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História da Cultura e das Artes I

Profª Marta Esteves

RENASCIMENTO (1450 – 1600)


 Movimento cultural na Europa que se iniciou em meados do séc.XV e que terminou nos finais do
séc.XVI. Existe alguma dificuldade de consenso entre os historiadores relativamente a estas
datas, podendo haver variações de acordo com o autor.
 Este movimento desenvolve-se principalmente em Itália devido à competição cultural entre as
suas cidades-estado, embora o primeiro centro difusor musical tenha sido a escola franco-
flamenga no norte da França.
 A Itália estava dividida em cidades-estado que rivalizavam entre elas e os seus governantes
procuravam mostrar grande ostentação, construindo palácios decorados com novas obras de
arte e tendo capelas com cantores e instrumentistas.
 A família, a educação dos filhos, as propriedades, os estudos, os cargos públicos e políticos e o
sucesso passaram a ser fundamentais na vida dos renascentistas, havendo uma nova atenção
aos valores humanos por oposição aos valores espirituais.
 Estes príncipes e governantes trouxeram para Itália os melhores compositores e os músicos
mais talentosos da França, Flandres e Holanda.

Origem

 Interesse súbito e redescoberta e recuperação da arte e cultura das civilizações da antiguidade


clássica.
 Os contactos com essas culturas do passado estavam limitados apenas aos monumentos, à
escultura e à poesia. A música foi repensada com base nas informações retiradas das obras dos
antigos filósofos, poetas e teóricos.
 Este movimento levou ao Humanismo - o humanismo renascentista que propõe o
antropocentrismo - ideia do “homem ser o centro de tudo”, ao contrário do teocentrismo, que
defendia "Deus no centro de tudo".
 O humanismo foi uma corrente de pensamento que se baseou nos valores da sabedoria da
antiguidade clássica e no renascer das línguas clássicas, da filosofia, da gramática, da retórica,
da poesia e da história.
 O Homem passou a ter uma nova imagem de si – como um ser livre e autónomo. Começou a
pôr tudo em causa, nomeadamente as suas vidas, costumes, estruturas sociais e políticas e a
orientá-los pelos padrões da antiguidade.
 A cultura ocidental sofre grandes mudanças e a sociedade centra-se agora no Homem e na
Razão – estamos na época do conhecimento racional, que coincide com a época dos
Descobrimentos, que irá trazer ao Homem uma maior liberdade, mais afirmação e maior poder
sobre o mundo.
 Haverá progressos ao nível da:
o Ciência – descobertas na Astronomia, Geografia e Medicina.
o Arte – com muitas mudanças passando-se a afirmar como uma arte individualista.
o Comércio – aumento das trocas comerciais com novas terras.
o Classes sociais – aparecimento e desenvolvimento da Burguesia (comerciantes e
mercadores)

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Crises

 Também ocorrerão algumas crises, nomeadamente:


o Igreja – teremos a reforma e a contra-reforma.
o Política – várias guerras por disputa de territórios.
o Religiosa – Deus ou Homem.
o Cidades – grande crescimento, aumento da população, fome.
o Doenças - Peste.

Influências na Música

 O Humanismo influenciou todas as artes, sendo a música a mais tardia.


 A maior influência vem do Tratado De Trinitate, de Boécio (c.480-525) - intelectual romano,
estudioso das ciências, literatura e filosofia grega – que será o principal transmissor da cultura
antiga para a Europa através da tradução de dezenas de obras do grego para o latim.
 Assim nasceu o interesse e se iniciaram os estudos sobre a teoria musical grega. Depois deste
deu-se a redescoberta de muitos outros tratados gregos que foram traduzidos para latim. Ex:
Política de Aristóteles, A República de Platão.
 Surgem assim novos tratados de compositores renascentistas cujo conteúdo é baseado na
leitura dos tratados antigos.

Teóricos e teorias

 Adrian Willaert (1490-1562) – compositor flamengo a viver em Itália. Na década de 1540 foi um
dos pioneiros da nova tendência para exprimir emoções através da música.
 Gioseffo Zarlino (1517-1590) – autor do tratado L’institutione harmonique (1558) onde refere
como desenvolver a expressão através do contraponto.
Franchino Gaffurio (1451-1522) – estudioso que teve acesso a muitas traduções e que
incorporou nas suas obras o conhecimento e a teoria grega como os modos, a consonância, o
sistema tonal, a afinação, a harmonia e a filosofia.
 As suas obras foram as que maior influência tiveram na música dos finais do séc.XV.

 Nesta época é recuperada a Teoria do Ethos, que defende que a escolha do modo despertava
emoções diferentes no Homem – efeitos éticos. Partiram do princípio que os modos gregos
eram idênticos aos modos gregorianos com os mesmos nomes e que por isso teriam o mesmo
poder, desconhecendo ter havido um erro de interpretação nas obras de Boécio.
 O tratado mais importante foi um manual de ensino de contraponto – Liber de Arte
Contrapuncti (1477) de Johannes Tinctoris (c.1435-1511) um teórico flamengo a viver em
Nápoles. Neste tratado fala-nos de um novo estilo musical que começa a surgir.

Cortes mais importantes

 As cortes eram cidades governadas por famílias nobres com grande poder económico:
o Milão – família Sforza;

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o Ferrara – família d’Este;

o Mântua – família Gonzaga;

o Florença – família Médici;

o Roma – família Bórgia.

Contexto musical

 O maior efeito que o Humanismo teve na música foi o de associar a música às artes literárias
dando menor importância à palavra, começando os poetas e os compositores a procurarem
formas de expressão comuns.
 A música vai-se desenvolver nas catedrais, nas igrejas, nas capelas das cortes e na capela real.
Continua a fazer-se polifonia e cantochão embora este se pratique mais nos conventos e
mosteiros.
 As escolas com ensino musical funcionam nas catedrais onde admitem rapazes entre os 7 e os
12 anos como meninos de coro, que estudam e cantam na missa. Aprendiam cantochão,
contraponto e latim. Quando mudavam de voz iam para instrumentistas ou cantores ou
seguiam a vida religiosa.
 Os nobres tinham nas suas cortes uma capela própria cujo serviço era orientado pelo mestre de
capela, músicos e cantores.

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 A capela tinha como função garantir o serviço litúrgico diário e todos os acontecimentos sociais
e musicais da corte.
 Em Portugal tivemos importantes capelas:
o Capela Real (desde o rei D.Duarte em 1433)
o Capela Vila Viçosa (Duques de Bragança)
o Capela da Sé de Évora.

Características Musicais

 Forte tendência para a tonalidade embora a maioria da música continue a ser modal.
 A polifonia é mais elaborada e faz recurso a técnicas de estilo imitativo.
 A música instrumental segue os modelos da música vocal substituindo, por vezes, as vozes
cantadas por vozes instrumentais.
 Há um grande desenvolvimento dos instrumentos por famílias, principalmente palhetas e
cordas.

 Surgem vários tratados de Organologia (Instrumentação):

o Sebastian Virdung – Musica Getutscht (1511)

o Michael Praetorius – Syntagma Musicum (1614-19)

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o Agricola – Musica Instrumentalis Deudsch (1529)

 A música segue:
o Escrita musical mais expressiva.
o Muito uso da imitação.
o Escrita livre subordinada ao texto.
o Maior equilíbrio de textura entre vozes e instrumentos.
o Baixo mais definido e melodia superior mais importante.
o Escrita a 4 vozes, tanto vocal como instrumental.
o Uso de 3ª, 5ª e 6ª (consonâncias) e uso das cadências clássicas (perfeita, plagal e
interrompida). As dissonâncias são preparadas e resolvidas.

Afinação

 Há uma procura de novos sistemas de afinação com o fim de:


o conseguirem consonâncias mais suaves.
o utilizarem além dos modos as notas da escala cromática.
o procurarem novos efeitos expressivos.

 Exploram cada vez mais o ciclo das 5ª que os leva a reconhecer novas notas. Ex: dó bemol.
 Os sistemas de afinação em vigor no séc. XV não faziam coincidir o # e o b na nota
correspondente, por isso tiveram que aumentar os teclados dos órgãos e dos cravos com 2
teclados.

O uso da Palavra

 O Humanismo leva a música a relacionar-se melhor com a arte literária.


 A ideia da Antiguidade Clássica de concentrar o músico e o poeta na mesma pessoa fascinava os
homens do Renascimento. Os poetas preocupam-se com a musicalidade dos seus versos e os
músicos com a imitação do som das palavras. A música passa a respeitar o ritmo das palavras.
 O sentido evolutivo desta relação foi-se fazendo ao longo de todo o Renascimento.

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A Imprensa Musical

 Há cada vez mais uma grande procura por novas


composições, tanto vocais como instrumentais.
 Até aqui os manuscritos eram copiados à mão, o que
demorava muito tempo e não conferia fidelidade à cópia.
 Em 1450 Gutenberg inicia a impressão com caracteres
móveis, tendo começado a aplicá-la aos livros litúrgicos
por volta de 1473, com o cantochão, mas só o texto.
 O primeiro a imprimir música foi Hahn em Roma em
1476 e a 1ª edição impressa de peças polifónicas é de
1501 em Veneza, feita por Petrucci. As suas impressões
são muito boas porque usava o método de tripla
impressão – 1º pautas, 2º texto, 3º música. A impressão
única só aconteceu em 1520 em Londres.
 Na imprensa também se começam a imprimir as peças polifónicas por naipes, podendo ficar
cada músico com a sua parte.
 A partir deste momento há um grande aumento das obras publicadas e os músicos passam a ter
ao seu dispor muita música nova. Além disso, as obras podem agora ser transportadas de país
em país e conservadas para as gerações futuras. Há uma grande procura de livros de coro para
as catedrais e escolas e fazem-se livros grandes para todo o coro poder ver.
 Durante este período inicia-se a escrita com Notação Mensural Branca.
 A escrita estabiliza a 4 vozes – S, A, T, B.

Nas outras Artes

 Arquitetura:
o Novas formas.
o Novas proporções.
o Arcos perfeitos.
o Frontões.
o Copiam modelos da
Antiguidade.
o Ex: Miguel Ângelo

 Pintura:
o Imagens mais naturais.
o Perspectiva.
o Figuras humanas
o Ex: Leonardo da Vinci,
Rafael e Miguel Ângelo

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 Escultura:
o Figuras mais livres, mais
realistas e mais expressivas
emocionalmente.
o Bustos e nus.
o Ex: Donatello, Miguel Ângelo

 Música
o Maior humanização.
o Não se inspiram directamente nas obras da Antiguidade, mas na sua filosofia e teoria
musical.

o Passamos a ter mudanças evidentes:

Antes do renascimento Final do renascimento


o Sonoridade mista ------------» sonoridade plena
o Melodia -----------------------» acorde (por melodias)
o Comp. sucessiva -------------» comp. simultânea
o 5ª e 8ª --------------------------» desdobradas em 3ª e 6ª
o Linha contínua ----------------» linha da respiração
o Ritmo gótico elaborado ------» pulsação
o Isorritmia -----------------------» mais equilíbrio
o Reprodução do conteúdo emocional e expressivo do texto.

Gerações de músicos

 I – (1420-1460) – Dufay, Binchois e Dunstable


 II – (1460-1490) – Dufay, Ockeghem e Busnois
 III – (1490-1520) – Obrecht, Isaak, Josquin des Prés e Mouton.
 IV – (1520-1560) – Willaert, Gombert, Clemens non Papa e Jannequin.
 V – (1560-1600) – A. Gabrielli, De Monte, Lasso e Palestrina.

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