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FEBVRE - FRENTE AO VENTO / E O HOMEM EM TUDO ISTO? / UMA civilização Inca ou Asteca. É um modo de viver.

um modo de viver. Está muito mais relacionado


VISÃO DE CONJUNTO ao conceito de cultura.

Lucien Febvre, neste texto, trata muito mais sobre o que não deve ser a Há uma grande crítica ao conceito de manual de história, que seria
história, dando uma série de opiniões e manifestações sobre como deve diferente do livro de história. O manual não leva a pensar, porque seria
ser feita a história, sobre como deve ser o ofício do historiador. apenas uma coleção de fatos e datas. O manual não leva a ler, é uma
resposta pronta, é tudo o que a história critica, porque não há história
Há um questionamento sobre se as questões raciais tratadas na página 45 problema no manual e na história problema não há resposta pronta. Ele
seriam tratadas pelo autor como se dando de forma branda. "(...) o amarelo não desperta nenhuma curiosidade intelectual.
entra em casa de branco e o branco em casa do negro, de arma automática
na mão e saco tirolês às costas, cheio de coisas boas para comer: os dois Os Annales não deixaram de aparecer durante a guerra, o que implica uma
aspectos do mais recente internacionalismo". certa forma de resistência. Mas isso também significa alguma forma de
adequação a alguns termos, porque continuar publicando em um contexto
O professor acredita que se trata não de um movimento harmônico, mas em que a Alemanha estava ocupando a França, implica uma certa aceitação
de um contexto de pós-guerra, dessa diversidade e da ruína das das condições dadas pelos ocupantes. Há uma certa controvérsia sobre isso
civilizações. É a Casa dos Homens, onde vive tanto o bem quanto o mal, porque Bloch é executado em 1944 e, quando da ocupação, ele entra na
há de tudo quanto é espécie, por isso há uma civilização em ruínas, que resistência e houve uma discordância entre ele e Febvre, que insistia em
remete a Europa que estava destruída pela guerra. continuar publicando a revista, sem a contribuição de Bloch, que era uma
Na página 44, há um jogo de palavras com o termo "civilização", como pode das exigências dos nazistas, porque Bloch era judeu. Bloch sai, vai para a
ser visto: "Porque uma civilização pode morrer. A civilização não morre". resistência e é executado. Ele dizia que não deveria mais publicar a revista.
Febvre traz as civilizações no plural, que nascem e morrem. A civilização é Há, portanto, um certo constrangimento na continuidade dos Annales.
uma série de relações envolvendo os homens da sociedade. Tanto o Febvre traz que a relação com os mortos é um elemento de vida para a
homem nas suas relações individuais quando sociais. A história deve se história. O estudo dos mortos dá substância para a história. Isso fica mais
voltar para esse relacionamento entre os homens em certos espaços e
claro com a análise que ele faz da obra de Michelet.
tempos. O que não morre é uma forma peculiar de viver. O homem vai ter
sempre que inventar civilizações. À grosso modo, civilizações seriam A relação do historiador, do homem com seu passado é uma relação de
formas de viver junto, de pensar, de sentir, que envolvem maneiras de agir, compreensão. Compreender não só no sentido analítico, de entendimento
pensar e sentir. Este conceito está distante do conceito tradicional, como intelectual, mas compreender envolve aí uma certa forma de proximidade
com o passado, de compreender suas razões e em certa medida, de aceitá- entendimento do mundo onde vivemos e do mundo de onde viemos. É
las. March Bloch diz algo que Febvre cita no texto, de que a relação do uma relação de troca com o passado e não de busca no passado.
historiador com o passado é uma relação de amizade, de que muito mais
do que criticar o passado, como os marxistas fazem, que não deixa ser uma Febvre diz que o homem está sozinho, porque a história é também a
forma de anacronismo, mas uma relação de compreensão, de entender as relação do homem com ele mesmo. Não é uma questão filosófica, porque
razões dos contemporâneos. O pensamento dos Annales tem uma ideia de não se trata do homem abstrato. A importância da psicologia na história é
proximidade e de alguma forma de aceitação do passado. A visão de uma que ela trata o indivíduo na sua totalidade.
ideia de um passado que deve ser criticado não faz sentido para os Annales, O autor ainda combate a ideia dos grandes personagens que são tratados
nessa perspectiva de que a relação do historiador com o passado tem como aqueles que desenvolvem as grandes ideias e as massas apenas as
alguma forma de aceitação, que deve ser interpretado, mas não mudado. absorveriam. Não foi assim com Lutero, por exemplo, porque ele ficava
Você pode até usar o passado, mas para mudar o presente. Para entender exasperado com o tanto as massas recebiam de forma errônea suas ideias.
bem e aproveitar bem o passado, você deve compreender no sentido de
compreensão e aceitação do passado. A psicologia deveria ajudar a pensar na mentalidade dos homens de outras
épocas. Isso é uma transposição da ideia de psicologia coletiva para história
O professor traz novamente a discussão a questão do manual. O problema das mentalidades, nas maneiras de sentir, de pensar e de agir. A história
do manual seria que ele destrói aquilo que a história tem de mais das maneiras de pensar, dos sentimentos, das mentalidades, tudo isso
interessante, que é a reflexão. Os manuais trazem uma história sem vida. constitui um campo histórico que vem da psicologia.
Febvre defende que a história deve centrar-se no ser humano e nele
sentindo, pensando, sofrendo, agindo e tendo prazeres. A razão de ser da
história é o homem. Febvre chama a um combate pela história, ele defende
a história de uma forma apaixonada e é essa história viva. Se as civilizações
estão em ruínas e desmoronando, ele chama a fazer outra. Febvre não tem
uma visão utilitária do passado, como os marxistas, mas sim que o passado
é vivo, na medida em que o historiador da vida ao passado, ele dá sentindo
a sua própria vida e a vida da sociedade em que ele vive. A história é
essencial para isso, para a compreensão disso. Tudo isso numa perspectiva
de uma história viva. A história nos faz pensar. É uma reflexão, de um

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