Você está na página 1de 12

Resumo de Psicologia Fenomenológica – NP2

Origem das ideias de Boss

-O objeto de estudo não está na busca do passado como conteúdo de


sustentação das resistências (crítica a Freud), mas o que continua a motivar
(motivação interna, repetição é consequência) a permanência e não o que
determina.

-Movimento de escutar, refletir e impor limites para a pessoa. Se sabe que o


movimento não é bom, porque continua sem perceber? Resistência a dor, a
rejeição, a frustração: vulnerabilidade.

-A ironia é uma das formas mais covardes de expressar o que se sente.

-“...Todos os sintomas patológicos corporais e os chamados psíquicos são


sempre privações (de algo que nos é importante) e podem ser compreendidos
como reduções de possibilidade de entender uma coisa em toda a sua amplitude
e riqueza de conteúdo...”.

-Quando encontro uma resposta, explicação, ficamos em paz. O psicólogo deve


ter paciência para as dúvidas, para as respostas não obtidas.

-Critica: cuidado com o olhar simplista que faz analogia com o somático.

-Portanto, não limita explicações de ordem causal e origem, mas o


esclarecimento da natureza existencial.

Sua proposta a partir de Heidegger em relação à postura investigativa

-“Exige-se do pesquisados justamente isto, o mais difícil, a passagem do projeto


do homem como Ente vivo dotado de razão para ser-homem como dasein
(carregado de significados e sentidos – Ser-aí). (...) O deixar (lassen), isto é,
aceitar (zulassen) o ente assim como ele se mostra, só se tornará um deixar-ser
apropriado se este ser, o dasein, ficar antes constantemente à vista”.
-Muitas vezes interpretamos, e tiramos a chance de a pessoa vivenciar e
descobrir os significados para ele mesmo. Assim apresentamos ele, sob nossa
ótica, para ele mesmo. Podemos auxiliar com a forma de fazer perguntas, estar
aberto, entre outras técnicas.

-“Toda ação humana é motivada por conta de algo reconhecido pela pessoa em
questão, e este reconhecimento acontece no estar enganado de uma pessoa,
por algum fenômeno que é endereçado a ela”.

-“Os motivos e aquilo em direção ao qual eles são dirigidos são determinados
pela tarefa iminente, que é reconhecida e aceita pelo homem de alguma maneira.
Estar dirigido a uma tarefa apresenta uma antecipação do futuro e revela-se
pelos significados. Mas não é o homem que atribui os significados a tudo o que
está a sua volta, nem é o mundo que determina os significados de tudo (é o
homem em uma relação de troca com o mundo e o percebendo e o mundo
estabelecendo pressão sobre o homem – assim estabelece sentidos sobre si
mesmo). Os significados lhes são revelados conforme sua abertura
perceptiva...”.

-Significados e projeções de futuro (onde vou chegar? Como será? O que vou
ganhar? Irá dar certo?).

Boss

-“É porque nós, seres humanos, existimos de tal modo que nosso presente se
encontra sempre comprometido com nosso passado (o que aconteceu vai se
repetir? Ao falar sobre o que aconteceu comigo, eu ressignifico); somos também
por natureza dirigidos àquilo que se aproxima do futuro e movendo-nos em sua
direção (saber como será a vida), precisamos abrir-lhe nosso ser. A maneira
como vemos o que foi e o que é agora está sempre relacionado com o modo
como estamos dirigidos ao futuro” (o que faço agora é sempre voltado ao que
vai acontecer depois).

-A citação faz relação entre presente, passado e futuro.


-O futuro nos aponta o norte do que já vivemos e estamos vivendo. O que está
acontecendo, vai passar. O que foi vivido, não vai continuar acontecendo.

-As pessoas buscam ajuda e querem respostas rápidas. Alguns terapeutas se


perdem nessa necessidade de ajuda e acabam “levando o cliente pra casa”.

-Estender a mão é uma parceria onde a própria pessoa fará as descobertas, nós
apontamos os riscos e a decisão é dela. Se dermos o caminho, tiramos a
condição humana de pensar sobre si. O processo terapêutico gera uma
dependência temporária, pois a pessoa descobre alguém que o escuta, e depois
os laços se estendem quando a pessoa se torna responsável pelo que faz.

Nosso desafio

-Dedicar-se na compreensão e estudo da teoria.

-Colocar-se aberto a própria experiência de estudar a Fenomenologia: “ser


junto... Permanecer junto”. Não basta só ler, tenho que estar junto da leitura e
ter tempo para refletir.

-Um compartilhar de experiências. Cuidados com os exemplos pessoais para


não se perder nisso.

-O desenvolvimento de uma prática.

-Uma mudança de paradigmas utilizados na prática do aprendizado: aplicar a


partir de uma referência. Não podemos entrar em uma ação terapêutica sem
saber que teoria está usando.

-Adotar uma concepção própria do conhecimento e não encaixá-la em algo já


aprendido. Em algum momento do processo, temos que refletir o que pensamos
sobre as coisas, não basta apenas reproduzir autores e sim usar a intuição.

-Busca do sentido através do vivido (experiência que vem à tona).

-Sentido: valores, conceitos, percepção que tenho sobre as coisas.


-Vivido: quando vem à tona.

-Dar a mão é compreensão através da ação (parceria).

A prática clínica: como compreender e compreender como

-Cuidado com a escuta apressada. Ela pode te tornar cego, surdo e mudo.

-Compreensão com a expressão e os sentidos.

-Não é divagar com o paciente, mas adotar uma postura aberta, um compartilhar
de experiências entre terapeuta e paciente: um “aí” de ambos. Um Ser-aí que
vivencia sentido de ambos.

-Adotar escuta atenta e cuidadosa, receptiva. Deixar as hipóteses de lado e se


aventurar na descoberta.

-Recusa-se o conhecido e abre-se à descoberta.

Compreender a ação e ação modulada por uma compreensão


(cuidados sobre como fazer, saber o que falar, baseado em
procedimentos científicos)

-Ajudar o paciente a ganhar sua própria liberdade de pensar, sentir e agir (vai
fazer o que é bom para ele, arcando com as consequências).

-Caminhar lado a lado.

-Possibilitar a ação e o discurso de caminharem juntos para que o sentido possa


se revelar (está dentro do paciente).

-Adotar uma postura que possa se “pensar o caminho da dor” do paciente, para
que a dor fale por si mesma.

-A repetição pode representar a necessidade de se estar atento ao sentido que


sustenta a repetição. A cada experimentação a pessoa traz algo novo, no ritmo
dela.
-Disposição: abertura, quanto estou para mim mesmo e para o mundo.

-Os tons afetivos nos abrem para o mundo.

-Quando sentimos algo, reagimos de alguma maneira.

-Emoção é uma vinculação corporal forte. Só pensamos na emoção após o corpo


falar.

-Precisamos dos tons afetivos para afinar as situações da vida.

-“São as tonalidades afetivas situações-limite que abrem mundo, horizontes, de


modo...”

-É na angústia que o homem toma consciência de sua liberdade (somos livres


para tomar decisões).

-Quando a angústia vem, a condição de poder de decisão se configura. Ela serve


para nós falar algo sobre nós e que somos livres para decidir.

-Ôntico: localizado, objetivo, como nos localizamos, como nos situamos nessa
condição. Ontologia: ciência que estuda o ser. Ontológico: nós nos
angustiarmos. Ôntico: fugir, escapar porque é difícil. O escapar pode ser uma
maneira de lidar, mas pode ser fuga para não lidar com.

-As tonalidades afetivas: angústia, tédio profundo, êxtase, terror, horror,


retenção, pudor e admiração.

-O tédio é a raiz de todos os males porque envolve o desânimo da gente em


relação a algo. Em excesso, pode levar a depressão. “Algo nos obriga a
interromper o ritmo do tempo cotidiano “, não quero minha rotina, meus planos
impedidos. Nosso tempo de vida era esperado de maneira diferente. A repetição
torna as coisas sem sentido.

-O temor nos leva ao receio da perda de controle. O temor pode configurar o


rompimento com o valor que se legítima. Gera desconforto e a sensação de
aniquilamento, e de perda do controle, ameaça à própria existência. Há
momentos que é negativo e há momentos que é importante para proteção.

-Tédio: o que está acontecendo? O homem se perde na poeira dos possíveis.


Perde o interesse por si mesmo (desânimo, preguiça).
-A modernidade nos abre caminho ao acesso as coisas de maneira muito rápida,
porém faz falta um contato pessoalmente.

-O homem absorvido pela era da técnica automatiza seus atos. Não tem uma
relação de troca.

-O tempo se torna um desafio no modo de ser do homem: ele não pode parar e
nem diminuir a velocidade...

-Tenho que me distrair... Fugir do encontro comigo mesmo: trabalho em excesso


ou encontrar diferentes formas de se distrair.

-O que nos resta? A depressão, a doença. Na doença, no tratamento o recurso,


a condição para se evitar o possível, a transformação e a mudança.

-O diagnóstico nos ajuda a evitar a ação e exploração dos sentidos.

-Consequências do tédio quando damos um peso diferente: fugir dele.

-Há um medo de expor a fragilidade e afastar os outros.

-A Fenomenologia descreve o movimento da pessoa, e não o conceito fechado.

O temor

-O temor é uma disposição diante do mundo. O que temo? Para que temo?
Como temo? Heidegger: “tememos o que pode destruir o que supostamente
somos...”.

-O foco deve ser no que se traz como preocupação do que muitas vezes na
situação trazida propriamente dita como queixa.

-Explora enquanto terapeutas o como ele conduz seus sentidos. Não devemos
ficar fechados em apenas um ponto, mas ver aquilo relacionado com a vida.

-As vezes é necessário recuar (terapeuta) para poder avançar, respeitando o


ritmo do paciente.

-A intervenção é boa quando propicia ao paciente caminhar com as próprias


pernas.
-O que está em jogo diante do medo? “O olhar... O olhar do outro sobre mim...”.

-Mas também o outro pode tirar o sofrimento em que me encontro.

A não-liberdade

-Condição originária do fracasso, da dificuldade de enfrentamento: a condição


de não-ser (impedido do uso da liberdade).

-A partir do momento que slmos impedidos de fazer algo, ocorre a não-liberdade.

--“Não é livre para projetar um futuro e realizar um presente “. Sensação de


impotência, inadequação quanto ao futuro.

-O passado lhe impediu o presente.

-O passado lhe impediu em seus objetivos.

-Mas, temos liberdade diante da escolha e a negamos.

-Não importa o que fizeram com você, importa o que você faz com o que fizeram
com você.

-Como diz o paciente: “não quero assumir o fracasso”.

A angústia

-Nos coloca diante da nossa vulnerabilidade, porque ficamos uma situação que
não queríamos estar.

-O ser cotidiano busca a fuga de sua falta de apropriação de sua existência.

-Buscamos a alienação do que nos é próprio: a morte um dia. A vulnerabilidade,


fuga é uma maneira de lidarmos com o que não conseguimos evitar (morte).

-No poder-ser temos a morte como certa.

-Ao escondermos temos o encontro também com o fato: a morte existe e eu a


temo.
-“A relação própria do homem com a morte abre espaço para que ele se
conquiste na sua totalidade”.

A terapia

-Inicia-se com as tonalidades afetivas do desabrigo do paciente e do ser lançado


do terapeuta. O terapeuta também é lançado numa condição de vulnerabilidade
por não saber com quem está ligado, como vai ocorrer, tudo é indeterminado.
Cabe o preparo de estude, ficar atento as dicas do supervisor, não tentar se
proteger com determinações e diagnósticos.

A situação psicoterapêutica: análise do tempo, relação com corpo/espaço,


o papel do outro

O tempo

-“Somos devorados pelo tempo, não por nele vivermos, mas por acreditarmos
na realidade do tempo”. Ter consciência de que ele acaba.

-“A terapia funciona?”, “Quanto tempo leva?”.

-Quem faz pressão sobre nós é a vida moderna.

Noção de tempo

-Nos criamos o tempo que o tempo é. Ele nos coloca em situação de


vulnerabilidade.

-O tempo é extensão e criação da realidade humana: criamos o tempo, mas não


o determinamos.

-Ao mesmo tempo em que é noção condição, nos coloca em condição de


impermanência, de impropriedade.

-O tempo representa a construção do homem, diante da impropriedade, diante


da impotência, diante do limite, diante da morte.
-Nossa tendência: negar o tempo, querer controlar a impermanência.

-Quando olhamos o que perdemos, pensamos nos possíveis tempos futuros. Se


negamos a perda, podemos fazer as mesmas escolhas e seguir os mesmos
caminhos.

O tempo
-Qual o sentido do tempo?
-Superar a morte.
-Redimir o sofrimento.
-O grupo social da sentido à noção de tempo para garantir de alguma forma a
sua existência: os grupos podem fazer uma pressão grande e dar um sentido
existencial ao que chamamos de tempo.
-Toda história é carregada de lendas em valores do grupo.
-Temos pressa e queremos objetividade. Tudo é substituído por algo mais
rápido, mais moderno. Quem não acompanha, é visto como estranho.
-Queremos controle do tempo.
-Olhar para a natureza é a transformar (achamos que podemos transformar
tudo).
-A técnica vem como um instrumento “que mantém o homem adequado àquilo
que lhe é proposto nesta época: ser aquele que diante da natureza, diante de
tudo o mais que ele encontra, deve extrair dali algo que diga respeito à produção
de algo. E para que se sinta bem a técnica produz e vende as informações que
o tornam ciente da importância do descanso, do lazer, do aprimoramento”. A
midia passa a ideia de descanso e de atividades para fazer rapidamente para ter
mais tempo, qualidade de vida e projeção de futuro. Vende-se uma ideia, que se
não for bem canalizada, pode ser ilusória.
-Acredita que tem auto estima, que é dono de si mesmo, e está cada vez mais
jogado na impessoalidade... “ele é “todo mundo”. Ele é absorvido pela vontade
autônoma da técnica. Se está conectado, é parte do grupo. Se não, está fora.
-Para que serve a técnica?
-Temos a necessidade de ter o controle das coisas. Muitas vezes usamos a
tecnologia como utopia em relação a como lidar com as frustrações.
-Busca-se a precisão, exatidão, segurança, certeza. Precisamos de algo que nos
impeça de errar.
-O tédio está aumentando em nossas vidas, nos sentimos isolados, solitários,
por falta do contato pessoal com o outro.
-O terapeuta tem as respostas para aquilo que não funciona como deveria, ou
seja: aquele que soluciona através de um diagnóstico preciso, o que causa
desconforto, descontrole (sem tirar a autonomia da pessoa de perceber e lidar
com as próprias questões); ele pode evitar os efeitos colaterais, ajudando a
controlar o mal estar (as pessoas querem garantias do psicólogo para que aquilo
não aconteça mais); aumento da busca por medicamentos (para responder às
necessidades rapidamente).

Alguns pressupostos
-O presente é o momento de ação imediata. Está conectado ao que já fomos e
ao que seremos.
-Não há separação entre passado e presente.
-O futuro se relaciona com o passado e presente.
-O que dá realmente movimento à temporalidade do ser é sentido da trajetória
atribuída, o quanto aquilo faz sentido e é importante para nós.

-Como fica a substituição do sentido: “tempo é a morte!” por “tempo é dinheiro!


“? Sei que não tenho controle, que tudo é limitado, ideia de finitude.
-Como se relaciona essa mudança de movimento à condição ser jovem e velho?
Os jovens são muito mais procurados, e os mais velhos são descartados (e a
experiência?).
-O que o homem atual teme então em relação ao tempo? Que aspectos de sua
vida são afetados por essa aflição? Teme que não tenha tempo e afeta toda sua
vida.

Solução:
-Abraçar o problema, familiarizar-se com ele, ouvir a si mesmo na dor, no
desconforto (processo terapêutico).
-O que essa situação me diz a respeito de mim mesmo?
-Mais perguntas sobre o como acontece do que o que isto quer dizer. Isso para
trazer à tona a situação e os sentimentos, quais as escolhas feitas em detrimento
de outras.
-No encontro eis que se torna possível se aproximar de si mesmo e de sua
própria história.
A clínica infantil
-Como assumir uma atitude fenomenológica em uma clínica infantil,
suspendendo qualquer teoria de Psicologia? Queremos dar nome as coisas, mas
temos que descobrir o sentido das coisas através do vivido.
-Como atender com crianças à máxima da análise existencial de deixar o outro
livre para si mesma?
-Como é possível, no caso da criança, junto ao outro dar um passo atrás e deixar
que este outro assuma a responsabilidade ou tutela pelas suas próprias
escolhas? Como dar esse espaço à criança, acreditando que ela não sabe nada?
Temos que aprender a construir com a criança o próprio destino dela.
-Podemos falar de responsabilidade na criança já que esta, em sua fragilidade e
vulnerabilidade, não pode tutelar a si mesmo? Temos que propiciar momentos
em que ela pode tutelar a si mesma, de acordo com sua idade e seu
desenvolvimento.

Postura diante da queixa


-Postura natural: rotular, classificar. Traz o diagnóstico, o fenômeno
desaparece e dá lugar a uma configuração já dada, o adulto assume a tutela da
criança.
-Postura antinatural: não fazer generalizações e previsões a respeito da
queixa. Acompanha o fenômeno em sua mobilidade estrutural (quem é a pessoa,
por que agiu assim, por que isso é importante para ela, quais as emoções),
devolver à criança o seu ter de ser, o seu cuidado, evitar a contaminação com o
que foi previamente trazido (não ficar preso a primeira queixa, mas sim estar
aberto à criança).

Nossa meta
-Resgatar, conhecer o fenômeno é sua singularidade.
-Evitar a profecia autorealizadora: a criança acreditar que não cabe a ela a
responsabilidade de sua existência (tira a responsabilidade da criança de dizer
quem é).
-Evitar a promoção do medo é solidão (se fizer isso, vai acontecer aquilo).
-Possibilitar à criança a sua entrega a si mesma, permanecendo o mais longo
possível em sua condição, voltada para si mesma.

O que é comum acontecer?


-A presença de pressupostos: da Psicologia, do senso comum e problemas do
psiquismo ou condição biológica.

Você também pode gostar