PECADO E DESTRUIÇÃO
Os teólogos inclusivos gostam de dizer que Jesus Cristo nunca falou
contra o homossexualismo. Em compensação, falou bastante contra a
hipocrisia, o adultério, a incredulidade, a avareza e outros pecados
tolerados pelos cristãos. Este é o terceiro ponto: sabe-se, todavia, que a
razão pela qual Jesus não falou sobre homossexualidade é que ela não
representava um problema na sociedade judaica de sua época, que já tinha
como padrão o comportamento heterossexual. Não podemos dizer que não
havia judeus que eram homossexuais na época de Jesus, mas é seguro
afirmar que não assumiam publicamente esta conduta. Portanto, o
homossexualismo não era uma realidade social na Palestina na época de
Jesus. Todavia, quando a Igreja entrou em contato com o mundo gentílico –
sobretudo as culturas grega e romana, onde as práticas homossexuais eram
toleradas, embora não totalmente aceitas –, os autores bíblicos, como
Paulo, incluíram as mesmas nas listas de pecados contra Deus. Para os
cristãos, Paulo e demais autores bíblicos escreveram debaixo da inspiração
do Espírito Santo enviado por Jesus Cristo. Portanto, suas palavras são
igualmente determinantes para a conduta da Igreja nos dias de hoje.
O quarto ponto equivocado da abordagem que tenta fazer do
comportamento gay algo normal e aceitável no âmbito do Cristianismo é a
suposição de que o pecado de Sodoma e Gomorra não foi o
homossexualismo, mas a falta de hospitalidade para com os hóspedes de
Ló. A base dos teólogos inclusivos para esta afirmação é que no original
hebraico se diz que os homens de Sodoma queriam “conhecer” os hóspedes
de Ló (Gênesis 19.5) e não abusar sexualmente deles, como é traduzido em
várias versões, como na Almeida atualizada. Outras versões como a Nova
versão internacional e a Nova tradução na linguagem de hoje entendem
que conhecer ali é conhecer sexualmente e dizem que os concidadãos de Ló
queriam “ter relações” com os visitantes, enquanto a SBP é ainda mais
clara: “Queremos dormir com eles”. Usando-se a regra de interpretação
simples de analisar palavras em seus contextos, percebe-se que o termo
hebraico usado para dizer que os homens de Sodoma queriam “conhecer”
os hóspedes de Ló (yadah) é o mesmo termo que Ló usa para dizer que
suas filhas, que ele oferecia como alternativa à tara daqueles homens, eram
virgens: “Elas nunca conheceram (yadah) homem”, diz o versículo 8.
Assim, fica evidente que “conhecer”, no contexto da passagem de Gênesis,
significa ter relações sexuais. Foi esta a interpretação de Filo, autor judeu
do século 1º, em sua obra sobre a vida de Abraão: segundo ele, "os homens
de Sodoma se acostumaram gradativamente a ser tratados como mulheres."
Ainda sobre o pecado cometido naquelas cidades bíblicas, que
acabaria acarretando sua destruição, a “teologia inclusiva” defende que o
profeta Ezequiel claramente diz que o erro daquela gente foi a soberba e a
falta de amparo ao pobre e ao necessitado (Ez 16.49). Contudo, muito antes
de Ezequiel, o “sodomita” era colocado ao lado da prostituta na lei de
Moisés: o rendimento de ambos, fruto de sua imoralidade sexual, não
deveria ser recebido como oferta a Deus, conforme Deuteronômio 23.18.
Além do mais, quando lemos a declaração do profeta em contexto,
percebemos que a soberba e a falta de caridade era apenas um entre os
muitos pecados dos sodomitas. Ezequiel menciona as “abominações” dos
sodomitas, as quais foram a causa final da sua destruição: “Eis que esta foi
a iniquidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera
tranquilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o
necessitado. Foram arrogantes e fizeram abominações diante de mim; pelo
que, em vendo isto, as removi dali” (Ez 16.49-50). Da mesma forma,
Pedro, em sua segunda epístolas, refere-se às práticas pecaminosas dos
moradores de Sodoma e Gomorra tratando-as como “procedimento
libertino”.
Um quinto argumento é que haveria alguns casos de amor
homossexual na Bíblia, a começar pelo rei Davi, para quem o amor de seu
amigo Jônatas era excepcional, “ultrapassando o das mulheres” (II Samuel
1.26). Contudo, qualquer leitor da Bíblia sabe que o maior problema
pessoal de Davi era a falta de domínio próprio quanto à sua atração por
mulheres. Foi isso que o levou a casar com várias delas e, finalmente, a
adulterar com Bate-Seba, a mulher de Urias. Seu amor por Jônatas era
aquela amizade intensa que pode existir entre duas pessoas do mesmo sexo
e sem qualquer conotação erótica. Alguns defensores da “teologia
inclusiva” chegam a categorizar o relacionamento entre Jesus e João como
homoafetivo, pois este, sendo o discípulo amado do Filho de Deus, numa
ocasião reclinou a sua cabeça no peito do Mestre (João 13.25). Acontece
que tal atitude, na cultura oriental, era uma demonstração de amizade
varonil – contudo, acaba sendo interpretada como suposta evidência de um
relacionamento homoafetivo. Quem pensa assim não consegue enxergar
amizade pura e simples entre pessoas do mesmo sexo sem lhe atribuir uma
conotação sexual.
“TORPEZA”
Há uma sexta tentativa de reinterpretar passagens bíblicas com
objetivo de legitimar a homossexualidade. Os propagadores da “teologia
gay” dizem que, no texto de Romanos 1.24-27, o apóstolo Paulo estaria
apenas repetindo a proibição de Levítico à prática homossexual na forma
da prostituição cultual, tanto de homens como de mulheres – proibição esta
que não se aplicaria fora do contexto do culto idolátrico e pagão. Todavia,
basta que se leia a passagem para ficar claro o que Paulo estava
condenando. O apóstolo quis dizer exatamente o que o texto diz: que
homens e mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por
outro, contrário à natureza, e que se inflamaram mutuamente em sua
sensualidade – homens com homens e mulheres com mulheres –,
“cometendo torpeza” e “recebendo a merecida punição por seus erros”. E
ao se referir ao lesbianismo como pecado, Paulo deixa claro que não está
tratando apenas da pederastia, como alguns alegam, visto que a mesma só
pode acontecer entre homens, mas a todas as relações homossexuais, quer
entre homens ou mulheres.
É alegado também que, em I Coríntios 6.9, os citados efeminados e
sodomitas não seriam homossexuais, mas pessoas de caráter moral fraco
(malakoi, pessoa “macia” ou “suave”) e que praticam a imoralidade em
geral (arsenokoites, palavra que teria sido inventada por Paulo). Todavia,
se este é o sentido, o que significa as referências a impuros e adúlteros, que
aparecem na mesma lista? Por que o apóstolo repetiria estes conceitos? Na
verdade, efeminado se refere ao que toma a posição passiva no ato
homossexual – este é o sentido que a palavra tem na literatura grega da
época, em autores como Homero, Filo e Josefo – e sodomita é a referência
ao homem que deseja ter coito com outro homem.
Há ainda uma sétima justificativa apresentada por aqueles que acham
que a homossexualidade é compatível com a fé cristã. Segundo eles, muitas
igrejas cristãs históricas, hoje, já aceitam a prática homossexual como
normal – tanto que homossexuais praticantes, homens e mulheres, têm sido
aceitos não somente como membros, mas também como pastores e
pastoras. Essas igrejas, igualmente, defendem e aceitam a união civil e o
casamento entre pessoa do mesmo sexo. É o caso, por exemplo, da Igreja
Presbiteriana dos Estados Unidos – que nada tem a ver com a Igreja
Presbiteriana do Brasil –, da Igreja Episcopal no Canadá e de igrejas em
nações européias como Suécia, Noruega e Dinamarca, entre outras
confissões. Na maioria dos casos, a aceitação da homossexualidade
provocou divisões nestas igrejas, e é preciso observar, também, que só
aconteceu depois de um longo processo de rejeição da inspiração,
infalibilidade e autoridade da Bíblia. Via de regra, essas denominações
adotaram o método histórico-crítico – que, por definição, admite que as
Sagradas Escrituras são condicionadas culturalmente e que refletem os
erros e os preconceitos da época de seus autores. Desta forma, a aceitação
da prática homossexual foi apenas um passo lógico. Outros ainda virão.
Todavia, cristãos que recebem a Bíblia como a infalível e inerrante Palavra
de Deus não podem aceitar a prática homossexual, a não ser como uma
daquelas relações sexuais consideradas como pecaminosas pelo Senhor,
como o adultério, a prostituição e a fornicação.
Contudo, é um erro pensar que a Bíblia encara a prática homossexual
como sendo o pecado mais grave de todos. Na verdade, existe um pecado
para o qual não há perdão, mas com certeza não se trata da prática
homossexual: é a blasfêmia contra o Espírito Santo, que consiste em
atribuir a Satanás o poder pelo qual Jesus Cristo realizou os seus milagres e
prodígios aqui neste mundo, mencionado em Marcos 3.22-30.
Consequentemente, não está correto usar a Bíblia como base para tratar
homossexuais como sendo os piores pecadores dentre todos, que estariam
além da possibilidade de salvação e que, portanto, seriam merecedores de
ódio e desprezo. É lamentável e triste que isso tenha acontecido no passado
e esteja se repetindo no presente. A mensagem da Bíblia é esta: “Todos
pecaram e carecem da glória de Deus”, conforme Romanos 3.23. Todos
nós precisamos nos arrepender de nossos pecados e nos submetermos a
Jesus Cristo, o Salvador, pela fé, para recebermos o perdão e a vida eterna.
Lembremos ainda que os autores bíblicos sempre tratam da prática
homossexual juntamente com outros pecados. O 20º capítulo de Levítico
proíbe não somente as relações entre pessoas do mesmo sexo, como
também o adultério, o incesto e a bestialidade. Os sodomitas e efeminados
aparecem ao lado dos adúlteros, impuros, ladrões, avarentos e maldizentes,
quando o apóstolo Paulo lista aqueles que não herdarão o Reino de Deus (I
Coríntios 6.9-10). Porém, da mesma forma que havia nas igrejas cristãs
adúlteros e prostitutas que haviam se arrependido e mudado de vida,
mediante a fé em Jesus Cristo, havia também efeminados e sodomitas na
lista daqueles que foram perdoados e transformados.
COMPAIXÃO
É fundamental, aqui, fazer uma importante distinção. O que a Bíblia
condena é a prática homossexual, e não a tentação a esta prática. Não é
pecado ser tentado ao homossexualismo, da mesma forma que não é
pecado ser tentado ao adultério ou ao roubo, desde que se resista. As
pessoas que sentem atração por outras do mesmo sexo devem lembrar que
tal desejo é resultado da desordem moral que entrou na humanidade com a
queda de Adão e que, em Cristo Jesus, o segundo Adão, podem receber
graça e poder para resistir e vencer, sendo justificados diante de Deus.
Existem várias causas identificadas comumente para a atração por
pessoas do mesmo sexo, como o abuso sexual sofrido na infância. Muitos
gays provêm de famílias disfuncionais ou tiveram experiências negativas
com pessoas do sexo oposto. Há aqueles, também, que agem
deliberadamente por promiscuidade e têm desejo de chocar os outros. Um
outro fator a se levar em conta são as tendências genéticas à
homossexualidade, cuja existência não está comprovada até agora e tem
sido objeto de intensa polêmica. Todavia, do ponto de vista bíblico, o
homossexualismo é o resultado do abandono da glória de Deus, da idolatria
e da incredulidade por parte da raça humana, conforme Romanos 1.18-32.
Portanto, não é possível para quem crê na Bíblia justificar as práticas
homossexuais sob a alegação de compulsão incontrolável e inevitável,
muito embora os que sofrem com esse tipo de impulso devam ser objeto de
compaixão e ajuda da Igreja cristã.
É preciso também repudiar toda manifestação de ódio contra
homossexuais, da mesma forma com que o fazemos em relação a qualquer
pessoa. Isso jamais nos deveria impedir, todavia, de declarar com
sinceridade e respeito nossa convicção bíblica de que a prática
homossexual é pecaminosa e que não podemos concordar com ela, nem
com leis que a legitimam. Diante da existência de dispositivos legais que
permitem que uma pessoa deixe ou transfira seus bens a quem ele queira,
ainda em vida, não há necessidade de leis legitimando a união civil de
pessoas de mesmo sexo – basta a simples manifestação de vontade,
registrada em cartório civil, na forma de testamento ou acordo entre as
partes envolvidas. O reconhecimento dos direitos da união homoafetiva
valida a prática homossexual e abre a porta para o reconhecimento de um
novo conceito de família. No Brasil, o reconhecimento da união civil de
pessoas do mesmo sexo para fins de herança e outros benefícios aconteceu
ao arrepio do que diz a Constituição: “Para efeito da proteção do Estado, é
reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade
familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento” (Art. 226, §
3º).
Cristãos que recebem a Bíblia como a palavra de Deus não podem ser
a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, uma vez que seria a
validação daquilo que as Escrituras, claramente, tratam como pecado. O
casamento está no âmbito da autoridade do Estado e os cristãos são
orientados pela Palavra de Deus a se submeter às autoridades constituídas;
contudo, a mesma Bíblia nos ensina que nossa consciência está submissa,
em última instância, à lei de Deus e não às leis humanas – “Importa antes
obedecer a Deus que os homens” (Atos 5.29). Se o Estado legitimar aquilo
que Deus considera ilegítimo, e vier a obrigar os cristãos a irem contra a
sua consciência, eles devem estar prontos a viver, de maneira respeitosa e
pacífica em oposição sincera e honesta, qualquer que seja o preço a ser
pago.
Fonte: http://tempora-mores.blogspot.com.br