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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA FLORESTAL

MURILO BORTOLINE WANDERLEY

RELAÇÃO DO ODOR COM A INDÚSTRIA DE CELULOSE

JERÔNIMO MONTEIRO
ESPÍRITO SANTO
2010
MURILO BORTOLINE WANDERLEY

RELAÇÃO DO ODOR COM A INDÚSTRIA DE CELULOSE

Trabalho apresentado à disciplina


de Tecnologia Celulose e Papel,
da Universidade Federal do
Espírito Santo, como requisito
para avaliação.

JERÔNIMO MONTEIRO
ESPÍRITO SANTO
2010

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SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO..........................................................................................................4

2.OBJETIVO.................................................................................................................7

3.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................................................7

3.1.O PROBLEMA.............................................................................................7

3.2POSSÍVEIS SOLUÇÕES..............................................................................8

4.CONCLUSÃO..........................................................................................................11

5.REFERÊNCIAS.......................................................................................................12

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1. INTRODUÇÃO

A fabricação de celulose e papel pode ser dividida em duas indústrias: a indústria de


celulose, que produz diferentes matérias-primas fibrosas utilizadas para a fabricação
de papel e outras aplicações, e a indústria de papel e de cartão. Existe ainda uma
terceira divisão: a da pasta, referente aos processos de alto rendimento (pasta
mecânica, termomecânica, quimicomecânica) nos quais a madeira é desfibrada, e o
rendimento na transformação da matéria-prima em pasta é superior a 80%. O setor
é altamente globalizado, demandante de capital intensivo e longo prazo de
maturação financeira. No Brasil é composto por 220 empresas que operam 255
unidades industriais localizadas em 16 estados (FERNANDES; GRANDE, 2000).

Em relação ao meio ambiente, os níveis de emissões aéreas de material particulado


e compostos reduzidos de enxofre pelas empresas brasileiras do setor de papel e
celulose atendem aos padrões de emissões internacionais considerando as
principais fontes de poluição dessa indústria: caldeiras de recuperação, caldeiras de
força, tanques de dissolução de fundido e fornos de cal (FERNANDES; GRANDE,
2000).

Segundo Jerônimo; Foelkel; Frizzo (2000), o Brasil vem-se caracterizando como um


grande produtor de celulose, principalmente fibra curta de eucalipto, possuindo
fábricas modernas que estão, cada vez mais, procurando avanços tecnológicos.
Nesse cenário, a preocupação ambiental aumenta a cada dia. As indústrias de
celulose são conhecidas pelos impactos ambientais que podem causar,
principalmente em relação à poluição do ar e das águas. Um dos principais
processos de transformação da madeira em celulose é o processo Kraft que, pelo
fato de utilizar compostos de enxofre, resulta na geração de odores desagradáveis.
Algumas mudanças nos processos de polpação têm proporcionado ganhos na
eficiência de reações, principalmente na redução da quantidade de enxofre aplicado.
Como consequência, a busca para redução das emissões atmosféricas de gases de
enxofre tem-se constituído em um objetivo importante para muitas instalações
industriais.

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Os maus odores são provenientes de misturas complexas de moléculas orgânicas
ou minerais voláteis com propriedades físico-químicas diferentes (BELLI; LISBOA,
2002).

Pode-se apresentar uma série de fontes de emissões com maus odores tais como
estações de tratamento de águas residuais, dejetos de animais, aterros sanitários,
indústrias químicas e petroquímicas, processamento de madeiras, indústria de papel
e celulose, pinturas e fabricação de tintas, agroindústrias etc. (BELLI; LISBOA,
2002).

Apesar da preocupação crescente com as várias fontes de poluição ambiental, a


poluição por maus odores ainda é muito desconhecida no Brasil. São raros os
processos industriais que não geram odores. O nível de controle das emissões
atmosféricas que se deve exigir de uma atividade industrial vai depender dos
possíveis efeitos dos poluentes emitidos, da eficiência esperada pelos órgãos
controladores, do impacto financeiro das medidas mitigadoras, análise e tratamento
das mais diversas substâncias que estejam sendo lançadas ao meio ambiente junto
com outros gases (GALVÃO FILHO,2000).

Algumas indústrias obviamente lançam na atmosfera substâncias, compostos ou


misturas que as destacam olfato metricamente entre as demais. As diversas etapas
do processo produtivo de celulose, papel e embalagens geralmente produzem
emissões atmosféricas de gases sulfurosos e de material particulado, seja na
queima de combustíveis, seja no cozimento dos cavacos de madeira, bem como na
recuperação química de produtos para a reutilização no processo produtivo. A
geração desses compostos de enxofre pode provocar odores, dependendo das
condições climáticas (dia nublado, pouco vento, etc.), geográficas (vales, montanhas
próximas, etc.), ou quando em concentração elevada (CARMO JR, 2005).

Os incômodos causados por odor geralmente ocorrerão em períodos de inverno


após o entardecer e antes do amanhecer, quando as inversões térmicas acontecem
com maior intensidade e frequência. Durante estas horas a atmosfera encontra-se
mais estável com turbulência atmosférica limitada (GALVÃO FILHO,2000).

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O odor é um dos principais problemas ambientais de fábricas de celulose. O
processo Kraft apresenta emissões aéreas poluentes que incluem tanto gases
malcheirosos, como material particulado (FOELKEL et al., 1983).

A solução mais coerente seria, pois, controlar suficientemente até a eliminação


completa, os odores detectáveis pela comunidade. Normalmente, porém, esse tipo
de resposta não é viável do ponto de vista econômico e, em algumas situações,
como no caso da fabricação de celulose, pode até ser tecnologicamente impossível.
Consequentemente, a solução para os problemas de odor emitidos por uma fábrica
de celulose acaba recaindo no estabelecimento de um nível de odor perceptível que
seja suportável para a comunidade adjacente. É lógico que, se, por exemplo, duas
indústrias estão emitindo odores similares (compostos de enxofre), mesmo assim
cada uma necessitará de avaliações e níveis de controle diferentes para equacionar
seus problemas de odor (GALVÃO FILHO, 2000).

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2. OBJETIVO

Este trabalho teve como objetivo reunir informações e elucidar a questão da relação
da indústria de celulose e papel com a emissão de odores na atmosfera,
considerando possíveis soluções.

3. REVISÃO BIBLIOGRAFICA

2.1. O PROBLEMA

O processo Kraft é o mais empregado, atualmente, para produção de celulose.


Originou-se com base no processo soda pela introdução de sulfeto de sódio, o qual
possibilitou diminuir a carga alcalina e melhorar as características da celulose.
Apesar das várias vantagens apresentadas, a formação de compostos de enxofre,
característicos do processo, causa poluição odorífica, impossibilitando sua utilização
em algumas indústrias (GOMIDE et al., 1987).

O processo kraft apresenta grandes vantagens sobre os demais, tais como


adaptação a todos os tipos de madeira, produção de polpas de alta qualidade com
excelentes propriedades de resistências e um eficiente sistema de recuperação de
reagentes químicos e energia (GOMIDE et al.,1980).

Segundo Silva (apud JERÔNIMO; FOELKEL; FRIZZO, 2000). Uma das


características principais do processo kraft é a alta qualidade da celulose obtida.
Essa qualidade é avaliada basicamente pelo teor de lignina residual (número kappa),
grau de degradação dos carboidratos (viscosidade) e propriedades físico-mecânicas.
Porém, essas características podem sofrer alterações de acordo com algumas
variáveis do processo como carga alcalina, tempo e temperatura de deslignificação,
entre outros.

Segundo Mishal (apud MOURA; FOELKEL; FRIZZO, 2002), em consequência da


utilização de produtos a base de enxofre na composição do licor de digestão,
ocorrem reações secundárias com alguns componentes orgânicos presentes na
matéria-prima, dando origem a materiais gasosos com odor desagradável, os
organossulfurados. Esses compostos são o sulfeto de hidrogênio (H2S), metil
mercaptana (CH3SH), dimetil sulfeto [(CH3)2S] e dimetil dissulfeto [(CH3)2S2]. O
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conjunto desses compostos é conhecido por TRS, do inglês, “Total Reduced
Sulphur” ou enxofre reduzido total, ou ainda, compostos reduzidos de enxofre.
Conforme Osses (apud MOURA; FOELKEL; FRIZZO, 2002), os compostos
reduzidos de enxofre são severos poluentes atmosféricos, mesmo a níveis de partes
por bilhão e podem causar desde irritação nas vias respiratórias até a morte.

Existe produção de gases em vário ponto dentro da produção da polpa, desde o


cozimento, ás caldeiras e as estações de tratamento de efluentes, fato que dificulta
ainda mais a busca por soluções cabíveis, para um problema tão abundante.

A sulfidez é a relação entre o sulfeto de sódio e o hidróxido de sódio mais o sulfeto


de sódio, conforme Equação abaixo, usada para medir o teor de enxofre. Um
aumento da sulfidez significa um aumento da quantidade de íons sulfeto e
hidrossulfeto no licor e, consequentemente, um aumento na formação de compostos
malcheirosos. A formação de compostos malcheirosos aumenta com o tempo de
cozimento.

Sulfidez = Na2S / (Na2S + NaOH)

2.2. POSSÍVEIS SOLUÇÕES

A maior dificuldade de quando se tenta oferecer uma solução para as reclamações


de odor feitas por uma comunidade, é a falta de padrões adequados que possam
orientar as autoridades e os administradores ambientais das empresas emissoras de
tais poluentes em relação às fontes da indústria e/ou do empreendimento
prioritariamente responsável pela emissão de odor, e também quanto ao nível de
controle necessário para a solução deste problema (GALVÃO FILHO,2000).

O melhor método de eliminação dos compostos malcheirosos seria a completa


remoção dos compostos de enxofre do processo Kraft, o que o transformaria no
processo soda. O processo soda apresenta a desvantagem de baixos rendimentos e
qualidade inferior da polpa celulósica em relação ao processo Kraft. Essas
desvantagens são atribuídas ao tempo de deslignificação excessivamente longo e
às altas temperaturas e às altas concentrações de soda necessárias para a

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produção de polpas que possam ser branqueadas. Porém, esse processo seria uma
excelente solução de substituição ao Kraft, caso conseguissem melhorias na taxa de
deslignificação, no rendimento e na qualidade da polpa. A antraquinona (AQ), em
adição ao processo soda e em condições otimizadas de deslignificação, tem-se
mostrado como uma realidade para tais finalidades (GOMIDE & OLIVEIRA, 1979).

De acordo com Oliveira (apud JERÔNIMO; FOELKEL; FRIZZO, 2000), uma variação
na utilização do processo Kraft, para a redução da emissão dos compostos
reduzidos de enxofre (TRS, “total reduced sulphur”), é o abaixamento da sulfidez no
licor de cozimento. A geração de compostos mal odorosos, tais como mercaptanas,
gás sulfídrico e dimetil sulfeto, pode ser minimizada pela manutenção da sulfidez em
níveis abaixo de 10%. O uso de aditivos auxiliares de deslignificação, principalmente
da antraquinona, tem favorecido tal alternativa do processo.

De acordo com Blain (apud JERÔNIMO; FOELKEL; FRIZZO, 2000), dependendo


das características operacionais de cada fábrica, é possível esperar-se uma redução
de TRS pela redução da sulfidez também com a adição de pequenas quantidades
de antraquinona.

Segundo Foelkel (apud MOURA; FOELKEL; FRIZZO, 2002) a quantidade e o tipo de


lignina interferem na geração de compostos reduzidos de enxofre, pois na
fragmentação desta, existem reações de adição de enxofre com esses grupamentos.
Dessa forma, há inúmeras possibilidades para a geração de gases mal odorosos em
fábricas de celulose as quais precisam ser bem conhecidas, monitoradas e
aperfeiçoadas para prevenir esse tipo de poluição, independentemente da matéria-
prima e do processo utilizado para a produção de celulose.

Digestores contínuos apresentam certas vantagens em relação aos digestores


descontínuos. A temperatura em um digestor contínuo pode ser elevada
rapidamente à temperatura de cozimento e baixada rapidamente no final do
cozimento. Em digestores descontínuos, estas operações são lentas e o processo
de cozimento não é uniforme, resultando, provavelmente na formação adicional de
compostos malcheirosos (FERNANDES; GRANDE, 2000).

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Segundo Adams (apud MOURA; FOELKEL; FRIZZO, 2002), podem-se utilizar filtros
impregnados com produtos químicos que fazem a absorção seletiva dos compostos
reduzidos de enxofre para posterior análise dos gases resultantes. A combinação
dos produtos que atingem a maior eficiência na absorção dos compostos de enxofre
é o bicarbonato de sódio, cloreto de zinco com ácido bórico, membrana de prata,
nitrato de mercúrio com ácido tartárico, nitrato de prata com ácido bórico e ácido
tartárico.

Conforme Fernandes; Grande (2000), A escolha adequada da matéria-prima pode


ser uma alternativa ao problema, a formação de compostos malcheirosos é
proporcional à quantidade de grupos metoxilas presentes na lignina da matéria-
prima. No cozimento sulfato de folhosas forma-se maior quantidade de compostos
odoríferos do que no cozimento sulfato de coníferas. Este fato acontece porque nas
ligninas de folhosas predominam grupos siringuil, enquanto nas de coníferas, os
grupos guaiacil. Siringuil e guaiacil são grupos metoxila componentes do polímero
lignina.

Com a oxidação do licor negro é possível garantir oxidação do TRS a níveis


superiores a 98%, resolvendo problemas de odor das substâncias deslocadas na
Evaporação. Entretanto essa mudança de processo reduz os odores somente na
planta de Evaporação e tem custo muito alto, assim como a instalação de um
Incinerador específico para gases de TRS de alta concentração, também é uma
alternativa de alto custo. (FERNANDES; GRANDE, 2000).

O tratamento de gases é uma prática eficiente, porém sujeita a comprometimentos


de desempenho, em função do processo descontínuo de cozimento. Fernandes e
Grande (2000) citaram algumas alternativas viáveis e já aplicadas, em seu trabalho:

 Evitar derrames de licor negro e/ou condensado contaminado para as


canaletas.
 Controlar pressão de alívio do tanque que recebe gases e licor da fase de
neutralização, minimizando grandes oscilações.
 Manter o Stripping (torre de destilação) em operação contínua.
 Manter pH maior que 12 na entrada da evaporação, especialmente quando a
caldeira de recuperação estiver parada.
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 Aproveitar condensado contaminado na caustificação.
 Manter a lavagem da lama de cal eficiente.
 Na caldeira de recuperação manter o oxigênio residual em torno de 3%.
 Queimar de forma contínua gases de vents, stripper e do digestor.
 No tanque de dissolução manter a concentração do licor em torno de 160 g/l.

4. CONCLUSÃO

O problema do odor gerado pelas indústrias de celulose vem sendo discutido a


tempos, mesmo possuindo um alto nível tecnológico e ter como a base a
sustentabilidade ambiental, os estudos colocados em prática tem sido capazes
apenas de amenizar o problema, como medidas mitigadoras.

A sociedade tem cobrado respostas devido à dimensão do impacto causado nas


regiões vizinhas e tem esperado não apenas medidas paliativas e sim conclusivas
do problema.

É certo que alternativas devem ser buscadas continuamente, porém do ponto de


vista do odor, dificilmente será encontrada uma solução completa e adequada.

Para evitar tamanho constrangimento da sociedade e da própria indústria esse tipo


de atividade deveria ter suas instalações localizadas em regiões adequadas, com
um planejamento específico para o problema, levando-se em conta parâmetros
meteorológicos, topográficos e afastadas de concentrações urbanas.

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5. REFERÊNCIAS

BELLI, P. F.; LISBOA, H. M. ODOR E DESODORIZAÇÃO DE ESTAÇÕES DE


TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS ABES - Associação Brasileira de
Engenharia Sanitária e Ambiental. 2002.

CARMO Jr. Otimização e aplicação de metodologias para análises


olfatométricasintegradas ao saneamento ambiental. Tese de doutorado. UFSC.
2005.

FERNANDES, H. C. V.; GRANDE, M. H. D. Prevenção e controle de emissões de


odor na indústria de celulose: O caso Bacell(2000). Acesso em
<www.teclim.ufba.br/site/material.../mono_fernandes_e_grande.pdf> 5 nov. 2000.

FOELKEL, C. E. B.; HERRERA, J.; VESZ, J. B. et al.Controle das emissões de


H2S no forno de cal através de suas variáveis operacionais. In: CONGRESSO
LATINO-AMERICANO DE CELULOSE Y PAPEL, São Paulo. Anais ABCP, 1983.

GALVÃO FILHO, J. B. UMA METODOLOGIA PARA CONTROLE DE ODORES.


Artigo disponível em <www.consultoriaambiental.com.br> acesso em 8 nov. 2000.

GOMIDE, J. L.; OLIVEIRA, R. C. Eficiência da antraquinona na polpação alcalina


de eucalipto. Revista Árvore, Viçosa, v. 3, n. 2, p. 208-220, 1979.

GOMIDE, J. L.; OLIVEIRA, R. C.; COLODETE, J. L. Produção de polpa kraft de


eucalipto, com adição de antraquinona. Revista Árvore, Viçosa, v. 4, n. 2, p. 203-
214, 1980.

GOMIDE, J. L.; VIVONE, R. R.; MARQUES, A. R. Utilização do processo


soda/antraquinona para produção de celulose branqueável de Eucalyptus sp.
In: CONGRESSO ANUAL DE CELULOSE E PAPEL DA ABCP São Paulo. Anais,
1987.

JERÔNIMO, L.H.; FOELKEL, C.E.B.; FRIZZO, S.M.B. ADIÇÃO DE


ANTRAQUINONA NA POLPAÇÃO ALCALINA DE Eucalyptus saligna Ciência
Florestal, v. 10 , n. 2, 2000.

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MOURA, A.M.; FOELKEL, C.E.B.; FRIZZO, S.M.B. CARACTERIZAÇÃO DE
COMPOSTOS REDUZIDOS DE ENXOFRE GERADOS NA PRODUÇÃO DE
CELULOSE KRAFT E PRÉ-HIDRÓ LISE KRAFT. Ciência Florestal, Santa Maria, v.
12, n. 1, p. 49-58, 2002.

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