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PROJETO e FAVELA:
metodologia para
projetos de urbanização
FACULDADE DE ARQUITETURA
E URBANISMO
PROJETO E FAVELA:
metodologia para
projetos de urbanização
Orientador:
prof. Dr. Philip Oliver Mary
Gunn
O
primeiros anos na universidade, já estive metida em
visitar, conhecer e ajudar os loteamentos e favelas
das nossas periferias, na busca da ampliação dos
direitos relativos à qualidade e à dignidade da vida.
Sempre valorizei a militância política. Mais tarde, na
T
Emplasa, a Empresa Metropolitana de São Paulo,
trabalhando com Farid Helou, Phillip Gunn e tantos
outros, tive meu primeiro contato com a gestão
Banca examinadora: urbana institucionalizada. Participei, como
funcionária da empresa pública, junto com a
N
orientador Prefeitura de Embu, da criação e desenvolvimento de
Philip Oliver Mary Gunn um programa para urbanização de favelas deste
professor da FAUUSP município, em 1984.
Ermínia Terezinha Menon Minha visita ao Japão, em 1986, ampliou os Como profissional, meu cotidiano tem sido a
E
horizontes. A certeza de haverem inúmeras formas avaliação empírica. Na PUCCAMP, tenho tido
Maricato
professora da FAUUSP como a humanidade pode se organizar e produzir o centenas de alunos, vindos de diferentes cidades,
espaço urbano foi provada. Ficou claro que entre as com vivências diferenciadas, e os chamados à
nossas cidades e as japonesas havia uma diferença participação nos fatos políticos - como no grupo
Suzana Pasternak Taschner fundamental: no Japão, como o proprietário de sobre favelas da Pastoral da Moradia de São Paulo -
professora da FAUUSP grandes terras urbanas era o Império (e sua nobreza) têm sido atendidos com muito entusiasmo. Com os
M
derrubado com a Segunda Guerra, foi possível alunos tenho feito visitas a conjuntos habitacionais,
Eduardo Cesar Marques transformar os latifúndios em terrenos públicos e obras de drenagem, de urbanização de favelas,
professor visitante viabilizar uma política urbana e habitacional para o avali ação de peque nas bacia s hidro gráfi cas
FFLCH/DCP/USP bem-estar social. Ou seja, havia se realizado, de urbanas, prática que considero a essência do
alguma forma, a função social da propriedade. processo de ensino. A eles devo o estímulo constante,
I
Carlos Roberto Monteiro de fundamental para prosseguir em minha jornada.
s
Andrade Busquei transferir para a nossa realidade alguns
instrumentos aprendidos no exterior - como o "land Go st ar ia de ag ra de ce r, es pe ci al me nt e, a
o
professor da EESC-USP
readjustment", através do qual, no Japão, é possível oportunidade que me foi oferecida de compartilhar
t
reorganizar os títulos de propriedade pública e da argúcia de Ermínia Maricato e Philip Gunn e o
C
privada de uma área, transformando parte dela em apoio incondicional de Maria Helena Ferreira
n
Ficha bibliográfica: área de infra-estrutura ou equipamento público, ou Machado e de Ilka Bueno, minha mãe..
valor imobiliário equivalente. Logo percebi, porém,
e
Bueno, Laura Machado de Mello que as irregularidades, as ilegalidades (aliadas à À Eleusina Holanda de Freitas, que tornou realidade
eterna falta de recursos) que grassam em nosso país, esse volume de informações, imagens e reflexões
m
E
impediriam chegarmos a ações concretas. Em 1987 que eu juntei, meu sincero agradecimento. Sou grata
Projeto e favela:
i
pedi demissão do estado. também aos incansáveis Ana Paula Farina, Valdir
metodologia para projetos de Ferreira Junior e Elisângela Canto, pelo apoio, e a
c
urbanização Ainda em 1986 tornei-me também professora, em Patrícia Campos de Sousa, pela esmerada revisão
Tese de doutorado apresentada à Mogi das Cruzes, e em 1987, na PUCCampinas, que fez de parte da tese.
e
D
FAUUSP ingressando em 1988 no programa de mestrado da
d
São Paulo, 2000 FAUUSP. Durante alguns anos trabalhei como Registro aqui minha gratidão ao LABHAB da FAUUSP,
autônoma, uma experiência instigante e profícua. a Cid Blanco e Luís Renato Bezerra Pequeno, pelo
a
Como sempre, realizei muitas visitas de campo, para livre acesso ao material bibliográfico e iconográfico
elaborar estudos de impacto ambiental e projetos requisitado, bem como à Faculdade de Arquitetura
r
Palavras-chave:
Favela, projeto de urbanização, re-
urbanização de favelas, A
g
urbanos. Conviví com muitos outros profissionais e
cientistas e líderes populares, que, mesmo de outros
campos e experiências, procuravam uma melhoria
e Urbanismo da PUCCampinas e ao Programa
PICDT/ CAPES/PUCCampinas, pelo apoio recebido
durante a elaboração da pesquisa e redação deste
assentamentos informais,
a
para a população brasileira e mundial. Em 1989 trabalho.
ilegalidade da apropriação da terra, passei a trabalhar para a Prefeitura de São Paulo,
habitação social, projeto e obras, chamada "para tentar defender os mananciais da Finalmente, a todos os cidadãos do mundo que
R
tecnologias alternativas, infra- zona sul" dos movimentos de ocupação irregular, ousaram ocupar terrenos e edificações movidos
estrutura urbana que eu tanto prezo. Foi uma grande escola, e pelo contrário da cobiça, a solidariedade contra a
realmente, um processo coletivo de transformação. indignidade humana.
Ficha técnica: Em 1994, apresentei minha dissertação de mestrado
Projeto gráfico: Eleusina Freitas - O saneamento na urbanização de São Paulo, na
G
Capa: Foto de Laura Bueno FAUUSP, na qual desenvolvo uma síntese em escala
Impressão: Copylaser ampla, macrorregional, de um problema de
planejamento e gestão do território, que afeta
diretamente a nossa qualidade de vida urbana.
A
r e s u m o
a b s t r a c t
Essa tese de doutorado apresenta uma síntese
metodológica para aprimoramento da elaboração de
T
projetos e obras de urbanização de favelas.
This thesis developes and presents a methodological Conceitua-se o fenômeno do assentamento ilegal
sproposal for the improvement of projects and works como uma alternativa entre as formas de provisão de
for up-grading urban conditions of favelas in Brasil. moradia da população pobre de países periféricos,
The illegal settlement phenomenon is posed as one of mesmo que emergentes, como o Brasil.
the housing alternatives of the poor population of
C
many peripheral countries, even the understood,
including Brazil, among the emergent. Apresenta-se um quadro geral da política oficial para
favelas no Brasil. Estudamos aqui também o
aparecimento e crescimento das favelas e o
Official policies on favelas in Brazil are centred to this desenvolvimento de políticas públicas relevantes e da
thesis which also studies the origins and the growth of obtenção de direitos a serviços, tendo como foco o
A
favelas , the development of relevant public policies Município de São Paulo.
and the access of favela dwellers to public services, as
rights, within a case history of the São Paulo
Municipality. É traçado o caminho histórico da reformulação,
socialmente construída, dos partidos do projeto para
as favelas, a partir, principalmente da experiência
The historically and socially constructed
R
brasileira, e particularmente, São Paulo e Rio de
o
transformation,, of public policies and projects
Janeiro. Destaca-se o processo de desenvolvimento
developed for favelas are presented, in the context of
m
das políticas públicas e dos métodos e paradigmas
Brazilian experience ,specially São Paulo e Rio de
dos assentamento e de projeto desenvolvidos a partir
Janeiro).
u
de pós guerra em algumas capitais brasileiras.
s
T
The process of the development of methods of
e
intervention and paradigms of urban settlement and São analisados também casos de obras de
design are considered, since 1940. Study cases results urbanização de favelas pesquisados coletivamente em
r
of urbanisation results works of favelas, in terms of 1999 em cinco cidades brasileiras.
build projects are presented, based on coletive
empirical research developed in 1999. The social,
A partir da pesquisa empírica brefenciada, faz-se uma
S
urban and environmental adequacy of favela
discussão sobre a adequação urbanística, e sócio-
programmes is discussed.
ambiental. Destaca-se a questão da estética da
paisagem resultante na favela urbanizada, em que a
On the basis of research findings, the question of the ocupação original não foi orientada por projeto
landscape aesthetics and urbanised favelas is also técnico, e resultando em uma qualidade espacial
específica, social e historicamente construída.
B
discussed, focusing on the specific spacial qualities
resulting from the design solutions.
Ã
(de 25% a 50% da população é pobre ou muito pobre, superar essa simplificação ao levar em segundo capítulo centra-se na análise da
estruturalmente subempregada, e não dispõe de uma conta pelo menos 40 anos de experiências favela especificamente no Município de São
estrutura razoavelmente aceitável de seguridade social - concretas. Cabe dizer também que, embora Paulo, desde as primeiras invasões até
aposentadoria, saúde e moradia). As cidades sobretudo (e admitindo abertamente a possibilidade 1999. No terceiro, detenho-me na política
mais recentemente, não só as metrópoles, mas também concreta de melhoria das condições de vida habitacional levada a cabo neste município
cidades médias) não oferecem condições urbanas completas, pro por cio nad a pe lo p roc ess o de durante a gestão do Partido dos
Ç
como mobilidade, fácil acesso aos locais de moradia, urbanização de assentamentos informais, Trabalhadores - PT (1989-1992), quando se
limpeza pública e manutenção urbana, saneamento básico, não pretendo minimizar ou esconder as implementou um Programa de Ação em
quanto mais ambientais, como áreas verdes, de lazer, contradições estruturais dele decorrentes, Favelas de grande amplitude. No quarto
esportes ou cultura. cujo enfrentamento é, sem dúvida, uma capítulo procuro sistematizar a experiência
tarefa urgente da sociedade (tanto quanto br as il ei ra em pr oj et os e ob ra s de
O resultado é um ambiente construído como pouca da academia). intervenção em favelas nos últimos 40 anos.
A
qualidade espacial e muitos problemas que causam No quinto capítulo, a partir de uma ampla
desconforto. A cidade não é um ente abstrato, mas local de Como política oficial, a consolidação das pesquisa coletiva realizada em oito favelas
prefencial habitat humano, local onde são aplicados favelas no ambiente urbano não supõe a de cinco cidades brasileiras em 1999, busco
altíssimos valores de dinheiro público. Os cofres municipais, solução do problema da detenção dos avaliar o resultado da urbanização destes
estaduais, e federais (no caso de transporte, saneamento, direitos de propriedade do solo. Há conflitos áreas.
desenvolvimento socioeconômico) constróem o ambiente quanto à concepção do direito, e há
T
conflitos quanto ao que fazer em relação às A Parte 2 compõe-se de três capítulos. Nos
o
comum. As diferentes classes sociais se apropriam e vivem
(e convivem) nesses espaços. invasões existentes e às que virão. Essa é dois primeiros proponho uma discussão
ã
uma situação extremamente contraditória, sobre política e estética e sobre produção
Bastante motivada por essa incapacidade das políticas mas é a nossa realidade. social do espaço, procurando avaliar os
ç
públicas de ampliar o acesso da população à condição de limites e potencialidades das obras de
Esta tese versa sobre a
humanidade (no sentido de conforto, dignidade, respeito, A criação de uma favela ou invasão dá-se urbanização de favelas. No oitavo e último
N
viabilidade de realizar
a
integridade, eqüidade), procurei me dedicar a uma reflexão sempre de maneira coletiva. Os moradores capítulo procuro sistematizar uma proposta
investimentos em
transversa ao sentido do tecido social desenvovido no meio colocam-se como coletividade (daí os metodológica para a ação em favelas e
assentamentos ilegais como
t
urbano. no me s d e c om un id ad e o u n úc le o outros assentamentos informais, confiante
forma de melhorar as
habitacional, ou assentamento) para se de que já dispomos hoje de um acúmulo
condições de vida de seus
n
Questionando as decisões sobre o uso dos fundos públicos e, defender do proprietário. Por um lado, não notável de experiências neste campo que
moradores e romper o
é possível apoiar ou incentivar a invasão precisa ser transferido para os profissionais
E
processo de exclusão social e ao mesmo tempo, a adequabilidade da qualidade espacial
e
às necessidades humanas (tão complexas), busquei trabalhar como forma de provisão de moradia digna; envolvidos com políticas e projetos de
segregação espacial que tem
numa escala mais específica e mais humana, onde é possível por outro, a invasão de terra urbana é hoje habitação e urbanismo e inserido nos
s
acompanhado a urbanização
dar importância ao cheiro, à umidade, ou às cores do considerada um ingrediente fundamental conteúdos de ensino.
brasileira. Questiona-se,
do processo de urbanização (e do modo de
e
aqui, não apenas as soluções caminho, como meios de melhorar as condições de vida da
população pobre, de atenuar a dura luta pela sobrevivência a produção brasileiro), ao retirar a demanda Nas cons ider açõe s fina is dest aco as
habitacionais baseadas nos
da moradia do leque de reivindicações da questões que essa reflexão tão longa (desde
S
r
modelos tecnológicos - que é submetida o povo brasileiro. Concordando com
Oliveira, 1998: 215 "De fato, há algo mais tenebroso por trás população pobre. 1985, na atividade profissional, e nos cinco
barateamento da unidade
anos do doutorado) abre para novas
p
pelo processo construtivo -, da renúncia ao combate ao desemprego e à miséria. É que as
classes dominantes da América Latina desistiram de integrar a Minha hipótese é a de que já temos, no investigações.
mas também a política da
a
população, seja à produção, seja à cidadania.” Brasil e em outros países com
moradia real, sem subsídio e
assentamentos habitacionais irregulares e 1 Ver meu trabalho
com sobretrabalho, com
E
informais, uma sistemática de programado, "3.1. Política
construção gradual. No Brasil, vemos se juntarem - inclusive no local de moradia - Habitacional e Favelas:
à população de origem migrante, já com gerações de procedimentos técnicos e operacionais para
Conforme já foi denunciado estudos de caso",
analfabetismo e carências diversas, nosso tradicional exército atuação nestas áreas. Mediante a apresentado à FAUUSP em
por John Turner,1968, em
de reserva, de mão-de-obra de baixa qualificação, uma avaliação de experiências acumuladas, 1998, sobre o fenômeno no
1962, seguindo-se esta
hoje é possível sistematizar uma exterior, em especial sobre os
política não só a edificação, população de jovens urbanos sem qualificação e “inúteis” avanços no desenvolvimento
para o setor produtivo e uma população de idosos que não metodologia para o desenvolvimento de
mas também seu entorno, de obras de integração e
R
tem nenhuma estrutura de amparo social, além da casa projetos de urbanização de áreas já regularização urbana na
estarão em construção por
própria - quase sempre precária e ilegal. habitadas, os quais, com vontade política e Indonésia, Venezuela e outras
um longo tempo e serão
alguns recursos financeiros, poderão se cidades brasileiras, além de
utilizados antes de estarem São Paulo e Rio de Janeiro.
Considerando que o local de moradia é o lugar onde se estender à maioria dos moradores destes
completos.
passa a maior parte do tempo, sobretudo a criança e o jovem assentamentos.
que não estudam, o idoso, o desempregado, e que, como
P
bem observou Castel,1995: 30 "em uma sociedade 80% A tese está dividida em duas partes. A Parte
urbana, os problemas são efeito da degradação da condição 1 inclui uma introdução geral e cinco
social em taxas elevadas de desemprego, ruptura da capítulos. Na introdução, defino o conceito
solidariedade de classe e falência da transmissão dos laços de favela utilizado, sua relação com a
familiares", torna-se evidente a necessidade de promoção de exclusão social e as conseqüências políticas
ações sobre o meio ambiente urbano onde essa população
A
Apresentação 7
Índice 9
Introdução 11
PARTE 1 PARTE 2
Cap.
275 Introdução
1. 25
1
2
Favela e política habitacional recente no Brasil
A (não) política pós BNH
A revisão do conceito do déficit habitacional
28
32
35
Cap.
Favela e política 3 Favela:
de moradia no
Brasil
4
5
Novos atores na política habitacional
A posição das agências internacionais de financiamento
Referência bibliográficas do capítulo 1
35
36
40
297
Referências
Bibliográficas
do capítulo 6 6. 277 uma
Questão
também
Estética
1 Origem da favela em São Paulo 46
Cap.
2. 2
Cap.
43 Da remoção ao direito de localização 60 A produção
A favela no
município de São
3
4
5
6
Luz e Água nas favelas
A presença das favelas na urbanização brasileira
Uma mudança na postura municipal
62
64
67
311
Referências
Bibliográficas
do capítulo 7 7. 299 social do
espaço
ocupado
3. 97
O início do governo
317
317
Advertências
Atendimento às ocorrências emergenciais
1
Contribuição para
Cap.
1 100 1.1
A ação do governo
municipal em
favelas de São
2
3
4
A "virada" na ação em favelas
O programa de urbanização
A operacionalização da urbanização de favelas
Custos
104
115
126
317 Produção de novas unidades habitacionais para
moradores em favela
318 Complementação da urbanização da periferia
319 Urbanização como processo
8.
1.2
1.3
313 o desenvolvimento
de projetos e
obras em
favela
5 136 2
Paulo entre 1989 6 Avaliação 140 320 Levantamentos necessários 2.1
e 1992 323 Diretrizes e escopo do projeto 2.2
Quadro da situação obras de urbanização de favelas da 151 326 Parâmetros projetivos e de manutenção urbana 2.3
anexos
4.
Desenvolvimento
159 1 A erradicação
2 O direito à localização
3 Novas estruturas de gestão para as favelas e as novas
Soluções urbanísticas
163
167
171
333
335
335
Especificidades
Desenvolvimento das Obras (e do projeto)
A questão da participação popular
3.5
4
4.1
dos métodos de 335 Formas de execução das obras 4.2
ação e projeto em 4 Exigências ideológicas e fisiográficas da reurbanização 177 337 Coleta de lixo 4.3
favela demolição/reconstrução 337 A habitação 4.4
5 As novas tecnologias 182 338
Tecnologia alternativas e procedimentos adequados 4.5
6 Da urbanização parcial à urbanização integrada 191 de manutenção
7 Urbanização de favelas como política urbana e social 193 339 Serviços importantes
Referências bibliográficas do capítulo 4 4.6
207
Cap.
5.
Condições de vida
215
1
1.1
1.2
As favelas pesquisadas
Castelo Encantado, Fortaleza
Favelas Jardim Conquista e Jardim Dom Fernando I, Goiânia
218
218
222
343 Considerações finais
Parte 1
A favela tem sido tratada, desde sua origem, como um
problema a ser erradicado. A partir da década de 60,
alguns estudiosos começam a encarar os núcleos
favelados como uma forma legítima de provisão de
habitação. Mas essa não será a postura oficial. A
política habitacional do regime militar não se ocupará
das favelas, limitando-se a propor a sua erradicação.
Em diversas capitais do país, algumas iniciativas para
acabar com elas chegam a ser implementadas, sem
obter sucesso ou generalizar-se como política, apesar
de o crescimento das favelas ser notável durante todo
o período de ditadura militar.
Recursos
No governo do presidente Itamar Franco, empossado
Orçamentários 116.111 116.111 210.352 196.255 296.119 301.687 309.039 0 931.621 614.053
em 1992, surgiram outros programas: o Habitar
Brasil e o Morar em Pequenas Comunidades, para Habitar Brasil 116.111 116.111 210.352 196.255 290.294 298.240 279.000 0 895.757 610.606
urbanização de favelas e construção de habitações em 4.151 0 9.976 3447
Protech 0 0 0 0 5.825 3.447
regime de mutirão, a serem executados pelos
33 governos estaduais ou municipais com recursos do Habitar/BID 0 0 0 0 0 0 22.250 0 22.250 0
pensamento sobre a política habitacional no país. Fonte: Silva, 1999. Retirado de MPO/Secretaria de Política Urbana. Relatório Gerencial de Acompanhamento e Avaliação dos Programas, Brasília,1998.
A redemocratização do país teve como As Cohabs acabaram por criar um "modelo" de
conseqüência a ampliação e habitação para baixa renda caracterizado,
aprofundamento dos estudos (e sua difusão) resumidamente, por grandes conjuntos horizontais ou
sobre a realidade brasileira, os quais verticais nas periferias das cidades, sem
vieram a contribuir para uma revisão equipamentos sociais, constituídos de unidades
conceitual das condições de habitação da pequenas e de discutível qualidade tecnólogica e
população brasileira, resultando na revisão estética. Seu poder econômico junto aos poderes
do próprio conceito de déficit habitacional. municipais ofuscava, no entanto, qualquer
A revisão do questionamento. Atualmente, as dívidas contraídas
com o BNH, agora sob o controle da CEF, impedem
conceito de Tradicionalmente, o cálculo do déficit novos empréstimos, impossibilitando as Cohabs de
habitacional brasileiro vinha sendo feito promover, através de contratos de obras, novas
1.3.déficit com base no crescimento demográfico e
coabitação familiar (necessidade de novas
unidades. Algumas companhias transformaram-se
em gestoras de projetos de empresas privadas,
habitacional unidades) e na soma dos domicílios atuando sob o manto da legislação de interesse social,
inadequados (rústicos, insalubres e fecharam ou estão em extinção.
deteriorados). Esses números, muitas vezes
até superestimados (Silva, 1994) sempre
foram de grande valia para apoiar a Nas grandes cidades e municípios das regiões
Essa incapacidade do poder 8 metropolitanas, o agravamento do problema
municipal de atuar na política
liberação de vultosas verbas para a
habitacional, já que somente construção civil, para a construção de novas habitacional - crescimento das favelas, cortiços e dos
as companhias estaduais unidades. loteamentos populares precários - tem pressionado os
tinham acesso a
financiamentos, era ainda
governos municipais, fortalecendo a atuação dos
maior do que no setor de setores de assistência social junto à população das
saneamento, no qual havia Em 1995, a Fundação João Pinheiro apresentou uma moradias "subnormais". Mais recentemente, após
uma tradição de gestão nova concepção de déficit habitacional, que distinguia
municipal dos serviços. 1998, os municípios tem criado secretarias e fundos
Somente em 1988 a as diferentes condições de habitabilidade do nosso de habitação.
Constituição brasileira irá estoque habitacional e introduzia a noção de um
consagrar como de déficit não só de unidades, mas de habitabilidade de
competência comum da União,
estados e municípios os uma unidade existente. O "ovo de Colombo" As empresas concessionárias dos serviços de água,
programas de habitação, sabiamente colocado por este estudo é que nem toda esgoto e energia elétrica têm tido uma postura dúbia
melhoria das condições
habitacionais e de
habitação executada (fora do mercado capitalista) em relação às favelas: não oferecem um serviço de
saneamento básico. sobre loteamentos irregulares, terra invadida ou por qualidade (quase sempre impossível sem obras de
autoconstrução deveria ser demolida e reposta, urbanização) mas também não cobram de seus
devendo-se optar, em boa parte dos casos, pela usuários a mesma tarifa cobrada do restante dos
criação de outros tipos de atendimento visando cidadãos. Quando a favela se apresenta como um
melhorar as condições de habitabilidade destas obstáculo à execução de obras para a melhoria dos
unidades. Essa nova concepção significava o sistemas de infra-estrutura, é comum as
reconhecimento da pertinência dos novos programas concessionárias pressionarem outras estruturas de
e projetos habitacionais que vinham sendo governo a apresentarem uma solução para o
engendrados em alguns municípios. problema, seja ela a remoção ou a urbanização.
Novos atores Algumas delas têm mesmo promovido programas
próprios de urbanização de favelas como única saída
1.4.na política habitacional para otimizar os sistemas de saneamento das cidades
onde atuam. Esse quadro torna-se politicamente mais
35 36
complexo com a perspectiva da privatização destas
empresas, cuja preparação tem sido o aumento nas
No período de atuação do BNH, as Cohabs (criadas tarifas, não só para os favelados como também para
em todos os estados e em alguns municípios - capitais os demais consumidores destes serviços.
e outros economicamente importantes) acabaram por
monopolizar as ações no campo da habitação social, A posição das agências
por serem as intermediárias legais do Banco no
financiamento aos mutuários com renda inferior a
1.5.internacionais de financiamento
cinco salários mínimos. Essa característica da política
habitacional dos governos militares levou à inércia Filtrado pelo BNH, o dinheiro internacional, como
dos governos estaduais e municipais no que diz vimos, dificilmente chegava aos assentamentos
respeito aos problemas habitacionais locais8, já que informais. Isso, porém, não impediu que os agentes
para atuarem nesse campo só poderiam contar com internacionais que discutem as políticas públicas
recursos próprios, limitados em função da nacionais desenvolvessem um conhecimento e um
centralização do sistema tributário brasileiro no posicionamento sobre eles. Como observa
período autoritário. Guimarães, 1998:7:
"As sociedades periféricas se encontram isoladas entre Entre as diretrizes apontadas pelo Banco destacam-se
si e se vêem umas às outras pelos olhos vigilantes do o uso da poupança, a redução de custos via
países centrais. O fato de se verem umas às outras rebaixamento das normas urbanísticas e de edificação
pelos 'olhos de terceiros' é patente quando se verifica a e o aumento da produtividade da construção pela
escassez e até a inexistência de estudos de nacionais utilização da ajuda mútua. Para a habitação de baixa
de um país periférico sobre aspectos de outro, mesmo renda propõe-se a melhoria dos assentamentos
quando vizinhos, como no caso da Argentina em precários e a oferta de lotes urbanizados.
relação ao Brasil e vice-versa. Enquanto isto, é notório
o esforço permanente dos países centrais em estudar a
periferia, ter sobre ela suas próprias visões, como O documento de 1975, Site and services projects,
herança das necessidades de controle do período afirma a preferência do Banco por projetos de lotes
colonial, visões que são difundidas e absorvidas pela urbanizados, por serem compatíveis com a escassez
própria periferia.” de recursos e a baixa capacidade de pagamento da
população a que se destinam. O importante a
destacar neste documento é a relevância atribuída à
O posicionamento do Banco Mundial em relação aos criação de estruturas administrativas para a
problemas urbanos e habitacionais sofreu várias implementação da política habitacional, a defesa dos
alterações ao longo do tempo. Suas diretrizes básicas estratos médios da população de baixa renda, com
para o enfrentamento da questão encontram-se maior capacidade de pagamento, como alvo
sistematizadas em documentos como Urbanization prioritário dos programas, e a afirmação de que a
(1972), Vivienda (1975), Site and service projects unidade habitacional, assim como a infra-estrutura,
(1975) e Agenda for the 1990's (1991). Analisando podem ser executadas em etapas, indicando-se o
estes documentos, Rossetto, 1993:68-77, nos informa mutirão como meio adequado de diminuição dos
que a posição do Banco em 1972 era a de que os custos e ampliação da participação. Reafirma-se
moradores de favelas e habitações autoconstruídas (a também a posição de que o financiamento deve incluir
parte da população que vive em condições todos os custos, restringindo-se os subsídios, de modo
inadequadas) estavam provendo uma solução para a a garantir a reprodutividade do programa e não
falta de moradia, ao invés de se colocarem como um alimentar o interesse de outros setores por subsídios.
problema para a sociedade e de pressionarem os
governos. No entanto, o Banco considerava que as
políticas de remoção e reassentamento, e até de No documento de 1991, Agenda for the 1990's,
melhoramento de assentamentos existentes, observa-se uma modificação na postura do Banco
implementadas pelos governos não encaravam o Mundial, que passa a tratar a questão habitacional (e
problema principal, que seria a falta de estoque seus financiamentos) integrada à questão da
habitacional. Para o Banco, a diretriz correta, naquele produtividade urbana e do desempenho
momento, seria a urbanização de terras onde se macroeconômico. Os principais problemas
pudesse construir com sistemas de poupança apontados são a infra-estrutura deficiente, a excessiva
/investimentos. regulamentação urbana, onerando as atividades, a
falta de autonomia local e a inadequação da estrutura
financeira. Pela nova orientação, os empréstimos não
Neste documento de 1972, a habitação é vista como serão mais específicos para habitação ou infra-
um fator de desenvolvimento econômico, promoção estrutura, mas estarão vinculados a reformas
individual e estabilização social. A baixa renda é administrativas e a questões urbanas mais complexas.
apresentada como a principal causa do problema Comentando esta mudança de postura do Banco,
habitacional. Como é a renda que define o tipo de Rossetto, 1993:77, conclui: "A partir de 1979, os
37
3 habitação que a família pode adquirir, parte do projetos de lotes urbanizados começam a aparecer 38
problema poderia ser resolvida no mercado privado. agregados a projetos de intervenção mais complexos.
As políticas públicas existentes são criticadas por Vão perdendo importância como objeto central da
partirem de estimativas exageradas do déficit política e tornam-se cada vez mais complemento de
habitacional, por executarem padrões habitacionais uma política de desenvolvimento urbano [...]. Os
incompatíveis com os padrões socioeconômicos dos projetos habitacionais e de infra-estrutura só terão
beneficiários, com standards elevados e códigos sentido como objeto de financiamento se agregados a
proibitivos. Conforme observou Rossetto, 1993:69, "a uma ação de grande porte." Este seria o caso do
crítica atinge a solução mais comum, que consiste no programa Geprocav, que a Prefeitura de São Paulo
ciclo de demolições de favela para a construção de financia junto ao Banco, viabilizando diversas obras
conjuntos habitacionais, constituídos de unidades de remoção de favelas.
acabadas. Como resultado, verifica-se uma
disparidade entre o preço da unidade produzida e a
capacidade de pagamento da família favelada que No Brasil, as agências internacionais - Banco Mundial
deveria ser removida para o novo conjunto. O e BID - não financiaram nenhuma ação em favelas até
problema, desta forma, continua irresoluto.” o desenvolvimento do Projeto Grande Rio, iniciado em
1989, com recursos do Banco Mundial. Em 1992 a ABRAMS, Charles, "Squatter settlements the
Sabesp e a Prefeitura de São Paulo assinaram com o problem and the opportunity", Division of
Banco Mundial o Programa de Saneamento International Affairs, Dept. of Housing and Urban
Ambiental do Reservatório Guarapiranga, com quase Development, serie Ideas and Methods Exchange no.
um terço dos recursos destinados à urbanização de 63, 1966.
favelas. A Prefeitura do Rio de Janeiro desenvolve
bibliográficas
desde 1993 o Projeto Favela-Bairro, com receitas do ABREU, Maurício de Almeida, "Reconstruindo uma
BID. Em 1994 a Prefeitura de São Paulo negociou com história esquecida: origem e expansão inicial das
o BID o financiamento do Programa Cingapura. favelas do Rio de Janeiro", IN Revista Espaço &
Debates no. 37 ano XIV, pp 34-46, 1966.
Conforme nos relata Rossetto,1993:79, "[..] outra BLANCO, Cid, "A relação projeto/custo/qualidade
Referências bibliográficas
política, com repercussões menores e com menos nos empreendimnetos realizados pelas prefeituras
recursos destinados, previa a urbanização de de São Paulo, Santos e Rio de Janeiro, referentes às
assentamentos precários (upgrading), por considerar habitações subnormais 1989-1996", Relatório de
economicamente inviável a remoção de todas as Iniciação Científica apresentado à FAPESP, São Paulo,
famílias que ali moravam. Tratava-se portanto, de 1998.
aceitar a precariedade como espaço inevitável da
moradia, buscando integrar estes assentamentos à BUENO, Laura Machado de Mello, "O saneamento
Referências
Essa política foi implementada 9
em larga escala na Indonésia malha urbana e melhorar suas condições de na urbanização de São Paulo", dissertação de
nos anos 70, com o urbanização, implantando a infra-estrutura básica, e mestrado apresentada à FAUUSP, São Paulo. 1994.
financiamento do Banco tentando evitar que a falta generalizada destes
Mundial. Optou-se, no caso,
pela manutenção e serviços viesse a afetar a reprodução da força de CORREIA, Telma de Barros, "Pedra: plano e
urbanização dos kampungs trabalho e, em conseqüência, a produtividade da cotidiano operário no sertão", Papirus, São Paulo,
(assentamentos informais
existentes dentro das maiores
economia urbana.” 9 1998.
cidades), com soluções que
previam a melhoria das F U N D A Ç Ã O J O Ã O P I N H E I R O, " D é f i c i t
condições físicas através da Pode-se concluir que até praticamente o fim dos anos habitacional no Brasil", Sepurb, Brasília, 1995.
introdução de infra-estrutura e
serviços básicos.
80, o BNH (e seus sucedâneos), o BID e o Banco
Mundial mantiveram inalterados seus princípios de GUIMARÃES, Samuel Pinheiros, "Quinhentos anos
formulação de políticas habitacionais: propriedade de periferia: mecanismos e saídas", artigo, xerox,
privada da moradia e a renda como requisito único novembro de 1998.
para o acesso aos programas habitacionais. As
políticas alternativas (lotes urbanizados, upgrading e HARMS, M, "Historical perspectives on the practice
autoconstrução) foram episódicas. O que há de novo, and purpose of self-help housing", IN WARD, P.
nesse período, são as diferentes experiências (org.), "Self help housing: a critique", Mansell
implementadas pelos municípios, que vão Publihshing Limited, London, 1982.
desenvolver e sistematizar aquelas políticas
alternativas, as quais serão adotadas, nos anos 90, LEEDS, A. e LEEDS, E., "Brazil and the myth of urban
como políticas públicas oficiais, seja pelo governo rurality: urban experience, work and values in the
federal e os governos estaduais, seja pelas agências squattements of Rio and Lima", IN FIELD, A.J. (ed.),
internacionais de financiamento. "City and country in the Third World: issues in the
modernization of Latin American", Schenkman Publ.,
Cambridge, Mass, 1970.
39 40
MANGIN, W., "Latin american squatter settlements:
a problem and a solution", IN Latin American Reseach
Review, vol. 2, n. 3, Summer, pp. 65-98, 1967.
41 42
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2.
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Favela
no
município
de
São
Paulo
dos anos 50
aos 90
Até a década de 40, a cidade de São Paulo não tinha
muitas favelas ou, pelo menos, a favela não se
apresentava como um problema para a
administração local. Encontra-se no Plano de
Avenidas de Prestes Maia, uma referência ao fato de
que, com as obras viárias e de paisagismo tinha-se
afastado o risco de aparecerem favelas. Arthur
Saboya, no texto de introdução ao Plano, descrevendo
Origem a Av. Anhangabaú, comenta (Maia, 1930:III): "Não só
2.1.da favela o saneamento do vale e das zonas vizinhas foi
assegurado; desapareceu o perigo da transformação
em São Paulo em novas "favelas" das encostas marginais e do próprio
vale."
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O que é impressionante na proposta de Vilas de
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Habitação Provisória em São Paulo é sua PARNAÍBA Av
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extemporaneidade. No Rio de Janeiro, em 1943 já s Rod dos Trabalhadores
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os anos 50 já se avaliava que não havia condição de
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transferir os favelados para moradias provisórias, Rod
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Recife, foram também removidos milhares de famílias s
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paulistanas foram propostas em 1971. COTIA
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As propostas e ações municipais não modificaram o
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favela ou os alojamentos provisórios, que se tornavam Av
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favelas definitivas. Quase todos os alojamentos
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provisórios construídos pela Prefeitura para acabar Itap tr RIOS
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com uma favela tornaram-se outras favelas. Aquela g a ESTRADAS, AVENIDAS E RODOVIAS
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política de desfavelamento e adestramento social não ITAPECIRICA REPRESA
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se concretizou. A fase final de atendimento - moradia DIADEMA
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definitiva - dependia ou de um crescimento da renda
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dos moradores de favela - o que não ocorria, num
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quadro sócio-econômico de intensa concentração de Fonte: São Paulo, Estudo Sobre o Fenômeno Favela,
renda - ou da produção subsidiada da habitação para Boletim HABI, Secretaria do Bem Estar Social, 1974
Em 1973 a SEBES executa o primeiro censo das favelas Os textos dos volumes publicados mostram uma
57 58
do município. Esse estudo é a primeira grande tentativa do entendimento da favela dentro do quadro
tentativa da Prefeitura de quantificar o problema e do desenvolvimento urbano brasileiro: "A segregação
refletir sobre ele, conforme sua apresentação: "O em favelas aparece como produto dessas assincronias
presente trabalho é uma contribuição para um do sistema brasileiro. A favela é antes de tudo, um
diagnóstico da situação, com a finalidade de subsidiar problema habitacional. Esse problema em si já grave
uma política de intervenção habitacional." (São em São Paulo, vem assumindo novas proporções pelas
Paulo(Cidade), 1974:18) constantes migrações"... "Corolariamente, a forma de
intervir sobre o fenômeno "favela" varia conforme a
São feitos os levantamentos , tabulados os dados e visão que se tem do problema. Uns sugerem o controle
analisados para toda São Paulo e são elaborados e da migração, outros a intervenção sobre o feitio da
publicados estudos específicos para cada urbanização e ocupação do solo; outros ainda,
Administração Regional. O volume que descreve os procuram a remoção da população no sentido de
resultados gerais do censo das favelas paulistanas ressociá-la através de um processo cujo primeiro passo
inclui uma apresentação de conceitos sobre seria a melhoria das condições habitacionais." (São
marginalidade, a partir de autores como Luís Pereira, Paulo(Cidade), 1974:17/18)
Fernando Henrique Cardoso e Lúcio Kowarick.
Comparando os resultados do censo de favelas (São É de se destacar que nesse período já tinham surgido
Paulo(Cidade), 1974) com os do levantamento outras vozes em outros locais do país, como o Rio de
elaborado pelo Pe. Lebret em 1957, verificamos 8
Janeiro, e do mundo, indicando outras posturas para
importantes mudanças no perfil das favelas de São o enfrentamento da favela, aceitando-a, valorizando
Paulo. a criatividade, dignidade e riqueza dos espaços
produzidos pelo esforço comunitário sem a ação ou
Município de São Paulo anuência do Estado.
Tabela 2.4
FAVELAS A década de 70 se inicia num processo de crescimento
EM 1957 e 1973 da população total e, mais ainda, da favelada em São
Paulo, tornando impossível a manutenção dessa
1957 1973 postura de simplesmente ignorar as favelas e tratar de
removê-las somente quando o incômodo fosse muito
141 525
Número de favelas grande.
Número de barracos 8488 14500
Fonte: SAGMACS, 1958 e São Paulo(Cidade), 1974
De remoção
Até esse período, poder-se-ia dizer que quem morava Contraditoriamente, nessa época a Prefeitura inicia os
em favela não existia como pessoa, cidadão, em primeiros investimentos para os favelados nos
qualquer aspecto da vida urbana. A favela era vista terrenos das próprias favelas: compra de terrenos de
como uma excrescência, um fenômeno de favelas em áreas particulares ameaçadas de despejo,
marginalidade não só sócio-econômica, mas também execução de melhorias através de mutirão (pinguelas,
humana, psicológica. Todos os discursos redes de drenagem, escadarias etc).
institucionais, até os dos técnicos e intelectuais
envolvidos com estas questões apontam para a Em 1978 Olavo Setúbal baixa o Decreto 15.086, que
necessidade de erradicar a favela, relocar as famílias e considerava o surgimento das favelas consequência
reconstruir as pessoas. de áreas municipais vazias que não eram bem
guardadas pela administração.
Segundo o decreto, cabia aos fiscais das Reynaldo de Barros "excluiu" o termo desfavelamento
Administrações Regionais guardá-las e desocupá-las, na sua administração, e passou a incentivar as ações
com o acompanhamento de uma assistente social. de atendimento de reivindicações dos favelados nas
Para tanto, quando necessário, deveria ser solicitado o próprias favelas. Fixando-se a população no local de
auxílio da Polícia Militar. moradia, criaram-se mecanismos de investimentos
nas próprias favelas e abriram-se canais de
A Associação Profissional dos Assistentes Sociais (com participação de moradores na execução de
Luiza Erundina na presidência) mobilizou a imprensa programas. Os recursos do FUNAPS puderam ser
contra o decreto, argumentando que a causa das utilizados em atendimentos coletivos e não só para
favelas era a pobreza, e não a existência desses doações ou financiamentos individualizados. (SÃO
terrenos. A APASSP organizou um ato público de PAULO (CIDADE), 1992)
repúdio ao decreto do prefeito, no Sindicato dos
Jornalistas, que contou com a adesão de muitas Foi criada dotação orçamentária específica e o
lideranças de favelas, além de funcionários públicos. programa PROFAVELA, que consistia em duas etapas
Esse desejo transparece em 9 O movimento foi vitorioso, com a revogação do
todos os níveis de governo, de atendimento: a dotação de infra-estrutura e, após,
como se pode ver no Plano decreto. Daí surgiu também o início de uma a execução de unidades habitacionais e
Habitacional do Estado de São coordenação da favelas do município, que recebeu equipamentos na favelas.
Paulo, à época: No item
"Demanda habitacional pela
grande apoio da APASSP.
correção da anormalidade e Dadas as dificuldades de implementação das obras
reposição", aparece a única Durante 1976 e 1977 a Igreja Católica lançou as
referência à política para as
do PROFAVELA pela COBES, administração direta
favelas: "rústicos - necessidade pastorais da moradia em várias cidades brasileiras, regionalizada, esses serviços ficaram a cargo da
de substituir todos aqueles dando destaque às favelas. Através desses contatos EMURB, que era remunerada pelo FUNAPS. Foram
existentes em 1975;" (SÃO entre lideranças e comissões de favelas, esboçaram-
PAULO (ESTADO), 1976) feitas obras por empreiteiras em 12 favelas situadas
se as primeiras reivindicações mais organizadas dos em terrenos municipais. Com a passagem da
Em 1979 o Banco Nacional de 10 favelados: acesso à luz, à água e, depois, à posse da operacionalização das obras para a EMURB, a COBES
Habitação cria um programa
que, pela primeira vez,
terra. perdeu o controle do programa.
possibilitaria o uso de seus
recursos em terrenos de Em 1979, no final de seu governo, Olavo Setúbal cria
favelas. O programa previa a
Para implementação do PROFAVELA, a COBES
"erradicação" das favelas o FUNAPS - Fundo de Atendimento à População chegou a ensaiar alguns estudos de regularização
através do financiamento da Moradora em Habitação Subnormal (subordinado à fundiária das favelas. Entretanto, como no caso das
reconstrução de unidades COBES), respondendo à pressão da Igreja Católica,
habitacionais de até 25 m2, o favelas em terreno municipal qualquer solução
que poderia ser feito no das comunidades de base e das organizações dos passaria pela desafetação das áreas pela Câmara
próprio terreno da favela. Em favelados. A criação do FUNAPS possibilita que a Municipal, essa ação não foi aprovada pelo prefeito.
São Paulo, entretanto, o
programa serviu como uma
Prefeitura passe a ter uma atuação na política
espécie de canteiro habitacional autônoma em relação ao governo
experimental de processos federal (do qual a COHAB dependia), que tenha uma
construtivos que não foram
bem sucedidos e foi utilizado ampliação da sua ação nas favelas, e maior agilidade
Os orgãos responsáveis pelos
para viabilizar a remoção de administrativa.
favelas (cerca de 5500 serviços de energia e saneamento
barracos em 5 anos) por obras não tinham política de
públicas para conjuntos Vê-se nesta época o posicionamento contraditório do
Luz e atendimento à população
habitacionais. (Taschner, 1986 governo municipal frente às favelas. Ao desejo de
favelada, até a década de 70. Os
e Rodrigues e Seabra,
erradicar, remover, limpar a cidade,9 impõe-se a dura
1986:39)
realidade: as favelas aumentavam e , com os 2.4.Água setores da administração pública
responsáveis por esses serviços se
primeiros sinais de revitalização da vida política
nas favelas recusavam a estudar a expansão
61 nacional, ouviam-se vozes dos favelados, que 62
dos serviços para as favelas,
solicitavam soluções mais humanas para as favelas.
baseados, formalmente, nas
legislações municipal e estadual,
A administração do prefeito Reynaldo de Barros
que impediriam investimentos
(1979-1982) demarca um salto significativo da
públicos em ocupações ilegais.
postura da Prefeitura em relação às favelas,
referenciada em mudanças que estão ocorrendo no
Com uma política de cunho empresarial, voltada ao
próprio fenômeno favela em São Paulo, nas pressões
retorno financeiro dos investimentos, as empresas não
sociais em todo o Brasil em relação à inclusão desses
10 consideravam essa população em condições de
setores na política habitacional nacional, bem como
atendimento. A condição sócio-econômica do
uma pressão local, das associações comunitárias de
favelado não o caracterizava como um "bom"
favelas, das comunidades cristãs, de políticos e de
consumidor. A situação fundiária das favelas - terra
outros movimentos sociais, que reaparecem no
invadida - sempre possibilitaria a eventual retomada
quadro político. Novas diretrizes para a ação
da terra pelo legítimo proprietário. Isso acontecendo,
municipal em habitação e particularmente nas
quem iria arcar com os custos de retirada das redes?
favelas, passam a vigorar.
A luta pela luz ganhou grande força entre as favelas. A partir dessas mobilizações, é criado o MUF -
Em amplas assembléias, muitas realizadas em salas Movimento de Urbanização de Favelas.
cedidas ou nas próprias igrejas católicas,
organizaram-se manifestações nos gabinetes do Nessa mesma época, devido à existência de muitas
prefeito e do governador, muitas delas com mais de ações de reintegração de posse contra favelados, é
1000 pessoas. criada a Central de Defesa do Favelado.
A partir de 1979, Reynaldo de Barros (anteriormente Também em 1979 iniciou-se o PROAGUA. A SABESP
presidente da SABESP) deu grande ênfase à dotação passou a fazer ligações de água em barracos de
de luz e água às favelas, com a assinatura de favelas lindeiros às vias públicas e em vielas com mais
convênios entre a prefeitura e as concessionárias de 4 metros de largura. Com a introdução do PAD -
estaduais desses serviços , SABESP e ELETROPAULO. tubulações de poliuretano flexível, passou-se a
atender as outras casas, com cavaletes coletivos.11
O PROLUZ, sub-programa do PROFAVELA, até 1981,
só agia m favelas situadas em terrenos municipais ou O prefeitura assumia o custo dos cavaletes de água,
estaduais. mas todos os serviços eram feitos pela SABESP, através
das suas regionais.
Inicialmente, os favelados cotizavam a compra de
postes, que a ELETROPAULO instalava nas ruas A introdução da água nas favelas foi mais difícil
lindeiras, ligando a luz em condomínio. operacionalmente, porque é um sistema de menor
maleabilidade, quando comparado ao da energia
Posteriormente, a ELETROPAULO criou um poste- elétrica. Essa, por ser aérea, exigia poucas
padrão para favela - poste leve, metálico, produzido intervenções na ocupação original da favela.
em Belo Horizonte -, o que proporcionou a
eletrificação do interior das favelas, e as ligações Na relação com a prefeitura para a operacionalização
individualizadas. Os custos da eletrificação eram do PROAGUA, a SABESP se caracterizava pela rigidez
pagos pela prefeitura. e falta de interesse na sua execução. A postura 11 Ricardo Araújo, funcionário
empresarial da SABESP, somada à falta de da SABESP, era o responsável
desenvolvimento de técnicas e materiais mais e incentivador da introdução
Operacionalmente, o morador era responsável pelas da água pública nas favelas
instalações internas ao barraco e a ELETROPAULO adequados, resultou numa ação mais tímida na naquele período. Seus
implantava os postes de concreto nas ruas lindeiras e dotação de água nas favelas, se comparada à de luz. depoimentos revelam a
importância da sensibilidade
os postes de metal nas vielas. A participação da favela social e criatividade dos
Município de São Paulo
no PROLUZ era feita através da assinatura da técnicos dos escalões
Tabela 2.5 inferiores, nos escritórios
chamada Folha de Adesão, onde cada família se PRÓ ÁGUA E PRÓ LUZ - regionais da Concessionária,
comprometia a pagar pelo consumo da luz, bem ATENDIMENTO DE 1979 a que viabilizaram a ação. Ver
como pagar pela reposição do poste metálico, que 1981 também Watson, 1992.
tinha sua vida útil estimada para 5 anos.
Pró Água Pró Luz
Esses terrenos foram doados pelo loteador ao Favela Maria Luísa Americano: Cidade Líder,
17
município por exigência legal. A legislação urbanística Itaquera. "...existiam cerca de 30 moradias
exige há décadas que o loteador doe à assentadas sobre aterro lançado, originário da
cidade os terrenos destinados ao sistema viário, obra de pavimentação desta avenida.”
praças, áreas verdes e equipamentos públicos. As
quantidades variaram com o tempo, mas foi sempre o Favela Jardim Sandra: Jardim Lídia, Campo
Executivo Municipal que aprovou a indicação ou Limpo. "O aterro é constituído de camadas....Este
definiu as áreas que ficariam sob seu domínio ou pacote, que pode alcançar 13 m de espessura,
guarda. apresenta também lixo, entulho de construção e
madeira.”
Aqui nos vemos à frente da questão da capacidade do
Estado de defender o interesse público comum, frente Além desses, outros exemplos de resultados de
71 aos interesses privados. Os terrenos deixados pelo 72
sondagem em áreas de favela poderiam ser
loteador particular ao município não são propícios à mostrados, apresentando a "arqueologia" do solo
ocupação e quase sempre vedados à construção pelos urbano, especialmente o tornado público.
códigos legais.
Os projetistas dos loteamentos destinam para área
Qual era o uso do solo das glebas loteadas, principal pública os trechos da gleba que têm as piores
fator de expansão urbana e oferta de moradia popular condições de urbanização - não podem tornar-se
no caso de São Paulo ? Atividade agrícola, mineração, lotes: linhas de drenagem, beira de córregos, áreas
reflorestamento, sítios e chácaras de recreio, lixão, com declividade superior a 30% . O sistema viário,
bota-fora ? O uso original das glebas em alguns casos que também será doado, tem que ser adequado à
teve consequências sobre o uso futuro. legislação (larguras e declividades) , pensada para a
cidade do carro individual - no mínimo duas pistas de
Arrola-se a seguir alguns casos de favelas localizadas rolamento, faixas de estacionamento, calçadas de 1,5
em áreas de uso comum do povo de loteamentos metros de largura. As larguras e declividades exigidas,
populares, que podem esclarecer essa afirmação: especialmente em glebas não planas, exigem grande
volume de cortes e aterros.
Vielas para pedestres só existem no papel, pois são As regiões onde havia maior concentração de favelas
projetadas onde é imprescindível passar alguma rede, em terrenos municipais são justamente o anel
canaleta ou escadaria de drenagem. As obras de intermediário e o anel periférico do município de São
execução do sistema viário são portanto grandes Paulo, destacando-se Campo Limpo, Capela do
obras de terraplanagem. A execução dessas obras Socorro, Santo Amaro e Freguesia do Ó.
exige remoção e troca de terra. Na fase de
implantação do loteamento os trechos que serão área
pública passam a ter uma função no canteiro: áreas O Partido
de empréstimo de terra, deposição de materiais
retirados durante a terraplanagem - tocos e raízes,
cobertura vegetal, pedras, solo impróprio - o lixão do 2.8. dos
loteamento. Trabalhadores 19
“
pois possibilita o acesso dos favelados à Justiça - foi Trechos de artigo do vereador Luís
objeto de quase interminável (finalizado em 1999) Carlos Moura (PPS) publicado no Diário Popular
processo do Tribunal de Contas Municipal contra a de 5/10/91: "O projeto original foi votado em 27 de
administração Erundina por mau uso da verba pública. agosto de 1991, aprovado com o voto de 30
vereadores, inclusive o meu. Posteriormente houve
Em março de 1990, o Executivo enviou à Câmara mais discussão, e tomou vulto a questão da
Municipal, uma solicitação de desafetação de 139 áreas propriedade das terras, porque uma parte do
municipais, envolvendo cerca de 36000 famílias, para a movimento dos favelados passou a rejeitar o instituto
concessão de direito real de uso gratuita por 90 anos. da "cessão do direito real de uso" e exigir em novo
substitutivo a "propriedade" dos terrenos onde estão
Esse projeto de lei, entregue à Câmara com uma grande assentados, tentando vedar a especulação, ao
manifestação de favelados, somente recebeu apoio das condicionar a transferência dos direitos de compra e
bancadas do PT, PCB e PCdoB, ficando parado durante venda à anuência do executivo e à manifestação da
18 meses. Associação dos Moradores, quando houver, sempre
restrita a terceiros que preencham as condições
Em agosto de 1991 o projeto de lei passou pela votação previstas em lei. Ocorre que essas restrições somente
de primeiro turno, sem nenhuma discussão, junto com existirão , pelo texto do substitutivo, enquanto o
outros projetos de lei de interesse de outros partidos. morador não tiver recebido a escritura definitiva de
compra e venda, a ser outorgada depois de pago o
O vereador Andrade Figueira, do PFL, apresentou um preço. Portanto, depois de quitado o imóvel e recebida
substitutivo ao projeto do Executivo, que torna a a escritura definitiva, o domínio se consolida e o
concessão onerosa, reduz o prazo para 20 anos, exige a morador tem a livre disponibilidade do bem. Outra
consulta prévia a moradores de uma faixa de 200 metros questão, a preferência de recompra pelo poder
no entorno da favela e exige que as obras de público, por opção da elaboração do contrato-
75 padrão, também não é aceita pelos setores do 76
urbanização das favelas sigam a legislação de
parcelamento, uso e ocupação do solo atuais. movimento dos favelados, que não admitem a
concessão de direito real de uso. É bom lembrar que
Visando a aprovação de “alguma coisa” para as favelas os imóveis financiados pelo BNH, para citar um
durante a administração petista, alguns setores do exemplo, tinham cláusulas restritivas e ninguém as
Executivo e vereadores do PT, liderados pelo vereador respeitava.”
Henrique Pacheco, negociaram um outro substitutivo
com setores do PMDB ligados ao CORAFASP, propondo Em matéria do Shopping News (8/9/91) a
jornalista Ana Cristina Machado explica que
não mais a concessão de uso, mas a venda das terras
"Os 20% institucionais (da gleba que o loteador tem
aos favelados. O novo substitutivo incorporava também
“
que doar) são legalmente "áreas de uso comum do
a criação das ZEIS - Zonas Especiais de Interesse Social -
povo", pelas quais os compradores de terrenos
para todas as favelas em área municipal do município,
pagam, seja através de sobrepreço cobrado pelos
proposta essa contida também no projeto de lei do Plano
loteadores, seja através dos impostos à Prefeitura -
Diretor, também parado na Câmara Municipal desde
encarregada de administrar e proporcionar melhorias
Fevereiro de 1991.
nesses terrenos.”
“ ""O projeto é absurdo", protesta o vereador
Roberto Trípoli (PV), que acusa a Prefeitura de "privar
milhões de paulistanos de centenas de áreas verdes,
sob o pretexto de beneficiar 30000 famílias." Para
Trípoli, é obrigação do Executivo municipal
transformar os terrenos de uso comum do povo em
parques e praças, lembrando que a cidade só tem 1,5
“ Trechos do editorial do jornal O Estado
de São Paulo de 12/4/91, pág. 3: "Os dois
projetos de oficialização das favelas instaladas em
áreas municipais..... têm suas diferenças, mas
combinam em um ponto: partem do pressuposto de
que é legítima a iniciativa que leve a dispor de áreas
m2 de área verde por habitante, quando as Nações
Unidas recomendam um mínimo de 12 públicas em benefício do interesse de algumas
m2."(Shopping News, 8/9/91) pessoas.....No fundo de toda essa polêmica, que não
é nova pois sempre se discutiu a questão da
"Outro ferrenho opositor da proposta é o vereador regularização ou solução desse problemático
Bruno Féder (PDS): "O projeto institucionaliza a fenômeno urbano brasileiro, contrafação, entre
miséria e abre precedente para uma progressão outras questões sociais crônicas, da carência de
geométrica de ocupações de áreas desse tipo", afirma moradias, no fundo, dizíamos, está a omissão do
Féder, que defende a remoção das favelas, Poder Público que não soube prever, regulamentar,
acompanhada do estudo de uma "opção de moradia utilizar da melhor forma seus próprios domínios, no
aos favelados.” (Shopping News, 8/9/91) interesse realmente social, vale dizer, geral, de toda e
não apenas parte da comunidade. Porque o bem
"Mais cuidadoso no comentário...o presidente da público tem apenas essa finalidade e é
Câmara Municipal, Arnaldo Madeira neste sentido que deve ser administrado: no interesse
(PSDB),... explica que as áreas de uso comum do coletivo, de acordo com as leis vigentes. Por isso é que
povo não são propriedade da Prefeitura: "Elas o Poder que detém o bem público tem que defendê-lo,
pertencem à população que comprou os lotes das com o zelo condizente de proprietários responsáveis."
redondezas das favelas, razão pela qual a
Constituição e a própria legislação federal obrigam o Trechos do editorial do jornal O Estado
Executivo a preservar esses terrenos de interesse de São Paulo de 28/5/91, pág. 3: "Ninguém
comum."(Shopping News, 8/9/91) ignora o drama da falta de moradia que infelicita
enormemente as camadas mais carentes da
Em reportagem sobre o projeto de lei de população - grande parte das quais não teve
regularização de favelas, é colhido o condições de praticar esbulho, organizado ou
seguinte depoimento de um morador do loteamento espontâneo, em terrenos públicos. Há que se afirmar
Vila Nhocuné, onde há uma favela: "Já o vizinho Luís uma questão de princípio: Não se pode simplesmente
Soares afirma que os favelados são uns privilegiados: passar ao domínio de alguns o que é bem de todos,
"Acabei com a saúde para construir minha casa, onde "...."Mais importante é considerar que o presente ao
pago todas as contas, pra eles ficarem aí de graça, favelado é uma injustiça aos que têm por moradia os
pagando uma miséria pela água e pela luz." Seu Luís baixos de um viaduto, aos que passam as maiores
quer que a favela saia de lá."(Shopping News, 8/9/91) necessidades para arcar com um aluguel ou
permanecer na enorme fila dos pretendentes à
"O vereador Jamil Achôa (PMBD) afirmou que casa própria, oferecida - e raramente entregue - pelas
votaria contra, qualquer que fosse o projeto. Ele e o instituições oficiais.”
vereador Gabriel Ortega (PSDB) estão movendo uma
ação popular contra a prefeita e os vereadores, para
“
77 impedir a aprovação dos projetos. Para o vereador o 78
projeto é inconstitucional porque "a Prefeitura não
pode dispor de áreas públicas para atender interesses
de algumas pessoas".(O Estado de São Paulo, 9/4/91) Essa amostra indica as dificuldades para aceitação
das favelas dentro do tecido urbano como objeto de
"Outra preocupação de Trípoli (vereador
justiça social, de implementação, através do
pelo PV) era com a propriedade dos lotes. Embora
reconhecimento de direitos aos mais pobres, do
o projeto substitutivo estabeleça que as terras só
interesse público. Como exemplo desta guerra entre
podem ser comercializadas para fins de moradia
interesses público e privado, acirrada na gestão
popular, "depois que o morador tiver a escritura ele
petista, eram tantas as ações de reintegração de
poderá vender o terreno a quem quiser".(O Estado de
posse de favelas que existiam há mais de vinte anos,
São Paulo, 9/4/91)
que a Prefeitura assinou convênio com ongs para
prestação de serviços jurídicos, para que os
moradores pudessem se defender de pretensos
proprietários, e iniciar ações de usucapião urbano.
Foi elaborada uma espécie de normatização para a
Quanto às ações físicas em favelas, montou-se um concepção e apresentação dos projetos, com a
Programa de Urbanização de Favelas, priorizando a colaboração de profissionais do Rio de Janeiro que
execução das obras de infra-estrutura no interior das haviam trabalhado em favelas. As obras foram sendo
favelas, envolvendo o menor número possível de contratadas uma a uma, ampliando o número de
remoções ou de remanejamento de barracos. No pequenas e médias empreiteiras.20 Contrataram-se
primeiro ano da administração, tentou-se realizar os funcionários para trabalhar na Prefeitura, realizando
anteprojetos através de equipes montadas nos a preparação das diretrizes e projetos (quase sempre
escritórios e executar as obras através de contratação quando as obras eram feitas em mutirão). Contratou-
de empreiteiras por preço unitário dos serviços, com 5 se também uma empresa com especialização em
diferentes contratos por região da cidade. Entretanto geotecnia e gerenciadora de obras.
20 Grande número de diferentes
apenas uma empresa, que era de médio porte, profissionais da iniciativa
apresentou-se à licitação, o que inviabilizava a privada foram envolvidos
operacionalização de uma grande demanda trazida (arquitetos, engenheiros,
assistentes sociais, sociólogos,
para os fóruns regionais de habitação. administradores e advogados)
para realizar muitas
Nesse momento fortaleceu-se a proposta de uma atividades: projetos e obras de
Município de São Paulo urbanização de 76 favelas
descentralização dos escritórios de 5 para 11, e da englobando 27 000 famílias;
criação de um grupo na HABI central, que formulasse AÇÕES EM FAVELA projetos e obras de 1500
unidades habitacionais em 20
diretrizes e agilizasse as contratações dos projetos e Mapa 2.3 REALIZADAS NA GESTÃO favelas; levantamento
obras. Para agilizar a remoção de favelas para obras DO PARTIDO DOS planialtimétrico cadastral de
viárias e de drenagem iniciadas no governo anterior TRABALHADORES cerca de 200 favelas; cerca de
40 licitações de projetos e
foram compradas habitações em conjuntos 1989-1992 cerca de 35 licitações
habitacionais da COHAB e programados outros MAIRIPORÃ nacionais e internacionais de
conjuntos para esse fim, desenvolvidos pelo HABI. Ao obras.
Serra da Cantareira
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final deste período recebeu-se uma grande Rod
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Em Outubro de 1989 acontece o deslizamento de
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terras na favela Nova República, que tem grande
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inclusive a prefeita, que passa a exigir uma ação mais sD
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Nesta nova estruturação os escritórios de arquitetura e ITAPECIRICA GUARAPIRANGA
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urbanismo e os engenheiros sanitaristas são mais DIADEMA
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Projetos de Reurbanização de Favela
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atuantes. Passou-se a contratar escritórios para Obras de Urbanização de favelas
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desenvolver os projetos, baseados em diretrizes
Área Urbana
quase sempre social e tecnicamente bem precisas,
elaboradas pela Habi Regional.
Fonte: BUENO,L.M.M., DOUTORADO FAUUSP, 2000 0 5 10 15km
Houve também um grande número de pequenas Foram demitidos os funcionários não efetivos,
obras, chamadas de melhorias, em muitas favelas. especialmente arquitetos e engenheiros, transferiram-
Essas obras paliativas procuravam diminuir o se os efetivos para outras secretarias e todas as 23 A denominação do programa
desconforto da vida nas favelas e, ao mesmo tempo, assistentes sociais foram lotadas no escritório central. teria inspiração na política
representavam uma continuidade das ações que Manteve-se apenas um setor para acompanhar as habitacional de Cingapura,
onde, desde 1970, habitações
anteriormente eram realizadas, a pedido das obras que já estavam em andamento. As empresas de precárias, inclusive palhoças e
assistentes sociais, pelos administradores regionais. gerenciamento foram mantidas e, posteriormente moradias em barcos, foram
ampliadas suas funções. sendo substituídas por
apartamentos financiados pelo
Um avanço institucional ocorrido durante esta gestão Estado. Mais de 70 % do
foi a integração de ações entre a Prefeitura e as No fim do 1o. semestre de 1993 Maluf lançou na estoque habitacional de
concessionárias de serviços SABESP. Com esta televisão e abriu a primeira concorrência para seu Cingapura foi financiado pelo
Estado.
empresa, através do Programa de Saneamento grande programa para favelas - Projeto Cingapura,23
Ambiental do Reservatório Guarapiranga, tem havido nome popularizado do PROVER Projeto de 24 Na gestão anterior, entretanto,
para cada favela se
desde então uma ação mais sistemática dos dois Urbanização de Favelas com Verticalização. Dentro contratava um projeto,
orgãos, além de acordos sobre os parâmetros dos da política urbana e habitacional, as propostas e reforçando o direito à
projetos técnicos em favela. projetos em andamento para favela tem aparente arquitetura nos programas de
interesse social. A gestão
similaridade com uma das ações de gestão anterior, malufista entrega os recursos
A de demolir os barracos e reconstruir unidades
O prefeito eleito após o Governo do Partido dos para a iniciativa privada em
verticais. O Projeto Cingapura - construção de infra- bloco, através de empresas de
Trabalhadores foi Paulo Maluf, de posição ideológica, gerenciamento e projeto, que
mudança estrutura urbana e apartamentos em favelas - tem
concepção de política pública e prática administrativa preparam os editais de
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Sem alarde nos meios de comunicação, foi totalmente Pessoas por 4,9 5,46 5,42 5,02
removida a Favela Águas Espraiadas, que ocupava domicílio-média
lotes, ruas e beiras do córrego Águas Espraiadas, que Pessoas por 3,12 1,75
3,06
Ao mesmo tempo que a 30
nasce junto à Avenida Washington Luís, perto do cômodo - média
ampliação de projetistas dá Aeroporto de Congonhas e desemboca no dreno do
mais qualidade aos espaços Área construída 16,63 28,96
Brooklin, a 200 metros da Avenida Marginal do por domicílio m2
23,59
dos conjuntos, ela parece criar
um vínculo com a legalidade Pinheiros, área nobre do mercado imobiliário, o mais
urbanística, apoiada nos novo e importante centro de escritórios e serviços. Domicílios com um
52,2 23,2 13,6
burocratas do poder público. único cômodo - % 30,9
Essa favela tinha mais de 4000 famílias (FIX, 1998)
que foram removidas em menos de um ano, para Domicílios com paredes
construção de uma via expressa, através da "compra" externas de alvenaria- % 1,3 2,4 50,5 74,2
dos barracos pela empreiteira.
Domicílios com cobertura
de laje - % 7 24,5
Na gestão Pitta os problemas de caixa da Prefeitura
explodiram, paralisando quase todos os programas Domicílios sem banheiro
sociais. Somente as favelas do Cingapura com ou banheiro coletivo - % 65,8 44,3 13,6 7,5
garantia de empréstimos do BID estão em Fonte: FIPE,1993, PMSP, 1987 e Véras e Taschner, 1990
87 andamento. 88
Processo %
Cessão 4,08 Município de São Paulo
EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE
91 Tabela 2.19 92
FAVELAS SEGUNDO A
PROPRIEDADE DO SOLO
Mista e sem
Informação 2 0,4 136 17,82 210 13,18 41 25,1
BONDUKI, Nabil Georges, "Origens da Habitação PEQUENO, Luís Renato Bezerra, "Squatting Process
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Metropolitana de São Paulo", Fundação SEADE, São política que a prefeitura de São Paulo está
Paulo, 1992. praticando", SEHAB, 1991.
entre 1989
e 1992
Nos primeiros dias de governo houve uma
intensificação das ocupações de terra pública e até de
conjuntos habitacionais inacabados, criando um
clima de desgoverno e incapacidade de domínio da
máquina administrativa e da cidade. Houve então
2
grande atividade dos novos dirigentes da SEHAB, da 2 Como mostra do clima
3 naquele momento, recupero as
HABI e suas estruturas regionais, das ARs e da Guarda
notas para discurso que fiz,
Metropolitana, para restabelecer uma certa ordem como diretora da HABI SUL,
pública. em assembléia de ocupantes
em Campo Limpo a 6 de
Foram executadas duas ações Janeiro de 1989: "pedir para
concomitantes: 1.o impedimento de sair dos terrenos, a prefeitura
efetivação destas ocupações, com retirada não tem nem muita terra nem
muito dinheiro, participarem
das demarcações dos lotes e de barracas da caravana a Brasília que vai
O de plástico construídas pelos ocupantes e exigir ações do governo
3.1. início do
2.realização de grandes e inúmeras
assembléias com os ocupantes, onde se
federal, vamos cadastrar as
pessoas, não vamos priorizar
quem está promovendo ou
esclarecia que a política do governo participando das ocupações,
governo petista não passaria pela doação de terras estamos mobilizando a
Guarda para ficar tomando
públicas, que o problema habitacional era conta, e providenciando
muito grande e sério, e apontava-se para placas para informar que os
terrenos tem outra destinação-
a organização de cadastro dos não são para moradia".
interessados em participar do que se
denominou "Fórum Regional de 3 Ermínia Maricato, arquiteta,
professora da FAUUSP,
Habitação". assumiu a Secretaria e Nabil
Bonduki, arquiteto e professor
da FAUUSPSCar. Ambos eram
O novo governo elaborou então o Plano de Ação militantes tanto dentro do PT,
Imediata para a área de habitação, através da SEHAB quanto nos movimentos de
e da COHAB. Esse plano era bastante simplista e até reforma urbana e moradia.
ingênuo, mas já indicava a necessidade de programas 4 A proposta dos fóruns evoluiu
e projetos diferentes para os diferentes problemas para o Conselho Municipal de
habitacionais. Sistematizar as ações com os recursos Habitação, com estruturas
regionais, participação de
necessários e disponíveis, foi também um instrumento representações das diferentes
muito útil para criar uma interlocução com os Fóruns grupos e vinculação com a
Ao mesmo tempo suas 5 gestão do FUNAPS, o que foi
Esse capítulo visa lideranças, através de Regionais de Habitação, com lideranças de sendo implementado, e foi
1 quadros do PT e de movimentos ligados politicamente ao PT e com a formalizado através de
apresentar a experiência vereadores,
procuravam (e muitas
própria Administração. Decreto em de Julho de 1991.
do Programa de Ação A Câmara Municipal sustou o
vezes conseguiram) Decreto do Executivo através
acertar atendimentos Em 3 meses os fóruns regionais de habitação foram
em Favelas na Prefeitura de Decreto do Legislativo. O
para suas bases
de São Paulo durante o através de contatos implantados,4 através de reuniões periódicas que Executivo então enviou à
Câmara projeto de lei que cria
diretos com os cargos confrontavam as reivindicações com as propostas o Conselho, que nunca foi
governo da prefeita de direção municipal e anteriormente existentes e com as novas propostas da votado.
regional da HABI,
Luiza Erundina, reproduzindo as HABI e COHAB que seriam a semente da nova
destacando-se a ação práticas clientelistas política. O processo de participação popular criado
que tanto criticavam.
Notável também foi o
pelos fóruns propiciou o diálogo privilegiado com as
da HABI -
99 fato de que esses demandas organizadas os movimentos populares - 100
Superintendência da movimentos durante a que já vinham reivindicando maiores investimentos
gestão petista,
Habitação Popular da voltaram suas força para novas habitações junto às diferentes instâncias
Secretaria de Habitação muito mais para governamentais. Esses grupos se faziam representar
conseguir o em massa nas discussões dos fóruns5 com
de Desenvolvimento atendimento a suas
bases, do que criar reivindicações objetivas e concretas.
Urbano da Prefeitura de condições políticas de
governabilidade, pois
São Paulo. não foram
É importante, em especial no caso das favelas,
programadas (ou destacar o peso para a nova gestão petista, da
mantidas) as pressões herança (tanto de problemas quanto de experiências e
para ampliação da
ação junto aos outros soluções) da ação em favelas da HABI. Ela era
níveis de governo. tradicionalmente a estrutura institucionalizada para a
1Grande parte das informações tem como fonte minha participação na administração neste período, em 1989 como diretora da Divisão Sul da
HABI e de Outubro de 1989 até o final do governo, como coordenadora do GEU FAVELAS Grupo Executivo para Urbanização de Favela. Era
ação em favela. Recém saída da Secretaria de Bem
também participante, representando a SEHAB junto com outros profissionais, no Grupo de Trabalho Intersecretarial para elaboração de Estar Social (onde a própria prefeita trabalhou,
diretrizes para um "Plano de Preservação e Manejo da Área do Município de São Paulo inserida nas bacias dos reservatórios Billings, especialmente em favelas) , a HABI havia sido
Guarapiranga e dos rios Capivari e Monos" criado em Julho de 1989 e no Grupo Intersecretarial no Gabinete da Prefeita para coordenação do
"Plano de emergência nas áreas de risco em favelas", criado em novembro de 1989.
transferida em 1986 para a SEHAB.
Os recursos da HABI (a SEHAB não tinha até então Não foi entretanto, uma descentralização
outros recursos para desenvolvimento de projetos e administrativa, pois não foram criados novos cargos
obras) vinham do FUNAPS (Fundo de Atendimento à na estrutura funcional municipal e a HABI central
População Sub-normal), que produzia casas para manteve suas atribuições de proceder as licitações,
remover favelados e da dotação orçamentária Pro- assinar e administrar os contratos e realizar as
favela, para obras em favela. A outra fonte de recursos autorizações de pagamentos.
da HABI era a Lei de Desfavelamento, através das
Villaça, 1992. 6 Operações Interligadas,6 com a construção de casas
para remoção de favelados. A HABI contava então Município de São Paulo
A questão da democratização 7
das relações de trabalho em com alguns funcionários de carreira de confiança Mapa 3.1
alguns momentos foi política e até pessoal da prefeita, que defendiam (há COMPARAÇÃO ENTRE
exacerbada, chegando-se a anos) a constituição de uma política mais abrangente ADMINISTRAÇÕES (AR) E
situações limite, de quase
inoperância de setores, em para favelas. ESCRITÓRIOS DE
MAIRIPORÃ
função da ação de HABITAÇÃO - 1990
Serra da Cantareira
funcionários corruptos,
O estilo democrático 7da gestão petista na HABI, de
CAIEIRAS
incompetentes ou de
alinhamento político contrário reuniões periódicas com os funcionários e com as
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ao petistas, que procuram chefias e um clima de companheirismo (possibilitando han
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desestabilizar o governo,
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que funcionários, quebrando a hierarquia, entrassem
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ingenuidade e falta de em contato com as chefias, denunciando problemas e
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experiência administrativa das indicando soluções) gerou um ambiente favorável de SANTANA DE
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chefias. Ao mesmo tempo, os PARNAÍBA
trabalho, apesar das condições precárias8 e da
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novos dirigentes, ao imporem AR-ST Rod dos Trabalhadores
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as responsabilidades dos pequena dimensão das equipes. e sD
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Assim, logo no início da gestão foram apresentadas
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acabaram por criar muitos problemas do governo anterior (projetos e obras OSASCO dial Le
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aliados que não eram inacabados, problemas de baixa qualidade e Pin AR-MO Av
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tinha um sala na Prefeitura desde os anos 80) e dos moradores de
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instalações). A diretoria REPRESA
necessidades sociais (expressas através dos estudos de ITAPECIRICA GUARAPIRANGA
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totalizava não mais de 25 BILLINGS
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ou arquitetos. Administração Pública (e não uma determinada
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101 gestão municipal), continuidade de projetos, 102
necessidade de ações e investimentos Fonte: BUENO,L.M.M., DOUTORADO FAUUSP, 2000
0 5 10 15km
intersecretariais, formalização da legalidade através
do respeito às práticas de controle da administração
pública, as situações de emergência física-ambiental e No primeiro ano de governo, foi priorizada a
as pressões político-partidárias. elaboração de um projeto de lei para regularização
fundiária de favelas em massa - reivindicação dos
Rapidamente a HABI regionalizou sua ação, criando movimentos de favelas, de políticos petistas e do corpo
os escritórios regionais de habitação, que em um ano técnico mais antigo e politizado para HABI, elegendo-
passaram de 5 para 13. Esta reorganização propiciou se o corpo técnico social como centralizador desta
maior agilidade no contato com as demandas, com as ação. Em paralelo, foi possível priorizar a implantação
outras estruturas regionais da Prefeitura e maior de uma estrutura e um corpo técnico para o
eficiência e produtividade da HABI no desenvolvimento de projetos e obras na escala nunca
desenvolvimento e acompanhamento dos projetos e antes vista em São Paulo em que a nova
obras. Administração pretendia atuar.
As ARs. coordenavam os Fóruns Regionais de
Planejamento (composto da maioria das secretarias,
Apesar da origem da força política da prefeita estar em especial aquelas que contavam com estrutura
ligada à sua atuação, como funcionária municipal, regional - SEHAB, Saúde, Educação, Bem Estar Social)
militante e depois vereadora, junto aos moradores em e também as reuniões plenárias do Orçamento
favela, Luiza Erundina não interferiu na priorização Participativo, que procuravam reunir todos os
das ações e investimentos da SEHAB e da HABI. movimentos reivindicatórios de São Paulo com
representantes do Executivo para, entre outras coisas,
ter forças para negociar com o Legislativo.
Assim, apesar de estar no imaginário dos
funcionários, de lideranças de favelas e até na
As principais ações visando as favelas foram
imprensa brasileira, que a prefeita iria dirigir São
realizadas pela SEHAB, através da HABI, e serão
Paulo mas com uma ação privilegiada para os
relatadas adiante. Entretanto, houve outras ações,
favelados, ela não interferiu na luta política travada
algumas propostas e implementadas com o apoio da
entre movimentos de moradia sem teto e os favelados
HABI, de grande importância para os moradores.
na obtenção dos recursos da HABI. Somente no final
de 1989, com o acidente na Favela Nova República,
quando morreram 14 pessoas, Luiza Erundina passou Pode-se definir três fases para a ação
agir e cobrar uma ação coordenada nas favelas. A em favelas na gestão petista. A
preocupação da prefeita se dirigiu à regularização primeira até Outubro de 1989,
A quando ocorre o acidente na favela
fundiária e às áreas de risco em favela, e não à
urbanização. As obras na favelas não foram Nova República. A segunda, quando
“virada” se estrutura a ação para os moradores
priorizados, não recebendo nenhum tratamento
diferenciado das outras secretarias municipais ou
recursos adicionais decorrentes de uma ação pessoal
3.2. na ação
em risco e as áreas remanescentes e se
iniciam obras de urbanização através
da prefeita. em favelas de contratação de empresa privada e
de projetos desenvolvidos dentro da
Prefeitura, até 1991.
A grande diretriz política da prefeita, relacionada à A terceira fase, já dentro de uma reestruturação mais
espacialidade dos problemas de São Paulo, foi a ampla da operacionalização de toda a política
priorização dos investimentos na periferia, o que habitacional na HABI, quando se inicia a contratação
indiretamente, beneficiou a política urbana e de projetos e obras de urbanização de favelas a partir
habitacional como um todo. Ao mesmo tempo, é de cadernos de especificações. Esse processo
importante reconhecer que os dirigentes das outras desenvolveu-se de forma integrada às
secretarias também eram sensíveis às necessidades reorganizações sucessiva por que foi passando a
dos moradores em favela, geralmente também Administração Municipal, em particular a HABI, para
carentes e excluídos de outros serviços públicos. operacionalizar as metas físicas e políticas na área de
habitação. Essas mudanças foram contingenciadas
No início da administração, a questão das favelas foi pelo aprendizado em relação à máquina
colocada pelo corpo técnico da HABI (com grande administrativa, a correlação de forças políticas na
maioria de profissionais oriundos da SEBES) para a Câmara Municipal, no interior do PT, no governo
máquina da Prefeitura como um problema de todos os municipal e nos movimentos sociais ligados à questão
setores, pois se relacionava - como problema, urbana e habitacional.
responsabilidade da Prefeitura e como local para a
solução - de pontos negros de limpeza urbana, coleta No início de 1989 as novas direções e chefias das
103 de lixo, pontos de enchente, baixa taxa de matrícula divisões regionais de habitação da HABI (e suas 104
escolar e de atendimento médico. subdivisões que eram a semente dos escritórios
regionais) receberam uma enxurrada de obras
Muitos destes escritórios regionais da HABI estavam problemas, promessas socialmente justas que haviam
em salas cedidas pela SEBES ou pela Administração sido feitas pelos técnicos nas gestões anteriores e a
Regional. Essa localização, para a ação em favelas, foi realidade do dia a dia da HABI. Este setor não era,
positiva. As Administrações Regionais são apesar do nome, capacitado para desenvolver
responsáveis pela manutenção das áreas públicas, projetos de habitação, mas sim tinha seu cotidiano
das situações de emergência e risco e coleta de lixo, tomado por atendimentos urgentes relacionados a
entre outras atribuições. AS HABIs Regionais habitação, fosse por absoluta carência, fosse por
coordenavam a organização dos Fóruns Regionais de remoção de barracos por obras públicas ou
Habitação, onde participavam os representantes de desocupações judiciais. Os projetos habitacionais em
movimentos de moradia e comunidades de favelas, andamento na HABI eram extremamente
cortiços e loteamentos. problemáticos em função de um conflito de interesses
na forma de gerir a coisa pública.
Havia muitos projetos que estavam sendo executados Somando-se a essa herança havia o problema da
com grande voluntarismo dos técnicos pressão política cotidiana dos movimentos populares
comprometidos com as causas populares (nem que cobravam novos projetos para os sem teto, novos
sempre petistas). Mas havia problemas técnicos de projetos de urbanização e novas unidades em favelas
projeto e obra causados seja por falta de estudos que há anos reivindicavam ações da Prefeitura.
técnicos mais profundos (de engenharia, arquitetura e Surgiam também as emergências causadas pelas
sociais), seja por falta de continuidade administrativa chuvas e pelas invasões.
e escassez de recursos financeiros, além de falta de
fiscalização e corrupção em obras contratadas. O fortalecimento das equipes com técnicos das áreas
de arquitetura e engenharia e compromissos políticos
Tendo como referência a Divisão Sul, pudemos com a gestão (e com os movimentos de moradia) veio
constatar, nos primeiros dias de governo, diversos ampliar a capacidade de resposta da HABI. A partir do
casos de complexa solução. Plano de Ação Imediata,9 a HABI priorizou a
viabilização de, pelo menos, um novo projeto de
No conjunto habitacional Pirajussara, que estava habitação em cada escritório regional, (que deveria
sendo executado com recursos da Lei de tornar-se referência para uma nova política
Desfavelamento, por empresa privada (que havia habitacional), avaliou quais os projetos em
recebido quase 100% do valor do contrato) as colunas andamento (conjuntos para remoção de favelados e
de sustentação da unidade habitacional (embrião que obras de urbanização/reconstrução de unidades em
poderia ser ampliado para sobrado) não tinham favela) tinham condições mais viáveis de finalização
recebido cimento, somente os ferros. (técnica, jurídica e administrativa).
O FUNAPS havia comprado lotes para remoção de Em paralelo, a HABI passou a cobrar uma atuação
favelados no loteamento Paranapanema, em nome mais presente das ARs e das SEBES regionais nos casos 9 O Plano de Ação imediata
do beneficiado, e a construção da casa foi proposta de emergência, procurando diferenciar os objetivos tinha basicamente dois sub-
programas: A - urbanização
em mutirão, com financiamento do material e de sua atuação (atendimentos habitacionais coletivos de favelas e B - de provisão de
assessoria técnica da Prefeitura. Entretanto, apesar da e planejados) do socorro a acidentes. Com essa unidades habitacionais para
proposta ser "politicamente correta", os interessados orientação, até certo ponto contraditoriamente, a
famílias com renda inferior a 4
salários mínimos.
não se comportaram como previa a Prefeitura. Assim, HABI central fomentou a realização de obras pontuais
alguns preferiram abandonar o projeto e sumiram. A de melhorias em favelas, que melhoravam as 10 Somente em 1991, já com
situação jurídica do lote - propriedade privada - equipe técnica e experiência
condições sanitárias e de risco, sem necessariamente em mutirões para habitação, a
impedia o FUNAPS de retomar a posse daquele lote. promover a consolidação da favela enquanto HABI cria a linha de
Outros preferiram fazer a casa por auto-construção. assentamento habitacional regularizável. financiamento URBANACOM,
para obras de urbanização de
Isso tornou impossível a orientação técnica dos poucos favelas em mutirão.
técnicos da Prefeitura, assim como dificultou A diretriz oficial da HABI para as favelas era, ao
enormemente a compra e entrega dos materiais de contrário, desenvolver projetos de urbanização para
construção por parte da Prefeitura. licitação de obras, priorizando-se as favelas que
estavam sendo indicadas para o projeto de lei para
Em paralelo a isso, nos anos anteriores, esse e outros regularização fundiária, que estava sendo discutido
projetos haviam sido paralisados por falta de dotação com as lideranças.
orçamentária. Havia obras de urbanização de favelas
(Jardim das Vertentes, Jardim Beatriz, em Butantã Essa orientação geral, somada à influência da pressão
, Jardim Antonieta, em Campo Limpo, entre outros) política dos movimentos nos fóruns e das visitas
que haviam começado na gestão Covas (1983-1986) cotidianas de suas lideranças aos gabinetes, acabou
105 ainda em andamento, com uma situação por privilegiar os novos projetos. Isso ocorreu em 106
administrativa, técnica e social bastante complicada. detrimento da solução da herança, inclusive porque
Nessas áreas havia obras inacabadas ou mal feitas em muitos casos ela dependia da aprovação de leis
por empresas privadas (infra-estrutura), obras em pela Câmara, de decisões judiciais, ou de mais
auto-construção inacabadas ou comercializadas recursos para populações desmobilizadas. Os
irregularmente e muitos casos de comprometimento problemas eram apresentados e defendidos apenas
das condições de salubridade da área, ou até por funcionários públicos, e não pelos movimentos.
, de criação de novas situações de risco, decorrentes
da ampliação das casas ou construção de novas, em Em meados de 1989 a Superintendência avaliou que
desrespeito ao projeto original. Havia também muitas a HABI tinha que agilizar a contratação de obras de
pequenas obras de melhoria em favela, algumas com urbanização de favelas, pois a execução por
participação das ARs, de eficácia e técnica discutível, administração direta (máquinas e mão de obra
como rede coletora de esgotos com tubulação de especializada emprestada das ARs, mutirão dos
diâmetro e material inadequado, calçamento de moradores e material fornecido pela HABI) não era
vielas sem execução de redes de esgotos etc. viável.10
A HABI não tinha nem máquinas e equipamentos,
nem funcionários operacionais que pudessem auxiliar
mutirantes. Algumas favelas se encontravam
desorganizadas e outras tinham problemas mais A terceira fase da ação em favelas se inicia em
complexos que necessitavam de projetos de paralelo à segunda, com as obras por ata de registro
engenharia e de equipamentos para execução. As ARs de preços. Ela está vinculada às ações e reações
(que tinham capacidade operacional) tinham suas ocorridas no movimento popular de habitação e,
próprias prioridades, e, sem garantia de apoio especialmente, no interior da gestão municipal, com a
operacional, era muito difícil e improdutivo tentar a ocorrência do trágico acidente na Favela Nova
mobilização dos moradores para os mutirões. República, em Outubro de 1989, e se consolida no
Relevante também era o fato de que, em função das final de 1990.
ações participativas e do trabalho social, e dos outros
projetos de produção de novas unidades, os técnicos Procuraremos apresentar sucintamente os aspectos
das HABIs regionais estavam sobrecarregados. técnicos, administrativos e políticos que levaram esse
último arranjo.
A HABI central então começa a preparar uma licitação
específica para obras de urbanização de favelas, com
o intuito de multiplicar a capacidade operacional dos No final de 1990 a HABI havia estruturado a
escritórios regionais. Inicia-se então a segunda fase operacionalização da produção habitacional da
da ação em favelas, quando se assume, pelo menos seguinte forma: na HABI central, uma Diretoria social,
no discurso, que a iniciativa privada deveria participar responsável pelo trabalho social, cadastro, relações,
dessa ação. contratos e pagamentos de mutuários do FUNAPS;
uma Diretoria administrativa, responsável pelos
A cidade foi dividida em 5 áreas, para as quais seria pagamentos dos contratos, e uma Diretoria técnica,
contratada uma empresa que executaria as obras de que supervisionava as coordenações dos programas
urbanização nas favelas, segundo uma série de habitacionais. Foi também incorporada a contratação
soluções-tipo (desenvolvidos pela HABI central) para de empresas privadas de gerenciamento de projetos e
todas as obras previstas. A definição das favelas e a obras, além da COHAB e da EMURB, que já atuavam
quantidade das obras seria responsabilidade das prestando serviços à HABI desde meados de 1989.
HABIs regionais. As empreiteiras fariam o registro do
preço unitário de cada serviço para cada uma das 5 Os programas habitacionais eram:
regiões, ganhando a empresa com o conjunto de provisão de moradias e lotes
menores preços. Essa licitação foi de morosa e difícil urbanizados- execução de obras de urbanismo,
preparação. Em Outubro, por ocasião do episódio da infra-estrutura e unidades habitacionais (para os sem
Nova República, nas declarações oficiais do governo teto ou para remoção de favelas) se feitas por
incluía-se a informação de que já estava sendo empreiteiras;
preparada (antes do acidente) uma licitação para
obras em favela. Posteriormente essas licitações FUNAPS comunitário - execução de unidades
ocorreram, com muitos percalços, mas a HABI iniciou habitacionais por grupos de mutirão, nesse caso as
obras em diversas favelas. obras de urbanismo e infra-estrutura eram feitas por
empreiteira pela coordenação de provisão;
Sob o ponto de vista urbanístico habitacional, a diretriz
assumida pela HABI era já, portanto, a de privilegiar urbanização de favelas - execução de obras
as obras de urbanismo e infra-estrutura urbana, sem de urbanização por empreiteira, mutirão ou
107 necessariamente interferir nas unidades existentes. administração direta, alguns projetos de unidade 108
habitacional em favela, articulação entre as obras de
A operacionalização da intervenção em favelas era urbanização e as de risco executadas pela SAR;
bastante diferenteda concepção para as obras de
novas moradias. Os conjuntos habitacionais novos cortiços- execução de projetos e obras
estavam sendo contratados por escritórios de
assuntos fundiários operacionalização das
arquitetura que eram escolhidos para cada uma das
ações jurídicas e administrativas para regularização
glebas que ia sendo adquirida e para cada uma das
de favelas em áreas públicas e privadas e dos
organizações populares demandatárias. O mesmo
conjuntos habitacionais produzidos pelo FUNAPS,
tratamento seria dado à licitação das obras. Para as
tanto os das administrações anteriores quanto os
favelas, ao contrário, a proposta era de que as HABIs
novos, estudo e operacionalização de
regionais definissem os projetos, conforme o cardápio
desapropriações, acompanhamento dos convênios.
de soluções-tipo, e apenas uma empreiteira por
região executasse as obras.
No Gabinete da Superintendência havia uma Na busca de saídas preventivas (humanas e
assessoria para assuntos sociais, políticos, jurídicos, consensuais) para a contenção da perda das áreas
administrativos e financeiros. Os diretores centrais, os verdes da cidade com a expansão de favelas, as ARs
coordenadores de programa, os diretores dos executaram 420 praças e áreas de lazer, em terrenos
escritórios regionais, com o gabinete da públicos que ainda estavam vazios, sem destinação,
Superintendência formavam o Colegiado da HABI. totalizando 67,7 hectares. Esses terrenos, foram
urbanizados e transformados em área pública útil,
Os escritórios regionais tinham, além do diretor, um com ajardinamento, bancos, brinquedos. Sem isso,
coordenador físico e um coordenador social, com teriam sido invadidos por desempregados e
fluxo direto com as coordenações dos programas. miseráveis lançados ao grupo dos sem moradia,
resultado das consequências da reestruturação
A ação da Prefeitura em favelas no terceiro período produtiva no espaço urbano da metrópole paulistana.
pode ser assim detalhada:
A SEBES manteve onde já os havia e ampliou seu
apoio aos programas de creches comunitárias e
cursos profissionalizantes em favelas, independente
Município de São Paulo
da atuação da HABI em projetos e obras. Nas favelas
Tabela 3.1 onde a HABI atuava e fosse necessário fazer mudança
RESPONSÁVEIS PELA AÇÃO EM
Fonte: SÃO PAULO (CIDADE) 11 de famílias, a SEBES participava com verba de
1, 1992 Apêndice A2 FAVELAS A PARTIR DE 1990
assistência à família, com refeições e colchões. Além
disso, ela acompanha a AR no atendimento às
Ação Responsável (político/ operacional)
situações de risco e emergência da cidade, a maioria
HABI central- GEU Favelas
Urbanização em favelas.
HABI regional
Melhorias HABI regional A SVP - Secretaria de Vias Públicas, é responsável por 12 O Geprocav é o gerenciador
Administrações regionais obras de drenagem e sistema viário da cidade, onde de um grande programa de
há interface com as favelas, devido à ocupação dos canalização de córregos,
Construção de casas HABI central Programa de Provisão e Habi Regional financiado pelo Banco
na favela HABI central - GEU Favelas e HABI regional fundos de vale. No início do governo percebeu-se, Mundial, operacionalizado
através dos funcionários públicos das duas pela SVP.
Construção de HABI central Programa de Provisão e HABI regional secretarias, que os cronogramas destas obras previam
casas para remoção FUNAPS aquisição de unidades produzidas remoção de barracos, mas as obras da HABI, de novas
de favelas pela COHAB
casas, muitas vezes não tinham sido feitas. A SVP e as
Atendimento Administrações regionais HABIs regionais procuraram programar essas obras.
à emergência SEBES Especialmente as do Geprocav12 - ligadas a SVP. Ao
mesmo tempo, a SVP passou a elaborar mais
Prevenção HABI central
de acidentes rapidamente que nas gestões anteriores os estudos
GEU Favelas e HABI regional
em áreas de risco sobre a viabilidade da consolidação de favelas em
HABI central relação à macro-drenagem e às diretrizes viárias.
Regularização
Coordenação de Assuntos Fundiários
fundiária
A EMURB, empresa pública municipal, criou o CEDEQ
Centro de Desenvolvimento de Equipamentos
Urbanos, dirigido pela arquiteta e professora Mayume
Watanabe Souza Lima, que utilizava a tecnologia de
Após a criação do Grupo Intersecretarial no Gabinete peças pré fabricadas de argamassa armada em
109 da Prefeita para coordenação do "Plano de formas metálicas para a construção de edificações 110
emergência nas áreas de risco em favelas", que para serviços de educação, saúde e para canalização
veremos adiante, a Secretaria das Administrações de córregos. A SEHAB e a SVP contrataram a empresa
Regionais executou,11(a partir de estudos e avaliações para realizar a canalização de córregos ocupados por
de risco geotécnico) contratadas pela SEHAB, obras de favela. A experiência da primeira obra levou o CEDEQ
contenção de risco em diversas favelas e passou a a desenvolver também caixas para ligação de rede
apoiar técnica e operacionalmente algumas obras da coletora de esgotos em argamassa armada.
HABI.
Esta definição de diferentes ações e responsáveis
As administrações regionais executavam serviços de ligados à a favela é consequência de uma série de
limpeza de córregos, cata-bagulho, desratização nas fatores, alguns relacionados à estrutura e às decisões
favelas, na maioria das vezes em trabalho integrado administrativas herdadas; outros à
com a HABI Regional, dentro de sua atuação na complexidade e gravidade que as condições de vida
discussão das condições de vida dos moradores e sua nestas áreas apresenta. Outros ainda, estão
ligação com o projeto de urbanização. relacionados ao estilo e prioridades da gestão de
Luiza Erundina.
Em primeiro lugar, deve-se destacar que a demanda
Todas essas situações indicavam necessidade de
por ações em favela se origina por diversas formas.
produção de casas para remoção, sendo que o
principal interessado era o próprio poder público. Em
A remoção de favelas em área particular promovida
13 muitos casos (a não ser nas áreas de risco, como
pela Justiça que dá ganho de causa aos proprietário,
veremos adiante) as comunidades envolvidas não
pode tornar-se objeto da atuação municipal, por
estavam mobilizadas reivindicando a remoção.
determinação judicial, seguindo uma tradição da
Assim, no embate político nos fóruns de habitação,
Prefeitura.
essas demandas eram colocadas pelos funcionários
da HABI, contrapondo-se aos movimentos de luta por
Outro processo era a Lei de Desfavelamento ou
moradia, que procuravam abarcar a maior parte dos
Operações Interligadas, aprovadas pelo SEMPLA,
recursos financeiros disponíveis.
quando o proprietário ou promotor imobiliário
interessado repassava à Prefeitura recursos para a
Muitos dos novos dirigentes e técnicos contratados
execução das casas para o desfavelamento.
tinham uma posição de valorizar apenas a produção
de novas casas para movimentos organizados na
Favelas em áreas públicas não municipais também
nova política habitacional petista. Essa também era a
Havia casos em que o 13 podem ser removidas com a participação da
postura dos movimentos. Mesmo a urbanização de
proprietário entrava com Prefeitura, por conta de acordos judiciais ou
processo de reintegração de favelas, como veremos adiante, era vista apenas
extrajudiciais, em função de apresentarem situaçõ
posse com menos de um ano e como um paliativo e atendimento assistencialista, que
um dia de ocupação da área. es de risco para o favelado e para o proprietário, ou
Em outros, os processos eram
não politizava a demanda. O entendimento era de
simplesmente por decisão judicial semelhante àquela
mais antigos, com favelas que que, somente haveria produção de casas para a
já estavam consolidadas sem referente aos direitos dos proprietários privados.. É o
remoção se os favelados dessas áreas se
que proprietário tomasse caso de favelas assentadas sobre adutoras, sob linhas 16 A favela Nova República
providências, Nesta situação é mobilizassem e fossem disputar os recursos nos
de alta tensão, em faixas de domínio de rodovias ou localiza-se na A.R. Butantã,
possível postergar a decisão, fóruns. em trecho considerado parte
questionar a ação ou até ferrovias. do Morumbi. Eu era a diretora
entrar com ação para da Divisão Sul da HABI e,
usucapião urbano pra os A luta política para garantia de obras para remoção portanto, responsável pela
O município, em geral para realização de obras
moradores. de favelas somente se equilibrou após o episódio da região. Trabalhei diretamente
viárias e de macro-drenagem, também promove com profissionais da SAR, AR,
Memorando da HABI 14
favela Nova República.
ações de remoção. A partir dos anos 80 a Prefeitura SEBES e Corpo de Bombeiros
central/Coordenação de no atendimento de
Assuntos Fundiários de assumiu o encargo de produzir habitação para os
A 24 de Outubro de 1989 ocorreu a ruptura de bota- emergência, procura de
18/6/91 removidos, não só proceder o atendimento sobreviventes, na retirada dos
fora com aterro de cerca de 40 metros de altura, que
assistencial de emergência. moradores, seus pertences e
Era o caso da remoção do 15 estava sendo construído irregularmente a montante no seu abrigo. Os moradores
16
complexo de favelas Águas da favela. Segundo Mori,17sd:8,9, "o deslizamento removidos da favela tiveram
Espraiadas (mais de 4000 Em 1989 existiam processos administrativos para destino definitivo no Conjunto
barracos), cujo processo ocorreu sob a forma de corrida de lama, apesar de não Habitacional Raposo Tavares,
reintegração de posse e remoção de favelados para
administrativo começava com 14 ter havido chuvas intensas na região", o talude do da COHAB.
um bilhetinho manuscrito do nada menos que 737 favelas implantadas em terrenos
prefeito Jânio Quadros sobre
aterro, "apesar da grande altura, estava construído
municipais. Alguns desses processos tramitavam na 17 Além de Mori,s.d, que
um recorte do Jornal da Tarde com uma geometria aceitável segundo a boa prática"; participou da elaboração de
denunciando que um morador Prefeitura há mais de 10 anos. Outros foram iniciados
"a cerca de 100 metros da crista do talude, junto a laudos logo após o acidente,
de palacete vizinho comprava nos últimos dias de 1988.15 ver também Peloggia, 1998.
da favela água para encher diversos grandes edifícios havia lançamento de águas
sua piscina. O bilhetinho diz servidas que formavam um poça d'água com taboas
"remova-se imediatamente". O Alguns desses casos eram relacionados a favelas que
(vegetação de brejo)." O acidente causou a morte de
prefeito Paulo Maluf obedeceu estavam no caminho de obras públicas para execução
à ordem entre 1994 e 1995. 14 pessoas.
de avenidas e canalização de córregos já contratadas
e em andamento através da SVP. Havia outros casos
Com a pressão do Gabinete da Prefeita, a SEHAB e a
111 relacionados a obras da SABESP execução ou 112
SAR desencadearam uma série de ações relacionadas
recuperação de coletores de esgoto, adutoras.
à prevenção de acidentes daquele tipo, com
Anteriormente a 1989 a Prefeitura já tinha assumido
repercussão no tratamento da favela pela gestão
compromissos de providenciar a produção de
petista.
unidades habitacionais e promover a remoção das
famílias para alguns desses casos. Alguns conjuntos
Neste momento foi possível recolocar o grau de
habitacionais estavam em construção com esse
prioridade para os recursos financeiros e para a
objetivo. Em outros casos, era urgente a
operacionalização dos projetos e obras para remoção
operacionalização da construção, pois todos os
de favelas e resolução de situações de risco. O
processo tinham prazos que já estavam exíguos.
episódio desencadeou uma série de reestruturações
administrativas, decisões quanto a orientação técnica
Assim, somavam-se casos já na Justiça, casos de
e quanto a priorização de investimentos.
obras públicas em andamento que a Administração
tinha interesse em continuar, com diversas situações
A SEHAB mobilizou a COHAB para uma atuação mais
de risco de deslizamento e enchente já registrados
próxima à HABI na questão.
pela HABI.
A COHAB contratou empresas de geotecnia e Essa avaliação, além de orientar toda a ação do
geologia do Rio de Janeiro e de São Paulo, sob a GT Intersecretarial, trouxe um grande
coordenação da empresa de engenharia com fortalecimento da idéia da urbanização de favela
especialização em geotecnia BUREAU de Projetos, como um programa intensivo, que poderia
para realizar vistorias e laudos de avaliação de risco resolver grande parte dos problemas de risco da
em favelas indicadas pelo GT Intersecretarial. O IPT foi
cidade, conforme queria a prefeita.
chamado a realizar a priorização das ações indicadas
nos laudos. Os laudos foram elaborados entre
Novembro de 1989 e Abril de 1990. Entre Dezembro de 1989 e Junho de 1990 foi
criado um grupo de trabalho de técnicos da
A COHAB agilizou a finalização de 839 unidades nos COHAB, do PARSOLO (diretoria da SEHAB
conjuntos Santa Etelvina, na zona leste e Raposo responsável pela aprovação de projetos da
Tavares, na zona oeste, adquiridos pela HABI para iniciativa privada) e da HABI central, que
remoções urgentes. contratou os levantamento planialtimétricos,
desenvolveu as diretrizes e licitou projetos e obras
A partir de dados de atendimento de emergência nos de diversos conjuntos em gleba que haviam sido
últimos anos fornecidos pela Defesa Civil, SEBES e selecionadas pelas HABIs regionais para
HABIs regionais, foram selecionadas 240 favelas para
desapropriação. Estes conjuntos passaram a
a elaboração dos laudos.
prever, além das unidades habitacionais para os
Resumidamente foram esses os resultados deste mutirões, um certo número de unidades para
remoção de áreas de risco e desadensamento de 18 A opção de construir os
levantamento em 240 favelas: alojamentos provisórios foi
favelas para sua urbanização. utilizada em função do risco de
haver outros acidentes, mas
Município de São Paulo grande parte do corpo técnico da
HABI e da SEBES considerava um
Tabela 3.2 A SAR atuou em 35 favelas, realizando obras para retrocesso sua construção, em
RESULTADO DA AVALIAÇÃO DE contenção de risco e destinação final (praças e função das dificuldades de gestão,
e da incerteza quanto a sua
RISCO EM 240 FAVELAS - 1990 áreas verdes) em 20 favelas cujos moradores desativação, ou seja quando as
famílias terão alguma solução
foram removidos. Deixou 9 em andamento e mais definitiva. A situação dramática
Ação Nº de famílias % 6 em projeto ou licitação das obras, além de fez a Prefeitura assumir políticas
pesadas e desumanas, como o uso
risco iminente 500 1 outras pequenas obras executadas por de conteineres como alojamentos.
Solapamento de córrego 1554 3 Além disso a SAR coordenava, com as ARs e que o atendido obtinha sob a
forma de materiais de construção
Guarda Metropolitana, o congelamento da área madeirit, telhas, etc para construir
inundação de baixada 772 1,4 um barraco em algum lugar, fosse
esvaziada, com confecção de cercas e placas de outra favela, um terreno cedido.
Alternativa Nº de famílias Nº
Segundo orientação do IPT, as pessoas em risco de de atendimento beneficiadas de pessoas
vida iminente deveriam ser removidas imediatamente. 839 3356
Conjuntos habitacionais adquiridos da COHAB
As situações de Risco I englobavam as necessitadas de 447 1788
Conjuntos habitacionais construídos pela HABI
obras emergenciais, com possibilidade de remoção
Alojamentos provisórios18adquiridos da COHAB 249 996
definitiva ou retorno dos moradores. As situações de 2612
Alojamentos provisórios construídos pela HABI 653
Risco II indicavam a necessidade de obras de infra- 1020
Outras alternativas 255
estrutura urbana, em especial drenagem,
Verba de atendimento habitacional19 2473 9892
afastamento de esgotos e pavimentação, como forma
Total 4916 19664
de estabilizar as áreas, além dos problemas
Fonte:SÃO PAULO (CIDADE), 1992, 1
detectados de 600 casas em risco pela condição da
edificação.
A Tabela abaixo, sobre investimentos, mostra que ,
pelo menos ate 1991, as favelas receberam menos de
Conforme SÃO PAULO (CIDADE), 1992, 1:8, "A 20 % do orçamento da HABI. Podemos afirmar que em
qualidade científica dos levantamentos e a ação 1992 esse número subiu, pois foram iniciadas mais
rápida da Prefeitura permitiram salvar centenas de algumas obras, mas certamente, não haveria
vidas. Após a remoção das famílias, constatamos capacidade operacional de chegar nem a 30 % dos
desmoronamentos de taludes na favela Olavo investimentos de toda a Superintendência.
Fontoura (Ipiranga,134 famílias) e outro na favela
Nova Jaguaré (Butantã, 78 famílias) e constatamos A produção de novas unidades, em particular a
ainda o rompimento de uma adutora de água sobre a execução de infra-estrutura em glebas para os
Na gestão petista a 20
participação da HABI no qual moravam, antes da transferência, 65 famílias mutirões, e a construção das unidades em mutirão,
Orçamento geral da (favela Adutora, Butantã). Todos os acidentes descritos absorveram a maior parte dos recursos financeiros.
Prefeitura, cresceu, em
comparação com os anos
resultaram na perda total das moradias, porém , em
anteriores. Entretanto, essa todas elas não houve perda humana, somente
participação diminuiu no material".
último ano de governo, em
função da crise econômica, Município de São Paulo
aliada à dificuldade da HABI Em paralelo às obras de risco feitas pela SAR, às
em gastar seus recursos Tabela 3.4
remoções, à agilização dos novos conjuntos INVESTIMENTOS DA HABI EM
previstos, em função da
pequena capacidade de habitacionais, iniciou-se uma força tarefa para - % - 1989 a 1991
operação e da complexidade acelerar os projetos e obras de urbanização.
de alguns projetos. A
participação da HABI no
Orçamento geral foi de 0,33% Assim foi criado o Programa de Urbanização de
Natureza Dotação
em 1989 (definido na gestão Favelas, coordenado pelo GEU FAVELAS, cujos FAVELA
anterior), 4,10% em 1990, da ação orçamentária
5,15% em 1991 e 2,24% em membros também, representavam a HABI no GT 1989 1990 1991
1992. Intersecretarial do Gabinete da Prefeita. Foi através da
Verba de
ação para resolver os problemas de risco que a
Emergência atendimento
urbanização das favelas tornou-se, não prioridade, 0,70 3,42 3,33
habitacional
mas um programa relevante dentro da política da
HABI, na disputa por encaminhamentos técnicos e Alojamentos
FUNAPS 0 9,76 0
administrativos e por recursos financeiros. Provisórios
Verba de
Melhorias atendimento 0,81 1,28 1,31
habitacional
Com a criação do GEUFAVELAS 0,17 1,25 6,41
procurou-se disseminar a postura Infra-estrutura PROFAVELA
O
de que a favelas era um fenômeno em favelas FUNAPS 0,33 0 3,95
Programa urbano e habitacional que U.H. em favela FUNAPS 0 0,02 2,76
necessitava de ações diferenciadas 2,01 15,73 17,76
3.3 de e integradas para sua solução,
SUBTOTAL
Terras FUNAPS 21,83 4,01 15,70
sendo uma delas a urbanização. A
Urbanização urbanização das favelas foi definida CONJUNTOS Infra-estrutura FUNAPS 6,93 16,7 35,75
HABITACIONAIS
como um processo que devia U.H./empreiteira FUNAPS 56,03 12,33 7,08
conjugar as intervenções sociais,
U.H./mutirão FUNAPS 0,52 34,59 19,04
físicas e de regularização fundiária.
SUBTOTAL 85,31 67,63 77,57
115 116
OUTROS 12,68 16,64 4,67
Entendida como um processo, a ação nas favelas
deveria ser cotidiana e descentralizada, trazendo a TOTAL 100 100 100
presença do poder público para dentro destas áreas. Fonte: dados básicos SÃO PAULO (CIDADE), 1992, 1, Quadro XIII distribuição da despesa realizada, que não
O Programa, estrategicamente, priorizou a execução inclui os dados de 1992 e Quadros III, IV e V demanda atendida.
de obras de infra-estrutura e adequação urbanística, e
não de unidades habitacionais, com o pressuposto de Entretanto, quando verificamos a população atendida
que elas modificam as condições de habitabilidade pelos mesmos investimentos, na Tabela abaixo,
das favelas. Enquanto isso, outros setores da verificamos, que, seja em obras concluídas ou em
SEHAB/HABI desenvolviam os procedimentos para obras em andamento, a atuação em favelas apresenta
regularização urbanística e fundiária. Essa postura uma abrangência social mais ampla. Destaque-se
teve grande apoio das HABIs regionais. que não estão incluídas as famílias atendidas por
20 melhorias habitacionais, aquelas obras que poderiam
Os dados referentes aos investimentos e a amplitude ser apenas paliativas, sem estarem vinculadas a um
social nos diferentes programas da HABI fortalecem estudo de viabilidade da manutenção da favela
essas premissas: naquele local.
“deve-se priorizar as obras de urbanismo e infra-
De fato, como será visto adiante, os custos por estrutura, sem necessariamente investir na
unidade ou família para o atendimento da população reconstrução de novas unidades habitacionais nas
favelada onde ela já está, são muito mais baixos do a favelas;
produção de novas unidades, inclusive com a
aquisição de terras para a produção habitacional. a urbanização é entendida como um processo,
As diretrizes apresentadas 21
neste capítulo foram incluindo-se, além das obras, a regularização fundiária
sistematizadas a partir de
diferentes documentos
e urbanística, o acesso aos serviços públicos e sua
produzidos pela HABI, em manutenção pelos setores responsáveis;
especial, "Favelas e os fundos
de vale", HABI SUL, 1989,
"Proposta de trabalho
a participação popular é fundamental para o sucesso
21
integrado com a população deste processo.”
das favelas em processo de
Município de São Paulo
urbanização", GEU FAVELAS,
1990, "Programa de Essa concepção foi se consolidando ao ser
urbanização de favelas"- Tabela 3.4 NÚMERO DE FAMÍLIAS ATENDIDAS apresentada, discutida e afirmada com os diferentes
documento apresentado ao
Prosege, HABI, 1991, "Ação PELA HABI 1989 - 1992 interlocutores: os representantes dos movimentos
em Favelas e o Programa de populares e moradores das favelas, os funcionários
Urbanização da PMSP", públicos, as empresas privadas participantes de
apresentado ao governo
estadual, SABESP e Banco
licitações ou com contratos , para outros setores da
Mundial durante as Natureza OBRAS CONCLUÍDAS OBRAS EM ANDAMENTO Administração Municipal e também para outros
negociações referentes ao FAVELA EM DEZ 1992 setores do Estado e para as concessionárias de
da ação
a.
Programa de Saneamento
Nº Nº serviços públicos.
Ambiental da Bacia do
Reservatório Guarapiranga, absoluto % absoluto %
em 1991, "Recomendações e
normas técnicas para Emergência
elaboração de projetos de
10610 50,2 2033 4,5 Concepções
urbanização de favelas", 1992 urbanísticas
Alojamentos
e por último, o "Relatório do
GT Ação em Favelas", HABI, Provisórios
Figura 3.1 “Considera-se favela
abril de 1992, de onde foram
tiradas as citações. urbanizada aquela área servida
Melhorias por água, esgotos, eletrificação,
drenagem das águas pluviais,
com estabilização do solo, com
Infra-estrutura vias de acesso aos domicílios e
em favelas 5869 27,8 21288 47,2 grau de organização de
U.H. em favela 248 1,17 1298 2,9 implantação que torne possível
elaborar uma planta de
SUBTOTAL 16727 79,17 24619 54,6 arruamento e loteamento,
Terras caracterizando-se as áreas de
CONJUNTOS Infra-estrutura uso comum ou público e as
HABITACIONAIS áreas de uso residencial ou
U.H./empreiteira
3749 17,7 10588 23,5 misto, relacionando-se cada
U.H./mutirão 652 3,08 9865 21,9 Cidade da Criança, Jaraguá,
antes e depois das obras lote a uma determinada família.
SUBTOTAL 4401 20,78 20453 45,4
OUTROS Visando respeitar os
investimentos anteriores dos
117 TOTAL 21128 100 45072 100 118
moradores e ampliar ao
Fonte: dados básicos SÃO PAULO (CIDADE), 1992, 1, Quadro XIII distribuição da despesa realizada, que não
inclui os dados de 1992 e Quadros III, IV e V demanda atendida
máximo a amplitude do
atendimento social com os
recursos financeiros
disponíveis, deve-se buscar
respeitar o traçado das vias
existentes e minimizar o número
Apresento a seguir a concepção geral do programa de de demolições de casas. A ação
urbanização desenvolvido pela HABI, em especial a prioritária deve estar voltada
partir de 1990. Há três posturas básicas do Programa para a inserção da área e de
que já estavam presentes desde o primeiro Plano de sua população à infra-estrutura
Ação Imediata: urbana existente no entorno,
deixando-se para o próprio
morador a responsabilidade
quanto a melhoria ou
ampliação de sua casa.”
Somente em casos excepcionais podem ser usados
recursos financeiros municipais para reconstrução de
unidades habitacionais: quando as condições técnicas
aconselharem necessidade de aterros para elevação
da cota topográfica do terreno sujeito à inundação,
troca de solo, quando seja necessário demolir
totalmente uma casa para viabilizar as obras de
urbanização e infra-estrutura ou quando foram feitos
compromissos irreversíveis anteriores à administração
Luiza Erundina entre a Prefeitura e comunidades
específicas.”
NOSSA SENHORA APARECIDA,
Figura 3.2 zona leste, vista aérea da urbanização na ruas
e vielas sendo pavimentadas e interior de
22
quadra após as obras Essa diretriz encontrou resistência inicial dentro dos
movimentos organizados de favelas. As lideranças
reivindicavam a manutenção dos moradores nas
favelas, mas queriam que fosse feito um
reparcelamento regular da favela - lotes de no mínimo
100 m2, ruas de no mínimo 5m de largura e a
reconstrução de todas as casas, mesmo que fosse 22 No caso da favela Heliópolis,
uma das maiores de São
apenas o primeiro piso. Essa reação inicial comprova Paulo, inclusive a equipe
o enraizamento no imaginário popular da política dirigente da HABI defendia o
habitacional do BNH - casinha e lote - num reparcelamento da área,
conforme um plano já
loteamento "regular e oficial”. iniciado em diferentes datas e
trechos. Nesse caso, como em
outros, soluções mistas foram
Essa postura modificou-se rapidamente, em função adotadas.
da discussões que esclareciam as comunidades e as
lideranças quanto à inviabilidade da reivindicação, 23 Foi na administração petista
que se consolidou a definição
devido a seus custos sociais e financeiros: dos termos relocação
mudança de uma casa para
grande número de remoções para fora da favela, cuja outro local dentro da favela,
CONJUNTO ÁGUA BRANCA Essa diretriz foi estratégica para a amplitude social do
Programa, pois otimizou os recursos financeiros
destinados à favela, já que as obras de urbanismo e
infra-estrutura são mais baratas que a construção de
unidades habitacionais.23
HELIÓPOLIS
conjunto Delamare para relocação Figura 3.4
b.
Processo de implementação
"Entendida como um processo, a urbanização da
favela poderá ser implementada em fases ou etapas -
Em muitos casos, a obra de urbanização teve de incluir
a coleta do esgoto de trechos de fora da favela, com
no caso da Favela Esperantinópolis (Penha), onde foi
trabalho comunitário, pequenas melhorias, execução executado coletor de 300 mm ao longo do córrego,
de obras específicas prioritárias, programação da para atender a um bairro de montante e a Favela Índio
execução das obras por setores diferentes da favela. Peri , cujo projeto de esgoto incluía o atendimento a
Entretanto, antes do início da primeira intervenção, edifícios do Horto Florestal, limítrofe e a montante da
deve-se planejar a ação globalmente, elaborando-se favela.
diretrizes específicas para a área como um todo".21
123
d. de vale e redes de esgoto.
Participação da população
"A participação popular no processo de urbanização
da favela é imprescindível e específica - desde o
acompanhamento do projeto, conhecimento do
construção de uma democracia horizontal, com
representantes por viela ou quadra, que possam
conhecer em detalhe o projeto. Os moradores
precisam conhecer as razões das obras: porque o
esgoto está relacionado a doenças, porque a favela
124
cronograma de obras, até as ações de educação tem muitos ratos e baratas, para que possam
sanitária e ambiental. enfrentar as dificuldades que aparecerão. É
necessário que os moradores estejam de acordo com
É necessário desenvolver um trabalho social, de a obra e sabendo o que e quando vai acontecer. O
educação sanitária e ambiental, esclarecendo a planejamento da obra deve levar em consideração o
população quanto ao uso e conservação das obras fato de que as pessoas continuarão morando no local
realizadas na favela, para que estas não deteriorem durante os serviços.
devido ao uso incorreto.
A obra em favela traz muita interferência e incômodo
O trabalho social deve incluir necessariamente ao dia a dia dos moradores (remoções provisórias ou
aspectos relacionados à construção da cidadania, definitivas, demolições, trechos intransitáveis, perigo
sobre os direitos e os deveres do cidadão urbano, de máquinas e valas para crianças etc.). Por isso,
esclarecendo-se quais são as instituições responsáveis muitas vezes, apesar de anteriormente terem
pelos serviços públicos a que a favela tem direito.” reivindicado as obras, moradores oferecem
resistência à sua continuidade.
A condição ilegal dos assentamentos desenvolve uma
postura preconceituosa dos executores dos serviços
Muitas vezes, é o poder público que precisa agir em públicos básicos, que resistem a atender as favelas,
uma favela para executar uma obra de interesse da mesmo depois de urbanizadas, o que pode causar sua
cidade (avenidas, canalização de córrego, coletor de deterioração - varrição, coleta do lixo, manutenção e
esgoto), independente do grau de organização da limpeza periódica dos sistemas de drenagem,
comunidade favelada ou da sua reivindicação. correção de problemas nas redes de água e esgoto
etc.
É fundamental lembrar que se está projetando e
executando as obras praticamente dentro da casa dos
moradores. Assim, o prévio conhecimento, pelo
morador, da obra proposta, seu tempo de execução e
seu entendimento quanto ao benefício que a mesma
trará são dados essenciais ao sucesso do
empreendimento. A Operacionalização
e.
regionais elaboravam as diretrizes físicas e sociais de topográfico, plantas de
urbanização, solicitavam a contratação e loteamento etc para subsidiar
Relação das favelas com a gestão dos os processos para
acompanhavam os levantamentos, projetos e obras
serviços de manutenção urbana regularização de favelas.
executados por empresas ou por mutirão, executavam
o trabalho social nas comunidades em atendimento e
"Cabe à HABI central desenvolver contatos para os projetos e obras de pequenas melhorias.
formalizar a inclusão das favelas urbanizadas nos
serviços de manutenção urbana, de forma a integrá-las A equipe do Programa de Urbanização (GEUFAVELAS)
na gestão da cidade. coordenava e apoiava esse trabalho, através de
25
assessoria técnica, normatização de procedimentos,
Em paralelo, cabe às HABIs regionais nas escalas sistematização de diretrizes e normas técnicas,
locais, envolver as comissões de moradores nos operacionalização das contratações e assinaturas de
125 126
contatos com os orgãos públicos municipais e convênios para levantamentos, projetos e obras,
estaduais responsáveis pela inclusão da favela encaminhamento de medições e pagamento.26
urbanizada na programação dos serviços de
manutenção urbana".21 A execução regionalizada da ação em favelas foi um
pressuposto e uma necessidade. A dimensão do
Pela dimensão do problema no município e pelas problema e da cidade, a necessidade de proximidade
inter-relações entre a manutenção urbana, a física e do estabelecimento de uma relação de
recuperação ambiental da cidade como um todo, e a confiança e transparência entre a população e a
ação direcionada para as favelas dentro da política equipe de trabalho da Prefeitura, o encadeamento de
habitacional, as diretrizes gerais do programa dão ações participativas (como as listadas abaixo) que
grande importância à integração das ações da contribuíssem para mobilização da comunidade em
Prefeitura nos núcleos de favela. torno do processo de urbanização, tornam
fundamental que a equipe que tem contato sistemático
e direto com a comunidade tenha alguma mobilidade
e autonomia em relação à estrutura central.
Soma-se a isso o fato da entrada de muitos
A formulação das diretrizes, normatização das formas técnicos contratados por prestadoras de
de planejamento, operacionalização e controle foram serviço, na maioria ligados à área física, o que
resultado de um trabalho coletivo. A equipe técnica criou muitos problemas no relacionamento
existente na Prefeitura, (com grande conhecimento da profissional, principalmente com o corpo das
realidade concreta da favelas, suas comunidades e equipes sociais, historicamente responsáveis
dos erros cometidos no passado), os técnicos pela implementação da política habitacional
contratados especialmente para trabalhar com para a população de baixa renda. Esse fato
habitação popular na HABI (que trouxeram sangue tem sua raiz já na administração do prefeito
novo e criatividade à estrutura pesada e desacreditada Jânio Quadros, quando HABI saiu da FABES e
da Prefeitura), técnicos com experiência anterior em passou para a SEHAB e a política habitacional,
27
urbanização de favelas em outros locais onde esse que sempre esteve em poder do corpo social, 29 Para a execução de pequenos
processo já tinha criado raízes (permitindo a passou a ter uma influência maior da área
reparos e melhoria nas favelas
(que não podem ser
assimilação dos acertos e evitando erros) e as física. Na administração da perfeita Luiza urbanizadas ou para apoio à
empresas privadas de gerenciamento, projeto e Erundina, este fato se agravou com a entrada integração da comunidade ao
obras, acabaram por colocar seu conhecimento a de um superintendente arquiteto e o
processo de regularização e
urbanização) a HABI deu
serviço das favelas, procurando atender às exigências consequente crescimento do papel dos continuidade às chamadas
Destaque-se o arq. Jorge 27 de custos, qualidade, agilidade de maneira criativa. técnicos da área física na política.” obras de melhoria, através do
Hereda, que havia trabalhado uso da Verba de Atendimento
na Bahia na urbanização, Habitacional
entre outras favelas, de A relação entre a equipe central, as regionais e a As obras de urbanização foram comprovando (tradicionalmente utilizada
Alagados, foi diretor técnico iniciativa privada, entretanto, não se deu sem que a implantação original da favelas
para remoções e
da HABI central, o arquiteto atendimentos de emergência),
conflitos. Além das cobranças por rapidez da resultava em problemas de risco e priorizando seu uso coletivo.
Paulo Saad, carioca,
funcionário da CEHAB e execução das ações programadas de parte a parte, insalubridade, muito mais pela falta de Essas obras sempre foram
responsável pelo projeto de verificou-se a resistência por parte de técnicos da recursos da população e pela ausência dos
executadas por mutirão, com
urbanização da favela Santa algumas atividades
Marta, foi consultor de GEU
própria HABI quanto à política de consolidação de serviços básicos da infra-estrutura, do que remuneradas e participação
FAVELAS para a montagem do favelas, quanto à diretriz e reconstrução de casas e pela lógica da implantação. de mestres de obra e pessoal
cadernos das primeiras quanto à operacionalização do trabalho social. operacional da prefeitura. Em
licitações para projeto, o favelas de pequeno porte e
engenheiro sanitarista A execução dos projetos e obras condições físicas favoráveis a
Eduardo Marques, carioca, Essas resistências e conflitos dentro do próprio poder urbanização global pôde ser
que havia trabalhado em feita através dessa ação.
público tem suas raízes na postura tradicionalmente A HABI optou por desenvolver mecanismos Entretanto, ocorreram também
Angra dos Reis, entre outros 28
projetos de saneamento para laboratorial, de pequenas experiências controladas para a participação das empresas privadas na casos de execução, que são
áreas irregulares, e a arquiteta pelo poder público numa prática assistencialista ainda urbanização de favelas. Essa opção foi
apenas paliativos e terão que
Denise Penna Firme, carioca, ser refeitas para a real
que havia trabalhado no
presente na máquina administrativa, tornando contingenciada por alguns fatores. A HABI não consolidação do
cadastramento físico das necessária a renovação e a reciclagem do corpo podia executar as obras por administração assentamento.
favelas cariocas, e no projeto técnico para a operacionalização de uma política de
e obra de urbanização da direta, pois não tem estrutura operacional 30 A experiência carioca, que, na
favela Pavão/Pavãozinho. atendimento coletivo e socialmente abrangente. própria e não foi possível uma ação integrada época, já havia consolidado o
programa de mutirão em
A bibliografia sobre favelas, 28
com as administrações Regionais, tanto pelo favelas para infra-estrutura,
Por outro lado, a forma tradicional das intervenções conflito de prioridades de um e outro órgão, não servia como referência,
pelo menos até o fim dos anos
80, resumia-se a experimentos em favela de São Paulo (de demolição, loteamento quanto pela qualidade e agilidade29de sua pois no Rio o mutirão era
acadêmicos e laboratoriais. regular e construção de novas casas, quase sempre execução. A ação em favelas da HABI teve que
remunerado, enquanto a
tradição paulista, e
embrião) indica uma rejeição do profissional e do assumir obras de maior complexidade, como referendada pela gestão
poder público ao urbanismo produzido pela canalização de córregos, pontes, petista era de mutirão sem
população pobre, fora das normas impostas pelo remuneração, como parte do
pavimentação de vias públicas oficiais, pagamento, no caso de
saber instituído. Se é certo que há nas favelas situações coletores de esgoto de mais de 200mm, moradia.
de ocupação do terreno perigosas, insalubridade, eletrificação etc., como sua responsabilidade
127 casario precário, é certo também que há uma riqueza 128
quanto à execução e custos, sob pena de ver
na implantação não ortogonal das casas, uma inviabilizada a operacionalização das
sabedoria na apropriação do terreno. intervenções como um todo. Estas obras de
maior porte deveriam ser executadas por
D'Alessandro, 1999:56 afirma: "As equipes de empreiteiras. Quanto à participação popular,
trabalho eram multidisciplinares, envolvendo técnicos ficava claro, pela experiência anterior em
relacionados à área física e à área social, que apesar outras obras da HABI, que a população
das especificidades de cada um, deveriam trabalhar favelada teria dificuldades de desenvolver
de forma integrada. Esta integração nem sempre se processos de mutirão com boa produtividade.
30
deu de forma satisfatória, pois as especificidades das
duas áreas profissionais envolvidas eram muito Grande parte das obras foi então executada
diferentes e muitas vezes o modo de enxergar e atuar pela iniciativa privada. Primeiramente, foram
na realidade ocorria de forma muito conflituosa. Por feitas licitações por região da cidade para
este motivo, muitas vezes os processos eram muito execução de projetos executivos e obras por
morosos. preço unitário de serviço pré-estabelecido,
conforme já brevemente explicado.
A cidade foi dividida em 5 áreas, para as quais seria
contratada uma empresa que executaria as obras de Paralelamente, os técnicos dos Escritórios Regionais e
urbanização nas favelas, segundo indicação e projeto as Comissões de Moradores, acompanhavam as
pré-determinado desenvolvido pela HABI regional. O obras, especialmente quanto ao cronograma, solução
critério de seleção da licitação foi o do menor preço de interferências não previstas, modificações de
por custo unitário do serviço (execução e materiais). A projeto no decorrer das obras, relação com as
HABI central desenvolveu uma série de soluções-tipo concessionárias, execução de remoção, relocação ou
para todas as obras previstas em urbanização de remanejamento de casas.
favelas terraplanagem, macro e micro drenagem,
estabilização de taludes, pavimentação, execução de A avaliação daquela forma de contratar serviços para
rede de água e esgotos, que seriam a referência para favela Ata de registro de preços de serviços
as ofertas das empreiteiras. Para aumentar o interesse determinados a partir de soluções padrão foi
de empresas nestas obras, definia-se, além do preço negativa, especialmente em função de que os projetos
unitários do serviço, uma taxa de dificuldade, eram pouco desenvolvidos para cada favela. Faltava,
decorrente das obras serem em condições sócio- na verdade, uma sistemática de contratação de
espaciais mais difíceis. levantamentos planialtimétrico-cadastrais e de
projetos básicos, que pudessem realmente ser
Apenas uma empresa (a Pertécnica Engenharia) executados no canteiro, sem inúmeras paradas
apresentou proposta nas cinco licitações. As decorrentes de modificações da realidade, da
Esse quadro mudou 31
radicalmente depois de alguns empreiteiras simplesmente não demonstraram necessidade de trocas de solo não previstas, do
anos. A ampliação das obras nenhum interesse neste , que seria, no futuro, um novo aparecimento de dutos não cadastrados pelas
em favela em outras cidades, concessionárias. Ao mesmo tempo, em algumas
além de São Paulo, possibilitou
nicho de obras públicas em muitas cidades brasileiras:
31 favelas, na discussão entre moradores, funcionários,
que pequenas e médias a urbanização de favelas. Esse fato colocou a
empreiteiras passassem a Administração em um dilema sem solução: a técnicos das empresas privadas, surgiam outras
atuar na área, inclusive no Rio soluções técnicas mais adequadas, especialmente
de Janeiro, com o Programa empresa (era perceptível por suas características
Favela-Bairro. Já em São financeiras, curriculum etc, apresentados na licitação) para obras de consolidação geotécnica, drenagem,
Paulo, o Programa
dificilmente teria capacidade técnica e financeira para pavimentação, mobiliário urbano, que nem sempre
Guarapiranga, ao fazer
licitações de pacotes de agir em todo o município, caso ela fosse aceita como estavam previstas na Ata de Registro de Preços.
favelas, criou um mercado ganhadora nas 5 licitações; entretanto, com que
para as grandes empreiteiras. Tornou-se consenso que seria mais adequado para o
critérios técnico ou sócio-político definir quais das
No Anexo 3.I é apresentada a 32 regiões do município ficariam sem contratos para as Programa de Urbanização (como o era para os
situação de todos os serviços obras em favela ? Como explicar às lideranças, à conjuntos habitacionais), o desenvolvimento de
de planejamento, projeto e contratos específicos para projetos e obras em cada
obra em favelas do município, opinião pública, aos dirigentes da Administração
em novembro de 1992, com a naquelas regiões ? favela. Cada uma delas tinha sua especificidade
listagem de todas as social e física, devendo-se valorizar esses aspectos na
projetistas, assessorias e
construtoras envolvidas. Assim, optou-se por escolher a Pertécnica como urbanização. Ao mesmo tempo, contratar outras
ganhadora em todas as cinco licitações. Em paralelo, projetistas e empreiteiras para ampliar o nú
A empresa contratada foi a 33 mero de obras era o caminho para responder à pouca
Bureau de Projetos, que já
GEUFAVELAS passaria a desenvolver outras licitações
estava trabalhando com para ampliar a capacidade operacional. capacidade operacional da Pertécnica.
favelas, na elaboração dos
laudos geotécnicos das áreas Após o início das primeiras obras através da Ata,
de risco. Isso fez com que em 1990 a HABI iniciasse muitas
32 houve fôlego para a preparação da contratação de
obras em favela (ver Anexo 3.I), mas trouxe também
muitos percalços. Em primeiro lugar, os projetos levantamentos planialtimétricos cadastrais, que eram
básicos apresentados pela HABIs regionais para as utilizados pelas HABIs regionais para o
129 Ordens de Início dos serviços da Pertécnica eram desenvolvimento das diretrizes de projeto e depois, 130
muito pouco desenvolvidos, e muitas vezes baseados para a contratação dos projetos.
em levantamentos topográficos muito antigos e
portanto desatualizados. Isso tornou necessária a A tentativa de obter recursos de outras fontes para as
inclusão - dentro das Ordens de Início - de favelas também ajudou a agilizar a decisão de
levantamentos e de desenvolvimento de projetos, o contratar um grande número de projetos.
que acarretou mais um peso à empresa e, ao mesmo
tempo, atrasou mais as obras. Em segundo lugar, a Tentou-se a participação do Programa Prosege, da
empresa realmente não tinha equipe técnica e Secretaria de Saneamento do Ministério de Ação
capacidade operacional para tocar as obras já Social. Os projetos de urbanização da favela eram
definidas. aparte da contrapartida exigida pelo governo federal
no Prosege. Esse programa financiava obras de água
Foi fundamental a contratação de uma empresa e esgoto para áreas carentes. Era voltado para as
33 concessionárias estaduais. Apesar de não haver uma
gerenciadora, que poderia fornecer consultoria
especializada e fiscalizar a execução das obras de obrigatoriedade de que as áreas atendidas fossem
empreiteira - operando como uma referência de regulares, pois as favelas eram citadas no
controle de qualidade técnica.
escopo de atuação do PROSEGE, havia muitas
exigências quanto às condições de regularização Para o Programa Guarapiranga foram então licitados
fundiária e urbanística do empreendimento e também os projetos de 7 favelas que já estavam na
à capacidade de retorno do investimento através de programação das HABIs Regionais, e negociou-se
tributos e tarifas. No Anexo I encontra-se a lista das com O Banco Mundial que estes projetos seriam
favelas e empresas projetistas contratadas para os considerados já contrapartida da Prefeitura. No Anexo
projetos. Infelizmente, até o final de 1992, não 3.I encontra-se a lista dos contratos de projeto.
havíamos obtido a aprovação do financiamento.34
As favelas programadas para o PROSEGE e para o
Outro programa que mobilizou a contratação de Programa Guarapiranga que estavam com a licitação
projetos foi o Programa de Saneamento Ambiental da de obras em andamento ou preparação no final de
Bacia do Reservatório Guarapiranga. A participação 1992, (Anexo 3.I) tiveram esses processos paralisados
da SEHAB, em especial de GEU FAVELAS, nas pela nova gestão.
negociações e desenvolvimento técnico deste
programa foi fundamental para o sucesso da Foram sendo contratados os projetos destes
participação da Prefeitura e modificou bastante a programas e outros, priorizados pela HABI. Quando,
postura da SABESP e da Secretaria Estadual de Meio começaram a ficar prontos, optou-se por contratar as
Ambiente em relação às favelas. obras uma a uma, como se fazia com as obras para
conjuntos habitacionais.
No final de 1990 a SABESP procurou o Gabinete da
Prefeita solicitando providências para retirada de A maioria dos levantamentos topográficos e
favelas cujos esgotos estavam sendo lançados na geotécnicos e dos serviços de projeto de urbanização
36
represa Guarapiranga. Na imprensa noticiava-se a foram contratados pela Prefeitura no setor privado, a
ocorrência de uma alga naquelas águas (tornada partir de diretrizes de urbanização elaboradas pelos
Em 1993 a nova 34 pública pelo fato de que o algicida lançado na represa escritórios regionais, checadas e quantificadas pela
administração acabou
pela SABESP modificava o gosto da água, que era Coordenação do Programa. Dessa forma superou-se
desistindo da solicitação, dada
a mudança na forma de ação distribuída para mais de 20 % da cidade, em especial a falta de técnicos especializados e equipamentos da
sobre as favelas. os moradores da região Sudoeste e oeste, de maior HABI e, ao mesmo tempo, colocou-se a serviço das 36 Cabe ressaltar que, pela
favelas uma gama mais experiente de profissionais, característica dos serviços e
O Subprograma de 35 renda). A alga proliferava em função da descarga de forma de contratação (um
Recuperação Urbana inclui matéria orgânica, em especial esgotos. A SABESP já que de outra forma não se debruçariam sobre a busca contrato para cada favela) as
urbanização de favelas,
negociava com o Banco Mundial um financiamento de soluções adequadas à urbanização de áreas já empresas eram de pequeno e
remoção e reassentamento de médio porte.
para melhorar o sistema de saneamento daquela habitadas.
famílias, adequação da infra-
estrutura urbana viária e de bacia, mas não previa ações em favela. O Gabinete
drenagem em áreas
da Prefeita transferiu à SEHAB, com a participação das Deve-se lembrar que a iniciativa privada, em alguns
degradadas de loteamentos.
Administrações Regionais envolvidas, a discussão com casos, tentava reduzir os padrões de exigência técnica
a SABESP e posteriormente com a Secretaria de de qualidade (muito comum nos casos de
Energia e Recursos Hídricos, que coordenaria o levantamentos planialtimétricos e cadastrais e
Programa. execução de obras subterrâneas), ou atribuir, de
maneira sistemática, o mau funcionamento das redes
A SEHAB iniciou então o questionamento da postura ao uso indevido e não à má execução. Essa postura
de negar as ocupações irregulares, fazendo ver à (além das distorções desenvolvidas no Brasil nas obras
SABESP que o manancial seria perdido antes que o contratadas por órgãos públicos) decorre do
poder público conseguisse condições financeiras e preconceito do cidadão médio à favela, entendida
políticas para remover centenas de milhares de ainda preconceituosamente como local de marginais
131 132
pessoas da bacia. O Banco Mundial solicitava transgressores da lei, que não “merecem o que a
também estudos de impacto social do Programa junto Prefeitura está fazendo”. Por outro lado, a exagerada
à população. Em relação às favelas, GEU FAVELAS exigência do cumprimento de prazos ou a solicitação
procedeu com a SABESP a vistoria das 180 favelas, de complementações de projetos sem aditamentos
com cerca de 20 mil famílias, ou 100 mil moradores . dos contratos, em função da falta de experiência na
Nesse processo foi possível comprovar que a maior fiscalização real de contratos, a solicitação de
parte das áreas poderiam ser saneadas através de reconstrução de obras em função de pequenos
obras de urbanização, com a condução dos esgotos detalhes, por parte dos técnicos da Prefeitura, trouxe
para as redes da SABESP. Segundo estes estudos, muitos problemas para algumas empresas.
somente cerca de 2500 famílias (ou cerca de 12 % do Associando-se os problemas de caixa da Prefeitura,
total) precisariam ser removidas por estarem em que, quase sempre, a partir de setembro atrasava os
situação de risco geotécnico ou abaixo da cota de pagamentos, numa situação de grande instabilidade
esgotamento das redes da SABESP. Assim, foi política federal e inflação, algumas empresas
desenvolvido dentro do programa um Subprograma praticamente se inviabilizaram, seja da área de
de Recuperação Urbana, 35
com 35% dos investimentos projetos, seja da área de obras.
totais.
37
A atuação da EMURB
A EMURB participou da ação em favelas elaborando
projetos de urbanização das favelas Jardim Comercial A partir desta experiência, o CEDEQ desenvolveu
e Jardim Rubilene, quando GEU FAVELAS procurava caixas de ligação de esgoto em argamassa armada e
ampliar sua capacidade operacional. A qualidade dos passou a executar a canalização do córrego
trabalho foi ótima, porém, a EMURB apresentava para juntamente com a rede coletora de esgotos paralela.
seus serviços preços mais altos dos que se conseguia Assim, nas favelas Jardim Rubilene e Esperantinópolis
nas empresas privadas. o CEDEQ executou também a rede coletora de
esgotos principal, paralela aos córregos, utilizando
Além disso, a empresa criou o CEDEQ - Centro de sua tecnologia para as caixas de ligação aos ramais
Desenvolvimento de Equipamentos Urbanos, dirigido das vielas e redes domiciliares.
pela arquiteta Mayume Watanabe Souza Lima, que
utilizava a tecnologia de peças pré fabricadas de
argamassa armada em formas metálicas para a Os mutirões
construção de edificações para serviços de educação,
saúde, mobiliário urbano (como pontos de ônibus,
lixeira e também para canalização de córregos). Essa O Programa de urbanização de favelas procurou
tecnologia consiste na fabricação e pré-montagem de montar sua operacionalização com base na empresa
peças de secção quadrada e a céu aberto, de dois privada, e não na ação em mutirão. As experiências
38
metros de lado, de argamassa armada. A grande anteriores da HABI com moradores de favela eram
adequação desta tecnologia para favelas está na negativas. Obras de unidade habitacional
possibilidade de construção do canal com a abertura programadas em mutirão, devido ao insucesso das
de faixa de seis a dez metros entre os barracos, pois as mobilização, eram morosas e quase sempre se
peças são pequenas e leves. Dois trabalhadores transformavam em auto-construção ou até
podem carregá-las sem muito esforço pelas vielas da se optava por contratar empreiteiras para o término
A EMURB - Empresa de 37
favela. Faz-se a escavação, em boa parte, por das casas. Ao mesmo tempo, como já colocado, boa
Urbanização de São Paulo - é processos manuais. Assim, era possível canalizar o parte das obras de urbanização, por serem relativas à
uma empresa pública córrego, direcionando a drenagem local e instalar o infra-estrutura urbana, eram mais complexas e
municipal
coletor de esgotos na favela derrubando poucos pesadas, exigindo mão de obra mais especializada e
Essa dimensão é opcional. No 38 barracos. uso de máquinas e equipamentos abertura de valas e
Rio de Janeiro, por exemplo, a colocação de redes, água, esgoto e drenagem,
secção usada é de 4 metros.
A HABI selecionou 18 favelas com córregos que canalização de córregos, troca de solos,
estavam sendo indicadas para urbanização e solicitou pavimentação, estruturas diversas de contenção.
à SVP o estudo hidráulico para a viabilidade do uso Lembremos também que, mesmo no Programa
destas peças. Foram selecionadas apenas três favelas FUNACOM de provisão de novas casas em mutirão,
Miranguaba, Esperantinópolis e Jardim Rubilene, em que ficaram famosos como os mutirões do PT a
que a vazão do córrego, naquele trecho, era execução das obras de infra-estrutura tinha ficado por
compatível com as peças de dois por dois metros. conta de empreiteiras.
Após negociações sobre a que secretaria
corresponderia o custo das obras, foi definido que a Entretanto, havia situações especificas, quanto a
SVP contrataria a primeira, inclusive por que se tratava aspectos políticos e sociais , que mereceram formas de
de uma favela com risco de enchente (além de risco de ação com participação direta da população nas
deslizamento) priorizada pela própria prefeita. A obras. Procurou-se então criar mecanismos para que
133 HABI, através do contrato de Ata de Registro de Preços, obras em mutirão fossem desenvolvidas, com 134
desenvolveria as obras de urbanização. Nessa orientação técnica e qualidade.
primeira experiência então, estavam em andamento
ações de remoção de barracos em risco de um trecho Para atender a demanda de reconstrução de moradias
em encosta pela SAR, a obra de canalização do demolidas por causa das obras de urbanização, ou
córrego pelo CEDEQ e a obra de urbanização pela seja, o remanejamento de unidades, foi criada em
HABI. Houve complicações no canteiro relacionadas à 1990 uma linha de financiamento - FUNAPS-FAVELA -
irracionalidade de o CEDEQ executar as escavações permitindo o gerenciamento dos processos de seleção
para o canal e reaterrá-lo e depois a empreiteira da e compra dos materiais de construção e execução das
HABI executar novas escavações para rede coletora de casas pela Associação dos Mutirantes, através de um
esgotos. Havia também uma diferenciação entre as convênio assinado entre a entidade comunitária e o
condições de trabalho dos empregados pela FUNAPS. Entretanto, a assessoria técnica ficava a
empreiteira privada e os do CEDEQ, que tinham cargo dos funcionários dos Escritórios Regionais.
uniformes, equipamentos de segurança adequados
etc.
Antes de discutir os custos das obras executadas em
favela naquele período, é necessário registrar
algumas reflexões sobre a questão de apropriação de
custos de obra públicas em geral.
3.
SÃO PAULO (CIDADE), 44
1992, 1 A organização da operacionalização não previu a
Segundo os estudos do governo no período, a inclusão da planta de parcelamento das quadras da
44
demanda da Ação em Favelas no Município de São favela urbanizada ou seus logradouros públicos nos
Paulo (com necessidade de ações de urbanização e de cadastros municipais, o que seria feito somente após a
melhorias) detectada pela Superintendência de regularização fundiária. Isso fez com que se
Habitação Popular, era composta de 90% das famílias mantivesse o desconhecimento sobre a cidade
que vivem nas favelas cuja propriedade é total ou informal na análise dos projetos da cidade formal. A
parcialmente municipal, bem como a população Prefeitura continuou a desconsiderar as favelas
moradora na Favela Heliópolis, área federal urbanizadas, suas ligações viárias , até intervenções
repassada à COHAB na década de 80. Essa demanda no sistema do entorno, na análise de projetos das
compreendia 135 482 famílias, cerca de 70% da glebas privadas do entorno.
população favelada do município, segundo os dados
do Censo de Favelas de 1987. As maiores
concentrações dessa população encontram-se na
Região Sul do município - Campo Limpo, Capela do
Socorro e Santo Amaro - e na Região Norte,
destacando-se a Freguesia do Ó.
4. As adaptações nos sistema de distribuição de energia
elétrica e a relocação de algumas ligações
domiciliares tinham que ser feitas pela
ELETROPAULO; as redes e ligações de água e esgoto
eram executadas pela empreiteira contratada pela
145 146
Prefeitura, mas a obra tinha que ser fiscalizada pela
Verifica-se pela Tabela acima, que se atingiu, em 4 SABESP - concessionárias estaduais. A falta de
anos, cerca de 30% da demanda estimada, experiência em obras conjuntas Prefeitura e Estado, a
considerando-se as obras de urbanização e melhorias má vontade entre os órgãos em decorrência das
e cerca de 20%, considerando-se apenas as obras de diferentes orientações políticas dos dois governos e,
urbanização. À guisa de especulação, se a Prefeitura principalmente, a falta de procedimentos e normas
de São Paulo mantivesse o ritmo dos investimentos na técnicas claras e condizentes com o espaço urbano da
ação em favelas existentes, em 8 ou 10 anos teríamos favela, tonaram difícil sincronizar os cronogramas dos
melhorado as condições urbano-habitacionais de diferentes órgãos que, entretanto, faziam ações
todas as favelas, atingindo cerca de 135000 famílias e interdependentes. Isso acabou trazendo atrasos às
promovendo uma extensa recuperação da qualidade obras de urbanização porque alguns serviços, como
do ambiente urbano de São Paulo. Entretanto, a falta alargamento de ruas e vielas, execução de muros de
de continuidade das políticas e programas públicos contenção, abertura de valas e caixas das ruas,
(um problema em todos o níveis do Executivo no país), dependiam da relocação de redes de água existentes
ainda faz disso uma utopia a ser construída. e de postes de distribuição e de ligação elétrica.
Um grande número de casas foi reconstruído ou
10.
O fato de que as favelas têm passado a incorporar-se
no objeto da gestão urbana, exige o desenvolvimento
de tecnologias, metodologias e normas técnicas para
projetos e obras que respondam a suas peculiaridades
físicas e sociais, proporcionando uma ação mais
expressiva e abrangente. Afinal, trata-se de uma
realidade a enfrentar e transformar, não mais uma
realidade provisória.
CL Vila Nova Peinha 270 Assoc. Vila Nova Peinha Jul/92 Jul/93 Co-opera-
(URBANACOM) ativa HABI FAVELA No.FAM. EMPREITEIRA DATA TÉRMINO RESP.
ORDEM PREVISTO FISC.
CL Santa Zélia 112 Comunid. dos Moradores Out/92 Jul/93 Usina
(URBANACOM) Jd. Sta. Zélia DE INÍCIO
BT Vila Nova Jaguaré (e unid. Habit.) 78 Campo ---- 390diasc. BUREAU
CS Jd. Icaraí Núcleo de Moradores Ago/92 Mai/93 Apoio BT São Jorge Arpoador 827 Agrocap ---- 390diasc. BUREAU
(Guarapiranga) 228 Fav. Jd. Icaraí SA Autódromo II 385 A.J.M. 12/11/92 11/04/93 BUREAU
(URBANACOM) SA Jd. dos Prados 50 Enterco 01/10/92 27/06/93 BUREAU
CS Santa Maria 42 Prodomo 01/07/92 27/11/92 H.R.
VP/MO Vila Bela Assoc. Moradores Unidos Nov/91 Mai/93 Habi-reg
(FUNAPS/FAVELA) 68 Vila Bela VP/MO CS Jd. Beatriz 125 Prodomo 16/09/93 13/06/93 BUREAU
CL Jd. Comercia l155 Criciúma 01/12/92 28/06/93 BUREAU
SM 2 de Maio Assoc. p/ Constr. Em Jul/91 Ago/93 Habi-reg CL Sítio Pirajussarra 412 São Luiz 12/11/92 09/02/93 H.R.
(FUNAPS/FAVELA) 58 Mutirão 2 de Maio SM FO Letícia Cini II 150 Goldfarb 19/10/92 14/10/93 BUREAU
ST/MG Galileu Gaia II (unid.habit.) 52 Polos 10/08/92 09/02/93 H.R.
CS Autódromo Centro Comunitário Jd. Ago/92 Set/93 Habi-reg PE Bueru II (unid.habit.) 40 Polos 20/08/92 19/02/93 H.R.
(FUNAPS/FAVELA) 86 Autódromo SA/CS
PE Jd. Arizona III 190 Construtora S/data 210 d.c. BUREAU
SM Complexo Vergueirinho Assoc. Moradores do SM Dois de Maio II (alojamento) 12 Barcha 16/11/92 15/01/93 H.R.
(URBANACOM) 308 Complexo Vergueirinho - Dez/91 Mar/92 AD SM 9 de Julho 218 Telar 20/07/92 22/04/93 H.R.
Divinéia IG Maria Luiza AmericanoIV 800 Goldfarb 01/09/92 28/05/93 H.R.
ME N. Sra. Aparecida III 2500 Vilanova 21/12/92 17/08/93 BUREAU
PP Paquetá Assoc. Moradores Sem- Dez/92 Jul/93 Oficina VM N. Minas Gerais II (unid habit.) 110 N.R.A. 16/11/92 15/04/93 BUREAU
(URBANACOM) 166 Terra Jd. Paquetá VM/IP São João Clímaco III 274 Barcha 01/12/92 28/02/93 BUREAU
VP/MO Haia do Carrão Assoc. A União Faz a Jan/93 Ago/93 Habi-reg
(FUNAPS/FAVELA) 45 Força Haia do Carrão VP/MO TOTAL 5515
TOTAL 2992
PROSEGE/LICITAÇÃO DE OBRAS EM ANDAMENTO PROJETOS EM ANDAMENTO
HABI FAVELA No. FAM PROJETISTA DATA O.I. TERM.PREV. HABI FAVELA No. FAM. PROJETISTA
FO Índio Peri 220 STE 19/11/91 10/02/93 PE Entre Rios 191 STE
FO Jd.Cachoeira 382 STE 19/11/91 10/02/93
TOTAL 191
PP Marilac 152 STE 19/11/91 10/02/93
PP S.Cândido 200 STE 19/11/91 10/02/93
ST/MG Vila Nova Tietê 676 STE 19/11/91 10/02/93
CL CampodeFora 700 Cepollina 19/11/91 10/02/93 EM PREPARAÇÃO PARA LICITAÇÃO DE OBRA
CL Jd.Olinda 341 Cepollina 19/11/91 10/02/93
VP WalterFerreira 122 Geólogos 19/11/92 11/11/92 HABI FAVELA No. FAM. PROJETISTA
VP SantaMadalena 1142 Geólogos 19/11/92 ------
VM CidadeAzul 205 Geólogos 19/11/91 11/11/92 SM 15 de Julho 150 STE
HABI FAVELA No. FAM HABI FAVELA No. FAM Arizona 980 2,5 392
Campo de Fora 3430 12,0 285,8
LA Água Branca 102 Cidade Azul 1004 1,9 528,4
MO Jd. Catarina 126
Cinco de Julho 519 0,69 747,3
FO Minas Gás 240
Entre Rios 936 1,82 514,2
ST Maninos 152 TOTAL 102
Icaraí 1117 3,01 370,2
Imbuias 2205 3,3 655,3
TOTAL 518 Imp. D. Amélia 857 0,8 1033,1
Índio Peri 1078 1,9 540,8
PREPARAÇÃO PARA Jd. Alpino 1166 1,5 739,5
LICITAÇÃO DE PROJETOS Jd. Cachoeira 1872 3,07 608,7
Jd. Comercial 759 1,4 513,1
HABI FAVELA No. FAM. Jd. Comércio 735 0,4 1531,2
Jd. Olinda 1671 1,8 928,2
SH Dois de Maio Jd. Prados 98 0,7 132,4
(Infra) 269 Jd. Souza 269 0,4 660,3
PP Taipas 80 Marilac 745 1,7 420,7
CS 7 de Setembro Monte Azul 2073 2,3 894,7
(parcial de infra) 10 Nove de Julho 985 1,7 420,7
CA S. José IV Pq. M. Fernanda II 681 1,1 561,7
(unid. habit.) 14 Pres. Jordanópolis 3920 3,8 1010,5
Santa Lúcia 627 1,5 413,9
TOTAL 373 Santa Zélia 549 1,4 387,7
São Cândido 980 2,2 445,4
S. Jorge Arpoador 4052 5,6 713,9
São José IV 1274 2,2 574,3
Sete de Setembro 980 1,4 683,9
Valter Ferreira 598 0,5 1041,4
Anexo 3.2. Vila Muna 980 1,2 816,6
Vila Nova Tietê 3312 4,6 712,3
DENSIDADE HABITACIONAL BRUTA DAS
MÉDIA 1348 2,28 647
FAVELAS ATENDIDAS por obras entre 1989 E 1992
MEDIANA 980 1,7 574,3
FAVELA No. ÁREA DENSIDADE Obs.: As Favelas Heliópolis e Sapé não foram incluídas pois os dados são incompletos.
HABITANTES (Hectare) (hab/área)
MÉDIA 1531,35 2,19 668,65 Obs.: A favela Maria Luiza Americano não foi incluída pois os dados são incompletos.
MEDIANA 980 1,4 559,2
Obs.: A Favela Esperantinópolis foi excluída pois os dados são incompletos.
BUENO, Laura Machado de Mello e HENNIES,
PUPO, Gualter e LOPES, Jarbas Barbosa,
Tercius Waldemar, "Relatório de Pesquisa vol. III -
"Urbanização de Favelas: Interação Geologia de
Avaliação de favela urbanizada: a favela Nossa
Engenharia e Urbanismo", in Anais do 7o Congresso
Senhora Aparecida, em São Paulo", Coordenadoria
Brasileiro de Geologia de Engenharia, Poços de
de Estudos e Apoio à Pesquisa da PUCCAMP, xerox,
Caldas, 1992.
1995.
bibliográficas
REVISTA DAE, Programa de Saneamento da Bacia
BUENO, Laura Machado de Mello e TEIXEIRA,
do Reservatório Guarapiranga resumo do EIA RIMA
Adriana Maria Artico, "Relatório de Pesquisa vol. I
elaborado pela COIBRAPE, SABESP, no. 164,
Parte I- Métodos de Ação Planejada em Favela -
março/abril, 1992.
pesquisa em municípios, faculdades de arquitetura
Referências bibliográficas e engenharia do Estado de São Paulo",
SÃO PAULO (CIDADE) 1, SEHAB/HABI, "Programa
Coordenadoria de Estudos e Apoio à Pesquisa da
Habitacional de Interesse Social - Relatório de
PUCCAMP, Campinas, xerox, 1995.
Gestão 1989 - 1992", São Paulo, 1992.
BUENO, Laura Machado de Mello, "Relatório de
SÃO PAULO (CIDADE) 2, SEHAB/HABI, Programa de
Pesquisa vol. I Parte II- Métodos de Ação Planejada
Urbanização de Favelas do Município de São Paulo,
em favela - o Município de São Paulo de 1989 a
"Recomendações e Normas Técnicas para
1992", Coordenadoria de Estudos e Apoio à Pesquisa
Referências
dos Métodos
de Ação e
Projeto em
Favela
Procura-se trabalhar com a relação entre a concepção
da política pública, a postura dos agentes sociais
envolvidos com a execução ou questionamento desta
política, e o rebatimento nas opções técnicas, sejam
elas projetivas, construtivas ou tecnológicas.
drasticamente, sendo reconstruídas casas para menos sucedida. Foram liberados grandes
de metade dessas famílias através dos IAPIs. Esses terrenos de interesse para o mercado
163
terrenos foram aterrados e são hoje a área nobre de
Recife (Egler, 1987). Nos estudos recentes sobre
imobiliário, enquanto outras favelas
continuavam a surgir ou expandir-se. A
Figura 4.1 164
favelas de Recife, o mocambo é uma coisa do avaliação negativa sobre a transferência
passado, imagem idílica registrada por Gilberto da população das favelas para os Rio de Janeiro em 1971 -
Freire. Grande parte das favelas do Recife de hoje está conjuntos em áreas periféricas foi
Localização das favelas removidas
e seus locais de destino
em morros. Os mocambos, que estavam em áreas r e g i s t r a d a e m d i v e r s o s e s t u d o s1
planas e parcialmente alagadiças, foram sendo demonstrando que grande parte dos
expulsos das áreas mais importantes sob o aspecto moradores vendia a nova unidade e
locacional e imobiliário. retornava à favela, por diferentes razões, 1 Ver bibliografia organizada
em Valladares, 1982.
entre elas a incapacidade econômica de
pagar pela moradia, o custo sócio-
Nas décadas de quarenta a cinqüenta, no Rio de
econômico de morar longe do emprego e
Janeiro, foram feitas inúmeras tentativas de
da infra-estrutura urbana e a busca de um
erradicação de favelas. A Igreja teve um papel
aumento da renda, mesmo que
importante e contraditório nessas tentativas, ao apoiar
temporário, através da venda.
as remoções, às vezes até de forma violenta e outras
vezes criando estruturas de resistência a essa ação.
A alternativa proposta pela prefeitura de São Paulo
para os favelados era o alojamento provisório. A
Vê-se as favelas que existiam na Zona Sul do FIGURA 4.2 mostra a precariedade (projetada) dos
Bomba Manual Rio e para onde elas foram removidas, seja alojamentos provisórios. O abastecimento de água
para alojamentos,2 seja para aqueles pelos poços coletivos seria por bomba manual, e as
Tampa de Concreto conjuntos habitacionais famosos que foram privadas coletivas.
2 Os removidos
Anel de cimento
feitos no Rio nas décadas de 60/70. O local de deveriam ser
origem e o conjunto habitacional distam cerca enviados para Nos anos 70 as favelas localizadas no centro de São
os chamados Paulo e do Rio de Janeiro praticamente
Valeta para
escoamento das
águas residuais
de 40 km. De acordo com os interesses do parques
Tijolo com
Argamassa de
cimento e
impermeabilizante
setor imobiliário foi feita uma faxina, uma proletários, para desapareceram. Mas não se parou de fazer
limpeza da área mais nobre do Rio. Essa sua reinserção erradicações. Elas são porém cada vez mais seletivas e 3 Fix apresenta um excelente
Tubo de sucção
social. Muitos
remoção foi efetivamente um sucesso, desses
relacionadas aos desejos mais claros do mercado trabalho sobre todo o
processo de remoção da
abrindo-se um mercado para a produção de alojamentos, imobiliário. favela, execução das obras da
apartamentos e escritórios. que deveriam Avenida, assim como da nova
ser provisórios, Faria Lima, que removeu
tornaram-se famílias de classe média.
Cilindro Nesse período, em paralelo à essa limpeza, o novas favelas. Destaco um trecho
governo promovia a assistência social e impressionante, com relato de
moradores registrado, por Fix,
atendimentos pontuais com pequenas 1996:53: "Os tratores e os
Válvula de
retenção
melhorias, como bicas d'água, através da caminhões de mudança
Fundação Leão XIII, da Igreja Católica. "rondando" os barracos não
eram a única forma de
pressão. Havia as visitas
insistentes das assistentes
PRIVADAS PRIVADAS PRIVADAS
A política de remoções fez sociais, que forçavam, dentro
surgirem diversas ações de do possível, o cadastramento
resistência. Uma delas foi a para a remoção. Outra pessoa
que fazia "visitas regulares" era
criação e o fortalecimento da o "doutor Jairo". Ninguém
FAFEG- Federação das Favelas sabia dizer o que ele era. No
início achavam que fosse
do Estado da Guanabara, que oficial de justiça.... depois
teria um importante papel na desconfiaram que ele fosse
4.2
POÇO POÇO POÇO
zada
americana (que atuava com os arquitetos da Quadra) parecem apontar a direção
Urbanização da esgoto da cru esgoto oposta. Em trabalhos
favela Morro Azul, edifício havia pesquisado 4 favelas do Grande Rio, entre 1970 publicados na década de 60,
Rio de Janeiro bica de água e 1973 (uma delas, do Esqueleto foi removida logo Mangin e Morse já tinham
depois, dando lugar a um conjunto para o Clube dos começado a contestar as
crenças generalizadas de
Militares). Suas conclusões colocavam em cheque a então,, e as pesquisas mais
"marginalidade" dos favelados, que ela encontrou recentes não têm deixado
margem a dúvidas".
social e economicamente integrados à cidade e à
economia urbana. "Em resumo, têm aspirações da
casa burguesia, a perseverança dos pioneiros e os valores
169 de do patriotas. O que eles não têm é uma oportunidade 170
bombas de satisfazer suas aspirações....Quando os favelados
rede elétrica tentam organizar-se para se defender, como fizeram
para impedir a remoção, levaram tiros, foram presos e
tiveram seus lares incendiados." pp. 286/287
910
920
Figura 4.5 Processo de urbanização a favela Brás de Pina, 1968 - 1969 970
960
940 930 Sistema viário existente Conformação de quadras
950
O projeto pioneiro em que se passou BARREIRAS
uma nova postura em relação à questão VIAS
TRILHAS
da comunidade favelada é de Brás de
Pina, desenvolvido pela Quadra para a Figura 4.6
FAFEG, que obteve apoio do Governo Projeto da Favela do Gato em Niterói, UFF, 1982
Estadual para sua execução, sendo o
escritório então contratado pela recém
criada CODESCO-Companhia de
Desenvolvimento em Comunidade. A
favela Brás de Pina foi a experiência
mais bem sucedida da CODESCO. Esta
instituição também patrocinou uma
intervenção anterior na favela
Jacarezinho, onde foi aberta uma rua
atravessando de ponta a ponta a
encosta.
Novas estruturas de
Figura 4.16
Em 1993 o Prefeito Paulo Maluf passou a implementar
o chamado Programa Cingapura,18com a construção
de edifícios em terrenos antes ocupados por favelas.
Os projetos contemplaram numa primeira fase
edifícios de até 5 andares, e depois chegou-se à
propostas de 12 andares com elevador e edifícios
escalonados. A avaliação da SEHAB na administração
Núcleo Habitacional Barão de Uruguaiana, 1999
Pitta fez recuar os projetos de novos prédios altos, em
Mais recentemente, já dentro de política de atuação função de problemas detectados pelo setor social da
mais ampla, intervenções de demolição e Prefeitura. O maior problema é o não pagamento
reconstrução ocorreram no município de São Paulo, mansal da permissão de uso, de taxas de condomínio
durante a administração de Luíza Erundina, entre 89 e e serviços públicos.
Hereda, 1997 afirma 17 18 Ver Capítulo 2 A Favela no
92. Os exemplos de verticalização são as favelas Água município de São Paulo dos
que até 1996 51% dos Branca e Setor Delamare da favela Heliópolis (ver anos 50 aos 90
192 núcleos figuras 3.4 e 3.5). Água Branca tinha densidade muito
habitacionais
alta e localização privilegiada na cidade. Em
(denominação das
favelas urbanizadas) já Heliópolis, um complexo de mais de 5000 moradias, As novas
foram urbanizados e
38% estavam em obras.
essa obra fazia parte de um projeto mais amplo. A
opção foi a verticalização para manter a densidade e
4.5 tecnologias
Diadema tambémse para garantir que as pessoas ficassem no mesmo local
diferencia por já ter da cidade, mantendo-se os laços sócio-econômicos já
regularizado, através da existentes. A partir dos anos 70 o crescimento das favelas é
concessão de direito vertiginoso nas grandes cidades brasileiras. A
real de uso, 62 favelas. urgência de ações de maior abrangência social fez
Já na favela Vila Bela (ver figura 3.3), na avenida do desenvolver muitas soluções criativas e apropriadas
Estado, em São Paulo, no mesmo período, optou-se (em maior ou menor grau) para a consolidação das
por outra forma de intervenção. A área sofria contínua favelas como espaço urbano habitável.
181 inundação e por isso teve que ser aterrada. A obra foi 182
feita em etapas. Cada trecho de favela era demolido, A experiência de Brás de Pina havia indicado que a
se executava aterro e infra-estrutura (por empresa criatividade era o caminho. A partir daí, foram muitas
contratada) e se construíram sobrados geminados em as ações de introdução de infra-estrutura parcial nas
mutirão. A cada conjunto de casas pronto, as pessoas favelas, como forma de amenizar a precariedade dos
mudavam e se demolia outro trecho. assentamentos água, drenagem, energia, acessos.
Foram se desenvolvendo técnicas de projeto e de
Como os casos de risco de inundação, a ocorrência de obra, que vieram alimentar a linha mais recente de
riscos de deslizamentos de monta também pode urbanização e consolidação de favelas.
indicar a necessidade de demolição/reconstrução. Foi
assim no trecho de encosta da favela Maria Luísa Rio de Janeiro e Belo Horizonte foram os pioneiros, já
Americano FIGURA 4.16, na zona Leste de São Paulo, nos anos 60-70, na criação de novos padrões de
onde foram reconstruídas casas sobrepostas no infra-estrutura básica para favelas, como forma de
mesmo local, após obras de drenagem e incluí-las no atendimento de água da rede pública e
retaludamento. de energia elétrica.
A criação do Kit ou padrão de ligação de energia para
favela - FIGURA 4.17 - com poste metálico mais leve e O sistema de esgoto condominial FIGURA 4.18
barato, muitas vezes sem medidor de consumo e com procurou desenvolver um sistema de esgotamento
baixa cargas - foi um marco iniciado em Belo sem praticamente modificar o parcelamento do solo e
Horizonte. Rapidamente, desde o início dos anos a disposição da casa no lote. Cada ramal da rede
oitenta, espalha-se a energia em todas as favelas do condominial constitui um condomínio, onde os
país, através do Kit. Sendo a rede de energia, aérea , moradores devem gerir e manter a rede em comum
distribuir essa energia nos barracos das favelas foi acordo, já que, para viabilizar a instalação, as redes
mais fácil (assim que foram ultrapassados os de esgoto passam no quintal das casas (não só em
obstáculos político-ideológicos) do que distribuir água vielas ou ruas), de forma a garantir o esgotamento de
do sistema público. 100% do assentamento.
fatores, além das facilidades de execução das peças obrigatório recuo de 1,20m
no mínimo em relação às
A classificação das divisas em “de
fente”, “lateral”e “de fundos” será feita 24
23 divisas que correspondem por analogia com as dos lotes lindeiros A contínua ação em favelas no Rio
na fábrica, rápida e fácil montagem no canteiro difícil às divisas “de fundos “dos ao lote encravado, que tenham a
lotes seus vizinhos. A testada para rua (vide croqui). de Janeiro é ampliada com a
que é a favela, apresentou também bons resultados obrigatoriedade de recuo
nas outras divisas do lote democratização das gestões
quanto à durabilidade. Segundo Hanai, seguirá os mesmos critérios
do recuo lateral em lotes
estadual e municipal e evoluiu de
1992:136/137 "A recomendação de meios especiais comuns.
Escola s
de
Co
realização dos laudos geotécnicos
e r
ns
`R tr
a d
ua uç
ão
Av Ca Vala à céu
para verificar o risco de acidentes e A favela da Rocinha, a maior do Rio de Janeiro, 31 Apesar de não se ter
Àre
el st aberto
ar ro
es
sua gravidade, discutiam com a SAR conhecimentos de encontros
Ru encravada na zona sul, foi um grande laboratório temáticos realizados pelos
ar tro
a
Sã
(Secretaria das Administrações para a ação carioca em favelas. Essa foi uma das
es
o
sindicatos estaduais de
Av Cas
Se
Re ba
st
Regionais e seus contratados, e com
el
si
primeiras favelas a receber água e luz das arquitetos, percebe-se que o
ua
dê iã
nc o
`R
ia
s contato através da atual
R
as HABIs. Regionais os projetos e concessionárias. Em 1979 foi realizado um grande sindical alimenta essa troca
Vala à Gu ua
céu aberto im Fé
ar li
obras de contenção de risco e os de mutirão de obras de melhorias, envolvendo Prefeitura, de experiências: Nabil
Centro Cultural ãe x
Situação Atual Esportivo s
urbanização, que estavam sendo comunidade e a UNICEF, com repercussão nacional, Bonduki em São Paulo, Paulo
Saad no Rio de Janeiro e
0 5 10
Escala Gráfica
15
desenvolvidos para muitas favelas já que colocava em cheque a política da remoção. Em Jorge Hereda em Salvador
ao mesmo tempo. Esse diálogo 1983 foi feita a canalização de um valão e a foram de direção sindical nos
permitiu que a engenharia anos oitenta.
Prefeitura comprometeu-se, pela primeira vez com a
geotécnica incorporasse a relocação de 75 famílias na própria favela. Segundo
dimensão urbana e habitacional da Bredariol,1988:21, "O trabalho conjunto na Rocinha
Viela
820 Viela
Viela
favela, e que os urbanistas com o UNICEF orgão das Nações Unidas gerou o
810
800
Viela considerassem e integrassem as modelo básico de ação da SMDS: mutirões de obras
790 Viela
Rua 9
obras de risco no projeto. (com mão de obra local remunerada, assistência
780
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
Vala à
técnica e doação de material) educação pré-escolar
Corte Esquemático
céu aberto Isso é demonstrado em trabalho (em escolas e creches comunitárias) e ações de saúde e
apresentado no 7 º Congresso
De
pó
si
to de educação sanitária (em ambulatórios também
de
Ma
te
ri
Brasileiro de Geologia de geridos por agentes comunitários)."
ai
Escola
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de
Co
Engenharia, quando Pupo e Lopes,
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Av Ca
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ão
1992:194 afirmam, comentando
el st
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es projeto de urbanização da favela A SMDS - Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Ru
a
Walter Ferreira FIGURA 4.27 por Social- foi criada pela Prefeitura em 1983, tentando
195
Sã
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eles executado: "Foram estudadas assim estruturar uma ação permanente nas favelas. 196
3
ar tro
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Av Cas
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si
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o três alternativas para a Buscou-se, com inspiração nas experiências
el
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especialmente da Rocinha, desenvolver o conceito de
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consolidação geotécnica da área de
R risco .....Posteriormente durante o uma ação planejada e ampla em favelas, que
Centro Cultural Gu ua
Esportivo
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ar li
ãe x
projeto básico optou-se por uma Bredariol,1988:24, chama de "Urbanização
Situação Projetada s
solução em que os muros de simplificada: tratamento urbanístico da própria área
ocupada, de modo a adaptar às próprias condições
0 5 10 15
Escala Gráfica
alvenaria armada com alturas
Figura 4.27 variáveis associados a pequenos
retaludamentos, formaram diversos
locais a implantação de serviços públicos, a construção
de um sistema viário e a melhoria das habitações, com
Planta de situação e projeto favela patamares, possibilitando a criação eventuais remanejamentos de moradias para viabilizar
Walter Ferreira PUPO e LOPES, 1992 obras e eliminar situações de risco.”
de novos 15 novos lotes. A área de
risco está sendo eliminada,
mediante adoção de solução de
menor custo, que, ao mesmo tempo, A favela Pavão/Pavãozinho foi o palco para a
evita o grande número de remoções aplicação deste conceito, com um projeto de
anteriormente previsto.” urbanização modelo desenvolvido pelo governo
A COMLURB também passou a atuar de maneira mais
estadual integrado à Prefeitura, a partir de um
abrangente e ousada sobre como coletar o lixo de
acidente geotécnico com a ocorrência de
dentro das favelas, iniciando-se as experiências de
desabamentos e mortes.
garis comunitários, obras de teleféricos ou lixodutos.
FIGURA 4.28
Segundo Bredariol,1988:23
"Pavão/Pavãozinho define novas
diretrizes, onde se destacam a A SMDS criou o Programa de Urbanização Integrada,
garantia de permanência do procurando captar recursos externos à Prefeitura e
morador no local onde se situa a planejar, pela primeira vez, não uma ação "obra a
favela, a implantação regular de obra", mas ações plurianuais de urbanização. Esse
todos os serviços públicos através programa incluía também obras de complementação
de tecnologia apropriada, a da urbanização dos loteamentos irregulares.
titulação do que já é de posse de Estimava-se que em 1988 1600000 pessoas, 28% da
cada uma das famílias, a população do Rio, morava nas 480 favelas (1055000
subordinação das leis e dos códigos pessoas) e 487 loteamentos clandestinos e irregulares
ao interesse social... Ficou (545000 pessoas). (Bielschowsky, 1988:11)
demonstrado que, com a melhoria
nos acessos, com habitações mais
bem construídas, torna-se Em 1988, a Prefeitura negociava com o Banco
satisfatória a qualidade dos Mundial e com a Caixa Econômica Federal
serviços públicos prestados a uma empréstimos de cerca de 160 milhões de dólares. Esse
É interessante perceber que 32 comunidade, com efeitos bastante empréstimo foi agilizado em função das chuvas
desde os anos 70, no Rio a nítidos sobre a qualidade de vida." torrenciais que ocorreram no início daquele ano,
mão de obra de mutirões é
remunerada.. Já em São Paulo Entretanto, a experiência foi Figura 4.28 causando inúmeros deslizamentos, desalojamentos e
mortes.
os mutirões desenvolvidos na pontual e excepcional, com o
administração municipal de
Covas em 1983 e da
governo estadual tomando a si a
direção do projeto, sem a criação A favela de Santa Marta, em Botafogo, na época com
administração de Luíza
Erundina, os mutirões eram de uma estrutura de reprodução da cerca de 1400 unidades habitacionais, foi objeto de
quase totalmente baseados em
ação para outras favelas. um projeto exemplar de urbanização, coordenado
trabalho gratuito.
pelo arquiteto Paulo Saad, dentro deste programa.
O corpo técnico da área de 33 A SMDS sediou a experiência mais FIGURA 4.29
geotecnia do Rio de Janeiro é
realmente um dos melhores do estruturada em favelas, no governo
Brasil. Em 1989/90, quando a do prefeito Roberto Saturnino
Prefeitura de São Paulo
contratou cerca de 300 laudos
Braga. Foi pensada, pela primeira lo
Mu
nd
o
No
vo
pe
obras adequadas.
fundiária. Esse tipo de ação ficou
conhecido como "Projeto Mutirão".32
Valas a canalizar
Estações do teleférico
Figura 4.36
Projeto para favela Jardim Floresta, BASTOS, 1999 Vista geral do entorno da favela Santa Lúcia II, 1999
Figura 4.37
Os projetos e obras foram sendo licitadas por grupos,
o que possibilitou, especialmente no caso das obras,
que grandes empresas se interessassem por esse tipo
49
de contrato. Os projetos foram contratados com base
em proposta técnica, e não pelo menor preço, como
infelizmente ainda é comum na administração
pública.
Figura 4.41
Praça na favela Parque Amélia
205 206
bibliográficas
de favelas em Diadema, no período de 1983 a
1988", dissertação de mestrado apresentada à Escola BONDUKI, Nabil (org), "Affonso Eduardo Reidy",
Politécnica da USP, São Paulo, 1994. Editorial Blau e Intituto Lina Bo e P.M. Bardi, Lisboa,
2000.
Anais do SEMINÁRIO INTERNACIONAL Desafios
Referências bibliográficas da Cidade Informal, Belo Horizonte, setembro de BONDUKI, Nabil (org), "HABITAT - as práticas bem
1995. sucedidas em habitação, meio ambiente e gestão
urbana nas cidades brasileiras", Studio Nobel, São
ARAUJO, Ricardo Guilherme, et alli, "Normas Paulo, 1996.
técnicas de abastecimento de água em favelas da
RMSP", in anais do XIII Congresso Brasileiro de BONDUKI, Nabil, "CONSTRUINDO TERRITÓRIOS
Engenharia Sanitária, 1985. DE UTOPIA-a luta pela gestão popular em projetos
habitacionais", dissertação de mestrado apresentada
Referências
ELETROPAULO, "Bônus Social", xerox, São Paulo, LABHAB FAUUSP- Laboratório de Habitação e
1993. Assentamentos Humanos da FAUUSP, "Parâmetros
para urbanização de favelas-Relatório final da
EMPLASA, - Empresa Metropolitana de pesquisa, " São Paulo, 1999.
planejamento da Grande São Paulo, "Programa de
Intervenção em Favelas - Estância Turística do MAGALHÃES, Claudia Fernanda R, "Urbanização
Embú", EMPLASA, São Paulo, 1986. de Favelas - caso Sumaré", in DESENHO URBANO:
Anais do II SEDUR - Seminário sobre Desenho Urbano
FIGUEIREDO, Ricardo Brandão, “Engenharia social no Brasil - Brasília,2/86, editores, TURKIENICZ,
soluções para áreas de risco", Makron Books, São B e n a m y e M A L T A, M a u r í c i o , c o - e d i ç ã o
Paulo, 1994. CNPq/FINEP/PINI, 1986.
FIX, Mariana, "O Estado e o capital nas margens do MELLO, Kátia, CAVENDISH, Lúcia e DOURADO,
Rio Pinheiros duas intervenções: Faria Lima e Água Vilma "Abordagem e método nos processos de
Espraiada", Trabalho de Graduação Interdisciplinar urbanização de áreas degradadas" IN Anais do
apresentado à FAUUSP, xerox, São Paulo, 1996. SEMINÁRIO INTERNACIONAL Desafios da Cidade
Informal, Belo Horizonte, setembro de 1995.
FONTES, Angela e COELHO, Franklin, "Urbanização
209 de favelas e o Projeto Mutirão : Solução ou MIGLIORE Júnior, Ângelo Rubens, "Análise de 210
problema ?", Anais do III Encontro Nacional da contenções pré-moldadas de argamassa armada",
ANPUR, Águas de São Pedro, 1989. ABCP, São Paulo, 1991.
Figura 5.2
O objetivo da urbanização do Castelo Encantado
parece ter sido, principalmente, remover a área
degradada da vista dos turistas, secundarizando-se os
reflexos das obras na vida cotidiana dos moradores.
Em relação à recuperação da qualidade paisagística
da área urbanizada e da cidade, a intervenção teve
um resultado expressivamente positivo, mas que está
sendo comprometido por outras ações de gestão
urbana externas à área e não relacionadas à política
de habitação, como circulação, uso e ocupação do
solo e o turismo.
Observando-se a vista a partir do ponto mais alto da
área, entretanto, constata-se que o Castelo Encantado Um último aspecto a considerar é a impressionante
é bem menos arborizado que os bairros próximos. falta de valorização da questão paisagística por parte
Devido às menores dimensões do lote (na favela não do sistema de gestão urbana, apesar de a cidade ter
há recuos com jardins frontais e há poucos quintais grande atividade turística e até certa dependência
onde pudesse haver vegetação), a situação é bastante econômica do turismo. A bela paisagem que se tem da
diferente dos bairros de parcelamento unifamiliar do orla, inclusive do Castelo Encantado, mas não só, está
entorno, onde a presença de vegetação de porte, em sendo fechada por uma verdadeira muralha de
especial do coqueiro, é notável. Na favela também, prédios de gabarito alto que vêm sendo construídos
praticamente, não há arborização nas vias, ao próximos ao mar, ao longo da praia. Além de se
contrário dos bairros centrais de Fortaleza. Assim, o perder esse visual, com isso também se impede a
conjunto apresenta-se árido e com problemas de entrada da brisa marítima, de grande importância
conforto térmico. para amenizar o desconforto das altas temperaturas,
especialmente no verão.
O valor, inclusive econômico, da paisagem que se tem
do Castelo Encantado é evidente, tanto que há um A urbanização do Castelo Encantado pode ser
219 setor da favela limítrofe da área de estudo caracterizada como parcial, já que a eficiência das 220
denominado "mirante". Ali se verifica uma intensa redes de água e esgoto não foi alcançada pelo
mudança de usos e de moradores/proprietários, com projeto. A execução das obras por uma só empreiteira
a concentração de restaurantes em volta de uma garantiu a integração de projetos e obras e evitou
praça de onde se pode usufruir a vista da praia de atrasos. O grau de participação dos moradores nesse
Iracema e do porto. Ao mesmo tempo, na quadra em processo foi pequeno, sendo o grande agente
frente à duna estabilizada, que é bastante visível das mobilizador o governo estadual, principal interessado
avenidas Abolição e Beira-Mar, foram colocados na remoção dos barracos da duna. A população
outdoors com a aprovação dos moradores, que moradora atualmente também apresenta pouca
recebem uma cesta básica ao mês em troca da cessão organização e capacidade de mobilização.
deste espaço. Os outdoors comprometem totalmente
a visual da área, que é lida, então, como um espaço Conforme pesquisa amostral domiciliar realizada no
baldio, pano de fundo para propagandas. Após a Castelo Encantado, 95,4% das famílias que moravam
queda de um dos outdoors por ação do vento, os na favela em janeiro de 1999 lá já se encontravam
moradores têm deixado de aceitá-los, subsistindo antes das obras, indicando uma grande permanência
apenas dois no momento de finalização da pesquisa. dos moradores.
5.1.2.
somente um domicílio. O
58 m ). O número médio
ocupação de 1 e apenas
aproveitamento superior
(a mediana do lote é 81
sendo a mediana 12 m2
por morador é de 13,8,
de 64,5m2 (mediana de
Quanto à ocupação do
lotes e 4,9 pessoas por
m2) e a casa apresenta
uma metragem média
aspectos urbanísticos,
de metros quadrados
apresentam taxa de
Relativamente aos
JARDIM DOM FERNANDO I
Goiânia
família.
Essas duas áreas de posse, como são chamadas as
a 1,5.
2
favelas ou invasões em Goiás, estão situadas na
URBANISMO E HABITAÇÃO
32
25
espacialmente organizadas já em sua origem, seja
PORTO
Data: outubro/1999
Cidade: Fortaleza
parcelamento (caso do Jardim Dom Fernando I), seja
por iniciativa da Prefeitura, que antes da consolidação
das casas em alvenaria desenvolveu e apoiou a
implantação de um projeto de parcelamento do solo
(caso do Jardim Conquista).
ÁREA DE PROTEÇÃO E PAISAGISMO
RUA R
água e esgoto, da concessionária estadual Saneago e
o de iluminação, da Comluz, empresa municipal. As
EGINA
ANDÃO BR
Áreas impermeáveis
IÇÃO
29
Áreas permeáveis
respectivamente, pela Saneago e a CELG
BOL
DA A
Comluz.
MAR
FERR
DOS JA
TOR
100
25
GO
LHO
50
RU
O Jardim Conquista tem 271 domicílios. A invasão é
IND. DE SAL
CA
AA
escola
LTO
RIA
Y
AL
recente, de 1993. Seguiu um projeto de parcelamento
EG
ED
RE
MA
NN
FINEP-CEF-FAUUSP-FUPAM
KE
RU
20
TE
EN
TELECEARÁ
RE
5.6
e não dentro da política habitacional) de desenvolver
Planta de urbanismo
Jardim Conquista,
econômica e ambiental do assentamento - ao
Fernando I e do
URBANISMO HABITAÇÃO
contrário do caso da retirada de areia citado antes.
do Jardim Dom
Figura
O Programa de Educação Ambiental Meia Ponte,
associado ao Núcleo Industrial de Reciclagem e à
Caixa de correio
Telefone público
1999
Cidade Goiânia:
Cooperativa de Reciclagem de Lixo, envolve todos os
Data: 07/1999
bairros/posses do entorno e tem garantido o apoio da
população às práticas de coleta e separação do lixo,
bem como a diminuição da quantidade de resíduos
lançados - a não ser nas áreas erodidas, fora dos
bairros.
0
de Goiânia são as únicas que
72
5
estão compatíveis com a quadrados por morador é de 12,7, sendo 10,6 m2 por
71
norma urbanística consagrada
em lei municipal, de taxa de morador a mediana.
ocupação máxima de 50% do
lote, assim como no que se
refere ao tamanho do lote.
No que diz respeito à ocupação do lote, nenhum deles
apresenta taxa de ocupação de 1 ou coeficiente de
Essa é a maior média de área 7 aproveitamento superior a 1,5. Metade dos lotes tem
Jd. Conquista
construída da casa encontrada
em toda a pesquisa. taxa de ocupação inferior a 1. Essa característica,
Vias de ligação/acessos
taxa de ocupação dos lotes muito mais alta.6
FINEP-CEF-FAUUSP-FUPAM
2
2
quadrados por morador é de 18, sendo 16 m por
morador a mediana. Há, em média, 5,47 pessoas por
lote e 3,6 pessoas por família.
N
ocupação de 1 ou coeficiente de aproveitamento
superior a 1,5, sendo que 82% deles têm taxa de
ocupação inferior a 1.
5.1.3.
VILA OLINDA E BARÃO DE URUGUAIANA
Diadema pintura. Chama a atenção o estado de abandono da
área sob as linhas de alta tensão, sem vegetação, com
Em Diadema (SP) foram pesquisadas duas favelas (ou monturos de entulho e ferro velho, e junto às quais
núcleos habitacionais, como são chamadas as áreas estão casas bastante precárias (rua da Light).
urbanizadas no município): Vila Olinda e Barão de
Uruguaiana. O estudo de favelas de Diadema O projeto de canalização foi desenvolvido
justifica-se pelo fato de este ser um município com considerando-se um período de recorrência de chuvas
grande uso industrial, em especial de indústrias de de 30 anos, que podemos considerar pequeno,9 por
autopeças fragilizadas pela globalização dos últimos tratar-se de córrego entre municípios, em área de
anos, e de 30% da população viver em favelas. Neste grande urbanização e de chuvas intensas.
contexto, a Prefeitura municipal, administrada pelo
Partido dos Trabalhadores (com suas facções de
caráter local e sindical), tem dado continuidade a um
programa de urbanização e regularização fundiária e
urbanística das favelas que atualmente atinge mais de
50% dos núcleos.(ver capítulo 4)
Figura 5.7
Vila Olinda
5.8
Planta de urbanismo,
com destaque das
casas construídas com
assessoria técnica,
1999
infra-estrutura. A população, bastante mobilizada,
conseguiu da Prefeitura a contratação de assessoria
Figura
URBANISMO E HABITAÇÃO
96.04
De acordo com pesquisa amostral domiciliar
95.41
Cidade: Diadema - SP
Telefone público
são
permanência dos moradores.
ten
alta Viela Ponte Nova
de
a
Linh
104.48
95.93
2
Já as casas têm uma metragem média de 51 m de
Viela Canindé
Viela Belo Jardim
Vias de ligação/acesso
12 m2 por morador a mediana. Há, em média, 4,9
Rua Peabiru
ea
88.64
Viela Marizopolis
deles tem coeficiente de aproveitamento superior a
Rua da Light
1,5.
Viela Serra do Padre
FINEP-CEF-FAUUSP-FUPAM
2
casas em quase 8.000 m . O desenho do
parcelamento - em especial a criação da rua dos
Imigrantes, com duas faixas de rolamento estreitas e
um canteiro central ajardinado, mantido pelos
N
5.9
URBANISMO E HABITAÇÃO
segurança, revestimentos em pedra, cerâmica ou
795.00
Cidade: Diadema - SP
Data: setembro/1999
Por essas características - forma urbana, entorno,
795.00
e de dimensão humanizada.
vestiário
s
nte
gra
Imi
Uruguaiana é a mesma da favela Vila Olinda, típica ve s
sa
dos
Tra
da intervenção em Diadema - desmonte da favela,
reparcelamento segundo o lote médio resultante (área
800.00
versus número de famílias moradoras) e reconstrução
das casas em paralelo às obras. Neste núcleo houve
Telefone público
805.00
800.00
De acordo com pesquisa amostral domiciliar
Escadas
realizada no núcleo, 66% das famílias que moravam
Residências Particulares
Em Diadema, a prática de 12
mutirões para obras de infra- na favela em janeiro de 1999 lá se encontravam antes
a
aian
estrutra em favelas é
das obras (1989), indicando um processo de
rugu
disseminada. Os mutirões não
são remunerados. Em alguns mudança dos moradores após dez anos, o que destoa
de U
casos, quem participou do do observado nas outras favelas analisadas na
ão
mutirão recebeu o hidrômetro,
pesquisa.
Bar
ou a ligação de esgotos, sem
R ua
ônus.
810.00
Neste núcleo, 83% dos lotes são unidomiciliares. O
lote tem, em média, 46,8 metros quadrados (a im
a
805.00
át
mediana do lote é 48 m2). .S
. F
N
la
o
e
Vi
ur
A moradia apresenta uma metragem média de 63,1
t
Fu
do
2 2
m (mediana de 66 m ). O número médio de metros
ael
Vi
quadrados por morador é de 16,76, sendo 14,91 m2
por morador a mediana. Há, em média, 5,2 pessoas
por lote e 4,3 pessoas por família. Apenas 11,1% dos
es
lotes apresentam taxa de ocupação de 1 e 42,5%
nt
ra
ig
deles têm coeficiente de aproveitamento superior a
Im
s
Do
1,5.
a
231
Ru
te s
an
igr
s Im
Do
810.00
50
a
m Ru
vi
20
FINEP-CEF-FAUUSP-FUPAM
10
05
N
Composto de três pequenas quadras, o núcleo
habitacional está encravado em uma encosta
5.1.4. totalmente urbanizada, coberta por uma capa
impermeável de telhados, quintais cimentados, ruas e
JARDIM ESMERALDA E SANTA LÚCIA II vielas. Forma um conjunto impressionante a meia
São Paulo distância, pois essas colinas urbanizadas se estendem
por todo o horizonte, como se pode ver na foto abaixo,
No Município de São Paulo, as duas favelas que mostra a paisagem da área em frente à favela.
analisadas estão na região sul, mais particularmente (Ver também figura 4.37)
na bacia hidrográfica do reservatório Guarapiranga,
um dos mais importantes da região, responsável por
cerca de 20% do abastecimento de água da
metrópole.
792.30
comprimento. Em muitos trechos há escadarias com
URBANISMO E HABITAÇÃO
Data: setembro/1999
Favela: Santa Lúcia ll
O desenho urbano da Santa Lúcia lembra as vilas
794.70
Telefone público
latino-europeus - Itália, Portugal e Espanha. Sendo
Escadaria
pequena - 1,7 hectares -, a favela mescla-se à
Lixeira
paisagem.
s
ina
808.88
eM
ad
Não foram executadas algumas pequenas vielas
aín
oc
projetadas, o que dificulta o acesso a algumas casas,
aB
786.10
Ru
com conseqüências para a coleta de lixo. Há também el
Ma
no
802.60
baixo padrão de exigência na execução da obra.
e Min
implementado nem nessa nem em qualquer outra
na d
favela do programa.
o ca í
ua B R
nso Rui
A ausência de 15
acompanhamento após a
Rua Afo
784.05
urbanização tem possibilitado
intervenções de moradores
que dificultam a operação da
infra-estrutura. Recentemente,
já após a aplicação do
questionário domiciliar, no
primeiro semestre de 1999,
encontrou-se uma garagem
construída em uma viela da
favela.
Rua Henrique Me
50m
isen
235
791.19
25
Figura 5.12
5.13
Planta de urbanismo da
favela Santa Lúcia II,
FINEP-CEF-FAUUSP-FUPAM
0
A inexistência de equipamentos e serviços públicos,
Figura
799.40
N
o que impede a execução do serviço de coleta
domiciliar de lixo proposto no projeto original e,
789.60
dependendo da postura da concessionária pode
1999
impedir a manutenção das redes de água e esgoto.
A urbanização inclui a execução de todos os serviços, com
exceção da coleta de lixo especial, projetada mas não
implantada. O urbanismo praticamente apenas
consolida o traçado existente, com poucas remoções.
Verificou-se, também, que 85,4% das famílias que
habitavam a favela em janeiro de 1999 lá moravam
antes das obras, indicando uma grande permanência 4
ss a
URBANISMO E HABITAÇÃO
dos moradores. Tra
ve
Data: setembro/1999
apenas um domicílio. O lote tem, em média, 73,82
754.46
Caixa de correio
Telefone público
8,4% dos lotes apresentam três ou mais domicílios.
2
A moradia apresenta uma metragem média de 51,6 m
Lixeira
749.56
2
(mediana de 42,84 m ). O número médio de metros
quadrados por morador é de17,6, sendo 13 m2 por
morador a mediana. Há, em média, 5,1 pessoas por lote
747.60
e 3,9 pessoas por família.
rreira
lisário Fe
apresentam coeficiente de aproveitamento superior a
Rua Be
1,5.
l
te
Escadaria
A favela Jardim Esmeralda foi iniciada em 1967. O
Córrego
projeto para sua urbanização foi elaborado em 1995 e as
23
6.
74
obras estenderam-se de janeiro de 1996 a novembro de
1997, dentro do Programa de Saneamento Ambiental da
Bacia do Reservatório Guarapiranga. O núcleo tem 397
Fonte: Prefeitura Município de São Paulo
Sub Bacia Rio Bonito / Rio das Pedras domicílios. Na urbanização - abertura de vias, ch
a
Ro
Favelas urbanizadas - 8/1999 pavimentação, canalização de córrego, drenagem, água da
747.61
Favelas em obras até - 8/1999 az
Br
e esgoto - foram removidas 13 famílias e reconstruídas Ru
a
741.37
Iporanga, destacando-se
as favelas, 1999 foram construídas pequenas áreas verdes e praças.
749.38
O assentamento é localizado na área verde e de uso
institucional projetada para uso dos moradores do
75m
loteamento, à beira do córrego Iporanga, tributário do rio
237 das Pedras. A jusante está assentada a favela Jardim
Iporanga. Esse terreno foi usado como área de
A JNS, empresa gerenciadora, 16
contratou o arquiteto Carlos
empréstimo e bota-fora durante a construção do
loteamento, criando-se alguns platôs por aterro. A
5.15
PPlanta de urbanismo do
tratamento de fachadas com
va
0
da
O córrego foi canalizado em duto fechado a jusante. A
FINEP-CEF-FAUUSP-FUPAM
impermeabilizante - para o
ácio
tratamento de algumas casas canalização foi executada a céu aberto e em gabião, por
é In
junto a praças nas favelas
Jos
Jardim Esmeralda, Jardim cerca de 600 metros, formando uma curva suave. As
Rua
Alpino, Sete de Setembro, São quadras são organizadas por vielas, em grande parte
Figura
José IV,
3
Presidente/Jordanópolis, Santa
preexistentes, agora conectadas a uma rua de pedestres 0.3
74
N
Lúcia II e Jardim Souza, e a junto ao córrego. Em alguns trechos a rua transforma-se
execução de mosaicos no em largos e praças, que foram tratados com mobiliário
Jardim Esmeralda e no Jardim
Alpino. urbano, aplicação de massas coloridas nas paredes
16
ou muros das casas e execução de um grande
mosaico em um muro da pracinha principal.
O restante da paisagem da favela é cinza, com 59,3%
das casas cobertas por fibrocimento e 34% delas sem Conforme pesquisa amostral domiciliar realizada na
revestimento. As casas térreas representam 60% das favela Jardim Esmeralda, 91,5% das famílias que
casas do núcleo. As vielas, perpendiculares ao moravam no núcleo em janeiro de 1999 lá já se
córrego, têm em média 40 metros de comprimento, encontravam antes das obras, indicando uma grande
criando visuais entre a praça do córrego e a rua. A permanência dos moradores.
paisagem do núcleo e a da cidade estão integradas.
Na favela, 62,3% dos lotes tem 100% de ocupação. Quanto aos aspectos urbanísticos, nenhum lote tem
Nos lotes regulares da quadra (limítrofes ao núcleo) mais de dois domicílios; 78% dos lotes têm um
percebe-se também uma taxa de ocupação bem domicílio e, em média, 54,7 metros quadrados (a
2
próxima de 100%, com diversos domicílios no mesmo mediana do lote é 48,6 m ).
lote.
A moradia apresenta uma metragem média de 59,1
Boa parte das casas (39%) foi reformada após as m2 (mediana de 51 m2). O número médio de metros
2
obras, sendo que a maioria executou acabamentos quadrados por morador é de 15,78, sendo 12 m por
(pisos, azulejos, revestimentos interno e externo e morador a mediana. Há, em média, 5,1 pessoas por
gradeamentos). lote e 4,45 pessoas por família.
Em seis das nove casas pesquisadas que aumentaram No que diz respeito à ocupação do lote, 62,1% deles
a área construída executou-se um puxado ou um têm taxa de ocupação de 1 e 27,6% apresentam
cômodo separado. Isso pode ter ampliado a coeficiente de aproveitamento superior a 1,5.
impermeabilização da área e certamente aumentado
a velocidade da água de chuva.
- Fábrica Arquitetura
dos Funcionários e Parque São Sebastião, encosta
100m
suave e área de baixada, de onde se tem ampla visão,
5.18
Funcionários/Parque São
de um lado, da grande área verde do SOS e, do outro,
Funcionários
dosFuncionários
Sebastião
USO E OCUPAÇÃO DO SOLO
A paisagem do Rio, vista de alguns ângulos da favela,
ARSENAL DE GUERRA
Sebastião, 1999
da Ladeira dos
DO RIO DE JANEIRO
SãoGeral
Janeiro
é magnífica, alcançando a baía da Guanabara e o
deJaneiro
Área não urbanizada
Figura
Pão de Açúcar. A cidade tem forte presença na favela
Ladeira dos
Planta
Uso institucional
por essa paisagem, e a Prefeitura procura integrar o
Favela: Ladeira
Parque
Rio de
08/1999
Circulação
Escala Gráfica :
Mapa Base:
Cidade: Rio
núcleo à cidade mediante a colocação de placas de
5.17
10m
Figura orientação de trânsito e de acessos.
Legenda :
e d
ran
0m 1m
io G
aR
Ru
A região do Caju, onde se
localizam as duas favelas,
possui muitos equipamentos e Rua Rio Grande
ra
G
o
Ri
Pátio de Contêineres. É
Uso residencial
Ru
Uso comercial
próxima do porto e de áreas
em desenvolvimento (como
Legenda:
de Jesus
depósitos de contêineres), ou
aria
aM
possibilidade de abandono e
a Is
N om
Ru
mudança de uso (como
Sem
galpões industriais e antigos
R ua
o
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su
Je
an
Vista do Pão de Açúcar a partir do alto da depósitos da ferrovia). Sua
de
eJ
LINHA DA RFFSA
ria
ta
od
Ladeira e placas de acesso à área, 1999
iz Pimen
Ma
i
aR
proximidade ao centro
ra
Ru
sau
ná
Rua Lu
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permite pensar no
ra
Ru
POSTO DE SAÚDE
Pa
a
Ru
crescimento futuro do uso
MUNICIPAL
habitacional no bairro.
ESCOLA MUNICIPAL
ta
CAMPO DE
en
FUTEBOL
CRECHE
m
Pi
z i
Lu
a
Ru
O projeto de urbanização
aproveitou-se da localização
S.O.S
destes grandes equipamentos
Janeiroo
de Janeir
e deles retirou pequenos
aná
Riode
Rua Par
Rua Rio
trechos de terreno onde foram
Rua
implantados usos coletivos de
necessidade das favelas.
es
a
Ru
noel Rodrigu
l
Seid
enriquecidas, com a execução de acessos (anel viário), Ca r
los
R ua
a construção de habitações para reassentamento e
Rua José Ma
unidades mistas (habitação, comércio e serviços) e a
FINEP-CEF-FAUUSP-FUPAM
com usos coletivos bem definidos.
PÁTIO DE CONTAINERS
Reservatórios de água (elevado e enterrado) foram
N
incorporados ao projeto para viabilizar a
regularização do abastecimento de água. Sua
implementação foi feita à revelia da Cedae. O
reservatório elevado, chamado castelo d'água,
tornou-se um marco formal na paisagem.
Internamente, a maioria dos acessos é só para
pedestres. As casas estão, no máximo, a 50 metros
das ruas principais ou pequenos largos com acesso de 5.2.1.
veículos. A ocupação é compacta e bastante uniforme
QUALIDADE DE VIDA URBANA,
no acabamento, pois 93,7% das casas são de
HABITAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO
alvenaria revestida e cobertas por laje. A volumetria
SOCIAL E ECONÔMICA18 18 A relação entre qualidade de
do conjunto é composta por 44,4% de sobrados e vida e habitação foi
17,5% de casas com três pavimentos. Mais de 60% As oito favelas estudadas são claramente identificada com a
revisão do conceito de déficit
dos lotes têm taxa de ocupação de 100%. importantes exemplos da diversidade da Fundação João Pinheiro.
Discussão regional do problema da casa Diversas entidades,
informal no Brasil, em seus aspectos especialmente públicas, fazem
A intervenção na Ladeira caracteriza-se, os censos nas áreas de
como toda intervenção do Programa Favela-
Bairro, pela urbanização integral da
5.2.dos urbanísticos, construtivos e
socioeconômicos. Elas foram
projetos de urbanização (ou
mesmo para remoção) de
favelas. Assim, fica clara a
comunidade, com dotação completa de resultados selecionadas por sua correlação entre renda, baixa
infra-estrutura e serviços, inclusive representatividade em relação às escolaridade, precariedade da
adequação do sistema de coleta de lixo. Os favelas atendidas pelos programas de edificação, alcoolismo e
mendicância. A qualidade de
equipamentos de lazer e esporte e as áreas intervenção existentes nas respectivas vida, identificada pelo acesso
verdes foram criados para uso prioritário cidades, e não necessariamente aos bens e serviços públicos,
representam o conjunto de favelas tem correlação com a inserção
dos moradores, mas em terrenos do urbana da unidade
entorno, sem necessidade, portanto, da (urbanizadas e não urbanizadas) da habitacional - localização e
remoção de famílias. Foram criadas cidade ou região metropolitana onde investimentos públicos. A
Plambel, um dos organismos
também unidades de negócio, locais que estão localizadas. pioneiros em urbanização de
podem ser alugados para pequeno favelas, de Belo Horizonte,
comércio ou serviço, não necessariamente desenvolve hoje indicadores
Municípios selecionados para formar um índice de
de moradores. qualidade de vida urbana
Tabela 5.1 PORCENTAGEM DA POPULAÇÃO para monitorar os projetos.
A comunidade é antiga e tem uma MORADORA EM FAVELAS SOBRE A
participação no projeto e obra do tipo mais POPULAÇÃO TOTAL
tradicional, através de suas lideranças. O
Cidades % população favelada Data da informação
fato de um trecho da favela não ter sido
urbanizado indica a eficácia da ação de
Área até agora não 17
grupos de resistência à intervenção da São Paulo 19,3 1993
Urbanizada, 1999
Prefeitura. Por outro lado, a fiscalização
Diadema 29,7 1996
municipal tem evitado ampliações de casas
Figura 5.19 em áreas de uso coletivo. Fortaleza 30,7 1991
Goiânia 13,31 1997
Na pesquisa amostral domiciliar realizada nas favelas Rio de Janeiro 10,8 1991/1992
Ladeira dos Funcionários e Parque São Sebastião Fonte: LABHAB, 1999a.
verificou-se que 95,2% das famílias estabelecidas Observando apenas a participação da população
nestas comunidades em janeiro de 1999 lá já moradora em favelas na população total (Tabela 5.1),
residiam antes das obras, indicando uma grande verificamos a maior importância da favela como
permanência dos moradores. alternativa habitacional em Fortaleza, no Nordeste
brasileiro, e em Diadema, município da periferia da
243 Relativamente aos aspectos urbanísticos, 63,5% dos Região Metropolitana de São Paulo, 244
lotes têm um domicílio e, em média, 49,4 metros comparativamente a Goiânia e Rio de Janeiro.
2
quadrados (a mediana do lote é 37,6 m ); 14,3% deles
Técnicos da Prefeitura 17
comentam que em quase apresentam três ou mais domicílios. Cabe notar que a amostragem realizada para a
todas as favelas do Programa aplicação do questionário aos moradores e para o
Favela-Bairro há trechos onde cadastro físico dos lotes foi calculada apenas para o
o projeto tem dificuldades de
A moradia apresenta uma metragem média de 52,4
ser implantado. m2 (mediana de 49,4 m2). O número médio de metros universo de cada favela. Assim, rigorosamente, os
quadrados por morador é 16,3, sendo 13,6 m2 por dados quantitativos são relativos apenas a cada favela
morador a mediana. Há, em média, 6,3 pessoas por em si.
lote e 4,1 pessoas por família.
Apesar disso, é interessante analisar alguns dados,
Quanto à ocupação do lote, 62,9% deles apresentam comparando as favelas, de forma a elaborar um
taxa de ocupação de 1 e 42,8% têm coeficiente de quadro abrangente da situação brasileira. Ao mesmo
aproveitamento superior a 1,5. tempo, procura-se apresentar e dialogar com alguns
indicadores de caracterização socioeconômica da
população e da qualidade habitacional.
Tabela 5.2 RENDA FAMILIAR em reais As taxas de desemprego detectadas nas favelas em
Janeiro de 1999 janeiro de 1999 apresentaram-se mais altas do que as
da cidade ou região, reforçando a tese da maior
Cidades Favelas Maior renda Freqüência Menor renda Freqüência Média Mediana
vulnerabilidade socioeconômica da população
(Em reais) da maior (em reais) da menor (em reais) (em reais)
renda % renda % moradora em situação informal (Maricato, 1998).
São Paulo Santa Lúcia II 17,5 Cidades Favelas até 5% 5% a 10% 10% a 20% 20% a 30% 30% a 50% Maisde 50%
Jd. Esmeralda 28,5
São Paulo Santa Lúcia II 67,1 16,1 3,2 6,5 - 6,5 (99,4%)
Diadema Barão de Uruguaiana 33,6 Jd. Esmeralda 81,8 12,1 6,1 - - -
Vila Olinda 32,1 Diadema Barão de Uruguaiana 57,1 28,6 14,3 - - -
Vila Olinda 32,6 30,2 16,3 11,6 9,3 -
Fortaleza Castelo Encantado 32,9 Fortaleza Castelo Encantado 32,1 26,4 24,5 5,7 3,8 7,5
Goiânia Jd. Conquista 6,7 13,3 43,3 26,7 6,7 3,3
Goiânia Jd. Conquista 39,8 Jd. Dom Fernando I 23,5 19,6 35,3 13,7 2,0 5,9
Jd. Dom. Fernando I 26,2 Rio de Ladeira/
Janeiro Pq. S. Sebastião 30,8 41,0 17,9 2,6 7,7 -
Rio de Janeiro Ladeira/Parque S. Sebastião 20,8
Fonte: Schor e Artes, 1999. Fonte: Schor e Artes, 1999, Tabela 30.
O grande número de moradores anteriores às obras
Ver Véras e Taschner, 1990; 19 indica uma comunidade estável, sem grande troca de
Taschner, 1983; Abramo e população. Apesar de não haver muitas pesquisas
Faria, 1999.
Percebe-se, por um lado, a complexidade da situação
sobre a mobilidade de moradia em outras situações - fundiária e das perspectivas legais e políticas de
Silva (2000) elaborou 20 bairros, prédios de classe média, conjuntos -, para regularização da situação dos ocupantes.21Ao mesmo
tabulações especiais da comparar com os dados encontrados, o resultado
pesquisa amostral com a
tempo, são detectadas conexões entre as
19
população das oito áreas. surpreende, contrariando a tese de alguns autores de características do processo de ocupação (paulatina ou
que, com as obras de urbanização, possivelmente organizada), o tratamento que a administração local
haveria um aquecimento do mercado imobiliário da dá aos processos de invasão de terra (maior ou menor
Tabela 5.5 favela que induziria a um processo de gentrification. repressão), a existência ou não de terrenos a invadir
MORADORES (escassez ou não de vazios de propriedade pública ou
% de moradores Data de origem Data da
RECENTES E ANTIGOS Anteriores às Da favela intervenção privada) e a maior ou menor comercialização de
Cidades Favelas Obras unidades dentro das favelas. Conforme sintetizou
Silva, 2000:47:
85,1 1967 1994
São Paulo Santa Lúcia II
Jd. Esmeralda 91’4 1967 1996 "Resumindo, face aos itens colocados, arriscaríamos a
dizer que as razões principais para que o processo de
66,0 Anos 70 1989 substituição (mobilidade e dinâmica imobiliária) seja
Diadema Barão de Uruguaiana
Vila Olinda 83,1 Anos 70 1991 forte ou não nas diferentes nas favelas são
principalmente as seguintes (a investigar):
95,4 Anos 50 1993 No Rio, o controle da organização comunitária e a
Fortaleza Castelo Encantado
existência de uma rede de vizinhança consolidada,
Goiânia Jd. Conquista 83,9 1993 1996 inclusive pela antigüidade dos moradores, desestimula
Jd. Dom Fernando I
a saída, apesar de haver demanda. Mas o processo é
81,5 1987 1993 muito recente.
Rio de Ladeira/ 1931
95,2 1951 1996 Em Diadema, a credibilidade do título de concessão de
Janeiro Pq. S. Sebastião
Fonte: LABHAB,1999b. uso no mercado regional (no caso do Uruguaiana), a
Das favelas pesquisadas, o maior número de confiança na regularização (caso do Vila Olinda) e a
mudanças ocorreu nas favelas de Diadema e Goiânia, qualidade dos núcleos aumentam a demanda; preços
justamente onde os programas de urbanização têm altos estimulam a venda. 21 Apesar da importância da
questão da regularização
mais avançados os processos de regularização fundiária e urbanística dos
Tabela 5.6 fundiária. Em Fortaleza, a valorização está aumentando as projetos de urbanização de
oportunidades de obtenção de rendas imobiliárias favela, esse não é o principal
SITUAÇÃO FUNDIÁRIA E 20 (aluguel para comércio e residencial) e atividades
enfoque desta tese.
PERSPECTIVAS DE Silva, 2000, analisando os resultados da pesquisa,
apresenta um resumo da situação fundiária e das informais; as famílias são estimuladas a aproveitar-se
REGULARIZAÇÃO dessas vantagens e não sair.
das favelas pesquisadas perspectivas de regularização da posse em cada caso:
Ladeira dos
Vila Jd. Dom
Funcionários/ Na posse D. Fernando, a grande mobilidade foi
Santa Lúcia Jd. Barão de Castelo Jd. Parque S.
II Esmeralda Uruguaiana Olinda Encantado Conquista
Fernando I
Sebastião
causada pela possibilidade de vender uma posse
Propriedade
Pública de Particular garantida e, provavelmente, obter um outro terreno
do terreno Pública de Pública de Marinha do Pública, Serviço do
(situação
uso comum, uso comum, uso comum, Particular, Brasil
por
(Igreja
Patrimônio com certa facilidade. Esse processo parece controlado
sem sem desafetada em católica)
atual) processo de processo de negociação desapro- da União e e tendente a ser de substituição gradual e aumento do
priação outros
regulariza-
ção da
regulariza- posterior à órgãos uso comercial, inclusive porque o padrão de renda na
ção da ocupação
posse posse
públicos com favela não é muito baixo. 248
direitos de
foro
Início da Meados de Anos 50 1987 Na posse Jardim Conquista, onde ocorreu muita venda
ocupação 1967 1970 Início dos Anos 30 e 50
1967 1993 de direito de posse em seguida às garantias,
anos 70
Forma de
Organizada
aparentemente o processo de vendas continua intenso
ocupação Paulatina Paulatina Paulatina Paulatina Organizada
Paulatina Paulatina devido à menor renda da população e pressão das
Situação legal Sem nenhuma Concessão tarifas, assim como à possibilidade de participar de
Sem nenhuma Com Documento São
atual dos garantia garantia documento de Parte das
provisório
de uso
cadastrados
outros processos de ocupação.
moradores formal formal concessão de famílias tem Indefinida gratuito
escritura à espera de e pagam
direito real conclusão taxa anual à
de uso coletiva;
parte tenta da desapro- SPU Nas favelas Esmeralda e Santa Lúcia II, as melhorias
(CDRU) priação
negociar c/ não foram suficientes para aumentar muito a
proprietário
Solução Cessão de Escritura CDRU após demanda, devido à posição das favelas no mercado
prevista a Nenhuma Já direito real de doação > transf. da local e à existência de outras alternativas mais
Nenhuma Propriedade propriedade União p/
curto ou resolvida de uso
médio prazo (CDRU)
plena plena município e atraentes para a faixa de renda que poderia ir para as
aprovação do
Plano de favelas urbanizadas."
Arruamento e
Fonte: Silva, 2000:38, Tabela 2.5. Loteamento.
Assim, podemos inferir que, mais do que os
LOCAL DA
investimentos públicos em obras de urbanização Tabela 5.7
MORADIA ANTERIOR
daquelas áreas, a perspectiva (e somente ela, pois, de
fato, somente em uma das favelas de Diadema há Cidades Favelas Outra casa Outra Moradia Fora de Outra Outro
total regularidade formal da posse) da regularização é na favela na anterior favela na cidade no estado
que induziria um aquecimento do mercado imobiliário mesma mesma em favela mesma mesmo
favela cidade Subtotal
(Subtotal) cidade estado
das favelas urbanizadas. Esse aquecimento,
entretanto, é enfraquecido pela avaliação de outros Santa 27,7 14,9 42,6 40,4 17,0 0
interesses relacionados à qualidade de vida e acesso a São Paulo Lúcia II
oportunidades de melhoria da inserção Jd.Esmeralda 10,5 3,5 14 38,6 47,0 0
socioeconômica proporcionadas pela manutenção da Barão de 4,3 31,8 36,1 36,2 12,8 14,9
família na área. A conclusão do autor é a de que: Diadema Uruguaiana
Vila Olinda 30,5 27,1 57,6 8,5 16,0 16,9
"Nos programas de urbanização estudados, os
Castelo 42,2 20,3 62,5 9,4 28,1 0
elementos fundamentais para estimular o processo de Fortaleza Encantado
transferência (mercado) foram a garantia da posse e a
regularização fundiária. Esse processo aconteceu sem Jd.Conquista 1,9 44,4 46,3 27,8 25,9 0
Goiânia Jd. Dom
esperar pelos investimentos públicos em melhorias em Fernando 29,6 48,1 77,7 22,2 0 0
Goiânia e Diadema. Os casos de Goiânia mostram
que os terrenos prometidos se tornam bem de troca, Rio de Ladeira dos 66,1 6,5 72,6 6,5 21,0 0
Janeiro Funcionários/
antes de qualquer melhoria e sem construções. Fonte: LABHAB,1999b, tabulação.
Parque S.
Sebastião
A consciência da valorização dos imóveis, que pode
acontecer em momentos diversos, permite aos
proprietários se colocar a questão de como aproveitar- Nota-se também a troca de moradia dentro da
se melhor da valorização, ou seja, quais as vantagens própria favela (especialmente nos casos do Rio de
de ficar na favela ou de vender sua casa. É possível Janeiro e de Fortaleza). Cruzando as questões
que, para alguns, a oportunidade da venda venha moradia anterior na própria favela e forma de
responder a uma necessidade premente de moradia, Silva, 2000, verifica que grande parte
sobrevivência, o que poderia ocorrer em qualquer dessas famílias morava na favela, em casas alugadas,
outra situação de moradia (fora da favela). No antes das obras. O processo de urbanização, que no
entanto, após a urbanização, normalmente as projeto define o parcelamento do solo, fez diminuir os
vantagens da permanência se acentuam em relação casos de aluguel, pois as famílias antes locatárias
ao momento em que a família decidiu pela instalação tornaram-se as legítimas ocupantes do terreno.
naquela favela: a rede de solidariedade permanece, o
bairro está melhor e a casa já está construída. Se MORADIA
melhorou, por que sair?"(Silva, 2000:48) Tabela 5.8
DE ALUGUEL
% das
Cidades Favelas famílias % atual de
A relativa estabilidade da população na área após as com Famílias
obras deve ser um fator de otimização dos resultados moradia em moradia
na melhoria das condições de vida dos moradores, em anterior alugada
função de criar laços, possibilitar a organização e a alugada
participação nos resultados de ações coletivas. Os Santa 50 0
laços de amizade, de vizinhança, além do parentesco, São Paulo Lúcia II
249
fortalecem a criação de redes de solidariedade. Jd.Esmeralda 35,6 3,4
250
Barão de 44,4 2,1
A observação destas características - condições de Diadema Uruguaiana
vulnerabilidade socioeconômica, relativa estabilidade Vila Olinda 40 1,7
da população após as obras - faz concluir que os
Castelo 20 7,7
investimentos em urbanização têm conseguido atingir Fortaleza Encantado
diretamente os segmentos mais facilmente excluídos
do processo do crescimento econômico. Jd.Conquista 46,3 3,7
Goiânia Jd. Dom
Fernando 65 8,2
A experiência urbana de uma boa parte da
população, como podemos ver nas primeiras colunas Rio de Ladeira dos 6,5 3,2
da Tabela 5.7, já passou pela favela. Especialmente Janeiro Funcionários/
em Goiânia, Diadema e Fortaleza, verificamos que Parque S.
Sebastião
boa parte da população vem de outras favelas da Fonte: SILVIA, 2000, Tabela 2.1.
cidade. Esse quadro reitera a importância da favela
como alternativa habitacional para esse segmento da
população.
Foi verificada também a opinião do morador acerca Schor e Artes, 1999, definiram o índice de satisfação
da infra-estrutura instalada - água, esgotamento, do usuário, para as favelas pesquisadas, atribuindo
A opinião do morador 22 drenagem, coleta de lixo e energia elétrica. Suas um ponto a cada uma das infra-estruturas ou serviços
depende também de avaliações, é evidente, não refletem necessariamente avaliados positivamente por um mesmo entrevistado,
condições subjetivas. Por a real eficiência dos sistemas instalados.22 podendo variar de zero (nenhum serviço avaliado
exemplo, uma pessoa que no
momento estiver com positivamente) a cinco (todos avaliados
problemas pessoais ou Conforme mostram as tabelas abaixo, a opinião dos positivamente). Esses índices, apresentados na Tabela
familiares - desemprego, 5.11, representam bem a resposta favorável dos
doença etc. - poderá ter uma
moradores sobre a urbanização executada é bastante
visão mais negativa, tendendo positiva. Quando separamos as respostas apenas dos moradores (à exceção do Castelo Encantado, pelas
a responder que tudo está moradores antigos (quando foram analisados água, condições já explicadas): em todos os casos
insatisfatório. Por outro lado,
poderá haver pessoas que, esgoto e drenagem), a satisfação ainda é maior. analisados o índice é superior a quatro.
pelo fato de a moradia Apenas no caso de Fortaleza há uma maior
anterior ter sido extremamente insatisfação, devido a problemas objetivos nas obras, Cidades Favelas Grau
precária, consideram-se de
satisfeitas com a situação em função, especialmente, da ausência de condições
atual, mesmo a infra-estrutura de esgotamento de muitas casas, que lançam esgoto Tabela 5.11
sendo ineficiente. Não
obstante isso, é fundamental
em fossas ou na drenagem. GRAU DE SATISFAÇÃO
entender como se sente o SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS DOS MORADORES EM São Paulo Santa
usuário em uma avaliação do PÚBLICOS Lúcia II
processo de urbanização. Tabela 5.9 RELAÇÃO A CINCO Jd.Esmeralda
AVALIADOS POSITIVAMENTE SERVIÇOS INSTALADOS
em porcentagem Barão de
Diadema
Uruguaiana
Cidades Favelas Abasteci- Sistema de Sistema de Coleta de Serviço de Vila Olinda
mento esgoto drenagem lixo energia
de água elétrica Castelo
Fortaleza
Encantado
Santa 94 77 73 85 83 Jd.Conquista
São Paulo Lúcia II Goiânia
Jd. Dom
Jd.Esmeralda 92 90 80 93 75 Fernando
Barão de 89 76 85 96 96 Rio de
Janeiro Ladeira dos
Diadema Uruguaiana Funcionários/
Vila Olinda 93 80 81 86 97 Parque S.
Sebastião
Castelo 38 39 66 77 79
Fortaleza Encantado Fonte: Schor e Artes,1999, Tabela 52.
Na Tabela 5.13 reúno alguns valores de densidade Ladeira dos 1.193 ou 881
Rio de Funcionários/ (contando
encontrados em estudos sobre conjuntos Janeiro Parque S. equipamentos)
habitacionais (três casos) e um loteamento popular Sebastião
irregular - a mais tradicional e popular forma de
acesso à moradia na Grande São Paulo e em outras Fonte: LABHAB,1999b, tabulação.
Comparando-se os dados de Crespo (Tabela 5.12) 1994, em São Paulo; a Favela de Alagados, em
com os encontrados na pesquisa, observa-se que as Salvador, urbanizada nos anos 80, seguindo
duas posses de Goiânia têm densidade comparável à parcialmente projeto de 1974; e a favela da Maré, no
de "setores residenciais de padrão médio Rio de Janeiro, urbanizada em 1979.
multifamiliar: casas geminadas". Três outras áreas
apresentam a densidade de "prédios residenciais de
taxa de ocupação de 1 a 3". As três mais densas são DENSIDADES DE FAVELAS
Tabela 5.15 URBANIZADAS
Ladeira/São Sebastião, Jardim Esmeralda e Barão de
Uruguaiana, em duas regiões metropolitanas, como OU DE PROJETOS DE
esperado. Entretanto, os resultados relativos a URBANIZAÇÃO Densidade
Diadema causam surpresa. A favela Barão de bruta
Uruguaiana, menor, com área arborizada, com uma (Hab./ha)
Cidades Favelas
forma urbana de vila, ou seja, melhor qualidade
espacial e, portanto, de vida, apresenta densidade Salvador Alagados (projeto M.
307,1
superior à da favela Vila Olinda. No caso de São Roberto)(Hereda,1992)
Paulo, também é interessante observar que a favela
Jardim Esmeralda, que apresenta uma área livre - Alagados (projeto
sobre o córrego -, tem uma densidade superior à da 23
revisado)(Hereda,1992)
Santa Lúcia, área em encosta com um traçado viário
com predomínio de vielas e com total ausência de Nossa Senhora Aparecida (Cruz,
áreas livres. São Paulo
1998) 488
Santa
Lúcia
Metropolitano interligadas ao (2005) os esgotos de toda para coleta de lixo com carrinhos
(Sabesp). coletor-tronco. bacia serem tratados na manuais que não foi implantado. operação por inadequação dos sistemas induzem
Estação de Barueri. Estão
em construção estações comportamentos inadequados dos usuários, que
elevatórias podem comprometer a sustentabilidade, observamos
que as favelas pesquisadas de Fortaleza e do Rio de
26
Água fornecida pelo
Sistema Adutor
As redes de esgoto
executadas estão
Não há tratamento. A Não há coleta seletiva. Existia um
previsão é a longo prazo projeto de educação ambiental
Janeiro apresentaram o maior número de domicílios
Esmeralda
Metropolitano interligadas ao (2005) os esgotos de toda voltado para o incentivo de coleta que fazem o armazenamento alternativo de água
(Sabesp). coletor-tronco. Com a bacia serem tratados na seletiva/reciclagem e combate ao
(67,7% e 44,4% dos domicílios, respectivamente).
Jardim
a finalização das Estação de Barueri. Estão desperdício. Este projeto não foi
obras da favela em construção estações implantado por falta de recursos Esses moradores podem estar usando água
Iporanga a montante elevatórias financeiros
não haverá nenhuma contaminada pela forma de armazenamento, além de
ligação de esgoto haver o risco de que estes depósitos sejam criadouros
para o córrego
Iporanga. de vetores de doenças, como a dengue. Assim, nestes
casos, em função de problemas de projeto ou de não
Uruguaiana
Água fornecida pelo O esgoto é lançado Não há tratamento. Não há. integração da favela ao sistema de infra-estrutura
Barão de
cidade. recebe a maior de tratamento de esgotos. Industrial de Reciclagem-NIR, sanitárias apresentaram uma sensível melhora nas
parte do esgoto da Na área de estudo 1,8% remunerado pela empresa municipal
Jardim
cidade, a montante. das casas tem fossa COMURG. O NIR comercializa e favelas atendidas.
séptica e 5,4% delas têm industrializa alguns elementos.
Goiânia
Sistema adutor da Rio Meia Ponte, que A cidade não tem ETE. Na Coleta seletiva pelo NIR, lançamento de esgotos na drenagem.
cidade. recebe a maior área de estudo 4,9% das remunerado pela empresa municipal
parte do esgoto da casas têm fossa séptica e COMURG. O NIR comercializa e
I
Através de manobras na O esgoto da Será interligado a outros A Comlurb faz varrição e retirada ainda são lançados no reservatório. Foi constatado
Funcionários/
rede da Cedae, dia sim comunidade é pontos da cidade (bairro diária do lixo das
dia não a água do lançado em uma rede do Caju) com destino lixeiras/contenedores. Não há também que não há acompanhamento e fiscalização,
Ladeira dos
bibliográficas
estudo de caso do Rio de Janeiro", IN LABHAB,
ALMEIDA, Sylvia Wanderley Casério e BUENO,
FAUUSP, relatório final da pesquisa Parâmetros para
Laura Machado de Mello (colaboradora), "2.1.3
urbanização de favelas, 1999.
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FAUUSP, relatório final da pesquisa Parâmetros para
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urbanização de favelas, São Paulo, 1999.
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Paulo, 1992.
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Parâmetros para urbanização de favelas, 1999.
Paulo, 2000.
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LABHAB/FAUUSP - Laboratório de Habitação e
ambiente", IN LABHAB, FAUUSP, relatório final da
Assentamentos Humanos do Departamento de
pesquisa Parâmetros para urbanização de favelas,
Referências
273 274
Os elementos culturais,1 sozinhos, não são uma vida cultural e social, da qual ela é o reflexo."
responsáveis pelo ambiente construído. Os (Santos, 2000:D4),
materiais utilizados, a forma de usá-los, os valores e
os constrangimentos existentes nas escolhas são Assim, a discussão sobre o encantamento, o
também elementos importantes a serem avaliados. sublime, deverá estar sempre imbricada com a ética
Neste sentido, para se qualificar uma política de do viver. Conforme afirma Ventura, 1994:12, no
consolidação de favelas, é fundamental avaliar a livro Cidade partida, acerca da linguagem da
possibilidade de os assentamentos, uma vez sobrevivência e sua necessidade de ligar-se aos
superados os obstáculos no acesso aos serviços tentáculos da urbanidade:
urbanos básicos, virem a satisfazer as necessidades
culturais e estéticas de seus habitantes. "Nessa terra em que as fronteiras são sempre tênues,
imperceptíveis para quem vê com os olhos de 'cá', os
A urbanização destes ambientes tem tornado contrários convivem: a alegria e o pranto, a miséria e
possível viver sem a intermediação do projeto e seus o prazer, a violência e a solidariedade, a fé e o crime,
diferentes conteúdos como um pressuposto.2 Isso é o tráfico e a vida honesta, a glória efêmera e a
verdadeiro, sobretudo, pela imposição da resistência muda, o medo, a crueldade e o terror - um
sobrevivência. Essa urgência seria a linguagem cotidiano feito de sofrimento, mas também de uma
expressa na arquitetura da favela. Mais além desta esperança que às vezes parece inútil.
dimensão, "ser pobre não é apenas não ter, mas,
sobretudo, ser impedido de ter, o que aponta muito É impossível percorrer as ruelas sujas, abandonadas,
mais para uma questão de ser do que de ter." (Pedro freqüentar as casas, os bares e os bailes, sem
Demo,1993, citado por Maricato, 1996:57). A esbarrar com tudo isso ao mesmo tempo. A aventura
busca pelo ter cidade, ter urbanização, ter acesso às pela sobrevivência se desenrola em meio a essa
redes e às contas, que tem forte conteúdo de ser mistura, mas nem sempre a proximidade produz
cidadão, estar integrado à sociedade contágio. Valores e diferenças são testados e
mantidos por convicção própria."
Pode-se lembrar o reconhecimento da relação entre
os moradores das favelas do Rio de Janeiro e de Esta parte da tese procura, em três capítulos,
Salvador à música brasileira e à origem das grandes desenvolver uma síntese da favela como fato
Urbaniza-se? Remove-se? festas de carnaval nessas cidades. Mas há uma histórico, sociocultural e, sobretudo, como objeto de
Extingue-se a pau e fogo? contradição im portante. Como es paço de intervenção estética, urbana e arquitetônica. O
Que fazer com tanta gente segregação espacial de excluídos, a favela é Capítulo 6 procura discutir a favela à luz da estética
também a referência para a discussão dos destas ecologias diferenciadas criadas pela origem
brotando do chão, formigas comportamentos anti-sociais - o malandro, o jogo do assentamento espontâneo. O Capítulo 7
De formigueiro infinito? do bicho, o esconderijo dos ladrões e o tráfico de apresenta uma discussão, argumentando pela
Ensinar-lhes paciência, drogas. Inspirado no morro da Favela, Orestes consolidação de direitos urbanos, apresentando
conformidade, renúncia Barbosa, (1923)1992:111, assim descreveu suas porém o conflito do espaço da favela com a lei e a
Cadastrá-los e fichá-los impressões sobre a favela: "A Favela não é mesmo violência. O oitavo e último capítulo apresenta uma
para fins eleitorais? graça. Quem vai pela rua da América bem sabe que proposta metodológica para intervenção em
Prometer-lhes a sonhada, já nesta rua devia sentir temor [...] Ao longe a Favela favelas.
Mirífica, róseo-futura tem até uma aparência poética - aqueles casebres
Distribuição (oh!) de renda? que dão idéia de pobreza resignada, alguns
Deixar tudo como está arbustos descontentes com o terreno em que vivem, e 1 No sentido de cultura popular,
os lampiões, em pontos diferentes, tortos, como que uma comunidade faz
Para ver como é que fica? para seu próprio desfrute, em
Em seminários, simpósios, bêbados, piscando o olhar cá para baixo. Mesmo de confronto com o culturalismo-
dia, observada por um visitante, que se desconheça mercantil. Trata-se de 276
comissões, congressos, cúpulas a vida íntima, a Favela é tristonha e ordeira - tem uns contrastar o ambiente
de alta vaniloqüência ares de sono, de acabrunhamento, como se construído coletivamente e às
elaborar a perfeita vezes até como obra de arte,
pensasse na sua própria vida." experiência lúdica de construir
e divina solução? o próprio habitat humano,
(Carlos Drummond de com a moradia dos mais
Buscarei reenfocar esse olhar sabendo que estas
Andrade, 1985) abastados, cuja produção é
outras questões são também fundamentais na mediada pela agregação de
construção de uma sociedade mais justa e valor econômico, inclusive
satisfatória a todos. A possibilidade de melhoria através dos projetos de
arquitetura e engenharia.
das condições de vida, que inspira uma
comunidade urbanizada faz eco com a afirmação 2 A provisão de moradia
de Henry-Pierre Jeudy, curador da Bienal de Veneza regular, de boa qualidade, é
sempre mediada pela
de 2000, cujo tema é "Mais ética, menos estética": "A elaboração do projeto e,
priori, aquilo que não dura, o que é considerado sobretudo, por sua aprovação
pelos técnicos do poder
Parte 2 efêmero, não se presta à conservação. Com efeito, a
arquitetura das favelas só atinge a plenitude de seu
público.
nascentes e córregos) - à de
Figura 6.5 grandes favelas do Rio de 14 A maior parte das cidades
certos trechos de origem Janeiro ou Caracas - entre 900 analisadas por Sano, 1986,
Córrego em mil e 1.200 mil metros tem cerca de dez mil
medieval de cidades européias. Freiburg, habitantes.
Há semelhanças nas soluções/ Alemanha, e quadrados. As encostas do Mont
adaptações do tecido urbano. O na favela do Saint Michel têm cerca de 10 mil
Jardim
mesmo se poderia dizer de Rubilene , metros quadrados, comparáveis
nossas cidades coloniais. em São Paulo a um grande número de favelas
Figura 6.7 de São Paulo que abrigam, em
média, cerca de 200 famílias.
San Giminiano, com 90 mil metros quadrados, ocupa área
semelhante à de algumas poucas favelas de São Paulo que abrigam
13
285 entre 1 mil e 5 mil famílias. Siena teve, no fim da Idade Média, 50 mil 286
habitantes, atualmente tem cerca de 65 mil.14
0 50 300
Metros
0 25 100
Metros
Figura 6.9
Plantas de Montepulciano, Itália e
favela Nossa Senhora da Aparecida,
São Paulo
287
desvios e atalhos parecem ser leais à
camada natural do solo, da terra; em
Metros
Figura 6.12 favela Vila
Senhor dos
288
Passos,
todo caso, os caminhos são N Belo
determinados pela natureza. Estas 0 25 100
Horizonte
cidades "foram tomando forma, sendo Viela A
Metros
Viela B
700
80
Figura 6.13 valor da história incorporado às edificações e ao definida pela existência de unidades habitacionais e
lotes de desenho irregular, apresentam um
construído, ou sobre um
prédio erguido com a ajuda
de alguns amigos. Se fosse
Infra-estrutura próprio traçado urbano certamente foi um fator
peculiaridade: quase sempre os condicionantes da assim, seus direitos nem
instalada em preponderante para o desenvolvimento das técnicas seriam questionados."
Sintra, Portugal
de projeto e implantação dos serviços de infra- intervenção estão associados à viabilização da
e Freiburg, entrada das redes de infra-estrutura urbana
Alemanha, em 1995 estrutura urbana. Ademais, quando a infra-
289 estrutura urbana começou a ser desenvolvida, os disponíveis no entorno. 290
Destacam-se as 16
moradores dessas cidades já tinham reconhecidos
seus direitos como cidadãos proprietários ou Dessa intervenção resulta um outro urbanismo,
experiências em países
islâmicos (ver Steele, usuários desse espaço, sendo os investimentos feitos comum arruamento de difícil visualização em fotos
org.,The Agha Khan
ao longo de séculos. aéreas, economia de espaços livres, onde as áreas de
Award, 1992), onde se
dá grande importância
uso comum são quase só as vias de acesso aos lotes.
à vida comunitária (em No caso das favelas as coisas são diferentes. O traçado dessas vias respeita a morfologia do
alguns casos terreno, mesmo porque a implantação das casas foi
implicando também a Políticas públicas para favelas é algo recente:
submissão e a existem há apenas algumas décadas. Um longo e feita assim e praticamente definiu o traçado do
indignidade,
criativo caminho teve de ser percorrido até que as sistema de acessos viários e por onde deveriam passar
especialmente da as redes de infra-estrutura.
mulher). favelas, de caso de polícia, passassem a objeto de
caridade e assistencialismo e, finalmente, a objeto
das políticas urbana e habitacional dos governos. Estamos produzindo um novo urbanismo, mais viável
Não só no Brasil como também em outros países em e próximo do Terceiro Mundo. Ao invés do urbanismo
desenvolvimento - Venezuela, Peru, Índia, americano, cartesiano, modernista, e até obrigados
Indonésia, Jordânia, África do Sul, por exemplo.16 pela situação concreta a enfrentar, recuperamos os
conceitos da Landscape Architecture, do urbanismo
orgânico, do traçado da cidade medieval "Irregularidades no terreno, córregos e caminhos já
incorporando o padrão de infra-estrutura urbano existentes não devem ser removidos para que se
contemporâneo. conquiste uma quadratura monótona, mas sim
preservados como pretextos úteis para se criarem
Essa técnica projetiva para urbanizar favelas não é traçados tortuosos e outras irregularidades valiosas,
uma coisa nova em nossa profissão, em especial em embora grandes somas sejam hoje despendidas em
urbanismo e, particularmente, em traçado viário. O sua destruição. Na ausência de irregularidades,
discurso da arquitetura modernista talvez tenha mesmo os planos mais bem executados terão uma
apostado mais no bloco residencial, onde arquitetura certa rigidez em seu efeito conjunto. Além disso, são
e urbanismo se fundiriam num só projeto da máquina justamente as irregularidades que permitem uma fácil
de morar. O que vingou, entretanto, no processo de orientação no entremeado das ruas, e sua
urbanização foi a expansão horizontal por importância é reiterada sobretudo pelo aspecto
loteamentos feitos sem urbanismo, onde depois seria sanitário, porque são as curvas e as quebras das ruas
edificado o objeto arquitetônico. A realidade urbana da parte antiga da cidade que a resguardam do vento,
do Terceiro Mundo traz à tona essa herança cultural do dirigindo as tempestades mais violentas para acima
assentamento espontâneo (com são as vilas de dos telhados, enquanto nos bairros mais recentes o
pescadores, as freguesias, que se tornaram distritos, vento ruge ao longo das ruas retilíneas de maneira
bairros rurais), que na cidade pré e pós-industrial muito desagradável e prejudicial à saúde. [...]
precisa receber infra-estrutura. Enquanto atravessamos sem esforço o centro velho da
cidade sob um mesmo vento médio, tão logo
Na história do urbanismo, Camillo Sitte, Patrick adentramos um bairro novo somos envolvidos por
Gueddes e, no Brasil, Saturnino de Brito destacam-se nuvens de poeira." (Sitte, 1992:134-135)
por terem desenvolvido princípios urbanísticos que
levavam em consideração a história do local, o grupo Comentando sobre a irregularidade e estreiteza das
social envolvido, e as características naturais ruas nas cidades antigas (e também nas favelas), Sitte,
Figura 6.14 peculiares dos terrenos. Partindo da cidade então
existente, estes urbanistas - principalmente os dois
1992:114-115, faz uma leitura crítica do
parcelamento em malhas ortogonais:
Estudo de
parcelamento para primeiros - buscaram implementar as modernizações
Hannover, técnicas preconizadas para o meio urbano "Os altos preços dos terrenos exigem seu melhor
respeitando-se os
limites das (saneamento, energia, passagem de tráfego) aproveitamento, e com isso são abandonados
propriedades interpretando e valorizando as relações do homem inúmeros motivos de efeitos abundantes, enquanto
existentes, de
Camillo Sitte, com o espaço. cada lote construído tende, cada vez mais, a assumir a
1889 forma cúbica do moderno bloco de construção. Para
HANNOVER nós, átrios, saliências, escadarias, arcadas, torreões
Sitte 1889 etc. tornaram-se um luxo excessivo, mesmo nos
edifícios públicos; e apenas no alto das construções,
junto aos balcões, sacadas e cumeeiras, é que o
arquiteto moderno pode dar asas à sua imaginação,
mas jamais nas ruas, onde reina o alinhamento dos
edifícios. Estamos tão habituados a isso, que há certos
motivos que não mais nos impressionam, como
escadarias abertas, por exemplo. Todo conjunto destas
291 formas da construção urbana recuou das ruas e praças 292
para o interior dos edifícios, em consonância a uma
característica típica de nosso tempo, a agorafobia.[...]
Sem levar em conta os antigos limites de De acordo com a proposta de Camilo Sitte É justamente na utilização externa de motivos
propriedade
arquitetônicos interiores (escadarias, galerias etc.),
No projeto de Camilo Sitte para Hannover vê-se sua tomados como um todo, que consistia a essência do
preocupação com a ocupação anterior da cidade, em encanto das cidades antigas e medievais.”
redesenhar as vias sem destruir a trama das
propriedades. Essa técnica de urbanização é utilizada A discussão atual sobre a insegurança nas favelas,
hoje nos projetos de urbanização de favelas, decorrente das poucas entradas e saídas e da
procurando-se não demolir casas, especialmente se existência de muitos cantos e becos, pode ser
forem de alvenaria de boa qualidade. Trata-se de referenciada aos comentários de Sitte a respeito de
explorar a forma urbana criada a partir dos atributos áreas fechadas, as quais, segundo ele, inspiram
naturais do terreno, estratégia defendia pelo urbanista sentimentos de pertencimento e de resistência, de luta
com muita propriedade: pelo direito àquela localização por parte de seus
moradores:
"Citemos aqui uma observação das mais procedentes e O posicionamento de Geddes no caso de Tanjore, em
também mencionada por Baumeister. Foi publicado no Madras, confrontando-se com a proposta, inspirada
Figaro parisiense de 23 de agosto de 1874 o seguinte em Haussmann, de fazer uma malha viária ortogonal,
relato sobre a viagem do marechal Mac-Mahon: destruindo muitas casas e desconsiderando as vias
Figura 6.15 'Rennes não é particularmente antipática ao marechal, existentes, ilustra bem sua disposição de criar um
Estudo sobre aldeias na mas, de qualquer modo, esta cidade não é capaz de ambiente de cooperação e não de confrontação nas
Índia, de Patrick entusiasmo algum'. Reparei que isso acontece com ações sobre esses assentamentos. Sua proposta de
Geddes
todas as cidades dispostas em sistema de acessos em Tanjore reforçava as vias
linhas retas, onde as ruas são existentes e implicava a demolição apenas das casas
rigidamente perpendiculares umas
às outras. A linha reta não permite
que estavam em ruínas ou muito deterioradas, e de
alguns quintais. Além de ter um impacto bem menor
Figura 6.16
a ocorrência de agitações. Assim, sobre a estrutura do assentamento e sobre a Estudos sobre projeto de
esgotos para Barcelona,
em 1870 se observou que as comunidade, o custo das obras seria reduzido para de Saturnino de Brito
cidades construídas com absoluta um sexto do custo do projeto original.
regularidade podiam ser tomadas Arrebalde de barcelona
por três únicos soldados, enquanto O posicionamento de Geddes em Planta A - Traçado Artístico
que as cidades antigas, repletas de favor de uma intervenção de
ângulos e curvas, estavam sempre pequena escala, não invasiva e
prontas a se defender até o fim." participativa antecipa as políticas
(Sitte, 1992:95). que advogam a consolidação e
19
urbanização dos assentamentos.
Essa leitura humanista depara-se Há uma intenção de fortalecer a
com a virulência da sociedade comunidade cívica com seu espaço
desigual. Em algumas favelas próprio.
atendidas pelo Programa Favela-
Bairro ocorreram conflitos entre Goldberg, 1996, afirma que um
grupos de vendedores de drogas e dos fatores que têm inibido os
moradores por causa das obras, programas de melhoria de 0 100 400
que estão facilitando a entrada da assentamentos informais é a Metros
bibliográficas
Barcelona, 1975. Press, N. York, 1971.
ANDRADE, Carlos Drummond de, "Favelário MORRIS, A.E.J., "Historia de la forma urbana",
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ARANTES, Otília, "Uma estratégia fatal: a cultura
nas novas gestões urbanas", In "A cidade do
Referências
sobrevivência. Por outro lado, essa maleabilidade tem pesquisas sobre transporte.8 Assim, as ruas do entorno de casas, criação de habitats
familiares complexos, às vezes
suas implicações negativas, pois um adensamento comportam o estacionamento dos poucos veículos necessariamente com espaços
incontrolável pode causar a perda dos espaços de uso existentes. para oficinas, freezers,
cozinhas amplas, com
É fundamental lembrarmos a 7 coletivo. Com as obras de urbanização, esta estrutura ausência da sala (a miniatura
importância da presença neste espacial tende a ficar mais demarcada, devido ao A leitura da favela como um espaço em contínua do living - espaço de viver -
locais de estruturas de justiça e
tratamento dado aos pisos e limites das quadras, mutação, que pode continuar se expandindo modernista). Exemplos disso
combate à violência contra o são os projetos Senhor dos
espaço e a vida do outro, minimizando esses riscos. horizontal ou verticalmente, ou se transformar em Passos, em Belo Horizonte, de
sendo imprescindível, nesse conseqüência de ações no seu espaço público ou no 1995, Vila Popular, em
sentido, a ação do Estado no domínio privado, é sinal evidente de sua não Diadema, também de 1995,
provimento da educação e do O fato de a favela ter uma expansão e um da USINA, projetos
acesso aos serviços públicos e adensamento paulatinos dá a ela uma expressão transitoriedade, pelo menos para seu morador. Em relacionados a
na fiscalização do uso e
física diferente dos assentamentos planejados. A todas as favelas que são urbanizadas verifica-se o remanejamento e
ocupação do solo, no caso do aumento no número de obras de reformas para urbanização, como o projeto
ambiente construído. Essas forma natural do terreno é levada em consideração para a favela Serrinha, no Rio
ações é que, integradas, pelos ocupantes na definição das áreas a edificar e na melhoria e ampliação das casas.9 As imagens já de Janeiro, de M. Roberto, e
podem dignificar a vida da
locação dos acessos; acidentes geográficos e anexadas ressaltam a melhoria e o cuidado com o outros do Programa Favela-
população carente. Bairro, com necessidades
elementos naturais são mantidos, com a ocupação se acabamento das casas de favelas urbanizadas. De específicas coletivas, e os
desviando dos matacões, dos córregos, das árvores de acordo com as possibilidades econômicas de cada projetos de Paulo Bastos para
porte. Como observou Rapoport, 1988:52, "em um, é verdade, o ambiente construído da favela vai urbanização e equipamentos
em favelas, de 1999.
assentamentos espontâneos as alternativas, os ganhando uma volumetria mais movimentada e
307
constrangimentos e as escolhas feitas são informais e também diferentes cores, além do vermelho do tijolo e 308
não baseadas em teorias e modelos instituídos do cinza do bloco de concreto e da telha de cimento
explicitamente". O espaço resulta de muitas decisões amianto.
de muitas pessoas ou grupos, distribuídas no tempo.
Não há restrições abstratas à construção do espaço, De qualquer modo, o processo de urbanização, desde
como códigos de obra ou legislação de parcelamento sua reivindicação até a elaboração do projeto e a obra
do solo. - o mundo concreto -, necessariamente é um trabalho
coletivo. A inclusão dos favelados neste processo,
Bastos (2000) encontrou na população moradora de permitindo-lhes arbitrar, ou pelo menos palpitar,
favelas em que desenvolveu projetos, inúmeros sinais sobre seu destino, gera, sem dúvida, um diferencial
de valores culturais da comunidade e do bairro, tais civilizatório, pois, como bem observou Hobsbawn,
como as comidas, a música, elementos decorativos no 1995:222-23:
interior das casas, desprezados pela cultura de
consumo de massas, mas importantes para dar "Argumento teológico e propaganda à parte, o debate
identidade e coesão a esses grupos sociais. entre os liberais e socialistas hoje é, não sobre o
mercado sem controle versus o Estado que tudo
controla. Não é sobre ser a favor ou contra o
planejamento econômico, que existe tanto em
economias capitalistas quanto em socialistas -
nenhuma grande corporação poderia funcionar sem
ele -, e não é sobre ser a favor ou contra a empresa
pública ou gerenciada, que até os liberais do mercado
sempre aceitaram em princípio. É sobre os limites do
capitalismo e do mercado sem controle da ação
pública. Para falar de outra maneira, é sobre os fins da
política pública, ou , se preferirem, sobre as
prioridades necessárias da ação pública. Os
socialistas não aceitam, nem podem aceitar, a visão de
Adam Smith segundo a qual a busca do auto-interesse
produzirá resultados socialmente otimizados, mesmo
quando admitem que ela pode maximizar a riqueza
material das nações - o que só acontece em
circunstâncias específicas. Não podem acreditar que a
justiça social possa ser alcançada simplesmente pelas
operações de acumulação de capital e pelo mercado, e
concordam com Vilfredo Pareto: uma sociedade que
não tem lugar específico para a justiça social e para a
moralidade não pode sobreviver.”
309 310
ARANTES, Otília, "Uma estratégia fatal: a cultura
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Jornais
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Conferências
BASTOS, Paulo, maio de 2000, na FAUUSP, e junho
de 2000 em Campinas.
O
L
U
T
Í
P
A
C
8. Contribuição
para o
desenvolvimento
de projetos
e obras
em favelas
Neste capítulo apresento recomendações para o
desenvolvimento de projetos e obras de urbanização
de favelas, embasada na reflexão sobre as
experiências registradas nos capítulos anteriores.
Trata-se da consolidação de um método de trabalho,
considerando também suas possíveis variantes,
decorrentes das diferentes situações abarcadas pela
palavra favela.
Uma contradição a discutir e aprofundar é o fato de se Duas soluções típicas se apresentam nestes casos,
adotar no país o sistema de concentração dos esgotos podendo ser escolhidas através de uma análise
em pontos de lançamento onde não existem estações específica. A primeira é a construção de um coletor
de tratamento. Assim, sob o aspecto da qualidade da único no fundo do vale, que receba a contribuição da
água, cada vez que dotamos de rede uma favela ou favela e do bairro e a afaste. Se este coletor for de
um bairro, aumentamos o lançamento de carga porte muito grande, devido à bacia contribuinte - o
orgânica concentrada em um ponto de um curso que acarretaria uma obra de grande porte na favela,
d'água, tornando mais difícil a autodepuração. O com necessidade de grandes equipamentos e grande
tratamento local dos lançamentos, por cada número de remoções -, pode-se optar por interceptar
comunidade ou conjunto habitacional - tal como a o esgoto do bairro nas ruas acima da favela,
indústria tem de tratar seus efluentes antes de jogá-los executando-se um coletor separado no fundo do vale
na rede pública -, poderia ser uma solução mas somente para a favela, que lançará os esgotos no
esbarra na escassez de terrenos. coletor de maior porte a jusante, numa cota
compatível.
A favela precisa ser analisada quanto à sua inserção
no sistema de coleta e tratamento de esgotos da Vale lembrar que, comumente, as casas da favela que
cidade - existente ou projetado. No Brasil, e em boa estão nestes locais mais insalubres - beira de córrego,
parte do mundo, é adotado o sistema separador fundo de vale, sobre dutos - são barracos de madeira
absoluto de esgotos, que condiciona a separação e outros materiais. São, na verdade, as casas mais
física dos esgotos e águas servidas da drenagem precárias da favela e onde comumente moram
pluvial. A favela não deve ser tratada de maneira pessoas em condição psicossocial mais
diferente: sua infra-estrutura deve ser compatível com desestruturada - alcoólatras, idosos solitários,
a existente ou proposta para o restante da cidade. deficientes físicos e mentais -, o que exigirá uma ação
Embora a grande maioria de nossas cidades não mais cuidadosa e concentrada para a viabilizar sua
tenha tratamento de esgoto, e às vezes nem mesmo realocação.
um projeto de interceptação e tratamento de esgotos,
ao desenvolvermos um projeto de urbanização de
favela devemos buscar sua compatibilização, mesmo
futura, com os sistemas.
8.3.4.
A INTEGRAÇÃO PROJETIVA
Os pontos baixos de uma cidade - seus fundos de vale Quero aqui destacar alguns aspectos que reforçam a
- são os locais preferenciais para a implantação de necessidade, para o sucesso do processo de
coletores-tronco de esgoto. Há porém duas situações urbanização da favela, de uma prática projetual
que se apresentam como obstáculos à implementação integrada, do diálogo entre vários profissionais na
de projetos de urbanização, devendo seriamente ser busca das melhores soluções.
enfrentadas. A decisão de criar novas vias ou alargar as existentes,
o que implica demolições e, portanto, desalojar
A primeira, quando a favela foi implantada após a pessoas, tem como conseqüência o aumento dos
331 execução de uma rede coletora, às vezes de grande custos financeiros e sociais da obra, o que pode 332
porte, no fundo do vale, o que acaba inviabilizando a inviabilizar o projeto. Por outro lado, não se pode
manutenção desta rede e muitas vezes danificando-a. deixar de resolver os problemas sanitários, de
Além disso, sendo obrigados a lançar seu esgoto fora acessibilidade de bens e serviços às moradias e de
da rede coletora, os moradores tornam inócuo, sob o conforto dos moradores. O urbanista também deve
aspecto sanitário e epidemiológico, o sistema criar condições de operação e manutenção dos
implantado, pois permanece assim, na favela e a serviços de infra-estrutura propostos para a área. Não
jusante dela, o contato direto das pessoas com o pode ser uma intervenção tímida, que mantenha ou
esgoto, o que a rede coletora busca evitar. Neste caso, apenas alivie superficialmente as condições de vida na
o projeto de urbanização tem de realocar as casas que área.
estão causando esta obstrução. Dois fatores são preponderantes para embasar a
definição do traçado do sistema viário e das ruas a
A segunda situação difícil são as favelas que estão criar ou alargar: a viabilidade da implantação e
localizadas em fundos de vale de bairros que não têm operação da rede de esgoto e da retirada do lixo
rede coletora, ou têm apenas parte dela, nas ruas, domiciliar. Assim, a melhor solução urbanística será a
lançando-se o esgoto no córrego dentro da favela. que melhor atender essas necessidades. O urbanista,
portanto, deve trabalhar em conjunto com os outros
O p r o j e t o d e d r e n a g e m
projetistas de forma a responder às suas
necessidades, questionar suas exigências, verificar se
Em favelas onde há córregos coloca-se o dilema:
são operacionais ou apenas normativas, e integrá-las
canalização por dutos fechados ou a céu aberto? A
ao projeto. Não podemos esquecer que, neste caso, a
decisão tem de ser tomada com bom senso, pois se
forma de operação e manutenção dos sistemas de
por um lado a canalização fechada diminui o número
coleta de esgoto e do lixo é o mais importante. É
de casas a remover, ela apresenta alguns
indispensável que os projetistas tenham um bom
inconvenientes: sua execução exige mais e maiores
conhecimento da operação dos sistemas e que haja
máquinas e, o que é mais grave, é difícil de ser
contatos com as instituições responsáveis.
mantida periodicamente. É também deseducadora,
pois o morador acaba por se esquecer de que há um
8.3.5. córrego embaixo da rua. Ademais, a canalização
fechada desperdiça um recurso de grande valor
ESPECIFICIDADES paisagístico que é a água.
Limpeza/desentupimentos
Levantamentos complementares e
adaptações de projeto Uma obra de urbanização pode durar muitos meses e
A favela apresenta uma dinâmica social e física muito até anos. Neste período, as obras já executadas já
grande, ao passo que os procedimentos do setor estarão em uso, enquanto em outros trechos as obras
público para contrato de projetos e obras são quase estarão sendo executadas ou por executar. É um
sempre morosos. Assim, quando a empreiteira vai desafio para longo prazo conseguir a manutenção
iniciar as obras, é comum a constatação de novas posterior das obras pelos setores responsáveis, mas é
casas ou ampliações, mudanças na topografia bem mais difícil garantir essa manutenção durante as
decorrentes de chuvas e escorregamentos etc. Outra obras, quando os setores responsáveis ainda não
situação comum é a descoberta, durante o processo aceitaram e cadastraram a área e a incluíram em suas
de abertura das valas, de redes não cadastradas pelos rotinas. O mau uso, especialmente das redes de
órgãos responsáveis, e por isso não consideradas no esgoto e drenagem, poderá acarretar entupimentos,
desenvolvimento do projeto. O contrato deve prever a obstruções e até o colapso das redes executadas. De
possibilidade de a própria empreiteira realizar estes nada adianta prever a educação sanitária e ambiental
levantamentos, que vão subsidiar as adaptações de dos moradores se não se assegura que a empreiteira
projeto. se encarregará de refazer e manter as redes enquanto
estiver no canteiro.
Transporte de mudanças
A mudança das famílias, seja para abrigo provisório,
casas de parentes ou para a nova residência Última
construída para elas, deve ter sua viabilidade
garantida, com a previsão, no contrato da obra, da
8.5.Advertência
execução deste serviço - caso o poder público não
tenha disponibilidade de fazê-lo com seus próprios
recursos. Desde a elaboração do projeto deve-se requerer a
339 criação de uma forma de fiscalização e controle dos 340
Demolição parcial e fornecimento de espaços permeáveis e impermeáveis, dos acessos a
materiais para remanejamento veículos, do espaço público em geral. O projeto de
Quando é necessária a demolição parcial de uma urbanização, ou seu "as built", deve ser entregue aos
cerca, muro, ou mesmo de parte de uma casa da setores de cadastro municipais e aos gestores de
favela para executar a urbanização, é preciso haver serviços públicos, em especial aos setores que
uma solução pré-negociada com os moradores. Sem analisam os projetos de parcelamento e edificação da
essa negociação prévia e a definição da solução do cidade legal, para que os assentamentos urbanizados
problema é comum a obra parar, pois nem o morador passem a ser considerados como parte integrante da
abre mão de uma indenização, nem o poder público cidade e para que os projetos privados possam
havia previsto isso. fortalecer as formas de integração urbanística e a
eficiência dos serviços públicos. O acesso ao serviço
Uma solução bastante prática é a previsão, no de correio, por exemplo, deve ser viabilizado
contrato da obra, da possibilidade de a empreiteira rapidamente.
executar a demolição do trecho acordado e fornecer o
A forma de organização dos direitos de posse e uso
deve ser cooperativa, mediante condomínios. Assim é
mais fácil adaptar a titulação às mudanças, ao
crescimento de edificações de familiares ou grupos, e
também aos futuros arranjos das moradias existentes,
substituindo-as por casas sobrepostas ou tipologias de
pequeno gabarito.
341 342
FINAIS
Há uma muralha legal contra a regularização e a (maioria dos casos implantados), tornam-se gestores do dia
manutenção urbana das favelas, mesmo quando a dia, garantindo o acesso pleno aos serviços públicos,
urbanizadas. A justiça formal do estado de direito burguês diferenciados quando necessário (como, por exemplo, a
criminaliza o brasileiro que vive em condições precárias e coleta de lixo, cujo volume aumenta com a urbanização).
"fora" do mercado de terras e habitação. Os terrenos privados podem ser objeto de usucapião
urbano ou serem adquiridos pelo poder público ou com seu
Há, portanto, uma urgência de direitos sobre os financiamento.
assentamentos informais. Essas terras são invadidas sim,
mas sob condições que justificam sua posse. Portanto, sua A regularidade urbanística é viável se as favelas forem
manutenção urbana deve ser adequada e o adensamento consideradas áreas especiais de interesse social e portanto
populacional deve ser orientado e fiscalizado (com sujeitas a normas de urbanização específica, como já vem
alternativas de habitação para a família que cresce). sendo feito em diversas cidades.
Para isso é necessário que o poder municipal aprove a A urbanização de favelas poderá trazer algum ônus para o
criação de logradouros públicos, para que sejam morador?
agregados à manutenção urbana, apesar de os lotes não
terem titulação. Isso dará obrigação ao Estado (e a pressão McHarg, 1971,1 ao estudar o impacto socioambiental de
da sociedade criará vontade política). projetos, desenvolveu indicadores de seus custos, benefícios
s
e economias, numa crítica arrazadora aos engenheiros e
A saída encontrada pelo governo do Rio de Janeiro, de economistas frios e calculistas. Ele afirma que as decisões
i
transformar, por decreto, todas as ruas e vielas da acertadas de projeto fazem haver economias - não
comunidade em logradouros públicos e aí operar os desperdício de valores. Mas para ele há valores
a
serviços públicos, parece ser a que surte mais resultado. monetarizáveis e não monetarizáveis. Quanto custa morar
anos em um barraco de madeira inundável, ou ter que subir
n
Em São Paulo, a SABESP, concessionária ainda pública, tem e descer diariamente 200 degraus? Como valorar a
normatização para recebimento de redes, em acerto com as impossibilidade de ter uma moradia (uma unidade de 80
i
prefeituras, pelo menos na Grande São Paulo, melhorando m2 custa 230 reais de prestação mensal, em 15 anos, nas
a operação de água e esgoto e, indiretamente, a drenagem 1 MCHARG, Ian, "Design with
CONSIDERAÇÕES
áreas periurbanas entre São Paulo e Campinas)? Há como
f
e coleta de lixo da cidade e das comunidades. Há também nature", National History
valorar todos os sofrimentos e constrangimentos advindos Press, New York, 1971.
normas contratuais específicas para as concessionárias de da condição da habitação precária e ilegal?
lixo em muitas cidades brasileiras, como São Paulo, Rio de 2 Cotação de R$ 1,787, em 29
Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Diadema e Em 1992, após dois anos de experiências com obras de
de julho de 2000.
Campinas, diferenciando forma e constância da coleta em urbanização monitoradas, a Prefeitura de São Paulo
s
3 Ler romance Paulo, Lins,
favelas. 2
estimou em 1.800 dólares (3216,6 reais) o custo médio da "Cidade de Deus", Rio de
urbanização de favelas. O custo do Programa Favela- Janeiro, 1996.
e
O importante a considerar é que se não houver Bairro, no Rio, era de 4.300 reais (2406,26 dólares) em
manutenção urbana e fiscalização para que não sejam 1998. O custo médio de urbanização de 16 favelas do
õ
executadas ampliações de casas sobre as redes, as áreas Programa Guarapiranga em 1998 foi de 3947,6 reais
voltarão a se deteriorar, ou seja, as condições de vida da
ç
(2209,06 dólares). Vale a pena?
comunidade voltarão a piorar.
Certamente temos de considerar todo um leque de valores -
a
As quadras poderiam organizar-se urbanística e legalmente culturais, sociais, históricos, comunitários - para comparar
sob a forma de condomínios. Por outro lado, se as o custo da urbanização com o custo da remoção. A
r
condições de vida melhorarem para toda a população - remoção dos favelados da zona sul do Rio em 1962 para a
Cidade de Deus,3 afastando-os dos benefícios urbanos e
e
minha utopia -, com o tempo haverão domicílios de pouco
valor para o mercado. Sendo a área em condomínio, o deixando-os à própria sorte, é uma experiência 40 anos de
d
coletivo poderá incorporar essas frações. Lotes com mais de segregação espacial a ser encarada. Por outro lado, um
343 um domicílio podem ser esboços de condomínios - processo de escolarização e de trabalho, através de 344
i
baseados em relações de amizade, compadrio e familiares mutirões remunerados, cooperativas de serviços, educação
- que no futuro podem se tornar pequenos edifícios, vilas. sanitária e ambiental, certamente pode otimizar a melhoria
s
da qualidade de vida proporcionada pelas obras urbanas
Para boa parte das favelas, em terras públicas ou estatais ou n (ainda mais aos olhos de quem mora em uma favela).
ilegalmente privadas (os antigos meandros do Tietê, por Inúmeros exemplos comprovam que a favela é um local
exemplo, hoje aterrados e ocupados), portanto devolutas, a receptivo e adequado a programas de inclusão - de
o
melhor saída legal é a concessão real de uso, que mantém o educação, cultura, renda, emprego, saúde.
terreno público mas torna o bem objeto de herança e e
c
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a b r e v i a t u r a s
Município de São Paulo
Estado do Rio de Janeiro comunitário de unidades Paulo
SEMPLA
CEDEQ habitacionais do FUNAPS, do PROFAVELA
Secretaria de Planejamento do
Centro de Desenvolvimento de Município de São Paulo dotação orçamentária e programa
Município de São Paulo
Equipamentos da Emurb, do Funaps de urbanização de favelas, do
SFH
Município de São Paulo Fundo de Atendimento à População Município de São Paulo, de 1979
Sistema Financeiro de Habitação
CEF Moradora em Habitação Sub- Profilurb
SP
Caixa Econômica Federal normal, da Prefeitura de São Paulo, Programa de financiamento de lotes
São Paulo
CEI de 1979 lotes urbanizados, de 1975
SVP
Campanha de Erradicação de FUNAPS-FAVELA PROLUZ
Secretaria de Vias Públicas do
invasões, de Brasília programa de financiamento de Programas de eletrificação de baixa
Município de São Paulo
CODESCO material de construção para renda
Term.
Companhia de Desenvolvimento em reconstrução de unidade Promorar
terminal
Comunidade do Estado da habitacional em favela, do FUNAPS, Programa de erradicação da sub-
UPC
Guanabara do Município de São Paulo habitação, de 1979
unidade padrão de capital
Cohabs GEU Favelas PROVER
URBANACOM
companhias estaduais ou Grupo Executivo de Urbanização de Projeto de Urbanização de Favelas
programa de financiamento de
municipais (caso de São Paulo, Favelas da HABI, da SEHAB com Verticalização do Município de
projeto e obras de urbanização de
Campinas e outras) de habitação GT São Paulo, ou Programa Cingapura.
DE
Favelas do FUNAPS, do Município de
Construcard Grupo de Trabalho PVC
São Paulo
financiamento pago nas lojas de HABI polivinil carbonato
USAID
material de construção por cartão Superintendência de Habitação RENURB
United States Aid
de crédito da CEF, de 1998 Popular da Secretaria de Habitação Companhia de Renovação Urbana
V.H.P.
Corafasp e Desenvolvimento Urbano do de Salvador
Vila de Habitação Provisória
d e
Conselho coordenador das Município de São Paulo RFFSA
Z.
associações de favelas de São Paulo IPT Rede Ferroviária Federal Sociedade
zona
DER Instituto de Pesquisas Tecnológicas Anônima
Zeis
353 Departamento de Estadas de do Estado de São Paulo RJ 354
Zona especial de interesse social
Rodagem, federal Marg. Rio de Janeiro
ELETROPAULO Avenida Marginal SABESP
l i s t a
empresa estadual de energia do MDF Companhia de Saneamento do
Estado de São Paulo, privatizada em
1998.
Movimento de defesa do Favelas
MSP
LISTA Estado de São Paulo
SAR
EMURB Município de São Paulo Secretaria das Administrações
Empresa Municipal de urbanização, MUD Regionais do Município de São Paulo
do Município de São Paulo Movimento Universitário de SATA
Es Desfavelamento Empresa de manutenção e limpeza
Espírito Santo MUF de aviões
ESP Movimento Unificado de Favelas SBPE
Estado de São Paulo ONU Sistema Brasileiro de Poupança e
FABES Organização das Nações Unidas Empréstimo
Secretaria da Família e Bem Estar PAD SC
Social do Município de São Paulo polietileno de alta densidade Santa Catarina
F I G U R A S
PARTE 1
Introdução
Figura I.1 Figura 3.9
Canudos vista do morro da obra de macro-drenagem na
favela favela 9 de julho, São Mateus,
M A P A S
Jornal das exposições da Pinacoteca do zona leste,
foto de Denise Penna Firme, 1992.
Estado "Fotografias 100 anos de
Canudos", realizada em 1997, a partir de
Figura 3.10
Alvim Horcades. Descrição de uma viagem Execução de casas para
a Canudos. Lilho Typograph Tourinho, remanejamento, após aterro,
Bahia, 1899. Col. Guita e José Mindlin. Favela 2 de maio, zona leste,
foto de Denise Penna Firme, 1992.
Capítulo 2 Figura 3. 11
A Favela no Município de São Paulo - Urbanização e unidades para
famílias em risco em mutirão,
dos anos 50 aos 90 Favela Vergueirinho, zona leste,
foto de Robson Martins.
Figura 2.1
Favela do Autódromo
sobreposição das obras de
urbanização e edifícios do Capitulo 4
Capítulo 2 Projeto Cingapura, Desenvolvimento dos métodos de ação e
A Favela no Município de São conforme Pequeno, 1995. projeto em favela
Paulo - dos anos 50 aos 90
Figura 4.1
Mapa 2.1 Capítulo 3 Rio de Janeiro em 1971 -
Município de São Paulo Localização das favelas
Favelas existentes segundo o
A Ação do Governo Municipal em removidas e seus locais de
Censo De 1973 Favelas de São Paulo entre 1989 e destino
f i g u r a s
1992 CHISAM, 1971.
Mapa 2.2
m a p a s
Município de São Paulo Figura 3.1 Figura 4.2
D E
Cidade da Criança, Jaraguá, Projeto de alojamentos da PMSP
Localização das favelas em
antes e depois das obras, de 1971,
relação à rede hidrográfica - São Paulo (CIDADE), 1971.
1987 acervo de Laura Bueno.
D E
Município de São Paulo leste, vista aérea da Espraiadas de 1996,
Ações em favela realizadas na urbanização nas ruas e vielas acervo LABHAB.
gestão do Partido dos sendo pavimentadas e interior
Trabalhadores 1989-1992 de quadra após as obras, acervo Figura 4.4
de Laura Bueno. Urbanização da favela Morro
d e
Mapa 2.4 Azul, Rio de Janeiro,
Município de São Paulo Figura 3.3 conforme Santos, 1979.
d e
Localização Das Favelas Do Vila Bela - aterro de terreno
Programa Cingapura sujeito a inundação e Figura 4.5
reconstrução em mutirão, Processo de urbanização da
Capítulo 3
L I S T A
l i s t a Foto de Robson Martins.
Figura 3.4
favela Brás de Pina, 1968
1969,
acervo de Sylvia Wanderley Casério de
l i s t a
A ação do governo municipal Heliópolis conjunto Delamare Almeida.
em favelas de São Paulo entre para relocação,
1989 e 1992 foto de Robson Martins. Figura 4.6
Projeto da favela do Gato em
L I S T A
355 Mapa 3.1 Figura 3.5 Niterói, UFF, 1982, 356
Município de São Paulo Conjunto Água Branca, Acioly, 1986.
Comparação entre as foto de Robson Martins.
administrações regionais e a Figura 4.7
estrutura regional da Habi em Figura 3.6 Projeto para a favela Cafezal
1990 mapa esquemático da em Belo Horizonte,
localização da favela Plambel, 1984.
Esperantinópolis,
Bueno Doutorado, 2000. Figura 4.8
Urbanização do Recanto da
Figura 3.7 Alegria, 1982-1986,
mapa esquemático da Bonduki, 1986.
localização da favela Índio
Peri, Figura 4.9
Bueno Doutorado, 2000. Favela da Maré: vista do trecho
sobre água, em madeira, e a
Figura 3.8 área consolidada, e diferentes
Miranguaba antes e depois formas urbanas,
das obras de macro- Del Rio, 1990.
drenagem,
foto de Robson Martins.
Figura 4.37
Vista geral da favela Santa
Figura 4.10 Figura 4.24 Lúcia II, 1999,
Folheto da Prefeitura de São Obras pontuais nas favelas acervo LABHAB.
Bernardo do Campo, 1991, Camargo Novo - pinguela
Tomé, 1992. precária, e Capitão Ulisses
urbanização parcial, São Paulo, Figura 4.38
Figura 4.11 1990, Urbanização da favela Jardim
acervo Laura Bueno. BoaBoa Sorte, desenho França, Figura 5.8
Alagados vista geral e projeto 2000,
de um trecho, de M. M. Roberto, Planta de urbanismo, com
foto de Laura Bueno. destaque das casas construídas
1973 e o executado, de 1980, Figura 4.25
Hereda, 1992. As ilustrações de CEPAM, 1982 com assessoria técnica,
demonstram a procura de Figura 4.39 LABHAB, 1999.
Figura 4.12 referenciais mínimos funcionais Praça nas favelas Alto do
para as vias, desconsiderando- Riviera e Jardim Boa Sorte, Figura 5.9
Nova Alagados, levantamento e desenho França, 2000,
projeto da AVSI, de 1994, se os códigos e convenções, Planta de urbanismo de Barão de
CEPAM, 1982. foto de Laura Bueno, 2000. Uruguaiana,
AVSI, 1994.
LABHAB, 1999.
Figura 4.13 Figura 4.26 Figura 4.40
Favela do Dique, Santos, em Rua Córrego dos Mello, limite Praça na favela Jardim Vista Figura 5.10
1993, entre o loteamento e a favela Alegre, Paisagem do Jardim Santa Lúcia
acervo Cid Blanco. Nossa Senhora Aparecida, que França, 2000. II e do bairro,
recebia os esgotos do bairro, foto de Elisângela Canto, 1999.
São Paulo, 1992 antes e depois Figura 4.41
Figura 4.14
das obras, Praça na favela Parque Amélia,
Reparcelamento dos barracos em Figura 5.11
Diadema, 1984, fotos de Robson Martins. fotos de Laura Bueno, 2000, desenho
Sub-bacia do córrego
fotos de Laura Bueno. FRANÇA, 2000. Guavirituba, destacando-se as
Figura 4.27 favelas, 1999,
Planta de situação e projeto LABHAB, 1999.
Figura 4.15 favela Walter Ferreira,
Núcleo Habitacional Barão de Capítulo 5
Pupo e Lopes, 1992. Figura 5.12
Uruguaiana, 1999, Condições de vida urbana e
acervo Labhab. Portões instalados pelos
Figura 4.28 qualidade habitacional em favelas moradores em vielas sanitárias,
Lixoduto de argamassa armada, urbanizadas 1999,
Figura 4.16 Rio de Janeiro. LABHAB, 1999.
Favela da Avenida Maria Luiza Rio de Janeiro, 1988 e Latorraca, 1999 .
Americano, antes e depois das Figura 5.1
Praia de Iracema, vista do mar, Figura 5.13
obras, Figura 4.29 Planta de urbanismo da favela
fotos de Robson Martins. destacando-se o Castelo
Sistema viário com drenagem e Encantado, Santa Lúcia II,
casas em risco, projeto de fotos de Laura Bueno, 1999. LABHAB, 1999.
Figura 4.17 urbanização de Santa Marta,
Kit ou padrão de energia, Rio de Janeiro, 1988. Figura 5.14
favela Monte Azul, São Paulo, Figura 5.2
Mercado de peixe na praia de Sub-bacia do córrego Iporanga,
foto Robson Martins. Figura 4.30 destacando-se as favelas,
Iracema e, ao fundo, os
Situação atual e projeto para o outdoors em frente ao Castelo LABHAB,1999.
Figura 4.18 Escondidinho, de Arplen Encantado,
Esgoto condominial - material Arquitetura e Construção,1995 fotos de Laura Bueno, 1999. Figura 5.15
de divulgação da CAERN, 1983, Rio de Janeiro, 1995. Planta de urbanismo do Jardim
acervo Maria Lúcia D'Alessandro. Figura 5.3 Esmeralda,
Figura 4.31 Planta de urbanismo do Castelo LABHAB, 1999.
Figura 4.19 Projeto para a favela Serrinha, Encantado, 1999,
Problemas detectados em redes projeto de M. Roberto, 1995, LABHAB, 1999. Figura 5.16
condominiais, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1995. Vista geral do Jardim Esmeralda
1998, Figura 5.4 junto ao córrego,
acervo IBAM. Situação em 1992, com o Jardim foto de Elisângela Canto, 1999.
Figura 4.32
Obras do Projeto Mutirão, Dom Fernando já implantado e a
Figura 4.20 Rio de Janeiro, 1995. área de bosque natural (futuro Figura 5.17
Canal executado no Rio de Jardim Conquista), e a situação Vista do Pão de Açúcar a partir
Janeiro, 1984, atual, do alto da Ladeira e placas de
357 Latorraca, 1999. Figura 4.33 358
LABHAB, 1999. acesso à área,
Escadas embargadas pelo POUSO,
Ladeira dos Funcionários, 1999, foto de Stella Herminia, 1999.
Figura 4.21 Figura 5.5
Favelas Jardim foto de Stella Herminia.
Jardim Conquista: situação Figura 5.18
Esperantinópolis, Penha, e habitacional precária e embrião Planta de uso do solo da
Jardim Rubilene, Santo Amaro, Figura 4.34 financiado, 1999, Ladeira dos Funcionários/Parque
em São Paulo, 1992, Coleta de lixo duas vezes ao LABHAB, 1999. São Sebastião,
acervo Laura Bueno. dia na Ladeira dos
Funcionários, 1999, LABHAB, 1999.
Figura 4.23 fotos de Stella Herminia.
Figura 5.6 Figura 5.19
Projeto dos muros, desenho de
Figura 4.35 Planta de urbanismo do Jardim Área até agora não urbanizada,
Lelé,
Fernão Cardim, projeto de Dom Fernando I e do Jardim foto de Stella Herminia,1999.
Latorraca, 1999. Conquista, 1999,
Jauregui,
acervo Cid Blanco. LABHAB, 1999.
Figura 4.23
Escadas drenantes projeto, Figura 5.7
modelo, execução e executado, Figura 4.36
Vila Olinda: viela transversal
Latorraca, 1999. Projeto para favela Jardim
e rua do córrego,
Floresta de Bastos,
foto de Elisângela Canto, 1999.
França, 2000.
T A B E L A S
PARTE 2
Tabela 2.9
Capítulo 6 PARTE 1 Município de São Paulo
Favela: uma questão também estética Situação das favelas na trama urbana
Introdução 1987
Figura 6.1 Tabela I.1
The lake, 1937, Figura 6.14 População moradora em assentamentos Tabela 2.10
de Lowry, Museu Lowry, Manchester. Estudo de parcelamento do solo ilegais Município de São Paulo
para Hanôver, respeitando-se os Países e cidades escolhidos Localização das favelas 1987
Figura 6.2 limites de propriedade
Favela Santa Madalena, em São existentes, Tabela I.2
Paulo, acervo Laura Bueno. por Sitte, Sitte, 1980 (1ª edição de 1889). Tabela 2.11
População residente em favelas Município de São Paulo
Regiões brasileiras Andamento do programa cingapura junho
Figura 6.3 Figura 6.15
Favela na zona sul de São Estudo sobre aldeias na Índia, de 1999
Paulo, Tabela I.3
por Geddes,
acervo Laura Bueno. População moradora em favelas Figura 2.1
Goldberg, 1996.
Capitais brasileiras Favela do Autódromo sobreposição das
Figura 6.4 Figura 6.16 obras de urbanização e edifícios do Projeto
Viela da cidade de Tiradentes, Adaptação no parcelamento para Capítulo 1 Cingapura
em Minas Gerais e na favela adequação às redes de Favela e Política de Moradia no Brasil
Miranguaba, em São Paulo, esgotamento, em Barcelona, Tabela 2.12
fotos de Laura Bueno e Robson Martins. por Brito, Brito, 1916.
Tabela 1.1 Município de São Paulo
Figura 6.5 Recursos financeiros federais para Projeto Cingapura primera licitação 1993
Figura 6.17
Córrego existente na cidade Adaptação no parcelamento para programas de habitação, 1995-1998
alemã de Freiburg e na favela adequação ao sistema de Orçamento/aplicação Tabela 2.13
Rubilene, em São Paulo, drenagem, em Belo Horizonte, Município de São Paulo
fotos de Laura Bueno e Robson Martins. por Brito, Brito, 1916. Capítulo 2 Abrigos provisórios em 1998
A Favela no Município de São Paulo -
Figura 6.6 Tabela 2.14
t a b e l a s
Cidade de Mértola, Portugal e dos anos 50 aos 90
Capítulo 8 Município de São Paulo
favela Nossa Senhora Aparecida, Evolução de diversos indicadores de
em São Paulo, Contribuição para o desenvolvimento Tabela 2.1 condições de habitabilidade em favela
fotos de Robson Martins e Laura Bueno. de projetos e obras em favela Município de São Paulo
Dados de habitação infra humana Tabela 2.15
Figura 6.7 Figura 8.1
Beco e portal em Genebra, Município de São Paulo
Observar o desnível entre a Tabela 2.2
Suíça, e na favela Ladeira dos soleira da casa e seu interior, Processo de ocupação do solo das favelas
Município de São Paulo
D E
Funcionários, Rio de Janeiro, na Castelo Encantado, foto de Laura
fotos de Laura Bueno e Stella Herminia. Número de barracos e favelas existentes Tabela 2.16
Bueno. em 1957 Município de São Paulo
Figura 6.8 Figura 8.2 Distribuição das favelas por período de
Rua de Paris, França e de Tabela 2.3 ocupação do terreno
Implantação de via de acesso às
favela em São André, casas, paralela à curva de Município de São Paulo
fotos de Laura Bueno. nível, favela Nossa Senhora Distribuição dos aglomerados do MSP Tabela 2.17
segundo a solicitação para a desocupação
d e
Aparecida, São Paulo, Município de São Paulo
Figura 6.9 acervo Laura Bueno. da área 1973 Domicílios em favela segundo posse de
Plantas da cidade de
Montepulciano, Itália e da equipamentos -1987 1993
Figura 8.3 Tabela 2.4
favela Nossa Senhora Aparecida,
Exemplo de (bem-vinda) ousadia Município de São Paulo Tabela 2.18
em São Paulo,
projetiva: rua em balanço na Favelas em 1957 e 1973
Sano, 1986 e Bueno e Hennies, 1995. Município de São Paulo
l i s t a
favela Ladeira dos
Funcionários, Rio de Janeiro, Número de domicílios em favela
Figura 6.10 Tabela 2.5
foto Stella Herminia.
Plantas da cidade de Pienza e Município de São Paulo Tabela 2.19
L I S T A
da favela Monte Azul, em São Pró água e pró luz - atendimento de 1979 Município de São Paulo
Figura 8.4
359 Paulo,
Detalhes construtivos conforme a 1981 Evolução do número de favelas segundo a 360
Sano, 1986 e Pupo e Lopes, 1992. orientação em canteiro de propriedade do solo
diferentes construtoras, de Tabela 2.6
Figura 6.11 drenagem em escadarias e Região Metropolitana de São Paulo
Plantas de Granada e Córdoba, Capítulo 3
vielas, Municípios que apresentaram favelas nos
na Espanha, e da favela Jardim fotos: In França, 2000, de Laura Bueno, censos de 1980 e 1991
A Ação do Governo Municipal em
Copacabana, São Paulo, acervo de Laura Bueno. Favelas de São Paulo entre 1989 e
Benévolo, 1983, Morris, 1984 e França, 1992
Tabela 2.7
2000.
Figura 8.5 Interior do estado de São Paulo
detalhes construtivos: Municípios que apresentaram favelas nos Tabela 3.1
Figura 6.12 acabamento de viela, detalhe do Município de São Paulo
Plantas de Argel, Argélia e da censos de 1980 e 1991
alinhamento e uso de pré- Responsáveis pela ação em favelas a partir
favela Vila Nosso Senhor dos moldado para cavalete de água,
Passos, Belo Horizonte, Tabela 2.8 de 1990
acervo Laura Bueno e França, 2000.
Benévolo, 1983, Plambel, 1996. Município de São Paulo
Favelas com concessão de direito real de Tabela 3.2
Figura 6.13 uso legalizada Município de São Paulo
Infra-estrutura instalada em Resultado da avaliação de risco em 240
Sintra, Portugal e Freiburg, favelas - 1990
Alemanha,
fotos de Laura Bueno.
Tabela 3.3
Município de São Paulo anexo 3.2
Removidos de áreas de risco de 1989 a Densidade habitacional bruta
1992
Favelas em que foram executadas obras
Tabela 3.4 de urbanização na cidade de são paulo na
Município de São Paulo gestão de luisa erundina.
Investimentos da habi em - % - 1989 a
1991 Favelas em que foram feitos os projetos de
urbanização na cidade de são paulo na
Tabela 3.5 gestão de luisa erundina.
Município de São Paulo
Número de famílias atendidas pela HABI Favelas em que foram feitos projetos Tabela 5.14
1989 - 1992 e/obras de reconstrução/verticalização das Densidade bruta das favelas pesquisadas
unidades habitacionais
Tabela 3.6 Tabela 5.15
Prefeitura de São Paulo Densidades de favelas urbanizadas ou de
Programa de urbanização de favelas - Capítulo 5 projetos de urbanização
1992, Custos de infra-estrutura em Condições de vida urbana e
porcentagem qualidade habitacional em favelas Tabela 5.16
urbanizadas Dimensões das favelas
Tabela 3.7
Prefeitura de São Paulo Tabela 5.1 Tabela 5.17
Programa de urbanização de favelas - Municípios Selecionados Moradores que ficam em casa
1992, Custos das obras na urbanização Porcentagem da população moradora em
de favelas na cidade de São Paulo na favelas sobre a população total Tabela 5.18
gestão de 1989/1992 Avaliação do planejamento urbano e
Dólares por família novembro de 1992 Tabela 5.2 ambiental
Renda familiar em reais Lista de gráficos
Tabela 3.8 Janeiro de 1999 Tabela 5.19
Prefeitura de São Paulo Casas reformadas após as obras Capítulo 2
Programa de urbanização de favelas - Tabela 5.3 (em porcentagem) A Favela no Município de São Paulo -
1992, Custos de urbanização de favelas Taxa de desemprego dos anos 50 aos 90
na cidade de São Paulo na gestão de Tabela 5.20
1989/1992, a partir de orçamentos de Tabela 5.4 Área construída e número de pessoas por Gráfico 2.1
projeto Renda familiar comprometida com as domicílio nas favelas Estado De São Paulo
Dólares por família novembro de 1992 despesas de luz e água Taxas de Crescimento Anual -
Tabela 5.21 1991/1980
Tabela 3.9 Tabela 5.5 Área construída e número de pessoas por
Prefeitura de São Paulo Moradores antigos e recentes domicílio em tipologias habitacionais
Programa de urbanização de favelas - diferentes
1992, Custos das obras na urbanização Tabela 5.6
de favelas na cidade de São Paulo na Situação fundiária e perspectivas de Tabela 5.22
gestão de 1989/1992 regularização das favelas pesquisadas Descrição do domicílio: número de
Dólares por família novembro de 1992 pavimentos, em % de domicílios
Tabela 5.7
anexo 3.1 Local da moradia anterior Tabela 5.23
Quadro da situação das obras de urbanização Características do lote, (metros quadrados)
de favelas da PMSP em dezembro de 1992 Tabela 5.8
Moradia de aluguel Tabela 5.24
Obras em andamento/execução por Modos de participação dos moradores,
mutirão Tabela 5.9 segundo as categorias propostas e o papel
Situação em dezembro de 1992 Serviços e equipamentos públicos avaliados desempenhado em relação aos projetos
Obras em andamento/execução por positivamente (em porcentagem) de urbanização, por comunidade
361 empreiteiras 362
Guarapiranga/licitação de obras em Tabela 5.10
andamento Avaliação positiva dos serviços executados
Prosege/licitação de obras em andamento feita pelos moradores que residiam no local
Obras com empresas contratadas ou antes das obras (em porcentagem)
editais publicados
Em preparação da licitação de obra Tabela 5.11
Prosege/em preparação de licitação de Grau de satisfação dos moradores em
obra relação a cinco serviços instalados
Projetos em andamento
Em preparação para licitação de obra Tabela 5.12
Prosege/projetos em andamento Densidades segundo legislação de Belo
Projetos com empresas contratadas para Horizonte
projeto
Obras em andamento/provisão de Tabela 5.13
unidades habitacionais Densidades em conjuntos habitacionais ou
Obra concluída/provisão de unidades loteamentos populares
habitacionais
Preparação para licitação de projetos