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UMA INTRODUÇÃO AO ENSINO BÍBLICO


SOBRE A MULHER
Gênesis 2 e 3

O papel da mulher na família da fé tem sido discutido com muita intensidade nos
últimos anos. Grande parte da discussão gira em tomo da ordenação e o consequente
exercício do oficialato eclesiástico por parte das mulheres. Isto, por sua vez, é devido,
em grande parte, ao crescimento de igrejas que ordenam as mulheres ao oficialato,
permitindo-lhes o exercício do ministério ordenado.

Esta é uma discussão importante. Contudo, é comum que, enquanto a validade ou não
do ministério ordenado feminino é discutida, o ministério não ordenado das mulheres,
que é tão importante quanto o ministério ordenado no contexto eclesiástico, seja
esquecido.

O propósito desta revista é desviar por um tempo os olhos desta discussão para
analisar a vida e o ministério das mulheres da Bíblia, a fim de que todos, sobretudo as
mulheres, percebam a grande importância do trabalho que essas mulheres realizaram,
a fim de imitá-las no que deve ser imitado e de fugirem de seus equívocos e pecados.

Quem sou eu? Esta é uma das mais simples e também mais importantes perguntas
que alguém precisa responder durante sua vida neste mundo. Uma boa pergunta para
iniciar esta revista, portanto, é: Mulher, quem é você? Ou melhor: Mulheres, quem são
vocês?

Pelo fato de que a realidade é multifacetada, esta pergunta pode ser respondida a
partir de perspectivas diferentes. Quem olha a partir de uma perspectiva biológica, a
responderá de uma forma. Quem olha por uma perspectiva estética, responderá de
forma diferente.

A outra resposta chegará do observador que olha pela perspectiva sociológica e assim
sucessivamente, de acordo com os demais aspectos da realidade. Esta lição
introdutória pretende responder esta pergunta à luz do paradigma do relacionamento
da mulher com Deus, analisando o que a Bíblia tem a dizer sobre esta questão.

1 - A MULHER É UM SER CRIADO – GÊNESIS 2.18-25


Parece estranho estabelecer um pressuposto como este, mas é necessário. Vivemos
em um tempo em que o ser humano não é mais visto como um produto das mãos de
um Deus pessoal soberano, mas como um produto de um processo evolutivo
autogerado.

Visto que a concepção sobre a origem possui implicações profundas para a vida
humana, é muito importante reafirmar a fé na criação do ser humano, e, portanto, da
mulher.

Segundo a narrativa bíblica, a mulher possui sua origem em Deus. Isto possui
algumas importantes consequências.

A) VALOR INERENTE
Há muitas culturas em que a mulher tem sido vista como um ser inferior ao homem.
Isto, porém, é inaceitável para qualquer pensamento e prática que se denominem
cristãos, pois a primeira importante implicação da criação da mulher é o seu valor
inerente.

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Quando Deus decidiu encontrar uma companheira para o homem, não havia, em toda
a criação, alguém que fosse igual a ele e pudesse ter com ele um relacionamento
pessoal. Então a solução foi uma nova criação, que foi tirada da costela de Adão.

A pessoa criada neste momento foi transformada por Deus em uma auxiliadora
idônea, com quem Adão poderia constituir uma só carne (Gn 2.20-24; Mc 10.8), unidos
por Deus (Mt 19.6). O adjetivo idônea (Gn 2.18) aponta exatamente para o fato de que
a mulher possui o mesmo valor do homem.

O significado literal da palavra idônea é: correspondente, conforme, aquilo que


corresponde. Ao afirmar que a mulher foi criada idônea, o escritor de Gênesis nos
ensina que a mulher foi formada como uma "contraparte" do homem, e, embora lhe
seja oposta, no sentido de complemento, é uma semelhança perfeita dele.

Gerard e Harriet Van Groningen afirmam:

A passagem [Gn 1.26-31] claramente indica que, na sua


origem, a fêmea foi criada da mesma substância do macho; ela
não é inferior quanto ao seu ser ou pessoa. Ela não é inferior
como portadora da imagem, representante ou espelho de Deus
na vida diária. A mulher é uma pessoa tanto quanto o homem.
Assim como o macho, a fêmea é feita à imagem e semelhança
do Deus triúno e, consequentemente, tem o seu próprio
relacionamento pessoal e espiritual com Deus. Neste particular,
ela é absolutamente igual ao homem.1

Assim como o homem, a mulher foi criada à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26-
27). Isto significa que a mulher é um ser tão valoroso quanto o homem.
Consequentemente, agredir a mulher, desvalorizá-la, humilhá-la ou tratá-la como
inferior significa atingir diretamente a Deus, de quem a mulher é imagem.

B) PROPÓSITO DEFINIDO
A segunda implicação da criação da mulher por Deus é o fato de que, como ser criado,
a mulher deriva seu significado e propósito do seu Criador. Este é também um
pressuposto que deve ser reafirmado em nossa época.

A necessidade de reafirmação deste ensino bíblico se dá porque, segundo o senso


comum da sociedade pós-moderna, significado e propósito são determinados pelo
sujeito, ou seja, não há significado e propósito previamente definidos para a existência
humana, mas o próprio sujeito estabelece o seu significado e propósito.

O ensino bíblico da criação da mulher não nos permite pensar dessa forma, pois uma
das implicações desse ensino é que o propósito da existência humana não é definido
pelo individuo nem ou pela sociedade, mas por Deus. Sendo assim, o significado e o
propósito da existência da mulher é determinado por Deus. E que propósito é este?

• A glória de Deus: Este é o propósito mais básico de todas as coisas criadas.


Glorificar a Deus não significa dar glória a Deus, de forma que ele possa ficar mais
glorioso do que ele é. Deus é plenamente glorioso. Glorificá-lo significa funcionar como
um espelho que reflete as suas perfeições, de modo que elas sejam vistas pelos seres
humanos e Deus seja honrado. Todas as coisas foram criadas, primariamente, para

1
Gerard e Harriet Van Groningen. A família da Aliança Editora Cultura Cristã, p.94

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refletir as perfeições do seu Criador (Rm 11.36), e a mulher também existe para ser
um espelho que deve refletir as perfeições do seu Criador.

• Os mandatos da criação: O segundo propósito da criação da mulher diz respeito


aos mandatos da criação; os mandatos espiritual, social e cultural. Como ser criado
idôneo ao homem, ou seja, da mesma natureza dele, a mulher foi criada para um
tríplice relacionamento: um relacionamento com Deus, um relacionamento com o seu
semelhante e um relacionamento com as demais obras criadas por Deus.

Ela também recebeu o mesmo mandato que seu marido


recebeu. Ela deveria cultivar o jardim com ele, responsabilizar-
se por ele, juntamente com marido, com a autoridade dada por
Deus, ser frutífera e povoar a terra. No capítulo 2, ela,
juntamente com o seu marido, recebeu o mandato espiritual de
continuar a andar com Deus. Ela e seu marido são proibidos de
comer do fruto da árvore. Ambos recebem o mandato sodal de
serem frutíferos.2

Sendo assim, cabe também à mulher cultivar estes três relacionamentos para a glória
de Deus.

• Auxiliadora Idônea: Este é um propósito bem particular para o qual a mulher foi
criada. O texto da criação da mulher afirma que a mesma foi criada como auxiliadora
idônea para o homem. Essa expressão reflete que, ao criar a mulher, Deus desejou
que ela revelasse a glória de Deus exercendo a tarefa de auxiliadora.

Esta palavra que, nos tempos modernos, é, com frequência


olhada como se fosse uma diminuição da mulher, tem, na
realidade, um tom extremamente significativo. Ela é empregada
especialmente para descrever a ação de Deus que vem em
socorro do homem. Deus mesmo é o ajudador dos pobres (SI
72.12); dos órfãos (SI 10.14 / ]ó 29.12); daqueles que não
podem contar com mais ninguém (SI 22.11).3

Vemos, portanto, que Deus deu à mulher um papel honroso e digno, que é executado
pelo próprio Deus. A mulher se coloca ao lado do seu marido como auxiliadora, assim
como Deus se coloca ao lado de seu povo.

2 - A MULHER É UM SER DECAÍDO


Tudo seria muito bom se a história tivesse parado no ponto anterior. No entanto, a
narrativa bíblica revela ainda, sobre a mulher, que ela é um ser decaído. Gênesis 3
narra o episódio da queda, em que a mulher deixou-se levar pelas sugestões de
Satanás, influenciando o homem à queda.

Este capítulo revela ainda que, tendo caído, a mulher passou a estar sujeita às
danosas consequências da rebeldia contra Deus. As principais consequências da
queda, para nosso estudo, são as seguintes:

A) A MULHER, ASSIM COMO O HOMEM, É UM SER CARENTE DE SIGNIFICADO.


Uma das danosas consequências da queda sobre o ser humano foi distanciá-lo de
Deus (Is 59.2), e uma consequência do distanciamento de Deus é a carência de
significado.

2
Gerard e Harriet Van Groningen. A família da Aliança: Editora Cultura Cristã, p.94.
3
Hermisten Maia Pereira da Costa. Homem e Mulher: imagem de Deus. Obra não publicada

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O ser humano, tanto o homem quanto a mulher, foi criado por Deus para viver para
Deus e satisfazer-se completamente nele. Por causa da queda e da consequente
separação de Deus, o ser humano perdeu sua capacidade de viver para Deus e
satisfazer-se nele, tornando-se um ser que vive à procura de significado para a sua
existência e de satisfação, tentando responder a pergunta: quem sou eu?

E na busca de significado para a vida, o homem e a mulher tendem a depositar sua


confiança em elementos que são insuficientes para trazer plena satisfação. Na
linguagem bíblica, temos a tendência de cavar cisternas rotas, que não retêm as
águas (Jr 2.13).

As fontes mais comuns em que as mulheres de nosso tempo têm buscado sua
satisfação plena são: a beleza física, a satisfação profissional, relacionamentos
amorosos e aquisição de recursos materiais, dentre outras. Isso não é mau em si, mas
não pode tomar o lugar de Deus.

B) A MULHER, ASSIM COMO O HOMEM, É UM SER CARENTE DE PROPÓSITO.


Além de um ser carente de significado, pode- se dizer que o ser humano decaído é um
ser carente de propósito. Uma vez que o ser humano foi separado de Deus, em virtude
da queda, ele perdeu o propósito de viver para Deus e tornou-se um ser em busca de
propósito para a vida neste mundo.

Somos, assim, tendentes a estabelecer propósitos diferentes do propósito real de


Deus para nossa vida. Dentre os propósitos principais estabelecidos pelas mulheres
de nosso tempo, estão: a satisfação emocional, a satisfação dos prazeres físicos e a
admiração de seu próprio nome.

3 - A MULHER É UM SER REDIMÍVEL


Graças a Deus, a história das mulheres não termina no ponto anterior. A narrativa
bíblica nos apresenta a mulher como um ser criado e decaído, mas também como um
ser passível de redenção.

Ainda em Gênesis 3, no capítulo que narra a queda, é possível encontrar a promessa


de salvação para o ser humano, promessa esta que seria cumprida por meio daquela
que tinha sido instrumento para a queda, a mulher (Gn 3.15). Gênesis 4 nos apresenta
Eva crente na redenção, imaginando ser seu filho Caim o cumprimento da promessa
do Senhor (Gn 4.1 — literalmente pode ser traduzido como: Coabitou o homem com
Eva, sua mulher.

Esta concebeu e deu à lu£ a Caim; então, disse: Adquiri um varão do SENHOR).
Toda a narrativa bíblica nos fala de mulheres que foram alcançadas pela graça de
Deus e foram redimidas por ele. Lídia é um exemplo de uma mulher que, pela graça
de Deus, chegou ao conhecimento das verdades salvadoras do evangelho (At 16.14).

Uma consequência da salvação das mulheres é o seu chamado para o ministério. As


mulheres são chamadas não somente para a salvação em Cristo, mas para o
ministério cristão.

É preciso compreender bem o significado da palavra ministério. Esta é uma palavra


que, infelizmente, tem perdido seu significado abrangente, para se referir unicamente
ao ministério do ensino ordenado, ou ministério pastoral. Contudo, o significado desta
palavra é mais abrangente.

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Ela se aplica ao exercício de todos os dons espirituais no contexto eclesiástico.


Quando afirmamos que as mulheres também são chamadas ao ministério, estamos
afirmando que, como redimidas em Cristo e habitação do Espírito Santo, as mulheres
são dotadas de dons espirituais, que devem ser exercidos para a glória de Deus e a
edificação da igreja. Deus não apenas chama as mulheres à salvação em Cristo, mas
também as convoca para o serviço (ICo 12.4-7; IPe 4.10).

A discussão sobre a ordenação feminina, embora relevante, pode prejudicar nosso


entendimento sobre a abrangência ministerial. O fato de que Deus não tenha chamado
as mulheres para o ministério ordenado (lTm 2.11-14) não significa que ele não as
tenha designado um lugar frutífero em sua seara.

Há muitas mulheres na Bíblia que são exemplo de pessoas que compreenderam seu
lugar na seara de Cristo, exerceram seus dons e foram instrumentos de Deus para a
sua glória e a edificação de sua igreja. Ester serviu com sua liderança (Et 4.14); Marta
serviu com a sua hospitalidade (Lc 10.38);

Maria Madalena, junto com outras mulheres, serviu a Cristo durante a sua encarnação
(Mt 27.55-56); Dorcas serviu com sua liberalidade nas doações (At 9.36); Priscila foi
chamada por Paulo de minha cooperadora (Rm 16.3); Trifena, Trifosa e Pérside são
mencionadas como tendo trabalhado muito (Rm 16.12); e Paulo ordena às mulheres
idosas que sirvam como mestras das mulheres mais novas (Tt 2. 3-5).

CONCLUSÃO
Uma análise sobre a mulher que deseja ser fiel ao ensino das Sagradas Escrituras
precisa considerar a tríade CRIAÇÃO-QUEDA-RE-DENÇAO. A mulher é um ser criado
por Deus. Como tal, é inerentemente valorosa e dele deriva seu significado e
propósito. Contudo, a mulher é ser decaído, e como tal, um ser carente de significado
e propósito, e tende a buscar significado e propósito fora de Deus.

Mas, graças a Deus, a mulher é um ser redimível. Deus transforma a vida de mulheres
e as redime, chamando-as também ao serviço cristão.

APLICAÇÃO
Esta lição possui aplicações tanto para as mulheres quanto para os homens, maridos,
filhos e filhas. As mulheres são convidadas a uma reflexão sobre si mesmas. Lembre-
se de que você é um ser criado, decaído e redimido. Reconheça o propósito de Deus
para você e, com alegria, cumpra este propósito, para a glória de Deus e para a sua
plena satisfação nele.

Lute contra as tentações do mundo que desejam que você redefina o significado e
propósito da sua vida. Satisfaça-se completamente em Deus e em seu propósito.
Dedique seus dons e talentos a Cristo e mire-se no exemplo das mulheres bíblicas
que viveram suas vidas como oferta suave ao Senhor.

Os maridos e filhos são convidados a uma reflexão sobre sua visão ao trabalho das
mulheres. Aprendamos a valorizar o trabalho de nossa esposa e mãe. Sejamos gratos
a Deus pela vida delas e a elas pelo trabalho de esposa e mãe. Cuidemos de animá-
las neste trabalho, para que elas se sintam realizadas cumprindo a vontade do
Senhor.

AUTORES: VAGNER BARBOSA E FILIPE FONTES

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