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Coleção SAIBA MAIS SOBRE

EDUCAÇÃO FÍSICA

LAURO PIRES XAVIER NETO


Prof. Auxiliar da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) -
disciplina de Estágio Supervisionado Escolar do Curso de Educação Física.
Mestrando do Curso de Educação Popular da Universidade Federal da Paraíba.
Pesquisador da Linha de Estudos e Pesquisa em Educação Física/Esporte e Lazer (LEPI I i
faculdade de Educação (FACED) da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

JEANE RODELLA ASSUNÇÃO


Graduanda de Educação Física da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)
Profª de ensino fundamental e médio de Educação Física da (acuidade e
Colégio Santo Agostinho (FACSA) de Ipiaú/BA.
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Capa:
Jussara Santos

Diagramação:
Aline Figueiredo

CATALOGAÇÃO NA FONTE
do Departamento Nacional do Livro

Xavier, Lauro
Educação Física (Saiba Mais)
Lauro Pires Xavier Filho, Jeane Rodella Assunção et al.

Rio de Janeiro: 2005

VII Xp.il. 23 cm

ISBN 85-86742-13-9 Bibliografia: p.X-X

1. As Concepções da Educação Física. 2. Abordagem da Aptidão


Física/Saúde. 3. Abordagem Crítico-superadora. 4. Possibilidades da
Prática Pedagógica. 5. Modelo de Reprodução ou Perspectiva de
Transformação.
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"É preciso guardar em nossa memória que é inumano


pensar 'no desporto como um direito de todos' enquanto
não superarmos o estágio atual de confronto entre o
capital e o trabalho, que tem determinado, ao longo dos
anos, a impossibilidade da grande maioria da população
brasileira -proletários e trabalhadores que ganham menos
de dois salários mínimos/mês - acesso aos insumos
orgânicos - culturais que o reorientariam o seu
crescimento e desenvolvimento numa perspectiva
harmônica."
Francisco Máuri de Carvalho
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AGRADECIMENTOS

Aos nossos pais que sempre estiveram presentes em todos os


momentos da nossa caminhada.

Ao Professor Wilson Aragão pela forma criteriosa e didática de expor


seus pensamentos.

Ao Professor Francisco Máuri de Carvalho pela coragem e força na


construção de uma sociedade sem classes.

A Professora Celi Taffarel pela luta vigorosa e diária em favor das


classes menos favorecidas.

Ao Professor Ivaldo Gomes pela coerência.

A Neiry Delânia pelo olhar carinhoso e atencioso, sempre presente


neste nosso longo caminhar.
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ÍNDICE

APRESENTAÇÃO.............................................................................................. 7
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9
AS CONCEPÇÕES DA EDUCAÇÃO FÍSICA .................................................. 12
ABORDAGEM DESENVOLVIMENTISTA..................................................... 13
ABORDAGEM CONSTRUTIVISTA .............................................................. 15
ABORDAGEM CRÍTICO - EMANCIPATÓRIA .............................................. 17
CRITICA AS ABORDAGENS ........................................................................... 21
DESENVOLVIMENTISTA............................................................................. 21
CONSTRUTIVISTA ...................................................................................... 22
CRÍTICO-EMANCIPATÓRIA ........................................................................ 23
ABORDAGEM DA APTIDÃO FÍSICA / SAÚDE ............................................ 23
CRÍTICA A ABORDAGEM DA APTIDÃO FÍSICA / SAÚDE ......................... 26
ABORDAGEM .................................................................................................. 29
CRÍTICO - SUPERADORA .............................................................................. 29
POSSIBILIDADES DA PRÁTICA PEDAGÓGICA: O ENSINO DO
BASQUETEBOL............................................................................................... 36
A PROPOSTA CRÍTICO-SUPERADORA..................................................... 37
A PROPOSTA DESENVOLVIMENTISTA..................................................... 40
A PROPOSTA CONSTRUTIVISTA .............................................................. 41
MODELO DE REPRODUÇÃO OU PERSPECTIVA DE TRANSFORMAÇÃO? 44
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 48
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APRESENTAÇÃO

A produção do conhecimento a cerca do ensino de Educação Física


tem crescido significativamente nas últimas duas décadas, provavelmente em
função da implantação de vários programas de pós-graduação no Brasil. Os
quais têm contribuído, de forma decisiva, para enfrentar e superar o debate
sobre uma prática de ensino dessa disciplina voltada, apenas, para o
desenvolvimento dos músculos e das atividades desportivas e assim,
consolidando uma práxis mais acadêmica e fundada em parâmetros científicos.

Esse processo que gerou a publicação de alguns excelentes textos


resultantes de pesquisas científicas em forma de livros, e que, teve como um
de seus marcos a publicação do trabalho organizado pelo "Coletivo de Autores"
forjou uma nova geração de professores de Educação Física.

Lauro Pires Xavier Neto e Jeane RodelIa Assunção, autores destas


reflexões sobre as concepções da Educação Física fazem parte dessa nova
geração que "sem medo de ser feliz", pensam, refletem e pesquisam,
produzindo novos conhecimentos a cerca dos paradigmas postos e,
ultrapassando as fronteiras da falsa neutralidade cientifica, se posicionam
criticamente sobre estas concepções, contextualizando-as, identificado-as suas
raízes históricas e apresentado um exemplo didático concreto da utilização
dessas ramificações teóricas.

Com humildade, simplicidade e sem grandes pretensões, como


podemos ver em suas palavras, ainda na introdução, "Não temos a pretensão,
nesse momento, de nos aprofundar nas relações da macro economia com a
Educação Física e suas teorias radicais (raiz) de conhecimento, portanto
lançamos ao leitor uma análise preliminar das concepções propositivas
(sistematizadas e não-sistematizadas) da disciplina e desejamos que a leitura
realizada seja posta sob o olhar crítico, percebendo que a educação física não
é algo solto, difuso, desatento da realidade imposta pelo políticas da macro
economia - assim como a escola não o é." Entretanto, eles produziram um
valioso trabalho de pesquisa que merece a atenção de qualquer estudioso de
nossa área, não só pelo conteúdo acadêmico, mas também pela forma didática
de sua organização.

Ao dar início a leitura você, caro leitor, poderá observar que, às


vezes os autores dão a impressão de terem abandonado a idéia principal. Mas
logo se vê que aquela derivação foi intencional. Trata-se de uma opinião
inserida com muita segurança por quem não quer se omitir e sabe que as
concepções do ensino de Educação Física no Brasil, também foram social e
historicamente produzidas no seio de uma sociedade estratificada em classes
sociais e, portanto permeadas pela ideologia hegemônica nesse modo de
produção.

Este é, talvez, o maior mérito deste livro: não se restringir ao debate


superficial das concepções. Bem mais abrangente, eles as integram nas
problemáticas da sociedade capitalista e assim, contribuem para o grande
esforço de poucos para fazer das práticas docentes desenvolvidas no ensino
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de Educação Física, atividades científicas socialmente comprometidas com a


maioria da população brasileira.

Este livro pequeno no tamanho, mas grande no conteúdo,


certamente fará parte do acervo bibliográfico dos cursos de Licenciatura Plena
em Educação Física e, eu, pessoalmente, o recomendarei para os meus alunos
de graduação e pós-graduação lato senso, pois, neste livro o aluno poderá
iniciar-se nas idéias de pensadores fundamentais da produção cientifica da
área, como: Go Tani, João Batista Freire de quem tive o prazer de ser aluno,
Eleonor Kunz, Nahas, Guedes e Guedes, Farinatti, V. Bracht, L. Castellani, C.
Taffarel, C. Soares, M. Escolar e E. Varjal.

Evidentemente que se o leitor desejar fazer um estudo mais


aprofundado, em nível de pós-graduação Strito Senso o trabalho em si só é
insuficiente, contudo a partir das matrizes epistemológicas, citadas nessa obra,
sobre as concepções da Educação Física, pode-se estabelecer um excelente
roteiro para a realização de uma pesquisa bibliográfica sobre a temática.

Wilson Honorato Aragão


Professor Doutor da Universidade Federal da Paraíba
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INTRODUÇÃO

Anunciou-se o "fim da história" 1 . A Glasnot e a Perestroika fizeram


soprar um novo vento na construção histórica do mundo, desencadeado logo
após a queda do Muro de Berlim, em 1989. Assistimos de joelhos o
fortalecimento do capitalismo e suas instituições políticas, econômicas e
militares (ONU, Banco Mundial/ FMI/Gaat, OTAN), vestido numa roupagem
denominada de neoliberalismo e sustentado pelo projeto da globalização. A
opressão mudou de nome.

O imperialismo norte-americano, sustentáculo do sistema capitalista


na América, não necessita mais financiar as ditaduras no continente 2 , articula-
se, de forma nefasta, na construção de artifícios concretos para manutenção,
por parte da burguesia, dos meios produção e assim extirpar da classe
trabalhadora o produto elaborado por suas mãos, mantendo-o, dessa forma,
alienado 3 . Utiliza-se para tanto das políticas neoliberais, que a todo momento
sofrem abalos diretos, ocasionados pelas crises cíclicas do capital. Tais
políticas buscam a redução dos direitos trabalhistas, a reestruração e
desregulamentação do trabalho, o desmonte do

Estado Nação e a reforma das políticas educacionais. CURY


(1999:21) afirmou:

"Para impor o seu credo e justificar a corrida armamentista, os seus


delitos e os seus crimes sangrentos, o capitalismo sempre invoca
ideais generosos: defesa da democracia, da liberdade, luta contra a
ditadura "comunista" e defesa dos valores do Ocidente, quando, na
verdade, ele apenas defende, na maioria das vezes, os interesses de
uma classe poderosa, ou quer apoderar-se das matérias-primas,
comandar a produção do petróleo ou controlar as regiões
estratégicas. "

As relações do sistema capitalista, que definem as nossas condições


concretas de existência, possuem um aparato que necessita de uma análise
histórica para podermos compreender todo processo de degradação do ser
humano e de suas relações pessoais, educacionais e ambientais. A análise
perpassa por uma crítica severa ao capitalismo e suas formas economicamente
forjadas para manutenção da divisão de classes sociais. MARX (1998:07) nos
relata o papel desempenhado pela burguesia ao longo da história: "A
burguesia, onde conquistou o poder, destruiu todas as relações feudais,
patriarcais, idílicas. Rasgou sem compunção todos os diversos laços feudais
que prendiam o homem aos seus superiores naturais e não deixou entre

1
Ver Fukoyuna apud Frigotto (1998. p.38-9)
2
Ver PENA (1999)
3
Sobre alienação do trabalhador recorremos a MARX (2002:113), que explicou essa relação
ao relatar: "A alienação do trabalhador no objeto revela-se assim nas leis da economia política:
quanto mais o trabalhador produz, menus tem de consumir; quanto mais valores cria, mais sem
valor e mais desprezível se torna; quanto mais refinado o seu produto, mais desfigurado o
trabalhador; quanto mais civilizado o produto, mais desumano o trabalhador; quanto mais
poderoso o trabalho, mais impotente se torna o trabalhador; quanto mais magnífico e pleno de
inteligência o trabalho, mais o trabalhador diminui em inteligência e se torna escravo da
natureza
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homem e homem outro vínculo que não o do frio interesse, o do insensível


'pagamento em dinheiro"

Chossudovsky (1999) consegue mapear a ação do capitalismo


mundial a partir das relações de países na América, Ásia e África com o Fundo
Monetário Mundial (FMI) e o Banco Mundial (BM). Através da análise da
macroeconomia percebemos as condições objetivamente concretas entre os
homens, e suas relações materiais. Os dados estatísticos do BM revelam que
18% da população mais rica detêm 78% da economia mundial. Esses dados
estatísticos apontam mais que números, eles são o reflexo de uma política
econômica voltada para o lucro, obtido através do suor dos trabalhadores, a
partir de um Projeto Histórico Capitalista (PHC). Chos-sudovsky faz uma
análise da situação brasileira, a partir da dívida externa, passando pelo Plano
Collor, Consenso de Washington e o Governo Neoliberal de FHC.
Compreendemos que o PHC tem um caráter determinista e vincula as nossas
relações pessoais ao desastre econômico mundial. Recentemente o Governo
dos Estados Unidos lançou a Doutrina Bush 4 , buscando adotar uma série de
medidas e princípios no sentido do fortalecimento do imperialismo norte-
americano. O documento propõe, entre outras medidas, a implantação da Área
de Livre Comércio das Américas 5 (ALCA) e o fortalecimento das políticas
assistencialistas aos países endividados.

No seio dessas contradições impostas pelo sistema capitalista de


produção encontramos a luta dos trabalhadores historicamente constituída.
Luta essa marcada pelo sangue de milhões de pessoas que sonharam com a
liberdade e com a implantação de um Projeto Histórico que atendesse aos
anseios da maioria da população. Assim podemos nos deparar com escola,
inserida na sociedade capitalista, e as suas possibilidades a partir das políticas
educacionais e da realidade concreta dos professores que no seu dia-a-dia
podem afirmar uma pedagogia que atenda ou não aos interesses da grande
parte da população. Portanto, o que aparenta ser uma digressão torna-se
elemento fulcral na análise da perspectiva do que venha ser (ou as
possibilidades metodológicas) da Educação Física escolar, pois como afirmou
Saviani (2002), "não é possível, portanto, compreender radicalmente a história
da sociedade contemporânea sem se compreender o movimento do capital".

Temos a noção que a Educação Física é apenas um pequeno


elemento dentro dessa análise conjuntural maior. Porém, as concepções de
ensino da Educação Física sofreram e sofrem os impactos da política
educacional (econômica), fato esse que podemos perceber nos seus principais
autores e proposições pedagógicas que iremos analisar nas próximas páginas,
que se enveredam por bases epistemológicas distintas evidentemente ligadas
aos projetos de sociedade que acreditam a partir das classes sociais que
pertencem. Não teríamos a pretensão, nesse momento, de nos aprofundar nas
relações da macro economia com a Educação Física e suas teorias radicais
(raiz) de conhecimento, portanto lançamos ao leitor uma análise preliminar das

4
Sobre a Doutrina Bush ver "The National Security Straltgy of The United States of America".
setembro, 2002
5
Sobre a ALCA. consultar Sader (2001) e Campanha Nacional Contra a ALÇA (2002).
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concepções propositivas (sistematizadas e não-sistematizadas) da disciplina e


desejamos que a leitura realizada seja posta sob o olhar crítico, percebendo
que a Educação Física não é algo solto, difuso, desatento da realidade imposta
pelo políticas da macro economia - assim como a escola não o é.

Uma análise mais elaborada pode ser pensada pelo leitor, a partir
das matrizes epistemológicas citadas nessa obra, das concepções da
Educação Física, porém não discutidas a fundo. Entender a proposta crítico-
superadora a partir do olhar do materialismo histórico-dialético, assim como a
obra foi concebida, é perceber que a circunstância histórica exigia aquilo, já
que a Educação Física estava inundada por proposições relacionadas com a
fenomenologia e o positivismo e correntes filosóficas que não tratavam da
escola sob o olhar da classe trabalhadora.

Percebe-se que este livro tem como objetivo trocarem miúdos as


concepções de Educação Física, levando ao professor um detalhamento da
relação concreta forjada no cotidiano da sala de aula, a partir do
aprofundamento das propostas crítico-superadora, crfenomenologia e o positivismo

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