Você está na página 1de 3

TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/MCP PROCESSO Nº 25.696/11


VOTO VENCIDO

Fui voto vencido por assim decidir.


Analisado os autos, concluímos que o fato da navegação em apreço, previsto no
artigo 15, alínea “e”, da Lei nº 2.180/54 e suas consequências, caracterizado como queda na água
de veículo de passeio quando de seu embarque em balsa de travessia fluvial, atracada à margem
do rio Iguaçu, município de Paula Freitas, PR, resultando na morte por afogamento de uma das
passageiras do veículo sinistrado, teve como causa determinante o ingresso de veículo a bordo da
balsa, desengrenado e desligado, sem que o seu condutor conseguisse acionar o sistema de freios
que se encontrava com defeito.
Conclusão esta respaldadas nas provas testemunhal e pericial, a demonstrar que o
condutor do veículo adentrou a balsa pela rampa, com o motor do veículo desengrenado e
desligado, atravessou toda a extensão do convés, terminando por cair nas águas do rio Iguaçu,
sem que houvesse tempo para que o balseiro desse qualquer orientação quanto às medidas de
segurança a serem adotadas pelo motorista, para um embarque seguro do seu veículo e das vidas
dos seus ocupantes.
Demais disso, o próprio condutor do veículo, o 3º Representado Ary Senn, em
depoimento às fls. 34-35 afirma, em flagrante contradição, que “o veículo não estava
desgovernado no momento do acidente, apenas perdeu o controle ao acelerar para subir na rampa
de acesso da Balsa”, apesar de ter conhecimento de que a embarcação não possuía obstáculos
que impedissem a projeção de veículos na água, como o próprio declarou.
Acrescente-se, que quando da perícia realizada no veículo logo após ser retirado da
água, constataram os Peritos conforme Laudo às fls.5 a 15 (quesito 16), que “mesmo acionado, o
freio estacionário não freava o veículo”, o que vem a confirmar que o 3º Representado a sabia ou
deveria saber das limitações de seu veículo no que tange a parte de frenagem, mesmo assim o
condutor, ora 3º Representado colocou em risco a sua vida e de terceiros.
Improcedente, portanto os argumentos da defesa de “inexistência de provas a
demonstrar qualquer ato de imprudência por parte do 3º Representado”, e desta forma deve ser
mesmo responsabilizado pelo fato da navegação em lide, do qual resultou a morte, vítima de
afogamento da sua própria esposa, a Sra. Juliana Bruger Senn, como requer o Órgão Acusador.
Quanto ao 2º Representado, o Sr. Carlos Ferreira de Souza, condutor (balseiro) e
responsável pela balsa “VALÕES” deve ser o mesmo exculpado da acusação de ter o mesmo
“agido de forma negligente quando deixou de orientar os passageiros quanto aos procedimentos
corretos de segurança previstos pela Autoridade Marítima para o embarque de veículos em
travessia”, acusação que não encontra sustentação nas provas constantes destes autos.

1/3
(Continuação do Voto Vencido referente ao Processo nº 25.696/2011.....................................)
==================================================================
Ao contrario do que sustenta o Órgão Acusador, as testemunhas, como acima
mencionado, afirmaram que durante o embarque dos veículos, o Sr. Carlos orientava os
passageiros quanto aos procedimentos corretos de segurança e que a embarcação ainda estava
atracada aguardando o embarque de veículos quando o 3º Representado, Sr. Ary Senn
conduzindo o veículo sinistrado adentrou à Balsa, pela rampa, com o veículo desengrenado e
desligado, sem que o Sr. Carlos (2º Representado) pudesse orientar quer o motorista, quer a
passageira quanto aos procedimentos para embarque.
Demais disso, temos a observar, que em relação ao suposto descumprimento ao
contido na alínea “c” do item 1001, Capítulo 10, da NORMAM-02/DPC, da a que se reporta o
Órgão Acusador, no presente caso, como já demonstrado, não teve o 2º representado a
possibilidade de saber se o veículo estava com a marcha engrenada e com freio de
estacionamento funcionando, ou mesmo teve tempo para colocar calços nas rodas para impedir
movimento do veículo durante a travessia. E, ainda, a proibição de pessoas no interior dos
veículos como dispõe a citada Norma a que menciona o ma Observe-se ainda, que a proibição
mencionada na mesma a alínea “e”, do item 1001, se refere a pessoas no interior dos veículos
durante e quando a balsa estiver em movimento; mas quando do ocorrido, a balsa estava
atracada, e ainda embarcando veículos.
Com efeito, tivesse o 3º representado, adentrado a balsa com o seu veículo ligado,
com o sistema de frenagem em condições de ser acionado no momento próprio, certamente o
fato não teria ocorrido.
Com estes fundamentos, exculpamos o 2º representado das acusações que lhe são
imputadas.
Improcedentes também, as acusações que faz o Órgão Acusador contra o município
de Irineópolis (1º Representado), na condição de proprietário da balsa “VALÕES”, por “ter
agido de forma imprudente, no momento em que permitiu que a embarcação navegasse sem as
mínimas condições de segurança e em completa desconformidade com as normas de navegação
de travessia, expondo a risco as vidas e fazendas de bordo, risco este que lamentavelmente não
tardou em se materializar com a queda do veículo e óbito prematura de uma passageira”.
De fato, em Laudo de Exame Pericial, acompanhado de fotos (fls. 05 a 15), a
despeito de afirmarem (Quesito 23) que “a balsa estava de acordo com os critérios de
classificação previstos na regulamentação da Lei de Segurança do Trafego Aquaviário, atestam
os Peritos, que quando do ocorrido, a balsa “VALÕES”, não possuía dispositivo de segurança
como cabo de aço, corrente, balaustrada ou rampa que pudesse ser içada, impedindo assim que o
veículo caísse na água, além de não possuir calços que pudessem segurar os automóveis a
bordo”. Levando ao Órgão Acusador, em consonância com as conclusões do inquérito, que
houve descumprimento a NORMAM-02/DPC, item 1002, alíneas “a” e “c”, transcritas à fl. 98,

2/3
(Continuação do Voto Vencido referente ao Processo nº 25.696/2011.....................................)
==================================================================
de sua peça acusatória de fls. 95 a 100.
No presente caso, contudo os dispositivos normativos, como apontadas pela
Acusação, não tiveram nexo causalidade com a queda do veículo na água e consequente morte
de sua passageira, eis que como já demonstrado, o fato sob análise teve como fator determinante
a imprudência do 3º Representado, mesmo porque, a embarcação estava parada, ainda com a
rampa arriada, cancela aberta embarcando normalmente os veículos, sem que qualquer
anormalidade ocorresse, até a entrada do veículo que desgovernado terminou por cair nas águas
do rio Iguaçu, com uma passageira no seu interior, sem que, ressalte-se, pudesse o balseiro
orientar ou mesmo interromper o seu embarque.
Não é demais salientar, que a balsa não estava em movimento, por conseguinte, não
se verificando, no presente caso, descumprimento das alíneas “a” e “c”, do mesmo item 1002, da
NORMAM-02/DPC.
Razões estas que nos motivam a julgar improcedente a acusação de ter o 1º
Representado contribuído para a ocorrência do fato da navegação em lide, como sustenta o
Órgão Acusador.
Por tudo isto e por tudo o mais que dos autos constam, considerando ainda, o
disposto no artigo 58, da lei Orgânica deste Tribunal, julgamos procedente em parte a
representação de autoria da D. Procuradoria Especial da Marinha (fls. 95 a 100) para,
considerando o fato da navegação, previsto no artigo 15, alínea “e”, da Lei nº 2.180/54 e suas
consequências, como decorrentes da conduta imprudente do 3º Representado Ary Senn, e,
observando o disposto no artigo 143, da citada Lei, deixar de aplicar-lhe qualquer sanção
administrativa, prevista na citada Lei nº 2.180/54, com redação dada pela Lei nº 8.969/94;
Exculpados o Município de Irineopolis (1º Representado) e Carlos Ferreira de Souza (2º
Representado), pelas razoes já expostas.
Finalmente, em observância ao artigo 33, parágrafo único da Lei nº 9.537/97
(LESTA), deve-se oficiar à Capitania Fluvial do Rio Paraná comunicando as infrações cometidas
pelo município de Irineópolis, na condição de proprietária da balsa “VALÕES”, ao artigo 15, do
RLESTA, incisos II e III (coletes em mau estado de conservação e em número inferior ao
exigido na documentação), apuradas no decorrer do inquérito e apontadas pela PEM).

MARIA CRISTINA DE OLIVEIRA PADILHA


Juíza Relatora

3/3
COMANDO DA MARINHA
c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A1, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora SERPROACF, cn=COMANDO DA MARINHA
2018.02.06 10:23:17 -02'00'

Você também pode gostar