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USO DE VÁCUO COMO SOBRECARGA DE ATERRO SOBRE SOLO MOLE: UMA

PRIMEIRA EXPERIÊNCIA DE CAMPO

Sandro Salvador Sandroni


Diretor, Geoprojetos Engenharia Ltda, Rio de Janeiro, Brasil sandro@geoprojetos.com.br
Professor, PUCRJ, Rio de Janeiro, Brasil

Geraldo Guedes de Andrade


Diretor, Tecnogeo, São Paulo, Brasil ggandrad@uol.com.br

Edgar Odebrecht
Diretor, Geoforma, Joinville, Brasil edgar@geoforma.com.br
Professor, Universidade do Estado de Santa Catarina, Brasil

RESUMO: Este trabalho dá uma primeira notícia sobre uma experiência de uso de vácuo como
sobrecarga de um aterro sobre solo mole. A experiência foi executada em uma obra de pátio de
minério e teve duração de cinco meses. São apresentados os resultados das prospecções
geotécnicas, o esquema de instalação dos drenos verticais e do sistema de vácuo, a instrumentação
utilizada e alguns dos resultados obtidos com a instrumentação. São discutidas questões de
operação e avaliados os resultados obtidos com a instrumentação. Conclui-se que o uso de vácuo é
uma alternativa atraente como sobrecarga em aterros sobre solos moles.

PALAVRAS-CHAVE: Sobrecarga a vácuo, Aterros sobre solos moles, Instrumentação geotécnica,


Deslocamentos verticais.

sob um aterro existente. A experiência foi


1 – INTRODUÇÃO acompanhada com instrumentação e teve como
principal objetivo desenvolver procedimentos
para o sistema de vácuo e verificar a resposta do
Este trabalho versa sobre o uso de vácuo como
terreno perante este tipo de carregamento.
sobrecarga em solos moles com drenos verticais
pré-fabricados. É um assunto sobre o qual não
A experiência foi executada na obra do Pátio +6
há praticamente nenhuma experiência no meio
do Porto Sudeste, em Itaguaí, RJ, e teve duração
geotécnico Brasileiro. O único trabalho
de cinco meses, entre abril e setembro de 2011.
publicado com participação Brasileira, que
chegou ao conhecimento dos autores, é o de
São apresentados os resultados das prospecções
Marques e Leroueil (2005).
geotécnicas (sondagens com SPT e piezocones),
o esquema e o procedimento de instalação dos
Inicialmente é apresentada uma comparação
drenos verticais e do sistema de vácuo, os
entre a sobrecarga convencional com aterro e a
instrumentos utilizados para monitoramento do
sobrecarga aplicada com vácuo. Em seguida são
experimento e alguns dos resultados obtidos
apresentados os dois sistemas mais comuns de
com a instrumentação.
aplicação de vácuo em camadas de solo mole (o
sistema “com membrana” e o sistema “dreno-a-
Ao final, são brevemente discutidas questões de
dreno”) e brevemente aquilatadas as
operação e avaliados os resultados obtidos com
especificidades do uso de vácuo como
a instrumentação.
sobrecarga.
Conclui-se que o uso de vácuo é uma
O trabalho passa então a apresentar uma
alternativa atraente como sobrecarga em aterros
primeira notícia sobre uma experiência feita em
sobre solos moles.
obra, na qual foi aplicado vácuo, pelo sistema
dreno-a-dreno, em uma camada mole situada
2 – SOBRECARGA CONVENCIONAL E O máximo vácuo que se pode obter é através
SOBRECARGA A VÁCUO da supressão total da pressão atmosférica (cerca
de 100 kPa, com variação barométrica que,
Denomina-se sobrecarga a uma espessura tipicamente não excede 1,5 kPa). Devido a
adicional de terra (acima da espessura inevitáveis perdas e ao tipo de bombas que se
necessária para alteamento e recalques) consegue utilizar na prática, o vácuo aplicado
colocada sobre um aterro com fundação em solo fica, normalmente, entre 65 e 80 kPa. O vácuo é
mole. A sobrecarga aumenta o recalque final e, uma sucção de modo que seu valor é negativo
por conseqüência, permite que o recalque (menor do que 1 atmosfera). No presente
desejado seja atingido em menos tempo, como trabalho, por simplicidade, o vácuo é referido
se vê comparando as curvas 1 e 2 da figura 1. com valores positivos de pressão.
A sobrecarga pode ser aplicada com vácuo ao
invés de aterro adicional, como se explica Considerando que 18 a 20 kPa de vácuo
adiante. correspondem a 1,0 m de aterro, o sistema de
vácuo permite, em teoria, aplicar cargas
RECALQUE COM SOBRECARGA = 120 cm
equivalentes a 3,0 a 4,5 m de aterro. Na prática,
4 há outras perdas que interferem, como se
2 RECALQUE SEM SOBRECARGA = 100 cm
3 discute adiante.
1
39 meses

95% DO RECALQUE SEM SOBRECARGA

A sobrecarga com vácuo apresenta diversas


vantagens sobre a sobrecarga convencional,
19 meses

(com aterro) como está explicado nos


10 meses

parágrafos a seguir.
6 meses

O vácuo é um carregamento isotrópico e sua


aplicação não aumenta a tensão total, de modo
que não introduz aumento de tensões
cisalhantes no solo mole. Por conseguinte, a
aplicação do vácuo não agrava o risco de
Figura 1 – Relação entre tempo e recalque deslizamento do aterro (ao contrário da
sobrecarga com solo). As bermas de equilíbrio
Drenos verticais pré-fabricados (DVP) são maiores necessárias para a sobrecarga
elementos verticais drenantes flexíveis cravados convencional, são dispensáveis quando a
através do solo mole a pequena distância sobrecarga é aplicada com vácuo.
horizontal um do outro. Os DVPs diminuem a
distância de drenagem e, por conseqüência, O vácuo pode ser aplicado desde a fase inicial
aceleram os recalques do solo mole, como do aterro (ao contrário da sobrecarga
mostra a comparação entre as curvas 1 e 3 na convencional que é aplicada na fase final de
figura 1. carregamento) o que resulta na diminuição dos
prazos da terraplanagem.
Combinando sobrecarga e DVPs o tempo em
que um recalque desejado é atingido diminui A aplicação da sobrecarga com vácuo não
drasticamente, como mostra a comparação entre depende de clima adequado para a construção
as curvas 1 e 4 da figura 1. de aterros como no caso da sobrecarga
convencional.
Pode-se aplicar vácuo nos DVPs. O vácuo atua
no solo mole como uma sobrecarga. Este é um Pode-se construir apenas o aterro estritamente
fato comprovado tanto em ensaios e modelos de necessário para permitir o acesso da máquina de
laboratório (Chai e outros, 2007; Li e outros, cravação dos DVPs (“aterro de conquista”) e,
2011) como em experimentos de campo em seguida, aplicar a “sobrecarga a vácuo”. Na
(Saowapakpiboon e outros, 2010). medida em que o ganho de resistência no solo
mole ocorrer, mais aterro pode ser SISTEMA COM MEMBRANA

acrescentado, sempre com a “sobrecarga a ATERRO


vácuo” atuando. Este procedimento pode ser Membrana Vácuo
v

aplicado em praticamente qualquer solo mole, Material drenante

mesmo aqueles com resistência muito baixa. Vala Hs


Vala

Há uma vasta bibliografia internacional sobre o


Dreno
uso de vácuo como sobrecarga como, por SOLO
exemplo: Holtz (1975), Choa (1989), Chu e MOLE
outros (2000 e 2010); Tang e Chang (2000),
Chu e Yan (2005); Cognon (1991); Cognon e Hi
outros (1994); Indraratna e outros (2005); Kolff SOLO
e outros (2004); Chai e outros (2006), Bergado SUBJACENTE
e outros, (2006); Masse e outros, (2001);
Saowapakpiboon e outros (2010). Figura 2 – Esquema do sistema de vácuo com
membrana
SISTEMA DRENO-A-DRENO
3 – SISTEMAS DE APLICAÇÃO DE
SOBRECARGA COM VÁCUO ATERRO Vácuo
v
Coletor
Há dois tipos básicos de sistemas de aplicação
Hs
de vácuo em solos moles através de drenos Tubo
verticais pré-fabricados: “com membrana” e
“dreno-a-dreno”, explicados a seguir. A idéia de Junção
usar vácuo em conjunção com drenos verticais SOLO
Dreno MOLE
foi aventada por Kjelmann no início da década
de 50. A patente de Cognon para o sistema com
membrana é do início dos anos 60. A aplicação Hi
de vácuo dreno a dreno foi desenvolvida na SOLO
Holanda há cerca de 20 anos. SUBJACENTE

Figura 3 – Esquema do sistema de vácuo dreno-


O sistema com membrana consiste em construir a-dreno
um aterro de material granular (no qual O método dreno-a-dreno requer que os drenos
deságuam os drenos verticais) e cobri-lo com
tenham um trecho superior impermeável e um
uma membrana impermeável que se aprofunda trecho inferior drenante. O comprimento do
em vala lateral até abaixo do nível de água do trecho superior tem que ser tal que sua
terreno. Forma-se assim uma câmara estanque, extremidade (ou seja, a junção entre os trechos
onde estão as pontas superiores de todos os impermeável e permeável) fique abaixo do
drenos, na qual se aplica vácuo (ver figura 2). A
nível de água. A junção do trecho superior
área de tratamento de cada câmara estanque (impermeável) com o trecho inferior drenante
costuma ser entre 5.000 e 10.000 m2, segundo pode ser feita de duas maneiras:
Chu e outros (2010). Este foi o sistema
 No sistema Holandês (Kolf e outros,
utilizado por Marques e Leroueil (2005) em um
2004), em uso pela empresa Cofra (sob
experimento no Canadá.
o nome Beaudrain-S), um dreno-fita
convencional é enrolado em torno do
No sistema dreno-a-dreno, o vácuo é aplicado
tubo impermeável (figura 4).
em cada dreno individualmente e eles são
 No sistema IPER, recentemente
interconectados com trechos de tubo
desenvolvido e patenteado no Brasil, em
impermeável. Cada conjunto de drenos (ao
uso pela empresa Tecnogeo, o dreno tem
longo de linhas ou trechos da área tratada) é
forma de estrela e a junção é feita
conectado com um tubo coletor de vácuo (ver
enfiando o dreno no tubo impermeável
figura 3).
(figura 5).
solo subjacente. Por este motivo, obras com
drenos a vácuo requerem mais prospecções
geotécnicas do que as obras normais.

Se for necessário interromper os drenos acima


da base do solo mole, eles têm que ser cravados
(e no caso dreno-a-dreno, fabricados) no
comprimento certo para cada trecho da obra.

4 – GEOTECNIA E GEOMETRIA DO
EXPERIMENTO
Figura 4 – Junção do tubo impermeável com o
dreno no sistema Holandês A figura 6 mostra uma planta do experimento
de campo, com a posição das prospecções e dos
drenos verticais e com os instrumentos
indicados de maneira esquemática.

TRECHO 1 – 15m X 15m TRECHO 2 – 15m X 15m


221 DRENOS, MALHA 110 DRENOS, MALHA
QUADRADA @ 1,06 m QUADRADA @ 1,50 m

2 3 4
MARCO

Figura 5 – Junção do tubo impermeável com o B PIEZOMETRO

dreno no sistema IPER NÍVEL ÁGUA

SONDAGENS
5
Quando o solo situado abaixo do solo mole é 1
PIEZOCONES

arenoso, pode ser necessário que a ponta 6 A


inferior dos drenos fique um pouco acima da Figura 6 – Planta
base da camada mole (Hi nas figuras 2 e 3),
para evitar que o sistema de vácuo gaste energia Foram realizadas, imediatamente antes do
drenando a camada de areia inferior. A decisão experimento com vácuo, seis sondagens com
sobre ser ou não necessário parar os drenos SPT, cujos resultados, resumidos na figura 7,
acima da base do solo mole tem que ser tomada foram muito parecidos entre si, mostrando
em cada caso. Por exemplo, se a camada homogeneidade na direção horizontal. O perfil
arenosa inferior for espessa e constituída por do terreno apresenta, de cima para baixo:
areia limpa e com grande continuidade  Aterro silto-argiloso vermelho lançado em
horizontal (se prolongando para além da área a outubro de 2010, com 2,05 m de espessura e
ser tratada com vácuo) sua presença poderia SPT entre 2 e 5. O nível de água se encontra
causar aumento excessivo na vazão e prejudicar nesta camada na profundidade 1,50 m. Os
o rendimento do sistema de vácuo. Por outro 45 cm superiores deste aterro são
lado, se a camada arenosa inferior for de constituídos por brita lançada no início de
espessura limitada ou constituída por areia 2011;
argilosa, sua influência pode ser insignificante.  Aterro hidráulico arenoso lançado há
Considerações semelhantes podem ser aplicadas décadas, com SPT entre 2 e 6, até a
se existirem camadas arenosas entremeadas no profundidade de 4 m;
solo mole.  Argila marinha cinza, entre os 4 m e os 8 m
de profundidade, com SPT P/60 a 1/48;
Para a correta concepção de um sistema de  Argilas e siltes arenosos com SPT 3 a 10.
sobrecarga com vácuo, o perfil do terreno tem
que ser bem conhecido. Em particular, é preciso Os resultados das duas verticais de piezocone,
conhecer bem o nível de água, o nível da base realizadas poucos dias antes do esperimento
do solo mole, a existência de camadas arenosas com vácuo (e já com os drenos verticais
interdigitadas na camada mole e a natureza do
cravados), cujos trechos em solo mole estão (denominados Trecho 1 e Trecho 2, ver figura
mostrados na figura 8, também foram muito 6) nos quais foram cravados drenos em malha
parecidos. Quatro ensaios de dissipação com quadrada com espaçamentos tais que as áreas de
piezocone, dois em cada vertical foram influência tivessem relação igual a dois. No
realizados. As curvas de dissipação Trecho 1 o espaçamento entre drenos foi de
evidenciaram a existência de excessos de 1,06 m, ou seja, um dreno a cada 1,12 m2. No
poropressão. Os valores de coeficiente de Trecho 2 o espaçamento foi de 1,50 o que
adensamento e de excesso de poropressão corresponde a um dreno a cada 2,25 m2. O
estimados com os resultados dos ensaios de sistema de vácuo foi do tipo dreno-a-dreno. Os
dissipação estão apresentados na tabela 1. drenos utilizados (tipo IPER, ver figura 5)
tiveram a junção na profundidade 4,50 m (meio
TENSÃO (kPa) metro abaixo do topo da camada mole) e a
COTA DA SUPERFÍCIE = +3,10 ponta inferior na profundidade 7,50 m (meio
BRITA 0 metro acima da base da camada mole), como
0,45
ATERRO SILTOSO
RECENTE SPT 2 a 5 1,50 ’v com vácuo 45 kPa mostrado na parte direita da figura 7.
2,05 TUBO (equalização completa)
ATERRO HIDRÁULICO ANTIGO
(AREIA MÉDIA) SPT 2 a 6
4,00
4,50
ARGILA MARINHA
DRENO
CINZA SPT P/60 a 1/48

8,00
7,50
v
ARGILAS E SILTES U ’v
ARENOSOS SPT 3 a 10 U com vácuo 45 kPa
(equalização completa)
Figura 7 – Seção geotécnica, profundidade da Tabela 1 – Resumo dos resultados dos ensaios
junção e da base dos drenos e tensões de dissipação com piezocone
(v = tensão vertical total; U = poropressão; ’v
= tensão vertical efetiva) A instrumentação geotécnica compreendeu
marcos superficiais de recalque (cujo
monitoramento foi feito por nivelamento em
relação a uma referência fixa profunda, com
equipamento ótico), medidores de nível de água
com bulbo na areia do aterro (que tiveram a
boca nivelada e a profundidade do nível de água
acompanhada com pio elétrico) e piezômetros
elétricos de corda vibrante do tipo cravado (um
em cada trecho, posicionado a meia altura da
camada mole e no centro de um dos quadrados
formados pelos drenos). Ao todo havia 18
marcos de recalque, 6 medidores de nível de
água e 1 piezômetro elétrico em cada um dos
dois trechos do experimento.

Figura 8 – Resultados das duas verticais de No que se segue serão enfocados, por razões de
ensaios piezocone (profundidades 4 e 8 metros) espaço, apenas um dos marcos de recalque e um
dos medidores de nível de água situados na
O experimento foi realizado em uma área de 15 parte central do Trecho 1. Esses instrumentos
m x 30 m situada na plataforma do chamado são representativos do conjunto de instrumentos
Pátio +6, que se encontra em construção. A área do Trecho 1. Os dados de instrumentação
foi dividida em dois trechos com 15 m x 15 m
coligidos no Trecho 2 foram semelhantes aos do com os piezômetros elétricos se encontram em
Trecho 1. fase de interpretação e não são apresentados.

5 – SEQUÊNCIA DE EXECUÇÃO E Antes da aplicação do vácuo os piezômetros


LEITURAS DOS INSTRUMENTOS funcionaram bem e registraram excessos de
DURANTE O EXPERIMENTO poropressão (em relação ao nível de água no
aterro) de 25 e 45 kPa, confirmando os
As principais datas do experimento estão na resultados dos ensaios de dissipação acima
tabela 2. Já com os drenos instalados, houve mencionados.
cerca de um mês de medições de recalque antes
da aplicação do vácuo. As leituras de nível de Durante a aplicação do vácuo, foi medida a
água no aterro tiveram início cinco dias antes de vazão efluente cronometrando os ciclos de liga-
ligar o vácuo. Uma fotografia do local do desliga da caixa de interface água-vácuo, cujo
ensaio, com o sistema de vácuo instalado, está volume era conhecido. Salvo nos primeiros
na figura 9. dias, quando foi mais alta, a vazão se manteve
praticamente constante, por volta dos 200 a 250
EVENTO DATA litros por hora. O valor do vácuo foi medido no
tubo coletor e na extremidade oposta de
IMPLANTAÇÃO DOS DRENOS VERTICAIS meados de março 2011
algumas das linhas sub-coletoras dos drenos e
INÍCIO DAS LEITURAS DE RECALQUE 6 abril, 2011 se manteve entre 65 e 75 kPa (sucção). A
evolução dos valores de vazão e sucção durante
INÍCIO DAS LEITURAS DE NÍVEL DE ÁGUA 29 abril, 2011
o experimento se encontra na figura 10.
ENSAIOS PIEZOCONE E INSTALAÇÃO DOS
2 e 3 maio, 2011
PIEZÔMETROS ELÉTRICOS

LIGADO O VÁCUO 4 maio, 2011

DESLIGADO O VÁCUO 4 agosto, 2011

FIM DAS LEITURAS DE NÍVEL DE ÁGUA 31 agosto, 2011

FIM DAS LEITURAS DE RECALQUE 8 setembro, 2001


VAZÃO
Tabela 2 – Principais datas do experimento

VÁCUO

Figura 10 – Valores de vácuo e de vazão


durante o experimento (Trecho 1)

È importante destacar que apenas uma parte do


vácuo aplicado nos coletores chega ao solo
mole. Deve ser descontada a distância vertical
Figura 9 – Vista do experimento (Trecho 1)
Hs (ver figuras 2 e 3) entre o nível de água do
terreno e a interface água-ar na câmara de
Os piezômetros elétricos foram instalados e
vácuo. Esta altura de água, no caso do
tiveram suas leituras iniciadas quatro dias antes
experimento em foco, foi da ordem de 2,5
da ligação do vácuo. Tão logo o vácuo foi
metros (25 kPa) de modo que o “vácuo efetivo”
ativado, os piezômetros passaram a apresentar
aplicado na camada mole seria da ordem de 40
leituras difíceis de explicar. Depois do fim do
a 45 kPa. Contudo, há ainda a considerar perdas
teste, os piezômetros foram retirados do terreno
de vácuo nas conexões do sistema, a longo do
(conforme previsto) e verificou-se que a câmara
fuste dos drenos e tubos, etc. Há também perdas
de ambos estava seca. Os resultados obtidos
de carga hidráulica perante o fluxo de água nos velocidade de cerca de 2 centímetros por mês
drenos e tubos. Só se pode saber o vácuo para cerca de 4 centímetros por mês. Outra
efetivamente aplicado na camada mole se ele evidência do funcionamento do vácuo é a
for medido no interior dos drenos verticais (o estabilização dos recalques depois de seu
que não foi feito neste experimento). No caso, desligamento, que se vê na figura 12 a partir do
estima-se que o “vácuo efetivo” tenha sido um início de agosto.
pouco menor do que 40 a 45 kPa.

Na parte direita da figura 7 estão as tensões


supondo o “vácuo efetivo” como igual a 45 kPa. EXTRAPOLAÇÃO DOS
DADOS OBTIDOS ANTES DE
LIGAR O VÁCUO
Durante a aplicação do vácuo há uma
diminuição gradativa da poropressão LIGADO O
(acompanhada por igual aumento da tensão VÁCUO
efetiva) sob tensão total vertical constante. A
velocidade desse processo é, provavelmente,
regida pelo coeficiente de adensamento do solo
mole. O estado de tensões (total, poropressão e
DESLIGADO
efetiva) é igual antes da aplicação do vácuo e O VÁCUO
quando termina a equalização das poropressões
depois do desligamentto do vácuo (o tempo
para que tal equalização ocorra tende a ser curto
por causa do preadensamento induzido pela Figura 12 – Recalques no Trecho 1
sobrecarga a vácuo).
O cota do nível de água no aterro variou pouco
As leituras de um dos medidores de nível de durante o experimento como mostrado na figura
água e de um dos marcos de recalque, situados 10 (mais ou menos 0,15 m em torno da média
na parte central do Trecho 1 estão apresentadas +1,45 m), o que indica que o vácuo não
nas figuras 11 e 12, respectivamente. removeu uma quantidade importante de água do
aterro. Isto significa que a periferia do tubo
acima da junção não se constituiu em caminho
LIGADO O DESLIGADO
VÁCUO O VÁCUO importante de percolação. Em outras palavras,
pode-se dizer que o meio metro de solo mole
superior (entre a base da areia, na profundidade
4 m, e a junção do tubo com o dreno, na
profundidade 4,5m) se fechou em volta do tubo
e selou suficientemente o sistema.

A vazão registrada na saída do sistema (da


ordem de 225 litros por hora, ver figura 10) foi
muito maior do que o volume dos recalques
(que corresponde a uma “vazão” equivalente
Figura 11 – Cota do nível de água no aterro -
por volta de 13,5 litros por hora, nos 225 m2 do
Trecho 1
Trecho 1). Os ensaios de piezocone (figura 8)
mostram que a partir dos 7 m de profundidade o
6 – COMENTÁRIOS
material vai perdendo suas características
argilosas e passando a se mostrar mais arenoso
Pode-se concluir que a aplicação do vácuo
(qT maiores e Bq menores). Nessa medida,
acelerou os recalques. Basta comparar a curva
parece que teria sido melhor se a base dos
de recalques observada (linha cheia na figura
drenos tivesse ficado um pouco acima da
12) com a extrapolação da curva de recalques
profundidade de 7,50 m utilizada. Isto não
antes da aplicação do vácuo (linha tracejada na
prejudicou a ação do vácuo sobre o solo mole
figura 12). Os recalques se aceleraram de uma
mas, pode ter causado o aumento Choa, V. (1989), “Drains and vacuum preloading pilot
(desnecessário) na vazão de bombeamento. test”, 12th International Conference on Soil
Mechanics and Foundation Engineering, Rio de
Janeiro.
7 – CONCLUSÃO Chu, J., Yan, S.W e Yang, H. (2000), “Soil improvement
by the vacuum preloading method for an oil
O experimento foi considerado como bem storage Station”, Geotechnique, 50.
sucedido. A aplicação do vácuo funcionou Chu, J. e Yan, S.W. (2005), “Application of the vacuum
preloading method in soil improvement
como uma sobrecarga, induzindo aceleração projects”, Ground Improvement – Case
dos recalques na camada de solo mole. Histories, Elsevier Geo-Engineering Book Series
– Vol. 3, Editors: Indraratna, B. e Chu, J.
A tecnologia utilizada, que incluiu os drenos Chu, J., Varaksin, S., Klotz, U. e Mengé, P. (2010),
verticais tipo “estrela”, a junção com o dreno “Construction Processes”, State of the Art
Report, 17th International Conf on Soil
por dentro do tubo impermeável e a aplicação Mechanics and Geotechnical Engineering.
do vácuo dreno-a-dreno, vem sendo Cognon, J.M. (1991), “Vacuum consolidation”, Révue
aperfeiçoada e, no momento, está sendo Française de Géotechnique, 57.
utilizada em obra de grande porte no exterior. Cognon, J.M., Juran, I. e Thevanayagam, S., “Vacuum
consolidation technology – Principles and field
experience”, Proceedings Settlement ’94 –
AGRADECIMENTOS Vertical and Horizontal Deformations of
Foundations and Embankments, ASCE, GSP 40,
Aos Engenheiros da ARG-Civilport, construtora Vol 2.
da obra do Porto Sudeste, em particular Dr. Holtz, r.d. (1975), “Preloading by vacuum: current
Paulo Fogaça, e da Guimar, Gerenciadora da prospectys”, Transportation Research Record,
Transportation Research Record No. 548.
obra para a LLX, em particular Dr. Joaquim Indraratna, B., Rujikiatkamjorn, C., Balasubramaniam,
Teixeira, pela permissão para o experimento e A.S. e Wijeiaykulasuryia, V. (2005), “Prediction
pelo apoio durante sua execução. À ARG pelo and observation of soft clay foundations
apoio logístico e pelas sondagens com SPT na stabilized with geosynthetic drains and vacuum
área do experimento. À Geoforma pela surcharge”, Ground Improvement – Case
Histories, Elsevier Geo-Engineering Book Series
realização dos ensaios piezocone. À Tecnogeo – Vol. 3, Editors: Indraratna, B. e Chu, J.
pela cravação dos drenos, montagem e operação Kolff, A.H.N., Spierenburg, S.E.J. e Mathijssen, F.A.J.M.
do sistema de vácuo. À Geoprojetos por (2004), “Beaudrain: A new consolidation system
disponibilizar os técnicos e equipamentos para based on the old concept of vacuum
as leituras dos instrumentos. Ao Engenheiro consolidation”, 5th International Conference on
Ground Improvement, Kuala Lumpur.
Sidney Reis Barbosa da Silva pela leitura crítica Li, B., Wu, S.F., Chu, J. e Lam, K.P. (2011), “Evaluation
do manuscrito final. of two vacuum preloading techniques using
model tets”, Geofrontiers 2011, ASCE.
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Swart, T.P. (2006), “Beaudrain-S PVD vacuum Histories, Elsevier Geo-Engineering Book Series
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Suvarnabhumi airport project”, Symposium on Masse, F., Spalding, C.A., Wong, P.C. e Varaksin, S.
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