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Excelentíssimo Senhor Prefeito do município de bauru-sp.

Manifestação contra o PL 202/16

Através deste documento pretendemos representar uma grande


parcela da população de Bauru, aquelas que foram historicamente negligenciadas pelos
poderes públicos, por conta de leis retrógradas e injustas que mesmo quando superadas,
deixaram como herança a desigualdade e injustiça social.
Justamente por fazermos parte e sabermos as mazelas enfrentadas
no dia-a-dia, reconhecemos desde o começo o perigo que o Projeto de Lei 202/16
representa.
Ele foi gerado a partir de um acordo entre empresários do ramo de
bares e restaurantes e um vereador que também é empresário dono de casas de
entretenimento. Esse fato não pode ser negado porque foi registrado pelo site da Câmara,
pelo Jornal da Cidade e outros veículos de comunicação.
Ao verificar que a opinião pública não concordou com tal
interferência de quem tem nítidos interesses nesse legislação, o vereador delegou a tarefa
de propor e levar a cabo o projeto a dois vereadores que não tinham sequer se
candidatado a reeleição, ou seja, perder ou não credibilidade não estava em jogo para os
autores do projeto.
Quando o projeto foi colocado em evidencia neste ano de 2017, até
mesmo os que o defendiam, concordaram que o conteúdo era inexato, insuficiente e cheio
de vazios jurídicos.
As emendas que foram propostas não salvam o texto nem tiram da
população mais fragilizada socialmente o peso do perigo das consequências da
aprovação do PL.
Para fechar o teatro de mau gosto que este PL representa, ele foi
aprovado no que a mídia bauruense classificou como sessão, relâmpago. Não precisamos
novamente repetir o quão absurdo foi o tempo de duração das duas sessões em que o PL
foi aprovado na Câmara.
Depois de demonstrar plena disposição de diálogo e argumentação
ao participar de inúmeras reuniões com os vereadores, participar ativamente nas duas
audiências públicas e comparecer à Câmara no primeiro dia em que o PL foi para a pauta,
a juventude recebe um verdadeiro tapa antidemocrático ao ser enganada covardemente
pelos vereadores.
Sr. Prefeito, abaixo elencaremos as inconstitucionalidades do PL
202/16 e se esse for realmente o critério utilizado, temos plena certeza que o veto
acontecerá. Mas sabemos que a realidade da política bauruense e brasileira, como um
todo, é outra. Apelamos à sua humanidade e responsabilidade com a população e as
consequências que a aprovação deste projeto causará para ela.

Do direito.

O PL 202/16 é inconstitucional e fere os mais diversos direitos e


garantias da pessoa humana, garantidos na Constituição e outras legislações
internacionais as quais o Brasil é signatário.
Nosso escopo, não é delongar demais os argumentos, uma vez que
todos eles já foram apresentados diversas vezes em todas as discussões na Câmara
Municipal, assim como Prefeitura.
Assim, buscaremos ser mais objetivos possível.

Da Cultura Universitária.

Ao tratar do conceito de cultura, a sociologia se ocupa em entender


os aspectos aprendidos que o ser humano, em contato social, adquire ao longo de sua
convivência. Esses aspectos, compartilhados entre os indivíduos que fazem parte deste
grupo de convívio específico, refletem especificamente a realidade social desses sujeitos.
Características como a linguagem, modo de se vestir em ocasiões específicas são
algumas características que podem ser determinadas por uma cultura que acaba por ter
como função possibilitar a cooperação e a comunicação entre aqueles que dela fazem
parte.
A cultura possui tanto aspectos tangíveis - objetos ou símbolos que
fazem parte do seu contexto - quanto intangíveis - ideias, normas que regulam o
comportamento, formas de religiosidade. Esses aspectos constroem a realidade social
dividida por aqueles que a integram, dando forma a relações e estabelecendo valores e
normas.
Diante das mais diversas entrevistas dos vereadores que são
favoráveis ao PL já citado podemos perceber que desejam atacar frontalmente a Cultura
Universitária bauruense e brasileira.
Todo jovem, ou sua grande maioria sonha em ingressar na
Universidade e participar de todos os prazeres que podem lhes ser propiciados.
Prazeres como o ensino de qualidade, desporto e lazer, ao passo
que suas reuniões pacíficas são tuteladas constitucionalmente.

Da cultura popular.

Conforme foi visto acima, a cultura é algo que varia no tempo e


espaço, sendo ainda algo que traz sentimento de pertencimento e empatia a certo grupo.
Os brasileiros são conhecidos mundialmente por ter a cultura festiva,
alegre. Talvez nenhum outro povo no planeta saiba como o brasileiro como festejar e
incluir pessoas em seus festejos.
Ao passo que o PL visa entravar essa cultura.

Das liberdades e garantias constitucionais e


infraconstitucionais.

Verificamos que o lazer e cultura são direitos que são amplamente


guarnecidos pelo constituinte assim como pelo legislador infraconstitucional, merecendo
destaques direitos de inconstitucionalidades os artigos 6º; 7º 215 e 217 da Constituição
da República onde todos eles guarnecem os direitos ao lazer aqui, se faz presente através
das “festas”.
Veja nobre Prefeito que o artigo 2º, I do referido PL, diz que poderão
ser realizadas as festas para reunião familiar ou de amigos, e aquelas com fins
assistenciais, folclóricos/culturais, desportivos, religiosos ou filantrópicos DEVIDAMENTE
COMPROVADOS.
Veja que o legislador municipal impôs ao munícipe o dever prévio e
comprovar que seu festejo atende os requisitos acima descritos.
Sendo assim, no momento que houver uma possível fiscalização,
caso, não haja provas que a referida aglomeração atenda aqueles requisitos, o
organizador deverá sofrer as cominações impostas.
Entretanto, cumpre ressaltar que o ônus de provar que a festa foge
das permissões é do poder que irá aplicar a penalidade, ou seja da prefeitura.
Contudo através da leitura do PL percebemos que o legislador impôs
ao munícipe a obrigação de comprovação prévia.
Neste ponto, surgem alguns entraves
1. Qual será a secretaria e quais documentos que os munícipes
deverão apresentar para receber a carta prova de que sua festa
atinge os fins permitidos?
2. Como deve-se produzir as provas?
3. Quem serão os agentes fiscalizadores?
4. Para ingressar em residência onde ocorram eventuais festas
haverá a necessidade do fiscal ter em mãos mandado judicial,
CF art5, XI;
5. A prefeitura terá condições de arcar com funcionários (fiscais) em
horário noturno sem comprometer o erário municipal?
6. A prefeitura terá condições de criar setor especializado em emitir
os documentos exigidos?

Como se não bastassem as inúmeras agressões à Constituição da


República, o PL, também ofende a Lei Nº 12.343, de 2 de dezembro de 2010, que institui
o Plano Nacional de Cultura.
Veja:

Art. 1o Fica aprovado o Plano Nacional de Cultura, em conformidade com o §


3o do art. 215 da Constituição Federal, constante do Anexo, com duração de 10
(dez) anos e regido pelos seguintes princípios:
I - liberdade de expressão, criação e fruição;
II - diversidade cultural;
III - respeito aos direitos humanos;
IV - direito de todos à arte e à cultura;
V - direito à informação, à comunicação e à crítica cultural;
VI - direito à memória e às tradições;
[...]
VIII - valorização da cultura como vetor do desenvolvimento sustentável;
IX - democratização das instâncias de formulação das políticas culturais;

Assim sendo o referido PL não visa defender ou tutelar a segurança


ou saúde pública, mas sim atacar parte essencial na vida do brasileiro, sua cultura.

Diante disto, requeremos que V. Excelência vete esse projeto de lei.

THYAGO CEZAR
PRESIDENTE DA COORDENADORIA DOS DIREITOS HUMANOS E SOCIAIS DO
INSTITUTO DOS ADVOGADOS DO INTERIOR PAULISTA

FELLYPE BORGES CONCEIÇÃO


JUVENTUDE SOCIALISTA DO PDT

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