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CURSO PREPARATÓRIO PARA O EAP/ 2015
CRIME MILITAR
A Carta Magna em seus artigos 124 e 125, § 4º, deixou a cargo da lei ordinária, definir o que vem a ser crime
militar.
Assim, o Decreto-Lei n. 1001/69, que dispõe sobre o Código Penal Militar (CPM), traz em seu bojo o que vem a
ser crime militar. Todavia, a norma não definiu o conceito de delito castrense, e sim, apresenta um rol taxativo de
situações que se consideram crime militar. Portanto, para se entender o conceito de crime militar, basta compreender os
artigos 9º e 10 do CPM, com prevalência do art. 9º, que trata dos crimes militares em tempo de paz.
No escopo de definir o crime militar, a doutrina estabeleceu 04 critérios classificatórios:
EM RAZÃO DA MATÉRIA (ratione materiae) – matéria própria da caserna – dupla qualidade no ato e no agente:
deserção (art. 187)
EM RAZÃO DA PESSOA (ratione personae) – reside da qualidade militar do agente: abandono de pessoa (art.
212). É o caso da letra “a” do inc. II, do art. 9º do CPM.
EM RAZÃO DO LOCAL (ratione loci) – em lugar sujeito à administração militar: apologia (art. 156)
EM RAZÃO DO TEMPO (ratione temporis) – crimes praticados em tempo de guerra (art. 10), bem como, durante o
período de manobras ou exercício etc.
Todavia, os doutrinadores concluíram que nenhum dos quatro critérios abarcaria todas as situações consideradas
crime militar e sedimentaram pacificamente que:
“CRIME MILITAR É AQUELE QUE A LEI DIZ QUE É”
Conclui-se, então, que o fato será considerado crime militar se enquadrar-se numa das situações previstas no art.
9º do CPM.
Acrescente-se à conclusão acima que, além do fato concreto se enquadrar no art. 9º, obviamente, a conduta do
agente tem que se amoldar a algum tipo penal militar (crime previsto no CPM).
1. Crime propriamente e impropriamente militar
Uma questão amplamente explorada pela doutrina, e recorrentemente cobrada em provas, é a distinção entre
crime propriamente militar (ou crime militar próprio) e crime impropriamente militar (ou crime militar impróprio).
Neste giro, mister saber o que são as duas espécies de delito castrense, pois além da controversa doutrinária,
ambas recebem tratamento constitucional e infraconstitucional diversos. Cita-se a seguir alguns permissivos legais
aplicáveis apenas no caso dos crimes propriamente militares.
1) A permissão para a prisão do militar, mesmo estando ausentes o estado de flagrância ou o Mandado de Prisão
expedido por autoridade judiciária competente, conforme dicção do art. 5º inc. LXI:
Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime
propriamente militar, definidos em lei.
2) No art. 18 do CPPM existe a previsão de detenção do indiciado do IPM, pelo prazo de 30 dias, prorrogáveis
por mais 20, sendo a prisão apenas comunicada à autoridade judiciária e, para estar em perfeita sintonia com a Carta
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Magna, a doutrina majoritária esclarece que a permissão contida no artigo, aplica-se somente ao militar investigado por
crime propriamente militar;
3) A condenação anterior por prática de crime militar próprio não gera reincidência ao agente que vier a
responder a processo por crime comum, na justiça comum, nos termos do art. 64, II, do CP.
Artigo 9º, inc. II: os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum,
quando praticados:
Letra “a”
Suj. ativo Suj. passivo Comentário (s) Exemplos
Militar da ativa Militar da Nos termos do CPM, os crimes praticados por militar 1) Dois
(art. 3º, § 1º, do ativa. da ativa contra militar da ativa serão crimes militares, militares de
EMEMG – Lei sendo esta a única circunstância exigida pela lei. folga e à
Estadual n. (Malgrado, vide item 2.1 - particularidades e paisana se
5.301/69) Militar da variáveis sobre o art. 9º). agridem numa
reserva festa particular;
Militar reconvocado. Obs: Militar em situação de atividade significa militar
reconvocado da ativa, e não, militar em serviço (letra “c”). Citam- 2) Um Cadete
Obs: equipara- se aqui dois casos em que o STJ declarou a do 2º ano do
se a militar da competência para justiça comum, por entender que CFO ameaça
ativa para os militares envolvidos não estavam em serviço, outro discente
aplicação da lei portanto, não estariam em situação de atividade (HC do mesmo
penal militar n. 119813/08-PR e conflito de competência n. curso, dentro
(art. 12 do 26.986/07-SP) de uma
CPM). república.
A figura do assemelhado, prevista no art. 21 do
CPM, não mais existe em nenhuma Instituição Militar
(art. 232 EMEMG).
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Letra “b”
Suj. ativo Suj. passivo Comentário (s) Exemplo
Militar da Militar da Observe que o sujeito ativo não precisa estar em Um Sgt PM, de
ativa. ativa. serviço, nem atuando em razão da função, basta que folga, no
o fato seja praticado em lugar sujeito à Administração interior do
Militar. HPM (Hospital
Militar da Militar da Lugar sujeito à administração militar é aquele local da PM),
reserva reserva em que os regramentos (normas) militares e a ameaça de
reconvocado. reconvocado. estrutura hierárquica são respeitados e nitidamente morte o
percebidos. médico que o
Quem comanda é a mais alta autoridade, atendia.
designada por outra autoridade competente. As
funções aí exercidas são delegadas de acordo com os
postos e graduações dos militares (ex: 1º BPM, DAL,
CPM, HPM, CTPM).
Não são lugares sujeitos à administração militar:
sedes das justiças militares, clubes e entidades
associativas, a saber: COPM, CCS-PM, AOPM,
ASPRA etc.
Letra “c”
Suj. ativo Suj. passivo Comentário (s) Exemplo
Militar da Militar da O fato deve ser praticado pelo militar em serviço ou O militar que
ativa. reserva atuando em razão da função (quando o militar de causa uma
folga, impulsionado pelo dever militar ou acionado por lesão de
alguém, intervém numa ocorrência). corporal
Militar da Militar Pode ocorrer crime militar, mesmo quando o militar culposa no
reserva reformado deixa de atuar quando deveria fazê-lo, como no caso agente (civil)
reconvocado. da omissão diante de uma situação de flagrante delito que está sendo
(arts. 29, §2º do CPM, 301 do CPP e 243 do CPPM). algemado
Civil. Comissão de natureza militar e formatura = militar durante uma
em serviço. ocorrência.
Letra “d”
Suj. ativo Suj. passivo Comentário (s) Exemplo
Militar da A alínea “d” segue os mesmos O Cadete PM que profere
ativa. Militar da critérios da alínea “c”, visto que o palavras ofensivas à dignidade
reserva, militar da ativa em período de do pedagogo da EFO (Unidade
Militar da reformado ou manobras ou exercício, certamente, Militar), durante um
reserva civil. estará em serviço. acampamento militar.
reconvocado.
Letra “e”
Suj. ativo Suj. passivo Comentário (s) Exemplo
Militar da Administração Ocorre quando o militar viola bens Policial militar, de folga,
ativa. militar patrimoniais pertencentes às instituições que passando defronte a
militares ou que se encontrem sobre a uma viatura de
responsabilidade destas (apreendidos, policiamento estacionada
Militar da alocados, etc). ao lado de uma base
reserva Por ordem administrativa militar tem-se comunitária, decide, por
reconvocado. que se trata da própria harmonia da insatisfação salarial ou
instituição, abrangendo sua outra motivação, danificar o
administração, o decoro de seus veículo oficial com um
integrantes etc. Assim, delitos contra a bloco de concreto.
ordem administrativa militar são “as
infrações que atingem a organização,
sua existência e sua finalidade, bem
como o prestígio moral da Instituição
Militar”.
Artigo 9º, inc. III: os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares,
considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
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Letra “a”
Suj. ativo Suj. passivo Comentário (s) Exemplo
Militar da reserva (QOR) ou reformado Administração Considere os Um militar
(QOR) (art. 3º, §§ 2º e 3º, do EMEMG – Lei militar mesmos reformado que
Estadual n. 5.301/69). comentários feitos durante seu
Vide art. 13 do CPM e art. 82, § 1º, CPPM. sobre o art. 9º, II, recadastramento
“e”, atentando-se no CAP (DRH)
Civil: O civil pode ser julgado pela justiça que agora o sujeito resolve quebrar
militar federal (art. 124 da CF), mas não será ativo não é mais o um computador
julgado pela justiça militar estadual (art. 125, § militar da ativa. da seção que
4º da CF e súmula 53 do STJ). Portanto, o fazia seu
civil só pratica crime militar contra a Instituição atendimento, por
Militar federal. entender que o
serviço estava
demorando.
Letra “b”
Suj. ativo Suj. passivo Comentário (s) Exemplo
Militar da Militar da ativa Observe-se que Durante um
reserva esta hipótese festival de sorvete
Militar da reserva reconvocado exige como no interior da
Militar elementar que o EFAS, um militar
reformado Funcionário do Ministério Militar ou da crime ocorra em da reserva furta o
Justiça Militar (juiz, promotor, escrivão, Oficial local sujeito à aparelho celular
Civil de justiça etc – art. 27 do CPM), no exercício da administração de um aluno do
função inerente ao seu cargo. militar. CFS.
Obs: não existem mais os ministérios militares,
agora as Forças Armadas estão subordinadas
ao Ministério da Defesa.
Letra “c”
Suj. ativo Suj. passivo Comentário (s) Exemplo
Militar da reserva Militar da ativa A alínea “c” se resume Durante um
aos casos em que o acampamento de
militar estiver em militares, o fotógrafo do
Militar reformado Militar da reserva serviço em situações evento, sendo um militar
reconvocado extraordinárias, como: reformado, injuria um
prontidão, vigilância, discente (militar),
Civil observação, exploração, chamando-o de frouxo e
exercício, muxiba.
acampamento,
acantonamento ou
manobras.
Vide conceitos no item
2.1.3.
Letra “d”
Suj. ativo Suj. passivo Comentário (s) Exemplos
Militar da Militar da ativa O fato pode ser praticado em 1) Um Ten PM QOR,
reserva qualquer lugar, desde que seja contra insatisfeito por ter sido
militar em função de natureza militar (ex: parado numa blitz, desacata
Militar da proteção da pátria), ou no desempenho o Sgt PM, Cmt da Operação,
Militar reserva de serviço de vigilância, garantia e chamando-o de “sargentinho
reformado reconvocado preservação da ordem pública de merda”.
(policiamento ostensivo – art. 144, § 5º
da CF), administrativa ou judiciária, 2) Um civil desobedece à
Civil quando legalmente requisitado para ordem legal de um militar do
aquele fim, ou em obediência a Exército Brasileiro em serviço
determinação legal superior. de segurança pública no Rio
de Janeiro (emprego
Em síntese, fato praticado contra militar excepcional).
em serviço.
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2.1. Particularidades sobre o artigo 9º
2) Militar federal X militar estadual: considerando que a própria Constituição Federal, reservou artigos diferentes
para definir os militares estaduais (art. 42 da CF) e os militares federais (art. 142 da CF), a doutrina e jurisprudência tem
entendido que o fato envolvendo tais militares será crime comum.
3) Policial Militar X Bombeiro Militar: crime militar, pois ambos pertencem à instituições militares estaduais e
podem ser julgados pela Justiça Militar Estadual.
4) Os casos em que a vítima militar for pessoa do sexo feminino X Lei Federal n. 11.340/06 (Lei Maria da Penha):
Cita-se por exemplo um casal de militares da ativa, ou mesmo pai e filha. Neste caso, a doutrina tem defendido que se
o caso concreto afetar somente a esfera íntima da família será crime comum e, se abalar os pilares da hierarquia e
disciplina militares (afetar a instituição militar) será crime militar.
5) Fato envolvendo militares estaduais pertencentes a instituições de Unidades Federativas diferentes (PMMG X
PMSP): será crime militar, nos mesmos termos indicados no tópico 3 acima. E, o autor será julgado pela Justiça Militar
Estadual da Unidade Federativa em que for lotado (Súmula 78 STJ).
Cuidado: conforme já asseverado anteriormente se for crime doloso contra a vida de militar, o caso não se
enquadra na exceção do parágrafo único do art. 9º, sendo, em regra, de competência da Justiça Militar. De igual modo,
se for crime culposo contra a vida, continuará sendo crime militar se enquadrar-se numa das situações do art. 9º.
Assim, nos termos da lei e conforme entendimento extraído dos vestibulares da Polícia Militar tem-se o seguinte:
CRIME VÍTIMA NATUREZA DO COMPETÊNCIA PARA
CRIME JULGAMENTO
2.1.3 Art. 9º, III, “c”– Conceitos (extraídos do livro “Comentários ao Código Penal Militar” de Jorge César de Assis ).
Formatura: é o deslocamento marcial, cadenciado ou não, de tropa militar, devidamente comandada.
Período de prontidão: é um estado de alerta, em que as tropas estão prontas para operações.
Vigilância e observação: sob o ponto de vista jurídico se confundem, traduzindo um estado de espreita, de
constante observação.
Exploração: é o reconhecimento de um terreno, o seu balizamento para a passagem das tropas.
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Acampamento: é o estacionamento temporário das tropas, que se abrigam em barracas, diferenciando-se do
acantonamento, que é o estacionamento das tropas, também em caráter temporário, mas aproveitando-se de
instalações adrede existentes.
Exercício ou manobra: são funções de adestramento militar, que as tropas realizam periodicamente para
destreza. O período de manobras ou exercício deve ser entendido como o espaço temporal compreendido entre o
aprontamento da tropa até sua liberação.
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2 Militar Federal X Militar estadual ou Crime comum
funcionário da JM em
LSAME
3 Militar Estadual X Militar federal ou funcionário Crime militar
da JM em LSAMF
4 Militar Estadual X Militar estadual ou Crime militar
funcionário da JM em
LSAME
5 Militar federal X Militar federal em LSAMF Crime militar
(crime doloso contra a vida)
6 Militar federal X Militar estadual em LSAMF Crime comum
(crime doloso contra vida) ou LSAME
7 Militar estadual X Militar estadual ou federal Crime militar
(crime doloso contra vida) em LASMF ou LSAME
8 Militar federal/estadual (crime X Funcionário da justiça militar Crime comum
doloso contra a vida) (em qualquer lugar)
9 Civil X Militar federal em LSAMF Crime militar
10 Civil X Militar federal ou estadual Crime comum
em LSAME
11 Civil X Militar estadual em LSAMF Crime comum
Legenda – LSAMF: lugar sujeito à administração militar federal; LSAME: lugar sujeito à administração militar estadual.
Por fim, citam-se algumas situações que se parecem crime militar e não são. Preste bastante atenção, pois,
não são raras as vezes em que aparecem nas provas, “pegadinhas” neste sentido.
AUTOR VÍTIMA NAT. DE CRIME
1 Militar da reserva, reformado ou X Militar da ativa, de folga e
civil fora do lugar sujeito à
administração militar.
2 Militar da reserva ou reformado ou X Militar da reserva ou
civil reformado em lugar sujeito à
adm. militar.
3 Militar da reserva ou reformado ou X Civil em lugar sujeito à CRIME COMUM
civil administração militar (salvo,
no caso de funcionário do
ministério ou justiça militar,
no exercício da função).
4 Militar da ativa, de folga e fora do X Militar da reserva, reformado
lugar sujeito à administração militar ou civil.
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