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NOTAS SOBRE O URBANISMO BARROCO NO BRASIL* Neviok Gounawr ies Fiece Aacrildade de Anguitectuns ¢ Urbanicna det Universictrde de Sato Pada * Este cexto fii publicado nox Canlormos de Perguia do LAP. Séric Usbariagie-¢ Urhanisrno, Ssia Pauley: Usiversidaie de San Paulo-Faculdade de Anjurcectues e Urbanismio, #.° 3, Now-Daz,, 1994. Apresentagao E.. trabalho foi escrito pata set apresentado no 1 Congress do Barroco no Brasil — Arquicctura ¢ Arces Plisticas, realizado em Ouro Preto de 25 a 29 de setembra de 1989. O texto foi publicado na Revisra Barreca n.* 15, sob coordemigia de Affonso Avila. 0 original foi thusteade com umas poueas Fotografias, levadas ao Congreso, Agora, com s langamente dos Cadernos do LAP, temes possibilidade de reedit4-lo com um mimero maior de imagens, importantes para a leitor. Esse assunto foi abordade por nds em varios outros trabalhos, nos capiculos sabre & Brasil, em livros referentes ao urbanismo ibero-americano, publicados na Espanha nos anos 80), © temg foi cscolhido porque hi poucos trabalhas sabre o urbanisme do Brasil, do século xvi eda inicio do 7x, Ao mesmo rempa sempre nos interessittam as estudos sobre a imporcineia da arquitecura mais comum ¢ despretensinsa, tf0 significativa, ne centro das cidades brasileiras. Os conjuncos urbanos so um tema fas ante porque se siruam nos limites dessa simplicidade: romado isoladamente, cada um dos edificios que os inte- gram sto despretensiosos stay, em conjunto, so monumentais. Nisso talvez resida o en- canto dessas obras, que terminam por ser uma ligio sobre a importincia do projero arba- nistivo ¢ sua antiguidade no Bras Esse crabatho estd centrado no exame de um exeinplo excepcional: 0 conjunra wrba- no de sobrades, edificado na Cidade Baixa na Bahia, cuja parte mais antiga jd existia em icies do século Yak € as obras foram meados do século xvul, Os alcimas projecos ste do i concluidas ji em meados daquele século, Em termes cronoldgivas, termina por ser estri- niho relacionar essas iniciativas com a culeura barsoca. Mas, no por acaso, as obras daqucle petiode apiesentain detalhes de acabamente que entraram em voga nos periodos Pombalino ¢ Dona Maria L. © conjunto da Cidade Baixa na Bahia comegou a ser edificado em algym * Urbanizagia oo Beasil — capitulos VIN (séculyy XT a XVII) © IX (séeulus XIX © KX) — in De Jeortbuaean at Brasilia — estudios de bird urbane ihera-arecricann y filipina. Coortenader Gabriel Alomar, Fal, Insrituie de Estudios de Aalminvstacidn Local. Paginas 351 4 260 ¢ 37] a 886 — Maule, 1987, Fide Urbana de Hrrasnirigg, HD, Lat Ciadad Sarraca Anis Regivates !57311250. Brasil capitals TV, caordena- dor Francisco Sula, edigio do Conscio Superior de Los Colegios de Arquiteetus — edigio comemerativa do V Cencenatio da Descoberts da América, Mads, 1990, piginas 13a $44, Idem 111-2 - La Cll danade: Ansiliss Rogiowales (1750-1850), caphuilo XL— Baal, piginas 717 a 732 469 470 UNIVERSO URBANTSTICO PORTURUtS anoiniento, antes de 1756, come wim ceaproveitamento de terreno dos jesuitas aos pés do guindaste, muito cede ali instalado pela ordem, ¢ pela farmagin de novos atcrtes, sobre 0 sar, Para guatsta das mercadorias, havia ali, em meadoy da sécule svit, o «€2oberco Gran- dle» eo «Coberte Pequenos, Com a reurbanizicie, os velhos urmazéis desapareceram, nas ficou @ nome, em uma das raas de conjunto. S30 duzentos anos de projets © obras, coerenies entre sie cacla ver mais perfeitas, Ses tileinas etapas jd vdo incluiredifi caracteristicas arquiterdnis neira metade s mals recestes, o exquerna urbanistiey € da p do século xvii e suits rafaes centeam-se no século XVit europeu. De 0, os nounes puardavam estreita telagiio com oF tipas de cargas onais comnts © que permite supor que houvesse espeeializagio de wen, para cada trecho: Cais da Farinha, ‘Cais da Lenha, Cais dis Lougas, ete. No inicin do século sux os nomes imadaram de cardcer, Neste crabalhe, seguindo outros aucores’, utilizames a denomisicio genética de Cais das Amarras, para designare mais importante dos conjuntas, consttuido nesta épaca. Mas, de fay, a denominagio variava, pois cortos trechos etam conbecides como Cais do Ramos & Cais do Pedrosa, Os conjentos ushanos surge 09 Europa nos tiltimos anos do seule 3001, come wna Jorma curacteriscica dx €paca harroca, em que a burpuesia comega a encontear um papel sociil de destaque, ne quadro dos estades nacionals, de hase ccondmica mercintilista, No fexta, procuramos mostar a relacko estreita enrre esse modelo © © do Leuised de Thomunuas Hobbes. Nao ser. un exagero afirmar que © urbanisme do scculo xix na Kusopa ¢ una generalizagie dos critérios definides experimentalniente nos conjuntos utbanos de origem barocs, Paradoxalmente, apesar de su importincia ¢ de sty monumentalidade, essas obras forum praticanente ignotadas pelos extudiosos brasileiros, o que explica @ seu completo desaparecimente. Exe text procura pér em destaque a presenga de abras desse tipo no Brasil ¢ sua imporcancia para todos og pesquisadares. 4 dois mécodos bisicos de se gstudar a produgio attistica basroce: o primeira haga liza as tealizigoes do estado absolucistas » segunda facaliza as ealitagdes da burguesia om formagado, Sido duas formas diversas e quase antagénicas de estudiar as realizagdes de um mesmie periodo. No primeiro caso — 0 mais comum tos ensaios sobre o Brasil —, os vubjetos de estudo sio as obras monumentais, que expressam a concentragio de poder em mins do estado absolutista, No segundo caso, os abjccos de estudo slo alyras até comuns, se comudas isoladamente, que se tornam muito significativas, so cin examinadas em con- junto. No Brasil esses lrimas exemplos nem sempre foram comsideradas como dignos de estude © preservagio ¢, em sta maior parte, foram ¢ continuam a ser destruidos. TERREZ, Giller, dishia~ Velbas Porggrafias, Liveatia Cosmos Editors, Salvador L988. NOVAS SORRE O HRREANISMO HARROCO NO PRaSiD Pain a historiador que facaliza 0 conjunto da soviedade com was contradigées, que nao se prendé # uma tipologia de caricer puramente mortalégice, as dois abjetos sio dignos de escudo ¢ ambos fazem parte de wm conjunto indissociivel. E uni nite pode ser correramente explicade, semt que se considere @ outro. No cise do urbanisme barrocn ¢ rcoes € possivel identificar essas cor rentes contma- ditécias, Hreqientemente, quando se meneiona o urbanisme bartuce, ha referén: a8 palicio de Versalhes, com seus panques, aos nuiltiples cixos de perypectiva dos jardins de dade Versithies edo Casteles de Vaux Ie Vicomte, que podem ser relacionadesecom a multipl dle perspectivay da decoracio das igrejas barrocas ibéricas e hero-amerieanas. Mas possivel estiaelocer uma outra referéncia para 0 uebanisina barraco: a das pragas e conjuntos usbanos. No Brasil, rivemios alguns exemplos impostarues dessa forma de utba- nrismo, que nunca foram devidamente valarizades. Ate os anos 90, a existéncia de um urbanisme barreco no Bra cra ignorada pelos autores. Uns ensaio bem conbecido, de Sérgio Buarque de Holanda’, estubelecia um pari iele entre © urbanismo hispanice © o porcugués, nas Améticas, sintetizando seu conteside enn urn Cielo, que se 1ornou célebre: «O semendor ¢ o ladrilhador:» Naquele eahalho, as formas do urbanisme luso-brasileiro cram incerpreradas como sendo caracteciradas pebi informalidade, cm canteaste cam a regularidade de urbanismo hispano americano. Essa anesma atitude teve Robert Smith! com relagae 4 cidade de Salvaclor, em texto igualmence selebie, emt gate mencionava autores da época colonial, que afirmavam deliciados que «os porcagueses desconheciam a orden’, Mas os clementos empiticos acuinulidos ao longo das dilkimas décadas nos permite identificar algumas formas de realizagdo do urlunismo banoce no Brasil, que mececem alum destaquee cenden contesrar aquelas interpreragées. Os planos de vilas e cidades Os procedimentos adotados pelo gaverno portugués nos dlrimos anos diy século xvH © na primeira metade do século xvi, pata fundacio de vilas ¢ cidades no Beasil, Foran: consolidacos no Perioca Pombalina, de forma a constituir uma linha de suporre cécnico ica urban para uma sétida pol wlora, Aadministeagao pombbalina promoveu a criagio-de uma extensa rede de vilis, através da qual procusau implantar um sistema de estreito centrale, sobre a vida colonial’. “THOLANEDA, Sénpte Buse des Relees dy Boast (1956) “SMITE Rulbure Chester. Angniertun: Cobia (1955), “REIS EHLHO, Nestor Gunlitt, Goatriburrie aa Liradh cs Fuobardo Urbana de Sires: 1300-1720(1968), pp 77 «188, “TIDDNUE faseph, Coaxjuentos Anguritectén icon df Remacionienss (1962). 471 472 UNIVERSO LRBANISTICGO PORTUGUES A implancagio dessa uede de vilas obeleceu 4 determinados padoes de regularidade, gue peemitiam arender 9 objerivos simultancamente civis ¢ militates, Um doctimento eonsi- derado canto chave paras compreensio desse processn ¢a Carta de Criagio da Capisania de Ste José do Rio Negro (Amazonas) mencionada por Paulo Thedim Barreca, erm sew trabalho. denominado, C Phau «a ston crguiternna'. A carta traca as divetrizes bvisicas para a orpaniaa- sto sersitotial ¢ politiew-administrativa daquela eapitania, com énfave nos procedimentos, consideraclos com adequacls para a criagio de vilus. O documento presereve normas para clissico hipedamico (cm xadiez), Mis © tragade de suas e pprasas, abedecendo ae pad inclat ambém oermas pura o tagado dos loxes dentro chs quads © fxa paddies de fiche. tas, qhecondacem » uma sstemitica padronizagao dh prépeia arquitetura, As normas urba, nists fixavam padres para uagado de ras eas formas das quadtas: Kstabeleciam diectriges pars ws ipcegragda cm conjuntos maiores, em cada quadra, No exemplo ideal, os edificios 11. 195 padres des loves ¢ dos edit s, visindo a uniformizagaa das fachadas dos prédios e ham tedos a mesma altura, as mesinas dimens6es de portas ¢ janelas e o¢ mewmoa tipos de Ornamentes, como se fassem partes de um ediffcio maiac Assim, a8 norms de controle estabelecidas pele administragio pambalina nio se Jemitavam a regularidades de tragade da arquitecura-¢ da siscema vidsio, En alguns casos. ainda nao foi devidamente levavam a formasie de sonjuntos urbanos, cuja importincl reconhecida, Os conjuntos urbanos Os conjuntas urbanios consticuen um dos aspectos mais interessantes do urban isme bazroco ao Brasil ‘Traei-se de conjunros de edificios, destinades 1 comeicio e residéncia, ebedecendo a Um projcto commun, de tal worre que, se tomados isoladamente, aptescrtam-se con edit sios de imporcincia rebaiva, Mas, no conjunc, adquirem uma monumencaltdade, que até satae hava sido priviqio cos palicios, lanto em termos arquiteténicos como urbanistigns Do ponto de vista social, os conjumtos urbanos representa ma tramsformagio na vida das cidades, Sioa primeira manifestagae de ascensio social ¢ de poder da burguesia. 0 que caracteriaa eases conjuncos € o fato de que sio uma realizagia.que se desenwolve em dois niveis: 0 das obras arquiteténicas indi iduais privadas c relarivamente simples eo do cunjunté urbanistico complexo, coletivo ¢ de cardter monumental. Os projetos arquite- tGnicos sio enquadrados por um projete de urbanizacéo ont teurbanizagio, que thes confe- re uma nova dimensio plistica e social, *BARRETO, Paulo Thedim. () Piaué ea pt cnpuitetund (1934. NOTAS SOUKE O URBANISMO BARROCO NO HAASIL © melhor instrumento conceitual, para comprcensie da nacureza dos conjuntos ur+ bunts, pode ser encontrado na obra de Thomas Hobbes, denominada ( Leeseei*, Nessa obra Hobbes desenvelve um conceito de estado, que petmite explicitar as nclages entre a formagao da burguesia ¢ o estado absulutista, Hobbes concebe o estade absolutista como senda formado por om conjunte de cidadios, a semelhanga de giganite Leviata, ‘lomados iso erme, ox individuos nada representa; atciculados sob a forma de um estado moderno, adquirem extraordinarior poder. Os conjuntos urbanos barrocos se desenvolvem de uma forma semelhante. Reanidos de acorde com o desenhe de conjunta, os edificies relativamente simples dos parcculares adquirem cardter monumental, que até entao havia sido priviléyio dex edilicios ¢ das pra- gas de cardcer aristocedtice, nas quais se instalavam as prédios publicos, os do clero ¢ os da nobress. Ens contraste com esse esquem, tas canjuntos urbanos barraces so 2 alirmagio do Terccir Estado ca glorificagin do comércio, No Rio de Janeiro, o conjunte mais velevante foi @ do Patio de Carman, atnal praga xv. que obedeceu a projete de José Fernandes Pinto Alpoim, um dos mai imporrantes engenhciros militares, nese perioo. Mas é basicamente ligado a uma praga oficial’, Ca- facreristicas los conjuntos urbanos da segunda metade do sécule xvin, sig também as obras do que cra entio 0 »Fstaco do Grio-Pard € Marankaow. Sie bem conhecidos os conjuntes de sobradas ¢ de casas térreas de Belém ¢ de Sao Luis do Maranhao. Mas 0 exemplo mais soflsticado de conjunto urbano, naquela repizo, é cansticuide pelos edit os da praca principal da Vila de Alcdntara, no Matanlio. Som as dimensdes avaneajadas de outros exemplos, os edificios que envolvem aquela praga-obedecem a normas de relaciona- meno entre si, de extrema elegincia, justilicando um estorgo para sua preservagio Na Bahia, existiram conjuntas urbanos de grande importancia, hoje completamente desuparceidos. Sua cxisténcia foi esquecida, sendy raramente registrada pelos historiade- res, O exemple principal é 0 do antige Cais da Farinha e dreas adjacentes, Em meades do séeule xvii, 4 aleura do antigo guindaste dos jesuftas, foi conscruide na Cidade Baixa um conjunto de quadeas, compostas com cdificios de mesrne mimero de andares e mesmo aval enter externa, a excegda de alguns detalhes decorativos. Os pisos ¢ as abercuras cram nivelados enre si, de tal sorte, que a imptessiu pata © observador era a de um dnico prédio, em cada quadra, Essas consceugdes eram implantadas om terrenos conquistados a0 mar, A histéria desse bairco ¢ a histdria dos sucessives aterros e ampliagées da Cidade Baixa. Ne inicio do-sécule xvi havia apenas umas poucas construgdes, ao pé da colina: a seguit, o mas. Em meados do século havia no Cais da Farinka ascrés quadras mencionadas, come uma ponta avangande sobre © mar. No final do século xvin eram scis quadras de aparéncia regular. Foi entdo estabelecida uma nova linha de aterro, 3 frente da anterion, com uma série de des quadras ¢ trés pragas € uma linha de cais 4 sua frente, " HOBBES, Thomas. 0 Leviani ow mattis, firma ¢ poder de uns essudi ecletastico civil (1983). * TERREZ, Gilberto As eiclater ala Salvador ¢ Rio de jineita wo sévule XVHI (1963). pp. 40-¢41- 473 474 UNIVERSO URBANTSTICO PORTLGUES Essa evolugio ext dacurmentads em desenhos da ¢pocs e foroggratias antigas'. As plan- do século svi, come a de tas ¢ clevagbes desenhadas em periados antetiores, no ini Freriet (1714) ea do Brigadeiro Massé (1715), mostravam ainda a Cidade Baixa com poucas tuas ¢ edificias, em estieitas fileiras, junta ao sope da colina, Mas a elevasio uagada por José Anténio Caldas, ent 1756, apieventava um quadco bem distinto”. Meio século- de explora: io auritera, no interior, havia dinamizado extraordinariamente o comércio da velha capical. desenho de Caldas mostrava dois grupos de grandes sobtados de aparéncia bastante unie forme, em meio a consuugdies irtewulares, Abaixo do Convento de Carma é a dorneste do Forte de Sito Francisco, ¢ primeire deles, o Cais do Dourado, Esse conjunta devia ser o anais . com sobradas de trés andares, antigo e © mais simples, Eram aparentemente cinco quad sem muita uniformidade. Mais ao centro, no sopé da colina, sob 0 Coldgio ea Misericérdia, entre o Cais do Sadré, Cais dos Padres da Companhia e o Mercado de Santa Birbara, apare- cin segundo conjunto, no Caisda Farinha, com ués quadras de grandes sobrados de quatre andares, tendo ao alto, nes telhados, as janelas das cozinhas, com aparéncia de mansatdas. Esse foi passivelmente a nticlco inicial do nsais importante conjunto urbane de periode colonial. No lesenho, de ambos os lados das ptedios da Cais da Parinha, comparecem pe- quenas construgées cérteas, provavelmente simples palpoes, sendo que os de noroeste, junto 20 Cais do Sodré, pertenciam aos jesuitas e foram pouco depois confiscados pela Caroa. F intereyeante observar que esse desenho corresponds detalhadamente as indicagies de urna planta elaborada por José Anténio Caldas, na mesma época, ¢ fs informagaes do proceso que a acompanhava, onde consta que os jesuitas haviam ocupado umacdrea coneigua ao Cais da Farinha, com edificagies precirias que comparecem, na legenda da «elevagdos de 1756, como «Cais dos Padres da Companhia» ¢ «Cais Nove dos ditos, ainda nde acabados. Nessa planta comparecerns mais duias quadrasa noroeste do Caiveda Farinha (4 esquerda do observa: lor}, F prowivel que, sende a diea eonfiscada pela Coroa, fosse mais facil, a partir daquele momento, sua utilizagio em um plane urbanistico. Eni 1796, erm partes do Cais Novo, foi construido o Forte de Sito Fernando, Um desenho de 1786, de autoria de Manuel Rodrigues Teixeira, publicada por Gil- berto Ferrer", moscra ums inovacio. A frea anceriormente ecupada pelos jesuitas — que Aquela aliura ji haviam sido expulses do Brasil — aparece ocupada com novas quadras de cdilicios com quatro andares, semelhantes aos das quadras que haviam side representadas por Caldas, em 1756, Eram entioseis quadras, comedi estendendo-se cntre 6 mercado de Santa Barbara co Cais do Sodvé. A legenda de Teixeira menciana o Cais da Farinha, o da Lenhae o da Misericstdia. As cartas de Vilhena, datadas de 1801, sio ilustradas com uma vista da cidade, que se jos de-quatro andares ¢ mansardas, acredira seja uma adaptagio do desenho de Caldas (1754), atualizado com a inclusao das “FERREZ, Gilberto, Op. ct pp- 6-9. Comsultar tambérn: Universidade da Babia/Ceatro de Estudos da Anquitetura wn Reasil — Evalucdo Fisiar de Saloados " BERREZ, Gilberta. Op. ett, pp. 26, 27, 28, 64 665. © FERREZ, Gilberto. Op. ete. pp. 50.¢ 51. NOVAS SOURL G URAANISMO DARKOGO NO BRASIL principals construgées surgidas nessas décadas, Vilhena mostra o Cais Doutado, com cince quadras, ¢ 0 conjunto do Cais da Lenha, com © Cais da Cal, o da Louga ¢ 0 da Farinha, terminando nos limites do Cais de Santa Barbara. Sepue-se una série de construe gfes heterogéneas (também indicadas nos desenhos de Caldas) ¢.a velha Alfindega, com trés corpas, ae pé da Praga da Cidade ¢ do guinduste (local do acual elovador Lacerdab. Em 1811 foi demolido o Forte de Sao Fernando, construindo-se em seu Jugar & prédio da «Praga do Comer + hoje Associagse Comercial, considerado como um marco da introdugio do estil: neockissico no Brasil, A obra, exccurada por imiciativa do Conde dos Arcos, foi imaugurada em 1816, Estabeleceu um limite ¢ um digno arremace, do lade noraeste, para o conjtunto dos prédios do Cais da Fatinha. A sua frente foi construielo um: ais, com escaciaria semellante 4 do Pério de Carma, an Rio de Janeiro, ¢ ae projeco da Praga do Comercio, em Lishoa, fice a0'Tejo. Entre 1840 ¢ 1870, no alinhamento ca nova praga ea frente das quadras existentes, foi feito um novo averro ¢ construia-se uma ava linha de cais. chamada Cais do Pedroso ou das Amarras, ¢ ina segunda linha de quadras com sobrados de 5, 4 ¢ 3 andares. ssa etapa é mais dacumentida porque dessa época ji contamoes com uma série de fotagrafias, que mostram o Cais das Amarras, com quadras de sebrados de cinee undares ¢ mansardas. Eo mai imponence dos canjuotes. As fotos se- guintes mos wm a continuagto das obras na diregae sudeste, até a nova Alfindega, inau gurada em 1860, outro reo da arquitetura neoeldssiet! A fotografia mnais antiga, mostrando @ conjunto a partir do mar, é a de B. Mulock. Mostra 0 Cais das Amarras com scus sobrados, a Mercado de Santa Barbara ¢, na extrerni= dade, o nove prédio da Alfindeya, ainda inacabado*, Une vista semelhanite, tomada por Mare Fertez em 1874, mostra o.quadre completo: haviam sido construidas varias quadras entre o mereado de Santa Birbara ea Nova Alfindega. A primeira, a narneste, junto ao wide apenas crés andares, a menas de am edificio, fhzendo face para a Alfindega, na Praca das Princesas, com quarto, come um arremate no conjuunto"’. Nese perlado, varios fordgrals localizaram © conjunto, além de Mulock e Ferrer: Schleiet, Camilo Veda, Gaensly ¢ Lindemann. As fotografias ainda existentes, reunidas em um magnifice livro, por Gilberto Ferrea' mercado, com sobradas de quatro andares; as erés seguintes, a sudeste, com pr Mestiam vistas a partir da mar, como as pragas ¢ ruas interiares. Muitas foram tomadas de alto, mostrando, na parte interior a0 pé da colina, os celhados do casario mais antigo, em arruamentas mais desordenados ¢, junto a0 mar, 2s linhas imponentes dos grandes sobrados, como uma barteira de racionalidade formal. A insisténcia com que @ xema foi tratado mas fotografias mostra uma canscis cia de sua importincia, desaparecida "RERREZ, Gilberto, tibia: Vlbus Fotografias — 1858-1960 (2988), “FERREZ, Gilherto, Op cit. p32. ' FERREZ, Gilherto, Op: cit p. 132, " FERREZ, Gilberto. Op. cit, algumas das foros que ilastiam este trabalho fovain copiadas por nés na Biblioteca Naciansl do Rio de Janeiro, mas a maiae patte term origent no excelente documenciria apresentado bor Ferree na seu livia, 475 a oy 476 UNTWERSO URBANISTICH PORTUGUES amis tarde, quando 0 conjanto foi inteiramente destruido ¢ sua meméria desapareceu. Alinha de cais de sécule xvin uansformou-se na Rua Nova do Comercio (arualmente Av. Portugal e Rua Conselheiro Dantas) ¢@ do século ix, na Rua Miguel Calmom. Porque os quarteiroes da primeira metade do século xo cambém foram destruidos. Entre 1869 1873 foram claborades projetos de novas ebras, para ampliagao ¢ melhoramentos sto por 10 da Bahia, promovende a construgdo de mais uma linha de sobrados, 3 frente do Cais das Amarras. Mas como ebservou Paulo Gunindo Azevedo", os interesses dos proprieté- ties de crapiches, que resistiant 4s desapropriagées, bloquearam a cxecugéo de-quase todas 0s projetos de porta, até 1913, quando foram inauguradas as primeiras obras. Nessa ¢po- ca, foram feiras desapropriagdes ¢ transformagies no ~Bairra Comercial», cujo carter fe completamente alterad. Nas décadas entre 1940 ¢ 1960 os vellos sobrados eneracam em deterigragao foram demolidos, As dimensdes Em meados de século svin, Salvador era ura das maiores cidades das Americas ¢ a rerceita do mundo portugués, Compreende-se que as representantes nuiximes de seu comércia desejassern apresemmar ans visitantes uma imagem monumental. A extenste inicial do Cais da Parinha, em 1756, com seus sobrados, seria da ordem de 120 metros, Masa aleura das edificagdes, enrte 20 € 25 metros, jd conferia ao conjunto, una escala aprecisivel na paisagem. No final do século 20710, eram cerca de 250 metros de cais cem meados do sécwlo pasado, quando foram conclufdas as obras da Alfandega nova eo Cais das Amarras, cerca de 450 metros, incluinde-se as és pragas € as quadras com cdilicioy reyglares. Essa ovassa edificada impressionante, destacando-se pela regularidade, concrastava com © casario desordenade das dreas envaldirias. Unindo os elementos — os trés edificios piblicos com suas pragas ¢ as quadras de sobrados — haviaa linha do cais, elevada sobre a linha cl dyua, cerca de mecro.e meio, cam seu paredio de pedra ¢ uma rua ampla, 3 freme dos sobrados, para circulagio de mercado- cas ¢ pessoas. E curioso observar que os prédios mais antigos eram ox mais alios. As-cons- (anges realizadas em meados do século 20x, ji sem as caracteristicas decorativas barrocas ‘ou rococs, tinham menor niimero de andares: quatro sem mansardas © depdsitos. Os padtdes gerais urbanisticos, como as dimensécs das quadris € 0 alinhanento dos edificios, se mantiveram. Mase ndineto de andares se reduziu, As quadras entre o mercado de Santa Barbara ca Alfindega tinham editicios menares, As mais antigas tinham ediffcios maiores, com 25a 30 metros de altura. © AZEVEDO, Pauls Orn ht Aiftudega 1 Mereudta: Mfemria ¢ Restanragio (19854. NOTAS SONNE O UKHANISM@ BARROCO NO RRASIE Compleco e conjunto, a perspectiva para quem cireulava justo ae cais era sem dtvi= da impressionante. Com os pésedireitos da época, entie 4 ¢ 5 metros, ¢ 0s telhados avantae pe iP jados, ocupados com mansardas, os sobradas maiores tinhain dimensdes semelhantes a prédios de apartamentos de 10 andases, em oossos dias. Os edificios, eanstruidos sobre 6 lintite de frente dos terrenos eran» eontemplados, do cais do mat, como uma barteira ip imensa, mpressionante em seu vollime, come scrian, 50 ¢ 200 anos depois, a avenida Central ¢ Copacabons, para os habitantes e visitantes do Rio de Jancira, no século xx, Os agentes Os conjuntas pressupunhary a atuagio simultanea e articulada de duas formas de agentes: os agentes individuais, proprietérias ¢ canstrutores de seus edificins @ um agente de conden, com poderes para deflait¢ impor um projet colecivo, projeto de urban zagS0 ou reurbanizagao, Os primneiros ¢ram por corto os grandes comercianves da Cidade Baixa. Mas quem seria, no ciso, @ agente coordenadan cule xis, « Conde dos Arcos, governador da Bahia, deliniu o projets da érea da Praga do» Sabe-se que, no inicio de sé Comercio © promeveu a conscrugao do edift y em que hoje se instala a Associagdo a Comercial. Mas quem promoveu a construsio das primeiras quadras, jd existences ern 17562 F quem dou continuidade ao projeto, a0 longo da segunda metade do sécule xv ¢ ha primeira metade do s€eislo xx? Podemos farmular uma hipstese, que talver responda, em parte, a essay questoes, Como abservou José Anténie Caldas, pelo menos alguns dos terrenos daquela iirea eran vexipados pelos jesuitas, que premoveram os ptimciras atersos sobre a marinha. Apds a expulsio dos padres, em 1759, essa drea fai confiscada pelo governo portugués, que teve oportunidade pata Ihe dar destinagie de conjunto, inclusive coin novos aterros, dilerente= menre de outros sectores, ocupados 20s poucos, por empreendederes isolados. Essa forma de intervengio oficial, na cpoca, pode cer dado erigem ae projeto urbanistico. Uma vee estabelecido, darlhe comtinuidade teri sido mais fei Sobre esse canjunto extraosdinacio, cabem alyumas observagées, Tudo indica secem os sobradus de maiar porte, com cineo andares € mansardas, os mais anrigos. Quanto & implancagio, en quadras compactas ¢ regulsres, de aparéncia simples ¢ unifyrme, lem- bram imediacamente as ras da Baixa Pombalina, em Lisboa. Até mesma as placas indicarivas das cravessas, mostradas com destaque em uma foto selecionada por Gilberto Fecrer, lem= brain suas cangéneres cm Lisboa. A aparéncia dos editicios nao foge a casa comparagio, Sia todos de desenho quase idéntico, com suas aberturas ¢ molduras perfeltamente ali- ahadas, come se tragadis por uma tinica vio. Observando-se os detalhes das molduras inham tinds wm perfil bem movimentado, que poderia ser considerado como de gosto D, Joao V. sobre as jamelas, pode-se constarat que algumas, provavelmente as mais antigas, 477 478 UNIVERSO LRBANISTICG vorrugues Nos prédios poweriores, vio sendo adoudes perfis mais simples e, em alguns casos, ji de menos do sdeulo xx, urremates ean atca pleno, de gosto neoelissice. “Tudo nos leva'a supor que o canjunte do Cais da Farina e do-Cais das Amactas Fosse jade Baixa de judo, menos um faco- paradoxal: os quarteirées mais antigos de Cais da Farinha uma capia ou inflogneia ecbani Lisboa ica direta dos planos pombatinos, da sio maix antigos que o projcto de Lisboa. Ji cxistiam em 1756, quando apenas se cogitava da reconstrugae de Lisboa, destruida pelo terremoto de ano anterior, Uma parre do cone junto urbanistico da Coldnia antccedeu ao da Metrépole. Essa constatagde nos propde dleumas questaes de dificil resposta, A primeira delas ¢ sobre a possibilicdlade de yerem elalsorados projetos dessa envergadura na Bahia, por velta de 1750, A resposta, nesce caso, €afirmativa, A Bahia contava, nessa epoca, com profissio- ais de mairo bons njvel ¢ cor a Auls de Arquitetura, que the asseguravam um padstio téenico adequado. Além disso, 0 tracado de Madri levou a Coroa de Portugal a cransterir pata o Brasil unt conjunco excepcional de engenhciros ¢ cientistas, que se nfo cuidavam das frontciras, parcicipavam de obras arquitecénicas ¢ urbanisticas de maior importincia Mas hi oucra hipstese, mais abrangente: as solugies adotadias na Baixa de Lisboa no tefiam um cardter cio cirewastaneial ovas seriam froto de uma consciéncia urbanistica comum, dos principals construtares portugueses dessa época, que se vinham formando nas etécadas anteriores, Nesse casa, o parencesco entre 0 conjunto da Bahia e a de Lisboa, como dos conjuntos pasteriores de Belém, Sao Luts ¢ Alcantara, seria uma relagao com familia mais ampla ¢ niio uma obra do acasa. Um cendrio © conjunto urbano da Gidade Baixa cra como um gtande cenatio, para quem che- gasse A Bahia, por mar. Mas era rambém um cenirio para a vida dos sectores ligados ao. capital comercial, na Cidade Buixa, geralmente controlades diretamente por portugueses natos. Se os palicias de portadas barrocas da Cidade Alta, construfdas em. fins do sé- culo xvii e infcio, do sécule xvin, foram uma afirmagio de poder dos grandes proprietdrios rurais da Bahia, o conjunto urbane da Cidade Baixa foi uma aficmagio do poder de seus rivais, os comerciances da segunda metade do sécule xvin ¢ do inicio do século xx. (Os primeinos se afirmavam por obras monumentais isoladas e pragas com edificios aficiais Os tiltimes por obras simples, integtadas em conjuntos monumentais ¢ pragas com edi- ficios destinados a fins comerciais: mercado, Praga do Comercio ¢ Alfindega. Um paralelo se impae: o da construgio de avenida Central, no Rio de Janeiro, entre 1904 ¢ 1907, que escondeu 9 labirinto de Rio colonial ¢ imperial. Mas a grandiasidade do conjunto de Bahia, a antiga capital, comegado 150 anas antes, nada ficava a dever ao Rio de Janeiro, a capital que Ihe sucedeu. NG@TAS SOTRE O UKSANISMO taxROCH NO BRasin Enquadramento de estilo {Uma questae que ica para serapsofundsca€ 3 dos limites do enquadramento eat istico cesses conjuntos, © patio. de Catine no Rio de Janeiro € mais facimente enquadravel come barraco, As consirugies que 0 cercam perinitem uma refeténcia mais explicita a0 repertério da époe: Mas-os conjuntas de Belén, Sto Luise Aledntara deixam margem a davidas quanto 8 forma O partido urbanistico € expressamente pombalino, Mas os ediflcios, com freqiéncia, sio do séculy sax « ostentamy detulites decarativas que éscapam ao repercirig rocoes ¢ se relacionam muitas vezes ao newchissico, 0 mesore acontece vom o conjunto da Cidade Baina, em Salvadon © partido necessariamente a de umn conjunta da barrove cardio, Os edifieios. em sua parte, apesar do despojamenta, ex! walhes decoratives de gosty rococé Mexmo os constcuidos em meados do véculo xis, frente a0 Cais das Amarras, tinkain inareas exgilisticay do bartoco tardia, Mas os editcios priblicas nas extemida des ram neocldssicos ¢ as Gitimas obras ulicapassavamn os lirnite ctonoldigicos da cultura barvoca © “wpresencasan alguns deralhes neoclissicos, Nem por isio 0 enuadramento urban faiew desses conjunios deixava de ser barroco Se devemosazcr um enquadramento estiliticn da Cidade Baie, temas que reconhecet a exiencéa de dus etapas. A primeits és dev micleo do Cais ds Farinha ele mundo doc culo xvi, Posfemios enquadrar ese canjunto camo hartacen, Antecede a reconst 20 de Lisboa aprosimasse de padsio do Cais Dourado e dos convos de outnseidades i dpoca, Asegunda etapa ¢ a de conjunto do Cais day Am Arras, construido na primeira metide do séeulo xox, a fierce do ancerion, Obedeve aos padroes da Lishoa pesmbulina, eam stray de algumas déca- ths. Senda vm conjunto em uma fise de mudangis, seus ediidos mais antigos eém detalhes foc0¢6 © os Uhtimos ji apresentim ornamentos necehissicos, Conclusio ‘importineia dos cxemplos de urbanisme bareoce ne Brasil, especialmente dos eon Juntos urbanos, est exigir um maior aprofundamento das pesquisin sobre os casos mage Significitivos Fsesestudossn especialmente ungentes porque sma parte impoteante des- “s acervo foi desieufdo, pela difculdade do reconhecimento piblica do valor dessa forina de projeto, Foram preservados os edificion momumentais, como igrejas e engenhos, foram preservadas as pragas de cariter dnonumental, mas foram desiruidos alguns dos principais comjuntos urbanos. Os poucos remanescentes continuam ameayados de desaparecimento. 479 480 UNIVERSO URBANEISTICO PORTUGUES Bibliografia AZEVEDO, Paulo Ormindn. A aifindega ¢¢ Mereada: Memérie ¢ Restaurapie. Salvador, Secretaria de Plinejamento, Cituain "Leenslogia, 1985. BARRETO, Poul’ heli. «0 Piaui ea sua Arquitecuras, Rersria ae SPUN, Rie de Janvies, 2187-224, 1958. CENTRO DE BSTUDOS DA ARQUIVETURA NA BAHIA «Evolucso Fics de Salvaders, studor Paistuet, Sofvadie, UPBA, 2103), 1980) FERREZ, Gilberto, As yidades de Salvador # Rio de faneiro no sécute XVEFF. Riw de Janeuto, IHG | Baba: Velbas Fosogeafias — 1858-1900. Rio ue Janeize, Kosmos, 1388, FRANGA, |. Augusta, Lid Pombalina © 0 Mbominime. Lisboa, Hariame. 15, GIEDION 8. ipa, Tiempo y Arguizorwne-el favarn de una nueva wadicién. Barcelona, 1 Coepti, HOBBES, Thomas, Leriaid axe masénia, farmace poder de wm cviads etesidscce civil 3. ed. Sa0 Paulo, Able 1983 (Os pensaores) HOLANDA, Sérmo Buargue Ue. Raizes do Bra. 3° ed. Ricrde fancero. Jose Olympia, 1956. HUDNUT, Joseph, Conjure Adgaitectomicas def Rerewinionce. (ay ROSEMAL, He HUDNUT, Josep. Uo~ (pia p reatidad om fa includ de Renacimienso. Buca Aires, Ediciones 3, 1962, REIS FILED, Nescor Goulart, Cou mibuigas au inate ay Evobepao Urbana elo Brant: 1500-1720. $30 Paulos Planeirs, 1968, SMITH, Rabese Chesten Angutecnne Cofimial Salvador, Progressa, 195% (As Ares na Bahia | parte 1963, Gi inigie 0 conijuneo urban do antipy Pasion do Carma, no Rin de Janeiro, vendo ao fundo o conyente ei Ipseia da Carmac, 3 exquerda. a ena dos Governadares, pnjetada «€ constratds por jnté Fernandes Pinta Alpoim, Obra concluida enw 1744, Fonte: Biblioteca do Rio dc Jancica sete Fonte: *Mapa Tapographica da cidade de 8. Salvadoes levantada wat por Carlos Augusto Wepl i Placa de um grecho acupada vom conjunsa desubrados, aa Rahia, etn meados da sécule soi 4 Ulanta do Cais do Saded, da Caria, da Miscricdedia, da Farinha ¢ eugs anes). Fone Pettee, Gilleita, As rrdaades ce Salvador ey Bio de feneira nasécstio wis, 481 NOTAS SOBRE O URBANISMO NO BRASIL. PRIMEIRA PARTE: PER[ODO COLONIAL* Nesror Gouiaar Res Fun Faculdade de Arguitectura-¢ Urbaniomo da Univercdaate de Sto Paulo 7 Este texte foi publicada nos Cadernos de Posuise dn EAP, Serie Urbanizagio ¢ Uthaniseno, So Paulo: Universidade de Sio Panlo-Faculdade de Arquitecturs ¢ Urbanism, n.° 8, Julho-Agosto, 1995. 1. Nota introdutéria EF. uabalho foi escrito no inicio dos anos 80" © tem as qualidades e os defeitos de une texto datado, Deftirox de expor pontos de vista que jd nfo s80 08 do autor e de uth Perspectivas ctitieas hoje superadas, Qualidlades de demonstr aperfeigoamento tedrice ¢ metodolégico {o que se pode admitir em um caderno de Pes 05 jrassos de um esforga de quisal © documentar um das primeiras aplicagoes a toda a hisedrla da urbanizagio no Brasil, em especial ao quadro da urbanizagav dos séculos xv, aux & XX, dos esquemas feéricas © conceituais que haviames claborade © utilizade nas décaday anteriores, para o estudo das séculos xvi e xvii?, Nesta nora inesodutéria, abordaremos brevemente algunnas questées teéricas, com ‘oricntayio diversa de trabalhos anteriores, No mais, o teato é telitivamente simples ¢ espera mos que jrossa ser de algama utlidade para os escudantes de Arguitctura c dreas afin Fste testo toma por base uma linha metodtaldgica que temos desenvolvido desde o Info dos anos 60, na Faculdade de Arquitctuta ¢ Urbanisio da USP. Para nés, 0 urbanis- mo €uina forma de intervengio sistematica na organizagio de espago urbane de ama Sociedade, Seu desenvolvimento no Brasil sé pode ser explicade quarida se rem em vista as “suracteristicas da politica de urbatiizagzo, nas diferentes escalas eniveis da configuragio.da spay, do intra-urbano ao regional e a6 espayo das telagbes internacional, como ty rela. gies das metrépoles e colénias, Para nés nao existe um urbanismo sespontineos ¢ outro vdirigidon, Qualquer uma das formas ¢ determinada socialmente, sendo sempre conligurugies espaciais, da estruturagao ches relagies sociais. As formas do urbanismo sao producos das ages de agentes sociais, Sia slecerminadas portato pela vids social ¢, por sta ver, determina as-condigies de apropria- ‘io, produsio, uso ¢ transfor magio do espago. Qualquer uina das formas reptoduz as condi- ‘oes de estruturagao da prépria sociedade, Ambas, «espontineas« ou dirigidase, conticmam 4 Regan os prjetos dos grispas sociais hegemonicus. A diferenga entre essas formas reside “tees sesomia alguns ls puolteras abordalas cma Hiulaio eda ale Bal Com algumas diferen- Pane dae stv de base part un aplaute densa cesponsabiliade em obra velerivn pus em, Ba ens Final daquela dessa. (4 RES FILE. Nest Goulart. Ean vbana tn feed F580 fo FAULUSE 1966 « Woneita, S30 Paulo, 1970, ALOMAR, Gabriel fac). Be Taste a Beastor,lestivaca dle Adkiiniseacibn, Local, Mauls, 197 Eases temas jd haviarn sida abordidas sob outta perspectiva em REIS FILHO, Nestor Goulart. Souphe Urhous do Brash Wonca, IVF © Qundre da Anputerrt ea Bratt Sic Paula, Perspectiva, 1969. 485 486 UNTVERSO URBANESTICO PORYUGUES no grau de cliboragio técnica € tedriea ¢ no grau de consciéncia ¢ cacréncia dew atores enwolyi- clos, dependendo dos objetivns fixados nos programas, em planos ¢ projetos. Para nds 0 urba- oisme nde pade ser apenas ceserita em suas formas, mas deve ser explicade-em sews finndamen- lus sacials, isto ¢, politicos, econdmicos ¢ culturais, em situagdes histiricas concrecas’. Uma autra questio deve ser aprescntada. Ao estudarmos a urbanizagie dos séculas Avia xvig, no podemos esquecer que a relagio colonial era nevessariamence uma relagio de dominagio © que s6 pode ser conhecida, quando se examinam os dois Iados dessa dominasio, como ei qualquer relagio, Normalmente a Colania é deserita camo simples tesultado de decisbes tomadas pela Meitépole. Na prética, havia uma adaptagio reciproca cnire Metrépole ¢ Coldnia, uma adaptagao dos agentes sociais envolvidas em cada um dos polos, em uma relagao interdependente, ainda que acencuadamence desigual, Os objetivos da colonizagio, que se definiam como-uma politica queestracurava os inceresses europens, deviam adaptar-se i realidade da Cold nia. E transformavans esta, inclusive cm seus aspec- tos sociais, procurande subordiné-la a scus objetivos. Mas havia limites. Os limites dessa politica eram as condigies de reprodugio © ampliagio da empresa colonial, de forma a garantir ¢ ampliar a stia hucratividade, Havia uin tertitério tansformade pela colonizagao, no qual a sociedade, passiva ou ativamente, no iimbico da sistema ou nos intervalos deixa- dos por seus limites, ampliava e transformava suas préprias condig6es ¢ exigia uma reproposigao freqiiente das formas da relagao colonial. Nesse sentido, a relasiio alterava também a Metrépole, enquante poréncia colonizadora, A hisuéria da urbanizagio colonial éa histdeia das configuragdes assumidas no espa 0, plas relagties dessa sociedade, no processo de colonizagdo, A histéria de urbanismo colonial é a histéria dos esfirrgos para controle do espago urbano dessas relagBes, no qua- dio da dominacio colonial. 2. Séeulos XVI ¢ XVIT — A urbanizagio e o urbanismo em uma retaguarda rural © Brasil foi submetide a uma politica colonial que visava organizé-lo como uma jmensa retaguarda rural para os mercados europeus. Essa foi a diretriz bisica da politica colonizadora, até quasc 0 final do século xvit_ A experiéncia colonial portuguesa sc enqua- drava, até ente, nos padrées de coda expansao comercial curopéia, visando a conquista de bases em territérios jd densamente povoados, onde a produgao organizada fosse capaz de > Aw usarracs essas expsessées, partimos do ponte de vista de que as fendmenos socials abrangens tedas a5 chaser interpestoais, Sia poreanto mais abrangentes ¢ incluem ns aspects econfimices, politicos © eulrais. ‘Sob exe ponto de vista, nae existem fenimenas sociais que ado sejam ecandmices, politicos e culrurais, Ou ja, io existe duas eategosias separadas de fendmenos: os sociais de um lado, ¢ os econdimisns ele sitry 1s aspectos econdmicos ou politicos de relagdes sociais. NOTAS SORRE G LebANISMO KO PRASEL oferecer producos de intense do mercado europea, com exprewivas vintagens financelnss, Asinagio no nove territétie era bem divetsa. Qcupado por usa populagio pnucn densa, com baixo nivel recnaligica ¢ escassa proclugao, can tnt (erriéria de dimensdes equivalen ses asda Eniropa ¢ recaberto er sua maior parte por Horestas de dilfeil penetragao, a texrinéie rio colocava pata os portuguescs problemas completamente diferentes. Nas primeiras decadas de colonizagi odo descobrimento do Bra- pds a oficializa Costa, as chamadas Feirorias, sil, 68 portuguéses instalaram apenas pontos fortificados n com poucos habitantes temporiries, encurceyados de mobilizar os indigenas para 0 corte de madeitas de: tinturaria, Politica semelhanre foi adocada pelos naveyadores franceses, que durante sodo a sécule xvi disputatam aos poriugueses o doo wo dewss costa, praticando o . Para vencer a anesme tipo de colonizasao ¢ cuntrulando vastas porgoes da costa brasil Lonapeticio, # govertio portgués decidiu adotar uma politica maiv ativa ¢ repetir no Bra- sil, cnt ini cxcala, © modelo de colonizagae que liavia adotado nas ilhas da Madeiea « Agores, Nesse prajctn, estavan presentes (umbdin os interesses dos banqueiros yenoveses ¢ dos comerciantes Mamengos, quase sempre assoclados nos parttgueses, nessa epoca, A Coro dividin o cevrité cmt eapiranias, que distribuiu enure ligucas da Corte, de fon a estiniular « iniciativa dos empresirios, aos quais cram tansferidos os nus de projeto colynial. © ebjetive era desenvolver 4 produgao de cana ea consceugio de engenhos de agticar, com base ng latifiindio e nu trabalho esciave. © projeto includ entre scus ponies fundarmentais a criagio de vilas nas capitanias, hem come a transposigae de populagao caropéia, que se instalasse no nove territério de forina permanence Qs documentos de concessao das cipitanias guardavam catacteristicns de organizae cio feudal, mas sews objetivas etam hasicamente mercintis, Os donaticios podiam fandar vikis, conveder cerras agticolas ¢ urbanas, estabelecer caxas e restringir a direita de enteada ou saida de territério. Eram obrigados a investir na acupagao ¢ desenvolvimento da ece- hom local bem coun defender a capitania contra ataques interns ¢ externas. Respon- sabilidades mititares da mesmo tipo cram estendidas aos cancessiomrios dos larifindias, extes concedidas por meio de cactas de sesmatias. Os resultados dese projeco foram de inicio bem limitades. Para ampliae os resultades dese programa, em 154% a Coroa decidin fundar uma cidade na capitania da Bahia, que havia sido perdida pelo donatirio, ¢ nela instalar um Governo Geral para 0 Brasil, com Eto apoio militar, agricola ¢ mercantil. O esquema assegurou base solida para o dominio da Coldnia, Em 1567, cam iniciativa somelhante, foi fundada a cidade do Rio de Jancito, para controle da costa sul da Brasil, depois da expulséo dos franceses, que ji haviam instalado uma poveagio permanente no leeal, © controle de toda a costa do teeritério que hoje corresponde a0 Brasil complerou-se apenas no inicio do. século xvii, oom a fundagio de Sao Luis no Maranhio (1612) « de Belém (1616) na entrada de cio Amazon Era muito simples o esquema politico-adn istrative, Os donatatios, ¢ par seu inter- mnédio os grandes proprietitios rurais, eram apoiados diretamente, de tal sorte que, defen 488 UNIVERSO DABANISTICO PORTHGEBS dendo seuy interesses, impulsionavam o pracesso de colonizagio, segunda os objerivas da politica vagada pela Coroa. Em termos escratégicos, podemos dizer que eram todos mobi. lizados de forma eficiente, para a concretizagin dos abjetivas estabelecides. Nesse quadro, pode-se perceber uma preacupagio de rclativa descencralizagao administrativa, com auco- nomia da populagio, que redundou na grande autonomia das cimaras municipais © mes~ mo waveidades, instaladas nas capitanias que retornavam ao dominio da Conta, core ett Salvador, junto a0 Govetno Geral, Este atuava com quadros reduzides, mais como um polo de apaio ccondmico ¢ politice-mifitar para o efctivo daminia das costas ¢ das terras inceinas, do que come uma base de consrole dos coloni fator de estimulo do que come um facor rescritive; mats como apoio na lula contra os ores, Acuava mais como um concorrenies extetnes © os indigenas ce que contnt ox calonizacores, Os interesses destes coincidiam intcicamente com os da Corea. Fesa politica, aplicada com sucesso, sssegutou para Portugal © monopslic da produ- gio mundial de agiicar®, Mas trouxe tambéon situagies de eonllito, que tetminaram por provacar transformagoes profandas na propria Colénia. Encre 1880 ¢ 1640 a Coto de Portugal esteve anexada a da Espana. Essa uniao facilicou os trabalhos de dominio da Costa e da Amazbnia contra franceses e ingleses. Mas flamengo, que acé entao no Norte da Europa. Procurande acarretou uma rapaira da alianga tradisional com 0 com respondia pelo refino ¢ distribuigio do acaicar brasil recnperair as steas dreas de produgio, os holandeses atacaram Salvador em 1624. Expulos no ano seguinte, em 1631 ocuparam Pernambuco € alguns anos depais esrenderam seu dominio, chegando a ocupar a regitio catre o rie Sio Francisco e Sao Luis do Maranhio. Sua expulsio ororreu em 1654. Mas jl ence os holandeses, com expetineia adquirid: ha gueses, que haviam sido expulsos dos rervitérios porrugueses pela Inquisigso. Essa mmudan-

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