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O enfermeiro na central de captação

de órgãos

Ana Carolina Sichiroli Pio Magalhães


Especialista em Unidade de Terapia Intensiva - PUC-Campinas
Professora da Faculdade Comunitária de Campinas - Unidade 3 e da
Faculdade Comunitária de Santa Bárbara
e-mail: enf.carol@terra.com.br

José Alexandre Pio Magalhães


Especialista em Circulação extra corporea e suporte de vida avançado em cirurgia cardiaca - UNICAMP
Professor da Faculdade Comunitária de Campinas e Santa Bárbara
e-mail: jpiomagalhaes@terra.com.br

Roberta Prado Ramos


Graduada em Enfermagem - PUC-Campinas
Professora da Faculdade Anhanguera de Piracicaba
e-mail: robertapradoramos@bol.com.br

Resumo

Este estudo teve como objetivo descrever o processo de trabalho, conhecer e analisar as bases técnicas e éticas do
profissional enfermeiro em uma Central de Captação de Órgãos na região de Campinas e divulgar o trabalho por ele exercido. O
estudo realizado é de natureza qualitativa com coletas de dados primários por meio de entrevista com questões semi –
estruturadas.Com base na análise dos dados, identificamos as ações executadas pelos enfermeiros na Central de Captação de
Órgãos, relacionado à capacidade técnica e científica. Esse estudo envolve também o aspecto ético, permitindo uma assistência
humanizada e holística. Concluímos que existe um desconhecimento e desinteresse por parte dos profissionais de saúde sobre
esta atuação, necessitando uma melhor divulgação desse trabalho.

Palavras-chave: doação de órgãos, morte encefálica, enfermeiros na captação de órgãos.

Introdução Na década de 40, no século XX, houve evolução


na técnica dos transplantes e com ela um importante
A historia dos transplantes é marcada por inúmeras problema, a rejeição, que foi solucionado com a
conquistas e desilusões. descoberta de um potente imunossupressor, a
O primeiro transplante de tecido geneticamente Ciclosporina, em 1978(PEREIRA, 1996).
diferente foi descrito na ilíada de Homero, onde uma Nesta época, surgiu um importante conceito a
Quimera fora criada pelos deuses. A lenda de São Cosme morte encefálica, que retirava do coração a fonte de vida
e São Damião, no século VI, diz que após a amputação e transferia para o cérebro, tornando a doação de órgão
da perna de um velho, transplantaram nele, a perna de mais precisa, exigindo uma equipe multiprofissional
um soldado mouro que havia falecido naquele mesmo atuante (CINTRA, MACIEL e ARAÚJO, 2000).
dia. Desde então, vários os registros foram encontrados, Com a reestruturação das Centrais de Notificação,
mostrando inúmeros experimentos com órgãos Captação e Distribuição de Órgãos (CNDCOs) e
transplantados, infelizmente sem sucesso criação de Organização de Procura de Órgãos (OPOS),
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANS- a captação deixa de ser realizada pelos mesmos
PLANTES DE ORGÃOS, 2003).
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profissionais que efetuavam os transplantes. Com equipes doador, colher a historia da doença atual passando as
treinadas e capacitadas, o transplante passou a ser um informações, por telefone ou fax, para a CNDCO. Cada
tratamento efetivo, cada vez mais indicado e salvando informação é extremamente importante, pois através dela
vidas. é traçado um potencial receptor de órgãos.
Desta forma, o enfermeiro conquistou seu espaço O profissional A relatou que “Você tem que colher
de maneira responsável, atuando junto com a equipe o histórico desse paciente, a historia clinica. Como
multiprofissional, desenvolvendo um papel técnico e ativo, esse paciente chegou ao hospital? Se chegou em
assim como norteador desta população de potenciais parada. Se estiver internado, quanto tempo de
doadores e receptores de órgãos, orientando e internação, checar a parte hemodinâmica, se faz uso
multiplicando informações tornando o transplante uma de dopamina e noradrenalina, registrando a dosagem,
experiência menos dolorosa para ambos (FERREIRA, diurese. Tem que colher os antecedentes desse
1997). paciente, se esse paciente tem historia de drogadição,
hipertensão, se usa medicamento ou não, se tem
Objetivo historia de alcoolismo, diabetes ou no próprio doador
ou na família de primeiro grau, fazer a avaliação se
Este estudo tem com objetivo identificar a atuação o paciente é um politrauma, pois se tiver algum
do profissional enfermeiro, bem como conhecer e trauma da parte abdominal pode invibializar algum
divulgar o trabalho exercido por este profissional em uma órgão, avaliar se o paciente fez uso de dreno de tórax,
Central de Captação de Órgãos. O paciente precisa ter um raio-x para ver o tamanho
da área cardíaca. É um exame físico profundo e
Metodologia muitas vezes colhendo informações com outras
pessoas...”. Segundo o profissional B, “no momento
Estudo de natureza qualitativa com coleta de dados da notificação, nós temos que obter os dados de
primários por meio de entrevista junto aos enfermeiros identificação do paciente, a historia da doença que
que trabalham na Central de Captação de Órgãos na ele possa ter e a historia da própria internação dele.
região de Campinas. Foi aplicado um questionário, no Ele internou por quê? Por que ele esta em morte
mês de junho de 2005, composto por três questões encefálica? Nem sempre as duas coisas são as
abertas semi-estruturadas, onde foram gravadas com um mesmas. Ele internou por uma crise hipertensiva e
gravador de fita K7, e as respostas foram transcritas esta em morte encefálica porque ele fez um AVC!...
com total fidelidade aos dados do entrevistado, que se o paciente tem algum familiar diabético podemos
possibilitaram conhecer as atividades desenvolvidas por bloquear um transplante de pâncreas com essa
estes profissionais e o reconhecimento profissional e informação.”.
social. Para Bachega, Hilário e Oliveira (2001), o
enfermeiro deve reconhecer e detectar o doador,
Resultados e discussões realizando visitas sistemáticas nas unidades de internação
que possuem a maior possibilidade de notificação de
A aceitação do diagnostico de morte encefálica, possíveis doadores.
o avanço das técnicas cirúrgicas e das drogas Sanches, Correa e Avelar (1998), concordam
imunossupressoras, o transplante de órgãos e tecidos com o autor acima, o enfermeiro deve realizar visitas
representam um dos maiores avanços da medicina nesse diárias nos locais de maior possibilidade de identificar
século, sendo muitas vezes a única e a ultima alternativa doadores, unidades de terapia intensivas, pronto-
terapêutica (PEREIRA, 1996). socorros e demais unidades de internação, aguardando
O aumento da demanda de transplante fez com notificações sobre possíveis doadores. Identificado o
que houvesse a necessidade de uma central estruturada doador, o enfermeiro inicia ao processo de captação.
para a organização, captação e distribuição de órgãos, O profissional B relata “A família tem que saber
chamada CNDCO. que existe a possibilidade da doação, existe a suspeita
A partir das entrevistas realizadas com os de morte encefálica, existe a necessidade da
profissionais enfermeiros que atuam na captação de realização da sorologia caso vá ocorrer à doação...
órgãos, constatamos que em seu processo de trabalho, agente pode ir buscar ou providenciar o material para
consiste em: fazer a sorologia e a tipagem HLA. A sorologia nos
Reconhecer, detectar e identificar o potencial fazemos com a anuência da família, é direito do
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consumidor e esta aceita ou não, e então, a gente HIV,HTLVI-II, toxoplasmose, citomegalovírus, VDRL,
orienta quem esta cuidando deste paciente para que mononucleose), e também os exames para verificação
as coisas aconteçam desta maneira”, e continua “A de alterações hematológicas e avaliação das funções
questão dos exames laboratoriais para a avaliação hepáticas, renais, pancreáticas, cardíaca e pulmonar.
do funcionamento dos órgãos é muito simples. Não Providenciar raio-x de tórax e eletrocardiograma. Após
tem nenhuma contravenção ética que impeça de fazer avaliar os resultados dos exames, o enfermeiro da CCO
um perfil laboratorial como: função renal, hepática, deve comunicar o médico que está assistindo o potencial
cardíaca e eletrólitos, onde é analisado seu doador para a tomada de conduta quando necessário
funcionamento e detectado alguma anormalidade a (BACHEGA, HILÁRIO E OLIVEIRA, 2001).
ser corrigida, para manter o possível doador”. O enfermeiro tem que avaliar o andamento do
Para o profissional A, “o enfermeiro tem que processo. Informações sobre a morte encefálica, quando
estar atento à causa do coma, se houve uma parada foi iniciado ou quando será e quais foram às informações,
cardio-respiratoria e o tempo de duração. Às fornecidas para os familiares.
complicações hemodinâmicas frente às complicações Segundo o relato do profissional A, “As ações
que regem a morte encefálica, como por exemplo, o frente ao doador propriamente dito, tem inicio com
paciente provavelmente desenvolverá uma diabete o protocolo de morte encefálica. O enfermeiro tem
insípidus decorrente da lesão do hipotálamo que estar ciente da parte de legislação e ética, o que
hipofisário, que resulta na diminuição do hormônio rege atualmente no Brasil para poder estar
antidiurético, levando a poliúria. Na hipotensão, orientando esse profissional como realizar esse
sendo necessário, o uso de drogas vasoativas, diagnóstico”. “... o profissional que esta assistindo
noradrenalina e dopamina, calculando a dosagem em esse paciente deve informar a família desde a suspeita
mcg/kg/min, incluindo os exames laboratoriais e as de morte encefálica, orientando os procedimentos que
sorologias com o consentimento da família. O deve ser seguidos”.
enfermeiro deve ter conhecimento sobre as Segundo o profissional B, “... o enfermeiro tem
complicações causadas pela morte encefálica, pois é que saber em que momento está o protocolo de morte
ele que irá orientar os profissionais que estão encefálica por dois motivos: primeiro motivo, eles
assistindo o potencial doador”. não sabem como fazer o protocolo. Ele tem uma
As principais complicações observadas nos tomografia (...) tomografia não é diagnostico de
pacientes com morte encefálicas são a hipertensão, morte encefálica (...); segundo motivo, o hospital não
diabetes insipidus, hipotermia e distúrbio eletrolítico tem condições de fazer uma angiografia de quatro
(ARAUJO, 1997). vasos, não tem eletroencefalo, não tem Doppler e as
Mcarthur e Streat (1993) relataram que 86% dos alternativas para confirmar o diagnostico de morte
doadores de órgãos apresentavam instabilidade encefálica são muito caras. Deve-se estimular a
hemodinâmica, estando em uso de droga vasoativa e, instituição onde está o potencial doador, procurando
93% deles apresentavam quadro de diabetes insipidus. alternativas, outros caminhos, viabilizando o
Araújo. (1997), observou um aumento do numero diagnostico de morte encefálica e evitando que esse
de complicações à medida que aumentava o tempo entre doador se perca”.
o diagnostico clinico da morte encefálica e a retirada O reconhecimento errôneo e tardio da morte
dos órgãos, e que, potenciais doadores encefálica pode levar a perda do órgão devido à parada
hemodinamicamente comprometidos, resultam em perda cardio-respiratória (MAGALHÃES, 1996 apud
de órgãos, devido à demora da sua retirada. PEREIRA).
A atuação do enfermeiro consiste em investigar Sardinha (1997) relata que após o diagnostico de
possíveis infecções, o local, o uso de antimicrobianos, morte encefálica, preenchimento do protocolo e
analisando resultados de culturas. Verificar se o paciente assinatura do termo, os médicos devem comunicar o fato
sofreu parada cardio-respiratória, o tempo de duração, aos familiares do paciente para doação de órgãos.
e as drogas administradas. Analisar as condições Decidida à retirada dos órgãos, os médicos devem,
hemodinâmicas uso de drogas vasoativas, a dosagem e prontamente, comunicar o fato à equipe de captação de
o tempo. Reconhecer a causa do coma, avaliar os órgãos.
exames laboratoriais e realizar a coleta do material para Um dos momentos mais importantes no processo
determinação do grupo sanguíneo e exames sorológicos da captação de órgãos é a abordagem dos familiares
(chagas, anti-HCV, HBs-Ag, anti-HBs, anti-HBc, em relação à morte encefálica e a doação de órgãos.
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Quando a abordagem familiar não for feita através do experiências, sentimentos, explicação do tratamento e
enfermeiro da CCO, este tem como dever, orientar a da doença, morte encefálica e doação de órgãos.
equipe de saúde que assiste o potencial doador, a forma Observou-se que na maioria dos entrevistados a
de como deve ser feita esta abordagem. satisfação da família em relação à explicação da morte
Diz o profissional A, “... a abordagem da família encefálica, resultava na viabilização da doação. Enquanto
é um momento de extrema importância, onde muitas que, em um numero reduzido de familiares, admitiram
vezes o enfermeiro tem que orientar o profissional sentimentos de descortesia pela equipe de saúde, onde
que está assistindo o paciente, a maneira que ele deve as enfermeiras foram impacientes e desinteressadas e os
estar falando com a família”, e prossegue, “... quando médicos frios e insensíveis.
a abordagem da família é realizada pelo profissional É imprescindível a escolha do profissional que fará
que atua na CCO, ele deve oferecer à família a a abordagem e o pedido da doação dos órgãos. Este
possibilidade, a opção da doação de órgãos, (...) profissional pode ser da própria equipe de saúde que
ainda existe mitos de coagir a família em relação à está assistindo o paciente ou da CCO. Deve ter
doação, (...) isso não é real, pois doar órgãos é uma facilidade de se expressar e conhecimento das etapas
opção e um direito do consumidor como qualquer do processo de doação e sua duração (quando será a
outro. (...) É importante deixar claro para a família liberação do corpo?), deve ter respeito e sensibilidade
que foi feito tudo que poderia fazer enquanto ao momento de dor que a família vive.
tratamento para resgatar esse paciente para a O local a ser feito o pedido de doação deve ser
sociedade e a família (...). É importante conversar um ambiente tranqüilo, que forneça privacidade para a
com a família em um lugar tranqüilo e caso ela aceite família expor suas duvidas e sentimentos. A mesma
a doação, explicar todo o procedimento até a hora bibliografia ainda confirma que as famílias se tornam mais
da liberação do corpo (...). O paciente morreu para receptivas a doação quando a explicação de morte
parte médica, mas para a família só vai morrer encefálica e o pedido de doação são realizados em
quando enterrar”. situações diferentes.
O Profissional B contou, “... a gente procura Bachega, Hilário e Oliveira (2001) concordam que
orientar o profissional que vai conversar com a o momento ideal para fazer o pedido de doação de órgãos
família que, ninguém vai pedir a doação, nós vamos aconteça em um momento diferente da divulgação da
oferecer a doação. Doar órgãos é um direito do morte encefálica.
consumidor. (...) a postura frente à família muda!. Diz também que, a recepção do paciente e a
Ou seja oferecendo em um momento triste a condição do tratamento antes do diagnostico de morte
possibilidade de amenizar esse sofrimento”. E encefálica confirmado é de fundamental importância para
continuou, “Quando estamos conversando com a que a família aceite a doação. O profissional que fará a
família nada vai nos interromper. (...) é importante abordagem para a oferta da doação de órgãos deve se
esclarecer o que é morte encefálica, (...) isso não faz expressar de forma clara e objetiva, fazendo com que
parte das atribuições do enfermeiro, mas fazemos os família entenda a irreversibilidade do quadro.
quase todas às vezes, porque a partir do momento A recusa familiar, óbito do potencial doador antes
em que a família não a entende não doa. A família do diagnostico de morte encefálica e sorologias positivas
perante a figura que o médico representa, se sente inviabilizam o transplante, terminando o processo de
tímida para dizer que não entendeu, o que não doação. Confirmando, “...a partir do momento em que
acontece com o enfermeiro. A família tem que estar a família responde não, o processo de captação esta
a vontade para dizer que quer ou não doar os órgãos basicamente terminado. Nós avisamos a CNDCO e
de seu familiar. Outra preocupação é de quando vai as equipes de transplantes”, disse o profissional B.
ser liberado o corpo”. A doação sendo aceita, o mesmo profissional
Duarte, Pericoco e Miyazaki (2002), afirma que relatou a necessidade das informações sobre a condição
em pesquisas realizadas anteriormente, as principais hemodinâmica atual, os resultados de todos os exames
barreiras para o aumento dos números de transplantes, e sorologias solicitadas, para então passar a informação
seria a dificuldade de abordagem dos familiares no para o médico da CCO e a notificação formal para
momento da morte cerebral. CNDCO, “...terminou o tempo de pendências,
Cintra, Maciel e Araújo (1997) conta que em precisamos de todas as informações agora (...).
pesquisa realizadas com famílias de pacientes com morte Passado há primeira hora, começa vários
encefálica, estas foram questionadas sobre suas telefonemas e bip, equipes de transplantes querendo
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informações”. por que, qualquer macaco treinado desenvolve
Bachega, Hilário e Oliveira (2001) relatam a qualquer técnica. Então, me sinto um macaco, porque
importância da notificação do potencial doador junto a nem escolher o paciente que vou transplantar eu
CNDCO, informando os dados de identificação, posso, a lista não deixa’. A comparação dele foi
características do andamento do processo e também a grosseira de repudio a lista. Mas, se você selecionar
notificação para as equipes de transplantes. um profissional e treina-lo, ele desenvolve. O
O enfermeiro deve também marcar o horário da enfermeiro é um dos poucos profissionais que tem a
cirurgia da retirada de órgãos e informar as equipes de capacidade de enxergar as coisas como um leque e
transplantes, a equipe de enfermagem do centro cirúrgico, não como um funil. A capacidade de enxergar o
sobre quais órgãos serão captados, orientar a equipe de paciente como um todo, é preparada e adquirida
enfermagem que está cuidando do potencial doador sobre durante a formação. O que é isso? É saber que a
o preparo pré-operatório necessário, verificar o esposa do paciente não veio visitá-lo na UTI porque
prontuário, o preenchimento correto dos impressos ela teve uma crise de pedra no rim, e, o enfermeiro,
(protocolo de morte encefálica, ficha de identificação diante disso, tem que proporcionar algo que distraia
do doador e autorização da família). Op cit esse paciente. Nós somos os profissionais que diante
Segundo o profissional B, “A retirada já tem um deste contexto, temos a formação para enxergar as
horário pré-estabelecido no interior do estado de São coisa dessa maneira, com maturidade e
Paulo, que é seis horas após a notificação da morte responsabilidade profissional”.
encefálica para o CNDCO e, marcado o local de
retirada que é onde esta o doador”. Conclusão
O profissional descreveu que “o fim do trabalho
do enfermeiro na captação de órgãos acontece Na CCO, o enfermeiro exerce um trabalho de
quando o potencial doador é levado ao centro extrema importância, atuando frente a todo o processo
cirúrgico para a retirada dos órgãos”. de captação, desde a existência de um potencial doador
Alem do trabalho exercido diante do potencial até a divulgação do trabalho com grande importância
doador, os profissionais A e B relataram que em suas social.
rotinas, exercem um trabalho importante de educação Dentre as principais etapas deste processo
continuada frente aos profissionais enfermeiros em geral. destaca-se a abordagem familiar, que devera ser
O profissional A, relatou que “atualmente, seu trabalho realizada de maneira ética, respeitando o momento de
é um pouco melhor aceito que há dez anos atrás, dor e perda em que a família se encontra. O profissional
mas que ainda falta à conscientização de seus colegas deve-se posicionar-se de maneira sensível e clara,
em relação à doação e a captação de órgãos.Esse oferecendo a doação como uma opção e uma
profissional era visto como o profissional que possibilidade de proporcionar esperança e expectativa
procurava quem está morrendo”. Contou também que, de vida para outra pessoa que não sabe como será seu
“nosso trabalho é como se fosse de formiguinha, que próximo dia. A doação não é uma obrigação. A família
vai sendo construído aos poucos e nunca pára. Nós deve se sentir livre para aceita-la ou não. A não aceitação
tentamos mostrar aos outros enfermeiros a pela família não implicará em diminuição dos cuidados
importância do trabalho da CCO, ressaltando a prestados.
importância o cuidado desse paciente, que a Ressaltamos também, a importância da
principio, parece que estão cuidando de alguém que conscientização da população. A falta de conhecimento
aparentemente não tem mais nenhuma expectativa sobre todo o processo de captação e doação de órgãos
de vida, mas que, com a doação esse mesmo paciente implica em uma diminuição considerável no número de
pode salvar sete vidas ou mais”. doadores, e consequentemente, nos números de
O profissional B comentou que “o trabalho não transplantes.
é valorizado pelos colegas enfermeiros”. Relatou ainda A nossa indagação por este tema vem suprir uma
que, “os enfermeiros não reconhecem o paciente como necessidade pessoal e social, nos permitindo conhecer
potencial doador, dificultando seu trabalho”, e que o enfermeiro esta substancialmente inserido no
continua, “nossa expectativa é que as coisas estão processo de capitação de órgãos, não fazendo apenas
mudando para melhor, pois dez anos são pouco tempo parte do processo técnico e cientifico, mas, sendo
e o serviço de captação é novo”. E finalizou, “Uma preparado desde a sua formação acadêmica a olhar este
vez ouvi um transplantador dizer: ‘é virei um macaco, potencial doador com uma visão ampliada considerando
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os aspectos familiares, morais e éticos que regem a
doação.
Este estudo desmistifica que o processo de
captação e doação de órgãos não esta somente detido
no modelo médico centrado. O que existe é uma
interação multiprofissional e continua, onde todos
exercem papel único e fundamental. O êxodo deste
processo deve-se ao trabalho de toda equipe.
Baseado no estudo realizado, percebemos que as
CCOs são, atualmente, a melhor maneira de elevar a
obtenção de órgãos. Este conceito vem se difundindo
aos poucos, reforçando a necessidade da divulgação do
trabalho realizado pelo enfermeiro na capacitação de
órgãos.

Referências Bibliográficas

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Recebido em 02 de outubro de 2007 e aprovado em


23 de outubro de 2007.

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