2014
IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS NA
ÁFRICA SUBSAARIANA:
Implantação, expansão e transnacionalização
Dissertação apresentada em
cumprimento às exigências do Programa
de Pós-graduação em Ciências da
Religião, para obtenção do grau de
mestre.
Orientador: Prof. Dr. Leonildo Silveira
Campos
CDD 289.9
A dissertação de mestrado sob o tílulo “ Igreja Universal do Reino de Deus
na África subsaariana: implantação, expansão e transnacionalização”,
elaborada por Adrien Gyato Bowane, foi apresentada em 02 de outubro de
2014, perante a banca examinadora composta por Prof. Dr. Leonildo
Silveira Campos (Presidente UMESP), Profª Drª Sandra Duarte de Souza
(Titular-UMESP) e Profª Drª Patrícia Teixeira Santos (Titular-UNIFESP).
RESUMO
ABSTRACT
The purpose of this paper is to show the implementation strategies and the
expansion of the Universal Church of the Kingdom of God (UCKG) in sub-
Saharan Africa, while taking into account the rapid growth of Pentecostalism in the
world and the context of religious trans-nationalization. The UCKG is a
Brazilian Pentecostal Church that emerged in 1977 and expanded into many countries
worldwide. It is present in 39 countries in sub-Saharan Africa concentrating mostly in
large cities. Several factors prove its growth and expansion in Africa, among other
factors syncretism, i.e., the ability to adapt to African culture. The other factors are:
social visibility (especially through the use of media and social assistance), the political
secrecy, the practice of exorcism, prosperity discourses, the friendship and partner-ship
with African governments, their anti-ecumenical attitude and the adoption of an
Episcopal organization. This paper brings some discussions regarding Pentecostalism
and neo-Pentecostalism in Sub-Saharan Africa, African Independent Churches (AIC)
and the presence of Christianity in Africa since the very beginning.
À CNPq pela concessão da bolsa, pois sem esse apoio financeiro não seria possível a
realização deste trabalho,
À minha mãe Apematowa Anzetaka Caroline e a toda minha família que está longe na
República Democrática do Congo,
À minha esposa Aline Conceição Nascimento, colega e amiga, pelo apoio e ajuda na
correção desse trabalho,
EJCSK: Église de Jesus Christ sur la Terre par son envoyé spécial Simon Kimbangu
8
SUMÁRIO
ABREVIAÇÕES..............................................................................................................7
SUMÁRIO........................................................................................................................9
INTRODUÇÃO.............................................................................................................12
9
1.3. O pentecostalismo no oeste da África..........................................................87
1.3.1. Igreja Assembleias de Deus de Burkina Faso...................................90
1.3.2. Igreja Pentecostal do Gana................................................................92
1.3.3. Pentecostalismo em Benim................................................................96
1.3.4. Pentecostalismo no Togo.................................................................100
2. Neopentecostalismo na África...........................................................................102
2.1. Surgimento e expansão do neopentecostalismo.........................................102
2.2. Contexto histórico-social da década de 1990.............................................105
2.3. Neopentecostalismo na África ocidental....................................................107
2.3.1. Neopentecostalismo na Nigéria.......................................................107
2.3.2. Neopentecostalismo na Costa do Marfim........................................114
2.4. Neopentecostalismo na África central........................................................118
2.4.1. Neopentecostalismo na RD Congo..................................................118
2.4.1.1. Mamãe Olangi e a emancipação da mulher........................123
2.4.1.2. Arcebispo Kutino Fernando...............................................124
2.4.2. Neopentecostalismo no Gabão........................................................125
2.4.3. Neopentecostalismo em Camarões..................................................128
2.4.4. Neopentecostalismo em Congo-Brazzaville....................................130
3. Pentecostalismo brasileiro na África.................................................................132
10
1.4. A IURD em outros países anglófonos........................................................172
1.4.1. A IURD no Quênia..........................................................................172
1.4.2. A IURD em Gana............................................................................172
1.4.3. A IURD em Gâmbia........................................................................173
2. Estratégias de implantação e expansão.............................................................174
2.1. A visibilidade social...................................................................................174
2.2. A política da discrição................................................................................176
2.3. O imaginário, rituais e discursos................................................................176
2.3.1. O imaginário....................................................................................178
2.3.2. O exorcismo.....................................................................................180
2.3.3. O discurso da prosperidade..............................................................182
2.4. A IURD e a política....................................................................................183
2.5. Uma Igreja episcopal..................................................................................184
2.6. O sincretismo iurdiano................................................................................184
2.7. A IURD e outros atores religiosos..............................................................187
3. Futuro da IURD na África subsaariana............................................................190
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................193
BIBLIOGRAFIA.........................................................................................................199
Anexos:
Mapas da África
África subsaariana.........................................................................................................229
Religiões na África........................................................................................................231
Islã na África.................................................................................................................232
11
INTRODUÇÃO
1
Veja Tabela 5, p. 224-225.
12
profundidade nos seguintes países: Angola, Moçambique, Cabo Verde, Costa do
Marfim e África do Sul.
A escolha desse tema não se refere à polêmica que a IURD causa no cenário
religioso brasileiro (relação conflituosa com a TV Globo e com a Igreja Católica; a
fortuna de Edir Macedo; e recentemente a construção e inauguração do Templo de
Salomão). O que estimula a analisar esse tema é o seu crescimento na África e no
mundo, assim como a complexa relação que ela tem com a política em alguns países
onde opera. Tudo isso em um processo mais amplo de globalização econômica, política
e cultural.
2
Paul FRESTON, The Universal Church of the Kingdom of God: A Brazilian Church Finds Sucess in
Southern Africa, 2005.
13
André Mary, analisando a implantação iurdiana na Costa do Marfim e no Gabão aponta
suas seguintes estratégias de implantação e expansão: visibilidade social, beneficência,
práticas de libertação e exorcismo, anti-ecumenismo, diabolização das RTA, política da
discrição e rotatividade dos pastores3. Claudio Furtado, Pierre-Joseph Laurent e
Charlotte Plaideau analisam a IURD em Cabo-Verde e concluem que o seu discurso é
bem acolhido pela classe média emergente; e que a IURD aconselha os pobres do País a
lutar para sair da situação em que se encontram e vencer. O seu sucesso está também na
prática de orar pelos milhares de cidadãos cabo-verdianos que estão em exílio.
3
André MARY, Le pentecôtisme brésilien en Terre africaine. L’universel abstrait du Royaume de Dieu, p.
463-478.
4
André MARY e Laurent FOURCHARD, Introduction. Réveils religieux et nations missionnaires, p.10.
5
Ibid., p. 10.
6
Ibid., p.11.
14
A transnacionalização religiosa segue junto com a vontade de expansão que
transcende as fronteiras do Estado-Nação e participa do imaginário básico da
mundialização. Essas religiões ou Igrejas transcendem as fronteiras das nações para
reinventarem seu produto religioso (o discurso, os objetos sagrados e os símbolos) e
atender as novas demandas. Essa transnacionalização ainda de acordo com André Mary,
passa pela “circulação internacional dos agentes religiosos e a abertura midiática sobre o
mercado dos recursos simbólicos”7. Ela depende das redes religiosas, dos fluxos
migratórios e da política entre as nações.
7
Ibid., p.12.
8
Ibid., p.13.
9
Ibid., p.14.
10
Ibid., p. 17.
11
Ibid., p. 18.
12
Kali ARGYRIADIS e René DE LA TORRE, Présentation générale et méthodologie: les défis de la mobilité,
p.14.
15
da intensa circulação de significados religiosos e de sua descontextualização no quadro
de uma competição crescente, que as transformam em significados globalizáveis
suscetíveis de ressemantização e de reapropriação local” 13. A transnacionalização nesse
caso leva os agentes religiosos a reinventar o conteúdo de seu produto, a fazer novas
adaptações e reapropriações, sempre atentos à demanda religiosa atual e ao contexto
político-econômico internacional.
Para melhor adentrar neste trabalho, é preciso definir alguns conceitos que serão
utilizados ao longo da análise: Cristianismo, pentecostalismo, neopentecostalismo,
Igrejas Independentes Africanas e Religiões Tradicionais Africanas.
13
Ibid, p. 16.
14
Mircea ELIADE e Loan P. COULIANO, Dicionário das Religiões, p.102.
15
Allan ANDERSON, El pentecostalismo. El Cristianismo carismático mundial, p.23.
16
Ricardo MARIANO, Neopentecostais. Sociologia do novo pentecostalismo no Brasil, p.36.
16
tem com a comunidade humana, com a natureza e com as forças invisíveis
(especialmente os Antepassados e o Criador). Na visão de mundo africana, o ser
humano faz parte da natureza. Na sociedade tradicional africana, não havia separação
entre o sagrado e o profano. Não havia distinção entre cultura e religião, entre ser
humano e natureza. As RTA são essencialmente étnicas, isto é, cada etnia tem a sua
maneira de se organizar e de se relacionar com os Antepassados. Atualmente, existe
cerca de duas mil etnias na África (juntando a região do Magreb e o a África
subsaariana). Nas RTA, inclui-se a medicina tradicional e o rito de iniciação. Não se
pode confundir as RTA, com a bruxaria ou o fetichismo. A bruxaria é uma prática que
causa mal, sofrimento, doença e mesmo a morte do outro. A bruxaria não promove a
vida e a saúde, mas as destrói. É contrária às RTA. Essas são por sua vez anteriores a
todas as grandes religiões na África.
As Igrejas Independentes Africanas são Igrejas (IIA) são Igrejas fundadas por
africanos, fruto da ruptura com as Igrejas missionárias (Católica e Protestantes) durante
a colonização. Elas surgiram essencialmente dentro do Protestantismo e a maior parte
de seus líderes era catequista. Elas se caracterizam pela luta contra a colonização, o
desejo de colocar em diálogo a cultura africana e o Cristianismo e valorização dos
negros na África. Não se pode confundi-las com o pentecostalismo clássico na África
apesar delas surgirem e se implantarem na mesma época.
Falar da IURD na África leva-nos a falar dos principais atores com que ela
disputa o mercado religioso no continente. Esses atores são: as Igrejas pentecostais e as
Igrejas Independentes Africanas (IIA). As IIA são a reação ao Cristianismo colonial.
Achamos importante apresentar esse tipo de Cristianismo e ir mais longe a fim de
apresentar brevemente a presença cristã no continente africano desde suas origens. Cada
17
período está ligado a outro. O surgimento, o crescimento e o desaparecimento de uma
forma do Cristianismo estão ligados ao modelo anterior ou com fatores histórico-sociais
respectivos.
18
neopentecostais africanas. Com a liberalização religiosa na maior parte dos países
africanos na década de 1990, houve explosão religiosa em todo continente (seja nos
países de maioria islâmica ou cristã). Nesse capítulo, analisam-se especificamente as
principais Igrejas pentecostais e neopentecostais africanas, e suas estratégias de
implantação e expansão. Se o Cristianismo se implantou de fato no continente africano
na colonização, que marca a transnacionalização com relação Norte-Sul, mas com o
surgimento das IIA, a chegada das novas Igrejas pentecostais, há um movimento
inverso, eixo Sul isto é, não somente a chegada de agentes religiosos do Norte, mas do
Sul: latinos americanos (especialmente brasileiros) e asiáticos (sul coreanos). E no nível
interno, a circulação de agentes religiosos africanos de um país para outro, e a
exportação de seu produto para fora do continente, especialmente para a Europa e EUA
seguindo a rota migratória.
19
poder e do diálogo com a cultura africana). Á última parte desse capítulo será dedicada
especialmente ao horizonte e o futuro da IURD no continente.
20
CAPÍTULO I: CRISTIANISMO NA ÁFRICA ANTIGA
Introdução
21
simbólica da colonização. As IIA são as primeiras Igrejas a estabelecer o diálogo entre a
cultura africana e o Cristianismo, isto é, aderir à fé cristã sem renunciar a cultura
africana e iluminar a cultura africana a partir dos Evangelhos. As IIA surgem em toda
África subsaariana, especialmente na África do Sul, República Democrática do Congo,
Quênia, Nigéria, e Costa do Marfim. Depois da independência dos países africanos, as
IIA foram as primeiras a exportar o seu produto religioso para as antigas colônias e em
outros países da Europa e EUA, seguindo a rota migratória.
Depois da ressurreição, Jesus ordenou aos seus discípulos ir pelo mundo para
pregar o Evangelho (Reino de Deus) a todas as nações, converter e batizá-las, ensiná-las
a observar os mandamentos (Mateus 28,16-20). Durante o Pentecostes (Atos dos
Apóstolos 2,1-13), havia os habitantes do Egito, Líbia e Cirene que se encontravam na
Palestina. O elemento principal do Pentecostes é que Jesus mandou o seu Espírito para
capacitar os discípulos a fim de pregar o Evangelho a todas as nações. Esses, sendo
judeus, falavam em línguas e povos diferentes ali presentes os entendiam (Atos dos
Apóstolos, 2,1-4). Felipe, um dos discípulos de Jesus se encontrou com um eunuco
etíope no deserto. Pregou-lhe o Evangelho e o batizou (Atos dos Apóstolos 8,26-40). O
eunuco era um alto funcionário da rainha da Etiópia. Provavelmente, os egípcios, líbios,
habitantes da Cirene e eunuco etíope em sua volta, foram os primeiros a trazer
Evangelho de Jesus nessa região.
22
mudando o critério para ser cristão. Não se trata mais de fazer a circuncisão e o respeitar
estritamente às prescripções de Torá como no Judaismo, mas ser livre e ter somente fé
em Jesus Crucificado17.
1.1. Egito
No Egito, entre os século III a.C e II d.C, além dos egípcios, viviam pessoas de
diversas origens, entre elas gregos, judeus e romanos. Jesus de Nazaré viveu durante o
reino no imperador Tibério (14 a.C-37d.C). Antes da chegada dos seguidores de Jesus
na região, “os egípcios veneravam Isis e Osiris, com a esperança à salvação” 18. Além
da religião tradicional dos egípcios, haviam grupos que praticavam o maniqueísmo e o
gnosticismo. Na mesma região, existia uma colônia judaica antiga. Na época de
Ptolomeu Filadelfo (281-246 d.c), a Bíblia judaica foi traduzida para o grego, sendo
chamada de “Septuaginta”. Os aristocratas falavam o grego e as populações simples o
copta. O Egito tinha como capital Alexandria, reconhecida como grande centro cultural
e intelectual do mundo greco-romano.
17
Mircea ELIADE e Loan P. COULIANO, Op. Cit., p. 105.
18
S. DONADONI, O Egito sob domínio romano, p.205.
23
(249-251) e Deocleciano (244-313), muitos cristãos foram assassinados por que se
recusavam a participar do culto ao Imperador. O culto consistia “em queimar alguns
grãos de incenso como saudação ao Imperador” 19.
19
Ibid, p. 208.
20
S. DONADONI, Op. Cit., p. 208.
21
Tekle T. MEKOURIA, Op. Cit, p. 435.
22
Ibid, p. 429.
23
Renato Viana BOY, Debates sobre a natureza do Cristo no Oriente no primeiro milênio e sua relação
com a crise iconoclasta, p.2.
24
no Egito. Alexandria se tornou um grande centro filosófico e teológico, dialogando
diretamente com Constantinopla. Ali se encontrava a famosa Escola Catequética, com
objetivo de colocar em diálogo o Cristianismo e o neoplatonismo. A filosofia grega
serviu como pano de fundo para a formulação dos primeiros dogmas sobre a natureza de
Jesus. Para resolver essas disputas teológicas, vários concílios foram organizados (por
exemplo, Calcedônia, Niceia).
24
Ibid, p. 209.
25
Ibid, p.208.
26
Lista completa dos Santos Padres e Doutores da Igreja disponível em
http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/pais_da_igreja/os_santos_padres.html, acesso 10/06/2014.
27
S. DONADONI, Op. Cit, p. 210.
25
Nesses monastérios, podiam-se encontrar “grandes organizações, proprietários
de terras, animais, oficinas, lojas e instalações agrícolas” 28. Havia uma população
numerosa nos monastérios, chegando a dezenas de milhares. Os monges, com a sua
teologia, alimentavam um espírito de resistência nos alexandrinos que sofriam as
pressões políticas e religiosas de Constantinopla29. O cristianismo floresceu nessa
região até a chegada dos árabes em 642. Com a chegada desses, houve uma drástica
redução do Cristianismo e levando até a sua extinção em algumas regiões, como
veremos mais adiante. Ainda hoje, esse modelo de Cristianismo continua através das
Igrejas copta e ortodoxa do Egito, que representam 10% da população.
1.2. Cartago30
28
Ibid, p.210.
29
Ibid, p. 212.
30
Cartago pode se situa entre a atual Algéria e Tunísia.
31
B.H. WARMINGTON, O período cartaginês, p.476.
32
Ibid, p. 476.
26
Segundo autores clássicos da Antiguidade, havia sacrifícios humanos em Cartago.
Os cartagineses cultuavam Baal-Hamon (deus da religião fenícia). Hamon significa
“ardente”, deus solar. Mais tarde, ele foi sobrepujado pelo culto popular à deusa Tanit,
ligado à fertilidade. As representações grosseiras de Tanit, com braços erguidos
aparecem em centenas de Estelas em Cartago e em outras cidades. Os cartagineses
cultuavam também Astarte, Eshmoun e Melqart33. “Nos recintos sagrados, foram
descobertos urnas com ossadas, calcinadas de crianças, que frequentemente eram
enterradas aos pés das estelas (...). Isso leva a supor que havia sacrifícios humanos
oferecidos a Baal-Hamon (ou Tanit). As vítimas eram provavelmente as crianças do
sexo masculino” 34.
Essa prática caiu em desuso em 310 a.C. O que vale assinalar aqui é que a maior
parte dos nomes cartagineses possuía uma terminologia sagrada. Amílcar, por exemplo,
significa “protegido de Melqart”, Aníbal “protegido de Baal”. Além dos sacrifícios
humanos, havia ritual complexo envolvendo sacrifício de outras vítimas, que era
cumprido por um corpo de sacerdotes nomeados a título permanente35. Segundo
Warmington, apesar de seu contato com o Egito, os cartagineses parecem ter dado
pouca importância à ideia de vida após a morte, o que os aproxima dos primeiros
hebreus. Os cartagineses cultuavam também Deméter e Perséfone.
33
B.H. WARMINGTON, Op. Cit., p. 476.
34
Ibid., p.488.
35
Ibid., p. 489.
36
A. MAHJOUBI, O período romano e pós-romano na África do Norte. Parte I, o período romano, p.538.
37
Ibid., p.538.
27
da dignidade de flâmines perpétuos, sacerdotes que desfrutavam o privilégio de oferecer
ao casal (imperial) deificado, as preces e os votos dos habitantes da cidade” 38.
38
Ibid., p.540.
39
Ibid., p. 540.
40
Ibid, p. 540.
41
Ibid., p.540.
42
Ibid., p.542.
28
Segundo Mahjoubi, em 180 se dá o martírio de doze cristãos na cidade de Scilli. Esses
foram decapitados por ordem de procônsul e no ano 203, houve martírio de Santas
Perpétua, Felicidade e seus companheiros. Esses foram atirados aos animais na arena do
anfiteatro de Cartago43. Apesar do martírio, muitos cristãos mantiveram o fervor e o
zelo de sua fé e procuravam ardentemente morrer pela mesma.
A invasão dos vândalos (germanos), comandada pelo rei Genserico (406 d.C) veio
por fim ao domínio romano na região. Esses sitiaram Hipona em 430, quando morria o
bispo Agostinho. Em 470 d.C, os vândalos tinham o controle total do norte da África e
do Mediterrâneo44.
43
Ibid., p. 594.
44
P. SALAMA, O período romano e pós-romano na África do Norte Parte II. De Roma ao Islã, p. 549.
45
Ibid., p. 549.
29
1.3. Núbia46
O Reino Núbio era composto pelos três reinos Nobadia localizado ao norte,
Makuria que se encontrava no centro e por último Alodia ao sul. O reino da Nobadia
tinha como capital Faras, o de Makuria, Antiga Dongola e de Alodia, a capital de Soba.
A Núbia não pertencia ao Império Bizantino, mas tinha algumas relações. A missão do
padre Juliano e Longino constituía em evangelizar a região47. Por causa das escarmuças
entre os núbios e os árabes do Egito, os dois reinos se uniram (o do norte com o do
centro). O rei Merkurios sucedeu ao grande rei Kyriakos, a quem estavam subordinados
trintas governadores. Assim como os faraós do Egito, os reis núbios também eram altos
sacerdotes, não sujam as suas mãos com o sangue humano48. Além de intervir em
matérias de religião, desempenhavam certas funções religiosas.
Segundo vestígios encontrados por arqueólogos, essa região foi cristianizada desde
os primeiros séculos. Mas a conversão, oficialmente só se deu em 543. Assim como
nos mostra Michalowski: “A imperatriz Teodora de Bizâncio enviou o padre Juliano em
543 na Núbia e todos os reis foram batizados” 49.
46
Núbia se situa no atual Sudão.
47
K. MICHALOWSKI, A cristianização da Núbia, p.339.
48
Ibid., p.341.
49
Ibid., p.334.
50
Ibid., p.340.
51
Stefan, JAKOBIELSKI, A Núbia cristã no apogeu de sua civilização, p.233.
30
Os principais missionários que evangelizaram a Núbia foram o padre Juliano e o
bispo Longino. Com o desenvolvimento da religião cristã, várias catedrais foram
construídas, como Qars, Ibrim, Faras e Dongola. “Em 707, o bispo Paulos construiu a
catedral de Faras decorando-a com esplêndidos murais. Também a antiga Dongola,
vários templos forma construídos, cobertos de magníficas pinturas” 52. A Núbia cristã
foi marcada pela prospediade econômica,
31
Georgias III para se tornar monge. Anualmente, os cristãos faziam peregrinação para
Jerusalém a fim de visitar o túmulo de Cristo, considerado como um lugar sagrado. O
comercio na região se fazia na base do escambo, sem o dinheiro como intermediário
como na Alexandria. O rei Georgias da Núbia realizou duas viagens para Bagdá,
acompanhado de bispos cristãos e membros da corte a fim de fazer negociações
político-econômicas com o califato, porque, naquele momento, toda região era
dominada por muçulmanos. A primeira viagem foi em 835. O fato do rei, viajar com
bispos, pode levar a afirmar que já havia um processo de diálogo e negociação entre o
Islamismo e o Cristianismo.
32
e reunificou uma parte do território de Alódia. A quebra do poder dos reis e acesso ao
trono de soberanos não cristãos, os bispados viram-se desamparados e ainda longe de
Alexandria. Cortado do abastecimento em clero com Alexandria, o Cristianismo núbio
foi se extinguindo.
1.4. Axum64
Os grupos étnicos cuxitas (beja e aguew) adoravam seus deuses antes do contato
com a cultura judaica. Os deuses eram Mahrem, Beher e Meder. Mahrem era o deus
nacional, invencível68. Segundo a História dos Reis, o judaísmo teria entrado cedo em
Axum. Havia um grupo de axumitas, de origem judaica e professando a mesma fé. Os
indícios dessa presença são “a circuncisão e a excisão infantil, o respeito ao sabá. Os
cantos sagrados e as danças litúrgicas acompanhadas de tambores, sistros e palmas
evocam a dança dos judeus e do rei Davi diante da arca da aliança” 69. Nessa região,
havia povos de origens diferentes. Falava-se grego, sírio, gêes e amárico. É preciso
64
Axum é a atual Etiópia.
65
Tekle T. MEKOURIA, Axum cristão, p.427.
66
Ibid., p.436.
67
Ibid., p. 436.
68
Ibid., p. 426.
69
Ibid., p. 427.
33
notar que o gêes e o amárico eram línguas locais. Edésio era imrão de Frumêncio, eram
grego-fenícios. Foram apresentados ao rei Elle Ameda, para educar seus filhos a nova
religião. Frumêncio tornou-se secretário e tesoureiro da corte. Os dois chegaram em
Axum em 257 d.C. Em 315, Frumêncio voltou a Axum já consagrado bispo.
No século VI d.C, havia muitos judeus no sul da Arábia. Esses se refugiaram depois
da primeira destruição do Templo de Jerusalém por Nabucodonosor, rei da Babilônia
em 587 a.C. Outros também se abrigaram depois da destruição de 70 d.C. Milhares de
cristãos monofisitas perseguidos em Bizâncio e em outras regiões encontravam também
abrigo nessa região. Esses cristãos formaram uma poderosa comunidade religiosa em
cidade de Najran e Zafar. Nessa região, os nativos árabes eram adeptos a religião
tradicional, que consistia no culto à Lua. Todos (árabes, judeus e cristãos) viviam lado a
lado em Najran e Zafar. Com o crescimento demográfico e sobretudo económico
surgiram as rivalidades entre os cristãos, judeus e árabes. Depois de algum tempo, essa
disputa tomou uma conotação religiosa de injúrias e discriminações. Os cristãos
consideravam os judeus deicidas condenados às chamas do inferno, e os judeus
insultavam os cristãos, chamando-os de Goyim, gentios e pagãos, adoradores do
70
Ibid., p.429.
34
homem71. Os árabes se aliaram aos judeus contra os cristãos e os massacraram. O
massacre aconteceu em 523 quando o imperador Justino I governava Bizâncio e Caleb,
Axum.
71
Ibid., p.441.
72
Ibid., p.442.
73
Ibid., p.442.
74
Ibid., p.442.
75
F. ANFRAY, A civilização de Axum do século I ao século VII, p. 392 e 394.
35
Os muçulmanos começaram primeiramente a conquistar as ilhas do mar Vermelho e
estabelecer seus postos comerciais e construir mesquitas. Os habitantes da Etiópia
meridional se converteram ao Islã e formaram sultanatos que rivalizavam com a Etiópia
cristã. Esses sultanatos também guerreavam entre si em busca da hegemonia regional.
Os principais são: Shoa, Ifãt, Damut, Adal76. Por causa das lutas fratricidas, o sultão
Dil-mãrrah, derrotado em 1278 se asilou junto ao Negus da Etiópia cristã77. Se alguns
sultões se refugiavam na Etiópia cristã depois de serem derrotados por seus inimigos,
houve várias guerras nos séculos XIV-XV entre cristãos e muçulmanos, onde os Negus
alcançaram muitas vitórias. Mas em 1475, um dos negus da Etiópia, Eskender, foi
derrotado e morto pelo sultão de Adal, Shams d-dîn ibn Muhammad, que supostamente
foi vencido78.
76
Enrico CERULLI, As relações da Etiópia com o mundo muçulmano, p. 676.
77
Ibid., p.678.
78
Ibid., p.683.
36
2. Cristianismo Colonial
A África subsaariana teve dois contatos com a Europa. O primeiro se deu durante as
viagens dos exploradores portugueses a partir do século XV e o segundo, durante a
colonização propriamente dita no século XIX.
Esse período está caracterizado pelo comércio das especiarias, que vinham do
Extremo Oriente,
De acordo com Malowist, “do ponto de vista dos historiadores, o período que vai
de 1450 a 1630 foi marcado, na sua maioria dos países europeus, em particular,
naqueles do Oeste e do Sudoeste, por uma formidável expansão econômica, política e
cultural” 80. Inicialmente Portugal foi atraído pelo ouro da África subsaariana e
exportava para os países islâmicos e europeus. Não obstante, eles não tardaram a
perceber que a África possuía outra mercadoria, também fortemente procurada pelos
79
M. MALOWIST, A luta pelo comercio internacional e suas implicações para a África, p.1.
80
Ibid., p.2.
37
europeus: os escravos. Em 1451, os portugueses chegam a Senegâmbia e começam a
traficar os escravos. Entre o século XV e XVI, para comprar ouro e escravos, os
portugueses formavam feitorias (postos) nas costas do continente: Costa do Ouro, Axin,
Shema, Acra, Elmina, Arguin, etc. Só mais tarde é que os demais europeus (franceses,
ingleses, holandeses, etc) aderiram a essa aventura e começaram a disputar a instalação
de feitorias ao longo do litoral do continente. Em diversas viagens ao litoral africano, as
embarcações portuguesas possuiam: exploradores, comerciantes, soldados e
missionários.
81
Joseph Abraham LEVI, A missionação em África nos séculos XVI-XVII. Análise de uma atitude, p. 441.
38
reino a parte. Nessa parte, será apresentada brevemente a presença cristã no reino
Kongo.
O reino Kongo foi cristianizado entre 1482-1700. Depois dessa data, não se sabe
bem da continuidade deste Cristianismo até a chegada dos europeus no século XIX para
a colonização efetiva. O reino Kongo tinha seis províncias, Soyo, Mpamba, Nsundi,
Mpango, Mbata e Mpemba. E fazia fronteira com outros reinos, Ndongo, Matamba,
Loango, Ngoyo, Dembe e Kakongo82. O explorador português Diego Cão chega à foz
do rio Kongo no dia 24 de abril de 1482 e manda um grupo de portugueses até Mbanza
Kongo, capital do reino, para se encontrar com o rei Nzinga-a-Nkuwu. Segundo
Joseph Abraham Levi, como esses demoraram em voltar, Diego Cão capturou alguns
nativos e foi junto com eles para Portugal. Depois de três anos, voltou de novo para a
África acompanhado de nativos que havia capturado e com um padre para dar início a
evangelização do reino.
Ainda segundo Joseph Abraham Levi, apesar do rei ser receptivo ao catolicismo
mais do que qualquer outro rei africano, as missões católicas no Kongo tiveram curta
duração. As rivalidades fraternas entre os herdeiros do trono, Nzinga-a- Mvemba e o
seu rimão mais novo Nzinga-a-Mpanzu, acabaram com todas as atividades missionárias
nessa área85. Nzinga-a-Mpanzu era inimigo da fé cristã. Antes da morte do rei Nzinga-a-
Nkuwu, esse abjurou o Cristianismo, rejeitando o nome cristão de “João” e tomou
partido do filho mais novo. O rei morreu em 1507 e os dois pretendentes ao trono
82
Lucas CAREGNATO, Entre terras do Ngola e do Manikongo: Descrição dos reinos do Kongo e Ndongo
no século XV, p.6.
83
Alguns autores escrevem “Nzinga-a- Mvemba” ou “Mvemba-a-Nzinga”, trata-se de Afonso I, filho do
rei Nzinga-a-Nkuwu. Esse foi o primeiro a se encontrar com portugueses.
84
Joseph Abraham LEVI, Op. Cit, p. 446.
85
Joseph Abraham LEVI, Op. Cit, p. 447.
39
lutaram para a sucessão, que culminou com a derrota de Nzinga-a-Mpanzu. Nzinga-a-
Mvemba (Afonso I) tornou-se rei e governou durante 47 anos, ou seja de 1507 a 1554.
86
Jan VANSINA, O reino do Congo e seus vizinhos, p.657.
87
Ibid., p. 659-660.
88
António Custódia GONÇALVES, Op. Cit, p. 532.
89
Ibid., p.533.
90
Ibid., p.533.
40
os feitiços, assim como faziam os missionários91. Mandou construir templos e escolas
em todo território do reino Kongo.
91
Ibid., p. 534.
92
Ibid., p. 690.
93
Ibid., p.691-692.
94
Ibid., p.700.
95
Ibid., p.536.
41
Ainda segundo Gonçalves, “Kimpa Vita morria e ressuscitava toda semana” 96.
“Morrer” era uma prática na sociedade kongo que acontecia no rito de iniciação. Os
iniciados eram desvinculados de sua personalidade anterior. E “ressuscitar” consistia em
um ritual realizado em noites de lua cheia, durante o qual, os iniciados se
comprometiam à vida, ao trabalho, à formação da família e recebiam um novo nome.
Segundo ele, Kimpa Vita realizava milagres, as mulheres que não podiam engravidar,
tornavam férteis. Kimpa Vita se apresentava como uma revolucionária. Em sua aldeia,
instaurou uma hierarquia entre os antonianos. Instituiu a coerção física contra os
marginais e recalcitrantes97.
Segundo Ogot, a história da religião na África entre o século 1500 e 1800 está
marcada pelo declínio do Cristianismo na Etiópia e no Congo e o crescimento e
96
Ibid., p. 536.
97
Ibid., p. 537.
98
Ibid., p. 699. “Nganga” pode ter significação diferente, dependendo do contexto no qual é usado:
Nganga nkisi (feiticeiro ou curandeiro) e Nganga Nzambe (em kikongo e lingala, línguas bantas).
42
expansão do Islamismo na África de Oeste e Sudão do Norte99. O cristianismo que se
implantou no Congo no século XVI, cresceu e se expandiu, o seu declínio começou com
o fim do reino Kongo e o seu desmembramento no século XVII. Na Costa da Guiné
inferior, o Cristianismo foi introduzido pelos holandeses e ingleses. Começaram por
criar escolas elementares em seus castelos na Costa do Cabo, Elmina e Accra. Nos
meados do século XVIII, os missionários haviam sido enviados para a Costa do Cabo
pela Sociedade para a Propagação do Evangelho. Alguns nativos foram enviados para
Europa a fim de estudar, de volta, se tornaram professores e missionários100.
99
B.A. OGOT, A história das sociedades africanas de 1500 a 1800: Conclusão, p.1067.
100
Ibid, p. 1067.
101
Albert Adu BOAHEN, A África diante o desafio da colonização, p.1.
43
No entanto um fato escapava aos africanos, em 1880, graças ao
desenvolvimento da revolução industrial na Europa e ao
progresso tecnológico que ela acarreta - a invenção do navio a
vapor, das estradas de ferro, do telégrafo e sobretudo da
primeira metralhadora, a Maxim-, os europeus que eles iam
enfrentar tinham novas ambições políticas, novas necessidades
econômicas e tecnologia relativamente avançada102.
Dessa vez, os europeus não queriam apenas trocar bens, mas exercer controle
político direto sobre a África. O objetivo essencial das autoridades coloniais continuava
a ser a exploração dos recursos africanos, fossem animais, vegetais ou minerais, em
benefício exclusivo das potências metropolitanas, principalmente de suas empresas
comerciais, minerais e financeiras. Deve-se mencionar aqui que a colonização foi um
sistema desumano e racista, que gerou opressão e morte na África inteira (do Magred e
ao sul do Saara), excepto a Etiópia e Libéria.
102
Ibid., p. 7.
103
Kofi Asare OPOKU, A religião na África durante a época colonial, p.596.
104
Ibid., p. 596.
105
Ibid., p. 597.
106
Tshishiku TSHIBANGU, Religião e evolução social, p.613.
44
Os missionários europeus e americanos guardadores de um forte
domínio sobre as Igrejas por eles fundadas, eles eram mais
próximos, no pensamento e nos atos, dos funcionários coloniais
e dos colonos europeus, comparativamente aos seus colegas,
assistentes e párocos africanos107.
Os estabelecimentos religiosos (templo, hospitais, escolas, plantações) faziam
parte da estrutura colonial, que os movimentos independentistas e africanos tentavam
descolonizar. Ainda segundo Kofi Asare Opoku, “a instauração do domínio colonial
ajudou consideravelmente a obra dos missionários” 108. Ele avança quatro motivos,
107
Ibid., p. 613.
108
Kofi Asare OPOKU, Op. Cit, p. 610.
109
Ibid., p. 610-611.
110
Ibid., p. 611.
111
Tshishiku TSHIBANGU, Op. Cit, p. 612.
112
Ibid., p. 612.
113
Kofi Asare OPOKU, Op. Cit, p. 612.
45
o único salvador da humanidade e a Igreja cristã era o único meio para alcançar a graça
divina e salvação. O proselitismo dos missionários cristãos está relacionado ao fato
deles se declararem detentores da verdade.
114
Ibid., p. 612
115
Ibid., p. 612.
116
Ibid., p. 612.
117
Ibid., p. 612.
118
Ibid., p. 613.
46
convertidos, depois criticou e rejeitou a pregação de missionários, alegando que esses
estivessem falsificando a fé cristã, como o fez Kimpa Vita no século XVII no reino
Kongo, que fundou a própria Igreja. Esse grupo queria adaptar o Cristianismo à cultura
africana. É assim que surgiram as Igrejas Independentes Africanas em todo território da
África subsaariana.
119
Ibid., p. 613.
120
Ibid., p. 613.
121
Ibid., p. 611.
122
Tshishiku TSHIBANGU, Op. Cit, p.613.
47
2.2.2. Africanização do Cristianismo
123
Ibid., p. 613.
124
Ibid., p. 614.
48
como “as religiões africanas como fonte de valores civilizatores”, “a Igreja católica e a
civilização negra” 125. No campo protestante, líderes religiosos de várias denominações
empreenderam um esforço de trabalhar conjuntamente em níveis de pan-africanismo e
ecumenismo126. O Conselho Ecumênico de Igrejas realizou vários encontros de teólogos
africanos, um deles foi realizado em Abidjan (1969) 127 a fim de refletir sobre diversos
assuntos ligados ao Cristianismo na África. Segundo os teólogos, a religião tradicional
africana é uma preparação ao evangelho cristão128. O que marca uma grande mudança
em relação à postura dos missionários, que a considerava pagã e alheia à fé cristã. Além
de outras aborgadens, pode-se resumir três correntes de teologia na África:
125
Ibid., p. 614.
126
Ibid., p. 614.
127
Ibid., p. 614.
128
Ibid., p. 615.
129
Ibid., p.616.
130
Ibid., p. 616.
49
3. Igrejas Independentes Africanas131
“As Igrejas Independentes Africanas (IIA) são as religiões que nasceram na África
subsaariana, diferentes das religiões importadas (Cristianismo e Islão), são sincréticas e
proféticas” 132. Sincrética por misturar elementos do Cristianismo com os das RTA, e
profética, porque anunciavam o fim da colonização e a libertação dos negros. As IIA
são religiões fundadas na África, por africanos para africanos.
131
As Igrejas Independentes Africanas são chamadas também de Igrejas Separatistas, Igrejas do Espírito,
Igrejas autóctones ou de Cristianismo Africano.
132
Michel LEVALLOIS. Relatório sobre o debate sobre as Religiões Africanas (CADE), 28 de março de
2001, Bruxelas, In Congo Forum, Disponível:
http://www.congoforum.be/fr/congodetail.asp?subitem=37&id=8275&Congofiche=selected, acesso
17/03/2014.
133
Tshishiku TSHIBANGU, Op. Cit, p.626.
134
Hans KÜNG, Religiões do mundo. Em busca dos pontos comuns, p. 51.
135
Ibid, p. 51.
50
camponeses explorados, por motivos religiosos decidiram-se pelo
protesto. Sob liderança de chefes, ministros religiosos, professores
ou trabalhadores, eles começaram ganhar autonomia. Para esses
africanos, os missionários estrangeiros pareciam anunciar um falso
Deus, um Deus de opressão e de exploração. Por isso fundaram
igrejas livres africanas independentes. Agora, finalmente,
precisamente no culto divino, os africanos podem ser eles mesmos,
podem cantar e mover-se como estavam acostumados a fazer,
podem ter seus próprios apóstolos, profetas, médicos e pregadores
136
.
Nessas igrejas, os africanos poderiam se sentir eles mesmos. “Se sentir bem” e
“sentir-se você mesmo” dentro de uma comunidade religiosa é o ponto de partida de
uma religiosidade autêntica e libertadora. Não tem como a pessoa pertencer a uma
instituição religiosa contra a sua vontade ou porque ela lhe oferece segurança material e
espiritual (bens materiais e a vida eterna). Mas primeiramente, o fiel deve sentir-se bem,
emocional e espiritualmente. Sentir-se bem é o fruto de uma reflexão teológica local:
acolhida, falar na linguagem da comunidade, tocar os assuntos de atualidade dentro da
comunidade, valorizar as pessoas, dar-lhes a oportunidade de se expressar, celebrar na
própria língua, cantar e dançar usando os instrumentos musicais autóctones. O mais
importante é fazer com que a mensagem bíblica tenha incidência na comunidade.
As IIA estão espalhadas em toda África subsaariana 137. Ainda segundo Tshibangu
Tshishiku, o que possibilitou o crescimento e expansão dessas Igrejas foi a leitura e
tradução da Bíblia em línguas africanas. A partir daí, os cristãos africanos começaram a
comparar a mensagem pregada por missionários e o que eles mesmos liam diretamente
136
Ibid., p. 51-52.
137
A lista é longa. Para mais informação: Kofi, Asare OPOKU, A religião na África durante a época
colonial, p. 613-623. Exemplo de algumas Igrejas Independentes Africanas: país, nome, fundador e ano
da fundação, veja Tabela 1, p.216.
51
da Bíblia. Além de colocar ênfase nos aspectos de resistência, de contestação e
protonacionalismo destes movimentos, não se pode esquecer que elas Igrejas têm
aspectos mais positivos e inovadores: “a buscar por uma teologia africana, capaz de
conciliar os valores espirituais africanos e a inspiração Bílbica Cristã” 138. Como disse
Hans Kung, elas têm um aspecto essencialmente libertador. É o grito dos pobres e
oprimidos do sistema colonial de exploração e desumanização. Elas poderiam ser
consideradas centros de reavaliação das religiões e das teologias africanas, em razão de
elas terem renovado a temática humanista e o tratamento das questões no tocante a
santidade da vida e solidariedade139.
138
Tshishiku TSHIBANGU, Op. Cit, p. 626.
139
Ibid., p.626.
140
Ibid., p. 626-627.
52
socioeconômicas e à busca de novos caminhos espirituais. À procura de um novo
equilíbrio global na sociedade, os africanos demostraram a necessidade de reconstruir
seus sistemas religiosos de outrora, os quais lhes proporcionam todos os elementos
necessários, levando-se em conta a sua situação geral141.
O Movimento Roho começou entre o povo luo no oeste do Quênia como movimento
popular carismático entre os jovens da Igreja Anglicana. Os seus fundadores são Alfayo
Odongo Mango (1889-1934) e o seu sobrinho Lawi Obonyo (1911-1934). Esse
movimento foi caracterizado por muitas visões, curas e milagres. “Mango profetizó el
fin del colonialismo y hizo campaña a favor de que se restituyera a los luos la tierra que
les había quitado, también predicó contra ciertas costumbres de este pueblo
indígena”142. Mango instaurou o rito de batismo e de comunhão. Sua casa virou um
lugar de oração onde sairam vários missionários e evangelistas. Em 1934, um
missionário inglês anglicano, juntamente com os colonizadores assassinou Mango, Lawi
e seus sete seguidores. Desde então, a Igreja JoRoho (povo do Espírito) teve uma
vigorosa expansão no Quênia e nos países vizinhos como Uganda e Tanzânia. A Igreja
tinha ênfase no Espírito Santo (batismo do Espírito Santo e exorcismo), os líderes
religiosos e fiéis vestiam roupas brancas como símbolo de pureza. “Las iglesias Roho
mantienen que la muerte sacrificial de Mango expió sus pecados y abrió el Cielo para
los africanos. Oran a Mango llamándole “nuestro salvador” y su figura há inaugurado
una nueva era en el reinado del Espírito Santo en la África”143.
141
Ibid, p. 627.
142
Allan ANDERSON, El pentecostalismo. El Cristianismo carismático mundial, p. 138.
143
Ibid, p. 138.
144
Albert de SURGY, Le phénomène pentecôtiste en Afrique noire. Le cas beninois, p.9.
53
Nigéria. Hoje é uma das Igrejas mais populares em Benim e Nigéria. Expandiu-se em
vários países da África, Europa e América. Ela será analisada com mais detalhe adiante.
145
‘Mau’ em Kikuyu (Quênia), ‘mai’ em Lingala (RDC) significa água. ‘Mau-mau’ , traduzindo literalmente
significa água-água.
146
Outra milícia congolesa que luta pela defesa das terras e cessessão da província de Katanga.
147
Kofi A. OPOKU, Op. Cit, p. 613.
54
em 1892 foi nomeado catequista. Foi suspenso da Igreja ao questionar a proibição da
poligamia. Envolveu-se junto com seu povo, Grebo, na tentativa de se libertar da
opressão dos colonos ingleses e dos americano-liberianos. Na tentativa do golpe de
Estado, ficou preso entre 1909 a 1912. De acordo com o que dizia, foi dentro da cadeia
que recebeu do anjo Gabriel a missão de pregar o Evangelho e expulsar demônios. Ao
sair da prisão, começou sua missão. No sonho,
55
depois de batizar as pessoas de uma aldeia, mandava-as participar em culto das Igrejas
cristãs (protestante ou católica) mais próximas de suas casas. No caso de não haver uma
igreja ai por perto, designava doze pessoas para forma um grupo de oração a fim de
continuar a obra. Os missionários protestantes e católicos da região ficaram satisfeitos
pelo trabalho do Profeta, porque viram o número de fiéis aumentar assustadoramente.
Depois da pregação, Harris trazia paz e sossego às pessoas. Nunca falava de si próprio.
Era um homem humilde. Depois da pregação de Harris, se alguém continuasse ainda
guardando os feitiços, morria.
A Igreja Harrista é uma das quatro confissões religiosas que o Estado marfinês
reconhece legalmente. Faz parte do conselho ecumênico das Igrejas, desde 1998. E hoje
está presente em vários países africanos e do mundo, especialmente nos países como
Libéria, Serra Leoa, Gana e França. A sucessão era hereditária, mas a partir de 1994,
mudou e passou a ser por eleição. O primeiro a ser eleito como líder da Igreja foi Jacob
Cessi Koutoun. No dia 27 de julho de 2013, a Igreja Harrista completou o seu primeiro
centenário.
56
3.2. Exército da Cruz de Cristo
Geralmente conhecida na língua local como “Igreja Musama Disco Christo”, foi
fundada pelo profeta Jemisimihan Jehu-Appiah em 1919, na Costa do Ouro (atual
Gana). Appiah reorganizou o Cristianismo adaptando-o à cultura do povo Akan.
150
Kofi Asare OPOKU, Op. Cit, p.621.
151
Ibid, p. 622.
152
Igreja Sionista, ou Igreja Sião a exemplo do Monte Sião (Salmo 50,1; 87,1-7), monte sagrado no
judaísmo antigo. No salmo 87, 4: a Etiopia está entre as nações eleitas por Javé, entre as cidades de
Deus. Mas é no Monte Sião que todo homem nasceu (Salmo 87,5). Os autores escrevem de maneira
diferente a ‘Igreja Etíope’, em outros livros, ‘Igreja etiopia’ ou ‘etiópica’. “Etíope” se refere à Etiópia
cristã, Abissinia, símbolo de uma nação que não foi colonizada, uma nação independente. Em 1930,
Etiopia era vista como símbolo do nacionalismo e resistência ao colonialismo europeu.
57
Segundo G. Balandier, só na África do Sul, havia cerca de 800 IIA em 1945153.
Naquele tempo somente 8 que foram reconhecidas pela autoridade colonial. Em 1954,
havia 1.286 Igrejas Independentes sul-africanas154. Igreja Etíope faz parte do
messianismo sul-africano. Os seus líderes tiveram contato com a Igreja Metodista
Episcopa Americana, fundada nos EUA por negros e para negros. A Igreja Etíope tem
como lema: “África para Todos”. A sua doutrina se fundamenta a partir da
interpretação do Salmo 68,31: “Etiópia cedo estenderá as suas mãos para Deus e
Makone”. O que significa que a liderança da Igreja cristã será agora autóctone, isto é
africana155.
Eis algumas Igrejas Sionistas: “The Zion City Apostolic Church of South Africa, The
Zion City Apostolic Paulus Church in South Africa, The Zion Station Apostolic Church
of South Africa, The Zion Revelation Church of South Africa, Zion Christian Church e
Nazaretha” 157
. Nazaretha Church foi fundada por Isaiah Shembe, em 1911, na
província do Natal, no meio dos Zoulous. A Zion Christian Church foi fundada por
Ignatus Lekganyane, em 1912, no Norte de Transvaal. É fruto da ruptura com a Missão
de Igreja Livre de Escosa158.
153
Georges BALANDIER, Messianisme et nationalismes en Afrique Noires, p.9.
154
Jacqueline EBERHARDT, Messianisme en Afrique du Sul, p.34.
155
Ibid., p. 77.
156
Ibid., p. 77.
157
Ibid., p. 36.
158
Ibid., p. 37.
159
Georges BALANDIER, Op. Cit, p.9.
58
da antiga cultura diante dos europeus” 160. “O recurso à Bíblia favorece as construções
utópicas, a crença na salvação da raça negra guiada por profetas negros, que são
também fundadores de Igrejas" 161. O fundador é também considerado Messias, isto é,
aquele que vem restituir terras aos nativos que foram deserdados. Cada uma dessas
Igrejas tem uma cidade santa, comparada à Jerusalém, e interpretada como “cidade da
pureza religiosa e da justiça social” 162. O tipo etíope era aristocrática, mais organizada,
moderna e servia como campo das primeiras reivindicações dos nacionalistas. O tipo
sionista era mais popular e organizava várias manifestações contra o regime.
3.2.Igreja Kimbanguista163
O nome oficial dessa Igreja é “Igreja de Jesus Cristo sobre a Terra pelo Enviado
Especial Simon Kimbangu”. O kimbanguismo é uma mistura do Cristianismo com a
cultura kongo. Simon Kimbangu nasceu em 1889 na vila de N’kamba, de pais Kuyela e
Luezi. Pertencia a etnia Cingombe na atual província do Baixo-Congo. Ficou órfão de
pai e de mãe ainda pequeno e foi criado pela tia Kinzembo. Essa foi uma dos primeiros
“cingombe” a se converter à religião cristã. Kimbangu foi criado segundo a cultura
local e fez seus primeiros estudos em uma escola batista. Logo depois foi nomeado
professor na mesma escola e catequista de um templo da Igreja batista da vila. Além
dessas profissões, era também carpinteiro e agricultor. Em 1913, casou-se com Muilu
160
Ibid., p. 11.
161
Ibid., p. 11.
162
Jacqueline EBERHARDT, Op. Cit., p.55.
163
Esse texto é uma síntese da monografia que apresentamos na conclusão da disciplina de Estudos do
Protestantismo, segundo semestre de 2013.
59
Marie, com quem teve três filhos: Kisolekele Lukelo Charles (1914), Dialungana
Kiangani Salomon (1915) e Diangenda Kuntima Joseph (1918).
164
René DEVISCH, Les églises de guérison à Kinshasa. Leur domestication de la crise des institutions, p.
124 e 128.
165
Aurelien MUKOKO GAMPIOT, Kimbanguisme e identité noire, p.54.
60
alcóolicas, drogas e cigarros. O movimento de Kimbangu constituía uma ameaça à
administração colonial.
Como Harris, Kimbangu também não tinha pretensão de fundar uma nova Igreja,
depois da pregação e exorcismo, ordenava aos seus seguidores de frequentar as Igrejas
cristãs em suas respectivas vilas. Cerca de 500 pessoas o seguiam todos os dias. Essas
pessoas vinham da região do Baixo-Congo, Congo-Brazzaville e do norte de Angola.
Quando Kimbangu rezava e curava doentes, a multidão cantava e dançava com grande
fervor. Em pouco tempo, essa atuação teve impacto na região. Kimbangu foi acusado de
perturbar a ordem pública e simular milagres. Foi preso, junto com alguns de seus
seguidores mais próximo, após julgado, foi condenado à prisão perpétua. Foi logo
deportado do Baixo-Congo para Elizabethville (atual Lubumbashi) onde cumpriu pena
de trinta anos, morrendo na cadeia em 12 de outubro de 1951. Depois de sua prisão,
muitos de seus seguidores foram perseguidos, deportados e assassinados pela
administração colonial. Mas apesar disso, o movimento continuou clandestinamente e
penetrou em todo território nacional e se expandiu para Angola, Congo-Brazzaville,
Ruanda e Burundi. Em 1959, o Kimbanguismo foi reconhecido pelo governo colonial e
integrou o Conselho Mundial das Igrejas em 1968. Depois do reconhecimento oficial,
os três filhos de Kimbangu foram encarregados de dirigir a Igreja. Entre esses,
Diangenda foi escolhido como chefe espiritual (de 1959 a 1992). Foi ele que organizou,
estruturou, institucionalizou e modernizou a Igreja. Ele marcou profundamente a vida
da Igreja a tal ponto que sua vida e palavras tornaram dogmas e exemplo de vida para os
fiéis. A Igreja kimbanguista usa o lingala e kikongo166 como línguas oficiais e sagradas.
O kimbanguismo tem três fontes teológicas: a Bíblia, os cantos e a vida e palavras de
Papa Diangenda167.
166
Lingala e kikongo fazem parte das quatro línguas nacionais da RDC. Outras são Tshiluba e swahili.
167
Aurelien MUKOKO GAMPIOT, Op. Cit., p.99.
61
religioso, o Matsouanismo para a libertação nacional. Em 1968, Ne Muana Nsemi, atual
deputado nacional da RDC, começou um outro grupo político-religioso, Bundu Dia
Kongo168, querendo perpetuar a mensagem do Profeta. Ele se declara o verdadeiro
herdeiro de Simon Kimbangu.
168
Esse é o nome do Movimento, mas a Igreja tem como nome oficial, Igreja das Duas Testemunhas em
Ntimansi.
169
René DEVISCH, Op. Cit., p.125.
170
Aurelien MUKOKO GAMPIOT, Op. Cit., p. 235, 237, 240-241.
62
a dominação ocidental. Isso constitui sua razão de ser e sua missão principal. Ser negro
é ser kimbanguista. É preciso ter orgulho de sua condição racial. Na RDC, a Igreja
Kimbanguista possui escolas, hospitais espalhados no território nacional. Possui uma
emissora de rádio e de televisão, e uma universidade. A Universidade Simon Kimbangu
(USK) de Kinshasa oferece os cursos de direito, economia, ciências da computação,
medicina e agronomia. Tem uma faculdade de teologia que serve para a formação de
futuros pastores.
A Igreja do Cristianismo Celeste (ICC) foi fundada por Samuel Bilewy Joseph
Oschoffa em Porto Novo (Benim), em 1947. Os seus pais eram daomeanos de origem
yoruba (Nigéria). O pai de Oschoffa era analfabeto, carpinteiro e polígamo. Como
polígamo, teve 57 filhos, o mais velho é Emmanuel Mobiyima Oschoffa. Oschoffa
recebeu a educação metodista pelo amigo do pai dele, que era pastor. Mais tarde
começou a frequentar a Ordem Sagrada dos Querubins e Serafins, uma das Igrejas mais
antigas do movimento Aladura171, foi expulso dessa Igreja, pois tinha visões172. E
segundo André Mary, parece que foi expulso por causa de adultério173, com a mulher
chamada de Felicia Yaman174, que depois se tornará a primeira visionária na nova Igreja
fundada por ele. Viveu entre o Benim e a Nigéria, mas foi sempre atraído pela Nigéria,
terra onde sua mãe foi enterrada.
171
“Aladura” em árabe significa, os oradores, pessoas de oração ou oração. É um movimento que surgiu
do avivamento espiritual da Nigéria na década de 20. Desse movimento, saíram várias Igrejas, entre as
quais a Ordem de Querubins e Serafins, a ICC, etc.
172
Christine HENRY et Joël NORET, Le Christianisme Céleste em France et en Belgique, p. 92.
173
André MARY, Histoire d’Église: héros chrétiens et chefs rebelles des nations “celestes”, p. 156.
174
IDEM, Culture pentecôtiste et charisme visionnaire au sein d’une Église independente africaine, p.31.
175
Ibid., p.92.
63
sentido do comando (agbara) que eram exclusivamente para
chefes tradicionais e para babalaôs a fim de dirigir a grande
família eclesiástica 176.
Da Ordem Sagrada dos Querubins e Serafins, a ICC herdou a liturgia e a
organização. Emprestou quatro elementos fundamentais da doutrina dos Aladura: “a
pureza, oração, revelações por sonhos e visões, cura espiritual” 177. Em seu ritual, a
Igreja usa os seguintes objetos sagrados: água, óleo, pedra e perfume de São Miguel,
cruz e pedaço de panos, incenso, etc.
A ICC é da segunda geração das IIA. Não é uma Igreja dissidente ou separatista
das Igrejas históricas cristãs, mas nasceu da visão profética de Oschoffa. É uma Igreja
revelada178, pois Jesus e Maria apareceram várias vezes a Oschoffa. A própria Igreja se
declara “Igreja Cristã Primitiva”, porque “emana diretamente do Espírito Santo e da
Palavra de Deus, como se dá na Bíblia e é a síntese das religiões históricas
fundamentais: judaísmo, islã e protestantismo” 179. Oschoffa afirma que quando Jesus
lhe aparecia, tinha na mão a Bíblia e o Alcorão. A Igreja é a mistura dessas duas
tradições. Em sua essência a ICC é uma Igreja sincrética, pode ser encontrados
elementos da tradição judaica, cristã, muçulmana e da cultura africana (Fá).
Segundo Mary, o grande orgulho dos celestes e da hierarquia da Igreja é ter registrado
em sua história o encontro entre o Profeta Oschoffa e o Papa João Paulo II em Benim,
em 1982180. A ICC parece muito com a Igreja católica no que diz respeito ao ritual,
organização e administração. No seu calendário litúrgico, observam-se as festas do
Natal, Páscoa, Pentecostes, marianas (Natividade, Concepção, Assunção) e dos quatro
Arcanjos. A liturgia da ICC é intensa, inspirada, expressiva, com cantos e danças.
Durante os cultos, os fiéis fazem testemunhas e revelações. Os líderes religiosos vestem
batinas brancas e os fiéis também tem uma roupa especial para os cultos.
A ICC foi reconhecida oficialmente pelo governo colonial em 1956, teve sua
expansão a partir dos migrantes pescadores toffins em Makoko, periferia de Lagos, em
1950, e no mesmo ano chegou à Costa do Marfim, pelo amigo de Oschoffa, Nathanaël
176
IDEM. Afro-christianisme et politique de l’identité: l’Église du Christianime Céleste Versus Celestial
Church of Christ, p.50.
177
Christine HENRY et Joël NORET, Op. Cit., p. 92.
178
André MARY, Op. Cit., p. 30.
179
Ibid., p. 31.
180
Ibid., p.33.
64
Yansunnu181. Na Nigéria, foi reconhecida em 1958. Expandiu-se rapidamente em toda
África começando pela parte ocidental. Entrou na Europa em 1967 através de estudantes
nigerianos e atualmente está também na América do Norte (EUA e Canadá).
181
Christine HENRY e Joël NORET, Op. Cit, p.92.
182
André MARY, Op. Cit., p.51.
183
Ibid, p.35.
65
através de um dos Arcanjos durante a visão. O Espírito Santo revela ou comunica boas
notícias, palavras de libertação e de consolo ao visionário. Nem sempre vêm mensagens
de libertação durante a visão, Deus pode enviar um espírito demoníaco para provar a
pessoa. Diante da confusão que pode acontecer em identificar os espíritos do bem ou do
mal, é preciso o discernimento. São os evangelistas que detêm esse poder ou
supervisionam os visionários. Cabe ao visionário também descobrir os agentes do mal
na comunidade (pode ser parentes, vizinhos ou colegas) 184. Existem três tipos de visão:
divinatória, terapêutica e mística. Ainda Segundo Mary, a dimensão mística é pouco
explorada. Trata-se de uma experiência religiosa, de intimidade que o visionário tem
com o sagrado185. Segundo Mary, a visão é fonte de conhecimento religioso e secreto.
“A visão no cotidiano tem como objetivo esclarecer a origem da doença, da esterilidade,
o contexto de uma viagem, as causas do acidente, o não êxito em uma prova”. Na
cultura budu186 especialmente, consulta-se o visionário para saber a origem e a causa da
doença e da morte de um parente, antes de fazer qualquer coisa importante na vida
(buscar emprego, casar, construir a casa, viajar, organizar uma festa, caçar, fazer
machamba187, construir uma casa, etc.), é preciso ter a opinião do visionário.
184
Ibid., p.41.
185
Ibid., p.42.
186
Etnia no nordeste da RDC.
187
É a plantação, agricultura de produtos para o consumo (cereais, tubérculos, verduras, plantas, frutas,
etc.). É o trabalho manual de lavoura.
66
e cura é convidado a receber a unção de alagba, e de receber uma formação religiosa
específica188. Depois é consagrado em um rito especial no domingo.
Mary compara a ICC com o culto de Vodu (que faz parte das RTA) e afirma que
188
André MARY, Op. Cit., p. 45.
189
Ibid., p.51.
190
Ibid., p. 52.
67
Marfim, Gabão, Londres ou França. Durante as grandes celebrações mundiais no Benim
e na Nigéria, é preciso a presença da polícia ou do exército, para impedir os ataques de
adversários. Isso ocorre também durante as peregrinações, que a Igreja recebe os
celestes de vários países do mundo. Como o conflito chegou à esfera nacional, pediu-se
a intervenção do presidente Matthieu Kérekou para reconciliar as duas alas.
68
formação dos encarregados das paróquias, reafirmação da vocação mundial da Igreja:
consolidação da Cristandade, a evangelização da África e a abertura ao ecumenismo191.
191
Christine HENRY e Joël NORET, Op. Cit., p. 177.
192
Ibid., p.94.
193
Ibid., p.95.
194
Ibid., p.100 e 103.
195
André MARY, Op. Cit., p.55.
196
Ibid, p.55.
69
Conclusão
70
se pode falar do Cristianismo primitivo na África do Norte sem se referir à figura dos
teólogos: o bispo Agostino de Hipona e Tertuliano, e também da Escola Catequética da
Alexandria, como grande centro de produção do conhecimento, formulação dos
primeiros dogmas dessa religião, de interpretação do Cristianismo na perspectiva da
filosofia grega.
Com o advento do Islã (início do século VII) e sua entrada naquela região, houve
diminuição e extinção total do Cristianismo nos séculos anteriores. Se na antiga
Mauritânia, Numídia, Cartago e Líbia, o Cristianismo foi completamente extinto, ele
subsistiu no Egito, Etiópia e na Núbia. Na Núbia, o Cristianismo subsistiu até o século
XIV, graças a um acordo (baqt) entre o rei núbio e o sultão do Egito, que durou cinco
séculos (do século VII a XII). O desrespeito no cumprimento do acordo começou no
século XII, consequentemente causando a decadência do Cristianismo e a expansão do
Islã. Ainda hoje existem Igrejas Coptas e Ortodoxas monofisitas antigas no Egito e na
Etiópia. Sengundo The ARDA197, 10,09 % dos egípcios são cristãos e 59,88% dos
etíopes são também cristãos, sendo que a maioria é copta e ortodoxa. A Etiópia é um
dos raros países do mundo que conserva ainda o Cristianismo primitivo (copta).
197
Veja a Tabela 5, p. 224-225.
71
Tirando a presença cristã nos primórdios na África do Norte, o Cristianismo se
implantou de fato na África no século XIX, com a colonização de todo continente
exceto a Etiópia e Libéria. No século XIX, chegaram os missionários católicos e
protestantes para a evangelização. Os missionários pentecostais entram por sua vez no
início do século XX. É assinalado o surgimento de algumas Igrejas Independentes
Africanos já no fim do século XIX na África do Sul. A colonização consistia em ocupar,
dominar, explorar e povoar a África por europeus. A colonização foi uma dominação
completa do continente (no campo político, econômico, social, cultural e científico). Os
missionários europeus participaram ativamente na dominação cultural (incluindo o
religioso e o simbólico). Pela catequização, os missionários ensinavam os africanos a
obedecer aos colonizadores, a abandonar a religiosidade tradicional para aderir à nova
religião, abrindo assim o caminho para a dominação. Os missionários foram os
verdadeiros colaboradores dos colonizadores, na cristianização e europeinização
(ocidentalização) da África. Apesar desse papel negativo dos missionários, eles
trabalharam na alfabetização dos africanos, implantaram as primeiras escolas, os
hospitais e combateram pela primeira vez, as doenças tropicais como a malária,
introduziram e divulgaram novos produtos para agricultura (cacau, café, tabaco, algodão
e cana-de-açucar). Como a atuação desses missionários foi marcada pela opressão,
racismo e preconceitos, surgiram alguns líderes especialmente no meio protestante
reagindo e criticando esse modelo do Cristianismo. Esses abandonaram as Igrejas
mães, pregaram de aldeias em aldeias até formarem as próprias Igrejas. São as
chamadas Igrejas Independentes Africanos, conhecidas como movimento de
africanização do Cristianismo. As mais importantes são Igreja Kimbanguista, Igreja
Harrista, o Cristianismo Celeste, Igrejas Sionistas e Etíopes, o movimento Aladura da
Nigéria.
72
CAPÍTULO II: PENTECOSTALISMO NA ÁFRICA
Introdução
198
André CORTEN e André MARY, Imaginaires politiques et pentecôtismes. Africa/Amérique latine, p.11.
Trad. por Adrien Gyato Bowane.
199
Walter HOLLENWEGER, El pentecostalismo. Historia y doctrina, p. 371
200
Ibid, p. 371.
73
Ainda segundo Allan Anderson, não existe “um pentecostalismo”, mas
“pentecostalismos”. O acontecimento “Pentecostes” (Atos dos Apóstolos 2,1-13) é lido
e interpretado de diversas maneiras segundo as culturas e contextos históricos. Há
vários tipos de pentecostalismos: clássico, da cura divina e exorcismo, da renovação
carismática e o neopentecostalismo. O que aconteceu no início do século XX foi
reinterpretado tendo conta o novo contexto social, caracterizado pela globalização e uso
da mídia, é o surgimento do Neopentecostalismo. Longe de conceituação académica,
percebe-se uma necessidade espiritual dentro dos cristãos de reformar, contextualizar e
adaptar o Cristianismo ao longo desses vinte e um séculos de sua existência
(catolicismo-Igrejas Ortodoxas-protestantismo-pentecostalismo-neopentecostalismo e
várias outras Igrejas carismáticas e sincréticas).
201
Ricardo MARIANO, Neopentecostais. Sociologia do novo pentecostalismo no Brasil, p. 36.
202
Ibid, p. 36.
203
Walter HOLLENWEGER, El pentecostalismo. Historia y doctrinas, p.167; André CORTEN e André
MARY, Les imaginaires politiques et pentecôtismes. Afrique/Amérique Latine, p.14; Ludovic LADO, Les
enjeux du pentecôtisme africain, p.63.
74
A presença do pentecostalismo no continente africano pode ser entendida em
diferentes fases: a chegada do Pentecostalismo clássico no início do século XX, a
ruptura e surgimento do pentecostalismo africano, a pregação de evangelistas
estrangeiros de cura de divina na década de 1950 e 1960 (T.L Osborn), a implantação
do Movimento da Renovação Carismática, e a explosão de novas Igrejas pentecostais na
década de 1990.
204
Allan ANDERSON, Op. Cit., p. 127.
75
Esse pregou entre 1908 e 1912. De sua pregação, surgiram a Apostolic Faith Mission
(dos brancos) e Zion Christian Church (dos negros). Se essas Igrejas surgiram a partir
da pregação pentecostal e se identificam como pentecostais então são pentecostais e não
Igrejas Independentes Africanas. A Zion Christian Church é uma mistura do
pentecostalismo e elementos da cultura africana. Têm dezenas de milhares de adeptos
na África austral, especialmente nas camadas da população desfavorecida205. Além da
Igreja Assembleias de Deus, naquela época também se implantou a Igreja Apostólica da
Inglaterra. Ela cresceu na Nigéria e Gana.
Na análise sobre o pentecostalismo na África, será seguida a divisão feita por Allan
Anderson. Esse divide o pentecostalismo na África por três regiões: Igrejas no sul,
centro-leste e oeste da África. Em cada região tem um país ou dois países que serviram
como polo de implantação, de surgimento de novas Igrejas e de expansão do
pentecostalismo para países vizinhos e outras regiões.
205
Ibid., p. 63.
206
Ibid., p. 147.
207
Mélanie Soiron FALLUT. Les églises de réveil en Afrique centrale et leurs impacts sur l’equilibre du
pouvoir et la stabilité des États: le cas du Cameroun, du Gabon et de la République du Congo, p. 2. Trad.
por Adrien Gyato B.
76
1.1. O pentecostalismo no sul da África
208
Allan ANDERSON, Op. Cit., p. 131.
209
Ibid, p. 132.
77
A Igreja AFM é uma das maiores denominações pentecostais clássicas na África
do sul. Seus membros são brancos essencialmente por africâneres, mas com uma
minoria de negros. É preciso destacar aqui, o papel de Frank Chicane que foi pastor e
político. Tinha projetos contra o apartheid em prol da libertação de negros. Frank
Chicane trabalhou como pastor da AFM na periferia de Soweto entre 1978 e 1982.
Nesse tempo foi preso quatro vezes pela polícia racista porque trabalhava na
conscientização de jovens negros a fim de lutar contra o regime. Por causa de seu
engageamento social, foi suspenso do cargo de pastor pelas autoridades da Igreja 210.
Mas logo depois, em 1999, o presidente Thabo Mbeki o nomeou chefe do seu gabinete.
Em 1996, depois de uma dolorosa e prolongada negociação, os diferentes ramos da
AFM se reconciliaram e voltaram à união.
Fora dessas Igrejas tem a Full Gospel Church fundada em 1910, por sul-
africanos brancos. Na província do Natal, a maioria de seus membros é de origem
indiana. Tem também a Igreja Assembleias de Deus Sul Africanas (ADSA), que foi
fundada por dois missionários pentecostais Henry Turney e Charles Chawner, fruto do
avivamento da Rua Azusa Street. Esses tinham chegado ao país em 1909. Aqui também
houve várias divisões, mas não por questões raciais. Em 1932, as ADSA se separaram
das AD estadunidenses, mas esses últimos continuam trabalhando no país. Em 2002,
houve uma união histórica das três denominações mais importantes, tornando assim a
maior denominação pentecostal do país. Os trabalhadores imigrantes (especialmente
zimbabueanos, moçambicanos, namibianos) de minas sul-africanas de países vizinhos
tiveram contato com essas Igrejas; de volta para seus países, as implantaram.
210
Anne-Marie GORGUEL, Églises, mouvements religieux et changements sociaux em Afrique du Sud, p.
577. Trad. Por Adrien Gyato B.
78
1.1.1. Igrejas Sionistas de influência pentecostal
John Alexandre Dowie fundou duas Igrejas pentecostais, a Church of Zion (Igreja de
Sião) e Christian Apostolic Catholic Church in Zion na cidade de Zion, nos EUA, em
1896. Essas duas Igrejas
211
Ibid., p.565.
212
Ibid., p. 565.
213
Ibid, p. 565.
214
Dowyvan Gabriel GASPAR. É dando que se recebe. A Igreja Universal do reino de Deus e o negócio da
fé em Moçambique, p. 73.
215
Ibid, p. 74.
79
Os fiéis são chamados de maziones. Se para a cultura africana, a doença é
consequência do relacionamento social (do relacionamento entre os parentes), e para a
medecina moderna, é um mau funcionamento de algum órgão do corpo humano ou
alguma infeção; para a Igreja Sionista, ela tem uma origem diabólica. A doença e as
dores são causadas por demónios.
216
Walter HOLLENWEGER, Op. Cit., p. 187.
217
Ibid, p. 189.
80
Segundo Bhengu, Deus se revela através da oração com fé. Quem ora com fé,
encontra a Deus e será curado se afastar-se das obras do Diabo. Bhengu não acreditava
totalmente na cura de doenças de infecção orgânica, mandava as pessoas irem ao
hospital, enquanto muitos pentecostais de seu tempo se opunham. Concedia reverência
aos Antepassados, mas não permitia que fossem venerados como deuses. Segundo ele,
Deus Todo Poderoso reina sobre os Antepassados. Em nossa opinião, o que ele disse
não contraria em nada as RTA. Os africanos acreditam no Ser Criador. E Esse está
acima de tudo, os Antepassados são inferiores a Ele e O servem. Os Antepassados
podem ser comparados aos santos católicos que intercedem junto a Deus, eles ajudam as
pessoas cotidianamente em seus problemas espirituais e materiais. Fazem parte do
panteão de divindade das RTA.
Nas cruzadas realizadas por Bhengu, muitas pessoas ouviam a Palavra de Deus,
se convertiam e eram batizados pelo Espírito Santo. Segundo o autor, um dia dessas
cruzadas na cidade de East London, toda cidade parou, com muito trânsito, pois as
pessoas queriam chegar ao estádio para vê-lo. Bhengu não se reconhecia pentecostal,
mas irmão livre e batista. Lutava contra o apartheid e pregava a convivência entre
negros e brancos. Fortalecia a autoconfiança dos nativos frente à dominação dos
colonos brancos, nas aldeias, organizava seus templos em cooperativas. Sua Igreja tinha
uma administração decentralizada dando mais autonomia às comunidades locais. Em
seus templos, conviviam ricos e pobres, citadinos e camponeses, pessoas cultas e
pessoas com pouco estudo ou analfabetas.
81
1.2.O pentecostalismo no centro-leste da África
218
Allan ANDERSON, Op. Cit, p. 136.
219
Bima em lingala significa “sai”. “Sai desse corpo satanás!” Uma expressão que mostra que a atividade
principal da Igreja consiste em exorcismo. Opera uma luta aberta contra a bruxaria. O nome oficial Igreja
é EJCEV: Église de Jésus Christ em Esprit et Vérité. (Igreja de Jesus Cristo em Espírito e Verdade) ela foi
fundada no dia 18 de fevereiro de 1975 pelo Apóstolo Bolia Inzola.
82
pelo evangelista pentecostal Daudi Zakayo Kivuli (1896-1974) da etnia luyia. Daudi
Zakayo Kivuli tinha experiência pentecostal anterior. Frequentou com os missionários
Keller no PAC em 1925, fez a experiência do batismo do Espírito em 1932 e fez parte
das campanhas de evangelização e santidade entre luos e luyias. A AICN possui uma
sucessão hereditária.
Pode-se classificar a Igreja Deus é Bom como Igreja de cura divina ou, segundo
a classificação de Paul Freston221, pertecendo à segunda onda do Pentecostalismo. Em
nossa opinião, essa Igreja faz parte das primairas Igrejas pentecostais na RDC. Foi
fundada por Ayidini Abala em 1968. Ayidini nasceu no dia 15 de julho de 1927 em
Ngibi, na coletividade222 dos Kaliko-Omi, no município de Aru, Província Oriental223.
Ayidini é filho de Abala (pai) e Odjia (mãe). Esses não eram cristãos. Segundo a
biografia do fundador, o pai dele tinha três esposas. Um dia, quando outras duas esposas
estavam com seus filhos no campo, de repente um incêndio veio e os matou. Odjia que
era estéril e com uma idade avançada, logo ficou grávida e deu à luz a um menino. Os
220
É conhecida na RDC pelo nome “Église Nzambe Malamu”. Mas o nome oficial da Igreja é FEPACO:
Fraternité Evangélique de Pentecôte en Afrique et au Congo ( Fraternidade Evangélica de Pentecostes na
África e no Congo).
221
Paul FRESTON, Breve história do pentecostalismo brasileiro, p. 70.
222
Coletividade ou setor faz parte da divisão administrativa da RDC, é um conjunto de aldeias dirigidas
por um chefe tradicional que representa uma etnia.
223
Biografia do Apóstolo Ayidini Abala, disponível no site de Cristãos da África:
http://www.dacb.org/stories/demrepcongo/f-ayidini_abala.html, acesso 20 /03/2014.
83
moradores da vila, sabendo disso, todos ficaram surpresos com a notícia. Ao visitarem o
recém-nascido o nomearam “Ayidini”, isto é, “obrigado a Deus”.
Aos 18 anos, deixou a aldeia de novo para buscar emprego. Conseguiu emprego
de cozinheiro em Watsa224 na casa do Sr. Van Dolmer, um belga que trabalhava na
Kilo-Moto, fábrica de extração de ouro. Devido a Segunda Guerra Mundial, seu patrão
deixou o país e voltou para a Bélgica. Consequentemente Ayidini perdeu o emprego.
Depois da guerra, Ayidini decidiu voltar à Uganda em busca de um novo emprego. Uma
224
Cidade no nordeste da RDC, conhecida por causa sociedade Kilo-Moto, que explora ouro.
84
vez em Kampala (capital de Uganda), reencontrou seu ex-patrão. Esse trabalhava na
embaixada da Bélgica em Kampala e o contratou como motorista.
Um dia, passeando pela cidade viu um cartaz indicando que T.L Osborn iria
fazer uma cruzada de evangelização e cura em Mombassa (Quênia), decidiu ir perturbar
o evento. Saiu de Kampala no dia 03 de fevereiro de 1957, com 12 companheiros
pegaram uma senhora com o nome de Tsibuka, cega e a levaram junto com eles para
verificar se Osborn iria curá-la. Ao chegarem perto do local do evento, Ayidini ouviu
uma voz: “Ayidini, não combate o teu Deus”. Duvidou e não quis responder, mas a voz
repetiu várias vezes. Cansado então respondeu: “se é você Senhor, ordena que essa
senhora veja”, exatamente no dia 10 de fevereiro de 1957, a senhora Tshibuka ficou
curada depois da oração e imposição das mãos do evangelista T.L Osborn. Esse foi o
motivo de conversão de Ayidini e de seus companheiros. Logo depois ele se batizou
pelas mãos do evangelista em uma das praias de Mombassa, no oceano Índico.
85
o sucedeu. Depois de 8 anos a frente da Igreja, também morreu. Com a sua morte, seu
outro irmão o sucedeu. A sucessão dentro da Igreja Deus é Bom é hereditária.
Se o Cristianismo entrou no Norte que tem a maioria muçulmana, por sua vez, o
Islão também se expandiu para o sul, de maioria cristã. A mobilidade religiosa é fruto
225
Maud LASSEUR, Cameroun: les nouveaux territoires de Dieu, p. 99. Trad. por Adrien Gyato B.
86
da intensa migração interna de haoussas e bamouns. Se no Sul, existe uma concorrência
no interior do Cristianismo, entre diversas denominações cristãs, isto é, entre as ICT e
as pentecostais, para o controle do campo religioso; no Norte, também há uma
concorrência interna no Islã entre o ramo tidjannita e sunita, entre o Islã tradicional
africano e as novidades trazidas da Arábia Saudita, Sudão e Irã. Outro fato que
caracteriza as religiões e Igrejas em Camarões é a nacionalização. As Igrejas ou
religiões que eram étnicas e regionais, com uma forte mobilidade interna e migração,
deixaram de ser e tornaram-se nacionais e interétnicas.
226
Ibid., p. 113.
87
Filadelfia (EUA) por volta de 1917, foi curado de uma doença do estômago em 1921.
Desistiu da Igreja Presbiteriana e se converteu ao pentecostalismo tornando-se pregador
independente com ministério de cura e atraindo as multidões. Em 1922, adotou o
mesmo nome para sua Igreja, Faith Tabernacle. Oito anos depois trocou o nome para
Apostolic Faith. Anim colaborava com outras Igrejas estadunidenses e inglesas nas
cruzadas que realizava, depois de alguns anos rompeu com elas. E em 1939, sua Igreja
passou a ser chamada de Christ Apostolic Church.
James McKeown fundou a Gold Coast Apostolic Church em 1953, mas mudou
o nome da Igreja para Churh of Pentecostal em 1962. Será abordadada mais para frente
com mais detalhe a vida dessa Igreja. Como afirma Anderson, o que é importante na
história do pentecostalismo ganês é a formação da federação Ghana Pentecostal
Council, em 1969 que reuniu as três Igrejas apostólicas surgidas a partir da pregação de
Peter Anim. E em 1998, outras 150 denominações cristãs se juntaram a ela, formando
assim um verdadeiro “ecumenismo carismático e pentecostal” 227.
227
Allan ANDERSON, Op. Cit., p. 144.
228
Ibid, p. 144.
229
Ibid, p. 144.
88
Do grupo Aladura, surgiu a Christ Apostolic Church (CAC) em 1941, que se
constituiu em uma das maiores denominações cristãs, com milhões de adeptos. Essa
Igreja se considera pentecostal e segue o exemplo da Igreja Apostólica
administrativamente e teologicamente. A Church of Lord também surgiu do movimento
Aladura. As Igrejas Aladura se declaram pentecostais, apesar de ter recebido a
influência pentecostal ocidental, segundo Allan Anderson, são essencialmente fruto do
avivamento pentecostal africano 230. Condenam e rejeitam as RTA, a poligamia,
fetichismo, a bruxaria. Em 1950, as Igrejas Aladura ocupavam um lugar fundamental na
sociedade Yoruba, sendo a força importante do Cristianismo nigeriano.
230
Ibid., p. 146.
89
1.3.1. Igreja Assembleias de Deus de Burkina Faso
231
Pierre-Joseph LAURENT. Effervescence religieuse et gouvernance. L’exemple des Assemblées de
Dieu du Burkina Faso, p. 117. Trad. Por Adrien Gyato B.
232
Ibid., p. 95.
233
Ibid., p. 103.
90
bruxaria dos parentes camponeses, eles consultam os feiticeiros. A IADBF se apresenta
como uma das vias de manipulação mágica de relacionamento entre os indivíduos.
A Igreja também trabalha com a cura divina, que consiste em restaurar o bem-
estar econômico das pessoas e instituir as redes de ajuda mútua entre os membros da
comunidade. Se a comunidade assembleana institui as redes de ajuda mútua entre os
seus fiéis, portanto não rompeu totalmente com a solidariedade africana. Nessa, os
membros da mesma linhagem se ajudavam mutuamente. A ajuda se fazia dentro da
lógica de consanguinidade (família extensa, linhagem e etnia). Enquanto na comunidade
cristã, a ajuda se faz dentro da lógica da pertença à Igreja, tendo como base os valores
cristãos, superando as barreiras da etnia, ela se abre à sociedade em seu conjunto. A
solidariedade pentecostal vem ampliar a solidariedade tradicional e lhe dar um novo
sentido.
234
Ibid., p. 108.
235
Ibid., p. 109.
236
Ibid., p. 113.
91
A insegurança na modernidade nasce da transição da sociedade tradicional para
a moderna, entre a lógica de organização social tradicional (RTA) e o modelo ocidental.
O papel da Igreja é fazer com que essa transição se faça pacificamente de forma a
diminuir a crise. “A conversão vem provisoriamente suspender a indecisão, que na
maior parte de fiéis, resulta das hesitações entre os princípios da vida comum na
sociedade tradicional e os modos de existência ligados ao sujeito da modernidade” 237.
237
Ibid., p. 116.
92
Com a independência do país, houve um movimento de nacionalização da Igreja.
Em 1957, durante uma viagem de James McKeown a Europa, o pastor Joseph Anaman
foi eleito presidente da Igreja. Ao voltar, James McKeown não aceitou a eleição feita
em sua ausência e rejeitou a decisão da cúpula. Esse episódio provocou uma crise de
liderança entre os dois. Essa crise teve fim em 1961 com a realização de um concílio
reunindo todos os pastores da Igreja. Porém, outra crise se instalou na Igreja entre
pastores europeus e ganeses, na disputa pelo poder. Somente após a aposentadoria do
fundador e seu retorno para Escócia, é que um ganês, o reverendo F.S Safo foi eleito
presidente da Igreja em 1982.
A Igreja Pentecostal do Gana é uma igreja étnica, isto é, dos Ashanti. “A língua
“twi” dos Ashanti é usada como língua sagrada. A maior parte de pastores é recrutada
no meio do grupo Akan 238. O grupo étnico akan (dos ashanti) se encontra em Gana e
Costa do Marfim. A expansão da Igreja seguiu a migração do povo akan em toda região.
O povo akan é essencialmente pescador e comerciante. Fora de Gana, a Igreja
Pentecostal do Gana tem uma presença significativa na Costa do Marfim, Togo,
Burkina Faso e Benim239. A Igreja de Burkina Faso foi introduzida por pastores mossi
burquinas vindos de Gana, que negociaram com o próprio fundador James McKeown
em 1950240. É por isso que essa Igreja tem certa autonomia diante da hegemonia ganesa.
Foi reconhecida oficialmente na Costa do Marfim em 1966. Na década de 1990, se
expandiu no restante dos países africanos até à África do sul. A Igreja está presente em
vinte cinco países da África, e em outros vinte e cinco divididos entre Europa e na
América do Norte 241. “O crescimento dessa Igreja é fruto de uma aliança entre Deus e
os pais fundadores, colocando Gana na escala de nação missionária, que tem o objetivo
de ser a ponta de lança da evangelização do mundo” 242. A Igreja é ao mesmo tempo
étnica, transnacional e missionária. Apesar de sua internacionalização, os Ashanti de
Gana continuam fazendo parte da alta hierarquia a nível mundial.
238
Sandra FRANCELLO. Le plan de Dieu pour le Ghana: Une église en héritage, p. 16. Trad. por Adrien
Gyato B.
239
IDEM. Réseaux migratoires et structures de pouvoir: la Church of Pentecost du Ghana face aux
communautés francofones, p.113. Trad. por Adrien Gyato B.
240
Ibid, p.113.
241
Ibid, p. 111.
242
Sandra FRANCELLO, Op. Cit., p.19.
93
evangelização das populações autóctones recrutando os agentes locais243. E por fim, A
terceira estratégia é designada “Operation Next Door”, tem como objetivo de fazer com
que cada Igreja se estenda ao país vizinho e comece uma célula, que mais tarde se
tornará comunidade autônoma, capaz de acolher e sustentar um missionário 244.
O Apóstolo Michael Ntumy é o atual líder mundial da Igreja. Ele tem o título de
Pastor-Doutor, como muitos líderes carismáticos neopentecostais da região. Ntumy é
doutor em Filosofia religiosa e Teologia, autor de vários livros publicados em inglês e
francês. A Igreja se recusa de permitir que as línguas nacionais sejam usadas no culto
por medo de perder o poder e ter dissidências. A imposição dessas línguas pela
instituição é uma estratégia de controle que usa para conservar o poder e ter influência
no nível local e mundial. Essa imposição cria uma categoria de “intérpretes”, que
constitui uma classe privilegiada dentro da Igreja. “Seu percurso, situação familiar e
243
IDEM, Réseaux migratoires et structures de pouvoir: la Church of Pentecost du Ghana face aux
communautés francofones, p.114.
244
Ibid., p.116.
245
Ibid., p. 117.
94
formação universitária os colocam numa perspectiva transnacional” 246. Os pastores
tendem a serem conservadores em questões morais e doutrinais, mas os intérpretes têm
a liberdade de interpretação e de contextualização, o que proporciona mudança no
entendimento do público.
246
Ibid., p.128.
247
Esposa ou marido de noite é comum na África subsaariana. Acontece que uma pessoa sonha ter tido
relação sexual com outra a noite. Para os pentecostais, é uma prova de demônios. A pessoa precisa ser
libertada.
248
Sandra FRANCELLO, Op. Cit., p. 132.
95
1.3.3. O pentecostalismo no Benim
Claro que o cenário religioso beninês mudou muito nos últimos 22 anos, mas
essa tabela nos dá uma ideia sobre a diversidade e o pluralismo religioso nesse país.
Naquele tempo, havia cerca de 138.000 evangélicos, que representavam 8,17% dos
cristãos e 3,12% da população. É bom notar que existia um número crescente das
pessoas que se declara sem religião (6,28%) ou que simplesmente não declaram a sua
religião (0,57). Se comparar com a ARDA, Benim tem 43, 77% de cristãos; 25,46% de
muçilmanos; 30,38% de adeptos das RTA; 0,13% de Bahai; 0,19% de agnósticos e
0,07% de outras religiões. O surpreendente é que não se encontram a categoria de “sem-
249
Albert de SURGY, Pentecôtisme en Afrique. Le cas de benin, p. 21. Trad. por Adrien Gyato B.
250
Ibid, p. 13. Segundo os dados de The Arda (2010), o Benim tem 43,77% de cristãos, 25,46% de
muçulmanos, 30,38% dos praticantes das RTA, 0,13% de Bahai, 0,19% de agnósticos e 0,07% de outras
religiões, veja Tabela 5, p.223-224. Não tem nenhum dado sobre a categoria de sem-religião que o
Censo de 1992 traz.
96
religião” nos dados da ARDA. Como no caso de Moçambique, só em 1997, segundo
Raúl Manuel Braga Pires, 23,01% da população se declaravam sem religião251. O
número poderia ser maior se incluísse o que ele chama de desconhecidos 2,06% e os
cristãos indeterminados 3,06%. O restante, 23,8% de moçambicanos são católicos,
17,8% são muçulmanos, 17,5% são das Igrejas Sionistas e Etíopes, 7,8% são
protestantes e pentecostais, 2,1% das RTA e 1,6% de outras religiões. Deve-se sublinhar
que é muito raro fazer censo da população nos países da África subsaariana, por falta de
recursos financeiros e vontade política. As políticas públicas são feitas por suposições,
o que gera corrupções e desvio de dinheiro. A título de exemplo, o último censo a ser
realizado na RDC foi em 1984. Os efeitos do marxismo em Moçambique podem estar
na origem da visão negativa, de indiferência diante as instituições religiosas. No Brasil,
segundo o censo de 2010, 8% da população se declaram sem-religião ou desigrejados.
Dentre as pessoas que se declaram sem religião, existem os crentes, mas que não
pertencem a uma instituição religiosa, as pessoas que transitam de uma instituição
religiosa para outra sem pertencimento, ou simplesmente agnósticos e ateus. É um
fenômeno novo no estudo das religiões. É interessante que esse fenômeno já está
presente na África.
251
Raúl Manuel Braga PIRES, Indianos sunitas em Moçambique 1974/2004, p.11.
252
Albert de SURGY, Op. Cit., p. 22-23.
97
Regenerados em Cristo, Igreja Evangélica da Libertação e Salvação em Cristo e
Associação de Discípulos de Cristo.
A Missão Evangélica dos Ganhadores de Almas foi fundada em 1970 por Adjassa
Kpoviessi Basile, que trabalhou junto com o evangelista estadunidense T.L Osborn. O
Ministério da Profunda Vida Cristã (Deeper Christian Life Ministry) foi, por sua vez,
fundado por W.F Fumuyi, em 1982. Começou como um grupo de estudo bíblico, depois
virou Igreja com nome de Igreja Bíblica da Vida Profunda.
Igreja Africana do Despertar foi fundada por Salomon em 1973 e é uma instituição
que investe na evangelização, proporcionando a estrutura (meios audiovisuais:
projetores, rádio e televisão), sala para conferências253. Ela oferece curas milagrosas e
exorcismo. Têm obras sociais como escolas, hospitais e plantações. Seus pastores têm
cada um sua profissão e não vivem de ofertas e dízimos dos fiéis, que por sua vez
trabalham voluntariamente para a Igreja. Em 1985, doze membros saíram para fundar a
Igreja Messiânica Universal254.
A União e Renascimento dos Homens em Cristo (URHC) foi fundada por Pierre
Loukouya, em Cotonou, em 1973255. É ativa na evangelização, seus fiéis pertencem de
todas as classes sociais (camponeses, urbanos, ricos e pobres). É uma Igreja que se
253
Ibid., p. 35.
254
Ibid., p.37.
255
Ibid., p.33.
98
expandiu rapidamente no país, atingindo todas as províncias. Está presente na Nigéria,
Gabão, Costa do Marfim e Togo. Essa Igreja convida seus fieis a receber o batismo e os
dons do Espírito Santo. Não permite o transe e as manifestações espirituais
espetaculares. Teve sua primeira crise em 1985 e outra, entre 1991 e 1992, o que
ocasionou várias dissidências256 como a Missão pela Unidade dos Filhos Regenerados
em Cristo (1990), Igreja Evangélica da libertação e salvação em Cristo, Associação de
discípulos de Cristo, etc. Em 1999, o restante da Igreja se dividiu em duas, uma
permaneceu fiel ao fundador Pierre Loukouya e a outra com outro pastor.
256
Ibid., p.34.
257
Ibid., p. 30.
258
Ibid., p. 43.
99
sucesso. Depois esse grupo de estudo bíblico virou Igreja, mas não teve sucesso,
fracassou. Somente em 1993 que conseguiu fundar algo que pudesse corresponder às
visões tidas. O Centro dos Missionários Voluntários (CMV) 259 iniciado por ele teve
como objetivos:
259
Ibid., p. 45.
260
Ibid., p. 45-46.
261
Togo tem cerca de 6 milhões de habitantes, com uma superfície de 56.785 km2.
262
Joël NORET, Le pentecôtisme au Togo. Éléments d’histoire et développement, p.76. Trad. por Adrien
Gyato B.
100
funcionamento de mais de vinte organizações religiosas, entre as quais, o Cristianismo
Celeste, Testemunhas de Jeová, Igreja Apostólica, Igreja do Pentecostes, etc. Alegando
que essas Igrejas perturbam gravemente a ordem pública, poderiam funcionar somente
as Igrejas estabelecidas, isto é, a Igreja Católica, Igreja Evangélica do Togo, Igreja
Metodista, Igreja Batista e Assembleias de Deus 263.
263
Ibid., p.79.
101
2. Neopentecostalismo na África
264
Allan ANDERSON, Op. Cit., p. 188.
102
funcionam graças aos novos princípios predeterminados pelo crente. Dessa corrente que
surgiram os movimentos de santidade de William Branham, Oral Roberts e a FIHNEC.
265
Ibid., p. 189.
266
Ibid., p. 189.
267
Ibid., p. 190.
103
“Seus cultos são emocionais, entusiastas, barulhentos, sobretudo a maioria usa
instrumentos musicais eletrônicos” 268. “Os novos pentecostais estão crescendo em
número entre pessoas instruídas e jovens trabalhadores, que continuam oferecendo
apoio financeiro e sentem que é aí que podem satisfazer suas necessidades” 269.
268
Ibid., p. 191.
269
Ibid., p. 191.
270
Ibid., p. 192.
104
elo célebre Kenneth Hagin. As outras como Grace Bible Church, a Zoe Bible Church e
a Faithways Community Church surgem entre 1984 a 1985” 271.
271
André CORTEN, Igreja Universal na África do Sul, p.142.
272
CHINWEIZU. A África e os países capitalistas, (HGA Vol.8) p. 934-935. Do mesmo volume veja
também Iba Der THIAM e James MULIRA, A África e os países socialistas, p. 965-1001.
273
Ibid, p. 934.
105
O ano de 1990 foi marcado pelo fim da ditadura, que permitiu a abertura
política, abrindo o espaço para o multipartidarismo, as Conferências Nacionais, a
liberdade de expressão e a liberdade religiosa. O que levou ao fim das ditaduras na
África e na América latina foi na verdade o cenário da política internacional
caracterizado pela Queda do Muro de Berlim em 1989 marcando o fim da Guerra Fria.
Esses acontecimentos causaram mudanças profundas na política e economia
internacional.
274
Laurent FOURCHARD, Introduction de la Troisième partie: Le Nigeria: une nation missionnaire?,
p.334. Trad. Por Adrien Gyato B.
275
Ruth MARSHALL-FRATANI et Didier PECLARD, La religion du sujet en Afrique, p. 5.
276
Ibid, p.6.
106
das promessas feitas nas Conferências Nacionais causou frustração e decepção em
muitos africanos.
A década de1970 também foi marcada pelo fim das ilusões desenvolvimentistas,
com a massificação da pobreza e da miséria. O milagre econômico e a ilusão do
desenvolvimento autocentrado se afastaram definitivamente com a redução da renda
petroleira a partir de 1983. Ente 1970 e 1980, a Nigéria conheceu o surgimento de
277
Laurent FOURCHARD, Op. cit., p.334.
107
novos movimentos pentecostais e carismáticos nas grandes cidades, em meio a crise
econômica crônica e sua expansão entre 1980 e1990. Os novos movimentos surgiram
em meio de jovens estudantes que tinham uma grande ansiedade por renovação e
reforma interior e pública (o fim da corrupção e a redemocratização da sociedade).
278
Ibid., p.333.
279
Ibid., p.337.
108
interconfessional, principalmente entre diferentes correntes no interior do Islã, e entre
muçulmanos e cristãos. Há uma imbricação crescente entre as agendas políticas e
religiosas280. Essa imbricação é visível na administração dos Estados de maioria cristã
tanto nos de maioria muçulmana. O resultado dessa imbricação foi a introdução da
Charia em doze Estados do Norte281. A adoção da Lei Islâmica como constituição civil é
resultado da assimilação recíproca dos valores das elites políticas e religiosas do Norte e
da reinvindicação popular cumprida. Essa reinvindicação começou desde a
independência.
280
Ibid., p. 339.
281
Ibid, p. 339.
282
Ruth MARSHALL-FRATANI. Prosperitá miraculeuse. Les pasteurs pentecôtistes et l’argent de Die uau
Nigeria, p.25. Trad. por Adrien Gyato B.
283
Ibid, p. 30.
109
pertença às organizações ocultas e a utilização do poder dos bruxos” 284. O
envolvimento nas atividades religiosas fez com que esses jovens não se preocupassem
com a realidade social e política do próprio país. Consideravam a política como uma
simples demagogia e uma quadrilha de ladrões.
Nessas Igrejas, os pastores ensinam que “além da obra de Deus, é preciso que o
fiel saiba poupar, fazer um planejamento, ter um orçamento e investir com inteligência”
286
. Também segundo os pastores,
284
Ruth MARSHALL-FRATANI, Op. Cit., p. 31.
285
Ibid, p. 34.
286
Ibid, p.34.
287
Ibid, p. 34.
110
Diabo é onipresente na vida do crente. Deve ser prudente e vigilante (tayari) 288 a cada
instante. Alguns pastores ensinam técnicas para descobrir um espírito demoníaco,
publicam livros e jornais voltados ao assunto. Ensinam tipos de oração, posição
corporal, gestos, gritos que a pessoa deve ter e fazer durante o exorcismo. Um dos
líderes dessas Igrejas publicou um livro com cerca de 50.000 nomes de espíritos
demoníacos capazes de atrapalhar a vida dos homens. Nota-se também que durante os
cultos dessas Igrejas, o assunto “dinheiro” é onipresente.
288
Em swahili, expressão muito usada na RDC. Ser vigilante, pronto e preparado.
289
Ruth MARSHALL-FRATANI, Op. Cit, p. 39.
290
Ibid, p.44.
291
Ibid, p. 44.
292
Ibid., p.44.
111
basta a pessoa ter uma idade avançada, mas tem que ter o carisma e um bom
desempenho.
A Deeper Life Bible Church é uma das maiores Igrejas da Nigéria, fundada por
William Folorunso Kumuyi e está presente em todos os países da África ocidental.
William Folorunso Kumuyi foi professor na Universidade de Lagos. A Deeper começou
em 1973 como um grupo de estudo bíblico semanal. Em 1982, realizou-se os primeiros
cultos, reunindo multidão de pessoas. A International Central Gospel Church foi
fundada por Mensa Otabil em 1984. “Durante a década de 1980, começou a surgir
várias Igrejas independentes que cresciam rapidamente no Quênia e Uganda, onde as
Igrejas mais antigas consideravam-nas como uma ameaça, já que perdiam vários
membros” 294.
293
http://top10mais.org/top-10-maiores-igrejas-do-mundo/, acesso 02/01/2014.
294
Allan ANDERSON, Op. Cit., p. 192.
112
Um de exemplo pastor- patrão 295 é Benson Andrew Idahosa, líder da Church of
God Mission Internacional Incorporated. Idahosa era muito respeitado e era o pastor
mais rico do país. No episódio de sua morte em 1998, a notícia correu em todo país,
chegando até o norte, de maioria muçulmana. Seu velório foi um grande show, um
espetáculo que ostentava luxo, “o caixão veio dos Estados Unidos da América, o
mármore para construir o túmulo veio da Itália e as cerâmicas da Arábia” 296. Mais de
30.000 pessoas lotaram o estádio e milhares ficaram para fora. Além da Igreja, Idahosa
possuía outros empreendimentos como um estádio, hospitais, uma universidade privada,
escolas, um banco, residências para convidados, um supermercado, mansões de luxo em
Lagos e Abuja, Londres e EUA e carros de luxo. Após a sua morte, sua esposa Margaret
o substituiu como líder da Igreja e responsável pelas empresas. Essa Igreja tem um
centro de milagre em Benin City e em vários outros países. A Igreja começou em 1989,
em pouco tempo se expandiu em toda África, sobretudo no Quênia.
Mountain of Fire and Miracles (MFM) foi fundada pelo Doutor Daniel Olokoya
em 1994298. A Igreja começou quando Olokoya convidou alguns colegas de faculdade
para ir à sua casa meditar e orar, isto em 1984. O grupo de oração foi se transformando
em Igreja. O pai de Olokoya era pastor da Christ Apostolic Church (CAC) sem ter uma
formação académica. Olokoya deixou CAC, onde o seu pai era também pastor e fundou
MFM em 1994. Os líderes religiosos que tiveram influência sobre ele foram: “Babalola,
fundador de CAC, William Kumuyi, fundador de Deeper Life Bible Church; de Enoch
Adeboye, fundador da Redeemed Christian Church of God e de Smith Wigglesworth,
295
Conceito comum em Kinshasa para designar pastores riquíssimos.
296
Ruth MARSHALL-FRATANI, Op. Cit, p. 26.
297
NORET, Joël. Logiques transnationales et développements missionnaires dans les pentecôtismes
nigerians béninois et togolais, p.423. Trad. por Adrien Gyato B.
298
MOYET, Xavier. Le néopentecostalisme nigérian au Ghana. Les Églises Moutain of Fire and Miracles et
Christ Embassy à Accra, p. 468. Trad. por Adrien Gyato B.
113
pai espiritual de Kenneth Hagin” 299. Com o crescimento da Igreja na década de 1990,
deixou a docência para se dedicar pleinamente à pastoral. O Doutor Daniel Olokoya
influenciou os mais populosos líderes neopentecostais ganeses como o Reverendo Steve
Mensah, fundador de Charismatic Evangelical Ministries (CEM) e Eastwood Anaba,
fundador da Foutain Gate Chapel (FGC).
A Christ Embassy foi fundada por Christ Oyakilome. Este estudou arquitetura
na Universidade do Estado de Edo. Seu avô era pastor e ajudou a implantar a Igreja
Assembleia de Deus no leste da Nigéria. Oyakilome foi pastor da Church of God
Mission de Benson Idahosa, foi influenciado por pregadores estadunidenses como
Kenneth Hagin, Capeland, Hinn e Meyer300. Em 2003, possuía um milhão de fiéis, além
de uma emissora de rádio e TV.
299
Ibid., p.469.
300
Ibid., p.469.
301
Ibid., p.478.
114
302. Os pastores são carismáticos e têm um espírito de empreendedorismo, estão ligados
às redes do pentecostalismo internacional e mundial. O movimento da globalização
favorece sua expansão.
A Igreja Protestante Batista Obras e Missões (IPBOM) foi fundada pelo doutor
Dion Robert. Esse possui várias empresas comerciais: editoras, gravadoras (de cassete,
CDs, DVDs), lojas de roupas femininas, etc. A Igreja Internacional do Espírito Santo foi
fundada pelo Profeta Jean-Marie Domoraud. O ídolo nacional Waby Spider, ex-
boxeador, se tornou pastor com o nome de Adebayo Wayebi e fundou a Igreja Winners
302
Bony GUIBLEHON, Les jeunes et le marché de la spiritualité pentecôtiste en Côte d’Ivoire, p. 117. Trad.
por Adrien Gyato B.
303
Ibid., p. 117. Veja Tabela 5, p.224-225. Segundo The ARDA, 34,31% de marfinenses são criatãos,
40,58% são muçulmanos, 24,51% são praticantes das Religiões Tradicionais, 0,15% são da religão Bahai,
0,36% são agnósticos e 0,09% outras religiões.
115
Chapel Internacional (Akouédo, Abidjan). Gnazalé Didier, ex-jogador de futebol do
time African Sport fundou o Ministério pela Libertação e Redenção das Almas. Kodjo
Rosemonde profetisa se autoproclamou “Bishop” em 2008 e dirige a Igreja
Internacional Fonte. Outra mulher com o nome de P. Kouhi, divorciada, se tornou
também profetisa e dirige o Ministério Internacional Consolação. Guy Vincent Kodjo,
ex-cantor de Rap na década de 80, fundou a Missão Evangélica Graças de Vida. Ele
construiu um grande templo no bairro de Abobo Plateau Dokoou e nomeou o templo de
“Igreja dos líderes”.
304
Ibid., p. 123.
305
Ibid., p. 124.
116
“de pensar positivamente, e pensar positivamente é acreditar em si mesmo. A cura
depende da atitude mental e da capacidade de pensar positivamente” 306. Segundo a
teologia da prosperidade, as riquezas espirituais e materiais vêm de Deus. São direitos
dos crentes, considerados filhos de Deus. Portanto os crentes devem exigir de Deus e
não pedir.
Os objetos sagrados como água, sal, óleo e lençol com o suor do pastor (...), são
fonte de milagres. Esses líderes têm uma maior visibilidade na mídia (rádio, televisão,
internet). Saindo para a cidade de Abidjan ou outra, pode-se encontrar cartazes em todos
os cantos da cidade anunciando cruzadas de evangelização e sessões de milagre. Apesar
do princípio da laicidade do Estado, esses líderes passam frequentemente na mídia
pública para fazer o proselitismo religioso.
A visibilidade social significa também para esses líderes religiosos ter uma vida
bem sucedida. Alguns têm grandes templos construídos na periferia urbana, carros
luxuosos, mansões em bairros da elite, como Cocody, Angré e Riveira e vestem roupas
de marca e relógios e joias de ouro ou diamante. Depois da pesquisa de campo que o
autor realizou em Abidjan e outras cidades, constatou-se, os líderes religiosos são
homens e mulheres bem-sucedidos e moram em bairros de ricos e os fiéis, em sua
grande maioria são da periferia.
306
Ibid., p. 125.
307
Idid., p. 129.
308
Ibid., p. 130.
117
O advento dessa nova geração de líderes religiosos marfinenses é ao mesmo
tempo ruptura e inovação. Ruptura na concepção antiga do Cristianismo sobre a
pobreza, a vida cristã e a formação teológica de pastores, face à cultura tradicional
africana. Para essas Igrejas, o cristão não deve ser pobre, humilde e coitado. Deve ser
rico, com saúde e forte. Para ser pastor, o candidato não precisa de muito estudo, mas de
uma formação pontual, um treinamento específico. E na maior parte dos casos, o
candidato aprende com a realidade. Essas Igrejas rejeitam tudo que tem a ver com o
passado, os valores africanos como a solidariedade, o respeito ao mais velho e o lugar
da medicina tradicional. De outro lado inovam assumindo a proposta da sociedade
neoliberal, caracterizada pelo consumo e liberdade. O crente deve lutar pessoalmente na
vida pelo seu sucesso e felicidade. É chamado a ser próspero e feliz. Nossa preocupação
é de saber qual é a autenticidade e a credibilidade dessa proposta, sua continuidade e
sucesso em um continente onde a maior parte das pessoas é pobre e miserável?
Como vários países da África subsaariana, a RDC passou por uma ditadura
militar que durou 32 anos (1965-1997). Nesse período, não havia liberdade de
expressão ou liberdade religiosa e o monopartidarismo e a repressão reinavam. Mas
309
É uma síntese da monografia apresentada para a conclusão da disciplina de Religião sociedade e
cultura, junho de 2013.
118
com a abertura política e a liberalização religiosa de 1990, houve explosão pentecostal.
Milhares de Igrejas pentecostais se implantaram e surgiram em Kinshasa. Além da crise
política e econômica, a RDC é conhecida como um país africano vítima de repetitivas
guerras ( guerra da libertação entre 1996 e 1997, guerra de agressão de 02 de agosto de
1998 e 2003, e várias outras guerras de 2004 até agora). Essas repetitivas guerras
causaram a morte de mais 5 milhões de pessoas, com vários crimes de guerras e crimes
contra humanidade. Esses guerras têm como motivo a exploração dos recursos naturais
(ouro, diamante, etc.).
310
Avivamento é sinônimo de “despertar”. Preferimos “despertar” para ser fiel à tradução francesa.
119
Igrejas cristãs tradicionais, eles se encontram nas Igrejas do despertar. São atraídas pela
dinâmica da música, diversão, encontram mais liberdade e flexibilidade em questões
morais. A busca pela cura de doenças físicas, a proteção contra a bruxaria, busca de um
parceiro para casamento, a imigração para a Europa são os verdadeiros problemas que
os levam a frequentar essas Igrejas.
O imaginário dos kinois está marcado pelas Igrejas do despertar. Pertencer a uma
dessas Igrejas é símbolo de identidade, da verdadeira religiosidade e de orgulho. É
comum ouvir uma pessoa perguntar: “osambelaka wapi?”, e outra responder,
“nasambelaka na ngai”, “naza frère ou soeur en Christ” 311. Isso significa que a pessoa
é diferente dos demais.
311
Osambelaka wapi (aonde que você reza?), nasambelaka na ngai (eu rezo, costumo rezar), naza frère
ou soeur en Christ (sou irmão ou irmã de Cristo).
312
Igreja Arca de Noé, Mana Escondida, Ministério da Fé Audaciosa, Ministério da Fé Abundante,
Ministério do Combate Espiritual, Exército do Eterno, Exército da Vitória, Ministério do Poder Divino,
Igreja do Deus Vivo, Comunidade de Igreja Espiritualista do Congo, Igreja Água Salvadora, Missão
Evangélica Vaso de Honra, Assembleia Crista de Kinshasa, Ministério Amem, Ministério da Restauração
Universal a partir da África Negra (Trad. Por Adrien Gyato B.).
120
exorcismo têm como representantes: Maman Olangi, Ngalasi, Tambu Lukoki e Kalienza
Mwana Mbo.
Falando da situação das crianças na RDC, existem dois casos: o caso de crianças
vítimas de sucessivas guerras e aquelas em situação de rua na capital. As dezenas de
milícias no leste, nordeste e sudeste do país recrutam por força crianças e adolescente
para servir como soldados. As meninas são abusadas sexualmente, outras crianças
trabalham como escravos em minas de ouro e diamante. Segundo Joseph Tonda, só em
Kinshasa há entre 30.000 a 50.000 crianças e adolescentes em situação de rua. Devido à
degradação politica e econômica, que causou desemprego, pobreza, falta de educação na
121
família, a violência familiar, a crise entre a modernidade e a tradição e as condições de
vida na cidade e no campo, muitas crianças e adolescentes de 5 a 15 anos foram
expulsos de suas casas e foram parar na rua ou optaram de viver na rua. Em função
dessa crise, muitas famílias foram fragmentadas, a taxa do desemprego é alta e são as
mulheres que sustentam as famílias através do pequeno comércio informal e outros
trabalhos informais. Se os pais trabalham, recebem pouco para manter a família, não
têm dinheiro para pagar escola, aluguel, etc. Essa situação de carência leva milhares de
crianças e adolescente a optar viver na rua. Os pais e parentes, incapazes de mantê-los,
os expulsam da casa. Muitas crianças ficaram órfãs dos pais por causa da guerra; há
caso de refugiados internos e uma boa parte fugiu para a capital. Existe também a
migração interna, as pessoas deixam suas aldeias para procurar melhores condições de
vida na capital. Toda essa situação permitiu o aumento desproporcional da população
em Kinshasa, o que parece um caos total.
São os pais ou parentes que levam essas crianças às Igrejas. E lá, os pastores
afirmam que as crianças estão endemoniadas, possuídas por espíritos ancestrais, e são
bruxas (bandoki em lingala). Se a criança é a causa da desgraça familiar ou constitui o
“bloqueio”, então deve passar pelo exorcismo e libertação. Para realizar o exorcismo,
muitas sessões de oração e jejum são feitas. As crianças são internadas nos templos ou
centros terapêuticos para seguir o tratamento. Existem vários grupos de oração,
ministérios e Igrejas que se dedicam exclusivamente ao exorcismo e a libertação das
crianças em Kinshasa. No catolicismo, existem congregações religiosas com trabalho
direcionado exclusivamente às crianças e adolescentes em situação de rua (por exemplo,
a Sociedade de Verbo Divino).
122
bruxaria, da magia e dos feitiços como capital do trabalho de
Deus, como mostra a rentabilização no mesmo tempo simbólica
e econômica do pentecostalismo hoje313.
Apesar disso, Maman Olangi nasceu de um casamento polígamo. Sua mãe era a
segunda esposa de seu pai. Ela e os seus irmãos eram infelizes e malditos. É por isso
que recebeu essa revelação para evangelizar a cultura e propor a monogamia com
fundamento no Evangelho. O grande slogan dela é “dans mon Église, les deuxième
femmes deviennent les premières” 314. Ela foi acusada várias vezes de separar famílias.
313
Joseph TONDA. Économie des miracles et dynamiques de subjetivação/civilização na África central,
p.32.
314
“Em minha Igreja, as segundas esposas do casamento se tornam as primeiras” diz Maman Olangi. Isto
significa que quem adere à essa Igreja, não será mais a segunda ou a terceira esposa, mas terá um só
marido escolhido por Deus.
123
ela ordena a seus fiéis a não acolher os parentes que vêm do campo. Antes de acolher
uma pessoa em sua casa, é preciso saber o seu “estado do espírito” (próprios pais,
irmãos, parentes, amigos ou um desconhecido). Ainda segundo ela, a maior parte das
pessoas que vêm do interior do país, é bruxa. É por isso é preciso evitar qualquer
contato. Um cristão não pode conviver com o diabo.
Adepta a teologia da prosperidade, segundo ela, o cristão não reza só por rezar,
mas reza para ganhar dinheiro e ser rico. Critica os cristãos de outras denominações que
continuam pobres apesar de acreditar em Jesus. Jesus veio libertar as pessoas do pecado,
mas também da miséria e dos demônios. Quem adere à sua Igreja, tem solução a todos
os problemas. Resolve a questão da pobreza, da esterilidade e do divórcio. A exemplo
de Maria Madalena, que foi a primeira mulher a testemunhar a ressureição de Jesus
(Marcos 16,1-8), ela defende a liderança feminina na pregação do Evangelho.
315
http://www.kutino.org/, acesso 06/04/2014.
316
A cidade de Kinshasa tem o mesmo estatuto administrativo de província como as dez províncias do
país. Está dividida em 24 prefeituras (communes).
317
http://www.kutino.org/spip.php?page=biogr, acesso 06/04/2014.
124
próspera aqui e agora. Ele se considera como continuador do trabalho de Ayidini Abala
Alexandre, fundador de Igreja Nzambe Malamu. Kuthino tem um Instituto bíblico para
a formação de evangelistas. Possui também uma emissora de rádio e TV (RTMV)318,
instrumento eficaz para a evangelização. Segundo a fonte da própria Igreja, a RTMV
tem uma audiência de 15 milhões de pessoas em Kinshasa e arredores, Congo-
Brazzaville e norte de Angola. É conhecido como defensor dos Direitos Humanos. Para
isso, quatro personagens históricos o inspiraram, Jesus, Paulo, Martin Luther King e
Gandhi. Entre esses, admira mais M.L King. Foi preso no dia 30 de maio de 2003 e
ficou 11 anos na cadeia. Beneficiou da graça presidencial resultante das Concertações
Nacionais organizadas em junho de 2013, foi solto em agosto deste ano.
318
Rádio Televisão Mensagem de Vida.
319
http://www.sauvonslecongo.org/, acesso 06/04/2014.
125
que vêm de novas formações com vontade de fundar a própria Igreja” 320. As ID são um
espaço de sociabilidade. Nelas, os fiéis encontram redes de solidariedade e de apoio às
dificuldades da vida. Elas se apresentam como instituições que resolvem todos os
problemas das pessoas, inclusive doenças, desempregos, vistos para viajar para Europa,
casamentos, etc. Essas Igrejas são uma força de mobilização social eficaz. Muitos
políticos usam-nas como plataforma para ganhar votos. Alguns presidentes africanos
foram mais longe para se converteram a essas Igrejas, o presidente Laurent Gbagbo, da
Costa do Marfim; Matthieu Kérékou, do Benim e Olusegum Obasanjo da Nigéria.
Depois da eleição de 2007, o presidente reeleito Omar Bongo Ondimba se reuniu com
as Igrejas do Despertar para agradecê-las pelo apoio recebido 321.
Um pequeno país como Gabão, com uma população de 1.534.300, tem cerca de
150.000 pessoas que se declaram crentes (9,77% da população) e 1070 denominações
diferentes. O pentecostalismo entrou no país em 1930 com as AD e a Igreja da Aliança
Cristã Missionária (ACM). Os imigrantes nigerianos, benineses, congoleses (de
Brazzaville), togoleses, ganeses e marfinenses, atraídos pela produção do petróleo
(entre 1960 e 1980), tiveram também um papel relevante na implantação do
pentecostalismo. A Igreja do Cristianismo Celeste foi introduzida por Cécile Sossou em
1977 e a Igreja Bíblica da Vida Profunda também foi implantada no mesmo período por
imigrantes nigerianos e ganeses. Essa nova onda de pentencostalismo tem como
estratégia se instalar nos lugares de maior visibilidade e de acesso fácil: perto de
mercados e supermercados, terminais de ónibus e estações de trem, postos de gasolina,
praças e avenida principal, etc. Como em outros países, a maior parte dessas Igrejas
surgiu ou se implantou depois de 1990. O fato de não participarem na Conferência
Nacional faz com que as Igrejas estabelecidades as discriminem.
320
Mélanie Soiron FALLUT, Op. Cit., p.8.
321
Ibid., p. 10.
126
exercer suas atividades). Porém não se encontram para atenuar a tensão no mercado
religioso ou para melhor colaborarem na moralização da sociedade. A tensão no campo
religioso e as rivalidades favorecem o seu crescimento e sucesso.
322
Ibid., p. 13.
323
Maixant Mebiame Zomo menciona 1987 como data da fundação por um grupo de jovens dissidentes
da Igreja Evangélica do Gabão (IEG). Veja ARGYRIADIS, Kali et Outros. Religions transnationales des
suds, p. 97.
324
Mélanie Soiron FALLUT, Op. Cit., p. 15.
325
Ibid., p. 15.
326
Ibd., p. 17.
127
problemas que os feiticeiros ou curandeiros (nganga) resolvem. No caso gabonês, eles
resolvem-nos em um rito chamado bwiti ou ndjobi327. Se para curar doentes e expulsar
demônios, os pastores invocam o nome de Jesus, os nganga invocam os espíritos dos
antepassados. O ponto comum é a invocação de espíritos sobrenaturais. O espírito
sobrenatural tem a capacidade de alterar algo na vida do ser humano e do mundo.
A Igreja Cristo Revelado às Nações (ICRN) foi fundada em 1996, pelo Bispo
Mike S. Jocktane. Esse foi formado nos EUA no Institut Christ for the Nations de
Dallas, depois em Tulsa na Universidade Cristã Oral Roberts. No início de sua vida
religiosa, frequentou o CEB. Como líder religioso, se envolveu com a política sendo
nomeado conselheiro do presidente Omar Bongo em 2005. Em janeiro de 2009, foi
promovido como Subchefe da casa civil. Na propaganda da eleição presidencial de
2009, Mike Jocktane passou para a oposição e deu o seu apoio a André Mba Obame, o
que lhe causou muitas acusações e perseguições do partido que está no poder há mais
de meio século.
327
Ibid., p.18.
328
Ibid., p. 20.
329
Ibid., p. 27.
128
dessas Igrejas é dar possibilidade ao povo de ele mesmo ler e meditar a Palavra de
Deus.
A Igreja Pentecostista Cristã dos Camarões foi fundada por Achille Mendongo e
reconhecida em 1998. Desde 2012 dispõe de 850 templos em todo país, sendo que 50
templos em Yaounde e apenas 1 no norte. Segundo o pastor Mendongo, “Paul Biya,
presidente da república, foi escolhido por Deus, somente Deus que decidirá o momento
de sua retirada” 330. Mendongo tem esse discurso porque é da mesma etnia que do
presidente Paul Biya e recebe muitos favores do governo.
Como muitas Igrejas funcionam na ilegalidade, todas elas são obrigadas apoiar
os políticos, não criticá-los para não correr o risco de ter seus templos fechados. Há
certo culto de personalidade ao presidente Paul Biya. As Igrejas reconhecidas e
especialmente as Igrejas Cristãs Tradicionais incentivam os políticos a não reconhecer
as novas Igrejas pentecostais a fim de não perder seus privilégios e sucesso. Outra razão
que o governo usa para não reconhecer essas Igrejas é para evitar a formação e
crescimento do fundamentalismo religioso que pode desembocar na intolerância e
violência como é o caso da Nigéria e atualmente na República Centro Africana (RCA).
Nessa situação, o governo costuma mandar os agentes de segurança participar nos
cultos para ver se existem críticas direcionadas a ele. A Igreja Holy Ghost Revival
Ministry do pastor nigeriano Tchambo é exemplo típico. Em todos os cultos da Igreja de
Tchambo, recebia agente de segurança do Estado. Contrariamente a Kinshasa, aqui os
fiéis tem vergonha de se declararem crentes por dois motivos: as suas Igrejas funcionam
na clandestinidade e a mídia local passa uma imagem negativa de seus líderes. A mídia
os apresenta como bandidos, mentirosos e vigaristas. Como se não bastasse, essas
Igrejas são consideradas seitas. As únicas Igrejas pentecostais reconhecidas pelo
governo são a Igreja Bíblica da Vida Profunda, a Missão Evangélica Vida e Paz dos
Camarões, a Igreja Pentecostal Cristã dos Camarões, e a Full Gospel Mission331. As
únicas Igrejas pentecostais mais estruturadas e que têm relação com os políticos são a
Full Gospel, a Igreja Assembleia de Deus, a Reading Church e a Missão do Evangelho
Pleno.
330
Ibid., p. 31.
331
Ibid., p. 27.
129
2.4.4. Neopentecostalismo no Congo-Brazzaville
332
Ibid., p. 39-40.
333
Ibid., p. 40.
130
internacional, isso se mostra através da organização de megaeventos, vigílias de oração
comum, cruzadas de evangelização e de cura divina334. Segundo Melanie Soiron Fallut,
334
Ibid, p. 42.
335
Ibid, p.42.
336
Ibid, p.44.
337
Ibid, p. 44.
131
quo” de regimes corruptos e ditatóriais africanos; a maioria parte de seus líderes têm
curso superior (alguns eram professores universitários) e se autodeclaram doutores,
bispos, apóstolos, arcebispos, etc.; o discurso da prosperidade e o exorcismo e
libertação.
O Brasil está presente na África não somente no ponto de vista religioso, mas
também político e econômico. Ele faz cooperação com vários países africanos no campo
da economia, desenvolvimento e ciência. Por consequência, vários estudantes africanos
estão estudando no Brasil beneficiando de bolsa do governo brasileiro. A UNILAB,
(Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira) por exemplo,
foi criada nessa perspectiva.
338
Teresa Cruz e SILVA. A Igreja Universal em Moçambique, p.125.
339
Informações tiradas nos sites oficiais das referidas Igrejas. Para mais informação veja a Tabela 2,
p.220: Presença das do pentecostalismo brasileiro na África subsaariana. Tabela 3, p.222: o
pentecostalismo brasileiro em número de templos. Tabela 4, p. 223: a IURD, CCB e a IPDA em
porcentagem.
132
pode-se encontrar outras Igrejas neopentecostais como a “Mundial do Reino de Deus,
Mundial Internacional, Mundial da promessa de Deus, Mundial Renovada e a Igreja
Evangélica Pentecostal Nova Jerusalém” 340. Essas são fruto da dissidência com a
IURD.
340
http://www.publico.pt/mundo/noticia/presidencia-de-angola-manda-suspender-actividades-da-iurd-
por-60-dias-1583142 acesso 01/06/2014.
133
Conclusão
134
evangelização na década de 1950 e 1960. A Igreja Nzambe Malamu da RDC surge
naquele período. Várias outras Igrejas se implantam ou surgem a partir da influência da
renovação carismática na década de 1970. As Igrejas que tiveram influência da
renovação carismática começaram como grupos de oração ou ministérios para depois se
constituirem em Igrejas. Entre uma ruptura com outra, há sempre uma continuidade em
alguns aspectos da Igreja anteior, introdução de novos elementos e adaptação ao novo
contexto sócio-cultural. Os efeitos da Guerra Fria foram os golpes de Estado, a
formação de regimes ditatoriais, rebeliões e guerras civis. Entre 1970 a 1990, se instalou
regimes detatoriais em vários países africanos e esses tinham a influência capitalista.
135
CAPÍTULO III: IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE
DEUS NA ÁFRICA SUBSAARIANA
Introdução
As perguntas que podem ser feitas são, como um pequeno grupo religioso, que
começou com meia dúzia de pessoas numa ex-funerária no bairro da Abolição no Rio de
Janeiro, em pouco tempo se transformou em um império religioso e midiático? Quais
são as razões de seu crescimento e sucesso? O que favoreceu essa expansão?
Como a IURD entra num país, começa uma missão, cresce e tem sucesso? Cabe à
cúpula da Igreja decidir o lugar, escolher as pessoas que serão enviadas, montar uma
341
Ricardo MARIANO, Op. Cit., p. 55.
342
Ibid, p. 56.
343
Dowyvan Gabriel GASPAR, Op. Cit., p. 165.
136
comissão de investigação, mandar dinheiro e executar a missão. A comissão está
encarregada a investigar as probabilidades de sucesso, estudar a Constituição do país,
avaliar a linguagem mais apropriada ao contexto. Após o estudo pormenorizado da
região, a cúpula envia um pastor ou um grupo de pastores para alugar o espaço, que
deve se situar num local de grande visibilidade, de circulação de pessoas. Depois, envia
o dinheiro através de seu empreendimento bancário, o Banco Metropolitano de Crédito,
que tem sede na cidade de São Paulo344. A IURD escolhe os países ou uma região
seguindo os imigrantes lusófonos e hispânicos. Já que não tem interesse em dar uma
formação teológica a seus pastores, a fim de enfrentar melhor os desafios da missão
(compreender as pessoas e seus costumes, aprender e dominar línguas estrangeiras) e
ela segue a rota migratória.
André Mary chama ainda a nossa atenção sobre o cenário religioso mundial: Norte-Sul
(tradicional), Sul-Norte (a presença das Igrejas Independentes Africanas e Igrejas
Pentecostais Africans nas capitais europeias (Paris, Londres, Ámsterdam) e EUA) Eixo-
Sul (as Igrejas Pentecostais Brasileiras e Coreanas na África, as Igrejas africanas em
países africanos, América Latina e Ásia). No processo de transnacionalização, esses
344
Ibid., p. 168-174.
345
Paul FRESTON The Universal Church of the Kingdom of God: A Brazilian Church Finds Sucess in
Southern Africa, p. 40.
346
André MARY, Le pentecôtisme brésilien em Terre africaine. L’universel abstrait du Royaume de Dieu,
p.463. Trad. por Adrien Gyato B.
137
grupos religiosos seguem a rota migratória. A tese principal desse capítulo é que a
IURD cresce e se expande na África, se adaptando à cultura africana. Isto é, de um lado
demoniza e de outro lado dialoga, negocia e incorpora alguns de seus elementos.
Esse capítulo será dividido em três partes. Na primeira parte, será analisada a
presença iurdiana no continente africano, dividindo o continente em três línguas
oficiais: português, francês e inglês, sem esquecer que a IURD está também presente no
único país da língua espanhola, Guiné Equatorial. Dos 54 países que tem o continente
africano, a IURD está presente em 39. Com exeção da África do Norte, a IURD está
presente em quase todos os países no sul do deserto do Saara. Com isso, ela se torna a
principal presença pentecostal (ou religiosa) brasileira no contintente africano. Na
segunda parte, serão examinadas as estratégias de implantação e expansão da IURD. E
na última parte serão abordas as perspectivas de seu futuro no continente.
Os critérios que serão usados para falar da presença da IURD na África subsaariana
são o número de templos em determinado país e o trabalho social. As informações sobre
o número de templos foram levantadas a partir dos endereços de cultos divulgados no
site oficial da Igreja. Há, porém algumas contradições, o número de endereços postados
nesse site nem sempre corresponde com o número que os jornalistas publicam na Folha
Universal e em outras revistas da própria Igreja na África ou em outras revistas (como
Folha de São Paulo, Veja) aqui no Brasil. A Tabela 2, na página 219, dá uma ideia sobre
a presença da IURD na África subsaariana. A IURD está presente em 39 países. Os
países com o maior número de templos são: África do Sul (330 templos), Angola (57
templos), Costa do Marfim (51 templos), Moçambique (41 templos), Namíbia (23
templos) e Zimbabué (22 templos). Para melhor analisar essa presença, a África
subsaariana será dividida em três partes, de acordo com as línguas nacionais: África de
língua portuguesa, francesa e inglesa.
347
Mariano RICARDO, Op. Cit, p. 56.
138
Na segunda, a África do Sul seria também a porta de entrada para o continente já na
década de 1990, Edir Macedo possuía uma residência naquele país.
348
Ari Pedro ORO, André CORTEN e Jean-Pierre DOZON, Igreja Universal do Reino de Deus. Os
novos conquistadores da fé, p. 101.
349
Claudio FURTADO e Pierre-Joseph LAURENT, Le pentecôtisme brésilien au Cap-Vert. L’Église
Universelle du Royaume de Dieu, p.1992. Trad. por Adrien Gyato B.
350
Tereza Cruz e SILVA. A Igreja Universal do Reino de Deus em Moçambique, p. 126.
351
Veja a Tabela 5, p.224-225. Mas a Folha Universal, nº 990, do dia 27 de março a 2 de abril de 2011,
p.7i, dá o número de mais de 166 templos.
352
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/04/1269733-angola-proibe-operacao-de-igrejas-
evangelicas-do-brasil.shtml, acesso 26/06/2014.
353
http://www.thearda.com/internationalData/countries/Country_7_1.asp, acesso 27/06/2014.
139
Universal e da revista Plenitude Angola, que a própria Igreja disponinbiliza em seu site
oficial de Angola (www.iurdangola.net).
Esse acidente além de causar perda de vidas humanas, foi uma oportunidade
para o governo controlar a presença das Igrejas e das Religiões em seu território. O
governo angolano verificou a presença de uma boa parte de Igrejas na capital e nas
províncias e descobriu que 1200 Igrejas e religiões operavam legal e ilegalmente em
território nacional. Com isso, publicou a lista de 192 delas que não preencheram
requisitos para aquisição de personalidade jurídica. Dessas, 150 Igrejas foram proibidas
de funcionar356. Entre essas Igrejas, encontravam-se seis Igrejas pentecostais
brasileiras357: Igreja Mundial do Poder de Deus, Igreja Mundial e Renovada, Igreja
Mundial do Reino de Deus, Igreja Mundial Internacional, Igreja Mundial da Promessa
de Deus e a Igreja Evangélica Pentecostal Nova Jerusalém. As autoridades angolanas
354
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/04/1269733-angola-proibe-operacao-de-igrejas-
evangelicas-do-brasil.shtm, acesso 26/06/2014.
355
http://www.publico.pt/mundo/noticia/presidencia-de-angola-manda-suspender-actividades-da-iurd-
por-60-dias-1583142, acesso 26/06/2014.
356
http://angola24horas.com/portal/index.php/religiao/item/718-mais-de-150-igrejas-proibidas-em-
angola, acesso 27/06/2014.
357
http://www.publico.pt/mundo/noticia/presidencia-de-angola-manda-suspender-actividades-da-iurd-
por-60-dias-1583142, acesso 26/06/2014.
140
alegaram que essas “Igrejas” não eram Igrejas, mas empresas que enganavam o povo
angolano e vendiam milagres como mercadoria.
A revista Plenitude Angola tem uma tiragem de 20.000 exemplares e apesar de ser
publicada pela IURD se parece com qualquer outra revista mensal, pois aborda diversos
assuntos. Dentre eles: política, economia, bem-estar, assuntos juríricos, sobre a cultura,
esporte, traz crônicas e artigos. Além disso, ela divulga as ações sociais e celebrações
religiosas realizadas pela IURD em Angola. As crônicas e algumas reflexões são feitas
pelo bispo Edir Macedo, bispo Augusto Dias (responsável da IURD em Angola) e
Cristiane Cardoso (escreve sobre assuntos relacionados à mulher). A revista traz
também entrevistas de obreiros, pastores, testemunhos e depoimentos de novos
convertidos e notícia da IURD no mundo. No campo político-social, a revista publica as
atividades do governo angolano: lançamentos das primeiras pedras e a inauguração de
obras públicas, reunião de ministros, etc.
358
Plenitude Angola, nº 19, setembro 2012, p. 36.
141
Cardoso, cujo pano de fundo aborda a conduta da mulher virtuosa359. A Associação de
Mulheres Empresárias da IURD de Angola (AMEIAngola) e 300 obreiros doaram
sangue no Hemocentro da maternidade Lucrecia Paim e Hospital Josina Machel360.
Cinquenta missionárias da Sisterhood organização feminina ligada a IURD visitam o
centro social de acolhimento à terceira idade, Beiral, em Luanda. Essas mulheres
evangelizaram e ofereceram lençoís e cestos de frutas aos idosos 361. Os pastores e
obreiros da IURD visitaram as cadeias de Luanda, evangelizaram os presos e num dia
só batizaram 239 pessoas das quais 17 mulheres. Alguns agentes das cadeias também
se converteram362. A AMEIAngoala orienta os imigrantes congoleses de legalizar o seu
pequeno comércio. Ela trabalha pela reinserção social, reabilitação, estabilização
econômica dos imigrantes e dos demais angolanos. Ela participa também da campanha
de vacinação da pólio.363.
359
Ibid, p. 37.
360
Plenitude Angola, nº 19, setembro 2012, pp. 40-41. A AMEIAngola foi fundada em 23 de outubro de
2011 com finalidade de lutar contra a pobreza dentro e fora da Igreja. É um parceiro do Estado como
objetivos específicos: educação, criação de empregos e oportunidades, inclusão da mulher no mercado
de trabalho. Plenitude Angola, nº17, abril de 2012, p. 14.
361
Ibid, p. 60.
362
Plenitude Angola, nº17, de abril de 2012, pp. 36-37.
363
Ibid, p. 66.
364
Plenitude Angola, nº18, de julho de 2012, p.50.
142
assuntos em diferentes campos da sociedade. A Folha Universal publica mais as
reuniões da IURD do que a revista Plenitude Angola enquanto a última publica mais as
ações sociais da Igreja do que a primeira.
365
Folha Universal, Ano VII, nº91, Junho de 2012, p.4.
366
Folha Universal, Ano X, nº90, maio de 2012, p. 4.
367
Ibid, p.8.
368
Folha Universal, Ano VIII, nº84, outubro de 2011, p.4-5.
369
Folha Universal, Ano IX, nº93, agosto de 2012, p. 9.
143
Quebra da condenação hereditária: você que está condenado a
viver com problemas que os seus Antepassados viveram tais
como: esterilidade, doenças incuráveis, problemas cardíacos,
mortes constantes na família, visão de vultos, câncer,
hipertensão, pesadelos, audição de vozes, doenças de gota, mau
olhar, depressão, dívidas constantes, abortos, vícios (como
drogas, tabagismo e alcoolismo) e desemprego. Pare de sofrer!
370
Como em outros países, a IURD abre os seus templos todos os dias da semana.
A reunião da vida financeira (ou prosperidade) acontece na segunda-feira, da saúde na
terça-feira, dos filhos de Deus na quarta-feira, a da família na quinta-feira, a da
libertação na sexta-feira, a da terapia do amor no sábado e o encontro com Deus, no
domingo372.
1.1.1.3. O discurso
370
Folha Universal, Ano IX, nº93, agosto de 2012, p.4.
371
Plenitude Angola, nº17, Abril 2012, p. 56-57.
372
Ibid, p. 68.
144
iurdiano em Angola. O discurso urdiano na Angola são pregações ou palavras
proferidas por pastores e bispos durantes as reuniões.
Na reunião dos 319 e dos Heróis, de acordo com do discurso proferido pelo
pastor na reunião, ser crente da IURD é ser duplamente vencedor: em primeiro lugar, o
crente deve vencer em relação a Deus, isto é, na conversão e entrega. Em segundo lugar,
o crente deve vencer na vida cotidiana, no negócio e buscar o seu bem-estar. Deve ser
uma pessoa bem-sucedida. A pessoa é chamada a diferenciar o trabalho espiritual do
trabalho material. O pastor diz “ali fora, você tem que ser águia, você tem de matar um
leão por dia”. Os inimigos de um crente iurdiano não são somente católicos, praticantes
de religião tradicional e os demônios, mas também os comerciantes na vida secular. O
fiel deve lutar para encontrar seu lugar, montar seu próprio negócio e prosperar. Ainda
segundo o pastor, para vencer o crente tem que fazer sacrifício. Não pode fazê-lo como
todo mundo faz, tem que marcar a diferença, isto é ser um bom dizimista e dar
regularmente ofertas. Algumas vezes, tem que desafiar a Deus, dar tudo que possui a
fim de ser abençoado e tornar-se próspero. O crente não pode se contentar com o
mínimo, mas sim com o máximo. Tem que desejar e querer mais, imaginar grandes
coisas. Na perspectiva iurdiana, receber o Espírito Santo é ter contato direto com Deus
e Jesus. O Espírito Santo capacita a pessoa para fazer obra de Deus e revela o reino de
Deus. É a capacidade de enfrentar os desafios da vida, estar encarregado a resgatar as
almas do inferno. É viver segundo a vontade de Deus, ser sincero, responder sempre
“sim” ao invés de “sim e não” 373.
Na reunião do Jejum das Causas Impossíveis, o pastor afirmou que o medo faz
com que as pessoas não vençam na vida. A falta de coragem impede que as pessoas
tomem posse do emprego, do casamento, realizem seu sonho. O fiel deve se encher de
coragem a exemplo de David diante de Golias (1 Samuel 17, 24). O crente deve se
revestir do espírito de David, isto é, de coragem, fé e determinação. “A terminologia
'impossível' não existe no dicionário divino. 'impossível' é o juramento dos fracos” 374.
Já na reunião dos 328 e Grupo dos Heróis, o tema da pregação foi a convicção.
O crente deve ter convicção, isto é certeza no que ele acredita. A convicção deve
impactar a vida do crente. Ela traz vida, garantia, segurança e vitória. A convicção faz
373
Plenitude Angola, nº 19, setembro 2012, p. 32-33.
374
Plenitude Angola. Op. Cit, p. 43.
145
com que os sonhos se tornem realidade. A convicção implica perseverança, força de
vontade e a não desistência. Para vencer, o fiel deve saber se superar. Quem supera os
obstáculos é conhecido por sua dedicação, espírito de compromisso e disciplina. Quem
comanda a sua vida? Pergunta o pastor. É você mesmo. Conforme você governa a sua
vida, os objetivos fixados e metas colocadas serão alcançados. “Quem depende de Deus
e de um excelente comando pessoal, será sempre vitorioso” 375.
O crente iurdiano é quem sabe perdoar. A história de José do Egito vendido por
seus próprios irmãos como escravo (Gênesis 45, 4-5) foi o texto de base para a pregação
daquele dia376. O fiel está convidado a perdoar ao outro como fez José, filho de Jacó. O
perdão é um grande remédio para a depressão, pressão alta e outras doenças cardíacas.
Quem perdoa vive em hamonia consigo mesmo e com os demais. Não tem como amar
sem perdoar. O amor e o perdão andam junto.
Todo ano, alguns jovens iurdianos juntos com pastores realizam a caminhada
missionária. A caminhada que ocorreu em junho de 2012 teve como objetivo: orar pela
consolidação da paz em Angola e pela prosperidade dos fiéis iurdianos. Eles
caminharam por 10 dias, percorrendo 319 km, de Sumbe a Luanda. Todo o sofrimento,
dor, inchaço dos pés, frio, calor, perigo de encontrar animais selvagens e os mosquitos
perigosos, etc., tudo foi prova de sacrifício, fé e determinação. Com esse sacrifício, os
peregrinos acreditavam que todos os problemas insolúveis encontrariam solução, todos
os sonhos seriam realizados. Esses vestiam camisas escritas “fé e determinação”. Eles
queriam imitar a fé de Abraão, considerado pai dos crentes. Abraão disse “sim” a Javé e
saiu de sua terra para um lugar desconhecido, só depois disso que nasceu Isaque. A cada
kilómetro percorrido significava o fim das discórdias e desunião nas famílias, da
esterilidade, da miséria, da inveja, das doenças constantes e da solidão. A chegada dos
peregrinos em Luanda refletiu a derrota do mal e do Diabo. O bom pastor dá a vida por
suas ovelhas (João 10,11). Com sacrifício, os pastores queriam repetir a palavra e a vida
de Jesus. “A dureza do percurso tornou o nosso sacrifício verdadeiro”, repetia um
pastor; “a peregrinação não é uma maratona de esporte, mas um ato de fé, a fim de
375
Plenitude Angola, Op. Cit. p. 35.
376
Ibid, p. 38-39.
146
chamar atenção de Deus a favor dos rejeitados” afirmava o outro377. Mais do que um
discurso, essa caminhada foi uma ação, uma experiência religiosa.
377
Plenitude Angola, nº18, Julho de 2012, p. 32-45.
378
Ibid., p.50.
379
Ibid., p. 49-51.
380
Ibid., p. 56-59.
147
conflitos e divisões. O crescimento e expansão se dão nessa na tensão dentro da Igreja e
entre a Igreja e a sociedade.
381
Revista Isto é, Ano 37, nº2293, 30 de outubro de 2013, p. 62-63.
382
Plenitude Angola, nº17, Abril 2012, p. 32.
383
Ibid., p. 33.
148
grave e que lese o casamento, deve se confessar também frente a seus companheiros. O
obreiro deve se manter vigilante para não cair à tentação do diabo.
384
Plenitude Angola, nº17, Abril 2012, p. 42.
385
Ibid., p. 42.
386
Ibid., p. 50.
387
Ibid., p.53.
149
de primeira pedra, inauguração e restauração de vários templos em Angola. O que
representa essas ações? Se ontem, essa Igreja alugava salas de cinemas e teatros
abandonadas em Luanda, hoje tudo mudou. O que representa essa mudança? Qual é o
significado do templo para a IURD? A imagem de Deus que a IURD ensina é a de um
Deus rico, próspero e poderoso, Dono do ouro e da prata, seria contraditório o mesmo
Deus habitar um barraco ou uma casa precária A casa do Deus rico deve refletir a sua
imagem. “Compramos espaços ideais e que glorificam a Deus. Não aceitamos lugares
para remediar. O Deus que servimos merece melhor. Aconselho que aquele que busca o
Deus da IURD, o Deus Vivo, não aceite apenas remediar, contetar-se com coisas
388
pequenas, não! O nosso Deus pode todas as coisas” . Construir um novo templo é
símbolo da presença de Deus, da vinda do seu reino, de mudança e conversão na
comunidade. “O templo é a maternidade onde nascem filhos de Deus e onde as vidas
são restauradas (...). A construção de um templo é a reconstrução de vidas” 389. O
edifício está construído de maneira a proporcionar conforto aos fiéis.
388
Plenitude Angola, nº19, Setembro, 2012, p. 51.
389
Ibid, p.51.
390
http://www.publico.pt/mundo/noticia/presidencia-de-angola-manda-suspender-actividades-da-iurd-
por-60-dias-1583142, acesso 04/06/2014.
391
Veja a Tabela 3, p. 222. Mas a Folha Universal, nº 990, de 27 de março a 2 de abril de 2011, p.5i, deu
o número de 305 templos
150
crise que se vivia levaram ao estabelecimento de alianças
internas e à definição de parceiros com quem cooperar (...) 392.
A IURD realizou a sua primeira reunião no Cine África, isto é, no dia 20 de
novembro de 1992, depois alugou o “Cinema dos Continuadores e o Pavilhão do Estrela
Vermelha em Maputo” 393. Segundo Tereza Cruz e Silva, a IURD atingiu
primeiramente, os indivíduos pertencentes a estratos sociais mais desfavorecidos.
Durante o seu processo de expansão, foi cobrindo sensivelmente os mesmos grupos
sociais, com maior adesão de população urbana. Só mais tarde que um pequeno número
de moçambicanos de classe alta começou a aderir. Nas regiões urbanas, para atrair
pessoas, a sua principal ferramenta é a mídia. Ainda segundo Tereza Cruz e Silva, a
IURD sintoniza suas mensagens com as necessidades materiais e espirituais dos pobres.
Ela oferece resposta no campo moral, restituindo o sentido da família e o tecido social
que o colonialismo destruiu, e que agora, o neoliberalismo continua destruindo.
392
Teresa Cruz e SILVA. Op. Cit, p. 124.
393
Dowyvan Gabriel GABRIEL. Op. Cit., p. 174.
394
Teresa Cruz e SILVA, Op. Cit., p 129.
395
Ibid, pp. 129-130.
396
Ibid, p. 130.
151
cobertores397. Dowyvan Gabriel Gaspar avança o número de 750 toneladas de bens398.
Respondendo ao pedido do banco de sangue do Hospital Central de Maputo, a ABC
mobilizou em massa seus crentes, conseguindo um número recorde de doações.
397
Ibid, p. 130.
398
Dowyvan G. GASPAR, Op. Cit., p. 194.
399
Teresa Cruz e SILVA, Op. Cit., p. 132.
400
Ibid., p. 133.
401
Ibid., p. 133.
402
Ibid., p. 134.
152
Em sua pesquisa de campo realizada em Maputo, em 2008, Dowyvan Gabriel
Gaspar entrevistou 100 adeptos da IURD. Concluiu que os moçambicanos frequentam a
IURD para encontrar a solução de seus problemas financeiros e de saúde403. Segundo os
fiéis entrevistados, a cidade de Maputo está confrontada com vários problemas, entre os
quais o atendimento e tratamento precário em hospitais, a violência urbana. 45% dos
entrevistados afirmam ter concluído o ensino de base (fundamental e médio), e 55% não
têm nenhum estudo. 75% afirmam ter tido uma religião anterior (entre a Igreja católica,
RTA ou Igrejas Zionistas). Além de problemas financeiros e de saúde, alguns eram
vítimas da feitiçaria, e tinham problemas afetivos (solteiros). O autor observou a
divergência de opiniões sobre a questão de dízimo e ofertas. Uma parte dos fiéis da
IURD ainda não compreendeu ou não se conveceu suficientemente sobre a razão de
tanta insistência sobre o dízimo e as ofertas. 21% dos entrevistados acham o dízimo
facultativo, 6% o desaprovam e 73% o acham obrigatório. Por outro lado, 7% dos
entrevistados acham que a oferta deve ser obrigatória, 44% acham que deve ser
facultativa e 49% a desaprovam404. Visitanto os templos da capital, com exeção de um
pastor moçambicano, o restante dos pastores e bispos era brasileiro.
403
Dowyvan G. GASPAR, Op. Cit, p. 177.
404
Ibid., p. 188-189.
405
http://www.universal.co.mz/2014/06/bispo-jean-realiza-frequencia-jovem-100-limites/#, acesso
24/06/2014.
406
Teresa Cruz e SILVA, Op. Cit., p.134.
153
A IURD acumula no plano mundial os recursos que aproveitam
sem ambiguidade a seus líderes e empreende os investimentos
que testemunham de sua riqueza, mas a regra que quer que a
promoção dos pastores na hierarquia seja consequência de sua
atitude em angariar ao máximo os dons e ofertas é
incompantível, ao menos até certo nível, com a política do
ventre407.
O sucesso da IURD em Moçambique, assim como de outras Igrejas, está na
adaptação de sua mensagem à situação concreta dos fiéis. Em nossa opinião, com a
iniciativa de incentivar as viúvas a ter autonomia financeira, ensinando-lhes estratégias
para começar um novo negócio, sair da dependência total e da extrema pobreza,
aconselhando-as a superar as discriminações e perseguições da cultura, a IURD se
coloca como uma Igreja libertadora, salvadora e emancipadora de uma categoria social
muito discriminada. Porque é uma contradição enorme, pregar a Palavra de Deus e ver
as pessoas continuarem vivendo na miséria e serem reféns de costumes discriminatórios
e desumanos.
154
a esperança de vida de 71, 2 anos (FMI, 2006). Juntando indicadores econômicos e o
desenvolvimento do capital humano, em janeiro de 2008, o país começou a fazer parte
dos Países de Desenvolvimento Médio (PDM)” 411.
Pelo PIB, o setor dos serviços conta aproxidamente com 72% da riqueza
nacional, enquanto 17% são atribuídos ao setor da indústria e construção, somente 11%
à agricultura e pesca. Uma boa parte da riqueza nacional provém da transferência
financeira de imigrantes cabo-verdianos e a ajuda pública ao desenvolvimento
representa 24 % do PIB 412. Esse bem-estar não atinge todos os cabo-verdianos. Em
2004, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) estimou a taxa
de pobreza em 36,7% e a taxa da pobreza extrema em 19,7% ou seja 56,4% da
população (PNUD 2005). Desde então a repartição dos frutos desse crescimento tornou
um grande risco para a coesão social e um real desafio político413. Cabo Verde é
também marcado pela desigualdade social no mesmo nível que o Brasil. De um lado
tem o crescimento econômico, e de outro lado, o aumento das desigualdades sociais.
411
Ibid., p.115.
412
Ibid., p. 115.
413
Ibid, p. 115.
414
Pierre-Joseph LAURENT, Claudio FURTADO e Charlotte PLAIDEAU, L’Église Universelle du Royaume de
Dieu du Cap-Vert. Croissance urbaine, pauvreté et mouvement néo-pentecôtiste, p. 13. Trad. por Adrien
Gyato B.
155
da família matricial associada com uma figura ausente do pai, a prostituição doméstica,
o alcoolismo e drogas, delinquência e criminalidade” 415.
415
Claudio FURTADO e P.J LAURENT, Op. Cit, p. 116.
416
Ibid., p. 121. Segundo The ARDA (2010), 95,05% de cabo-verdianos são cristãos, 2,77% são
muçulmanos, 1,13% das RTA, 0,15% de Bahai, 0,89% de agnósticos e 0,01% de outras religiões. Veja
Talela 5, p.224-225.
417
Veja a Tabela 3, p.222.
156
exorta-as a parar definitivamente de sofrer (Pare de sofrer!) 418. Os testemunhos levam
a uma relação de proximidade, de familiaridade e de vizinhança. Um cabo-verdiano
disse “se o meu vizinho recebeu um milagre na vida dele, por que eu não?”. Claudio
Furtado e Pierre-Joseph Laurent citam um dos testemunhos que retrata a realidade cabo-
verdiana,
418
P.J LAURENT, C. FURTADO e C. PLAIDEAU, Op. Cit., p.2.
419
C. FURTADO e P.J LAURENT, Op. Cit, p. 119.
420
Ibid., p. 116.
421
Ibid., p. 120.
157
rígida na observância das normas religiosas e morais. Ela se empenha em sempre
surpreender os fiéis, mudar, empurrar, convencer e gerar esperança neles.
Outra estratégia adotada pela IURD é o seu discurso, que tem como conteúdo a
teologia da prosperidade. Ser adepto da IURD significa sair da vida sofrida, da doença
e da dor, da carência material, etc. “A pobreza tornou-se escândalo, escravidão, cujo
fiel procura por todos os meios se libertar”422. As noções de desgraça, fracasso e
sofrimento estão no coração das representações que os fiéis fazem de sua situação, a
IURD consideram-nas como imposturas. “O que os fiéis buscam na IURD é a esperança
de ser livre e de encontrar a força para extrair o peso da culpa que a Igreja Católica
deixou na consciência” 423. A vitória contra os inimigos é individual. E o inimigo é
anônimo e impessoal.
Nessa perspectiva, o crente não nasceu para sofrer, sua vida reflete suas próprias
atitudes. A vontade de Deus é que o fiel não fique na desgraça e na miséria. Mas tomar
posse de si mesmo, se tornar responsável e dono do seu destino, a fim de se emancipar
da inveja, ciúme, ira, álcool, drogas, nervosismo, as hesitações, atentismo que invadiu a
sua existência. Libertar-se do mal depende unicamente da pessoa, culpado de
comprazer-se na resignação. O sentimento de culpa diante do pecado se desloca: você
422
P.J LAURENT, C. FURTADO e C. PLAIDEAU, Op. Cit., p. 5.
423
C. FURTADO e P.J LAURENT, Op. Cit., p. 123.
424
Ibid., p. 124.
425
Ibid., p. 124.
158
não é mais culpado frente a Deus, mas frente a você mesmo426. E para sair dessa
situação, “tem um preço a pagar: estar disposto a aceitar a responsabilidade de ser um
sócio da obra de Deus” 427. Isto é, tornar-se dizimista e ser fiel as ofertas.
Nas reuniões da IURD, é possível observar duas dinâmicas que perpassam toda
cerimônia: dom e demanda, oferta e pedido. Antes do pedido, o pastor já sabe da
necessidade do fiel. Ele oferece os bens imateriais (fala, oração, bênção), em troca, os
fiéis dão dinheiro. Participando em algumas reuniões no Cabo Verde, Pierre-Joseph
Laurent e outros obervaram essa dinâmica:
Aqui, o safrifício é feito para ser religado e reconhecido. Ser religado, é deixar a
vida anterior, escolher uma nova vida de acordo com os preceitos da Bílbia. Para
chamar a atenção de Deus, o fiel não é convidado a rezar e fazer jejum como acontece
na Igreja Assembleias de Deus em Burkina Faso, mas em privação, isto é, dons em
dinheiro429. Em Cabo Verde, o sucesso da IURD é tido como uma vitória coletiva e
individual. Coletiva, porque os fiéis participam e se identificam com as reuniões e
426
P.J LAURENT, C. FURTADO e C. PLAIDEAU, Op. Cit., p.6.
427
C. FURTADO, C. e P.J LAURENT, Op. Cit., p. 125.
428
P.J LAURENT, C. FURTADO e C. PLAIDEAU, Op. Cit., p. 6.
429
Ibid, p. 7.
159
outras obras que a Igreja realiza diariamente e individual, porque o êxito do fiel ou a
melhoria de sua vida faz parte do êxito da Igreja.
Outro fato que os autores sublinham, pois marca a IURD no Cabo Verde é a
saída do pastor Marcelo Abrantes da Igreja para fundar a Igreja Mundial dos Milagres
(IMM). Esse pastor trabalhou durante 24 anos na IURD. Depois de seu mandato como
bispo em Cabo Verde, foi transferido para Portugal onde fazia parte da equipe
missionária. Marcelo Abrantes foi para Portugal, mas não gostou da decisão, depois de
alguns meses pediu demissão, voltou para Cabo Verde e fundou a Igreja Mundial dos
Milagres (IMM). Ele pensou que estava sendo afastado porque era responsável pelo
sucesso no crescimento extraordinário da IURD no país. Criticou a IURD de ser mais
uma empresa que uma Igreja. A IURD visa os bens materiais e não espirituais. Com
essa cisão, Marcelo Abrantes conseguiu arrancar 60 % dos adeptos iurdianos no
Arquipélago. Ele administra a nova Igreja junto com os seus dois filhos, e possui a
Rádio Cidade para as sua propaganda 431. O fundador se declarou Apóstolo e a sua
esposa Vanessa, Bispa 432. Toda programação dessa Igreja é semelhante à IURD:
segunda-feira: reunião de Prosperidade; terça-feira: Saúde; quarta-feira: Fortalecimento
430
C. FURTADO e P.J LAURENT, Op. Cit, p. 128.
431
P.J LAURENT, C. FURTADO e C. PLAIDEAU, Op. Cit, p.9-10.
432
Sobre a IMM http://igreja-apostolicamundial.blogspot.com.br/, acesso 26/06/2014.
160
espiritual; quinta-feira: novena da família; sexta-feira: ritual sagrado; sábado:
prosperidade do lar e domingo: Espírito Santo.
433
André MARY, Op. Cit., p. 464.
434
Paul FRESTON, Op. Cit, p. 63.
435
Jean-Pierre DOZON, A Igreja Universal na Costa do Marfim, p. 105.
436
Ibid, p. 109.
161
econômico. A Costa do Marfim está dividida em duas partes, o norte de maioria
muçulmana é pobre e sem infraestrutura e o sul de maioria cristã é rico com
infraestrutura de base (estradas, escola, hospitais, mercado, etc). Os marfinenses do
Norte são marginalizados, a maioria provém de Burkina Faso e são de religião islâmica.
Os do sul se consideram mais aptos a dirigir o país. Esse conflito de identidade nacional
estava à base da guerra civil que assolou o país.
437
Ibid., p. 106.
438
Ibid., p. 112.
439
http://iurdenderecos.wordpress.com/, acesso 04/07/2014.
162
simplesmente seguir os passos dos migrantes de língua portuguesa”. Um ano depois,
abre o primeiro templo anglófono, e o crescimento posterior é impressionante, pois um
ano depois já contava com dezesseis templos e, em 1998, com 115. Em janeiro de 2001,
o Universal News tinha uma tiragem de 100 mil exemplares, recenseia 181 templos (...).
Em 1994, abre no Quênia e Uganda440.
440
Ari P. ORO, André CORTEN e J.P DOZON, Op. Cit., p. 101.
441
Paul FRESTON, The Universal Church of the Kingdom of God: A Brazilian Church Frinds Success in
Southern Africa, p. 33. Trad. por Antoni Leh LESZEK.
442
Ibid, p. 33.
443
Ibid, p. 45.
163
1.3.1. A IURD na África do Sul
“O Apartheid reinava nas igrejas pentecostais. Algumas delas podiam até mesmo
estar ligadas à extrema direita africâner. As figuras como Nicolas Mbenghu, se fazia
respeitar como dirigente negro da Assembleia de Deus ou Frank Chicane, que ousou
enfrentar a hierarquia de Igreja, AFM (Apostolic Faith Mission) são exceções” 446.
Ainda segundo André Corten, as Igrejas pentecostais tinham uma tendência maior em
seguir a linha da muito Africaner NGK (Igreja Holandesa Reformada), que pretendia
444
Veja Tabela 5, p.223-224.
445
André CORTEN, Igreja Universal na África do Sul, p.139.
446
Ibid., p.140.
164
encontrar na Bíblia um fundamento para o Apartheid, em vez de adotar as posições mais
progressistas das Igrejas metodista, Anglicana e Católica447. As Igrejas etíopes,
Sionistas e Apostólicas, que representam o terço da população sul-africana negra,
preservavam a sua autonomia, mantendo uma atitude apolítica diante do Apartheid.
Em 1993, a IURD abriu templos em Durban, Cape Town, Soweto, atingindo todas
as capitais das provínvias sul-africanas e hoje está presente até em pequenas cidades do
interior. Sengundo André Corten, em 2001, a IURD tinha 181 templos453. Atualmente,
447
Ibid., p.140.
448
Ibid, p.141.
449
P. FRESTON, Op. Cit., p. 47.
450
Ibid., p. 47.
451
Ibid., p. 48.
452
A. CORTEN, Op. Cit., p.138.
453
Ibid, p. 138.
165
segundo a própria Igreja, ela possui 330 templos. Eventos especiais como cruzadas de
evangelização, virada de ano e milhares podem se realizam fora dos templos,
normalmente em espaços abertos ou em estádios. Em 1998, foi a vez do estádio de
rugby Ellid Park receber uma dessas cruzadas. Em 2004, conseguiu encher seis estádios
consecutivamente.
Os negros sul-africanos aderem mais à IURD do que os brancos. Em uma visita feita
por Paul Freston à catedral de Cape Town, em 2004, 100% de fiéis eram negros, desses
55% eram mulheres. Não havia brancos, nem mestiços. Durante a reunião, um jovem
pastor negro sulafricano pregou em inglês, mas os cânticos eram em xhosa454. Os
pastores iurdianos de outras nacionalidades (portugueses, latinos americanos e
africanos) imitam a fala do fundador e sonham em conhecer o Brasil, onde surgiu a
Igreja.
Relativo à mídia, “a licença para instalar a rádio em KwaZula Natal, lhe foi negada
duas vezes. Mas ela tem duas emissoras de rádio: Rádio Cidade e Lotus FM, e aluga
horas para seus programas em outras emissoras de rádio e televisão” 456. Tem livrarias
que exibem obras de evangelistas e teólogos da teologia da prosperidade como Max
Lucado, T.L Osborn, Tim LaHaye. A principal obra é a do bispo Marcelo Crivella em
454
P. FRESTON, Op. Cit., p. 50.
455
Ibid., p. 51.
456
Ibid, p. 51.
166
1999, tendo o título, “Mutis, Sangomas and Nyangas: Tradition ou Witchraft?” 457
457
Ibid, p. 51.
458
Ibid., p. 52.
459
Ibid., p. 52.
460
Ibid., p.53.
167
A IURD da África do Sul é diferente de outras Igrejas neopentecostais. Se essas
reúnem mais as pessoas da classe média e caracterizam-se por um gerenciamento da
emoção, assegurado pela beleza da música e dos cultos. A IURD se diferencia com a
sua composição social, mais popular, reúne pessoas de diferente classa social. Há
também a questão da mobilidade social461.
461
A. CORTEN, Op. Cit., p. 143.
462
Ibid., p.143.
463
Ibid., p. 144.
464
Ibid., p. 144.
465
Ibid., p. 144.
168
mistura de raça está em condição de preencher um vazio cultural sulafricano,
construindo uma nova identidade?” 466
Como a IURD construirá uma nova identidade
enquanto a questão da identidade brasileira está ainda em aberto (racimo e
discriminação contra negros e indígenas)? No Brasil, reina ainda o racismo disfarçado.
É por isso que a afirmação de Paul Freston é válida: “a IURD fracassou reproduzindo o
padrão do racismo brasileiro na África do Sul” 467.
Já que a IURD é uma Igreja multirracial, isto é, tem pastores brancos, mestiços e
negros. A maior parte de seus bispos é branca e brasileira. Seria interessante uma
análise antropológica e sociológica sobre a relação entre o clero iurdiano na África:
entre brancos (brasileiros, portugueses e outros) e negros (brasileiros e africanos), entre
os negros brasileiros e os negros da África de um lado e de outro lado a impressão que
os fiéis tem do clero branco. Porque no imaginário africano, que é infelizmente a
herança da colonização, as pessoas brancas estão sempre ligadas à riqueza, ao poder.
Segundo Paul Freston, os negros sulafricanos têm uma boa impressão do clero branco
brasileiro. Eles falam que os brancos brasileiros não são brancos, mas negros. Isto é, são
diferentes de brancos sul-africanos e de outros brancos (europeus e estadunidenses).
Eles têm a facilidade de se adaptarem à cultura africana e lidam de maneira diferente
com os negros468. Em alguns vídeos que assistimos na internet sobre a IURD em Costa
do Marfim, vimos o bispo Flávio, ex-líder iurdiano na Costa do Marfim abraçar
marfineses, rir e impor as mãos sobre eles. O que mostra uma relação de proximidade e
de adaptação com os nativos. As Igrejas Indepndentes sul-africanas (Sionistas e
466
P. FRESTON, Op. Cit., p.54.
467
Ibid, p.55.
468
P. FRESTON, Op. Cit., p. 55.
169
Etíopes) são os maiores rivais da IURD no país. Elas também pretendem resolver todos
os problemas das pessoas: financeiro469, desemprego, sentimental, doença, depressão,
vícios, insónia, dores de cabeça, homossexualidade, inveja, azar, bruxaria e todo tipo de
maldição470.
A presença da IURD na Zâmbia é um caso singular. Entrou nesse país em 1995 por
Lusaka, rapidamente se espalhou em outras cidades como Chililabombwe e
Livingstone. Segundo Paul Freston, um ministro da casa civil do governo da era
Kaunda, aderiu à Igreja472. Um fato que começou a dar-lhe visibilidade. Apesar de um
servidor público de alto escalão aderir à IURD, em 1998, foi proibida de funcionar por
dois motivos. Primeiro, porque “não era reconhecida legalmente pelo governo. Em
segundo lugar, foi acusada de satanismo” 473. Alguns membros da Igreja que foram
entrevistados afirmaram que as doações de sangue que faziam serviam para rituais
satânicos para os pastores. Por esse motivo, o governo fechou os templos iurdianos e os
pastores e bispos foram expulsos do país.
470
Ibid, p. 43.
471
Ibid, p. 61-62. Para informação sobre o crescimento, veja a Tabela 3, p. 222.
472
Ibid, p. 61.
473
Ibid., p. 61.
170
promulgada ser rígida, os grupos que fazem parte da Federação Evangélica da Zâmbia
são convidados a respeitá-la. A cúpula da Igreja interveio junto ao governo e quatro
meses depois, suas atividades foram restauradas. Em 2003, pretendia alugar três locais
com capacidade para 500 membros. Com doações vindas de outros países, conseguiu
construir a Catedral da Fé em Lusaka, com capacidade para 1500 lugares. A mensagem
de propaganda do templo foi “quem diz se você é pobre não pode prosperar?” 474.
A Namíbia fazia parte da África do Sul durante o Apartheid, mas com sua
independência em 1990, se separou para se tornar um país independendente. O país é
multirracial, composto por negros (cerca de 84%), brancos, mestiços e chineses (16%).
O país tem 2 milhões de habitantes, a grande parte vive na miséria, 15% estão
infectados pelo vírus HIV. A IURD foi implantada em 1999 e em 2014, possui 21
templos475. Em um evento organizado no estádio Sam Numoja, em Vinduque, o bispo
Marcelo disse “Se você perder o emprego, então abre o teu próprio, se o esposo te
deixou, então acredite que Deus tem alguém melhor para você” 476. O que mostra que a
IURD acredita na recuperação do ser humanao, na restauração de sua vida sentimental e
financeira.
Botsuana tem uma população de 2 milhões de pessoas, das quais 30% vivem abaixo
da linha da pobreza e 25% estão contaminados pelo vírus HIV. É o mais alto índice de
infecção do vírus de HIV na África austral. A IURD se implantou em 1999 e
atualmente, tem 15 templos. A IURD luta contra a pobreza, promove saúde e educação,
combate a exploração sexual e o suicídio. A Igreja tem um programa chamado “Back to
School”, que incentiva os estudantes a se formarem, se prevenirem contra o vírus HIV e
a não se envolver com as drogas e a criminalidade477.
474
Ibid, p.61.
475
Folha Universal, Ano 21, nº1146, 23 de março de 2014, p. B12. Mas segundo a nossa pesquisa,
encontramos 23 templos (Veja Tabela 3, p. 220).
476
Ibid, p. B.12.
477
Folha Universal, 06 de julho de 2014, p. B12. Esse número da Folha Universal avança o de 15 templos
e a implantação em 1998, enquanto Paul Freston, por sua vez, fala de 1999. E segundo a nossa pesquisa,
a IURD tem 11 templos. Veja Tabela 3, p.222.
171
1.4. A IURD em outros países anglófonos
478
Yvan DROZ, A Igreja Universal no Quênia, p. 115.
479
Ibid, p. 117.
480
Ibid, p. 122.
172
transformação de vida. Tudo isso para chamar atenção de quem
precisa de ajuda481.
A língua constitui um grande desafio que os pastores iurdianos enfrentam
sempre. O testemunho do pastor brasileiro que a Folha Universal traz, é um dos
exemplos. “Foram seis meses de luta constante para entender as pessoas e se fazer
entender. Mas o pastor não desistiu: se qualificou, aprendeu o idioma em caráter
emergencial e começou a fazer as reuniões” 482.
Gâmbia é um pequeno país da África ocidental, com 1,8 milhão de pessoas. 90% da
população são muçulmanos. Em fevereiro de 2012, o pastor responsável pelo trabalho
missionário no país começou o processo a autorização de funcionamento da Igreja.
Depois de alguns meses, a Igreja recebeu os membros do Conselho Cristão de Gâmbia
(CCG) que vieram verificar a seriedade do trabalho evangelístico e social da IURD.
Depois dessa visita, a IURD recebeu a autorização do governo gambiano e começou a
funcionar no mês de setembro de 2012 483. Antes desse processo, a Igreja abria as portas
às quarta-feiras, sextas-feiras e aos domingos. Agora ela funciona todos os dias da
semana com três reuniões por dia: uma de amanhã, outra a tarde e a última à noite. A
IURD atende “vítimas da feitiçaria, pessoas com problemas familiares, enfermos, e
outros” 484. O que é interessante aqui é que, no processo da legalização do
funcionamento de uma denominação cristã no território nacional, o governo consultou e
dividiu a responsabilidade com o Conselho das Instituições Cristãs. Este constitui a
única presença da Igreja em um país de maioria muçulmana.
481
Folha Universal, Ano 21, nº1146, 23 de março 2014, p. B12.
482
Ibid, p. B12.
483
Folha Universal, Ano 21, nº1070, 7-13 de outubro de 2012, p.1i.
484
Ibid, p.2i.
173
2. Estratégias de implantação e expansão
485 André MARY, Le pentecôtisme brésilien en terre africaine. L’universel abstrait du Royaume de Dieu
, p. 464-467. Trad. Adrien Gyato B. O que André Mary percebeu na África ocidental, pode ser aplicado
no restante dos países do continente.
174
que o negócio que quer iniciar, dará certo e vai render. Em Abidjan, por exemplo, a
IURD está presente tanto no centro da cidade, quanto na periferia e nos bairros nobres
como Riveira II. “A estratégia de ocupação intempestiva de espaços de grande
visibilidade e os gastos elevados por aluguel causaram imediatamente grandes rumores
sobre a origem do dinheiro arrecadado pela Igreja ou sobre os procedimentos de
“vampirização de fiéis” 486
. A IURD é comparada a algumas Igrejas pentecostais de
Abidjan que são chamadas “Igrejas de milagres” ou “Igrejas mágicas”, frequentadas
especialmente por nigerianos. Esses consideram a IURD como uma igreja de ricaços
estrangeiros e uma oportunidade para fazer business 487.
Suas primeiras instalações são alugadas (os antigos cinemas, restaurantes, lojas,
prédios abandonados). Escolhe os antigos cinemas onde eram exibidos filmes de terror,
de violência, de prostituição, de consumo de drogas, da máfia, portanto lugar diabólico;
é uma estratégia de reconquistar passso a passo o reino do Diabo a fim de assegurar a
vitória de Cristo. Longe de questões financeiras, a ocupação de tais lugares é simbólica.
486
Ibid., p. 465. Vampirização é sinônimo de sanguessuga. A IURD é comparada à sanguessuga. Isto é
que suga ou explora os bens materiais dos fiéis.
487
Ibid., p. 465.
488
Ibid, p. 466.
175
Aluga horários em outras emissoras de rádio e TV do país. Segundo André Corten,
“apesar do crescimento iurdiano em número de templos, continua a ser considerada uma
Igreja estrangeira e é sistematicamente descartada dos canais televisivos (...). A IURD
ocupa a faixa de horários na Rádio Ukhosi e na Rádio Cidade, além de possuir sua
própria rádio, a Kingdom Rádio” 489. Em Cabo Verde, ela possui a Rádio Crioula e em
Moçambique, Rádio TV Miramar tem a cobertura quase nacional. Em Angola, ela
possui Rádio LAC (Luanda Antena Comercial), que emite em todo território nacional,
tem também a rádio Nzimbu e a TV Iurd online na internet.
Cada ser humano quer guardar a fama e dignidade, as instituições também fazem
o mesmo. Por causa do seu passado recente, marcado pelas traições e acusações, a
Igreja aprendeu a não expor a sua vida ao público. Qualquer informação é segredo.
176
cultivadas com o mundo exterior. O proselitismo de rua e a
permanência de acolhida vão junto com a hostilidade de todo
pedido de informação ou de sondagens sobre a Igreja vindo de
jornalistas, repórters ou pesquisadores. Todo fiel, como pastor,
tem como instruções de recusar qualquer troca de informação
com um estrangeiro e de encaminhar todo pedido de entrevista
ao responsável principal da Igreja 491.
O fiel que entrega ou trai a Igreja ao estranho, é comparado a Cam, que viu a nudez
de seu pai Noé, e foi amaldiçoado (Gênesis 9,18-29). Toda informação sobre a Igreja é
segredo e deve se manter sigilosa.
491
A. MARY, Op. Cit, p. 467.
492
Ibid., p. 469.
493
Ibid, p. 469.
494
P. FRESTON, Op. Cit, p. 40-41.
495
Ibid., p. 40-41.
177
religiosa, deve ser visto por outra perspectiva ou ser avaliada de outras maneiras.
Segundo André Mary, o bispo Flávio, que trabalhava na Costa de Marfim, administrava
todos 11 países da África francófona como uma única região, era responsável pela
rotatividade intensiva de súditos (pastores) que não tinham autonomia na gestão dos
fundos arrecadados.
2.3.1. O imaginário
Antes de analisar o trabalho da IURD na África, é preciso saber a visão que ela tem
desse contintente. Se outros missionários brasileiros têm uma imagem positiva do
continente africano, este não é o caso dos pastores iurdianos, que em sua grande maioria
têm uma imagem negativa. Segundo Paul Freston, a representação do continente
africano na mídia iurdiana é irresistivelmente negativa496. A África é um lugar
privilegiado onde reinam as forças invisíveis (os espíritos de ancestrais), de superstição,
bruxaria e feitiçaria497. A África é o contintente que foi invadido pelo Hinduísmo e pelo
Islã, que são considerados forças do Diabo pela IURD. É onde o povo foi enganado por
muitos séculos pelas forças malignas, onde a desgraça da bruxaria os transformou em
escravos498.
496
A. MARY, Op. Cit, p. 464.
497
Ibid., p. 464.
498
Ibid., p. 464.
499
Ibid., p. 464.
178
a matéria foi veiculada várias vezes no programa da TV Record. De acordo com a
matéria, em Uganda milhares de crianças desaparecem, algumas são mortas,
esquartejadas e tem as partes do corpo vendidas, para serem sacrificadas em rituais de
feitiçaria500.
Outra matéria publicada pela Folha Universal, intitulada “Cadáveres de albinos são
comercializados na Tanzânia” 502, mostra a difícil realidade de albinos naquele país.
Segundo o relatório da ONU publicado em outubro de 2013, em seis anos, isto é, entre
2007 e 2013, 72 albinos foram assassinados503. Um cadáver de albino custa 75 mil reais.
O país tem cerca de 200 mil albinos, o que representa 0,4% da população. Esses são
caçados, assassinados, esquartejados e as partes do corpo são vendidas de maneira
secreta. “Na Tanzânia, os albinos são vistos com estranheza e alguns habitantes
ignorantemente acreditam que eles possuem poderes mágicos. Interessados nesses
poderes, bruxos fazem rituais usando as partes dos corpos dessas pessoas em busca da
riqueza ou sorte (...). 60% dos tanzanianos simpatizam com a magia” 504. Sengundo a
IURD, a pobreza, a miséria e a desigualdade social na África são problemas políticos,
isto é, o povo africano foi abandonado à própria sorte por seus dirigentes logo após as
independências. A má gestão dos governos africanos causa corrupção, desigualdade e
fome no meio da população.
Segundo o ex-bispo Marcelo Crivella, “Deus é família e se a África sofre com AIDS
é porque não tem essa noção” 505. “Constituir uma família na África, não é levado a
500
Folha Universal, Ano 20, nº1051, 27 de maio 2012, pp. 12-15.
501
Ibid, p. 15.
502
Folha Universal, Ano 21, nº1124, de 20 a 26 de outubro de 2013, p. 9.
503
Ibid., p.9.
504
Ibid., p. 9.
505
P. FRESTON, Op.Cit., p. 47.
179
sério. Cada mulher tem o valor de doze vacas (dote). Isso reflete no nível do
desenvolvimento do continente” 506. Em muitas étnias africanas patrilineares, é o
homem que casa a mulher. A família do noivo prepara um conjunto de bens (uma soma
de dinheiro, comida, roupas, etc) para dar simbolicamente à família da noiva. Isso
significa que os filhos nascidos do casamento pertencerão à família do marido e não da
esposa. O dote compensa o sague que a mulher derrama no parto. É também um aval da
família da noiva para que essa engravide e tenha muitos filhos. Quem não dá o dote
corre o risco da esterilidade. O dote não significa a venda de mulheres, apesar de ser
mal interpretado. Claro que têm pessoas que aproveitam da situação para pedir mais
bens e dinheiros, sobretudo quando a família da noiva percebe que o noivo é de uma
família rica. Nesse caso o dote perde o seu sentido, a mulher vira simplesmente uma
mercadoria.
2.3.2. O exorcismo
Um dos rituais mais usados pela IURD na África é sem dúvida o ritual do
exorscirmo. Sobre esse tema, escreveu André Mary:
506
Ibid., p. 47.
507
Ibid., p. 46.
180
inspira tanto na demonologia fundamentalista estadunidense
quanto na herança de cultos afro-brasileiros. Ela faz diretamente
eco ao imaginário da bruxaria e da possessão que preside à
interpretação da desgraça e da doença no contexto africano 508.
Umas das prioridades dos pastores neopentecostais, especialistas em bruxaria, foi a
redação de Tratados sobre a bruxaria e libertação. “A inculcação da existência
confirmada do Diabo e o conhecimento exato de suas práticas são de fato a condição
primeira de fé eficaz em solução a todos os problemas” 509. Como foi mencionado
acima, o exorcismo não é uma exclusividade da IURD, muitas Igrejas proféticas (IIA),
evangélicas e carismáticas o praticam. Algumas delas têm centros de tratamento e
libertação, consideradas por estudioso como comunidades terapêuticas tradicionais. “A
força do sucesso brasileiro como africano das práticas de libertação da Universal se
encontra no jeito que os pastores colocam em cena e dão visibilidade no interior do
templo aos espíritos bruxos ou gênios” 510.
508
A. MARY, Op. Cit, p. 470.
509
Ibid., p. 470.
510
Ibid., p. 470.
511
Ibid., p. 471.
181
2.3.3. O discurso da prosperidade
A teologia da prosperidade pregada pela IURD coloca uma dupla ruptura, contra
o catolicismo e a tradição africana. Em relação ao catolicismo, ela é contra o espírito de
pobreza, de humildade, do sacrifício e sofrimento a exemplo de Jesus crucificado. Sua
mensagem tem como ênfase a prosperidade da pessoa, a saúde, a alegria, a beleza do
corpo. Um bom crente é rico e próspero. E em relação à cultura africana, ela é contra a
ideia que valoriza o bem comum, a solidariedade, a partilha, o trabalho em conjunto
512
Ibid., p. 474.
182
colocando o ser humano no centro das atenções. Ela prega uma prosperidade individual,
o interesse individual, egoísta e hedonista.
Um dos fatores do sucesso da IURD na África do Sul é sua relação com os políticos.
Durante a campanha eleitoral de 2014, os bispos oraram e impuseram as mãos sobre o
candidato à reeleição, Jacob Zuma. No dia do aniversário desse, convidou o bispo
Marcelo Pires para orar sobre ele. Jacob Zuma esteve também presente no dia do
lançamento do livro do Nada a perder II, de autoria de Edir Macedo, no estádio Ellis
Park, que ficou lotado. O presidente da república agradeceu a IURD pelo trabalho que
está fazendo no campo social e espiritual514. Essa relação com o presidente da atual
potência econômica continental e com outros membros do governo, além de ser o
reconhecimento do trabalho, proporciona confiança e segurança à Igreja em sua
pretensão à hegemonia religiosa no nível nacional e talvez regional.
513
Ibid., p. 474-475.
514
Folha Universal , Ano 22, nº 11 de maio 2014, p.B12.
183
2.5. Uma Igreja episcopal
515
A. MARY, Op. Cit, p. 475.
184
Kardecista, com a sensibilidade à realidade do mundo moderno à luz da inspiração
bíblica; na África, ela incorpora alguns elementos da cultura africana em suas reuniões:
o uso das línguas, cantos e danças no ritmo africano, roupas e decoração dos templos.
Durante as manifestações e festas ligadas à Igreja, o templo é decorado em cores
africanas (onde predomina a mistura de cores vermelho, azul, verde, branco, amarelo e
preto), os fiéis se vestem do jeito africano, muitas vezes, as mulheres usam capulanas.
Um exemplo típico do sincretismo é a foto do bispo Edir Macedo dançando junto com
bispos na cerimônia de inauguração do Cenáculo da Fé em Moçambique em 2011 516. O
fato de a Igreja pedir aos cabo-verdianos de trazer as fotos de parentes imigrantes para
que, a partir da oração e bênção do pastor, o laço seja restabelecido entre esses e as suas
famílias, é um exemplo da contextualização de sua mensagem à realidade cabo
verdiana.
516
Folha Universal, de 27/03/ a 02/04 de 2011, p.5i.
517
Plenitude Angola, nº19, de setembro de 2012, p. 36-37.
185
a segunda, a harmonia na vida conjugal; a terceira, a descendência (filhos e netos); e a
quarta, um casamento douradouro.
518
Plenitude Angola, Op. Cit., p. 37.
519
Para o aprofundamento, Sergio Ferreti. Sincretismo e religião na festa do divino (2007) e Repensando
o sincretismo (1995).
520
Folha Universal, Ano 22, nº1155, 25 de maio 2014, pp.18-19.
186
sacerdotes e eram mantidas pelo azeite puro de oliva, servia para iluminar o Templo,
símbolo da presença de Deus. Em todas as catedrais da IURD, tem um Menorá. A
IURD tem uma forte ligação com o atual Israel. Tanto pastores quanto alguns fiéis
organizam peregrinações para visitar os antigos lugares sagrados, trazendo objetos
como pedras, areias e água. O que é surpreendente, algumas pedras que serviram à
construção do Templo de Salomão de São Paulo, foram trazidas de Israel. Antes da
inauguração do Templo, a IURD convidou o embaixador israelense para ver a
conclusão das obras. “O Templo de Salomão foi inaugurado no dia 31 de julho de 2014,
com a presença das autoridades brasileiras: presidenta Dilma Rusself, o vice-presidente
Michel Temer, o ministro da Casa Civil, Aloizo Mercadante, o governador de São
Paulo, Geraldo Alckimin, do PSDB e o vice-presidente da câmara Arlindo Chinaglia, do
521
PT” . Seria interessante estudar a relação entre a IURD e o judaísmo atual, a origem
da necessidade de formar o imaginário de seus fiéis no mundo inteiro voltado a Israel,
considerado Terra Santa não somente por seu passado, mas também por seu presente.
De vez em quando a liderança iurdiana da África do Sul organiza também peregrinações
para Israel.
A relação com outros grupos religiosos é de conflito. A IURD é atacada por outros
grupos porque esses consideram que as práticas empregadas por ela não são cristãs ou
são menos religiosas, típico de empresas seculares. A IURD dá liberdade de fazer
algumas coisas e atende algumas demandas da população que outros grupos religiosos
não podem e se ousarem, correm o risco de perder sua legitimidade e credibilidade522.
A estratégia de demonização foi globalizada. No Brasil, os seus inimigos são o
Catolicismo e as Religiões afro-brasileiras (Candomblé, Umbanda, Tambor de Minas),
na África, são as Religiões Tradicionais Africanas, na Inglaterra é o Anglicanismo, na
Rússia é a Igreja Ortodoxa, no Japão, as superstições japonesas e na Índia, o
politeísmo523. No caso da África, em geral, ela tem como inimigo principal das RTA,
mas dependendo dos países, ela tem inimigos específicos. Na África do Sul, ela luta
também contra as Igrejas Sionistas e Etíopes; no Quênia, contra o Hinduismo; na África
ocidental, contra o Islã.
521
Carta Capital, Ano XX, nº811, 6 de agosto de 2014, p. 28.
522
P. FRESTON, Op. Cit, p.45.
523
Ibid., p.45.
187
Segundo Paul Freston, a demonização não é necessariamente anti-democrática, tal
discurso só se torna um perigo à democracia se buscar forçosamente privar as
atividades de outra religião ou provocar a violência. Sofreu o ataque de outros grupos
religiosos como em Suazilância e Zâmbia. Em 2001, a IURD estava ausente das
conferências organizadas na Costa do Marfim no quadro do Fórum das Religiões e da
política da reconciliação nacional. O que demostra o seu caráter antiecumênico. Além
disso, a IURD não participa de associações e federações de denominações pentecostais
e evangélicas no continente.
Um dos inimigos da IURD na África é o Islã e seu ramo mais radical, mais
fundamentalista. Com conflitos armados em países africanos, há surgimento e expansão
de vários grupos fundamentalistas islâmicos e cristãos. Os países com presença de
fundamentalistas islâmicos são Nigéria, Sudão, Somália, Egito, Líbia, RDC e Quênia. O
fundamentalismo islâmico é mais conhecido por que é contra a cultura ocidental
(Europa e EUA) e resiste ao neocolonialismo do continente. O fundamentalismo cristão
ainda não atingiu proporções alarmantes como o islâmico. Portanto existem alguns
países africanos que têm já grupos fundamentalistas que se declaram cristãos e são
armados (RCA, Uganda). Não entraremos nesse assunto, mas podemos assinalar que
atualmente há conflitos político-religiosos entre cristãos e muçulmanos na Nigéria e na
RCA, causando destruição e mortes. Na RCA, por exemplo, tem um aspecto étnico. A
ADF/Nalu (Forças Democráticas aliadas ao Exército Nacional pela libertação de
Uganda) é uma milícia fundamentalista islâmica no leste da RDC que causa morte,
crimes contra a humanidade no meio da população do Norte Kivu desde 1995.
188
ocidental, ela foi liberada. Segundo a IURD, nos países islâmicos, não há liberdade
religiosa e tolerancia, mas há perseguições e assassinatos de cristãos524.
524
Folha Universal, Ano 22, nº1161, 06 de julho de 2014, p. 3.
525
Veja André MARY, Le pentecôtisme brésilien en Terre Africaine. L’Universel Abstrait du Royaume de
Dieu, 2002.
526
A. MARY, Op. Cit., p. 475.
189
3. Futuro da IURD na África Subsaariana
O Cristianismo dos séculos XX e XXI cresce em países pobres. Uma boa parte
da clientela iurdiana é pobre.
527
P. FRESTON, Op. Cit., p. 62.
528
Ibid., p. 62.
529
Ibid., p. 62.
190
primeiro e o terceiro mundo. Será que a cúpula brasileira da IURD permanecerá no
controle total durante a sua expansão mundial e sua consolidação? Será que a Igreja
permitirá a descentralização do poder para uma autonomia regional? Apesar da
padronização da doutrina e das estratégias de expansão e crescimento, o problema da
contextualização e indigenização permanecerá. Outra questão que Paul Freston levanta
é a da formação da liderança (pastores e bispos). Chegará o tempo para avaliar a
atuação da cúpula brasileira sobre o fenômeno cultural. A maior parte dos missionários
iurdianos (pastores e bispos) tem pouca formação intelectual e não domina as línguas
estrangeiras, o que dificulta o seu enraizamento e sua inculturação530.
Conclusão
Se a Igreja tem uma imagem negativa da África, como lugar de forças invisíveis,
demónios, bruxaria, miséria e várias doenças. Isso não significa que não queira trabalhar
nesse continente ou tenha medo de ir lá. Ao contrário, muitos de seus missionários, a
exemplo de Marcelo Crivella, depois de terem trabalhado nesse continente, estão com
saudade e querem voltar. Atualmente como Ministro da Pesca do governo Brasileiro, o
ex-bispo da IURD, Marcelo Crivella foi entrevistado sobre sua vida política, mas
respondeu que gostaria de voltar para África. “O que eu sonhava era voltar para África,
qualquer que fosse o país” 531.
530
Ibid, p. 64.
531
Folha Universal, Ano 22, nº1160, De 29 de junho aos 05 de julho de 2014, p. B11.
191
lado, demonizou a cultura africana, de outro lado recuperou alguns de seus aspectos
(língua, canto, dança, roupas, decoração, etc.). Em muitos países, ela se contextualizou
(a migração em Cabo Verde, a epidemia de HIV na África austral). O segundo fator é a
sua urbanidade. A IURD é uma Igreja que tem receitas para todas as categorias de
pessoas. Pretende ter resposta para todos os problemas que afligem os seres humanos.
Estando essencialmente nas capitais e grandes cidades africanas, a IURD é uma Igreja
que atende às necessidades da classe média africana. Os africanos que têm acesso ao
mundo do consumo, aos novos meios de comunicação e ao novo estilo de vida
(individualista e hedonista) encontram nela uma Igreja que os incentiva a permanecer
nessa situação, a ser prósperos e buscar cada vez mais uma felicidade integral (espiritual
e material). Muitos africanos escutam pela primeira vez na história, que é possível ser
rico e ser cristão ou vice versa. Os excluídos do sistema capitalista neoliberal encontram
nela a motivação para lutar e vencer na vida. A não se contentar com a sua situação e se
engajar para uma mudança imediatamente.
É uma Igreja que não critica os governos africanos, mas se acomoda ao sistema
político vigente, caracterizado pela ditadura, regionalismo e corrupção. Tece relações
de amizade com líderes africanos e se considera como parceiro no processo do
desenvolvimento e da libertação espiritual do continente. É essa relação que lhe confere
segurança no seu trabalho, acesso aos meios de comunicação e visibilidade social. O
seu futuro está no dialogo com a cultura africana e na sua nacionalização (poder,
economia e administração). Sem um diálogo autêntico e a descentralização do poder, ela
vai engrossar a lista das denominações cristãs que faliram à sua missão, e têm como
mérito a alienação do povo africano e a perpetuação colonização espiritual.
192
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Falar de religião é falar de cultura, da vida de um povo, do que ele tem de mais
profundo, do que o motiva para viver diante dos desafios da existência, isto é, o que dá
sentido à sua existência. A religião é ao mesmo tempo um fenômeno humano e social.
Ela existe desde que o ser humano existe. Não se pode encontrar a religião fora da vida
e da comunidade humana. Ela é uma invenção humana. A religião é a tentativa do ser
humano organizar a sua vida, já que essa está marcada pela desordem, desarmonia,
conflitos, incertezas, medos, dúvidas e morte.
Todo povo tem religião. Toda cultura tem uma religião. Algumas sociedades
humanas foram crescendo até produzir religiões ditas universais, isto é, que não se
referem somente ao próprio grupo, mas que contemplam também outros grupos. A
religião é um processo social que vai da etnia para a interretnia, de um grupo fechado
para grupos cada vez mais abertos e mais amplos. Todas as religiões universais
surgiram na Ásia: Budismo, Hinduísmo, Judaísmo, Cristianismo e Islã. Essas religiões
marcaram profundamente a história da humanidade. O Cristianismo e o Islã
desempenharam um papel fundamental na história da humanidade nos últimos séculos.
193
A história do Cristianismo está intimamente ligada à África. Maria e José
fugiram com o menino Jesus para o Egito temendo a ordem dada por Herodes de matar
todos os meninos de zero a dois anos de idade em toda Judeia (Mateus 2,13-23). Não
tem documentos falando da expansão do movimento de Jesus na África do Norte ou de
como se deu a formação das primeiras comunidades cristãs no primeiro século da Era
Cristã. Se confiar em informações de Lucas nos Atos dos Apóstolos (2,1-13; 8,26-40),
provavelmente foram alguns egípcios, líbios, habitantes da Cirene, presentes durante o
Pentecostes e o eunuco etíope batizado por Filipe, que depois de voltarem em suas
cidades, implantaram esse movimento.
194
O Crisitanismo se implanta de fato na África a partir sua partilha e colonização
no século XIX, o que constitui a terceira implantação. Os colonizadores europeus
vieram à África junto com os missionários católicos e protestantes. O modelo do
Cristianismo trazido naquela época era uma religião do dominador e opressor, que foi
imposta aos africanos. Os missionários catequizaram os africanos ensinando-lhes a
obediência à autoridade colonial, abandono dos costumes locais e adoção dos costumes
ocidentais. Não se pode negar a contribuição dos missionários europeus na alfabetização
dos africanos, na implantação dos primeiros hospitais, na introdução de novos produtos
para agricultura (cacau, café, algodão e cana-de-açúcar). A cristianização da África
caminhanou juntamente com a europenização e vice versa. Como essa religião estava
ligada aos costumes europeus e à opressão, logo era preciso uma religião que
favorecesse a paz e a liberdade e que se identificasse com a cultura africana e fosse
adequada a ela, é nesse contexto que surgiram as Igrejas Independentes Africanas (IIA)
em todo continente onde havia Igrejas missionárias. As IIA estiveram na base do
surgimento do nacionalismo, que mais tarde se desenvolveu para derrubar o
colonialismo. As IIA foram prioneiras a começar a africanização do Cristianismo. Têm
por mérito de resitir e combater a colonização (no campo religioso e ideológico) e de
valorizar a raça negra. As principais IIA são: a Igreja Harrista, Igreja do Cristianismo
Celeste, Igreja Kimbanguista, Igrejas Sionistas, Igrejas Etíopes (África do Sul) e Igrejas
Aladura (Nigéria).
195
2000, p.14) que afirmam que são pentecostais ou têm influência pentecostal. Essas
características similares são o batismo do Espírito Santo e os dons do Espírito Santo:
glossolalia, exorcismo e profecia. O pentecostalismo se caracteriza também pela
emoção e espontaneidade. Ele teve sucesso na África como as IIA, porque os africanos
se identificaram com suas práticas: emoção, espontaneidade, canto, dança e exorcismo.
Um dos aspectos do mundo africano é a existência de espíritos do mal, dos bruxos. Uma
religião que reconhece esse fato e tem uma prática direcionada à expulsão desses
espíritos, à cura de doenças causadas por eles e à consolação das mortes causadas por
eles, certamente encontrará a adesão maciça de africanos.
196
implantação foi Angola e hoje está presente em 39 países. A IURD é a principal Igreja
pentecostal brasileira no continente africano faz parte do fenômeno da
transnacionalização religiosa.
A pesquisa tinha como hipótese que a IURD está crescendo e tem sucesso na África
porque se adaptou à cultura africana. A IURD não tem o mesmo sucesso em 39 países
onde está presente. Tem sucesso em alguns países (África do Sul, Angola,
Moçambique, Cabo Verde e Costa do Marfim) e em outros não (Quênia, Nigéria e
Gana). Certamente, a IURD tem um meio poderoso que é o “sincretismo”, que lhe
permite se adaptar a distintas culturas. Na África, ela se adapta em dois aspectos.
Primeiro, ela demoniza a cultura africana em seu conjunto. Nesse sentido, não somente
condena a bruxaria e o feiticismo que constituem o mal para os próprios africanos, mas
condena também as Religiões Tradicionais Africanas (RTA), que são o motor da
existência dos africanos. Já em um segundo momento, ela recupera e seleciona alguns
elementos da cultura africana (as línguas, o canto, a dança, as cores, etc.). Ela faz tudo
isso em vários momentos de suas reuniões, mas especialmente no exorcismo. A
adaptação iurdiana é contextual, isto é, não se adapta somente na cultura, como tradição
de um povo, mas se adapta à atualidade, na realidade dos africanos (a questão da
imigração no Cabo-Verde, a miséria em todo continente e a epidemia do vírus de HIV
na África austral). Para cada situação, direciona práticas religiosas específicas (oração,
bênção, aconselhamento e assistência social). Em nossa opinião, essa seleção que a
IURD faz, se realiza ainda no nível litúrgico e estético, ela precisa ir mais longe para
atingir a visão de mundo do africano e dialogar com ela. Fazendo assim, ela se tornará
uma Igreja africana.
Existem vários fatores que permitem seu crescimento e expansão em muitas cidades
africanas:
197
necessitados, visita a hospitais (doação de sangue), as cadeias e as pessoas da
terceira idade. Tudo o que ela faz é fotografado e filmado para ser utilizado em
sua própria propaganda e marketing. Divulgam-se as vitórias e conquistas da
Igreja (especialmente sua expansão mundial) durante as reuniões e na mídia,
mas seus fracassos e escândalos são mantidos em segredo. Qualquer outra
informação sobre a Igreja é sigilosa.
As suas práticas rituais são o exorcismo (cura e libertação) e o discurso sobre a
prosperidade tanto material quanto espiritual. No exorcismo, a IURD expulsa
demônios (doença física, psíquica e espiritual). Na África austral, a Igreja afirma
ter curado pessoas com o vírus de HIV. Seria possível uma comprovação
empírica de tais afirmações. A pobreza é considerada de demônio. A IURD
insiste sobre a prosperidade material, isto é, o crente deve mudar de vida, sair da
pobreza, da miséria e das humilhações para uma vida rica e digna. A classe
média urbana africana, que é uma minoria, se identificou com esse discurso e os
africanos em situação de pobreza e miséria, doenças e sofrendo humilhações,
encontraram nela um motivo para lutar e sair dessa situação, de superar suas
dificuldades. O discurso que liga a bênção divina com a prosperidade material é
uma grande novidade para os africanos.
Não se percebe o envolvimento da IURD na política partidária na África, mas
sim um relacionamento de amizade e de parceria com governos e políticos
africanos. A IURD se declara colaboradora e parceira dos governos africanos no
processo de desenvolvimento econômico (luta contra a pobreza extrema). Essa
amizade lhe dá segurança em seu trabalho e visibilidade social. Em nossa
opinião a IURD participará efetivamente no desenvolvimento econômico não
somente por assistência social, mas especialmente na vontade de apoiar o
processo da democratização do continente, promovendo a justiça social e a
cultura de paz e reconciliação, na constituição de um Estado de direito, lutando
contra a corrupção, a ditadura e o regionalismo, que são males intimamente
ligados à política africana. Só assim que ela se colocará nas sendas da libertação
dos africanos e do desenvolvimento autêntico e integral.
198
BIBLIOGRAFIA
ALENCASTRO, Luis Felipe de. O trato dos viventes. Formação do Brasil no Atlântico
sul. Século XVI e XVII, São Paulo: Companhias das Letras, 2000, 500 p.
ASHFORTH, Adam. Réflexion sur l’insécurité spirituelle dans une ville africaine
moderne (Soweto), In: Politique Africaine, 2000, nº77, pp. 143-169.
199
BASTIDE, Roger. O Candomblé da Bahia. Rito nagô, São Paulo: Companhia das
Letras, 2001.
BASTIDE, Roger. O sagrado selvagem. E outros ensaios, São Paulo: Companhia das
Letras, 2006, 275 p.
BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada, São Paulo: Paulus, 2006.
200
BOAHEN, Albert Adu. A África diante do desafio colonial, In: HGA,VI: África do
século XIX à década de 1880, p. 28-47.
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas, São Paulo: Perspectiva, 1974.
CAMPOS, L.S.; COBRA, Marcos, H.N; COSTA, E.B. Hóstia Edir contém mais Deus.
REA, Revista de Administração de Empresas, São Paulo, vol.36, 1996. Disponível em
http://rae.fgv.br/rae/vol36-num2-1996/hostias-edir-contem-mais-deus-marketing-
religiao, acesso 13/04/2014.
201
https://www.metodista.br/revistas/revistas-
metodista/index.php/ER/article/viewArticle/189, acesso 17/04/2014.
CHINWEIZU. A África e os países capitalistas, In: HGA, VIII: África desde 1935, p.
927-963.
202
CORTEN, André. Os pobres e o Espírito Santo: o pentecostalismo no Brasil,
Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
CORTEN, André. A Igreja Universal na África do Sul, in: ORO, Ari Pedro e Outros
(Org.). Igreja Universal do Reino de Deus. Os novos conquistadores da fé, São Paulo:
Paulinas, 2003, p. 137-145.
COSTA, Flávia, Luiza, G. Recebi um Rhema de Deus. Uma análise das interpretações
e dos usos da Bíblia no Universo neopentecostal, São Paulo: Fonte Editorial, 2012.
DONADONI, S. O Egito sob dominação romana, In: HGA, II: África antiga, p.250-
271.
203
DORIER-APPRILL, Élisabeth et ZIAVOULA, Robert. La diffusion de la culture
évangelique en Afrique centrale, Découverte, 2005, nº115, p.129-156. Disponível em
http://www.cairn.info/revue-herodote-2005-4-page-129.htm, acesso 13/01/2014.
DOZON, Jean-Pierre. A Igreja Universal na Costa do Marfim, In: ORO, Ari Pedro e
Outros (Org.). Igreja Universal do Reino de Deus. Os novos conquistadores da fé, São
Paulo: Paulinas, 2003, p. 105-113.
DROZ, Yvan. A Igreja Universal no Quênia, In: ORO, Ari Pedro e Outros (Org.).
Igreja Universal do Reino de Deus. Os novos conquistadores da fé, São Paulo:
Paulinas, 2003, p. 115-122.
FALLUT, Mélanie Soiron. Les églises de réveil en Afrique centrale et leur impact sur
l’équilibre du pouvoir et la stabilité des États: le cas du Cameroun, du Gabon et de la
République du Congo, Ministère de la défense-Délégation aux Affaires Stratégique,
juillet de 2012.
204
FERRETTI, Sérgio Figueiredo. Repensando o sincretismo, São Paulo: USP; São Luís:
Fapema, 1995.
205
MARY, André et OTAYEK, René. Entreprises religieuses transnationales em Afrique
de l’Ouest, Paris: Karthala, 2005, p. 111-134.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido, 30ª Edição, São Paulo: Paz e Terra, 2001.
FRESTON, Paul. The Universal Church of the Kingdom of God: A Brazilian Church Frinds
Success in Southern Africa, Journal of Religion in Africa, vol.35, Fasc. 1, New Dimensions in
the Study of Pentecostalism, Feb. 2005, p. 33-65.
206
GONDIM, Ricardo. Orgulho de ser evangélico. Por que continuar na igreja, Viçosa,
MG: Ultimato, 2006.
História Geral da África, II: África antiga/editado por Gamal Mokhtar. -2 ed. rev. –
Brasília: UNESCO, 2010, 1008 p.
História Geral da África, III: África do século VII ao XI/editado por Mohammed El
Fasi. -2 ed. rev. – Brasília: UNESCO, 2010, 1056 p.
História Geral da África, IV: África do século XII ao século XVI/editado por Djibril
Tamsir Niane. – 2 ed.rev. -Brasília: UNESCO, 2010, 896 p.
História Geral da África, V: África do século XVI ao XVIII/editado por Bethewell Allan
Ogot. –Brasília: UNESCO, 2010, 1208 p.
História Geral da África,VI: África do século XIX à década de 1880/editado por J.F Ade
Ajayi. –Brasília: UNESCO, 2010, 1032 p.
207
História Geral da África, VII: África sob dominação colonial, 1880-1935/editado por
Albert Adu Boahen. –Brasília: UNESCO, 2010, 1040 p.
História Geral da África, VIII: África desde 1935/editado por Ali A. Mazrui e
Christophe Wondji. –Brasília: UNESCO, 2010, 1272 P.
JOHN, Cheryl, Bribges. Cura e libertação, perspectiva pentecostal, In: Concilium, 265-
1996/3, Ecumenismo, p. 429-436.
JUSTINO, Mário. Nos bastidores do reino: a vida secreta na Igreja Universal do Reino
de Deus. São Paulo: Geração Editorial, 1995.
KÜNG, Hans. Religiões do mundo: Em busca dos pontos comuns, Campinas, SP:
Verus, 2004.
208
LADO, Ludovic. Les enjeux du pentecôtisme africain, Études, 2008, Tome 409, p. 61-
71. Disponível em http://www.cairn.info/revue-etudes-2008-7-page-61.htm, acesso
23/01/2014.
LEVALLOIS, Michel. Rapport du débat sur les religions africaines et interview avec
Jean-Pierre Dozon et Albert de Surgy (CADE), CongoForum, 28 de março de 2001,
Bruxelas. Disponível em
http://www.congoforum.be/fr/congodetail.asp?subitem=37&id=8275&Congofiche=sele
cted.
209
Communication and History, Berlin, 24-26 september, 2003. Disponível em
http://www.zmo.de/angola/Papers/Luansi_%2829-03-04%29.pdf, 04/08/2013.
MACEDO, Edir Bezerra. O despertar da fé, Rio de Janeiro: Universal Produções, 1985.
MACEDO, Edir Bezerra. Vida com abundância, Rio de Janeiro: Universal Produções,
1990.
MACEDO, Edir Bezerra. Doutrina da Igreja Universal do Reino de Deus vol 2, Rio de
Janeiro: Gráfica Universal Ldta, 1999.
MACEDO, Edir Bezerra. Nada a perder 2. Meus desafios diante do impossível, São
Paulo: Planeta, 2013.
210
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142004000300010&script=sci_arttext,
acesso 23/04/2014.
211
MARSHALL-FRATANI, Ruth. Prospérité miraculeuse. Les pasteurs pentecôtistes et
l’argent de Dieu au Nigeria, Paris: Editions Karthala, 2001. Disponível em
http://www.politique-africaine.com/numeros/pdf/082024.pdf, acesso 18/06/2013.
212
MARY, André. L’invention chrétienne de l’identité yoruba. Les racines missionnaires
d’une nation africaine, Archives de Sciences Sociales des Religions, Paris, 2003, nº124,
p.49-61. Disponível em http://assr.revues.org/929?file=1, acesso 19/01/2014.
MARY, André. Histoire d’Église: héros chrétiens et chefs rebelles des nations
“celestes”, In: FOURCHARD, Laurent, MARY, André et OTAYEK, René (dir.).
Entreprise religieuses transnationales en Afrique de l’Ouest, Paris-Ibadan,Karthala-
IFRA-Ibadan, 2005, p.155-181.
213
MENDONÇA, Antônio, Gouvea. Protestantismo, pentecostais e ecumênicos. O campo
religioso e seus personagens, 2a Edição, São Bernardo do Campo: UMSP, 2008.
MENDONÇA, Joêzer de Souza. O evangelho segundo o gospel: mídia, música pop e
neopentecostalismo, Revista do Conservatório de Música da UFPEL, Pelotas, 2008, p.
220-249. Disponível em
http://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/RCM/article/view/2442,
acesso27/04/2014.
MENZIES, William, W. No poder do Espírito: fundamentos da experiência
pentecostal: Um chamado ao diálogo, São Paulo: Vida, 2002.
MEYER, Birgit. Les églises pentecôtistes africaines, Satan et la dissociation de la
tradition, Revue Anthropologie et Sociétés, Paris, vol. 22, nº1,1998, p. 63-84.
Disponível em http://www.erudit.org/revue/as/1998/v22/n1/015522ar.html, acesso
07/02/2014.
MORIN, Edgar. Les sept savoirs nécessaires à l’éducation du futur, Paris: Seuil,
UNESCO, 1999. Disponível em
http://unesdoc.unesco.org/images/0011/001177/117740fo.pdf, acesso 20/06/2013.
214
NOGUEIRA, Carlos R.F. O Diabo no imaginário cristão. São Paulo: Ática, 1986.
OLIVA, Alfredo dos Santos. O discurso sobre o mal na Igreja Universal do Reino de
Deus: Uma história cultural do Diabo no Brasil contemporâneo (1977-2005). Tese,
Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Assis, 2005.
OLIVEIRA, Marcos, Davi, de. A religião mais negra do Brasil, São Paulo: Mundo
Cristão, 2004.
OPOKU, Kofi Asare. A religião na África durante a época colonial, In: HGA,VI:
África do século XIX à década de 1880, p. 609-642.
215
PASSOS, João, Décio (Org.). Movimentos do Espírito. Matrizes afinidades e territórios
pentecostais, São Paulo: Paulinas, 2005.
216
SANCHIS, Pierre. Religiões, religião... Alguns problemas do sincretismo no campo
religioso brasileiro, In: SANCHIS, Pierre. Fiéis e cidadãos. Percursos do sincretismo
no Brasil, Rio de Janeiro: UERG, p. 9-57.
SANCHIS, Pierre. O repto-pentecostal à cultura católico-brasileira, In:
ANTONIAZZI, Alberto. Nem anjos nem demônios. Interpretações sociológicas do
pentecostalismo, Petrópolis, RJ: Vozes, 1994, pp. 34-63.
SANCHIS, Pierre. As tramas sincréticas da história. Sincretismo e modernidades no
espaço luso-brasileiro, Revista Brasileira de Ciências Sociais, n.28, 1995 b, p. 123-138.
Disponível em http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_28/rbcs28_10,
acesso 23/06/2013.
SANCHIS, Pierre (Org.). Fiéis e cidadãos. Percursos do sincretismo no Brasil, Rio de
Janeiro: UERG, 2001.
SÉVY, Gabriel, V. Le Vama des Ngbaka de la Lobaye, Cahiers d’études africaines, vol
1, nº3, 1960, p.103-128. Disponível em
http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/cea_0008-
0055_1960_num_1_3_2949, acesso 23/06/2013.
SHANK, David, A. Le pentecôtisme du prophète William Wade Harris, Archives des
Sciences Sociales des religions, nº105, 1999, p. 51-70. Disponível em
http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/assr_0335-
5985_1999_num_105_1_1078, acesso 17/03/2014.
SHERRILL, John, L. Eles falam outras línguas, São Paulo: Sociedade Evangélica
Betânia, S/D.
SILVA, Alberto da Costa e. A manilha e o libambo. A África e a escravidão de 1500 a
1700, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002, 1072 p.
SILVA, Alberto da Costa de. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses, Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 2006, 943 p.
SILVA, Teresa Cruz e. A Igreja Universal em Moçambique, In: ORO, Ari Pedro e
Outros (Org.). Igreja Universal do Reino de Deus. Os novos conquistadores da fé, São
Paulo: Paulinas, 2003, p. 123-125.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais,7ª
ed., Petrópolis: Vozes, 2007.
SILVA, Vagner Gonçalves da. Intolerância religiosa. Impacto do neopentecostalismo
no campo religioso afro-brasileiro, São Paulo: EDUSP, 2007.
217
SOUZA, Alexandre, Carneiro de. Pentecostalismo: de onde vem, para onde vai? Um
desafio às leituras contemporâneas da religiosidade brasileira, Viçosa, MG: Ultimato,
2004.
SOUZA, Beatriz Muniz de. A experiência da salvação: pentecostais em São Paulo. São
Paulo: Duas Cidades, 1969.
STARK, Rodney e BAINBRIDGE, William Sims. Uma teoria da religião, São Paulo:
Paulinas, 2008.
STARK, Rodney. O crescimento do cristianismo. Um sociólogo reconsidera a história,
São Paulo: Paulinas, 2006.
SURGY, Albert de. Le phénomène pentecôtiste en Afrique noire. Le cas béninois, Paris:
L’Harmattan, 2001.
TEIXEIRA, Marli Geralda. Notas sobre o reino do Congo no século XVI, do setor de
Estudos Históricos do CEAO, S/D. Disponível em
http://www.casadasafricas.org.br/wp/wp-content/uploads/2011/08/Notas-sobre-o-Reino-
do-Congo-no-seculo-XVI.pdf, acesso 10/07/2013.
TSHIBANGU, Tshishiku (em colaboração com J.F Ade Ajayi e Lemim Sanneh).
Religião e evolução social, In: HGA, VIII: África desde 1935, p. 621-645.
218
VILLAFAÑE, Eldin. Introducción el pentecostalismo. Manda fuego Señor,
Nashville/Abingdon Press: AETH, 2012.
WARMINGTON, B.H. O período cartaginês, In: HGA, II: África antiga, Brasília: p.
526-553.
Fontes da Internet
219
ANEXOS
220
Namíbia Igreja Herero - -
Nigéria Igrejas Aladura - 1920
Nigéria Negro Church of - -
Christ
RDC Igreja Simon Kimbangu 1921
Kimbanguista
RDC Missão dos Negros Simon Pandi 1964
Uganda Exército de - -
Cristãos para a
Salvação de
Uganda
Uganda África Progressive Ruben Spartas -
Association Mukasa
Zâmbia Lumpa Church Alise Leshina 1955
Zimbabué Igreja do Pássaro - -
Branco
221
Tabela 2: Pentecostalismo brasileiro na África 532
País AD CCB IEQ IPBC IPDA IURD IIGD IPRC IMPD ICM
África d. Sul P P P P P P P
Angola P P P P P P P
Benim P
Botsuana P P P
Burkina P P P
Faso
Burundi P
Cabo Verde P P P P P
Camarões P P
Costa do P P
Mar.
Chade P
Etiópia P
Gabão P P
Gâmbia P P
Gana P P P
Guiné P P P
Bissau
Guiné Equat. P P
Ilhas P P
Maurício
Lesoto P P
Madagascar P
Malaui P P
Moçambique P P P P P P P
Namíbia P P
Nigéria P P P
Quênia P P
R.C. P
Africana
Rep. Congo P P P
R.D. Congo P P P
Ruanda P
São Tomé e P P P
Príncipe
Senegal P P P P
Serra Leoa P
532
Essas informações foram encontradas nos sites oficiais dessas Igrejas: 1. http://www.ipda.org.br/,
acesso 02/02/2014. 2. Congregação Cristã no Brasil. Relatório, São Paulo, Edição 2013/2014, nº77,
p.738-748. 3. http://www.impd.org.br/portal/index.php?link=igrejasnomundo, acesso 02/02/2014. . E
também http://www.convencaosp.com.br/2014/component/k2/item/23-batismo-em-burkina-faso-
africa.html, acesso 02/02/2014. 4. http://missionariosmafra.blogspot.com.br/, acesso 02/02/2014.
5. http://www.igrejacristamaranata.org.br/?p=3239, acesso 02/02/2014.
222
Sudão do S. P
Suazilândia P P
Tanzânia P P P
Togo P P
Uganda P P
Zâmbia P P
Zimbábue P P P
Total 3 15 4 5 26 39 1 1 4 1
223
Tabela 3: Pentecostalismo brasileiro e o número de templo533
533
Pesquisa realizada no site oficial de respetivas Igrejas no dia 02/02/2014. Mas para a CCB, usamos o
Relatório, Edição 2013/2014, nº77, pp. 782-795.
224
Tabela 4: IURD, CCB e IPDA em porcentagem
IURD na África534
CCB na África
Moçambique 70,77%
RDC 10,03%
Malauí 6,86%
Angola 3,69%
Total de outros países 9.65%
IPDA na África
Moçambique 39,13%
África do Sul 6,52%
Gana 4,34%
Total de outros países 50,01%
534
Calculamos a porcentagem dessas Igrejas a partir da média do número de templos nesses países.
Podemos observar que o pentecostalismo brasileiro está mais presente na África subsaariana em países
como Moçambique, África do Sul e Angola.
225
Tabela 5: Religiões na África (ARDA) 535
535
The ARDA em http://www.thearda.com/Archive/browse.asp, acesso 17/07/2014. Os dados do Sudão
do Sul estão junto com os de Sudão porque a pesquisa foi feita em 2010, antes da criação de Sudão do
Sul. As religiões apresentadas são: Cristianismo, Islã, Religiões Tradicionais Africanas, Bahai, Agnósticos e
Outras religiões.
226
Senegal 5,49% 90,64% 3,48% - 0,19% 0,14% 0,05%
Serra Leoa 13,26% 64,64% 20,56% - 0,23% 1,22% 0,08%
Tanzânia 54,76% 31,62% 11,85% 0,87% 0,42% - 0,48%
Tunísia 0,22% 99,52% - - - 0,20% 0,06%
Togo 46,97% 18,36% 33,88% - 0,50% 0,22% 0,08%
Uganda 84,44% 11,72% 2,29% 0,80% - 0,39% 0,37%
Zâmbia 85,47% 1,07% 11,19% - 1,84% 0,15% 0,27%
Zimbabwe 81,66% 0,73% 15,86% - 0,32% 1,01% 0,42
227
228
MAPAS DA ÁFRICA
1. ÁFRICA SUBSAARIANA
229
2. RELIGIÕES NA ÁFRICA
230
3. ISLÃ NA ÁFRICA
231