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Tratados

2.ª parte

22 de Janeiro de 2018
Teresa Lancry A. S. Robalo

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PROCESSO DE CELEBRAÇ Ã O DOS TRATADOS INTERNACIONAIS
PASSOS:

1. Negociação - plenipotenciários – 2.º, c) + 7.º CV; falta de


poderes – 8.º CV
2. Redacção
3. Autenticação – adopção do texto – art.º 9.º CV - , em
conformidade com a intenção dos negociadores – por – art.º
10.º,b) CV -: i) assinatura; ii) assinatura ad referendum; iii)
rúbrica – a assinatura pode vincular imediatamente o Estado –
art.º 11.º + 12.º CV.
4. Ratificação/aceitação/aprovação – art.º 14.º CV - acto pelo
qual o órgão competente manifesta a vontade do seu Estado
em se declarar obrigado pelo Tratado
5. Troca ou depósito de ratificações – art.º 16.º CV
6. Depósito do tratado – art.º 76.º e 77.º CV
7. Adesão – art.º 15.º CV - O Estado que não foi parte do processo
inicial, torna-se posteriormente parte dele
8. Entrada em vigor – art.º 24.º e 25.º CV
9. Registo e publicação – art.º 77.º, n.º 1, al. g) CV + 102.º Carta
ONU + 80.º CV. 2
Aplicação territorial dos tratados
O caso da RAEM

 Art.º 29.º CV – se apenas aplicássemos o artigo 29.º da CV, a


conclusão seria a de que todos os tratados concluídos pela
RPC seriam imediatamente aplicáveis na RAEM.

 No entanto, como a LB está interna e hierarquicamente


acima dos tratados internacionais, nomeadamente da CV
(art.º 1.º, n.º 3 do CC), deve seguir-se o disposto no
parágrafo 1.º do artigo 138.º da LB, segundo o qual:

 “a aplicação à RAEM dos acordos internacionais em que a


RPC é parte é decidida pelo Governo da RPC (…) após ouvir
o parecer do Governo da RAEM” – parecer esse que é
obrigatório mas não vinculativo.
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PROCESSO DE CELEBRAÇ Ã O DOS TRATADOS INTERNACIONAIS

 A conclusão de um tratado é uma operação que, como vimos,


envolve várias etapas:

1. A adopção do texto
2. A sua autenticação
3. A decisão do Estado a vincular-se ao tratado
4. A notificação internacional dessa decisão
5. A entrada em vigor do tratado

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 Celebrar um tratado é um atributo da soberania do Estado.
Mas quem é que celebra o tratado em nome do Estado??

 Por força da autonomia constitucional dos Estados, são as


respectivas Constituições que, na repartição geral das
competências entre os diversos órgãos, determinam quem é
competente.

 1.Negociação

 A primeira etapa do processo de conclusão de um tratado é


aquela em que se determina o seu conteúdo.

 As suas formalidades dependem de nela intervirem 2 ou mais


Estados.

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 Nos tratados bilaterais as negociações são, geralmente,
conduzidas pelos Ministros dos Negócios Estrangeiros ou por
agentes diplomáticos eventualmente assistidos por técnicos
ou peritos.

 Nos tratados multilaterais, as negociações decorrem


normalmente em reuniões (congressos ou conferências) onde
participam todos os negociadores, que formam delegações
dos Estados respectivos.

 Os negociadores dos tratados internacionais designam-se de


plenipotenciários e, em geral, estão habilitados de plenos
poderes, isto é, os poderes suficientes para dirigir e concluir
as negociações – cf art.º 7.º CV.
 Esses poderes constam da carta patente, que é um
documento especial que atribui plenos poderes aos
plenipoteciários.
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 Plenos poderes – art.º 2.º, c) CV – “documento proveniente
da autoridade competente de um Estado que indica uma ou
várias pessoas para o (Estado) representar:

 na negociação, adopção ou autenticação do texto de um


tratado,

 Para manifestar o consentimento a ficar vinculado por um


tratado

 Ou para praticar qualquer outro acto que se refira ao


tratado”

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 Portanto, a habilitação para negociar tratados resulta da
emissão de plenos poderes pelo órgão constitucionalmente
competente, salvo nos casos referidos no artigo 7.º, n.º 2
CV:

1. Chefes de Estado
2. Chefes de Governo
3. Ministros dos Negócios Estrangeiros
4. Chefes de missão diplomática, nos termos da al. b)
5. Representantes acreditados dos Estados, nos termos da al.
c).

 Por último, há a referir que no decurso das negociações, os


projectos de textos são submetidos à discussão, provocando
emendas, contrapropostas ou ambas.

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 2.Redacção

 Após a fase da negociação, surge a fase da redacção do texto


escrito do tratado, sob a forma de articulado.

 Os tratados são redigidos em tantas línguas quantas as dos


Estados signatários.

 Depois de redigido, o texto apresenta normalmente a


seguinte forma:
1. Preâmbulo – onde se indicam as partes contratantes, o local
e as razões determinantes da negociação;
2. Dispositivo ou corpo do tratado – composto pelo articulado
e cláusulas finais;
3. Anexos – disposições de carácter técnico que, para evitar o
aspecto “pesado” do tratado, aparecem no fim, separados
do resto do texto.
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 3. Autenticação

 A adopção do texto do tratado marca o fim da fase de


elaboração.

 A adopção decompõe-se em duas operações distintas:


1. Fixação do texto – significa que a negociação terminou e os
negociadores consideram o texto aceitável;
2. Autenticação – procedimento que consiste em declarar que
o texto redigido corresponde à intenção dos negociadores e
que o consideram definitivo. Um texto autenticado não
poderá mais ser modificado (artigo 10.º, proémio CV).

 Nos termos do art.º 10.º, b) CV, a autenticação pode ser


feita de 3 formas. Por:
 Assinatura;
 Assinatura ad referendum;
 Rúbrica.
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 Assinatura – quando o negociador está munido de plenos
poderes para assinar. É a forma normal e tradicional da
autenticação do texto de um tratado.
 Traduz a promessa solene e firme de se vincular pelo
Tratado.

 Normalmente ainda não significa que o Estado aceita


vincular-se ao tratado: apenas que pretende vir a fazê-lo (o
que, por regra, ocorre no momento seguinte da ratificação).
Todavia, excepcionalmente a assinatura significa já o
consentimento do Estado em vincular-se ao Tratado, nos
casos do artigo 12.º CV.

 A assinatura pode ser feita em 3 momentos:


1. No encerramento das negociações;
2. Numa data posterior estabelecida por acordo;
3. Em qualquer momento posterior ao da adopção do tratado –
por exemplo quando se dá a adesão ao mesmo. 11
 Assinatura ad referendum ou assinatura diferida – é a
assinatura feita pelo representante do Estado que não tem
poderes para este acto. Por isso, a autenticação fica sujeita a
confirmação posterior que será feita quando lhe forem
concedidos os poderes necessários.

 Ou seja, a assinatura só se torna definitiva após a


confirmação.

 Rúbrica – consiste na oposição das iniciais do representante


do Estado no texto do tratado, a que se seguirá a assinatura
de um delegado com plenos poderes para o efeito.
 Esta forma é utilizada quando os negociadores interrompem
as negociações para submeterem o texto do tratado à
apreciação do respectivo governo, que consultam
(previamente) sobre a aceitabilidade ou não do texto
negociado.

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 A autenticação de um tratado cria para o Estado signatário
um dever geral de boa fé – art.º 18.º CV – ou seja, o Estado
deve abster-se de actos que privem o tratado do seu fim.

 Mas atenção! Como explica a Professora Filipa Delgado:

 O artigo 18.º (princípio da boa fé):

o Não prevê que o Estado signatário seja obrigado a respeitar


as disposições de fundo do tratado – pois isso significaria que
esse Estado já seria parte do tratado, que não é.

o O artigo apenas determina que quando um Estado assina um


Tratado, não pode adoptar um comportamento que esvazie
de toda a substância o seu compromisso posterior de,
quando exprimisse o seu consentimento a estar vinculado.

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 4.Ratificação

 Nem sempre a autenticação do texto é simultânea à


manifestação de vontade do consentimento a ficar vinculado
a um tratado (ao invés, assim será nos casos previstos no
art.º 12.º CV).

 Conforme dispõe o artigo 11.º CV, “o consentimento de um


Estado a estar vinculado por um tratado pode manifestar-se
por:
1. Assinatura – art.º 12.º
2. Troca de instrumentos constitutivos de um tratado – art.º
13.º
3. Ratificação, aceitação ou aprovação – art.º 14.º
4. Adesão – art.º 15.º
5. Ou por qualquer outro meio convencionado”

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 Nos tratados solenes, como vimos supra, o texto assinado
vale apenas como PROJECTO DE TRATADO.

 O efeito jurídico da assinatura é apenas o de encurtar as


negociações e colocar os Estados na situação de apenas
poderem aceitar ou recusar o texto, tal como foi assinado,
não podendo introduzir-lhe mais modificações (art.º 10.º,
proémio CV) – para além da boa fé prevista no art.º 18.º.

 Nestes casos, o texto do tratado só se torna obrigatório


depois de solenemente aprovado pelos órgãos estaduais
(internos) com competência para tal, dentro dos limites do
seu próprio Dto Interno, mormente do seu Dto
Constitucional.
 Esse acto de aprovação interna chama-se RATIFICAÇ Ã O.

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 Ratificação – acto pelo qual o órgão competente - o Chefe de
Estado, segundo o Dto Const. de cada Estado manifesta a
vontade do seu Estado se declarar obrigado em relação às
disposições de um tratado. Está reservada aos tratados
solenes.

 Cf. Artigo 2.º, n.º 1,al. b) CV.

 Na prática, a ratificação reveste a forma de um documento


publicado no jornal oficial do Estado (a chamada carta de
ratificação) que reproduz o texto integral do tratado.

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 5. Troca (nos tratados bilaterais) ou depósito (nos tratados
multilaterais) de ratificações – art.º 16.º CV

 Troca de ratificações – os órgãos competentes para tal,


geralmente o MNE, dão-se conhecimento recíproco de que a
ratificação teve lugar e a sua data – esta troca é atestada por
uma acta.

 Depósito de ratificações – consiste na comunicação das


ratificações a um depositário - ao MNE de um dos Estados
previamente escolhido para esse efeito, ou o secretário de
uma OI -, os quais se encarregam de dar conhecimento a
todos os signatários das ratificações efectuadas.
 Deste modo, cada signatário faz apenas um único envio –
envia o instrumento de ratificação ao depositário.

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 Ratificação imperfeita (ou irregular) – é aquela em que se
verifica que não obedeceu aos trâmites definidos pelo Dto
interno do Estado Ratificante.

 Consequência – art.º 46.º CV – em regra, as ratificações


imperfeitas não podem servir de fundamento aos Estados
para não cumprirem os tratados internacionais de que hajam
sido partes, salvo quando a violação das disposições do seu
dto interno seja manifesta ou notória – ou seja, quando seja
objectivamente evidente para qualquer Estado que actue
conforme as práticas usuais e de boa fé.

 Deste modo, encontrou-se um equilíbrio entre a salvaguarda


na segurança das relações internacionais e o respeito pelas
disposições fundamentais do Dto Interno dos Estados.
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 Aceitação ou aprovação – art.º 14.º, n.º 2 CV – consistem
numa qualquer manifestação de vontade do Estado em se
vincular pelo tratado, que pode ser expressa por qualquer
órgão estatal com competência para o obrigar
internacionalmente, nos termos do direito interno, que não
corresponda à ratificação supra descrita.
 Ou seja, a ratificação emana do Chefe de Estado, em regra o
PR.
 Aceitação – tratados bilaterais
 Aprovação – normalmente, tratados multilaterais

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 Troca de instrumentos constitutivos (JBG, p. 253) – 13.º CV –
entrega recíproca de textos, assinados por ambas as partes
em representação dos respectivos sujeitos outorgantes.

 Adesão – art.º 15.º CV – acto jurídico pelo qual um Estado


que não foi parte num tratado se declara obrigado pelas suas
disposições.
 Ou seja, é o acto pelo qual o Estado não signatário de um
tratado, concluído entre outros Estados, se torna parte dele,
quer tenha ou não tomado parte das negociações.

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 Entrada em vigor – art.º 24.º e 25.º CV – para que as
disposições de um tratado se tornem direito positivo e se
integrem no ordenamento jurídico internacional, é
necessário que estejam cumpridas as condições da sua
entrada em vigor.

 Há várias possibilidades previstas na CV.


1. Em regra, um tratado entra em vigor na data fixada nas
suas disposições ou convencionada pelas partes.
2. Na falta destas, entra em vigor logo que todos os Estados
que tenham participado na negociação manifestem o seu
consentimento a ficarem vinculados pelo tratado.
3. Mas, nos termos do art.º 25.º CV, um tratado aplicar-se
provisoriamente antes da sua entrada em vigor.
4. Note-se ainda que o artigo 55.º CV prevê que “salvo se
dispuser diversamente, um tratado multilateral não deixa
de vigorar pela mera circunstância de o número de partes
se tornar inferior ao número necessário para a sua
entrada em vigor”. 21
 Registo e publicação – 102.º Carta ONU

 Ratio – visa-se combater a existência de tratados secretos ou


da diplomacia secreta com os perigos para a segurança
internacional que esta acarreta.

 Institui-se, assim, o princípio da diplomacia aberta,


controlada pela opinião pública.

 Falta de registo – consequências – implica a inoponibilidade


do tratado aos órgãos das Nações Unidas.

 Cf. art.º 80.º CV.

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