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*Contra o encerramento da escola da Boa Fé (Évora)** – Uma escola

modelar do ensino público de qualidade em meio rural.*

Este é apenas um ‘caso de estudo’ no marco de um ataque


generalizado (a) ao ensino público e (b) à qualidade de vida das
populações mais desfavorecidas do interior;
a Comissão que subscreve este manifesto foi criada espontaneamente
para defender uma escola que é propriedade de todos os
portugueses, convidando o leitor a apoiar activamente esta causa
pública e a combater os ataques em curso contra as estruturas
públicas que funcionam exemplarmente no nosso país.

O encerramento desta escola é sintomático da política paradoxal,


actualmente em curso, para desertificar o interior e isolar as populações
rurais: à construção de auto-estradas faraónicas, onde se atribuem
contratos milionários a mega-empresas, contrapõe-se o encerramento de
escolas e postos médicos locais, impulsionando as populações das
periferias a migrar para os aglomerados urbanos. (Percebe-se ao serviço
de quem estão afinal as auto-estradas que aproximam o litoral urbano do
interior abandonado: do turismo de luxo que frequenta os ‘resorts’ que,
como cogumelos, despontam por toda a parte; enquanto o país se endivida,
os ricos circulam, mas isso são outras contas…)

Há uma semana, ou seja, a menos de um mês das matrículas para o próximo


ano lectivo, e sem qualquer aviso prévio, o presidente da Junta de
Freguesia da Boa Fé, recentemente eleito pela CDU, foi convocado para
uma *’reunião-surpresa’* na escola da sua freguesia, onde compareceram
altos representantes da Câmara Municipal de Évora, da Direcção Regional
de Educação do Alentejo e da Direcção do Agrupamento de Escolas nº3.
Estes comunicaram-lhe unilateralmente que as actividades lectivas de
ensino básico da escola iriam encerrar no final do presente ano lectivo.
Sem mais conversa, sem mais diálogo. O argumento evocado foi o do
‘isolamento’ das crianças. Afirmaram peremptoriamente que, um dia mais
tarde, na Escola Secundária, aquelas crianças iriam desintegrar-se.

Sem o apoio de qualquer relatório técnico, estudo, parecer, ou de uma


simples avaliação feita às crianças por psicólogos, aquelas senhoras e
senhores – que jamais viram a dita escola em funcionamento e jamais
ouviram uma palavra da meia dúzia de professores que lá trabalham – não
tiveram dúvidas em evocar o ‘isolamento’ das crianças para justificar a
decisão tomada. Mas como podem os alunos daquela escola ser considerados
‘isolados’ por quem nunca os observou-analisou-estudou?

O argumento do ‘isolamento’ faz todo o sentido para escolas com muito


poucos alunos, mas não para uma escola onde diariamente convivem mais de
15 crianças e onde as previsões para o próximo ano apontam para cerca de
20 (somando o número total de crianças: do jardim de infância e do
ensino básico). Os professores das actividades extra-curriculares
consideram por quase unanimidade que, (a) pelas excelentes instalações,
(b) pela qualidade do ambiente humano e (c) pela motivação e interesse
demonstrados pelos alunos (que se traduzem nas notas por si obtidas e no
seu excelente comportamento), esta é a escola que funciona melhor, das
várias onde trabalham! Ora, se os alunos revelassem sintomas de
‘isolamento’ (incomunicabilidade, dificuldades de expressão, timidez,
falta de sociabilidade, má educação), isto não poderia logicamente suceder.

Quanto ao funcionamento exemplar de uma escola que tem para oferecer um


produto de elevada qualidade, Vasco Fretes, coordenador pedagógico da
Dança nas Escolas, considera-a mesmo a melhor de todo o distrito de
Évora: “Neste momento, na minha opinião e pelo que falo com outros
professores esta é a melhor escola onde se pode trabalhar neste momento.
(…) É a escola ideal para se desenvolver um projecto estruturado e
consistente onde sei à partida que a escola tem as condições ideais para
proporcionar um crescimento progressivo, em harmonia, tranquilo à
criança. Como coordenador esta é a minha preocupação neste momento. Onde
encontrar escolas como a da Boa Fé?” A opinião dos professores de
música, educação física e de inglês, que também contactámos, vai no
mesmo sentido, pelo que o último afirma: “fico surpreendido com a
referência ao isolamento das crianças. Não o detecto, dado que o grupo é
coeso e não demonstra comportamentos isolacionistas. A escola funciona
bem e a turma, ainda que pequena, é uma excelente turma.”

Redigidos por profissionais independentes e devidamente competentes,


estes são os *únicos* depoimentos fundamentados que existem acerca do
funcionamento da escola da Boa Fé, que, com excelentes condições
logísticas e um generoso espaço de recreio (frutos de investimentos
sucessivos realizados pela Junta de Freguesia), é um dos pilares em que
assenta a luta contra a desertificação de uma freguesia que, contando já
com um novo loteamento aprovado pelo PDM, tem atraído recentemente
vários casais jovens para aí residirem, prevendo-se que venha a atrair
muitos mais. E todos aqueles depoimentos são unânimes: esta escola
exemplifica o que de melhor se tem feito, em meio rural, no combate ao
insucesso escolar e ao isolamento dos alunos; é um modelo que devia ser
estudado e seguido pelas restantes escolas do distrito!

Facilmente rebatido o argumento do ‘isolamento’, a verdade surge-nos nua


e crua: a decisão do encerramento é exclusivamente administrativa. O
‘isolamento’ foi a *mentira*, o *embuste* que representantes nossos (da
Câmara Municipal, da Direcção Regional de Educação e do Agrupamento de
Escolas), unicamente preocupados em reduzir a despesa pública sem olhar
a meios, forjaram para nos iludir. E, em democracia, isso é indigno e
inaceitável. Quem tem por função representar-nos tem por dever
esclarecer-nos e informar-nos; nunca enganar-nos!

*Por isso, continuaremos em luta por um direito que nos assiste:


educação de qualidade na nossa zona de residência!*

*A Comissão de Pais e Encarregados de Educação dos alunos da escola da


Boa Fé,*
1 de Junho de 2010

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