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POESIA, POTÊNCIA DE VIDA E SAÚDE MENTAL

Jorge Bichuetti

Eis a ousadia de Deleuze: afirma ser a literatura e a poesia, na sua visão, a única
psicoterapia legítima.
A poesia é caosmótica: um espaço de desterritorialização que flexibiliza ou inibe a força
das linhas do instituído, gerando um alisamento e consequente emergência do novo, de
linhas de fuga, da diferença e de subjetivações livres.
Não é a poesia um mero instrumento de sublimação do reprimido, como pensava Freud;
ela possibilita a superação dos entraves e potencializa a vida produtiva e desejante.
Como?
Ela anula a hegemonia da racionalidade técnico-instrumental;
Substitui o pensamento lógico e impõe uma nova realidade mágica;
Fomenta acessos a virtualidade,e libera a homem da sua escravidão ao real concreto-
objetivo;
Dá expressão ao inconsciente e a fantasia;
Permite ao psiquismo um funcionamento onde o intelectual e o lógico são suprimidos e
a vida funciona através do sensível e do perceptivo, do afetivo e do intuitivo;
Pensa e sente artitiscamente, onde era vigente o império do científico.
Ela abre caminhos para a invenção do inédito viável e das utopias criativas.
Transforma a dor em expressão artística, excomungando nossos demónios.
Nela, não estamos cerceados pela impossibilidade de um real castrador; nem
acorrentados aos limites do possível.
É, a um só tempo, uma linha de fuga e um suporte para fermentação e sustentação das
linhas de fuga.
O psiquismo e a subjetividade conseguem acessar os campos da produção desejannte e
adquirem um canal frutífero de escoamento das frustrações.
Sua capacidade terapêutica é inegável.
Contudo, produz saúde, não só por seu poder terapêutico, produz saúde porque gera
uma nova subjetivação, novos horizontes e novos campos de vida.
O que pode a poesia?
Pode desbravar universos de ternura e suavidade, de sonho e magia... E neles, todos
podemos ousar os voos da felicidade e as cambalhotas que , de forma moleque, dribla a
dor e a infelicidade.
Ave, poesia! Bentido portal do amanhã!...
Um espaço de ruptura com o tempo e com o espaço quadriculado...
E a experimentação mágica do mundo erguido na simplicidade do amor e na força
guerreira da solidariedade, generosa e fraterna, utópica e porvindoura.

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