatore Pennacchio.
licos da Tailândia e o apoio da asiáticos, além de diversos participantes Em sintonia com o tema do Congresso
Congregação para a Evangeli- de todo o mundo, num total de 1.047 – “Contando a história de Jesus na Ásia.
zação dos Povos, realizou-se em Chiang congressistas, dos quais, cinco cardeais, Vão e contem-lhes...” (Mc 5, 19) – cerca
Mai, na Tailândia, de 18 a 22 de outubro, 80 bispos e arcebispos, 385 sacerdotes, de 20 grupos de trabalho deram a todos
o 1º Congresso Missionário Asiático. A 190 religiosos/as e 398 leigos, de cerca de os participantes oportunidade de partilhar
idéia deste Congresso surgiu como res- 30 países. Das Américas, participaram na suas experiências pessoais de fé e a
posta a uma intuição de João Paulo II. qualidade de observadores estrangeiros história de Jesus em suas vidas, famílias
Ao inaugurar a Ecclesia in Asia, em 6 de três diretores nacionais das Pontifícias e comunidades. É significativo que este
novembro de 1999, o papa dizia: “Como Obras Missionárias: padres John E. Kozar, Congresso tenha se realizado num país em
no primeiro milênio a cruz foi plantada na dos Estados Unidos, Guillermo Alberto que os católicos são 0,4 %, da população,
Europa e no segundo milênio na América Morales Martinez, do México e Daniel ou seja, uma das menores Igrejas da Ásia,
e África, assim, que no terceiro milênio Lagni, do Brasil. O papa Bento XVI nomeou com 99% da população budista.
se possa ter uma grande colheita de fé o cardeal Crescenzio Sepe, arcebispo de Os grandes sub-temas aprofundados,
neste continente tão vasto e com tanta Nápoles, Itália, “enviado papal extraordi- tendo como pano de fundo “A história de
vitalidade”. Não obstante a boa acolhida nário”. Compareceram ainda os cardeais Jesus” foram: “entre os povos da Ásia”; “nas
religiões da Ásia”; “nas culturas da Ásia” e
“na vida da Igreja na Ásia”. Realizaram-se
Fotos: Arquivo POM

também trabalhos em grupo, seminários e


testemunhos sobre a história e o percurso
do cristianismo no continente.

Missão na Ásia
Referindo-se ao tema do Congresso,
dom Luis Antonio G. Tagle, bispo de Imus,
Filipinas, disse: “O papa João Paulo II
descreveu a Missão como partilha da luz
da fé em Jesus, dom recebido e dom que
deve ser doado aos povos da Ásia. Esta
partilha pode se dar pela narração da
história de Jesus. Contar histórias pode
ser um meio criativo para compreender
a Missão na Ásia, o continente cujas
culturas e religiões estão enraizadas em
epopéias milenares”.
Falando ao Congresso, o padre Satur-
nino Dias, de Goa, Índia, Secretário-Exe-
Celebração durante o 1º Congresso Missionário Asiático. cutivo do evento, explicou que em 2006

26 Dezembro 2006 -
A realização do 1º Congresso
Missionário Asiático foi um
evento histórico para a Igreja
do continente.

ário Padre Daniel Lagni com crianças tailandesas.

estão presentes particulares motivações os cristãos somos portadores”, concluiu provenientes de 19 países. A delegação
missionárias: “celebra-se o 5° centenário dom Quevedo. mongol, composta por um bispo, cinco
do nascimento de São Francisco Xavier, Foi de grande encorajamento para sacerdotes, seis leigos e duas religiosas,
padroeiro das Missões, o 3° centenário todos os presentes receber notícias e estava bem consciente da importância de
da aprovação do Oratório de São Felipe confrontar-se com comunidades cris- se sentir acompanhada em seu caminho
Neri, em Goa e o nascimento da primeira tãs que vivem sua fé no silêncio, como de fé e testemunho.
Sociedade de Vida Apostólica na Ásia, fermento da sociedade. A presença de A atenção dos delegados concentrou-
fundada pelo Bem-aventurado Joseph Vaz, delegações de observadores do Líbano, se também em algumas temáticas espe-
missionário da Ásia para a Ásia”. Por essas de Israel e da Síria foi sinal de uma Igreja ciais, como o consumismo, o fenômeno
razões, o 1º Congresso Missionário do capaz de testemunhar a própria fé em das migrações, o diálogo inter-religioso
continente “assume o particular significado Jesus Cristo, não obstante dificuldades, e a juventude, em um continente em que
de suscitar maior consciência missionária perigos e conflitos. Mas a riqueza e di- os jovens com menos de 25 anos repre-
entre os fiéis, ajudando-os a aprofundar e versidade de proveniências, culturas e sentam 50% da população. O fenômeno
testemunhar a fé cristã e proclamar Cristo raças foram notadas também na lista dos dos migrantes é um tema que interpela a
ao mundo circunstante, como ocasião e delegados, na qual se destaca a presença Igreja na Ásia. Basta pensar, que de 191
desafio para todas as Igrejas asiáticas de países de grande maioria islâmica, milhões de pessoas que vivem fora de seus
reverem e relançarem o próprio empenho como Paquistão e Malásia, Indonésia ou países, 53 milhões são asiáticos, com os
na evangelização”. de países da ex-União Soviética, como indonésios, filipinos e vietnamitas estando
Uzbequistão, Cazaquistão, e testemunhos na linha de frente desta classificação. Este
Fortalecer o testemunho de uma pequena comunidade cristã ainda movimento de massas populacionais inter-
Além de celebrar a vida cristã na Ásia, nascente, como a da Mongólia, presen- pela as Igrejas de origem e de destino. É
o Congresso visou animar a consciência do te com 14 delegados. Este Congresso uma ocasião para reiterar que “na Igreja,
mandato missionário da Igreja, fortalecer o inspirou-se justamente na riqueza da ninguém é estrangeiro”.
anúncio e encontrar novos caminhos para diversidade, mas com a consciência de O 1° Congresso Missionário Asiático
contar a história de Jesus no continente. ser uma única Igreja. concluiu seus trabalhos no dia 22 de ou-
Jesus nasceu e se criou nesta região, mas é tubro, num clima de animação e de três
justamente onde é menos acolhido. Trata-se Uma delegação singular grandes desafios: a vida de fé é pessoal
de acolher o testemunho dos outros, ir além A evangelização na Mongólia é um e comunitária e a nossa adesão ao Evan-
dos temores e incertezas, para anunciar evento extremamente recente. Foi um país gelho é a continuação, no rastro dos Atos
com entusiasmo a nossa fé. Conforme fechado ao Evangelho, até 1992. Naquele dos Apóstolos; as outras religiões: pede-
observou dom Orlando Quevedo, arcebispo ano, o governo convidou a Igreja Católica se um maior conhecimento recíproco,
de Cotobato, Filipinas: “Cristo nasceu na para estar presente. A intenção “era rece- de modo a poder compreender e ler as
Ásia, todavia a Igreja neste continente é uma ber ajuda no campo social e estabelecer “sementes do Verbo” nelas existentes; e
pequena bandeira, que representa apenas relações com o mundo ocidental”. Para a as diferentes culturas: integrar os valores
1,5% da população total”. O Congresso não delegação mongol, o Congresso “represen- positivos presentes nas culturas asiáticas
buscou responder à questão que se refere tou uma ocasião única de se sentir parte na vivência cristã cotidiana.
à necessidade ou não da evangelização, de uma Igreja realmente universal, diante Por fim, os delegados pediram que
mas sim, como este anúncio pode ir ao do exíguo número de cristãos presentes cada Conferência Episcopal asiática se
encontro das exigências dos povos nesse naquele país. Em uma população de cerca torne eco deste grande Congresso, dan-
continente. “O anúncio deve ser realizado de dois milhões e oitocentas mil pessoas, do-lhe seguimento em outros, no âmbito
no respeito, na atenção e no diálogo com apenas 350 são católicas. Realmente, a nacional ou regional. 
as outras religiões, com atenção também Igreja Católica naquele país é uma pequena
aos problemas que este imenso continente semente, mas também um grande início, Daniel Lagni é sacerdote, diretor nacional das Pontifícias Obras
está vivendo, mas também com a coragem que pode contar com a presença de nove Missionárias (POM) do Brasil, representante dos diretores
e a consciência do grande dom do qual congregações religiosas e 62 missionários, nacionais das POM da América Latina e Caribe.

- Dezembro 2006 27
Escutem o grito d
amazônia

Dourados, Corumbá, Coxim, Jardim e Três Lagoas no Mato


Grosso do Sul. Nos encontros de multiplicadores, que realizam
entre os meses de setembro a dezembro, junto às 17 regionais
da CNBB, Toffoli busca transmitir o conteúdo do texto-base,
dentro da metodologia do “ver, julgar e agir”. A previsão é de que
antes do lançamento nacional da CF-2007, em 21 de fevereiro de
2007, os olhos de todo o país devem estar sensíveis à realidade
da “Amazônia legal”. Para tanto, o texto-base traz informações
para conhecê-la bem, com seus 1100 rios e sua abrangência
nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia, Roraima,
Pará, Maranhão, Mato Grosso, Tocantins e Goiás, ou seja, 59%
do território nacional e 40% em relação a América do Sul.

Símbolos da Amazônia
O próprio cartaz da CF-2007 é o grito para que todos escu-
tem a dor de cada povo e missão daquele chão. A imagem da
terra seca e rachada representa os lugares de seca existentes
e que, sem os devidos cuidados, toda a região pode ser des-
truída; a água lembra a importância da Amazônia como reserva
de água doce do planeta, além de transmitir uma sensação de
transparência, força e vitalidade. O elemento principal do cartaz
é a vitória-régia, conhecida pelos seus habitantes originais, os
povos indígenas, como panela de espíritos. Considerada um
dos símbolos da Amazônia, é uma planta de raízes profundas,
que se cravam no leito do rio, impedindo que a água a leve
embora. “Essa planta é forte e tem raízes profundas que tocam
o leito do rio e ao mesmo tempo é sensível, assim como o povo
nativo da região, que sobrevive com muita garra, mas precisa
do apoio fraterno, de toda a sociedade brasileira”. As três flores
representam a Santíssima Trindade, que lembra a obra de Deus
Criador entregue aos nossos cuidados. A criança representa os
povos indígenas, e toda a comunidade da região, suas crenças,
sonhos e esperanças. O sorriso sutil é um convite à superação

Formação prepara multiplicadores das dificuldades e à construção de um futuro melhor para a Ama-

da Campanha da Fraternidade 2007.


Fotos e texto de Cecília de Paiva

A
Campanha da Fraternidade 2007 “Amazônia e Fra-
ternidade” quer ser instrumento de solidariedade e de
escuta aos gritos de toda “vida e missão neste chão”,
como diz o seu lema. Para direcionar os trabalhos
desse grande apelo nacional, o Secretário Executi-
vo da Campanha, cônego José Carlos Dias Toffoli,
viaja por todo o Brasil para formar multiplicadores que motivem,
alertem e despertem interesse, para atingir os seus objetivos.
Nos dias 14 e 15 de outubro, Toffoli esteve em Campo Grande,
onde participou do encontro de multiplicadores da CF da Região
Oeste da CNBB, que abrange as dioceses de Campo Grande, Cônego José Carlos Dias Toffoli realiza formação em Campo Grande, MS.

28 Dezembro 2006 -
do povo!
sexuais, suicídios, conflitos por terra, invasões, depredações.
O texto-base mostra que lá existem raças indígenas e povos
afro-descendentes com iniciativas de resistência. Dados revelam
que está chegando perto de 80% a população da Amazônia nas
grandes cidades, e que há uma grande concentração urbana se
aproximando de 80% de toda a população amazônica. Que há
um grande número de famílias vivendo com até 1/5 do salário
mínimo, com assentamentos urbanos que são os maiores e piores
problemas ambientais da região. Os migrantes se aglomeram
nos piores terrenos, muitas vezes invadindo áreas de várzea e
de ressacas alagadas e em toda a região, a maioria das comu-
nidades do interior não têm acesso a todas as séries do ensino
Momento de reflexão e louvor da equipe da CF do Regional Oeste I. fundamental. Isso motiva muitos jovens a deixar o campo. O

zônia. Além disso, ao mostrar o contraste entre a terra seca e a sistema de ensino existente está longe de ser contextualizado
exuberância da água, o cartaz chama a atenção na esperança para que tenha a Amazônia em sua referência.
de encontrar uma solução para os conflitos da região com base Muito há para olhar naquela região, que tem mais de 100
na solidariedade e no respeito às diferenças. mil famílias de agricultores vivendo da extração da coca. É
importante destacar que um hectare de folhas de coca rende,
Concentração da população em média, 1.500 dólares por ano. O acesso à coca é maior do
É uma região que se move e o texto-base contempla a que o serviço à saúde, pois há locais em que é praticamente
realidade urbana e a concentração da pobreza, observando impossível acessar o serviço médico, obrigando a população
quem e o que já existe para se solidarizar com as questões necessitada a percorrer grandes distâncias, e locais com um
provenientes da mobilização e da nova topografia social da alarmante crescimento de casos de hanseníase, malária, febre
Amazônia. Na explanação do texto-base, Toffoli esclarece que amarela e alta mortalidade infantil.
todos devem ter consciência ecológica e de preservação e ainda
da utilização legal da devastação para apoiar ‘o que se pode Sustentabilidade
fazer pelo estrago feito’. Muitas outras situações e dados alicerçam o texto-base da
O olhar de todos pode fazer ecoar o grito da violência contra CF-2007 porque, segundo Toffoli, “Não adianta inventar as ne-
os povos indígenas e fazer lembrar que existe uma tabela de cessidades e desafios. E os desafios para a Amazônia são vários:
assassinatos, de tentativas de assassinatos, de ameaças de colaborar para que as intervenções na região sejam feitas em
morte, lesões corporais, racismos, discriminações, violências favor da população local e não apenas dos grandes projetos de
energia, mineração, extração de madeira, ampliação da área de
pastagens, plantações de soja, do conflito pela ocupação da terra
Oração da CF-2007 e preservação do meio ambiente; a questão da demarcação de
todas as áreas indígenas e a garantia de vida e trabalho para os
Deus criador, Pai da família humana, Vós formastes a seringueiros e populações ribeirinhas, com a criação de reservas
Amazônia, maravilha da vida, bênção para o Brasil e para o
mundo. Despertai em nós o respeito e a admiração pela obra extrativistas e as áreas de manejo sustentável da floresta e o
que vossa mão entregou aos nossos cuidados. Ensinai-nos a assentamento de posseiros e lavradores sem-terra.”
reconhecer o valor de cada criatura que vive na terra, cruza Para esclarecer ainda mais toda a Campanha da Fraternidade
os ares ou se move nas águas. Perdoai, Senhor, a ganância e 2007, Toffoli complementa que “é preciso resistir ao processo de
o egoísmo destruidor; moderai nossa sede de posse e poder.
devastação, e por outro lado denunciar o discurso conservacionista
Que a Amazônia, berço acolhedor de tanta vida, seja também
o chão da partilha fraterna, pátria solidária de povos e culturas, dos que, ao quererem salvaguardar a Amazônia, só desejam
casa de muitos irmãos e irmãs. Enviai-nos todos em missão! garantir seus interesses e qualidade de vida. Deve-se insistir
O Evangelho da vida, luz e graça para o mundo, fazendo-nos para que as políticas ambientais, econômicas e sociais tenham
discípulos e missionários de Jesus Cristo, indique o caminho como objetivo a vida com qualidade das populações tradicionais
da justiça e do amor; e seja anúncio de esperança e de paz
para os povos da Amazônia e de todo o Brasil. e demais categorias exploradas que vivem na região”. 
Amém.
Cecília de Paiva é relações públicas e jornalista, especialista em comunicação e mercado.

- Dezembro 2006 29
Mato Grosso de Articulação das forças sociais, os participantes,
Cimi tem novo presidente entre outras ações, se propuseram a apostar na As-
O Conselho do Cimi elegeu dom Erwin Kräutler sembléia Popular como instrumento dinamizador de
como novo presidente da entidade. A eleição foi causas comuns. A 4ª SSB se encerrou. Mas o Mutirão
realizada conforme as normas estatutárias, após o por um Novo Brasil continua.
falecimento de dom Franco Masserdotti, em 17 de
setembro de 2006, na cidade de Balsas, sede da Amazônia
diocese maranhense da qual era bispo. O Conse- Curso de Realidade Amazônica
lho, que reúne coordenadores dos 11 regionais da O Instituto de Teologia, Pastoral e Ensino Su-
entidade e sua diretoria, se encontrou na Chapada perior da Amazônia (ITEPES) promove o Curso de
dos Guimarães, em Mato Grosso, em uma de suas Realidade Amazônica, entre 22 de janeiro e 16 de
reuniões ordinárias. Apesar da tristeza pela morte fevereiro de 2007, perfazendo um total de 160 horas.
de dom Franco, o Cimi se alegrou pelo “sim” de dom O curso tem como objetivo geral ajudar os agentes de
Erwin ao convite para ser presidente. Atualmente evangelização comprometidos com a construção de
Kräutler é bispo da diocese de Altamira, no Pará. Ele uma nova sociedade na compreensão da realidade
foi presidente do Cimi de 1983 a 1989. O mandato vai amazônica em que estão inseridos, para que possam
até a próxima Assembléia Ordinária, a ser realizada transformá-la a partir das exigências éticas e da fé
entre julho e agosto de 2007. De acordo com o artigo cristã. Destina-se a agentes de pastoral inseridos
21 do estatuto da entidade, em caso de vacância nas comunidades eclesiais e serviços pastorais na
VOLTA AO BRASIL

do cargo de presidente após a primeira metade do região e a leigos e leigas, religiosos e religiosas e
mandato, o Conselho é a instância responsável pela presbíteros vindos de outras dioceses para atuar na
eleição do presidente substituto. Dom Franco havia Amazônia. Informações: itepes.dir@vivax.com.br ou
sido eleito na Assembléia do Cimi em julho de 2005 pelo telefone (092) 3642.5635.
e o seu mandato iria até julho de 2007.
Paraná
Brasília O “deus-mercado” ignora os pobres
27ª Assembléia Geral do COMINA O “deus-mercado” é a maior manifestação dia-
De 15 a 17 de novembro, realizou-se na sede das bólica dos tempos atuais, aponta o documento final
Pontifícias Obras Missionárias, a 27ª Assembléia Geral da Consulta Teológica sobre o Direito à Vida Plena,
do Conselho Missionário Nacional (Comina), com o tema reunida pelo Conselho Latino-Americano de Igrejas
“Memória, projeto e seguimento: a Igreja missionária (CLAI)-Brasil, entre os dias 25 e 28 de outubro, em
da América Latina e do Caribe rumo à Conferência Londrina, Paraná. Esse deus não tem qualquer inte-
de Aparecida”. Com a ajuda de assessores como o resse pelos pobres, que “são tratados como se não
padre Paulo Suess, a Assembléia fez memória da existissem”. A Consulta recolheu a reflexão iniciada
caminhada, aprofundando o sentido e a prática do nos Fóruns Teológicos, realizados em junho em
projeto missionário da Igreja, em preparação para Londrina, Recife e São Leopoldo. As conclusões da
a Conferência de 2007 na perspectiva missionária. Consulta serão levadas à V Assembléia Geral do CLAI,
Participaram do evento os membros da Comissão agendada para Buenos Aires, em fevereiro de 2007.
Episcopal para a Ação Missionária e Cooperação O documento final reconhece que os esquemas de
Intereclesial da CNBB, do Conselho Missionário Na- poder e dominação hoje são sutis. “Eles estão ocultos,
cional, os bispos presidentes e coordenadores dos não são facilmente reconhecidos, escondem-se por
Conselhos Missionários Regionais, representantes da trás de grandes corporações, assim como de sistemas
Conferência dos Religiosos do Brasil, da Conferência políticos e econômicos e, principalmente, atrás de
Nacional de Institutos Seculares, missionários leigos, discursos forjados na comunicação de massa e na
Conselho Indigenista Missionário, representantes dos ideologia do consumo e do mercado”, arrola o texto.
meios de comunicação missionários, congregações Nem mesmo as igrejas estão imunes à tentação do
missionárias, associações de missiólogos, instituições deus-mercado. Em alguns modelos, elas criam e sus-
acadêmicas missiológicas, membros das Santas tentam desigualdades e exclusões, desrespeitando de
Missões Populares, da Fidei Donum, da Comissão modo flagrante os direitos humanos “na medida em
Especial para a Amazônia e da Pastoral Nipo Brasileira que garantem apenas a algumas pessoas o direito de
e dos Brasileiros no Exterior. falar, fazer e decidir, e não levantam a sua voz contra
aqueles que são opressores”. A Consulta denuncia,
4ª Semana Social Brasileira ainda, modelos ideológicos que se confundem com
Entre os dias 17 e 19 de novembro, em Brasília, teologias. Ideologias de mercado, cada vez mais
realizou-se o Seminário Nacional de encerramento da em moda nos meios evangélicos, sacralizam o mo-
4ª Semana Social Brasileira (4ª SSB), terminando um delo e o sistema vigente à medida que introduzem
processo de três anos desde o seu lançamento, no como linguagem teológica conceitos que exigem
início de 2004. Representantes de diversas entidades graça, cobram promessas e buscam recompensas.
sociais, de Igrejas e da sociedade civil participaram do O documento tirado do encontro lembra às igrejas a
Seminário que debateu temas urgentes. A proposta da necessidade de “redescobrir o profundo sentido da
Semana foi suscitar um Mutirão por um Novo Brasil, dignidade humana”, de aprofundar a formação cidadã
apostando na articulação das forças sociais para a do povo na América Latina e no Caribe. 
construção do país que queremos. Os participantes
identificaram os compromissos decorrentes do processo
de construção coletiva. Para levar adiante o trabalho Fontes: CNBB, CIMI, CLAI.
30 Dezembro 2006 -
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N
o Natal, o nosso es-
pírito abre-se à espe-
rança, ao contemplar
a glória divina escondida na
pobreza de um Menino en-
volvido em panos e reclinado
numa manjedoura: é o Criador
do universo, reduzido à impo-
tência de um recém-nascido!
Aceitar este paradoxo, o pa-
radoxo do Natal, é descobrir
a Verdade que liberta, o Amor
que transforma a existência.
Acolhamos a mão que Ele
nos estende: é uma mão que
não nos quer tirar nada, mas
apenas dar.

Bento XVI

Missões deseja a todos


um santo Natal.

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