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Um a Coleção de Artigos sobre Tilápia


 
 
Por Dr. Fernando Kubitza e Publicado no Panorama da Aqüicultura 1999 ‐ 2008
 

 
 

Indice 

Nutrição e alimentação de tilápias - Parte 1 - 1999 ................................................................. 4

Nutrição e alimentação de tilápias - Parte 2 – Final - 1999 .....................................................14

Qualidade da água, sistemas de cultivo, planjamento da produção, manejo nutricional e


alimentar e sanidade - Parte 1 - 2000 ..................................................................................24

Qualidade da água, sistemas de cultivo, planjamento da produção, manejo nutricional e


alimentar e sanidade - Parte 2 - 2000 ..................................................................................35

Questões freqüentes dos produtores sobre a qualidade dos alevinos de tilapia - 2006 .............53

Ajustes na nutrição e alimentação das tilápias - 2006 ............................................................63

Tilápias na bola de cristal - 2007 ..........................................................................................74

Tilápias na mira dos patógenos - 2008 .................................................................................82

Estes artigos foram selecionados de artigos referenciados publicados no Panorama da


Aqüicultura 1999-2008. Distribuído com permissão do Panorama da Aqüicultura Ltda. pelo
Southern Ocean Education and Development Project, CIDA/Univ. of Victoria, Canada.
Agosto 2009

 
 
Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 1999

Nutrição e Alimentação de Tilápias - Parte 1


Por: Fernando Kubitza, Ph.D. - Consultoria e Treinamento em Aqüicultura

Obs.: Devido a sua extensão este artigo será editado em duas partes consecutivas.

Dentre mais de 70 espécies


de tilápias, a maioria delas
oriundas da África, apenas
três conquistaram destaque
na aquicultura mundial: a
tilápia do Nilo Oreochromis
niloticus; a tilápia azul ou
áurea Oreochromis aureus; e
a tilápia de Mossambique Oreo-
chromis mossambicus. A estas
3 espécies somam-se os seus
mutantes e híbridos, com cores
variando do branco ao vermelho Tilápias vermelhas desenvolvidas com estratégias adequadas de manejo alimentar
e, genericamente, chamados
Tilápia: um produto internacional (Colômbia). Peixes inteiros de Taiwan são
de tilápias vermelhas. vendidos entre US$ 1,45 a 1,65/kg. O mer-
As importações de tilápias pelos paí- cado japonês chega a pagar preços de US$
Atrás apenas das carpas, as 7,4 a 10/kg para tilápias frescas de grande
ses norte americanos e europeus crescem
tilápias estão entre os peixes ano a ano e conferem à carne da tilápia o tamanho e qualidade para sashimi.
de água doce de maior volume status de “commodity” internacional. As Em curto prazo o Brasil pode se tor-
importações de tilápia pelos Estados Unidos nar o maior produtor de tilápia cultivada
de produção. A pesca e a aqui- podem ser usadas como um termômetro no mundo. Para abocanhar uma fatia do
cultura mundial produziram do potencial de mercado deste produto. mercado internacional é preciso que a
Em 1993, os EUA importou 11,3 mil to- tilápia brasileira tenha preço e qualida-
855 mil toneladas anuais de de competitivos comparados aos países
neladas de tilápia (10% como filés e 90%
tilápia em 1990. A FAO relatou como peixe inteiro congelado). Em 1996 asiáticos e latino-americanos tradicionais
um aumento na produção de este montante cresceu 68%, ultrapassando exportadores de tilápias. Estes requisitos
19 mil toneladas, sendo 20% na forma de também são necessários para conquistar e
tilápias para 1,1 milhão de filés e 80% como peixe inteiro congelado. dividir espaço com outras carnes no mer-
toneladas em 1994, ou seja Costa Rica, Taiwan, Indonésia e Equador cado interno. No sudeste do Brasil o custo
lideraram as exportações de filés para os de produção de tilápias em viveiros varia
um incremento de 245 mil
Estados Unidos em 1996 (28%, 16%, 15% e entre R$ 0,9 a 1,0/kg. Em tanques-rede e
toneladas atribuído à aqüicul- 15%, respectivamente, do total importado). raceways este custo normalmente ultra-
tura. Lovshin (1997) estimou Taiwan detém a primazia nas exportações passa R$ 1,20/kg. Devido a instabilidade
de peixe inteiro congelado (95% do total do Real, o autor não se atreve a calcular
que 800.000 toneladas anuais este custo em dólares, tarefa que fica para
importado pelos EUA em 1996).
de tilápias são produzidas De acordo com as informações apresen- o leitor. No entanto, por conta da recente
em cultivo. Esta produção tadas por Fitzsimmons e Posadas (1997), os alta do dólar, hoje estes preços parecem
preços pagos pelos importadores de países competitivos para exportação. Faltam
se iguala à captura anual de latino americanos são ao redor de US$ 1,25/ volume de produção (bastante pulverizada
pescado em águas oceânicas kg pelo peixe inteiro (Honduras e Costa entre milhares de pequenos produtores),
Rica) e US$ 5,50/kg de filé FOB Miami padronização da qualidade do produto e
e interiores no Brasil.

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Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 1999

abertura dos canais para exportação. “As rações podem com- Melhora a eficiência alimentar, mini-
O potencial para tilapicultura no mizando os custos de produção.
Nordeste, principalmente em Alagoas, por 40% a 70% do custo Reduz o impacto poluente dos efluentes
Bahia, Ceará, Pernambuco e Sergipe e, da piscicultura intensiva, contribuindo
no Centro-Oeste, particularmente Goiás*,
vem atraindo o interesse de empresas
de produção, represen- para o aumento da produtividade por área
de produção.
nacionais e estrangeiras. Ao contrário do Confere adequada saúde e maior tole-
Centro-Oeste, rico em soja, milho e outros tando o principal item rância às doenças e parasitoses.
grãos, grande parte do nordeste ressente Melhora a tolerância dos peixes ao
da insuficiência e altos preços destes in- de custo na piscicultura manuseio e transporte vivo.
sumos, o que encarece o custo das rações. Aumenta o desempenho reprodutivo
O avanço da produção de soja, milho e intensiva de tilápias.” das matrizes e a qualidade das pós-larvas
outros grãos em áreas como o oeste baiano, e alevinos.
Tocantins e sul do Maranhão, aliados a 1. Importância da nutrição e alimentação E, consequentemente, possibilita otimi-
investimentos governamentais em infra- zar a produção e maximizar as receitas da
estrutura para escoamento da produção Em função do sistema de produção piscicultura.
(hidro, rodo e ferrovias) podem viabilizar adotado, as rações podem compor 40 a
a chegada de grãos no Nordeste a preços 70% do custo de produção, represen- 2. Nutrientes essenciais e
mais competitivos. Ambas as regiões são tando o principal item de custo na pis- exigências nutricionais das tilápias
privilegiadas com temperaturas elevadas cicultura intensiva de tilápias. Portanto,
o ano todo e intensa radiação solar. Isto uma das maneiras mais eficazes dos Através dos alimentos disponíveis
favorece a produção de plâncton (alimento produtores minimizarem este custo é ou oferecidos, os animais devem obter
de grande qualidade e baixo custo) e o ajustar adequadamente a qualidade das suficientes quantidades de nutrientes essen-
crescimento das tilápias. O uso de siste- rações e o manejo alimentar às diferentes ciais de forma a garantir a normalidade de
mas que combinem o aproveitamento do fases de produção e ao sistema de cultivo seus processos fisiológicos e metabólicos,
alimento natural disponível com rações utilizado. assegurando adequado crescimento, saúde
granuladas suplementares será o caminho A adequada nutrição e manejo alimentar: e reprodução. De uma forma geral, com
para a produção anual contínua de tilápias Possibilita o melhor aproveitamento do algumas particularidades dependendo
com qualidade, a um custo inigualável, potencial de crescimento dos peixes. da espécie, é reconhecido que os peixes
em volumes suficientes para o mercado Acelera o crescimento dos peixes, au- apresentam exigências em pelo menos 44
interno e exportação. mentando o número de safras anuais. nutrientes essenciais, que incluem a água,
Tilápias podem ser produzidas a um
baixo custo. Para isto é
necessário explorar a sua
habilidade em aproveitar
alimentos naturais e ado-
tar estratégias adequadas
de manejo nutricional e
alimentar nas diferentes
fases de cultivo. O pre-
sente trabalho resume as
exigências nutricionais de
tilápias e as estratégias de
alimentação das diversas
fases de desenvolvimento
e sistemas de cultivo.

* Consideramos atualmente
apenas Goiás e Distrito Fe-
deral, visto que o cultivo de
tilápias foi proibido no Mato
Grosso e nas áreas do Mato
Grosso do Sul que abastecem
a Bacia do Rio Paraguai
(Pantanal).

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Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 1999

aminoácidos essenciais, energia, ácidos tam de 10 aminoácidos essenciais em sua alimentar, redução no apetite e, em alguns
graxos essenciais, vitaminas, minerais e dieta. As exigências destes aminoácidos casos, deformidades na coluna (triptofano)
carotenóides. em rações nutricionalmente completas e cataratas (metionina).
para tilápia do Nilo são apresentadas na
2.1. Aminoácidos essenciais Tabela 1. 2.2. Energia
A Tabela 2 resume alguns resultados
Os aminoácidos são unidades formado- de estudos quantificando as exigências em Os animais necessitam de energia para
ras das proteínas, portanto de fundamental proteína de tilápias em diferentes fases de a manutenção de processos fisiológicos
importância na formação de tecido muscu- desenvolvimento. Sinais indicativos da e metabólicos vitais, para as atividades
lar (crescimento) dos animais. Como para deficiência em proteínas e aminoácidos são: rotineiras, o crescimento e a reprodução.
a maioria dos animais, os peixes necessi- atraso no crescimento, piora na conversão Esta energia provém do metabolismo de

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Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 1999

carboidratos, lipídios (gorduras e óleos) As exigências em ácidos graxos essen-


“ O conhecimento da ciais são bastante distintas entre os peixes de
e proteínas. Os peixes são mais eficientes
no uso da energia comparados às aves e energia digestível dos clima frio e temperado e os peixes tropicais.
aos mamíferos, pois não gastam energia Peixes de águas frias e temperadas, como
para regular a temperatura corporal. Desta
alimentos é fundamental os salmonídeos e o bagre-do-canal, bem
forma, grande parte da energia é utilizada para a formulação de como as espécies marinhas, apresentam
para crescimento. Este é um dos fatores que exigências em ácidos graxos polinsaturados
explicam os melhores índices de conversão rações suplementares e da família ω-3. Os principais ácidos graxos
alimentar dos peixes (0,9 a 1,8) comparados desta família são o ácido linolênico - 18:3,
às aves (1,6 a 1,9) e suínos (2,5 a 2,9).
completas para ácido eicosapentenóico (EPA) - 20:5 e
o ácido docosahexenóico (DHA) - 22:6.
Tilápias aproveitam bem carboidratos as tilápias. ”
e gorduras como fonte de energia, pou-
pando assim a proteína das rações para
crescimento. O balanço energia digestível/
proteína (ED/PB) nas rações é fundamen-
tal para maximizar a eficiência alimentar
e o crescimento dos peixes. Além disso,
também determina a composição corporal
em gordura. A relação ED/PB em rações
completas para tilápias deve variar de 8 a
10 kcal ED/g de PB. Alta ED/PB resulta
em excessiva deposição de gordura visce-
ral, reduzindo o rendimento de carcaça no
processamento. Por outro lado, uma baixa
ED/PB faz os peixes utilizarem proteína
como fonte de energia, prejudicando o
crescimento e a conversão alimentar.
O conhecimento da energia digestível
dos alimentos é fundamental para a for-
mulação de rações suplementares e com-
pletas para as tilápias. A Tabela 3 resume
informações sobre a energia digestível dos
principais ingredientes utilizados em rações
comerciais para tilápias.
A energia digestível das rações de-
pende da combinação dos ingredientes, da
habilidade digestiva dos peixes, do grau de
moagem e do tipo de processamento (pele-
tização, extrusão seca, extrusão úmida) que
determina o grau de gelatinização do amido
e a destruição de fatores anti-nutricionais
presentes nos alimentos.

2.3. Ácidos graxos essenciais

Os ácidos graxos são os componentes


dos lipídios (óleos e gorduras). Ácidos graxos
essenciais são aqueles que não podem ser
sintetizados pelo organismo animal a partir de
outro ácido graxo ou qualquer outro precursor.
Portanto, os peixes obtém os ácidos graxos
essenciais via ração ou alimentos naturais
disponíveis no ambiente de cultivo.

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Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 1999

Estes ácidos graxos são bastante abundantes “A intensificação do cultivo espécies, em sintetizar o ácido ascórbico
nos organismos planctônicos e nos óleos de (vitamina C). De fundamental importância
peixes marinhos. das tilápias no Brasil, em ao crescimento, formação da matriz óssea
Os peixes tropicais e de água doce, e funcionamento do sistema imunológico,
sistemas onde a disponibilidade
como as tilápias, geralmente apresentam a vitamina C deve ser obtida no alimento
apenas exigência em ácidos graxos da de alimento natural é limitada, natural ou na ração. Rações completas para
família ω-6 (ou ácidos graxos da família sistemas intensivos de produção devem ser
aumentou a incidência de
do linoléico - 18:2). Takeuchi et al. (1983) suplementadas com fontes estáveis desta
observou que alevinos de tilápia do Nilo desordens nutricionais devido vitamina (Kubitza et al. 1998).
necessitam pelo menos 1% de ácido lino-
ao inadequado enriquecimento
léico (18:2) em rações completas. Esta exi- 2.5. A importância do alimento natural
gência é de 2% para a tilápia azul (Stickney vitamínico e mineral na nutrição de tilápias
e McGeachin 1983).Os ácidos graxos são
das rações.” Em ambientes naturais os peixes equi-
importantes componentes das membranas
celulares e servem como fonte de energia, libram sua dieta, escolhendo os alimentos
principalmente para as espécies carnívoras tilápias em diversos países, inclusive no que melhor suprem suas exigências nutri-
que apresentam baixa capacidade de apro- Brasil, utilizando tanques-rede, raceways cionais e preferências alimentares. Rara-
veitamento de carboidratos. Os sinais de e tanques com recirculação de água (sis- mente são observados sinais de deficiência
deficiência em ácidos graxos são: atraso no temas onde a disponibilidade de alimento nutricional nestas condições. O alimento
crescimento, redução na eficiência alimen- natural é limitada) aumentou a incidên- natural dos peixes é composto de inúmeros
tar, podridão das nadadeiras, síndrome do cia de desordens nutricionais devido ao organismos vegetais (algas, plantas aquáti-
choque, reduzido desempenho reprodutivo inadequado enriquecimento vitamínico e cas, frutos, sementes, entre outros) ou ani-
e alta mortalidade. mineral das rações. Estes sistemas mais mais (crustáceos, larvas e ninfas de insetos,
intensivos demandam o uso de rações vermes, moluscos, anfíbios, peixes, entre
2.4. Minerais e vitaminas nutricionalmente completas, com enrique- outros). Em geral, os alimentos naturais
cimentos vitamínicos e minerais próximos explorados pelos peixes são ricos em ener-
Minerais e vitaminas desempenham dos valores apresentados na Tabela 4. gia e em proteína de alta qualidade (Tabela
papel importante na formação dos tecidos Os peixes podem absorver minerais, 5), e servem como fonte de minerais e
ósseos e sanguíneos, no crescimento mus- como o cálcio, diretamente da água. No vitaminas. Estudos realizados em Israel
cular e em diversos processos metabólicos entanto, as exigências da maioria dos (Gur 1997) demonstraram, com base no
e fisiológicos essenciais para o adequado minerais é satisfeita através dos minerais crescimento dos peixes, não ser necessário
crescimento, saúde e reprodução dos presentes nos alimentos naturais e nas ra- o enriquecimento vitamínico em rações
animais. Embora as exigências minerais e ções. Os alimentos de origem animal como usadas no cultivo de tilápias em viveiros
vitamínicas dos principais peixes cultiva- as farinhas de carne e ossos e as farinhas com disponibilidade de alimentos naturais.
dos já sejam conhecidas, até o momento de peixes são boas fontes de minerais. No No entanto a suplementação vitamínica
pouca atenção foi dada a este assunto na entanto, rações completas formuladas à destas rações melhorou a sobrevivência
nutrição das tilápias. Uma das razões está base de farelos vegetais necessitam suple- dos peixes. Em Israel, a suplementação
no fato da maioria dos sistemas de cultivo mentação adicional. vitamínica completa é apenas feita em
destes peixes contar com a contribuição de As exigências vitamínicas são satisfei- rações destinadas às pós-larvas e ao cultivo
alimentos naturais, reduzindo os problemas tas através de vitaminas obtidas no alimento em sistemas de produção mais intensivos,
nutricionais devido a deficiência de mine- natural ou nas rações. Uma particularida- e em rações usadas no período de inverno
rais e vitaminas nas rações. de da nutrição vitamínica dos peixes é a e no tratamento de peixes doentes ou sob
A recente intensificação do cultivo das não capacidade, da grande maioria das estresse.

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Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 1999

Tilápias são eficientes no aproveita- 1983), mesmo com o fornecimento de Rações suplementares
mento de alimentos naturais, notadamente ração suplementar. Este detalhe explica o A produção de tilápias em viveiros de
o plâncton. Em viveiros com baixa reno- menor custo de produção de tilápias em baixa renovação de água pode ser feita de
vação de água, cerca de 50% a 70% do viveiros de baixa renovação de água com- forma eficaz com o uso de rações nutri-
crescimento de tilápias foi atribuído ao parado ao cultivo intensivo em tanques- cionalmente incompletas ou rações suple-
consumo de alimentos naturais (Schroeder rede e raceways. mentares. De um modo geral estas rações

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Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 1999

não dispõem de um correto balanço em em viveiros quando a biomassa ultrapassa


aminoácidos essenciais, possuem menores
“O sucesso econômico dos
6.000 kg/ha. Nas rações completas todos os
níveis protéicos (22% a 24%), maior relação sistemas de produção em nutrientes devem estar presentes de forma
energia/proteína e não são suplementadas, equilibrada e em quantidades que supram
ou o são apenas parcialmente, com premix tanques de alto fluxo de água as exigências dos peixes para um adequado
vitamínico e mineral. crescimento, saúde e reprodução. O enri-
(raceways) ou em tanques- quecimento em vitaminas e microminerais
Rações nutricionalmente completas é completo.
rede depende do uso de rações
Estas rações devem ser empregadas em
sistemas de produção onde a disponibilidade completas. Estas rações 3. Subsídios à formulação de rações
ou o acesso ao alimento natural é limitado para tilápias
ou nenhum. O sucesso econômico dos sis- também são necessárias em
temas de produção em tanques de alto fluxo Nesta seção são resumidas informações
de água (raceways) ou em tanques-rede e viveiros quando a biomassa básicas à formulação de rações para tilápias em
gaiolas depende do uso de rações comple- diferentes fases de desenvolvimento, produzi-
tas. Estas rações também são necessárias ultrapassa 6.000 kg/ha.” das em viveiros, tanques-rede e raceways.

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Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 1999

3.1. Perfil básico das rações para rações para tilápias em diferentes fases de e engorda de tilápias em viveiros ou em
diferentes sistemas e fases de cultivo desenvolvimento, cultivadas em tanques- tanques-rede e raceways são apresentadas
rede, raceways ou em viveiros com maior na Tabela 7. Tais sugestões contemplam os
Na Tabela 6 são apresentadas sugestões ou menor disponibilidade de alimentos conhecimentos sobre a nutrição de tilápias
sobre a composição básica, necessidade de naturais. Sugestões quanto ao enriqueci- no mundo, bem como a experiência de pro-
suplementação vitamínica e mineral, forma mento vitamínico em rações utilizadas na fissionais familiarizados com a produção
de apresentação e tamanho dos peletes de reversão sexual e alevinagem, e na recria comercial destes peixes.

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Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 1999

3.2. Restrições quanto ao uso de alguns ingredientes em


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rações para tilápias
Instrutor: Fernando Kubitza, Ph.D.,
Os nutricionistas de peixes vêm dedicando grande atenção especialista em Nutrição e Produção de Peixes
aos estudos visando substituir as fontes protéicas e energéticas de
origem animal (por exemplo, as farinhas e óleos de peixes) por 1- Planejamento da Produção de Peixes
fontes de origem vegetal, como os subprodutos do processamento Dias: 25-26/06/99 e 13-14/08/99
de sementes de plantas oleaginosas (soja, girassol, algodão, entre • Conceito de planejamento e controle da produção
• Fatores que afetam o crescimento dos peixes a capacidade de suporte,
outras) e amiláceas (trigo, arroz, milho, mandioca, entre outras). a biomassa crítica e econômica nos diferentes sistemas de produção;
Também é de interesse o aproveitamento de subprodutos indus- determinação do ponto de biomassa econômica
triais, como os resíduos de cervejaria, leveduras, polpa de frutos e • Índices de desempenho e expectativa de crescimento dos peixes
sementes, entre muitos cultivados; aplicação dos conceitos de biomassa econômica e dados de
Comparativamente a outras espécies de peixes, as tilápias pa- desempenho no planejamento do cultivo; exercícios práticos; orçamento
recem apresentar maior habilidade em aproveitar estes alimentos e balanço econômico do cultivo.
alternativos. Rações formuladas à base de produtos de origem vegetal,
2- Qualidade da Água na Produção de Peixes
com o farelo de soja como principal fonte de proteína podem ser Dias: 16-18/07/99 - 27-29/08/99 e 15-17/10/99
utilizadas sem prejuízo ao desempenho das tilápias comparado ao • Importância, monitoramento e manejo da qualidade da água
uso de rações contendo produtos animais. Na Tabela 8 são reunidas • Impacto da intensificação do cultivo e da qualidade do alimento e a
informações sobre os níveis de inclusão de diversas fontes alterna- qualidade da água
tivas de proteínas de origem vegetal nas rações de tilápias. Maiores • Sistemas de aeração: características, dimensionamento e operação.
informações sobre ingredientes alternativos para inclusão em rações Aula de campo: instrumentos para monitoramento da qualidade da água;
ensaios dinâmicos de qualidade da água. Problemas práticos enfrentados
para peixes podem ser encontradas na revisão de Pezzato (1995).
por técnicos e criadores de peixes.
Na próxima edição (n. 53) publicaremos a Parte 2 desse artigo contendo:
3- Nutrição e Alimentação dos Peixes
Nutrição e manejo alimentar durante a reversão sexual
Dias: 30/07 a 01/08/99 e 17-19/09/99
Nutrição e manejo alimentar na recria e engorda • Anatomia e fisiologia do trato digestivo; hábito alimentar e exigências
Nutrição e manejo alimentar de reprodutores nutricionais dos peixes
Conversão alimentar (CA) de tilápias • Processamento e granulometria das rações
• Fatores que afetam a conversão alimentar dos peixes
• Sinais indicadores da má nutrição dos peixes
• Estratégias e equipamentos para alimentação dos peixes
Prático: visita à uma fábrica de rações; indicadores de qualidade das
rações; ensaio de estabilidade na água; discussões de problemas en-
frentados por técnicos e criadores de peixes.

4- Principais Parasitoses e Doenças dos Peixes


Dias: 01-03/10/99
• Condições que favorecem a ocorrência de doenças
• Sinais indicativos, estratégias de prevenção, profilaxia e tratamento
das principais doenças e parasitoses dos peixes
Prático: técnicas de identificação de parasitoses e doenças; medicamen-
tos e agentes profiláticos. Discussões de problemas práticos enfrentados
por técnicos e criadores de peixes.

5- Reprodução e Reversão Sexual de Tilápias


Dias: 22-23/10/99
• Estratégia de produção em larga escala e reversão sexual de pós-larvas
de tilápias; reprodução; instalações; estratégias usadas na reversão
sexual; preparo da ração e manejo alimentar
Prático: Preparo de ração para reversão; sexagem de reprodutores; coleta
e classificação de pós-larvas; instalações para reversão sexual; Técnicas
para avaliar o sucesso da reversão.

Inscrição: Incluído material didático:


R$ 280,00 (com até 28 dias antecedentes à data do curso)
R$ 330,00 (com menos de 28 dias do curso ou no dia)
Conta para depósito: Banco Itaú- Agência 0796 c/c 45320-7
Os dados para inscrição deverão ser enviados junto ao comprovante
de depósito para o fone/fax: (011) 7312-2064
Horário: Sextas e Sábados das 8:00 às 12:00 hs e das 14:00 às 18:00hs;
Domingo (alguns cursos) das 8:00 às 12:00 hs
Local : Center Park Hotel *****
Av. Jundiaí, 300 - Centro - Jundiaí - SP- Fone: (011) 7396-2000

50
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999

Nutrição e Alimentação de Tilápias - Parte 2 - Final


Por: Fernando Kubtiza, Ph.D. - Consultoria e Treinamento em Aqüicultura

Devido a sua extensão, o texto “Nutrição e alimentação” foi dividido em duas partes.
A parte 1 foi publicada na última edição 52 – março/abril da Panorama da AQÜICULTURA.
Sua referência bibliográfica encontra-se disponível em nossa redação e poderá ser
Pós-larvas de pei-
enviada por fax ou e-mail aos assinantes que a solicitarem. xes crescem rapida-
mente, portanto, são
bastante exigentes
em nutrientes. Devido
às pós-larvas apre-
sentarem reservas
corporais mínimas de
nutrientes, qualquer
deficiência na nutrição
das mesmas é pronta-
Legenda: Fernando Kubtiza, Ph.D. - Consultoria e Treinamento em Aqüicultura
mente notada e, inva-
4. Nutrição e manejo alimentar
riavelmente, catastró-
durante a reversão sexual
proteínas e aminoácidos livres. Para mini-
fica. As pós-larvas de
Em condições naturais e em viveiros,
o primeiro alimento das pós-larvas de ti-
mizar estas perdas é preciso que estas ra-
ções apresentem boa flutuabilidade, redu-
tilápias possuem tra-
lápias são o fitoplâncton e os copépodos
e cladóceros. Estes organismos possuem
zindo o contato das partículas com a água
e assim as perdas de nutrientes por disso-
to digestivo completo
alto valor energético e podem conter ní-
veis de proteína na matéria seca variando
lução. Uma boa flutuabilidade das rações
pode ser alcançada com a correta combi-
e conseguem utilizar
de 20 a 60%. Isto talvez explique o moti-
vo dos melhores resultados de crescimen-
nação de ingredientes e moagem fina da
mistura. As rações usadas para pós-larvas
adequadamente ra-
to de pós-larvas de tilápias terem sido
obtidos com rações contendo entre 40 a
e alevinos durante o período de reversão
sexual devem ser fortificadas com pelo me-
ções de moagem fina,
50% de PB (como apresentado na Tabela
2) e energia digestível entre 3.600 a 4.000
nos 3 vezes mais vitaminas e minerais do
que o mínimo recomendado. Na Tabela 7 é
boa palatabilidade e
kcal/kg.
Devido a necessidade de moagem fina
apresentada a sugestão de enriquecimento
para estas rações, bem como um exemplo
nutricionalmente com-
para obter partículas de tamanho inferior
a 0,5mm, as rações para pós-larvas estão
de enriquecimento vitamínico e mineral de
rações com 40 a 45% de proteína que vêm
pletas na primeira ali-
sujeitas a maiores perdas de nutrientes
por dissolução na água, principalmente
garantindo bons resultados na alimentação
de pós-larvas de tilápias em pisciculturas de
mentação exógena.
os minerais, as vitaminas hidrossolúveis, São Paulo.
41
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999

Manejo alimentar. A reversão sexual cimento de ração e atenta observação do tiltestosterona por um período de 28 dias.
deve ser iniciada com pós-larvas entre 9 consumo e atividade dos peixes. Deve Cerca de 600 a 800 gramas de ração são
a 12mm. A ração com 60mg de metiltes- se evitar excessiva sobra de ração nas necessárias para cada 1.000 alevinos de 4
tosterona/kg deve ser fornecida em 5 a unidades de reversão. Anéis de alimen- a 5 cm produzidos.
6 refeições diárias. Em cada refeição, a tação flutuantes são úteis para evitar que
a ração se espalhe, sendo muito usados Desempenho na reversão sexual. Os
ração deve ser fornecida até o momento
quando a reversão é feita em “happas”. seguintes parâmetros indicam um bom
em que os peixes estiverem saciados. Isto
Os peixes devem receber rações com me- desempenho após os 28 dias de reversão
é conseguido através de contínuo forne-
sexual: a) Tamanho dos alevinos: 4 a 5
cm (0,8 a 1g); b) Sobrevivência > 80%; c)
Índice de reversão > 99%. Para alcançar
este desempenho é necessário adequar o
manejo nutricional e alimentar dos repro-
dutores; atentar para a qualidade nutri-
cional das rações, à qualidade da água e
ao manejo alimentar; adquirir hormônio
de fornecedor idôneo; uso de práticas
auxiliares de manejo, como exemplo a
classificação periódica dos alevinos por
tamanho e eliminação de peixes que não
apresentaram bom desenvolvimento du-
rante a reversão. Maiores detalhes sobre
as estratégias de reversão sexual de tilá-
pias podem ser encontrados nos trabalhos
de Popma e Green (1990), Contreras-Sán-
chez et al (1997), Desprez et al (1997),
Gerrero III e Guerrero (1997), Rani e
Macintosh (1997), Mainardes-Pinto et al
(1998) e Sanches e Hayashi (1998).

5. Nutrição e manejo alimentar na


recria e engorda
A importância do alimento natural,
notadamente o plâncton, no crescimento
das tilápias já foi ressaltado anteriormen-
te. Muitos sistemas de produção combi-
nam os benefícios do alimento natural
com o uso de rações suplementares ou
completas, visando um aumento na pro-
dutividade e melhora na conversão ali-
mentar. Os piscicultores e nutricionistas
devem estar atentos para ajustar a densi-
dade dos nutrientes nas rações e o manejo
alimentar em função do sistema de culti-
vo adotado, otimizando a produtividade e
minimizando os custos de produção.

5.1. Recria (5 a 100g) em viveiros


com plâncton
Enquanto a biomassa de tilápias em
viveiros de recria com plâncton não ul-
trapassar 4.000 kg/ha, rações com 24 e
28% de proteína, 2.600 a 2.800 kcal de

42
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999

A importância do plâncton e como estimular a sua formação

· Com a estocagem dos peixes e início da alimentação a água começa a adquirir uma coloração es-
verdeada, o que indica a presença de plâncton.
· O plâncton contribui de forma significativa na alimentação das tilápias, produz oxigênio e remove a
amônia da água, favorecendo assim um rápido desenvolvimento dos peixes. Além disso o plâncton
sombreia o fundo dos tanques, impedindo a entrada de luz e o desenvolvimento de algas filamento-
sas e plantas submersas.
· Se houver muita troca de água no início das etapas de recria o plâncton não se forma e o desenvol-
vimento dos peixes será prejudicado. A água fica muito transparente, facilitando o desenvolvimento
de algas filamentosas e plantas aquáticas no fundo dos tanques, o que pode prejudicar a qualidade
da água e dificultar as operações de despesca.
· Se a água estiver muito cristalina no início das fases de recria, a formação do plâncton pode ser
estimulada fechando toda a entrada de água e aplicando 2 a 3 kg de uréia/1.000m2/semana e cerca
de 4 a 6 kg de farelos vegetais/1.000m2/dia. Farelos de arroz, trigo ou algodão, por exemplo, podem
ser usados e também servirão de alimento para os peixes estocados.
· O ideal é deixar a água ir adquirindo uma coloração esverdeada até atingir transparência entre 40 a
50cm, o que pode ser medido com o auxílio do Disco de Secchi. Atingida esta transparência, pode
se interromper o uso de uréia e farelos.
· Quando a transparência da água for reduzindo e se aproximar a 30cm, é hora de começar a renovar
um pouco de água. A quantidade de água renovada deve ser ajustada de forma a manter a transpa-
rência da água entre 40 a 50cm.
· Lembre-se que o excesso de renovação de água é o principal fator responsável pelo insucesso na
formação de plâncton.

43
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999

ED/kg e sem enriquecimento vitamínico xas temperaturas.


e mineral podem ser utilizadas manten-
“Em tanques-rede Quando a biomassa nos viveiros ultra-
do adequado crescimento e conversão passar os 4.000 kg/ha, o plâncton disponível
alimentar. Durante esta fase os peixes e raceways a disponi- não é capaz de complementar a nutrição e
devem ser alimentados entre 2 a 3% do manter os mesmos índices de desempenho
peso vivo ao dia, quantidade dividida em bilidade de alimento dos peixes na recria. A partir deste ponto
2 refeições diárias. O uso de rações flutu- é recomendável o uso de rações com 28 a
antes permite melhor ajustar a quantidade natural é limitada e 32% de proteína, energia digestível entre
de ração fornecida. Alimentar os peixes 2.900 a 3.200 kcal/kg (Tabela 6) e suple-
tudo o que eles podem consumir numa
refeição maximiza o crescimento, o que
os peixes estão sub- mentação mínima de vitaminas e minerais
(Tabela 7). Deve ser esperada uma piora
é desejado nas fases iniciais. Porém, tal nos índices de conversão alimentar a par-
prática pode não ser a melhor estratégia metidos a uma maior tir deste ponto, devido tanto à diminuição
do ponto de vista econômico, principal- no plâncton disponível por animal, quanto
mente nas fases de engorda (Tabela 9). pressão de produção à deterioração progressiva na qualidade da
Estes níveis de arraçoamento de 2 a 3% água. Ainda assim valores de conversão en-
do PV ao dia podem parecer insuficien- e estresse” tre 1,0 e 1,2 devem ser obtidos. Sob condi-
tes para peixes deste tamanho. No entan- ções adequadas de temperatura da água (28
to não deve ser esquecido que os peixes a 32 °C), tilápias de 1g atingem o peso de
consomem plâncton o tempo todo, com- bastante comuns. Se isto não se confir- 100g após 60 a 70 dias de recria em viveiros
plementando o nível de ingestão de ali- mar, pode estar ocorrendo problemas na com plâncton. Se isto não ocorrer, confira
mentos. A conversão alimentar na recria qualidade da ração, qualidade da água, as densidades de estocagem, a qualidade da
em tanques com plâncton deve ficar abai- manejo alimentar, produção de plâncton, água e das rações, a abundância de alimento
xo da unidade, com valores de 0,8 sendo qualidade dos alevinos, doenças, ou bai- natural, o manejo alimentar e a qualidade

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44
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999

dos alevinos. da nesta fase deve girar entre 1,1 e 1,3.


5.2. Recria (5 a 100g) em tanques-rede “Quando a biomas- 5.3. Engorda (100 a 600g) em viveiros
e raceways com plâncton
Em tanques-rede e raceways a dispo- sa nos viveiros ultra- Durante a engorda em viveiros até o
nibilidade de alimento natural é limitada limite de 6.000 kg/ha, o piscicultor pode
e os peixes estão submetidos a uma maior
passar os 4.000 kg/ha, utilizar rações sem suplementação mineral
e vitamínica, entre 24 e 28% de proteína e
pressão de produção e estresse. Portanto,
é recomendável que as rações sejam mais
o plâncton disponível energia digestível de 2.600 a 2.800 kcal/kg.
concentradas em proteínas (36 a 40%), não é capaz de com- O nível de arraçoamento deve ficar entre 1,5
a 2,% do peso vivo ao dia, dividido em 2
energia digestível (3.200 a 3600 kcal/kg)
e recebam um enriquecimento mineral e plementar a nutrição e refeições. O tempo necessário para que as
vitamínico ainda maior, conforme sugeri- tilápias alcancem 600g não deve ultrapassar
do nas Tabelas 6 e 7. Descuido com este manter os mesmos ín- 110 dias sob condições adequadas de tem-
detalhe pode resultar em grandes perdas peratura. A conversão alimentar deve fica
econômicas devido a distúrbios nutricio- dices de desempenho entre 1,3 a 1,5. Se o objetivo é produzir mais
nais e uma maior susceptibilidade dos do que 6.000 kg de tilápia/ha, a partir des-
peixes às doenças. A taxa de alimentação dos peixes na recria.” ta biomassa é recomendável o uso de uma
diária deve ser ajustada para 70 a 80% ração suplementada com minerais e vitami-
do máximo consumo diário, ou cerca de ções. O consumo pode ser aferido perio- nas e com maior concentração protéica (28
3 a 4 % do peso vivo ao dia, em função dicamente alimentando os peixes tudo o a 32%) e energética (2.800 a 3.000 kcal/kg).
principalmente do tamanho dos alevinos, que eles puderem consumir durante um Deve ser esperada um piora nos índices de
da temperatura da água e da concentração dia, permitindo assim reajustar a taxa de conversão alimentar (1,5 a 1,7) e uma redu-
em nutrientes da ração. Esta quantidade alimentação para 70 a 80% do máximo ção na velocidade de crescimento, devido à
de alimento deve ser dividida em 3 refei- consumo. A conversão alimentar espera- diminuição no plâncton disponível e a pro-
gressiva redução na qualidade da água.

45
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999

5.4. Engorda (100 a 600g) em tanques-rede e raceways

Rações com 32 a 36% de proteína e gorda de tilápias em raceways e tanques- de conversão alimentar é de 1,5 a 1,8. Sob
2.900 a 3.200 kcal ED/kg e enriquecidas rede (Tabelas 6 e 7). O arraçoamento condições adequadas de temperatura (28
com pelo menos níveis duplos de vitami- diário entre 1,5 a 2,5% do peso vivo deve a 32 °C). Cerca de 130 dias serão necessá-
nas e minerais devem ser usadas na en- ser dividido em 3 refeições. A expectativa rios para os peixes chegarem a 600g.

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46
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999

6. Nutrição e manejo alimentar crescimento e redução na sobrevivência das


de reprodutores ...“Muitos piscicul- pós-larvas e dos alevinos (Tabela 11).

A crescente demanda, tanto em quan- tores subestimam ou Tilápia-do-Nilo / Oreochromis niloticus:


tidade como em qualidade, por pós-larvas Baixos níveis de proteína na ração re-
e alevinos de tilápias vem exigindo aten- esquecem os índices sultou em atraso na maturação sexual (pu-
ção especial no que diz respeito à nutri- berdade) e no desenvolvimento e maturação
ção de reprodutores. A intensa coleta de de conversão alimen- dos oócitos (Gunasekera et al 1995)
pós-larvas ou ovos gera a necessidade
de fornecer aos reprodutores um alimen- tar obtidos. A correta Machos alimentados com ração con-
tendo farelo de algodão apresentaram atra-
to nutricionalmente completo. Diversos
estudos demonstram a importância da
determinação da con- so na maturação dos testículos e redução
no número e na motilidade dos esperma-
correta nutrição sobre o desempenho re- versão alimentar e do tozóides (Salaro et al 1998a). Em fêmeas
produtivo dos peixes, à semelhança do houve atraso e diminuição do número de
observado com outros animais. Alguns tempo de cultivo é fun- desovas (Salaro et al 1998b). Estes efeitos
exemplos são listados na Tabela 10.
foram atribuídos ao gossipol, fator anti-
A seguir são listados alguns exemplos damental para avaliar a nutricional presente no farelo de algodão.
da influência da nutrição sobre o desem-
penho reprodutivo de tilápias: relação custo/benefício Rações contendo 40% de farelo de
folhas de leucena resultou em redução
Tilápia de Mossambique / Oreochromis
mossambicus:
das rações comerciais na produção de pós-larvas e no peso
corporal das fêmeas. Estes efeitos foram
Rações deficientes em vitamina C resul- disponíveis.” atribuídos à mimosina, composto anti-
tou em reduzida taxa de eclosão, aumento na nutricional presente na leucena (Santia-
proporção de embriões deformados, atraso no go et al 1988).

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47
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999

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em Jundiaí - SP 7. Conversão alimentar (CA) de tilápias
O índice de conversão alimentar (CA) é calculado dividindo-
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especialista em Nutrição e Produção de Peixes se a quantidade total de ração fornecida (em um viveiro, tanque-
rede, ou raceway) pelo ganho de peso dos peixes. O ganho de
1- Planejamento da Produção de Peixes peso é calculado subtraindo-se da produção obtida em um vivei-
Dias: 13-14/08/99
• Conceito de planejamento e controle da produção
ro, tanque-rede ou raceway, o peso total dos peixes na estocagem.
• Fatores que afetam o crescimento dos peixes a capacidade de suporte, Muitos piscicultores esquecem deste detalhe, e subestimam os
a biomassa crítica e econômica nos diferentes sistemas de produção; índices de conversão alimentar obtidos. A correta determinação
determinação do ponto de biomassa econômica da CA e do tempo de cultivo é fundamental para avaliar a relação
• Índices de desempenho e expectativa de crescimento dos peixes
cultivados; aplicação dos conceitos de biomassa econômica e dados de
custo/benefício das rações comerciais disponíveis. Diversos fa-
desempenho no planejamento do cultivo; exercícios práticos; orçamento tores afetam a conversão alimentar dos peixes. Alguns deles são
e balanço econômico do cultivo. comentados a seguir:
2- Qualidade da Água na Produção de Peixes Qualidade do alimento. Quanto mais próxima for composição
Dias: 16-18/07/99 - 27-29/08/99 e 15-17/10/99 em nutrientes disponíveis nos alimento das exigências nutricio-
• Importância, monitoramento e manejo da qualidade da água
• Impacto da intensificação do cultivo e da qualidade do alimento e a
nais do peixe, melhor será a CA. Outros fatores como o grau de
qualidade da água moagem dos ingredientes, a palatabilidade e a estabilidade das
• Sistemas de aeração: características, dimensionamento e operação. rações na água também afetam a conversão alimentar.
Aula de campo: instrumentos para monitoramento da qualidade da água;
ensaios dinâmicos de qualidade da água. Problemas práticos enfrentados Espécie de peixe. As espécies de peixes apresentam respos-
por técnicos e criadores de peixes. tas diferenciadas quanto à demanda energética para atividades
essenciais (natação, respiração, osmorregulação, captura de ali-
3- Nutrição e Alimentação dos Peixes
Dias: 30/07 a 01/08/99 e 17-19/09/99 mento; expressão do seu comportamento; reprodução; digestão
• Anatomia e fisiologia do trato digestivo; hábito alimentar e exigências do alimento e metabolismo dos nutrientes assimilados, entre
nutricionais dos peixes outras). Portanto, é natural que estas diferenças influenciem os
• Processamento e granulometria das rações índices de CA de cada espécie.
• Fatores que afetam a conversão alimentar dos peixes
• Sinais indicadores da má nutrição dos peixes Idade ou tamanho dos peixes. Dentro de uma mesma espé-
• Estratégias e equipamentos para alimentação dos peixes
cie, peixes menores (mais jovens) apresentam melhores índices
Prático: visita à uma fábrica de rações; indicadores de qualidade das
rações; ensaio de estabilidade na água; discussões de problemas en- de CA, o que pode ser explicado pelo fato dos peixes menores
frentados por técnicos e criadores de peixes. apresentarem uma maior relação taxa de crescimento/exigência
de manutenção comparados a peixes de tamanho maior. Peixes
4- Principais Parasitoses e Doenças dos Peixes de menor tamanho também são mais eficientes na utilização do
Dias: 01-03/10/99
• Condições que favorecem a ocorrência de doenças alimento natural quando este for disponível.
• Sinais indicativos, estratégias de prevenção, profilaxia e tratamento
das principais doenças e parasitoses dos peixes Sexo e reprodução. No caso específico de tilápias este fator é
Prático: técnicas de identificação de parasitoses e doenças; medicamen- muito importante. Por exemplo, as fêmeas de tilápias-do-Nilo
tos e agentes profiláticos. Discussões de problemas práticos enfrentados direcionam grande quantidade de energia dos alimentos para a
por técnicos e criadores de peixes. produção de ovos e cuidado parental, portanto crescem mais len-
5- Reprodução e Reversão Sexual de Tilápias tamente e apresentam piores índices de CA que os machos. De
Dias: 22-23/10/99 uma forma geral, quando os peixes entram em fase de reprodu-
• Estratégia de produção em larga escala e reversão sexual de pós-larvas ção os índices de conversão alimentar tendem a piorar devido
de tilápias; reprodução; instalações; estratégias usadas na reversão ao maior gasto da energia com as atividades relacionadas à re-
sexual; preparo da ração e manejo alimentar
Prático: Preparo de ração para reversão; sexagem de reprodutores; coleta produção (formação de gônadas, côrte e disputa pelos parceiros,
e classificação de pós-larvas; instalações para reversão sexual; Técnicas construção e defesa de ninhos, cuidado parental, entre outros).
para avaliar o sucesso da reversão.
Disponibilidade e capacidade de aproveitamento do alimen-
Inscrição: Incluído material didático: to natural. Anteriormente foi discutida a importância do alimen-
R$ 280,00 (com até 28 dias antecedentes à data do curso) to natural no crescimento das tilápias. Como os cálculos de CA
R$ 330,00 (com menos de 28 dias do curso ou no dia) são feitos com base na quantidade de ração fornecida, uma maior
Conta para depósito: Banco Itaú- Agência 0796 c/c 45320-7 disponibilidade de alimento natural nos tanques e viveiros con-
Os dados para inscrição deverão ser enviados junto ao comprovante
tribui para a redução dos valores de CA. Peixes como as tilá-
de depósito para o fone/fax: (011) 7397-2496
pias, que aproveitam bem o alimento natural disponível tendem
Horário: Sextas e Sábados das 8:00 às 12:00 hs e das 14:00 às 18:00hs; a apresentar melhores índices de CA do que, por exemplo, peixes
Domingo (alguns cursos) das 8:00 às 12:00 hs carnívoros, que não possuem habilidade no aproveitamento do
Local : Center Park Hotel *****
Av. Jundiaí, 300 - Centro - Jundiaí - SP- Fone: (011) 7396-2000 plâncton e outros alimentos naturais disponíveis nos viveiros.
48
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999

Qualidade da água. Quanto melhor for a qualidade da água vel, o que influencia sobremaneira os índices de CA. No cultivo
melhor serão os índices de conversão alimentar. Reduzidos ní- de tilápias a zona de conforto térmico está entre 28 a 32 °C. No
veis de oxigênio dissolvido, elevada concentração de gás carbô- inverno a conversão alimentar das tilápias piora sensivelmente.
nico e metabólitos tóxicos como a amônia e o nitrito resultam
em redução no consumo e no aproveitamento dos alimentos, Nível de arraçoamento. Se o nível de arraçoamento for muito
prejudicando os índices de CA. baixo, é possível que os peixes consigam ter atendidas apenas as suas
necessidades de manutenção, resultando em ganho de peso zero. O
Densidade de estocagem. O aumento na densidade de esto- aumento nos níveis de arraçoamento acima das exigências de manu-
cagem geralmente piora a CA, pois reduz a disponibilidade de tenção melhora a CA. Níveis excessivos de arraçoamento (Tabela 9),
alimento natural por peixe e acelera a degradação da qualidade mesmo não havendo desperdício de ração, geralmente promove uma
da água devido aos maiores níveis de arraçoamento exigidos. maior velocidade de passagem do alimento no trato digestivo, o que
Temperatura da água. O peixe é um animal pecilotérmico, reduz a sua digestão e assimilação, piorando a CA.
portanto sua atividade metabólica aumenta com a elevação na Na Tabela 12 são resumidos os índices de conversão alimen-
temperatura da água. Cada espécie exige uma faixa específica de tar obtidos com tilápias de diferentes tamanhos, mantidas em
temperatura (zona de conforto térmico) para melhor expressar o ambientes distintos e alimentadas com rações de composição e
seu potencial de crescimento e utilização do alimento disponí- formas de apresentação variadas.

49
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

1
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
Por: Eng° Agr° Fernando Kubitza (Ph. D.)
Méd. Vet. Ludmilla M. M. Kubitza
ACQUA & IMAGEM SERVIÇOS

qualidade da
água, sistemas
de cultivo, pla-
nejamento da
produção, mane-
jo nutricional

TILÁPIAS:
e alimentar e
sanidade.

Parte I

N um médio prazo o Brasil poderá


se tornar um dos maiores pro-
dutores de tilápia no mundo. Embora
Através de um adequado
planejamento da produção em fases
e ajuste do manejo nutricional e
conhecer particularidades deste
peixe no que tange à tolerância
às condições adversas de qua-
a maior parte da produção comer- alimentar às diversas fases de de- lidade da água; sua habilidade
cial de tilápias esteja no momento senvolvimento e sistemas de cultivo, de aproveitamento do alimento
concentrada nos estados do Paraná, as tilápias podem ser produzidas natural, suas características de
São Paulo, Santa Catarina e Minas com custos e rentabilidades mais manejo e índices de desempenho.
Gerais, as regiões Nordeste e Centro atrativos do que a grande maioria Neste artigo vamos sumarizar al-
Oeste deverão abrigar os maiores das espécies de peixes cultivadas guns fundamentos e informações
pólos de produção de tilápia em no Brasil. importantes ao planejamento da
nosso país. O reconhecimento deste Para que isto seja possível, produção de tilápias em diferentes
potencial culmina com a realização, os piscicultores e técnicos devem sistemas de produção.
em setembro próximo, do 5º Simpósio
Internacional sobre a Aqüicultura de
Tilápias (5º ISTA). Com o intuito de
contemplar o referido evento, e sob a
sugestão da Panorama da Aqüicultu-
ra, elaboramos em duas partes, este
artigo especial com enfoque sobre os
sistemas de produção, o planejamento
do cultivo, o manejo nutricional e
alimentar e as principais doenças
registradas no cultivo intensivo de
tilápias. O material aqui apresentado
é uma síntese de alguns dos capítulos
do livro que será lançado durante o
5º ISTA, e que reúne a tecnologia hoje
disponível no mundo para a produção
comercial de tilápias.

44
Tilápias Panorama da AQÜICULTURA,
Panorama julho/agosto,
da AQÜICULTURA, 20002000
maio/junho,

Características das principais Qualidade da água na produção Oxigênio dissolvido. Alevinos


espécies de tilápia de tilápias de tilápia-do-Nilo de 10 a 25 gramas
sobreviveram à exposição ao oxigênio
Algumas das características Dentro dos seus limites de tole- dissolvido entre 0,4 a 0,7mg/litro por 3
que colocaram as tilápias no pódio rância, as tilápias se adaptam bem às a 5 horas, até quatro manhãs consecuti-
das principais espécies cultivadas co- diferentes condições de qualidade de vas, sem registro de significativa morta-
mercialmente são: 1) a facilidade de água. São bastante tolerantes ao baixo lidade. Também há relatos desta tilápia
reprodução e obtenção de alevinos; oxigênio dis- tolerar oxigênio zero (anoxia) por até 6
2) a possibilidade de manipulação solvido, convi- horas. Apesar desta tremenda habilida-
hormonal do sexo para obtenção de vem com uma de em sobreviver algumas horas mesmo
populações masculinas; 3) a boa acei- faixa bastante sob anoxia, tilápias freqüentemente
tação de diversos tipos de alimentos; ampla de aci- expostas ao baixo oxigênio dissolvido
4) a grande capacidade de aproveitar ficam mais susceptíveis às doenças
alimentos naturais em viveiros; 5) e apresentam desempenho reduzido.
conversão alimentar entre 1 a 1,8; 6) Quando a concentração de oxigênio
bom crescimento em cultivo intensivo dissolvido atinge 45 a 50% da saturação
(5 a 500g em 4 a 5 meses); 7) grande (aproximadamente 3 a 3,5 mg/litro, a
rusticidade, suportando bem o 28-30°C), a tilápia-do-Nilo começa
manuseio intenso e os baixos a reduzir sua atividade e, portanto, o
níveis de oxigênio dissolvido consumo de oxigênio. Este parece ser
na produção e, sobretudo, sua um mecanismo regulador do consumo
grande resistência às doenças; 8) de oxigênio, compensando assim a
a carne branca, de textura firme, redução do oxigênio na água. A con-
sem espinhos, de sabor pouco centração
acentuado e de boa aceitação. crítica de
Dentre mais de 70 es- oxigênio
pécies de tilápias, a maioria delas (grande
oriundas da África, quatro conquista- desconfor-
ram destaque na aqüicultura mundial: to) para a
O autor do artigo, Fer-
a tilápia de Moçambique Oreochromis nado Kubitza com um as tilápias
mossambicus, a tilápia-do-Nilo Oreo- exemplar de tilápia ni- está entre
chromis niloticus; a tilápia azul ou tilápia lótica pesando 4,2 kg, 20 a 10%
criada em Porecatu da satura-
áurea Oreochromis aureus e a tilápia
de Zanzibar Oreochromis urolepis ção a tem-
hornorum. Na Tabela 1 são resumidas peraturas
as principais características destas espé- entre 26 a
cies. Combinações entre estas espécies 35°C, ou
foram usadas para obtenção de tilápias dez e alcalinidade na água, crescem seja, entre 1,6 a 0,7mg/litro.
híbridas, em particular as tilápias verme- e até mesmo se reproduzem em
lhas. As características destes híbridos águas salobras e salgadas e toleram pH. O pH da água no cultivo de
são intermediárias, dependendo do grau altas concentrações de amônia tóxica tilápias deve ser mantido entre 6 a 8,5.
de contribuição das espécies que lhe comparadas à maioria dos peixes Abaixo de 4,5 e acima de 10,5 a morta-
deram origem. cultivados. lidade é significativa. Morte total entre
1 a 3 dias ocorre
com tilápias em
água com pH 3 e
uma mortalidade
de 50% foi regis-
trada após 19 dias
em água de pH 4.
Quando exposta
ao pH baixo, as
tilápias apresen-
Tabela 1. Caracteristicas das espécies de tlápias mais cultivadas.

45
Panorama da AQÜICULTURA,
Panorama julho/agosto,
da AQÜICULTURA, 2000 2000
maio/junho, Tilápias
tam sinais de asfixia (movimentos operculares acelerados e amônia tóxica na amônia total. Assim, uma água com 2mg
boquejamento na superfície). O corpo e as brânquias apre- de amônia total pode conter apenas 0,0014mg de NH3/litro
sentam excesso de muco. Peixes mortos permanecem com a pH 7 (0,7%) ou níveis tóxicos maiores que 1mg em água
a boca aberta e apresentam os olhos saltados, semelhantes com pH acima de 9,3. Tabelas relacionando a porcentagem
aos sinais de morte por falta de oxigênio. Acidez excessiva de amônia tóxica ao pH da água podem ser encontrados em
causa aumento na secreção de muco, irritação e inchaço nas livros de qualidade de água e nos manuais dos kits de aná-
brânquias, culminando com a destruição do tecido branquial. lises. A concentração de amônia não ionizada de 0,20mg/L
Em viveiros com excesso de fitoplâncton (águas muito deve servir como alerta no cultivo de tilápias. Mesmo sem
verdes) e baixa alcalinidade total (< 20mg de CaCO3/litro) observar mortalidade diretamente atribuída à toxidez por
o pH pode alcançar valores acima de 12 ao final da tarde amônia, a exposição dos peixes a níveis sub-letais de amônia
em dias muito ensolarados. Isto pode inibir o consumo de afeta a lucratividade do empreendimento, por comprome-
alimento e, se ocorrer com freqüência, afetar o crescimento ter o crescimento e a conversão alimentar, a tolerância ao
dos peixes. Mortalidade direta devido a esta elevação do manuseio e transporte e a condição de saúde dos peixes.
pH geralmente não é observada, pois os peixes geralmente As concentrações letais que mata 50% dos animais (LC50)
encontram conforto em águas mais profundas. No entanto, dependem da espécie de tilápia, do tempo de exposição, do
o elevado pH pode potenciar os problemas com toxidez por tamanho do peixe, da pré-exposição ou adaptação a níveis
amônia e aumentar a susceptibilidade dos peixes às doenças, sub-letais de amônia, entre muitos outros fatores. A LC50
ao manuseio e transporte. para 24 a 96h de exposição varia de 2,3 a 6,6mg de NH3/l.
O monitoramento semanal da amônia e pH deve ser feito em
Amônia. Proveniente da própria excreção nitrogena- viveiros e tanques com altos níveis de arraçoamento. Como
da dos peixes e da decomposição do material orgânico na o pH da água nos viveiros tende a subir ao longo do dia, as
água, a amônia está presente na água sob duas formas: o íon medições de amônia e pH devem ser feitas ao final da tarde,
amônio NH4+ (forma pouco tóxica) e a amônia NH3 (forma quando a probabilidade de ocorrer problemas com toxidez
tóxica). Os kits de análise de água mensuram a amônia total por amônia é maior.
na água, ou seja, NH4+ e NH3 juntos. Para saber quanto da
amônia total está na forma tóxica, é preciso medir o pH da Temperatura. Tilápias são peixes tropicais que
água. Quanto maior for o pH, maior será a porcentagem de apresentam conforto térmico entre 27 a 32°C (Figura 1). O
manuseio e o transporte sob baixas temperaturas (<22°C),
principalmente após o inverno, resultam em grande morta-
lidade. Tilápias bem nutridas e que não sofreram estresse
por má qualidade da água, toleram melhor o manuseio sob
baixas temperaturas. Temperaturas acima de 32°C e abaixo
de 27°C reduzem o apetite e o crescimento. Abaixo de 20°C
o apetite fica extremamente reduzido e aumenta os riscos
de doenças. Temperaturas abaixo de 14°C geralmente são

letais as tilápias.
Salinidade. Em regiões onde a expansão da aqüicultura
só é possível com o uso de água salobra ou salgada o cultivo

46
Tilápias Panorama da AQÜICULTURA,
Panorama julho/agosto,
da AQÜICULTURA, 20002000
maio/junho,

de tilápias tolerantes à salinidade é uma alternativa. A tilápia


de Moçambique e a tilápia de Zanzibar apresentam grande
tolerância à alta salinidade, crescendo e se reproduzindo
de forma mais eficiente em águas salobras do que em
água doce. Ambas são capazes de se reproduzir à sali-
nidade acima de 32ppt (água salgada). A tilápia azul e
a tilápia-do-Nilo também podem ser aclimatadas à água
salgada. A tilápia-do-Nilo se reproduz normalmente em
salinidades de até 15ppt. No entanto, a reprodução não
ocorre a 30ppt (água salgada). O crescimento da tilápia
azul e da tilápia-do-Nilo é maximizado é maximizado
a salinidades ao redor de 10ppt. Além das particulari-
dades de cada espécie, outros fatores parecem afetar a
tolerância das tilápias à salinidade, entre muitos a estra-
tégia de adaptação, a idade dos peixes no momento da
transferência e a prévia exposição de ovos e pós-larvas
à água de maior salinidade. Uma adaptação gradual,
com o aumento da salinidade na ordem de 5ppt ao dia,
resulta em melhor sobrevivência após a transferência
para água salgada do que com a transferência direta. A
tolerância à salinidade aumenta com a idade/tamanho do
peixe. Para a tilápia vermelha da Flórida, a tolerância
é maior aos 40 dias de vida, embora isto não exclua a
necessidade de adaptação gradual. A tilápia-do-Nilo
apresenta baixa tolerância até os 40-45 dias de vida. O
tamanho parece ser mais importante do que a idade, no
que diz respeito à tolerância à salinidade. Para a tilápia
do Nilo, a tolerância máxima a salinidade parece ser
atingida com alevinos maiores que 5cm.

Limites de produção no cultivo de tilápias

Os sistemas de produção utilizados no cultivo de


tilápias são bastante diversificados em função: 1) da
disponibilidade de recursos financeiros e insumos de
produção; 2) do acesso e da viabilidade do emprego de
tecnologia; 3) da disponibilidade de recursos hídricos; 4)
da disponibilidade de área; 5) das condições climáticas
prevalentes; 6) das particularidades do mercado consu-
midor; 7) das características intrínsecas de cada empresa;
entre outros fatores. Assim, os índices de produtividade,
custos de produção e lucratividade são bastante distintos
entre os diferentes sistemas de produção de tilápias.
Por exemplo, biomassa entre 30 a 400kg de peixes/ha
podem ser sustentadas em viveiros que não receberam
qualquer aporte de nutrientes (ração ou fertilizantes).
Viveiros nos quais os peixes são alimentados com ração,
podem sustentar entre 4.000 a 40.000kg de peixe/ha, em
função da qualidade da ração, uso ou não de aeração e
intensidade de troca de água. Em outro extremo, 200kg
de peixes/m3 (extrapolando, seriam 2.000t de peixes/ha)
são produtividades comuns em tanques de alto fluxo e
tanques-rede de pequeno volume.

47
Panorama da AQÜICULTURA,
Panorama julho/agosto,
da AQÜICULTURA, 2000 2000
maio/junho, Tilápias

Capacidade de suporte e o concei- BIOMASSA ECONÔMICA (BE). A quer pelo consumo de outros resíduos
to de biomassa econômica biomassa econômica corresponde a orgânicos. Soma-se a isto sua grande
uma biomassa entre a capacidade de capacidade em tolerar baixos níveis
Independente dos sistemas de suporte e a biomassa crítica (Figura de oxigênio dissolvido. Isto explica a
cultivo e das estratégias de produção 1). A biomassa econômica representa maior capacidades de suporte obser-
adotadas, o conhecimento dos concei- o valor de biomassa onde há o maior vada na produção de tilápias quando
tos e a quantificação da capacidade de lucro acumulado durante o cultivo comparada a maioria dos peixes de
suporte, biomassa crítica e biomassa (máximo lucro possível) e o ponto respiração branquial. Na Tabela 2 são
econômica, bem como dos índices de onde a despesca (parcial ou total) deve sumarizados os valores de capacidade
desempenho das espécies cultivadas, ser realizada. Avançar o cultivo além de suporte observados em diferentes
é fundamental para o adequado plane- da biomassa econômica resulta em sistemas de produção de tilápia. Tam-
jamento e otimização da produção. Na redução da receita líquida por área ou bém é apresentada uma estimativa dos
Figura 1 é representado, graficamente, volume, ou seja, diminuição no lucro, valores de biomassa econômica para
os conceitos de Biomassa Crítica, além de gasto adicional de tempo com estes mesmos sistemas.
Biomassa Econômica e Capacidade a ocupação desnecessária da unidade
de Suporte. de produção.

CAPACIDADE DE SUPORTE (CS). É a


máxima biomassa de peixes capaz de ser
sustentada em uma unidade de produção
(viveiro, tanque-rede, raceway, etc). O
crescimento dos peixes (ou da popula-
ção de peixes) é zero no momento em
que a capacidade de suporte foi atingida
(Figura 1). Qualquer tentativa de superar Figura 1.
Representação gráfica dos
este limite de biomassa sem incrementar
pontos de Biomassa Crítica,
a estratégia de cultivo pode resultar em Biomassa Econômica e
perda parcial ou total da produção. A Capacidade de Suporte, em
capacidade de suporte pode ser expressa viveiros de baixa renovação
em relação à área (kg/ha, kg/1.000m2 de água e sem aeração,
usados na de peixes ali-
ou kg/m2) ou ao volume (kg/m3) da mentados com ração.
unidade de produção. A determinação da
capacidade de suporte é feita com base
nos resultados de cultivos anteriores ou
pode ser estimada através dos dados de O ponto de biomassa econômica A produção em fases e o
produção obtidos em outras piscicultu- de uma unidade de produção depende, uso eficiente do espaço
ras ou mesmo obtidos em publicações basicamente, do custo de produção e
técnicas. do valor de mercado do peixe produ- A produção em fases (Figura 2)
zido. Por hora vamos assumir que, em otimiza o uso das unidades de produção
BIOMASSA CRÍTICA (BC). Em algum geral, a biomassa econômica gira em (viveiros, tanques-rede e raceways). Na
momento do cultivo o crescimento torno de 60 a 80% da capacidade de Tabela 3 é apresentado uma comparação
diário dos peixes (ou da população de suporte. A capacidade de suporte dos onde, com a mesma área de produção,
peixes) atinge um valor máximo, ou sistemas de produção em tanques e uma piscicultura pode produzir 38%
seja, o máximo ganho de peso possível viveiros com baixa renovação de água mais tilápias utilizando 3 fases, contra
por peixe (g/dia) ou por unidade de é determinada, em sua ordem, pelos um única fase de produção. O funda-
área (kg/ha/dia) ou volume (kg/m3/ seguintes fatores: (1). Quantidade de mento básico é a manutenção de uma
dia). Neste momento dizemos que alimento disponível; (2). Qualidade biomassa sempre próxima ao ponto
a unidade de produção atingiu a sua do alimento; (3). Níveis críticos de de biomassa crítica, o que permite um
biomassa crítica (Figura 1). A partir oxigênio dissolvido; (4). Concen- arraçoamento médio mais elevado e
do ponto de biomassa crítica o cres- tração de amônia e gás carbônico maior ganho diário em biomassa (kg/
cimento dos peixes começa a ser cada na água. Tilápias são reconhecidas ha/dia ou kg/m3/dia). Em cada fase, a
vez mais reduzido até que o sistema pela grande habilidade em reduzir estocagem deve ser feita a uma biomas-
atinja sua capacidade de suporte e os a carga orgânica nos viveiros, quer sa de peixes logo abaixo da biomassa
peixes parem de crescer. pelo eficiente consumo de plâncton, crítica e a despesca realizada quando a
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Tilápias Panorama da AQÜICULTURA,
Panorama julho/agosto,
da AQÜICULTURA, 20002000
maio/junho,

Viveiros adubados. A tilápia pode ser cultivada


em viveiros adubados com fertilizantes inorgânicos,
estercos animais e subprodutos vegetais. A calagem é
utilizada para corrigir a acidez, a alcalinidade e a dureza
da água sempre que necessário. A adubação promove a
produção de alimento natural, notadamente o plâncton,
eficientemente aproveitado pelas tilápias. A capacidade
de suporte pode variar entre 1.000 a 3.700 kg/ha, em
função da qualidade e da quantidade dos fertilizantes
aplicados. A adubação execessiva compromete a qua-
lidade da água, prejudicando o desenvolvimento e a
sobrevivência dos peixes.
* Sistemas de cultivo: 1. Extensivo ou rudimentar; 2. Adubação orgânica e/
ou inorgânica; 3. Alimento suplementar com ou sem adubação; 4. Ração com-
Adubação e alimento suplementar. A substitui-
pleta em viveiros de baixa renovação de água; 5. Ração completa e aeração de ção de parte dos fertilizantes por um alimento suplemen-
emergência com baixa renovação de água; 6. Ração completa e troca parcial tar aumenta a oferta de alimento e reduz a carga orgânica
de água com aeração; 7. Recirculação de água com aeração; 8. Tanques de alto nos viveiros, permitindo o aumento na capacidade de
fluxo de água (raceways); 9. Tanques-rede de pequeno volume (até 6m3). suporte. Uma mistura de farelos, restos de restaurantes e
varejões, e até mesmo rações peletizadas de baixo custo
são usados como alimento suplementar. No alimento na-
biomassa econômica for atingida. No ciclo seguinte repete-se tural os peixes obtém aminoácidos essenciais, vitaminas
este mesmo procedimento (Figura 2). A adoção da produção e minerais que faltam no alimento suplementar. Apesar
em fases exige, porém, um uso mais intenso de mão-de-obra do menor impacto sobre a qualidade da água comparado
e um sistema eficiente de movimentação dos peixes dentro ao uso exclusivo de adubos, os alimentos suplementares
da piscicultura. Os resultados, no entanto, compensam este geralmente apresentam baixa estabilidade na água e
maior empenho. reduzida digestibilidade, favorecendo um considerável
acúmulo de nutrientes e resíduos nos viveiros. As fezes
dos peixes e as sobras de alimento contribuem com o
Sistemas de produção de tilápias desenvolvimento do plâncton. O excesso de fitoplâncton
e a degradação da matéria orgânica reduz o oxigênio na
água, particularmente à noite. Assim, a capacidade de
suporte é limitada entre 2.500 a 8.000kg/ha, dependen-
do da qualidade do alimento suplementar utilizado e da
quantidade de adubos aplicada.
Viveiros com baixa renovação de água e ração
Figura 2. completa. O próximo passo para incremento da capacia-
Representação da produção de de suporte é o uso de rações completas (que reúnem
de tilápias em fase única e todos os nutrientes exigidos pelos peixes). Isto diminui
em três fases.
a depêndencia quanto ao alimento natural. No entanto, a
tilápia ainda assim se beneficia do alimento natural
disponível. Adubar os viveiros nas fases iniciais
também traz benefícios às tilápias. A adubação
é interrompia com o avanço do cultivo, pois as
fezes e a excreção nitrogenada dos peixes são
suficientes para manter uma adequada produção
de plâncton e outros organismos. O excesso de ma-
terial orgânico nos viveiros acelera a degradação
da qualidade da água e prejudica o crescimento
e a sobrevivência dos peixes. A capacidade de
Tabela 3. Expectativa de produtividade no cultivo de tilápia do Nilo suporte de tilápias em viveiros com ração com-
utilizando estratégias de produção com uma única fase (1g a 800g), ou pleta, baixa renovação de água e sem aeração
uma estratégia de produção com 3 fases (1g _ 30g _ 200g _ 800g). varia entre 6.000 a 10.000kg/ha, sendo limitada
pela concentração de oxigênio dissolvido, a qual

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Panorama da AQÜICULTURA,
Panorama julho/agosto,
da AQÜICULTURA, 2000 2000
maio/junho, Tilápias
diminui progressivamente com o aumento na quantidade
diária de ração fornecida. Portanto, a capacidade de suporte
Cursos Avançados em Piscicultura é limitada pelo máximo arraçoamento que pode ser aplicado
sem comprometer o oxigênio dissolvido na água. Em viveiros
em Jundiaí - SP
para tilápia isto gira em torno de 60 a 100kg de ração/ha/dia,
Instrutor: Fernando Kubitza, Ph.D., dependendo da qualidade da ração utilizada.
especialista em Nutrição e Produção de Peixes
Aeração de viveiros e produção de tilápias. Em
1 - Tanque-rede: Produção, Problemas e Soluções
Dias: 14-15/07/00 viveiros com baixa renovação e uso de ração completa, a
• Fundamentos; planejamento e controle; aeração de emergência permite aumentar o arraçoamento
• Manejo nutricional e alimentar; índices de produção;
• Introdução aos problemas no cultivo de peixes em tanques-rede. para 120kg/ha/dia ou mais. No entanto, mais que 120kg de
• Seminário participativo com técnicos e produtores/empresários apresentando os ração/ha/dia pode elevar a concentração de amônia na água.
problemas práticos e soluções encontradas no cultivo de peixes em tanques -rede.
• Debate sobre as perspectivas futuras para a atividade no Brasil.
Níveis tóxicos de amônia podem ocorrer ao final da tarde
com o pH da água acima de 8,5. Embora a aeração segure o
2- Planejamento e Economia Aplicados à Piscicultura
oxigênio dentro de valores aceitáveis, a amônia reduzirá o
Dias: 28-30/07/00
• Planejamento e controle da produção; desempenho dos peixes. A capacidade de suporte é atingida
• Controle do crescimento dos peixes; entre 10.000 a 20.000kg/ha, em função da qualidade da
• Capacidade de suporte, biomassa crítica e biomassa econômica nos diferentes
sistemas de produção; ração e da potência de aeração empregada. Em Honduras,
• Determinação da biomassa econômica; Coddington e Green (1993) observaram melhoria de 18 a
• O uso dos índices de desempenho e da biomassa econômica no planejamento
da produção; 21% no crescimento, 3 a 5% na sobrevivência e 21 a 25%
• Noções aplicadas de orçamento, fluxo de caixa, cálculo da depreciação e na produção de tilápias em viveiros com aeração. Iniciar
inventários; avaliação do desempenho econômico em pisciculturas.
• Exercícios Práticos.
a aeração quando a concentração de oxigênio atingia 30%
da saturação (ao redor de 2,4mg/litro) não melhorou o de-
3 - Nutrição e Alimentação de Peixes Cultivados
sempenho produtivo ou a sobrevivência da tilápia-do-Nilo,
Dias: 04-05/08/00
• Anatomia / fisiologia digestiva; hábito alimentar e exigências nutricionais dos comparado ao início da aeração a 10% da saturação (ao
peixes. redor de 0,8mg/litro). Para fins práticos, podemos esperar
• Processamento e granulometria das rações.
• Fatores que afetam a conversão alimentar dos peixes. um incremento de 20 a até 60% na capacidade de suporte de
• Sinais indicadores da má nutrição dos peixes. tilápias com o uso de aeração de emergência. Deste ponto
• Estratégias e equipamentos para alimentação dos peixes.
Prático: visita à uma fábrica de rações; indicadores de qualidade das rações; en- em diante, o incremento na capacidade de suporte depende
saio de estabilidade das rações na água. Discussões de problemas práticos. da renovação de água.
4 - Parasitoses e Doenças dos Peixes Cultivados
Dias: 25-26/08/00 Viveiros com renovação de água e aeração. A reno-
• Condições que favorecem a ocorrência de doenças.
• Mecanismos de defesa dos peixes e modos de transmissão de doenças.
vação de água diminui a a carga orgânica e a concentração
• Sinais indicativos, estratégias de prevenção, profilaxia e tratamento das principais de amônia na água, o que permite aumentar o araçoamento
doenças e parasitoses dos peixes. e, portanto, a capacidade de suporte. Muitos sistemas com
Prático: Técnicas de identificação de parasitoses e doenças; medicamentos e
agentes profiláticos. Discussões de problemas práticos enfrentados por técnicos renovação parcial de água usam aeração, geralmente a partir
e criadores de peixes. do ponto de biomassa crítica. A capacidade de suporte pode
5 - Técnicas de Transporte de Peixes Vivos chegar a 40.000kg/ha, em função da taxa de renovação de
Dias: 15-16/09/00 água, da existência ou não de aeração, da forma como a
• Fisiologia aplicada ao transporte.
• Fatores que o transporte.
aeração é aplicada, entre muitos outros fatores. Em Israel,
• Condicionadores e profiláticos. biomassa, de tilápia ao redor de 70.000kg/ha foram alcan-
• Tanques e Equipamentos.
• Procedimentos rotineiros.
çadas em tanques com 3 trocas parciais de água por dia para
• Cargas para alevinos e peixes adultos vivos. remoção das fezes.
• Previsão do consumo de oxigênio no transporte.
Prático: Ensaios dinâmicos de transporte; difusores e equipamentos; condiciona-
dores e profiláticos. Produção de tilápias em raceways. “Raceways” são
Horário: Sextas e Sábados das 8:00 às 18:00hs;
tanques com alto fluxo de água, entre 1 a 20 trocas totais por
Domingo (alguns cursos) das 8:00 às 12:00 hs hora (Figura 3). Os resíduos (fezes e sobras de rações) são
Inscrição: Incluído material didático e almoços (sexta-feira e sábados): arrastados com a corrente de água para fora do raceway. A
R$ 300,00 com 7 dias de antecedência ao curso; capacidade de suporte para tilápias em raceways 60 a 200kg/
R$ 350,00 na semana que antecede, ou no dia do curso.
m3, em função da renovação de água disponível e do uso
Conta para depósito: Banco Itaú- Agência 1586 c/c 08120-8 ou não de aeração. O oxigênio dissolvido é o primeiro fator
Os dados para inscrição deverão ser enviados junto ao comprovante limitante da produção em raceways. Berman (1998) descreve
de depósito para o fone/fax: (11) 7397-2496
o sistema de produção da Aqua Corporation International
Aqua & Imagem Serviços
aquaimg@zaz.com.br S.A., na Costa Rica. Cerca de 4.200 toneladas de tilápias de
900g são produzidas anualmente. As últimas duas fases de
50
Tilápias Panorama
Panorama da AQÜICULTURA,
da AQÜICULTURA, maio/junho,
julho/agosto, 20002000

produção (50 a 300g e 300 a 900g) são reservatório (geralmente um viveiro ou Produção de tilápias em gaio-
feitas em raceways, com uma biomassa represa), onde ocorrem a sedimentação las. No cultivo de tilápias em gaiolas
final ao redor de 70kg/m2. dos resíduos orgânicos, os processos de a produção por ciclo pode variar de
Sistemas de recirculação de nitrificação e a reoxigenação parcial 30 a 300kg/m3, em função do tamanho
água. A recirculação é uma boa alter- da água através da fotossíntese. No da gaiola (ou tanque-rede) utilizada.
nativa quando a água for limitada ou reservatório geralmente são estocados Gaiolas de baixo volume (até 6m3)
quando há necessidade de aquecimento peixes como a carpa comum e mesmo permitem produzir 200 a 300kg de
da água. Há necessidade de instalar tilápias, que se beneficiam dos resíduos tilápia/m3 por ciclo. Alguns recordes
orgânicos e do foram estabelecidos em gaiolas de
alimento natu- baixo volume/alta densidade. Na
ral disponível. China 680kg de carpas foram produ-
Do reserva- zidos em gaiola de 1-m3 (Schmittou,
tório, a água comunicação pessoal). No Brasil, a
retorna, por biomassa de tilápias em gaiolas de
bombeamento 4-m3 pode chegar a 480kg/m3 (Ivantes,
ou por gravida- comunicação pessoal). Estes valores
de, aos tanques devem estar próximos à capacidade de
Figura 3. de produção de suporte em gaiolas de baixo volume.
Representação esquemática tilápias. Bio- Em outro extremo estão os tanques-
de sistemas de alto fluxo. massas entre rede de maiores dimensões (acima de
10 a 25 kg de 10m3), onde a produção pode variar
filtros mecânicos para remoção dos tilápia/m 2
(100.000 a 250.000 kg/ha) entre 30 a 100kg/m3. Esta diferença
resíduos orgânicos e de filtros bioló- são mantidas nos tanques de produção. se deve a maior taxa de renovação de
gicos para transformar a amônia em No entanto, quando considerada a área água em tanques-rede de baixo volume
nitrato (Figura 4). ocupada pelo viveiro-reservatório, a comparado aos de grande volume, per-
capacidade de suporte cai para 3,9 a mitindo a manutenção de uma qualidade
O sistema de cultivo “Dekel”, 4,5 kg/m2 (39.000 a 45.000 kg/ha). de água melhor no interior dos tanques-
desenvolvido em Israel e difundido Em geral, a capacidade de suporte no rede. O Dr. Holmer R. Schmittou foi o
em vários países, serve como um bom cultivo de tilápias com recirculação de idealizador do sistema de tanque-rede
exemplo de um sistema de recircula- água gira entre 20 a 60kg/m3. O risco de baixo volume e alta densidade, hoje
ção utilizado no cultivo de tilápias de perdas de peixe por bastante popular no cultivo de tilápias
falha instrumental ou em diversos países, notadamente a Chi-
por doenças aumenta na e o Brasil. No cultivo em gaiolas, o
nos sistemas de re- acesso dos peixes ao alimento natural
circulação, exigindo é limitado. Assim, para se obter ade-
do piscicultor uma quado crescimento e saúde dos peixes
Figura4.
Representação esquemática atenção maior quan- ao longo do cultivo é necessário o uso
de um sistema de recirculação to aos pontos críticos de rações nutricionalmente completas
de água. do sistema. e de alta qualidade.

(Figura 5). Neste sistema os peixes


são produzidos em tanques circulares
ou hexagonais com fundo cônico para
facilitar a remoção dos resíduos orgâni-
cos (fezes, restos de ração e plâncton).
Os tanques são escavados em terra e
podem ou não ser revestidos. Aeradores
de pá são usados para oxigenação e
promoção de um movimento circular Figura 5.
da água que concentra os resíduos or- Representação esquemática do sis-
tema de recirculação tipo “Deckel”
gânicos ao redor de um dreno central desenvolvido em Israel.
para eliminação através de descargas de
água periódicas. A água que deixa os
tanques de produção é conduzida a um

51
Panorama
Panorama da AQÜICULTURA,
da AQÜICULTURA, maio/junho,
julho/agosto, 2000 2000 Tilápias

Tabela 4. Expectativas de ganho de peso (GDP, em g/


peixe/dia) e da duração (em dias) de algumas fases no
cultivo da Tilápia-do-Nilo.

Figura 6.
Esquemática de gaiolas de baixo
volume (até 6m3).

Planejamento da
O conceito de capacidade de produção de tilá-
suporte no cultivo de peixes em gaiolas. pias em viveiros
Os limites de capacidade de suporte e
os níveis de arraçoamento estabeleci- No exemplo a seguir está o pla- peixes/m2. Isto é suficiente para esto-
dos para cultivo em viveiros servem nejamento da produção de tilápias em car 2,9m2 (22/7,6) de viveiro da Fase
como referência para definir os limites viveiros com o uso de ração completa, 2. Assim, a relação entre as áreas da
de capacidade se suporte em represas aeração de emergência e baixa renova- Fase 1 e Fase 2 é de 1 para 2,9 (ver a
com gaiolas. Por exemplo, um açude ção de água. Estabelecemos a biomassa Tabela 5). A despesca da Fase 2 rende
suporta 6.000kg de peixes/ha e um ar- econômica ao redor de 8.500 kg/ha na 7,2 peixes/m2, o suficiente para estocar
raçoamento de até 60kg de ração/ha/dia Fase 3 (fase final) e 6.500 kg/ha nas 3,6m2 (7,2/2) de viveiros na Fase 3. No
quando os peixes são cultivados soltos. Fases 1 e 2. Usamos a expectativa média entanto, os viveiros da Fase 2 giram
Se optarmos por gaiolas, A biomassa desempenho (Tabela 4) e deixamos 10 um ciclo de 60 dias contra 120 dias na
de todos os peixes confinados não deve dias extras para completar a despesca e Fase 3. Assim, quando os viveiros da
exceder estes limites. Por segurança, a realizar a estocagem dos viveiros nas Fase 2 completarem mais um ciclo será
capacidade de suporte nos viveiros com Fases 1 e 2 (duração do ciclo= 50 dias necessário disponibilizar um segundo
gaiolas constuma ser mantida abaixo + 10 dias = 60 dias) e mais 20 dias para grupo de viveiros da Fase 3. Portanto,
dos limites para peixes soltos. A van- a Fase 3 (duração do ciclo= 100 dias + cada 1m2 da Fase 2 abastecerá 7,2m2
tagem do uso de gaiolas é a facilidade 20 dias). A expectativa de sobrevivência (3,6 x 2) da Fase 3. Mantendo a relação
de colheita dos peixes. Para pequenos é de 85%, 95% e 98% para as fases 1, 2 entre as áreas das 3 fases teremos: Fase
açudes e viveiros utilizados com gaiolas, e 3, respectivamente. Assim, montamos 1: 1,0m2; Fase 2: 2,9m2; e Fase 3: 21,0m2
a biomassa econômica deve ficar entre a Tabela 5. (2,9m2 x 7,2m2). Agora podemos dividir
2.500 a 3.500kg/ha quando a renovação a piscicultura em partes:
de água for limitada. O arraçoamento é 1 parte para a Fase 1;
mantido entre 30 a 40kg/ha/dia. 2,9 partes para a Fase 2;
e 21 partes para a Fase
3. A soma de todas as
Planejando a produção partes corresponde a
de tilápias 24,9 (100%). A Fase 1
ocupará 4% da área total
Para planejar a produção de (1x100/24,9); a Fase 2
tilápias, o piscicultor precisa definir, ocupará aproximados
com base nos resultados de cultivos 12% (2,9x100/24,9) e, a
Tabela 5. Plano de produção de tilápia-do-Nilo em
anteriores, ou de acordo com os sis- viveiros de baixa renovação, sem aeração e com o uso Fase 3 ocupará 84% da
temas de produção detalhados neste de ração completa. área total (21x100/24,9).
artigo, a capacidade de suporte e a Vamos supor que exista
biomassa econômica do seu sistema. uma piscicultura já im-
Adicionalmente, precisa ter uma noção Para calcular a necessidade de plantada com uma área total de viveiros
dos índices de desempenho das tilápias área em cada fase é preciso conhecer de 40 hectares. A área total de viveiros
nas diferentes fases de desenvolvimento a relação entre a área das mesmas. Na alocada para as Fases 1, 2 e 3 será 0,16ha
(Tabela 4). despesca da Fase 1, são capturados 22 (4% de 40ha), 4,8ha (12% de 40ha) e

52
Tilápias Panorama
Panorama da AQÜICULTURA,
da AQÜICULTURA, maio/junho,
julho/agosto, 20002000

33,6ha (84% de 40ha). O potencial de 20 hectares, com renovação mínima Fase 3: 82 gaiolas, equivalente a Biom.
produção de tilápias de 450g da pisci- de água. O primeiro passo é estabe- média de 82 x 4m3 x 121kg/m3 =
cultura em questão pode ser calculado lecer a biomassa econômica para este 39.688kg.
da seguinte maneira: açude. Neste exemplo, será de 2.500
kg/ha, ou seja, em momento algum a A biomassa total do módulo é
· Os viveiro da Fase 3 permanecem soma da biomassa de todas as gaiolas 45.660kg, o que representa 91% (0,91)
ocupados 120 dias por safra, ou deve exceder a 50 toneladas no açude das 50 toneladas estabelecidas como
seja, podem produzir 3 safras por em questão. Com esta biomassa eco- biomassa econômica para o açude.
ano (365dias/120dias); nômica, o arraçoamento diário não Assim, poderemos ter no açude:
· Se todos os 33,6 hectares destina- deverá exceder 40 a 50kg de ração/
dos à Fase 3 forem utilizados, o ha. Com base nos níveis de oxigênio Fase 1: 7 gaiolas / 0,91 = 8 gaiolas
potencial de produção anual será: dissolvido pela manhã, o piscicultor (8x4x53= 1.696kg);
33,6 ha x 3 safras x 8,5t/ha/safra = poderá decidir, ao longo do cultivo, Fase 2: 11 gaiolas / 0,91 = 12 gaiolas
857 toneladas. sobre o aumento ou redução no número (12x4x102= 4.896kg);
de gaiolas no açude. Cada gaiola tem Fase 3: 82 gaiolas / 0,91 = 90 gaiolas
No entanto, nem sempre todos os 4m3 de volume útil. Os alevinos serão (90x4x121= 43.560kg).
viveiros disponíveis se ajustam perfei- estocados com peso médio ao redor
tamente ao planejamento inicialmente de 4g. Na Tabela 6 segue um resumo No total seriam 50.152kg de pei-
realizado. O piscicultor ou o técnico da estratégia de produção e índices de xes estocados em um dado momento,
deverá avaliar como os viveiros estão desempenho esperados em cada fase o que está bem próximo da biomassa
distribuídos dentro da propriedade e do cultivo. econômica proposta.
alocá-los às fase de cultivo que melhor
convier, de forma a atender satisfatoria- A relação entre volumes é a Esperamos que esta primeira
mente a logística de produção. Os vi- porcentagem do volume de gaiolas parte tenha ajudado o leitor a conhecer
veiros também apresentam dimensões destinadas a cada fase é calculada da um pouco mais sobre as tilápias, suas
variadas, o que dificulta a alocação dos mesma forma que no exemplo anterior. particularidades quanto à qualidade de
mesmos nas proporções ideais entre as Portanto, a as Fases 1, 2 e 3 utilizarão 7, água e a capacidade de suporte para este
fases de cultivo. Deste modo, nem sem- 11 e 82% das gaiolas, respectivamente. peixe em diferentes sistemas de cultivo.
pre é possível aproveitar com 100% de Com base nesta proporção vamos es- Com base nestas informações básicas,
eficiência a área de produção disponí- tabelecer um módulo de gaiolas como já é possível iniciar o planejamento da
vel. Outros fatores também contribuem detalhado a seguir: produção na próxima safra. Na segunda
com a diminuição da eficiência de uma parte deste artigo traremos sugestões
piscicultura. Por exemplo, os atrasos Fase 1: 7 gaiolas, equivalente a Biom. mé- quanto ao manejo alimentar em cultivo
na entrega de alevinos e na venda dos dia de 7 x 4m3 x 53kg/m3 = 1.484kg; intensivo e uma resenha das principais
peixes terminados; mortalidades inu- Fase 2: 11 gaiolas, equivalente a Biom. mé- doenças registradas na produção comer-
sitadas de alevinos após o transporte; dia de 11 x 4m3 x 102kg/m3 = 4.488kg; cial de tilápias.
entre muitos outros. O piscicultor/
técnico deve estar atento e antecipar
tais problemas, assegurando estoques
reguladores de alevinos, antecipando
compromissos de venda, entre outros
cuidados.

Planejamento da produção
de tilápias em gaiolas

Com os mesmos dados do exem-


plo anterior podemos planejar a pro-
dução de tilápias em gaiolas. Os
cálculos seguem a mesma lógica do
planejamento para viveiros. Vamos Tabela 6. Estratégias de produção e expectativa de desempe-
supor que dispomos de um açude de nho para o planejamento da produção no cultivo de tilápias
em gaiolas em 3 fases.

53
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

1
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
Por: Eng° Agr° Fernando Kubitza (Ph. D.)
Méd. Vet. Ludmilla M. M. Kubitza
ACQUA & IMAGEM SERVIÇOS – Jundiaí, SP

Qualidade da água,
Inúmeras são as variáveis e processos que envolvem a qualidade final do peixe para consumo.
Neste artigo serão apresentados os aspectos básicos do manejo nutricional e alimentar, bem
sistemas de culti-
como as principais parasitoses e doenças no cultivo comercial de tilápias. O leitor poderá obter
informações mais detalhadas sobre estes assuntos nas edições 52 e 53 da Revista Panorama da
vo, planejamento da
Aqüicultura, no livro “Principais Parasitoses e Doenças dos Peixes Cultivados” 3a. Ed. (Kubitza e
Kubitza 1999) e no livro “Tilápia: tecnologia e planejamento na produção comercial” (Kubitza
produção, manejo
2000) que será lançado no 5 ISTA -Simpósio Internacional sobre Tilápia na Aqüicultura.
nutricional e alimen-
tar e sanidade.
MANEJO NUTRICIONAL E ALIMENTAR Parte II

O s alimentos podem compor 40 a


70% do custo de produção de ti-
lápias, dependendo do sistema de cultivo
· Melhora a eficiência alimentar, mini-
mizando os custos de produção.
Com a recente intensificação do
cultivo das tilápias em diversos países, in-
clusive no Brasil, utilizando tanques-rede,
empregado, da escala de produção, da · Reduzir o impacto poluente dos efluen-
raceways e tanques com recirculação de
produtividade alcançada, dos preços dos tes da piscicultura intensiva, aumentando a água (sistemas onde a disponibilidade de
outros insumos de produção, dentre outros produtividade dos sistemas de produção. alimento natural é limitada), houve um au-
fatores. Os produtores podem minimizar de mento na incidência de desordens nutricio-
forma significativa este custo com a adoção · Obter melhor saúde e maior tolerância
nais devido ao inadequado enriquecimento
de um manejo alimentar adequado e uso de às doenças e parasitoses. vitamínico e mineral das rações. Estes
rações com qualidade compatível com as · Melhorar a tolerância dos peixes ao sistemas mais intensivos demandam o uso
diferentes fases de desenvolvimento dos de rações nutricionalmente completas, com
peixes e com o sistema de cultivo utiliza- manuseio e ao transporte vivo.
enriquecimentos vitamínicos e minerais.
do. Através de uma adequada nutrição e · Incrementar o desempenho reprodutivo Mais informações sobre as exigências
manejo alimentar é possível: e a qualidade das pós-larvas e alevinos. nutricionais e os subsídios à formulação de
rações para tilápias podem ser encontrados
· Melhor explorar o crescimento dos pei- · E, finalmente, otimizar a produção e no artigo de Kubitza nas edições 52 e 53
xes e aumentar o número de safras anuais. maximizar as receitas da piscicultura. desta revista. Neste artigo nos limitaremos

31
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

aos aspectos práticos do manejo alimentar natural é limitado. O sucesso do cultivo de 28 dias. Cerca de 600 a 800 gramas
no cultivo intensivo de tilápias. tilápias em raceways ou em tanques-rede de ração são necessárias para 1.000
depende do uso de rações completas. Estas alevinos de 4 a 5 cm produzidos.
A importância do alimento natural na rações também são necessárias em viveiros
nutrição de tilápias quando a biomassa ultrapassa 6.000 kg/ha.
Nutrição e manejo alimentar na
Nas rações completas todos os nutrientes
recria e engorda.
O alimento natural dos peixes é devem estar presentes de forma equilibrada
A importância do alimento
composto de inúmeros organismos vegetais e em quantidades que supram as exigências
natural, notadamente o plâncton, no
(algas, plantas aquáticas, frutos, sementes, dos peixes para um adequado crescimento,
crescimento das tilápias já foi ressal-
entre outros) ou animais (crustáceos, lar- saúde e reprodução. O enriquecimento em
tado anteriormente. Muitos sistemas
vas e ninfas de insetos, vermes, moluscos, vitaminas e microminerais é completo.
de produção combinam os benefícios
anfíbios, peixes, entre outros). Algumas
Programa nutricional e alimentar para tilápias do alimento natural com o uso de
espécies de tilápias, em particular a tilápia-
rações suplementares ou completas,
do-Nilo, aproveitam de forma eficiente o
visando um aumento na produtividade
fito e o zooplâncton. Em viveiros com baixa Na Tabela 1 são apresentadas su- e melhora na conversão alimentar. Os
renovação de água, cerca de 50 a 70% do gestões quanto a composição nutricional piscicultores e nutricionistas devem
crescimento de tilápias foi atribuído ao con- básica, a necessidade de suplementação
estar atentos para ajustar a densidade
sumo de alimentos naturais, mesmo com o vitamínica e mineral, a forma de apresen-
tação e o tamanho dos peletes em rações dos nutrientes nas rações e o manejo
fornecimento de ração suplementar. Este
para tilápias em diferentes fases de desen- alimentar em função do sistema de
detalhe explica o menor custo de produção
volvimento e sistemas de cultivo. cultivo adotado, otimizando a pro-
de tilápias em viveiros de baixa renovação
dutividade e minimizando os custos
de água comparado ao cultivo intensivo em
de produção.
tanques-rede e raceways. O plâncton é rico Manejo alimentar na reversão sexual.
em energia e em proteína de alta qualidade A reversão sexual é aplicada em Manejo alimentar na recria (5 a
e serve como fonte de minerais e vitaminas pós-larvas com 9 a 13mm. A ração com 100g) em viveiros com plâncton.
no cultivo de tilápia em viveiros. Estudos 30 a 60mg de metiltestosterona/kg deve Enquanto a biomassa de ti-
realizados em Israel demonstraram, com ser fornecida em 5 a 6 refeições diárias. lápias em viveiros de recria com
base na resposta em crescimento, não ser Durante uma refeição os peixes devem ser plâncton não ultrapassar 4.000 kg/
necessário o enriquecimento vitamínico alimentados até serem saciados. Para tanto, ha, rações com 24 e 28% de proteína,
em rações usadas no cultivo de tilápias em é preciso que o tratador observe atentamente 2.600 a 2.800 kcal de ED/kg e sem
viveiros com disponibilidade de alimentos o consumo e a atividade dos peixes, evitando enriquecimento vitamínico e mine-
naturais. No entanto a suplementação excessiva sobra de ração nas unidades de ral podem ser utilizadas mantendo
vitamínica das rações melhorou a sobre- reversão. O uso de anéis de alimentação adequado crescimento e conversão
vivência dos peixes. Em Israel, apenas as facilita o manejo alimentar em hapas e alimentar. A taxa de alimentação deve
rações destinadas às pós-larvas e ao cultivo permite uma boa observação do consumo ser ajustada entre 4 a 2% do peso vivo
em sistemas mais intensivos recebem suple- quando a reversão é realizada em unidades ao dia, do início ao final desta fase,
mentação vitamínica completa. Esta suple- de maiores dimensões (hapas, tanques e sendo estas quantidades divididas em
mentação também é feita em rações usadas viveiros). Os peixes devem receber rações 2 refeições diárias. O uso de rações
no período de inverno e no tratamento de com metiltestosterona por um período de flutuantes permite melhor ajustar
peixes doentes ou sob estresse.

Rações suplementares.
A produção de tilápias em vivei-
ros de baixa renovação de água pode ser
feita de forma eficaz com o uso de rações
suplementares (nutricionalmente incom-
pletas). De um modo geral estas rações não
dispõem de um correto balanço em ami-
noácidos essenciais, apresentam menores
níveis protéicos (22 a 24%), maior relação
energia/proteína e não são suplementadas,
ou o são apenas parcialmente, com premix
vitamínico e mineral.

Rações nutricionalmente completas. Tabela 1. Sugestões quanto aos níveis de proteína bruta (PB), energia digestível e suplementação
Estas rações devem ser empre- vitamínica (Sup. vitam.) e mineral (min.) em rações para tilápias nas diferentes fases de desenvol-
vimento, cultivadas em viveiros com plâncton (VIV) ou em tanques-rede e raceways (TR/RW).
gadas em sistemas de produção onde a
disponibilidade ou o acesso ao alimento

33
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

a quantidade de ração fornecida. Ali- disponível não é capaz de complementar piora nos índices de conversão alimen-
mentar os peixes tudo o que eles podem a nutrição e manter os mesmos índices tar a partir deste ponto, devido tanto à
consumir numa refeição maximiza o de desempenho dos peixes na recria. A diminuição no plâncton disponível por
crescimento, o que é desejado nas fases partir deste ponto é recomendável o uso animal, quanto à deterioração progres-
iniciais. Porém, tal prática pode não ser de rações com 28 a 32% de proteína, siva na qualidade da água. Ainda assim,
a melhor estratégia do ponto de vista energia digestível entre 2.900 a 3.200 conversão alimentar entre 1,0 e 1,2 deve
econômico, principalmente nas fases de kcal/kg (Tabela 1) e suplementação ser obtida. Sob condições adequadas de
engorda. Na Tabela 2 pode ser observado mínima de vitaminas e minerais, confor- temperatura da água (28 a 32°C), tilápias
o efeito dos níveis de alimentação sobre me recomendado por Kubitza (Revista de 5g devem atingir o peso de 100g entre
o crescimento e a conversão de tilápia. Panorama da Aqüicultura, vol. 9, nos. os 60 a 70 dias de recria em viveiros com
Níveis de alimentação entre 4 a 2% do 52 e 53 1999). Deve ser esperada uma plâncton. Se isto não ocorrer, confira as
PV ao dia podem parecer, à princípio,
insuficientes para peixes entre 5 a 100
gramas. No entanto, não deve ser esque-
cido que os peixes consomem plâncton
o tempo todo, complementando o nível Tabela 2. Influência da taxa de
de ingestão de alimentos. A conversão alimentação diária sobre o ganho
alimentar na recria em tanques com de peso (GDP) e conversão ali-
mentar (Conv. alim.) de alevinos
plâncton deve ficar abaixo da unidade, de tilápia do Nilo em aquários
com valores de 0,8 sendo bastante co- (Xie et al 1997) e de tilápia ver-
muns. Se isto não se confirmar, pode melha da Flórida, híbrido entre
estar ocorrendo problemas na qualidade O. hornorum e O. mossambicus,
cultivadas em tanques-rede (Cla-
da ração, qualidade da água, manejo rk et al 1990).
alimentar, produção de plâncton, qua-
lidade dos alevinos, doenças, ou baixas
temperaturas.
Quando a biomassa nos viveiros
ultrapassar os 4.000 kg/ha, o plâncton

34
34
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

densidades de estocagem, a qualidade peratura. A conversão


da água e das rações, a abundância de alimentar deve ficar
alimento natural, o manejo alimentar e entre 1,2 a 1,5. Se o
a qualidade dos alevinos. objetivo é produzir
mais do que 6.000 kg
Manejo alimentar na recria (5 a 100g) de tilápia/ha, a partir
em tanques-rede e raceways. desta biomassa é re-
Em tanques-rede e raceways a comendável o uso de
disponibilidade de alimento natural é uma ração suplemen-
limitada e os peixes estão submetidos tada com minerais
a uma maior pressão de produção e e vitaminas e com Tabela 4. Recomendações da taxa de alimentação para tilápias cultivadas
estresse. Portanto, é recomendável maior concentração em sistemas de recirculação e raceways (Rakocy 1989).
que as rações sejam mais concentra- protéica (28 a 32%)
das em proteínas (36 a 40%), energia e energética (2.800 a
digestível (3.200 a 3600 kcal/kg) e 3.000 kcal/kg). Deve
recebam um enriquecimento mineral se esperar uma piora
e vitamínico ainda maior, conforme nos índices de conversão alimentar (1,5 Tabelas de alimentação para tilápias.
sugerido na Tabela 1. Descuido com a 1,8) e uma redução na velocidade de As tabelas de alimentação podem auxiliar
estes detalhes pode resultar em grandes crescimento, devido à diminuição no no ajuste da quantidade de ração fornecida
perdas econômicas devido ao reduzido plâncton disponível e a progressiva as tilápias. No entanto, devemos ter em
crescimento e conversão alimentar, aos redução na qualidade da água. mente que outros fatores diferentes da
distúrbios nutricionais e a uma maior temperatura e do tamanho dos animais
susceptibilidade dos peixes às doenças. Manejo alimentar na engorda (100 a podem influenciar o consumo de alimento
A taxa de alimentação diária deve ser 600g) em tanques-rede e raceways. em tilápias. Assim, o piscicultor deve ficar
ajustada para 6 a 3% do peso vivo ao Nestas condições devem ser usa- bem atento ao manejo da alimentação,
dia, do início ao final desta fase. Esta das rações com 32 a 36% de proteína e ajustando o arraçoamento de acordo com
quantidade de alimento deve ser dividi- 2.900 a 3.200 kcal ED/kg. O enrique- a resposta dos peixes e com as alterações
da em 3 refeições. O consumo pode ser cimento mineral e vitamínico deve ser na qualidade da água.
aferido periodicamente alimentando os dobrado. O arraçoamento diário varia de
peixes tudo o que eles puderem consu- 3 a 1,5% do peso vivo, sendo dividido Nutrição e manejo alimentar de reprodutores
mir durante dois ou três dias. Utilizando em 3 a 2 refeições do início ao fina
a média de consumo nestes dias, a taxa desta fase. A expectativa de conversão Para a produção de pós-larvas e
de alimentação deve ser ajustada para alimentar é de 1,4 a 1,8. Sob condições alevinos de tilápias em quantidades e qua-
80 a 90% deste valor. Quando o objeti- adequadas de temperatura (28 a 32°C), lidade que supram a crescente demanda de
vo for máximo crescimento, mesmo em são necessários 120 a 130 dias para as mercado, é preciso atenção especial no que
detrimento da conversão alimentar, os tilápias alcançarem 600g. diz respeito à nutrição de reprodutores. A
peixes devem ser alimentados à vonta- intensa coleta de pós-larvas ou ovos gera a
de. A conversão alimentar nesta fase
deve girar entre 1,1 e 1,3.

Manejo alimentar na engor-


da (100 a 600g) em viveiros
com plâncton.
Durante a engorda em
viveiros até aproximadamente Tabela 3. Recomen-
6.000 kg/ha, o piscicultor pode dações gerais da taxa
de alimentação e do
utilizar rações sem suplemen- número de refeições
tação mineral e vitamínica, por dia (Ref./dia) na
com 24 a 28% de proteína e produção da tilápia em
energia digestível de 2.600 tanques-rede usando
ração flutuante com
a 2.800 kcal/kg. O nível de 32% de proteína bruta,
arraçoamento deve ficar entre sob diferentes condi-
2 a 1% do peso vivo ao dia, ções de temperatura
do início ao final desta fase, da água (adaptado de
Schmittou, sem data).
dividido em 2 refeições. O
tempo necessário para que as
tilápias alcancem 600g não
deve ultrapassar 110 dias sob
condições adequadas de tem-

35
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

necessidade de fornecer aos reprodutores um


alimento nutricionalmente completo. A seguir
são resumidos o resultados de alguns estudos
sobre o efeito da nutrição no desempenho
reprodutivo de tilápias:

Tilápia de Moçambique O. mossambicus:

• Rações deficientes em vitamina C resul-


tou em reduzida taxa de eclosão, aumento na
proporção de embriões deformados, atraso no
crescimento e redução na sobrevivência das Tabela 6. Efeito do tipo de alimento no desempenho produtivo da Tilápia
pós-larvas e dos alevinos (Tabela 5). de Moçambique (adaptado de Uchida e King 1960).

Híbridos vermelhos de tilápia (Oreochromis spp.)

• Eguia (1996) observou uma produção de 6


a 12 pós-larvas/fêmea/dia em fêmeas de tilápia
vermelha soltas em tanques e alimentadas com
ração contendo 42% de proteína. Estes números
não passaram de 2 pós-larvas/dia em fêmeas
abrigadas em happas e que não foram alimentadas
com ração.

Tabela 5. Efeito da suplementação ou não de rações com ácido


ascórbico sobre o desempenho reprodutivo e o desenvolvimento

Inverno?
das pós-larvas de tilápia de Mossambique, Oreochromis mos-
sambicus (Soliman et al. 1986).

• Uchida e King (1960) observaram que reprodutores de Tilápia Previna-se contra


de Moçambique alimentados com ração para peixes (25%PB), os males do frio
produziram 6 vezes mais pós-larvas comparados a reprodutores
alimentados com ração para coelho (16% PB) e, 14 vezes mais que com PROPEIXE !
reprodutores alimentados com um subproduto da moagem de trigo
(12%PB; 10% fibra), conforme apresentado na Tabela 6. Ao tratar seus tanques de Piscicultura com PROPEIXE você
estará protegendo seus peixes contra sérias doenças típicas do
inverno causadas pelas bruscas variações de temperatura.
Tilápia-do-Nilo Oreochromis niloticus
Lembre-se: a prevenção é sempre o melhor remédio!
• Baixos níveis de proteína na ração resultou em atraso na
maturação sexual (puberdade) e no desenvolvimento e maturação Com PROPEIXE, um produto isento de resíduos tóxicos, você
dos oócitos (Gunasekera et al 1995) melhora a alcalinidade e dureza da água e consegue facilmente
o equilíbrio do pH da água e do solo. De modo natural e eco-
• Machos alimentados com ração contendo farelo de algodão nômico você torna o ambiente de seus viveiros mais resistente
apresentaram atraso na maturação dos testículos e redução no e favorável ao pleno desenvolvimento dos seus peixes.
número e na motilidade dos espermatozóides (Salaro et al 1998a). O PROPEIXE substitui a calagem tradicional atuando
também com eficiência na eliminação de fungos e bactérias,
Em fêmeas houve atraso e diminuição do número de desovas agindo sobre sanguessugas e Lernaea, um ectoparasita
(Salaro et al 1998b). Estes efeitos foram atribuídos ao gossipol, responsável por elevadas mortalidades.
fator anti-nutricional presente no farelo de algodão.
PROPEIXE a garantia da boa qualidade do solo, da água e do peixe!
• Rações contendo 40% de farelo de folhas de leucena resultou
em redução na produção de pós-larvas e no peso corporal das fêmeas. DIVISÃO AGROPECUÁRIA
Est. Velha de Itú, km. 4 - B. Sete Quedas - C.P. 353 - Cep 13001-970 - Campinas - SP
Estes efeitos foram atribuídos à mimosina, composto anti-nutricional
PABX: (019) 227-2033 Fax: (019) 227-2396 E-mail: campical@correionet.com.br
presente na leucena (Santiago et al 1988).
Estamos cadastrando distribuidores, representantes ou agentes para todo o Brasil

36
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

Juvenis de tilápia-do-Nilo com olhos opacos e saltados (exoftalmia). O corpo dos


peixes se encontra escurecido e podem ser observadas áreas despigmentadas e lesões
superficiais na pele. Um quadro com sinais clínicos externos semelhantes à septicemia
por Streptococcus. A exoftalmia, a opacidade da córnea e o corpo escurecido também
são sinais freqüentes em deficiências nutricionais. Assim, a confirmação das infecções
por Streptococcus exige o isolamento desta bactéria em meios de cultura específicos.

38
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

PRINCIPAIS PARASITOSES
E DOENÇAS EM TILÁPIAS
D oenças e parasitoses diversas são susceptibilidade das tilápias às parasitoses
observadas no cultivo de tilápias. e doenças dependem de diversos fatores,
Embora algumas doenças ou parasitoses entre muitos: a espécie ou linhagem de
sejam mais freqüentes que outras, ainda não tilápia; as condições de qualidade da água e
foram identificados parasitos ou patógenos a carga orgânica nas unidades de produção;
específicos para as tilápias. Os patógenos o estado nutricional dos peixes; e, princi-
e parasitos coexistem com as tilápias no palmente as condições de temperatura da
ambiente de cultivo. Qualquer desequi- água. Condições sub-ótimas de temperatu-
líbrio causado pelo uso de densidades de ra aumentam a predisposição das tilápias às
estocagem excessivas, pela inadequada doenças e parasitoses. Temperaturas baixas
manutenção da qualidade da água, má inibem a resposta imune e a habilidade dos
nutrição e o manuseio grosseiro, aumenta peixes em reagir a diferentes antígenos. A
a incidência de problemas com doenças. A resposta imune das tilápias é praticamente

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Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

inibida sob temperaturas ao redor de 16 a em particular, há uma mistura das águas e que a infestação ocorra em órgãos vitais.
18ºC. Nestas condições a atividade bac- de diferentes tanques de produção, favo- Alguns parasitos, no entanto, se alimentam
teriana também é reduzida. No entanto, recendo a distribuição dos patógenos por do sangue dos peixes e podem causar lesões
quando ocorre uma elevação da temperatu- todo o sistema. Isto favorece os surtos de bem severas, mesmo quando presentes em
ra ambiente, as bactérias retomam sua ati- doenças, podendo causar consideráveis pequenos números. Seus danos também são
vidade de forma mais rápida comparado à perdas econômicas. mais severos em peixes menores. Muitos
habilidade dos peixes em restaurar de forma parasitos infestam as brânquias, dificultando
eficiente o funcionamento do seu sistema Principais parasitos das tilápias a respiração dos peixes, causando a morte dos
imunológico. Isto explica a maior incidên- mesmos por asfixia.
cia de doenças em tilápias nos períodos de Diversos parasitos externos e inter-
inverno e início da primavera. As tilápias nos causam problemas no cultivo de tilá-
cultivadas sob condições de temperatura pias. Estes parasitos normalmente estão
entre 23 a 32ºC, são menos propensas às presentes na água, e se aproveitam de
parasitoses e doenças, a não ser quando são alguma situação de estresse causada
submetidas à água de má qualidade, a um pelo abaixamento da temperatura,
manejo nutricional e alimentar inadequado má qualidade da água, má nutrição
e a um manuseio grosseiro. Assim, a quali- ou manuseio inadequado, que re-
dade do manejo da produção é fundamental duzem a resistência das tilápias.
para o sucesso no cultivo. A intensificação O acúmulo de material orgânico
no cultivo de tilápias cria condições para nos viveiros e tanques durante o
uma maior ocorrência de doenças. Os sis- cultivo pode favorecer o aumento
temas de recirculação de água, o cultivo na população de alguns parasitos,
em raceways e em tanques-rede são mar- gerando desequilíbrios na relação
cados pelas altas densidades de estocagem peixe-parasito-ambiente. As lesões
e intenso arraçoamento. Isto aumenta o causadas por estes parasitos geralmente
contato entre os peixes e a transmissão dos não são tão severas, a não ser que um Figura 1: Hifas de Fungos (Saprolegnia) em
patógenos. Em sistemas de recirculação, grande número de parasitos esteja presente tilápia do Nilo. Esfregaço de pele visto ao
microscópio (400X)

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Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

Protozoários parasitos: a) são organismos microscópicos e unicelulares; b) a maioria respiração e causa asfixia; h) Tratamento
se multiplica sem a presença do hospedeiro; c) se beneficiam do aumento na carga (ver Tabela 7): formalina por tempo indefi-
orgânica da água; d) ocorrência comum em cultivo intensivo; e) geralmente são en- nido nas concentrações de 15 a 25ml/m3, em
contrados em pequenas quantidades em tilápias aparentemente sadias; f) alterações 3 a 4 aplicações com intervalos de 3 dias;
bruscas na qualidade do ambiente favorecem grandes infestações. Diversos tipos de sal a 1%, em 3 a 4 tratamentos espaçados
protozoários foram isolados de tilápias em cultivo intensivo durante infestações de a intervalos de 3 dias (viável em sistemas
intensidade variável. A seguir é apresentado um resumo das principais características de recirculação e em aquários); elevar a
de alguns destes organismos e suas infestações em tilápias: temperatura acima de 30°C prejudica a
reprodução do parasito.

PROTOZOÁRIOS PARASITOS DE TILÁPIAS Chilodonella sp: a) infestações mais fre-


qüentes quando as tilápias são submetidas
à condições de estresse, após o manejo
inadequado, nutrição desbalanceada e
queda na temperatura da água; b) estresse
por elevada temperatura também pode fa-
vorecer a infestação por Chilodonella; c) é
um protozoário ciliado, de formato ovóide
à semelhança de um coração; possui 8 a
15 fileiras paralelas de cílios na superfície
ventral da célula; é um parasito obrigatório
e se alimenta das células epiteliais (pele)
dos peixes; d) pode se alojar em cistos,
sobrevivendo por grande período na água
ou no substrato dos viveiros e tanques; e)
se reproduz por divisão binária e as for-
mas jovens podem nadar e infestar outros
peixes; f) sinais clínicos: pruridos e lesões
cutâneas; aumento na secreção de muco;
causam inflamação no tecido branquial,
fusão das lamelas secundárias, dificuldades
respiratórias e morte dos peixes por asfixia;
O parasita encistado na pele, ao g) diagnóstico: facilmente identificada
O cisto maduro se rompe, liberando atingir a maturidade, abandona o em raspados de muco e brânquias vistos
milhares de formas infestantes, os corpo do peixe para multiplicação.
“terontes”. Os terontes se encistam na Aloja-se no fundo dos viveiros ou ao microscópio; h) controle: corrigir os
epiderme, onde vivem se alimentando em qualquer substrato disponível desequilíbrios ambientais (no caso de
dos fluídos celulares e das células das e começa a se dividir por fissão
tilápias. Cada cisto tem a aparência de celular.
baixas temperaturas, pouco pode ser feito
um ponto branco. em áreas abertas, embora em sistemas de
recirculação o controle de temperatura
pode ser viável); terapia com formalina, na
concentração de 25 a 50ml/m3, aplicada por
tempo indefinido e, se houver necessidade,
repetir o tratamento após 4 a 5 dias.

Tricodinídios (Trichodina e Tripartiella):


a) estão presentes em todos os ambientes de
cultivo e geralmente ocorrem em pequeno
número nos peixes; b) nas Filipinas foram
registradas 5 espécies de Tripartiella infes-
Ichthyophthirius multifiliis: a) causa a susceptíveis que peixes adultos; f) peixes tando as brânquias de tilápias; c) maiores
“Ictiofitiríase” ou “Doença dos Pontos que se recuperam de infestações moderadas problemas em pós-larvas e alevinos, porém
Brancos”; b) perdas significatvas em desenvolvem resistência; g) Sinais clínicos: podem causar mortalidade severa em tilá-
regiões com inverno bem marcado; c) pontos brancos visíveis a olho nu na pele, pias de maior porte, quando estes peixes
apresenta célula ovóide recoberta por cí- nadadeiras e brânquias auxiliam no diag- são expostos à água de inadequada quali-
lios, diâmetro entre 0,5 a 1,5 mm e núcleo nóstico; excesso de produção de muco e dade e excessiva carga orgânica; d) baixas
na forma de “ferradura” ou “C”; d) maior prurido nos peixes; lesões na pele favorece temperaturas favorecem as infestações;
incidência durante em meses de tempera- infecção bacteriana ou fúngica seundária; após o inverno, a elevação na temperatura
turas amenas; e) peixes jovens são mais infestação severa nas brânquias dificulta a leva a uma rápida multiplicação dos para-

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Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

melhante a cachos de uvas; g) Sinais clínicos: infestações severas


Figura 2: levam a uma excessiva produção de muco; hiperemia e lesões na
Ichthyophthirius multifiliis pele; insfestação pesada no opérculo pode dificultar o batimento
de raspado de brânquias de opercular e a respiração; Epistylis formam colônias com aspecto de
tilápia visto ao microscópio.
Notar o núcleo em forma de pus nos raios duros das nadadeiras dorsais e também sobre o corpo;
“ferradura“. infestações nas brânquias podem causar asfixia; h) diagnóstico:
feito através do raspado de pele e brânquias e posterior visualização
ao microscópio; i) controle: manutenção de adequada qualidade
da água, bons níveis de oxigênio e redução da carga orgânica nos
tanques e viveiros; estes parasitos são facilmente combatidos com
sitos, que se beneficiam do estado debilitado dos peixes que formalina a 170ml/m3 em banho de 1 hora se a temperatura da água
ainda não se recuperaram do estresse causado pelas baixas estiver próxima a 14°C; para controle de Ambiphrya (Scyphidia)
temperaturas; e) os Tricodinídios são um problema particular pode se usar o sal comum (cloreto de sódio) na concentração de
em tilápias que protegem as larvas na boca; estes ciliados 0,5 a 1% por tempo indefinido; as tilápias toleram bem estas con-
se alojam na cavidade bucal e infestam as larvas; f) os tri- dições de salinidade, sendo que algumas espécies se adaptam bem
codinídios apresentam a forma de um disco; o diâmetro da a salinidade equivalente a água do mar (3,6%).
célula geralmente está entre 40 a 60mm; a célula é circundada
por cílios que auxiliam na locomoção e alimentação dos
parasitos; g) possuem uma estrutura de fixação compostas Ichthyobodo: a) se manifesta quando o peixe é submetido a con-
por dentículos, que auxilia na aderência à pele, nadadeiras dições ambientais desfavoráveis (altas densidades, inadequada
e brânquias; se alimentam filtrando o material orgânico pre- qualidade da água, deficiências vitamínicas, ou peixes já acometidos
sente na água; o acúmulo de resíduos orgânicos nos viveiros por outras infecções); b) pode causar mortalidade severa em tilápias,
e tanques favorece o aumento da população destes parasitos; principalmente em pós-larvas e alevinos, infestando até mesmo
altas densidades de estocagem aumentam o contato entre os os ovos em incubação; c) em tilápias maiores, o Ichthyobodo se
peixes e favorece a infestação; h) a reprodução destes para-
sitos ocorre por fissão binária (simples divisão em dois); i)
sinais clínicos: excessiva produção de muco; prurido, corpo
de coloração escura; lesões na pele favorecem a infestação
secundária por fungos e bactérias; inflamação das brânquias
e dificuldade respiratória, podendo culminar com massiva
mortalidade dos peixes por asfixia; a mortalidade é maior
em peixes mais jovens, principalmente quando ocorre uma
infecção bacteriana secundária; j) diagnóstico: a identifi-
cação dos tricodinídios é relativamente fácil uma vez que
possuem aparência peculiar e inconfundível; raspado de pele
e brânquias são examinados ao microscópico; k) controle:
manutenção de adequada qualidade da água, bons níveis de
oxigênio e redução da carga orgânica nos tanques e vivei-
ros; tratamento com formalina na concentração de 170 a
250ml/m3 em banhos de 30 minutos a 1 hora; formalina na
concentração de 15 a 25ml/m3 por tempo indefinido; sal em
banhos de 30minutos a 1 hora 2,5 a 3%; tilápias toleram altas
concentrações de sal; permanganato de potássio em banhos
de 10 a 15 minutos na concentração de 5g/m3.

Epistylis sp, Ambiphrya (Scyphidia sp) e Apiosoma sp.: a) se


desenvolvem em grande número em ambientes com grande
carga orgânica; b) tilápias submetidas a estresse térmico po-
dem sofrer grande infestação por estes parasitos; são mais fre-
qüentes em alevinos; c) estes protozoários são sésseis (fixos),
apresentam tamanho entre 40 a 100mm e possuem cílios em
um arranjo circular na extremidade da célula; d) se fixam à
pele, nadadeiras e brânquias dos peixes através de uma haste
transparente e se alimentam de partículas orgânicas em sus-
pensão na água; e) a reprodução ocorre por fissão binária; f)
a distinção entre estes três gêneros é fácil de ser realizada, Tabela 7. Produtos e formas de tratamento usados na prevenção
com base no formato do corpo e na aparência do núcleo; o e controle de parasitos, fungos e bactérias em tilápias.
Epistylis sp é o único que forma colônias, com aspecto se-

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Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

aproveita da queda da resistência associada ligeiramente esverdeada; em seu interior


a alguma condição de estresse, particular- podem ser observados os dinosporos, Figura 3:
Edema em brânquias
mente sob temperaturas abaixo de 25°C; que são formas flageladas e móveis; o de tilápia causado
d) este parasito não tolera temperaturas ciclo de vida é semelhante ao do Íctio.; por infestação maci-
acima de 30°C; e) o Ichthyobodo é um as infestações são mais comuns quando a ça por Chilodonella
sp.
dos menores ectoparasitas que infectam temperatura está ao redor de 23 a 25°C.
os peixes (diâmetro ao redor de 5-8 x 10- Infestações em tilápias são mais comuns
15mm); tem formato esférico e piriforme; quando estas são estocadas em alta
f) se fixa ao hospedeiro com o auxílio de densidade, mal nutridas e submetidas a
um disco adesivo; possui 4 flagelos com uma água de má qualidade e alta carga
movimentos rápidos e que podem ser orgânica; c) o Amyloodinium é um dino-
observados ao microscópio; g) apresenta flagelado parasito de tilápias e em água doses de acordo com a alcalinidade total
grande potencial reprodutivo e um caráter salobra ou salgada; o parasito adulto (tro- da água (Tabela 7); o Piscinoodinium é
oportunista; h) sinais clínicos: encontra- fontes) tem diâmetro entre 50 a 350mm; bastante tolerante ao sal comum (cloreto
dos na pele (geralmente nos espaços entre seu ciclo de vida também é semelhante de sódio) e ao tratamento com formalina.
escamas), nas nadadeiras e nas brânquias ao ciclo do Íctio, sendo completado em 5 Muitos problemas com oodiniose ocorrem
de tilápias em água doce e salgada; causam dias a uma temperatura de 25°C; também em águas com alta transparência. A en-
lesões de pele similares às lesões causadas possui rizóides como o Piscinoodinium; a trada de luz favorece o desenvolvimento
por outros protozoários; infestação severa temperatura ideal para o desenvolvimento destes parasitos clorofilados. Assim, uma
nas brânquias podem causar a morte dos do Amyloodinium varia de 23 a 27°C; as medida prática que tem apresentado bons
peixes por asfixia; i) diagnóstico: feito infestações não são observadas a tempe- resultados no controle do Piscinoodinium
com a visualização, sob microscopia, de ratura abaixo de 17°C; d) sinais clínicos: em viveiros é o estímulo da formação
material raspado da superfície do corpo estes parasitos se fixam na pele das tilá- do fitoplâncton através da diminuição
(muco e pele) e das brânquias; j) con- pias, causando irritação e grande produção do fluxo de água, aplicação de calcário
trole: medidas preventivas como as já de muco que confere ao corpo um aspecto quando necessário e adubação química
sugeridas para outras parasitoses devem aveludado ou ‘’empoeirado”. Daí o nome dos viveiros ou mesmo a manutenção do
ser aplicadas; tratamento terapêutico é comum de “veludo” dado a infestação por arraçoamento se os peixes ainda estiverem
feito com sal comum na concentração de estes dinoflagelados; também se aloja no se alimentando.
0,5 a 1%; o Ichthyobodo apresenta caráter tecido branquial, sendo que infestações
eurialino e pode resistir a alta salinidade; severas dificultando a respiração, fazendo Esporozoários (Mixosporídios): a) são
formalina ou permanganato de potássio com que os peixes fiquem boquejando na endoparasitas pertencentes ao filo Myxo-
nas concentrações e formas de aplicação superfície da água e possam morrer por zoa, família Myxobolidae (Myxobolus e
recomendadas na Tabela 7. asfixia; a infestação pode atingir os olhos Henneguya); foram observados cistos cutâ-
e os parasitos podem penetrar debaixo neos com microsporídos em alevinos de
Piscinoodinium e Amyloodinium: a) o da pele e se alojar no tecido subcutâneo, tilápia de Moçambique (O. mossambicus);
Piscinoodinium é considerado um pro- favorecendo a ocorrência de infecções infestações severas por Henneguya sp.
blema potencial no cultivo de tilápias bacterianas secundárias; e) diagnóstico: foram observadas em ciclídeos nativos na
em água doce em diversos países; é um é feito através da observação de raspados América do Sul; os mixosporídios podem
dinoflagelado de formato arredondado ou de pele ou de brânquias ao microscópio ser encontrados em tilápias em ambientes
amebóide (formato de pêra) e tamanho ou em exame histopatológico da pele ou naturais, mesmo sem que os peixes apre-
entre 30 a 140 mm; possui um aparato de brânquias contendo alguma fase dos pa- sentem qualquer sinal patológico evidente;
fixação denominado rizocisto (com a apa- rasitos; profissionais pouco familiarizados sob condições de cultivo intensivo, as
rência de raízes) que penetra no tecido do com estes parasitos podem realizar diag- infestações por mixosporídios podem ser
hospedeiro; é um organismo clorofilado, o nósticos imprecisos; f) controle: não é mais freqüentes; b) a infestação ocorre com
que lhe confere fácil; melhor prevenir assegurando a liberação dos esporos dos microsporídios
uma coloração uma boa qualidade da água nos que estão presentes nas cartilagens dos
tanques e viveiros, mantendo os peixes mortos e em decomposição; esporos
peixes bem nutridos e ajustando também podem ser liberados diretamente
corretamente a densidade de de peixes vivos; antes de estarem aptos
estocagem dentro dos limites para a infecção, os esporos necessitam
adequados para o sistema de passar por um período de potenciação
cultivo; alguns profissionais nos sedimentos; c) Myxobolus cerebralis
mencionam que a elevação da causa a doença de “whirling” ou “doença
Figura 4: temperatura da água para 32 - do rodopio”; este parasito parece estar
Hemorragia intestinal (presença de gran- 34°C, onde possível, auxilia no controle disseminado no mundo todo e já foram
de quantidade de fluído sanguinolento nas da infestação; o sulfato de cobre também observadas infestações em várias espé-
alças intestinais) em tilápia vermelha.
pode ser uma opção de tratamento em cies de peixes, inclusive em tilápias em

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Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

ambientes naturais; ocorre na forma de cistos repleto de esporos


Cursos Avançados em Piscicultura
em Jundiaí - SP
localizados nos tecidos; a severidade da doença é maior em peixes
jovens; possui ciclo de vida complexo, envolvendo um hospe- Instrutor: Fernando Kubitza, Ph.D.,
deiro vertebrado (o peixe) e um invertebrado (o anelídeo Tubifex especialista em Nutrição e Produção de Peixes
tubifex); os esporos apresentam formato oval a circular e variam
muito de tamanho, geralmente com 7 a 10mm de comprimento 1 - Técnicas de Transporte de Peixes Vivos
por 7 a 10mm de largura e 6 a 8mm de espessura; c) Henneguya: Dias: 15-16/09/00
inúmeras espécies de Henneguya foram encontradas em peixes de • Fisiologia aplicada ao transporte.
água doce; em tilápias há muitas referências de infestações por • Fatores que o transporte.
este parasito; a Henneguya apresenta um envelope de formato oval • Condicionadores e profiláticos.
• Tanques e Equipamentos.
e alongado, no interior do qual estão alojados dois esporos ovais • Procedimentos rotineiros.
ou fusiforme; do envelope são projetados dois longos processos • Cargas para alevinos e peixes adultos vivos.
caudais semelhantes a um chicote, conferindo ao parasito a apa- • Previsão do consumo de oxigênio no transporte.
rência de um espermatozóide; o tamanho dos esporos varia de 8 Prático: Ensaios dinâmicos de transporte; difusores e equipamentos;
a 24mm de comprimento e o processo caudal de 20 a 45mm; d) condicionadores e profiláticos.
sinais clínicos: cistos na pele e nas brânquias; também podem ser 2 - Reprodução e Reversão Sexual de Tilápias
encontrados cistos no fígado, intestino, músculos, coração, rim, Dias: 20-21/10/00
baço e outros tecidos; dentro destes cistos podem ser encontra- • Estratégia de produção em larga escala e reversão sexual de pós-
dos milhares de mixosporídios; infestações nas brânquias podem larvas de tilápias: manejo da reprodução.
levar a uma oclusão da circulação branquial, necrose e disfunção • Instalações e estratégias usadas na reversão sexual.
• Preparo da ração e Manejo Alimentar.
respiratória; quando alojados nos músculos, os parasitos parecem Prático: Preparo de ração; sexagem de reprodutores; coleta e clas-
ter pouco efeito sobre o hospedeiro; relatos de grande mortalidade sificação de pós-larvas; instalações para reversão; avaliação do
de tilápias por infestações de microsporídios não freqüentes na sucesso da reversão.
literatura; no entanto, em alguns sistemas intensivos com recir-
culação de água nos Estados Unidos, os microsporídios estão 3 - Qualidade da Água na Produção de Peixes
Dias: 10-11/11/00
associados a consideráveis perdas econômicas no cultivo deste • Controle e manejo da qualidade da água.
peixe; o movimento típico de rodopio em infecções por Myxobolus • Efeitos da Intensificação do cultivo, rações e arraçoamento na
cerebralis resulta da destruição, pelo parasito, dos nervos cerebrais qualidade da água.
ligados à coordenação motora; lesões na coluna vertebral, com • Sistemas de aeração: dimensionamento e operação.
curvatura do tronco e da cauda, estão freqüentemente associadas Campo: Ensaios e equipamentos para controle da qualidade da água;
discussões de problemas práticos.
a destruição do tecido cartilaginoso onde se alojam os cistos com
os esporos dos parasitos; o escurecimento da parte posterior do
tronco dos peixes também parece estar associado a destruição de
nervos associados com o controle da pigmentação do corpo; outros
sinais indicativos ocorrência de infestaçõpes por Myxobolus são as Novo Lançamento
deformidades corporais em peixes que sobreviveram as infecções AQUA & IMAGEM
(má formação e retração do opérculo, a curvatura da coluna verte-
bral e a mal formação da mandíbula); peixes com aspecto sadio e
aparentemente não infectados, podem ser portadores dos esporos
de mixosporídeos; infestações por Myxobolus cerebralis ou por ACQUA ANÁLISES
Henneguya podem reduzir a imunidade das tilápias, tornando-as
mais susceptíveis a bactérias, fungos e a infestação por
A simplicidade e confiança que você esperava em um
outros parasitos; e) diagnóstico: feito a partir de
raspados das lesões e cistos, observando a
kit de análises para monitorar e corrigir a qualidade da
presença de esporos sob microscopia; água em sua piscicultura!!
a “doença do rodopio” também

Horário: Sextas e Sábados das 8:00 às 18:00hs;


Domingo (alguns cursos) das 8:00 às 12:00 hs
Inscrição: Incluído material didático e almoços (sexta-feira e sábados):
R$ 300,00 com 7 dias de antecedência ao curso;
R$ 350,00 na semana que antecede, ou no dia do curso.
Figura 5:
Tilápia do Nilo com Conta para depósito: Banco Itaú- Agência 1586 c/c 08120-8
lesão ulcerativa no Os dados para inscrição deverão ser enviados junto ao comprovante
opérculo causada de depósito para o fone/fax: (11) 7397-2496
por infestação de
fungo e bactéria. Aqua & Imagem Serviços
aquaimg@zaz.com.br

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Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

pode ser diagnosticada com um relativo e nas nadadeiras, embora


grau de convicção com base nos sintomas, possa se instalar nas brân-
antes do desenvolvimento dos esporos; o quias dos peixes; infestação
diagnóstico definitivo é feito através de pesada pode causar irritação
exame histopatológico da cabeça, carti- na pele, fazendo com que
lagem vertebral ou brânquias dos peixes o peixe fique letárgico e
e posterior identificação dos esporos; f) frequentemente se esfre-
controle: não há terapia para esta doença; gue no fundo e nas laterais
a prevenção pode ser feita evitando a intro- dos tanques; o movimento
dução de peixes portadores de esporos na destes vermes sobre a pele
piscicultura; peixes adquiridos devem ser pode ser observado mesmo Figura 8: Tilápia com lesão fúngica na cabeça.
submetidos a quarentena; equipamentos e a olho nu; c) Dactylogyrus
tanques devem ser desinfectados quando sp: facilmente reconhecido
suspeitar da ocorrência de mixosporídios; pela presença de 4 manchas
em alguns países como nos Estados Uni- oculares (4 olhos) e “haptor” com um par microcrustáceos da família Branquiurea; b)
dos, a ocorrência de mixosporídios deve ser de ganchos pequenos e 14 ganchos meno- estes microcrustáceos já foram observados
obrigatoriamente notificada às autoridades res marginais; não gera embriões; a sua infestando tilápias; c) infestações por estes
sanitárias; constatado um foco da doença, reprodução é feita através da liberação de parasitos depreciam valor comercial dos
alguns procedimentos são adotados: incine- ovos, dos quais eclodem larvas ciliadas peixes e podem abrir caminho para doenças
ração dos peixes que estão com a doença ou que se desenvolvem em formas adultas e, fúngicas e bacterianas secundárias, que
com esporos dos parasitos; desinfecção de posteriormente, invadem outros peixes. O resultam em considerável mortalidade; c)
incubadoras e equipamentos; drenagem e Dactylogyrus é encontrado nas brânquias estes organismos utilizam estruturas especí-
desinfecção dos tanques para a erradicação dos peixes; d) sinais clínicos: ocorrem na ficas de fixação no hospedeiro, causando le-
dos esporos. superfície do corpo, nadadeiras e brânquias; sões na pele e brânquias; infestações severas
aumento na produção de muco, peixes letár- nas brânquias pode resultar em asfixia nos
Trematodos monogenéticos: a) são ecto- gicos e boquejando na superfície; infestação peixes; o Argulus em particular, se alimenta
parasitas do grupo dos platelmintos; pos- severa nas nas brânquias resulta em infla- dos fluídos dos peixes com o auxílio de um
suem uma estrutura de fixação denominada mação do epitélio branquial e ruptura rostro; pode servir como vetor de vírus e
dos capilares sanguíneos, prejudicando bactérias; infestações por Argulus resultam
MIXOSPORÍDIOS a respiração e levando os peixes à morte em anemia, redução no crescimento e até
por asfixia; e) diagnóstico: feito atra- mesmo na perda de peso dos animais; d)
vés do raspado da superfície do corpo Lernaea sp.: várias espécies de Lernaea
ou das brânquias dos peixes e exame afetam os peixes; possui ganchos especiais
do material coletado sob microscopia. na região cefálica os quais penetram na
Há a possibilidade de se fazer a iden- musculatura dos peixes; apenas a região
tificação do parasita diretamente nas caudal, com aspecto de verme, é visível
brânquias através do uso de uma lupa externamente; vários órgãos podem ser
de mão; f) controle: manter os peixes invadidos pelos processos cefálicos quando
bem nutridos e garantir adequada a infestação do parasito ocorre na região
qualidade da água, ajustando corre- abdominal; mortalidade de tilápias devido
tamente as densidades de estocagem a infestações por Lernaea foram registradas
e evitando grandes cargas orgânicas
nos viveiros e tanques; banhos com TREMATODOS
“haptor”, a qual é equipada com ganchos; formalina a 170-250ml/m3 por 1 hora em
o Gyrodactylus sp e Dactylogyrus sp. são tanques e aquários; formalina por tempo
MONOGENÉTICOS
os monogenéticos mais freqüentes em indefinido 25ml/m3 em tanques e viveiros;
tilápias; os problemas com estes parasitos permanganato de potássio como recomen-
aumentam com a intensificação dos siste- dado na Tabela 7; triclorfom em tratamento
mas de produção (aumento nas densidades por tempo indefinido nas doses de 0,5ml/m3
de estocagem e na carga orgânica na água (para tilápias); tratamento indefinido com
dos tanques e viveiros); b) Gyrodactylus sal nas concentrações de 0,5 a 0,75%, viável
sp: facilmente identificado pela ausência em sistemas de recirculação de água.
de olhos e pela existência de um embrião
em desenvolvimento dentro do parasito Crustáceos parasitos: a) a Lernaea cypri-
adulto (vivíparo); possui “haptor” com nacea e o Ergasilus sp são microcrustáceos
um par de ganchos longos e rodeado por pertencentes à família Copepodidae (co-
16 ganchos menores; encontrado no corpo pépodos). O Argulus sp e o Dolops sp são

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Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

em diversos países; no Brasil, infestação de fom na concentração de 0,5mg de I.A./L, bactérias patogênicas já tenham sido isola-
Lernaea em tilápias geralmente são restritas controla as fases de náuplios e os copepodi- das em tilápias, apresentaremos neste artigo
ao período do inverno, quando os peixes tos, mas sua eficiência no controle das fases apenas as mais freqüentes e importância
se apresentam debilitados com as baixas adultas é questionável. Durante o verão econômica: Streptococcus, Aeromonas
temperaturas; o ciclo de vida da Lernaea (28 a 32oC) devem ser feitas 3 aplicações e Pseudomonas e Flavobacterium co-
deve ser entendido para que as estratégias a intervalos de 7 dias entre as aplicações. lumnare.
de controle do parasito sejam mais eficazes; Nos meses mais frios (15 a 20oC) o intervalo
e) Argulus sp: mais de 100 espécies de entre as aplicações deve ser aumentado para Existem vários fatores que predis-
Argulus já foram identificadas; é conhecido 12-14 dias; tilápias são bastante tolerantes põem os peixes a infecções por bactéria
como “piolho dos peixes”; há vários relatos a doses elevadas de triclorfom; o controle (bacterioses). Dentre os principais des-
de infestação em tilápias; parece ser um químico do Argulus também é feito com o tacamos: a) má nutrição; b) inadequada
importante vetor de doenças virais e bac- uso do triclorfom; outro produto utilizado qualidade da água (baixo oxigênio dissol-
terianas; apresenta o corpo achatado e oval, no controle da Lernaea é o diflubenzuron vido e elevados níveis de amônia tóxica e
podendo medir até 1cm; f) Ergasilus sp: (dimilin), um inibidor da formação de nitrito); c) excessivo acúmulo de resíduos
ocorre frequentemente nas brânquias dos quitina, aplicado na dose de 0,05 a 0,10 orgânicos nos tanques e viveiros, o que
peixes, sendo denominados de “larvas das mg/L (0,05 a 0,1g/m3). Antes de proceder serve de reservatório e substrato para a
brânquias”; as tilápias parecem apresentar ao tratamento com estes produtos, consulte multiplicação de bactérias e outros or-
maior resistência à fixação destes parasitos um profissional experiente para melhor ganismos patogênicos; d) o abaixamento
comparados a outros peixes; embora seja esclarecer os risco envolvidos no trata- da temperatura, fator de particular impor-
um parasito pouco freqüente em tilápias, mento e sugerir as melhores estratégias tância no cultivo de tilápias em regiões
grandes infestações podem ocorrer em para solucionar o problema; com inverno bem definido; e) o manuseio
cultivos intensivos com alta densidade de grosseiro durante as despescas e as trans-
estocagem; causa hipertrofia, inflamação DOENÇAS BACTERIANAS ferências de peixes entre as unidades de
e fusão dos filamentos branquiais, dificul- cultivo; f) estresse durante o transporte
tando a respiração dos peixes mesmo sob Pelo fato de serem de fácil dissemina- vivo; g) infestações por outros parasitos.
condições de adequado oxigênio dissolvido ção e por apresentarem caráter oportunista,
na água; g) diagnóstico: os parasitos são as bactérias são importantes patógenos na Streptococcus sp.: a) a infecção por Strep-
visíveis ao olho nu e facilmente identifica- piscicultura intensiva. Embora inúmeras
dos; fases jovens (copepoditos) podem ser
identificados com o uso de estereoscópio
(lupa). h) controle: no caso da Lernaea a
melhor política e evitar a introdução de CRUSTÁCEOS PARASITOS
peixes infestados ou não adquirir peixes
de fornecedores suspeitos; o uso da qua-
rentena é recomendável antes de distribuir
os novos peixes por toda a piscicultura;
infestações por microcrustáceos não têm
sido observadas em tanques de larvicultura
e alevinagem de tilápias; uma explicação
para este fato é o hábito alimentar zooplanc-
tófago das pós-larvas e dos alevinos, que
acabam controlando as fases jovens destes
parasitos; isto abre a perspectiva de uso de
um controle biológico, particularmente da
Após fecundadas, as fêmeas da As fêmeas adultas da Lernaea
Lernaea, em tanques e viveiros de cultivo Lernaea começam a se alongar. liberam seus ovos na água. Dos
ou pesca recreativa com a estocagem Dois sacos de ovos ficam bem ovos eclodem os náuplios.
simultânea de peixes plânctófagos ou evidentes no corpo das fêmeas.

filtradores; a duração do ciclo de vida da


Lernaea depende da temperatura da água,
sendo um fator determinante da estratégia
de tratamento a ser adotada. Banhos com
sal nas concentrações de 3 a 5% durante 1 Os copepoditos, em suas formas
Os naúplios crescem e se trans-
formam em copepoditos. Estes
minuto é um tratamento eficaz para todos infestantes, vão se alojar na
passam por diversas fases de
pele dos peixes, onde crescem
os estágios da Lernaea; o Argulus não é e atingem maturidade.
desenvolvimento antes de se
instalarem nos peixes.
sensível a elevação da salinidade na água,
portanto tratamentos com sal comum são
ineficazes contra este parasito. O triclor-

50
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

ocorrer lesões na epiderme, infecções por Streptococcus e podem


Figura 8: Tilápia com lesão
fúngica na cabeça. incialmente se apresentando abrir novas perspectivas para o controle
como áreas despigmentadas, desta bactéria.
evoluindo para lesões mais
definidas; Os sinais clínicos Flavobacterium columnare: a) causa a
internos são: acúmulo de columnariose ou “doença da boca de algo-
fluído sanguinolento na ca- dão ou da cauda comida”; é uma bactéria
vidade abdominal, causando Gram-negativa, na forma de bacilos alon-
ascite (acúmulo de líquido gados (bastonetes) e móveis, encontrado
no abdômen); fluído san- em colônias na forma de colunas, daí a de-
guinolento no intestino que nominação “Columnare”; b) normalmente
é facilmente eliminado pelo habita os sistemas aquáticos e convive em
ânus após compressão abdo- pleno equilíbrio com os peixes, até que haja
minal; o fígado se apresenta algum distúrbio ambiental (má nutrição ou
pálido, o baço aumenta de piora na qualidade da água) ou pressão de
tamanho e adquire uma co- manejo (excessiva densidade de estocagem
loração escura, quase negra; e inadequado manuseio) e a resistência dos
o trato digestivo apresenta peixes seja diminuída; c) maior incidência
tococcus é uma das doenças mais sérias aparência geral avermelhada (hiperêmi- nos meses de verão; temperaturas da água
nos sistemas de cultivo de tilápias em co); o coração e o rim também podem entre 28 e 30oC são ótimas para a bactéria;
diversos países; a mortalidade é mais estar infectados; e) diagnóstico: o iso- se instala em ferimentos ou lesões corporais
severa e freqüente em sistemas intensi- lamento da bactéria é feito com o uso de causadas aos peixes durante o manuseio
vos de criação, principalmente onde há meios de cultura seletivos como o BHI, (despesca, pesagem, transporte e descarre-
um manejo inadequado da qualidade da o TSA e o Todd-Hewitt; um diagnóstico gamento) ou por parasitos, bem como em
água e da nutrição dos peixes; b) é uma presuntivo pode ser realizado com a injúrias nas brânquias causadas por infes-
bactéia Gram positiva com formato detecção de coccus Gram positivos no tações parasitárias ou por um aumento na
esférico (cocos), encontrada nos mais exame histológico do tecido infectado ou turbidez mineral da água; a tilápia-do-Nilo
diversos ambientes; causa infecção em em esfregaços; f) controle: para evitar parece ser mais susceptível a esta doença
tilápias cultivadas em água doce e sa- maiores problemas, manter adequada quando exposta à água com pH muito ácido
lobra; tilápias em água com salinidade condições ambientais e boa nutrição; ou muito alcalino; d) sinais clínicos: perda
entre 15 a 30g/l, sob temperaturas va- remoção imediata de peixes mortos e de apetite e natação vagarosa; o peixe se
riando de 25 a 30°C, apresentam maior moribundos; quando a infecção é diag- isola do grupo e fica boquejando (asfixia)
susceptibilidade ao Streptococcus do nosticada tardiamente, pouco se pode na superfície devido à infecção da bactéria
que quando cultivadas em água doce fazer para reduzir a mortalidade; terapias nas brânquias; manchas descoloridas e
na mesma condição de temperatura atuais para o tratamento de septicemia localizadas na pele; lesões nas margens
(Chang e Plumb 1996); c) a transmis- por Streptococcus se baseiam no uso de das nadadeiras, principalmente na caudal,
são do Streptococcus ocorre de forma ração medicada com antibióticos. Em com aspecto de apodrecimento (podridão
horizontal (de peixe para peixe), sendo casos avançados da doença, os peixes das nadadeiras); lesões esbranquiçadas/
que a bactéria é liberada do peixe já deixam de se alimentar e este tratamen- amareladas ao redor da boca, apresentando
morto ou moribundo para a água. Outra to pode ser de pouco efeito.
via de infecção é o uso de peixes conta- Em casos menos severos a
minados com Streptococcus no preparo mortalidade diminui com o
de rações, procedimento comum em uso de ração medicada com Figura 9:
diversos países; d) sinais clínicos: antibióticos (Tabela 7); o uso Tilápia do Nilo com áreas despigmen-
coloração escura do corpo, letargia ou tadas sobre o corpo com desenvolvi-
indiscriminado de antibióti- mento de fungos e hemorragias nas
natação errática, em sentido espiralado cos pode levar a um aumento nadadeiras.
devido inflamação da meninge cerebral na resistência das bactérias; o
dos peixes; corpo levemente curvado; melhor procedimento é reali-
abdômen distendido; córnea opaca e zar um antibiograma para se
hemorrágica; hemorragia difusa na certificar a respeito de qual
pele, ao redor da boca e do ânus; he- antibiótico é mais eficaz.
morragia na base das nadadeiras e no Também é importante que o
opérculo; em um estágio mais avança- tratamento seja indicado por
do os olhos podem estar saltados uni ou um profissional experiente
bilateralmente (exoftalmia); os olhos e seja administrado correta-
podem apresentar uma inflamação mente. Vacinas estão sendo
granulomatosa bastante severa; podem avaliadas na prevenção de

51
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

Gram negativos, e freqüentemente estão a 0,8% (5 a 8kg//m3); terapia para septicemia


Figura 10: associadas a um quadro de infecção ge- por Aeromonas e Pseudomonas geralmente
Tilápia do Nilo com lesões ulcerativas e neralizada (septicemia hemorrágica) em empregam o uso de antibióticos devido ao
hemorragias na pele. peixes; a incidência é maior em tanques caráter sistêmico destas bactérias. Na Tabela
com excessiva carga orgânica e água de 7 são indicados algumas possibilidades de
má qualidade; peixes submetidos a uma terapia para bactérias sistêmicas.
inadequada nutrição e a injúrias físicas
durante o manuseio são ainda mais sus-
Saprolegniose: a) é o nome dado às in-
ceptíveis a estas bactérias; b) septicemia
fecções em ovos, larvas, alevinos e peixes
por Aeromonas e Pseudomonas em tilápias
adultos causadas por fungos da família Sa-
ocorrem com maior freqüência em períodos
prolegniaceae; dentre muitos fungos desta
de temperaturas baixas ou amenas, quando
família, podemos destacar os do gênero
a resposta imunológica dos peixes é mais
Saprolegnia, Achlya e Dictyuchus; estes
reduzida. Nestas condições a mortalidade
fungos estão distribuídos por todo o mundo,
e os prejuízos podem ser consideráveis; c)
sendo encontrados na maioria dos ambientes
sinais clínicos: perda de apetite; natação
crescimento bacteriano com aspecto de tufos aquáticos, vivendo às custas de resíduos
vagarosa com os peixes se posicionando nas
de algodão; áreas necróticas amareladas nas orgânicos em decomposição; b) a Sapro-
áreas mais rasas dos tanques; escurecimento
brânquias (colônias de bactérias), indicando legnia parasitica é um dos mais frequentes
do corpo; perda do equilíbrio; palidez das
a destruição do epitélio branquial, o que fungos parasitos de peixes; é identificada
mucosas e brânquias (sinais indicativos de
dificulta a respiração e causa a morte dos pelo seu crescimento micelial branco ou
anemia; a Aeromonas destrói as hemácias);
peixes por asfixia; e) diagnóstico: diagnós- cinza claro, com aspecto de algodão; as hifas
perdas de escamas; erosão ou destruição das
tico presuntivo com base nos sinais clínicos (ou filamentos) são longas, finas, ramifica-
nadadeiras; lesões circulares ou irregulares
característicos da doença; a visualização das das e não possuem segmentos; na porção
sobre o corpo, a semelhança de ulcerações;
bactérias sob microscopia também auxilia; final das hifas se formam os esporângios,
hemorragia nas bordas das lesões e na base
o diagnóstico definitivo é feito com o iso- estruturas que abrigam os esporos, formas
das nadadeiras peitorais, pélvicas e caudal;
lamento da bactéria em meios de cultura infestantes do fungo. Os fungos geralmente
olhos saltados (exoftalmia) e de aspecto
específicos como o meio Ordal?s ou Hsu- agem como agentes secundários em peixes
opaco e hemorrágico; abdômen distendi-
Shotts. Descrições destes meios de culturas com lesões externas causadas por bactérias
do com a presença de líquido de aspecto
podem ser encontradas em Pavanelli et al e parasitos. A inadequada nutrição e injúrias
opaco e/ou ligeiramente sanguinolento na
(1998) e Inglis et al. (1993); f) controle: a físicas devido ao mau manuseio durante a
cavidade abdominal; fluído amarelado ou
columnariose é uma infecção secundária; despesca, pesagem, transporte e descarre-
sanguinolento no intestino; hemorragia do
o uso de boas práticas de manejo ajuda a gamento facilitam a infestação. Infecções
tipo petequial nos órgãos internos; fígado
evitá-la; evite injúrias aos peixes durante por Saprolegnia em tilápias são bastante
hiperplásico (com aumento de tamanho),
o manuseio; evite manuseio excessivo em freqüentes durante o período do inverno e
com coloração pálida ou ligeiramente
períodos com temperaturas elevadas; o sal no início da primavera (quando o manuseio
esverdeada e hemorragias focais; o baço
serve como profilático nas concentrações dos peixes começa a ser intensificado), e os
apresenta tamanho aumentado (esplenome-
de 0,5 a 0,8% (5 a 8kg/m3) em banhos peixes ainda apresentam reduzida resposta
galia); os rins também ficam hiperplásicos e
após o manejo ou durante o transporte; o imunológica. O crescimento do fungo é ace-
com aspecto friável; podem ser observados
permanganato também pode ser utilizado lerado a temperaturas entre 18 e 26oC e tende
pontos hemorrágicos na parede interna da
como preventivo, em banhos de 15 a 30 a se reduzir em temperaturas mais elevadas.
cavidade abdominal. Todos estes sinais são
minutos, após o manuseio e transporte, na Infecções em tilápias são facilitadas quando
comuns em septicemias causadas por bacté-
concentração de 5mg/litro. Tratamento: rias; d) diagnóstico: os sinais indicam que
oxitetraciclina em banhos prolongados nas existe uma septicemia generalizada, porém
concentrações de 20 a 50 mg/litro (20 a 50g/ o diagnóstico definitivo só pode ser feito
m3); ou na ração em quantidade suficiente com o isolamento da bactéria em meios de
FUNGOS
para um consumo ao redor de 50 a 75mg/ cultura específicos (Rimler-Shotts e TSA);
kg PV/dia, durante 10 dias; permanganato e) controle: devido ao caráter oportunista
de potássio em tratamento por tempo inde- destas bactérias, a melhor forma de evitar
finido nas concentrações de 2 a 4mg/L; ou problemas com Aeromonas e Pseudomonas
em banhos de 30 minutos a 1 hora na con- é utilizar boas práticas de manejo; banhos
centração de 5 a 10mg/L; outras opções de com sal nas concentrações de 25 a 30kg
tratamento podem ser encontradas no livro de sal/m3 por 10 a 30 minutos; ou com
“Principais Parasitoses e Doenças dos Peixes permanganato de potássio em banhos de
Cultivados (Kubitza e Kubitza 1999). 30 minutos a 1 hora na concentração de
5g/m3 são boas medidas profiláticas após o
Septicemias causadas por Aeromonas manuseio da despesca e transferências; no
e Pseudomonas: a) são bacilos móveis transporte utilize sal na concentração de 0,5

52
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

estes peixes estão submetidos às seguintes


condições: 1) temperaturas abaixo de 24 oC e
variações bruscas de temperatura; 2) pH da Figura 12:
Tilápia de diferentes colorações (laranja normal
água em valores extremos; 3) má nutrição; 4)
e vermelha com manchas pretas).
manuseio grosseiro, ocasionando perdas de
escamas e outros ferimentos; 5) água com
excessiva carga orgânica, o que favorece a
proliferação dos fungos; c) sinais clínicos:
o primeiro sinal de infecção é a presença de Figura 11:
Tilápia Vermelha com hemorragia
áreas despigmentadas na pele dos peixes; generalizada no corpo e nadadeiras.
com a multiplicação e crescimento das

hifas, as áreas necrosadas começam a ser


recobertas por pequenos “tufos de algodão”
ou micélio (colônia formada pelas hifas); a
destruição da pele e das escamas pode chegar
a um ponto letal aos peixes; infecções nas
brânquias podem resultar na asfixia dos pei-
xes; peixes mortos são ricos reservatórios de
esporos destes fungos devendo, portanto, ser
removidos dos aquários tanques e viveiros;
d) diagnóstico: é feito através dos sintomas
observados no peixe e com a visualização,
ao microscópio, do material raspado das
lesões; e) controle: antes de iniciar qualquer
tipo de tratamento, devem ser identificadas
e corrigidas as causas que predispuseram
os peixes à infecção fúngica: má nutrição,
manuseio inadequado, infecções bacterianas
ou parasitárias, queda brusca na temperatura,
inadequada qualidade da água, manuseio
de peixes sob condições inadequadas
de temperatura (geralmente sob baixas
temperaturas), entre outras. Os possíveis
tratamentos para controlar infecções por
saprolegnia são: Formalina em banhos
de 1 hora nas concentrações de 150 a 300
ppm (15 a 30ml/100L); ou tratamento por
tempo indefinido na concentração de 25ml/
m3 em tanques e viveiros; Sal comum na
concentração de 3 a 5% (300 a 500g/10L)
em banhos de 5 a 10 minutos ou até o ponto
em que o peixe tolerar ou se mostrar estres-
sado; Sulfato de cobre em doses de acordo
com a alcalinidade total da água (Tabela
7). Outras opções de tratamento podem ser
encontradas em “Principais Parasitoses e
Doenças dos Peixes Cultivados (Kubitza e
Kubitza 1999).

53
Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006 1
Foto: BRFISH
Alevinos de tilápia tailandesa
Por: Fernando Kubitza, Ph.D.
Acqua & Imagem - Jundiaí-SP
fernando@acquaimagem.com.br

Questões freqüentes dos produtores


sobre a qualidade dos alevinos de tilápia

A valiar a qualidade e o custo benefício dos lotes de


alevinos de tilápia é uma tarefa que exige experiência
e organização por parte dos piscicultores. Aos olhos de um
critérios devem ser avaliados para identificar fornecedores de ale-
vinos que atendam às expectativas do seu empreendimento.
Problemas no fornecimento e na qualidade dos alevinos
leigo, alevinos são todos praticamente iguais. Uma grande comprometem severamente os resultados e o retorno financeiro
quantidade de peixes miúdos adensados em embalagens dos cultivos. Neste artigo são reunidas e discutidas as principais
plásticas ou em caixas de transporte. No entanto, quando se questões sobre qualidade de alevinos de tilápia que tenho recebido
trata de tilápias, muitos pontos devem ser considerados pelos de piscicultores de diversos estados.
produtores. A começar pela eficiência da reversão sexual, a
qualidade genética, o tamanho mínimo e a uniformidade de
tamanho dos alevinos. A presença e grau de infestações por
parasitos, os sinais indicativos de doenças e a sobrevivência Nota: Para fins de orientação ao leitor, gostaria de definir
registrada nos primeiros dias após o transporte. Outros pon- rapidamente os termos pós-larvas, alevinos e juvenis utili-
zados neste artigo. O termo “pós-larva” deve ser entendido
tos como o preço, a confiabilidade na entrega e o atendimento como sendo os indivíduos que iniciam o processo de reversão
pré e pós-venda também merecem ser considerados. Funda- sexual (peixes com 8 a 13mm). O termo “alevino” deve ser
mental ainda é avaliar o desempenho de cada lote de alevinos entendido como peixes entre 3 e 6cm, geralmente obtidos ao
recebidos (a taxa de crescimento, a conversão alimentar, a final do processo de reversão sexual. O termo “juvenil” deve
sobrevivência, o percentual de alevinos aproveitados e o ser entendido como peixes acima de 6cm (>2g) e não maiores
descarte do fundo dos lotes; a participação do custo destes do que 100g. Em alguns momentos no texto é especificado o
tamanho dos juvenis a que se faz referência.
alevinos no custo total de produção). Portanto, todos estes

14 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006


Alevinos de Tilápia
Qual o tamanho mínimo que um alevino de tilápia deve ter aumento na mortalidade durante a reversão. Quando a
ao final do processo de reversão sexual? mortalidade começa a ocorrer o produtor de alevinos ge-
ralmente recorre a um tratamento terapêutico, que muitas
Lotes de alevinos de tilápia bem produzidos geralmente vezes acaba controlando ou minimizando a infestação por
apresentam peixes com tamanho entre 4 e 5cm ao final de 28 parasitos. Após o tratamento, as pós-larvas que haviam
dias de reversão sexual. Idealmente, os alevinos devem atingir diminuído ou paralisado o consumo de ração, retomam a
tamanho de pelo menos 3cm ao final dos 28 dias de tratamento alimentação. No entanto, como parte das pós-larvas pode
com o hormônio metiltestosterona. Nos períodos de altas tempe- ter ficado alguns dias sem consumir ração (e, assim, sem
raturas (média de pelo menos 28oC) a reversão sexual pode ser ingerir o hormônio), o percentual de fêmeas no lote tende
finalizada com 21 dias. Ainda assim, os alevinos devem terminar a ser maior. Alta densidade de estocagem das pós-lar-
a reversão com tamanho mínimo de 3cm, devido ao maior con- vas durante a reversão - com o aumento na densidade
sumo de ração e crescimento sob estas altas temperaturas. de estocagem, o crescimento das pós-larvas e alevinos
Diversos motivos podem fazer com que os alevinos tende a ser mais lento e os peixes terminam a reversão
não atinjam tamanho de 3cm ao final da reversão sexual. com menor tamanho. Isso não chega a prejudicar a eficiência
Entre muitos, a baixa temperatura durante a reversão; a da reversão sexual. No entanto, alevinos estocados sob altas
elevada densidade de estocagem; os problemas de qualidade densidades correm mais risco de serem expostos a problemas
de água; a inadequada nutrição e alimentação; a infestação de qualidade de água e a organismos patogênicos durante a re-
por parasitos. versão, ficando assim mais sensíveis ao manuseio e transporte.
Em condições de boa produção, um percentual muito Com isso a sobrevivência após o manuseio e transporte pode
pequeno dos peixes (geralmente menos de 5% do lote) deveria ser comprometida. Baixa qualidade nutricional do alimento
ter tamanho inferior a 3cm. Estes peixes pequenos devem ser usado na reversão - o atraso no crescimento dos alevinos pode
descartados, pois geralmente são peixes que possuem baixo ocorrer com o uso de rações nutricionalmente inadequadas ou
potencial de crescimento (e serão os retardatários ou rabeiras na de baixa qualidade (por exemplo, rações com níveis protéicos
engorda) e pode haver um percentual mais elevado de fêmeas abaixo de 32%, e/ou rações com inadequada suplementação
neste grupo (particularmente no grupo de peixes com tamanho vitamínica e mineral; rações de baixa palatabilidade; rações
inferior a 2cm). de baixa estabilidade na água). Embora isso possa ter pequeno
efeito na eficiência da reversão sexual, alevinos mal nutridos
Alevinos muito pequenos ao final do período de reversão tendem a apresentar menor sobrevivência após o manuseio e
sexual estão adequadamente revertidos? transporte. Como salientado anteriormente, há uma tendência
de encontrar um percentual maior de fêmeas entre os alevinos
A resposta a esta pergunta depende muito da condição que que terminam a reversão com tamanho inferior a 3cm.
provocou o atraso no crescimento destes peixes. As pós-larvas
no início da reversão apresentam tamanho entre 8 e 13mm. Pei- Qual o máximo percentual de fêmeas aceitável em um lote
xes que após 28 dias sequer atingiram tamanho de 2cm (20mm) de alevinos?
apresentam grande probabilidade de não terem sido revertidos,
pois provavelmente não consumiram suficiente ração com A resposta a esta pergunta depende muito do sistema de
hormônio. Lotes com peixes pequenos assim podem apresentar cultivo empregado e do peso médio desejado ao final da engor-
elevado percentual de fêmeas. Diversos fatores podem provocar da. Nos cultivos em tanques-rede a reprodução é inibida pelas
atraso no crescimento dos alevinos. Baixa temperatura da altas densidades de estocagem e pela inadequada condição do
água - se o motivo do reduzido crescimento foram as baixas ambiente para a reprodução. Assim, um lote de alevinos com
temperaturas da água durante a reversão é possível que após 28 alto percentual de fêmeas (>5%) causaria poucos problemas no
dias de tratamento com hormônio ainda haja um significativo cultivo em tanques-rede na produção de tilápias com peso médio
percentual de peixes não revertidos no lote. Sob temperaturas de ao redor de 500 a 600g. No entanto, na produção de tilápias
água mais amenas (entre 23 e 25oC) é recomendável prolongar a maiores (acima de 800g), lotes com alto percentual de fêmeas
reversão sexual para cerca de 35 dias, visto que o metabolismo geralmente resultam em maior heterogeneidade de tamanho
dos peixes é mais lento, o que faz com que a definição do sexo ao final do cultivo, com as fêmeas do lote alcançando um peso
demore mais tempo. Assim, se o produtor de alevinos conduziu médio bem inferior ao dos machos.
a reversão por apenas 28 dias em um período de temperaturas No cultivo em tanques de terra a estocagem de lotes
amenas, os alevinos serão pequenos ao final da reversão e poderá de alevinos com mais do que 2 a 3% de fêmeas pode resultar
haver um maior percentual de fêmeas no lote. Infestações por em excessiva reprodução durante o cultivo. Estes problemas
parasitos - quando o crescimento é prejudicado por parasitoses são ainda mais agravados quando o objetivo é produzir tilápias
é possível que o percentual de fêmeas no lote seja maior. Isso de grande tamanho (peixes acima de 800g), o que demanda um
se deve ao fato das pós-larvas e alevinos, quando parasitados, ciclo de produção mais longo. Assim, as fêmeas presentes no
diminuírem o consumo de ração. Sob infestações severas, os estoque terão tempo para se reproduzir diversas vezes e superpo-
peixes podem perder o apetite por completo e deixarem de se voar os tanques de cultivo. Este problema é ainda mais agravado
alimentar. Com isso, além do atraso no crescimento, ocorre um quando se utiliza lotes de alevinos ou juvenis com mais de 2%

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006 15


de fêmeas e que foram estocados durante o inverno
para comercialização no início da primavera. Estes
Alevinos de Tilápia

peixes, embora ainda pequenos, já atingiram ou estão


muito próximos de atingir a idade de maturação sexu-
al. Isso ocorrerá logo nos primeiros meses da recria e
engorda, aumentando o potencial de superpopulação
dos tanques de cultivo.

O que é a tilápia GIFT que está sendo


ofertada no mercado?

A linhagem de tilápia denominada GIFT (lê


se “guifiti”) foi obtida através de um programa de
melhoramento genético que teve como base genética Foto do autor

Reprodutor de tilápia tailandesa


8 linhagens de tilápias do Nilo. Este programa foi
um esforço conjunto de países do sudeste asiático
(Filipinas, Indonésia, China, Tailândia, Índia, entre
outros) e da África (Costa do Marfim, Ghana e Egito), Qual a espécie ou linhagem de tilápia de mais
coordenado pelo ICLARM (International Center for rápido crescimento hoje no país?
Living Aquatic Resources Management). Instituições
governamentais, universidades e centros de pesquisas No Brasil são cultivadas diversas linhagens de tilápia. Existem
de diversos países também colaboraram com este linhagens de cor cinza e as linhagens vermelhas. A maior parte das
programa. Este programa foi batizado com o nome linhagens cinzas tem como base genética a tilápia do Nilo (Oreochromis
de GIFT que significa Genetically Improved Farmed niloticus). Exemplos destas linhagens são a tilápia tailandesa, a tilápia
Tilapia (na tradução, Tilápia Cultivada Geneticamen- GIFT e as tilápias nilóticas não selecionadas. Esta última predominou
te Melhorada). nos cultivos comerciais no Brasil até o final dos anos 90.

16 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006


Alevinos de Tilápia
Universidade Estadual de Maringá no Paraná e a SEAP/PR
(Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca). Foi impor-
tado material genético da linhagem GIFT diretamente das
Filipinas. Alevinos desta linhagem já estão disponíveis a
produtores interessados em formar plantel de matrizes. Um
estudo realizado em Bangladesh comparou o crescimento da
linhagem GIFT com o crescimento de linhagens de tilápia
do Nilo não selecionadas e que vinham sendo cultivadas
naquele país. Neste estudo foi observado um ganho médio
de peso 40 a 57% superior para a linhagem GIFT. Estudos
semelhantes nas Filipinas demonstraram que a base genética
original da linhagem GIFT (formada por uma combinação
de 8 linhagens de tilápia do Nilo) apresentou crescimento
Foto do autor cerca de 50-60% superior ao obtido com linhagens de tilápia
Reprodutor de tilápia vermelha da linhagem Red Stirling do Nilo não selecionadas e que vinham sendo usadas pelos
piscicultores Filipinos. Outros estudos compararam a linhagem
GIFT com linhagens de tilápia do Nilo já submetidas à seleção
A tilápia tailandesa (ou Chitralada) é a li- e demonstraram a superioridade da linhagem GIFT em cerca de
nhagem mais cultivada no Brasil no momento. Esta 10-15% no que diz respeito ao ganho de peso.
linhagem descende de um grupo de tilápia do Nilo Quando foram usados alevinos não revertidos, o cres-
levada do Egito ao Japão e daí para a Tailândia e cimento de uma das gerações da linhagem GIFT foi 15 a 20%
outros países do sudeste asiático. Nestes países esta superior em comparação com a linhagem tailandesa (Chitralada).
linhagem foi melhorada. A Tailândia foi o país que Isso foi atribuído à maturação sexual mais tardia das tilápias
lhe emprestou o nome e de onde vieram, em 1996, os GIFT, possibilitando atingir um peso médio maior antes do
primeiros alevinos de tilápia tailandesa para o Brasil. início da reprodução. Outro experimento realizado no Vietnam
Alevinos para a formação de plantel de reprodutores registrou crescimento cerca de 10% superior para a linhagem
foram vendidos a diversos produtores em todo o Brasil. GIFT contra a linhagem tailandesa em tanques fertilizados onde
Outros produtores de alevinos montaram seus plantéis a os peixes também receberam ração extrusada.
partir de alevinos nascidos em desovas que ocorreram Nestes países asiáticos o peso médio da tilápia ao final
em tanques de engoda. O DNOCS e a CODEVASF do cultivo raramente ultrapassa 400g, sendo mais comum a
importaram novo material genético de tilápia tailandesa produção de peixes entre 200 e 300g. No Brasil, este ganho de
em 2003 e disponibilizaram este material a produtores peso de pelo menos 10% superior da linhagem GIFT sobre a
de alevinos, particularmente na região Nordeste. A linhagem Tailandesa não tem sido evidente em cultivos comer-
linhagem tailandesa apresenta crescimento superior ao ciais. A impressão que colhi junto a produtores com os quais
das linhagens de tilápia do Nilo não selecionadas que conversei é de que a taxa de crescimento da tilápia GIFT é mais
se cultivava (e ainda se cultiva) no Brasil. No entanto, acelerada no início do cultivo e diminui quando o peixe atinge
muitos produtores ainda preferem as tilápias do Nilo cerca de 200 a 300g. No entanto, como nos cultivos brasileiros
não selecionadas ou a tilápia cruzada (tilápia do Nilo a tilápia normalmente é recriada a um peso médio acima de
não selecionada cruzada com a tailandesa) quando o 600g (muitas vezes próximo a 1kg ou até mesmo acima disso),
mercado alvo é o pesque-pague. As tilápias do Nilo não após 300g parece haver uma recuperação da tilápia tailandesa
selecionadas e as cruzadas toleram melhor o transporte quanto ao ganho de peso, equiparando seu crescimento ao da
de longa distância e são mais facilmente capturadas na GIFT até o final de cultivo.
pesca com anzol do que a tailandesa. Por outro lado, As linhagens vermelhas- no Brasil alguns produtores
a tilápia tailandesa tem comportamento mais dócil, se cultivam linhagens vermelhas de tilápia. “Tilápia vermelha” é
adapta melhor nos cultivos adensados em tanques-rede uma denominação que engloba tilápias de coloração que varia do
e são um pouco mais fáceis de serem capturadas com rosa claro (quase branco) a um tom laranja-claro – laranja-forte.
rede de arrasto em tanques escavados, comparada a Algumas linhagens são desprovidas de pigmentação ou man-
outras linhagens de tilápia cinza. chas escuras, enquanto que outras podem apresentar manchas
As linhagens de tilápia do Nilo denominadas escuras bem evidentes em diversas partes do corpo. Denomi-
GIFT (Genetically Improved Farmed Tilapia) foram nações comerciais como Saint Peter, Saint Pierre e San Pietro
recentemente introduzidas no Brasil. A primeira inicia- foram utilizadas inicialmente para a tilápia híbrida de Israel.
tiva foi da Aquabel, que adquiriu a linhagem comercial O nome Saint Peter foi generalizado como sinônimo de tilápia
Genomar Supreme TilapiaTM (da empresa norueguesa vermelha na região sudeste e diversas linhagens vermelhas são
Genomar). Esta linhagem é comercializada no Brasil assim denominadas. De um modo geral as linhagens vermelhas
com o nome de Supreme ®. A segunda iniciativa de cultivadas no Brasil apresentam crescimento 30 a 50% inferior
introdução da GIFT foi uma ação conjunta entre a e uma menor eficiência reprodutiva comparada à linhagem

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006 17


tailandesa, resultando em maior custo na produção dos podem reduzir os problemas com a desuniformidade de
alevinos e na engorda. Apesar disso, existem nichos de
Alevinos de Tilápia

tamanho dos peixes durante o cultivo?


mercado que valorizam mais a tilápia vermelha e seus
produtos do que as tilápias cinzas, justificando assim o Estas são três questões muito freqüentes na cabeça
cultivo das vermelhas em algumas localidades. dos produtores de tilápia. Diversas considerações merecem
Um ponto deve ser ressaltado no que diz respeito ser feitas para que se compreenda a estratégia de produção
à qualidade genética e à qualidade dos alevinos: apesar que deve ser adotada para melhorar o resultado dos cultivos,
da genética ser muito importante, é comum ver alevinos mensurado quanto ao crescimento dos peixes, conversão
de excelente base genética apresentarem desempenho alimentar média dos lotes, uniformidade de tamanho dos
inferior ao de alevinos de base genética aparentemente peixes e custo de produção.
inferior (por exemplo, linhagens de tilápia do Nilo não Diversos motivos contribuem com a desuniformidade
selecionadas comparadas com a linhagem tailandesa). no tamanho dos peixes. A diferença inicial no tamanho
Isso acontece porque fatores outros que a genética, também dos alevinos estocados certamente é um importante fator
exercem grande influência na qualidade e desenvolvimento na heterogeneidade de tamanho dos peixes (mas não é o
dos alevinos estocados na engorda. Dentre muitos vale único). De uma maneira geral, os maiores alevinos do lote
ressaltar a nutrição e alimentação das matrizes; a qualidade tendem a terminar a primeira etapa de cultivo com peso
da água durante a reversão sexual; a nutrição e o manejo médio maior do que os alevinos menores. Deste modo, se
alimentar das pós-larvas e alevinos durante a reversão; a houver uma boa classificação dos alevinos antes da venda,
eficiência da reversão sexual (medido pelo percentual de a desuniformidade de tamanho ao final do berçário ou recria
machos no lote); a condição sanitária durante a produção é amenizada, mas não é eliminada por completo, pois outros
dos alevinos (grau de infestação por parasitos); a qualidade fatores também contribuem com a variação no tamanho dos
do manuseio e da preparação dos alevinos para o transporte peixes durante o cultivo. Diferenças genéticas entre os
e o próprio transporte. Estes fatores afetam o desenvolvi- indivíduos contribuem para aumentar a desuniformidade
mento dos peixes após a reversão e podem dar vantagens de tamanho. Assim, em um lote de alevinos de tilápias há
iniciais em crescimento e sobrevivência a alevinos bem sempre um grupo de peixes que possuem a melhor combi-
produzidos, mesmo sendo estes de base genética inferior. nação genética (peixes que convertem melhor o alimento
Estas vantagens dificilmente serão minimizadas ao longo da ingerido, que têm maior apetite, que se adaptam melhor às
engorda por alevinos que sofreram privações nutricionais, condições do ambiente de cultivo, que são mais tolerantes
infestações por parasitos e estresse durante a produção. às infestações por parasitos, dentre outras características
desejáveis). Portanto, estes peixes com a melhor combi-
Por quê ocorre variação no tamanho dos peixes durante o nação destas características se destacam no crescimento e
cultivo? Se o produtor de alevinos fornecer alevinos de ta- formam o grupo “cabeceira”. No outro extremo ficam os peixes
manho uniforme, a desuniformidade de tamanho na recria retardatários ou a “rabeira” ou o “fundo do lote”. Os peixes do
e engorda será solucionada? Quais estratégias de manejo fundo do lote “se arrastam” durante a fase de crescimento.

18 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006


Alevinos de Tilápia
e 60g. No entanto, ao final desta primeira fase os peixes
se distribuem em grupos de peso que variam entre 20
"Quando o produtor de e 90g. Neste momento os alevinos são classificados
em dois grupos: o lote cabeceira (peixes maiores e
alevinos não adota a geralmente com peso entre 50 e 90g, dependendo do
estratégia de descarte da lote) e o lote “rabeira” (peixes menores e geralmente
com peso médio entre 20 e 40g dependendo do lote).
rabeira ou do fundo dos lotes Em geral, os peixes rabeiras necessitam 60 a 70 dias a
mais que os cabeceiras para atingir peso de venda pró-
após a reversão, o comprador ximo de 600g. A conversão alimentar média dos lotes
“cabeceiras” gira ao redor de 1,4, enquanto que para
do alevino é quem vai ter que os lotes “rabeira” a média é de 1,7. Ou seja, além de
fazer o descarte e assimilar ocupar por mais tempo as unidades de cultivo, os lotes
rabeiras usam mais ração por quilo de peixe produzi-
este custo" do. Esta diferença de 0,3 na conversão alimentar (1,7
– 1,4 = 0,3) por si só implica em um custo adicional
de ração de R$ 0,27/kg de tilápia (considerando o preço da
ração de engorda a R$ 0,90/kg). Resultado: o maior uso de
Entre o o fundo do lote e os cabeceiras existem os peixes ração e o tempo adicional na engorda aumentam o custo
com potencial de crescimento intermediário. A única ação do médio de produção.
produtor para amenizar este problema é realizar o descarte dos Tenho visto resultados como estes da Piscicultura
peixes do fundo do lote. Manejo alimentar e densidade de Palmares em muitos outros cultivos de tilápia e de outras
estocagem também são fatores que contribuem com a desu- espécies no Brasil. E, certamente, os produtores já visuali-
niformidade dos lotes. De um modo geral, o uso de elevadas zaram esse problema. Porém, por falta de controle ou por
densidades de estocagem em tanques-rede e em tanques de terra descuido na análise dos dados de produção, muitos ainda
exacerbam a desuniformidade de tamanho entre os peixes. Res- não conseguiram quantificar o que isso representa no custo
trição alimentar associada a um aumento no número de refeições de produção. A estratégia que deve ser adotada para ameni-
por dia também agravam este problema. Muitos produtores rea- zar este problema é o descarte o mais cedo possível de um
lizam um número elevado de tratos diários na recria e engorda, percentual dos peixes do lote (os peixes rabeiras). Para fazer
utilizando pequenas quantidades de ração em cada refeição. este descarte de forma eficaz, os lotes de alevinos adquiridos
Isso promove maior competição por alimento em cada refeição, devem apresentar tamanho bem uniforme, para eliminar a
com os peixes maiores e mais agressivos comendo mais do que influência do tamanho inicial dos alevinos no peso final no
precisam e os peixes menores ficando na míngua. momento do descarte. Se os alevinos chegam desuniformes,
Devemos considerar que qualquer lote de alevinos o produtor tem que classificá-los antes da estocagem nos
adquirido durante o berçário ou recria se segmentará em tanques de produção. Para quem trabalha com tanques-
três grupos: o cabeceira, o intermediário e o rabeira. Mesmo rede esse descarte é fácil de ser realizado. Com cerca de
que o produtor de alevinos adote uma política de descarte 10 a 14 dias no berçário os peixes devem ser novamente
de fundo de lotes ao final da reversão, o produtor que fará classificados (enquanto ainda são pequenos e não custaram
a recria destes alevinos ainda lidará com estes três grupos muito ao produtor). Para os produtores que trabalham com
de peixes. No entanto, como os peixes muito ruins foram tanques de terra, seria oportuno estocar inicialmente os
descartados pelo produtor de alevinos, o lote rabeira não alevinos em hapas com malha de 5mm para que seja fácil
será tão ruim assim, demandando o descarte de um menor capturar os peixes após 10 a 14 dias para a classificação.
percentual de peixes do fundo do lote. No entanto, quando Nesta classificação deve ser eliminado o fundo dos lotes.
o produtor de alevinos não adota a estratégia de descarte da O percentual de peixes que deve ser eliminado é difícil de
rabeira ou do fundo dos lotes após a reversão, o comprador precisar. Se houve um descarte de fundo de lotes por parte
do alevino é quem vai ter que fazer o descarte e assimilar do fornecedor dos alevinos ou juvenis, o percentual de des-
este custo. carte adotado pelo produtor pode ser menor, por exemplo,
Estudo de caso - Recentemente tive a oportunidade cerca de 10-15% dos peixes do lote. Se o fornecedor dos
de analisar o resultado da engorda de tilápias em tanques- alevinos não fez o descarte, o produtor terá que descartar
rede na Piscicultura Palmares de propriedade do Dr. Francis- uma quantidade maior de peixes, que pode variar entre 20 e
co Leão. A Piscicultura Palmares se dedica exclusivamente 30% do lote. Fatores econômicos (custo dos alevinos, preço
à engorda de tilápias para venda aos pesque-pagues. No ma- de ração e preço de venda final da tilápia) também devem
nejo de rotina são adotadas 2 fases de cultivo. Na primeira ser analisados para determinar o percentual de descarte.
fase (ou berçário) os alevinos pós-reversão são estocados em Quanto maior for o percentual de descarte, melhor será o
tanques-rede onde são crescidos até um peso médio entre 50 desempenho do lote no cultivo.

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006 19


vo foi necessário adquirir 1,43 alevino (1 / 70%). Se o custo
do alevino for R$ 0,10/unidade, o custo de alevinos será de
R$ 0,143 por quilo de tilápia (R$ 0,10 x 1,43 alevino). Com
Alevinos de Tilápia

um descarte drástico de metade dos alevinos sobreviventes


logo nas primeiras semanas do berçário (os 50% menores de
cada lote), o custo de alevino por quilo de peixe dobrará, ou
seja, passará a ser R$ 0,286/kg. Pois bem, neste exemplo,
o descarte de metade dos alevinos aumentou o custo de
alevinos em R$ 0,14/kg e reduziu o custo da ração em R$
0,27/kg. Ou seja, ainda houve uma economia de R$ 0,13/kg
de tilápia produzida.
Além dessa economia direta, há de se esperar uma
redução adicional no custo de produção devido a economia
de tempo na engorda, que se traduz em maior produção na
mesma instalação e, portanto, redução do custo fixo. Por
Foto do autor exemplo, se o ciclo de produção leva em média 300 dias (10
Classificação de juvenis de tilápia vermelha com o uso de um meses para sair de 0,5g e chegar a 1kg), usando somente os
classificador de barras ajustáveis
lotes “cabeceira” o ciclo de produção deve ficar no mínimo
uns 60 dias mais curto (sendo conservador e considerando
Vamos ilustrar o impacto dessa estratégia de manejo no os 60 a 70 dias de economia de tempo para a produção de
custo de produção da tilápia com o exemplo da Piscicultura uma tilápia de 600g na Piscicultura Palmares). Assim, ao
Palmares. Vimos que a diferença em conversão alimentar invés de 300 dias, os ciclos serão de 240 dias (8 meses).
média dos lotes “rabeira” foi de 1,7, o que representa um custo Isso possibilitaria aumentar em 25% a produção anual com
de ração de R$ 1,53/kg (1,7 x R$ 0,90/kg de ração). Para os a mesma instalação e possivelmente com a mesma equipe de
lotes cabeceira, a conversão média foi 1,4, o que representa funcionários, reduzindo assim o componente fixo do custo
um custo de ração de R$ 1,26/kg de tilápia (1,4 x R$ 0,90/kg de produção.
de ração). Se os lotes “rabeira” fossem eliminados o custo O mais lógico e menos oneroso seria o produtor de
de ração seria o obtido com o lote cabeceira. Ou seja, uma alevinos descartar o fundo dos lotes ao final da reversão
redução no custo de produção de R$ 0,27/kg somente com a sexual. Assim quem vai produzir juvenis ou engordar a
economia de ração. tilápia não precisará descartar um percentual muito grande
No entanto, o descarte dos lotes “rabeira” implica em de alevinos.
maior custo de aquisição de alevinos. Vamos considerar que Quando estes alevinos não são descartados logo no
sem o descarte dos lotes “rabeira” o aproveitamento global começo do cultivo, eles lentamente chegam a um porte de
dos alevinos até o final do cultivo seja de 70% e que o objetivo juvenil (20g ou mais) e já carregam um considerável custo
é produzir tilápias com peso médio de 1kg (para facilitar os acumulado. E com esse porte, o produtor fica com dó de fazer
cálculos). Para cada tilápia de 1kg que chega ao final do culti- o descarte. E esses peixes vão se arrastando até atingirem

20 Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006


Alevinos de Tilápia
peso de mercado. Esses alevinos deveriam ter sido descarta- o oxigênio nas caixas de transporte; carga excessiva de
dos ao final da reversão, onde ainda não acumularam muito alevinos no transporte; temperatura elevada na água de
custo. Descartar uma rabeira de 15 a 20% dos alevinos ao transporte). Todas estas condições adversas contribuem
final da reversão seria uma prática justa e que em pouco tem- com a mortalidade logo após o transporte.
po retornará benefícios ao produtor de alevinos. Um cliente A mortalidade também pode estar associada a
descontente por ter recebido um fundo de lote significa um problemas de qualidade de água no local de destino.
cliente a menos na carteira e muitos potenciais novos clientes O produtor deve preparar adequadamente os tanques
indo direto nos concorrentes. onde os alevinos serão estocados. No caso de alevi-
Se o produtor de alevinos não descarta o fundo dos nos estocados em tanques-rede, a malha utilizada não
lotes, algum produtor vai ser premiado com um lote de ale- deve ser muito grande a ponto de permitir que estes
vino formado pela rabeira de diversos lotes de alevinos. São machuquem a cabeça tentando sair do tanque-rede.
todos bonitinhos, de bom tamanho e bem classificados. Um Use uma panagem macia e com menor tamanho de
capricho. Mas simplesmente eles se arrastam nos tanques malha nos primeiros 5 dias até que os alevinos se
de cultivo. O risco de receber fundo de lotes é maior para habituem ao tanque-rede. Em geral alevinos pequenos
os produtores de pequeno porte que geralmente compram (2-3cm) apresentam maior mortalidade pós-transporte, pois
lotes pequenos de alevinos ou juvenis. O atraso na produção geralmente não conseguem tolerar a combinação estresse
causado por fundos de lotes custará muito mais do que pagar de manuseio e transporte e uma possível infestação por
15, 20, 30% a mais por lotes de alevinos que tiveram o fundo parasitos. A mortalidade destes pequenos alevinos é rápida
dos lotes descartados. (ocorre dentro de 1 a 3 dias após o transporte). Em tanques
de terra esta mortalidade nem sempre é visível ao produ-
Invariavelmente a mortalidade dos alevinos de tilápia nos tor, pois os alevinos mortos geralmente têm suas barrigas
primeiros dias após o transporte tem sido relativamente comidas pelos sobreviventes e com isso não aparecem na
alta, principalmente no caso de alevinos pequenos (0,3 superfície da água. Em tanques-rede é mais fácil observar
a 0,5g). A mortalidade diminui quando estoco alevinos esta mortalidade. Alevinos de 5 a 6 cm geralmente são os
maiores (1,0 a 2,0g ou 5-6cm). O que posso fazer para que melhor toleram o manuseio e transporte. Como são
diminuir esta mortalidade? maiores, também toleram um grau maior de infestação por
parasitos comparados a alevinos menores. Juvenis de 20 a
Quando a mortalidade dos alevinos ocorre no transpor- 30g podem apresentar alta mortalidade pós-transporte,
te e continua por 3 a 4 dias após o transporte, esta, invaria- principalmente por se machucarem mais durante o manuseio
velmente, é resultado de problemas durante a produção e/ou e a classificação por tamanho, dependendo do tipo de clas-
o transporte. Alevinos que passaram por restrição alimentar sificador utilizado. Quando estocados em tanques-rede os
ou foram mal nutridos; que sofreram com problemas de quali- juvenis podem se machucar tentando escapar pelas malhas
dade de água; que foram manuseados grosseiramente durante das telas. Isso é mais comum com juvenis produzidos soltos
a despesca e a classificação; que estavam com alta infestação em tanques de terra. Juvenis produzidos em tanques-rede
por parasitos; que não receberam adequado jejum antes do já estão acostumados com o confinamento e não têm difi-
transporte; que sofreram estresse no transporte (descuido com culdade de se adaptar em um novo tanque-rede.

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006 21


Alevinos de Tilápia
Classificação de alevinos com
classificador de barras vivo das brânquias: que serve de indicativo da condição
nutricional e da saúde dos alevinos; c) a presença e o grau de
infestação por parasitos: através de exames microscópicos
das brânquias e do muco; d) a uniformidade de tamanho:
que indica o capricho do produtor em ofertar um bom pro-
duto. No entanto, a uniformidade no tamanho dos alevinos
Foto do autor
por si só não é garantia de qualidade dos alevinos. Lembre-
se que você pode estar recebendo um lote bem uniforme de
Foto do autor peixes rabeiras; e) início da alimentação após-transporte:
alevinos saudáveis e que sofreram pouco no manuseio e
Estimativa volumétrica de transporte começam a se alimentar poucas horas após a
alevinos com o auxílio de estocagem. Lembre-se que estes peixes ficaram um bom
peneiras em preparação para período em jejum e o normal é demonstrarem grande apetite
o transporte
em poucas horas após a estocagem; f) sobrevivência pós-trans-
porte ou sobrevivência na primeira etapa do cultivo: alevinos
de boa qualidade apresentam alta sobrevivência pós-transporte.
Mas não se isente da responsabilidade em contribuir com esta
O que o produtor pode fazer para melhorar a sobrevi- sobrevivência, assegurando um adequado ambiente e nutrição
vência dos alevinos recebidos? Avaliar a sobrevivência de cada aos alevinos recebidos; g) percentual de peixes no fundo do lote:
lote. Verificar se os alevinos recebidos estão com parasitos (exa- para avaliar isso é preciso verificar a distribuição de tamanho dos
mes microscópicos) ou sinais de doença. Sugerir ao fornecedor peixes após a fase de berçário. Se houve o descarte de fundo de
de alevinos que realize um tratamento profilático para reduzir a lote pelo fornecedor dos alevinos, o produtor deverá encontrar
infestação por parasitos antes do transporte. Se este tratamento ao final da primeira etapa de cultivo um percentual muito baixo
não está sendo feito pelo fornecedor de alevinos, ele pode ser fei- de peixes no fundo dos lotes. Esse é um importante parâmetro
to assim que os alevinos chegarem na propriedade. Na primeira indicador da qualidade dos alevinos.
semana pós-estocagem pode ser utilizada uma ração medicada
para prevenir problemas com bacterioses, sob a recomendação Considerações finais
e supervisão de um profissional qualificado. Quando a engorda
é feita em tanques-rede e a estocagem é de juvenis, o produtor Conhecendo um pouco mais os critérios importantes na
deve dar preferência aos fornecedores que produzem os juvenis avaliação da qualidade dos alevinos, os produtores de tilápia
em tanques-rede, ou mesmo aos fornecedores que adaptam os podem agora apreciar o quão complexo e dedicado deve ser o
juvenis ao confinamento antes da comercialização. Se isso não trabalho dos produtores de alevinos para ofertar um produto de
foi possível, na primeira semana de estocagem nos tanques-rede alta qualidade. E, quando encontram este produto no mercado,
os juvenis devem ser confinados em bolsão ou hapa de panagem devem saber valorizá-lo. Por outro lado, devem cobrar mais pro-
macia e de malha de menor abertura, para que os mesmos não fissionalismo dos seus fornecedores quando o produto ofertado
se machuquem tentando escapar dos tanques-rede. esta aquém de suas expectativas. A participação dos alevinos no
custo de produção é relativamente pequena diante da importân-
Quais os principais fatores determinantes da qualidade cia da qualidade deste insumo no resultado da produção. Assim,
dos alevinos de tilápia e como identificar isso no campo? o produtor deve sempre considerar a opção de pagar mais por
alevinos de melhor qualidade e entregues dentro das condições
Para avaliar a qualidade dos alevinos é preciso acompanhar especificadas. A aparente economia na compra de lotes de ale-
atentamente os lotes desde a estocagem até a finalização do culti- vinos baratos pode resultar em maior custo do produto final. A
vo. Qualidade genética é importante e este parâmetro não dá para insatisfação quanto à qualidade do produto recebido e a ocorrência
avaliar apenas olhando os alevinos. Tem que ver o resultado do de elevada mortalidade de alevinos pós-transporte desgastam a
cultivo (taxa de crescimento, conversão alimentar, sobrevivência, relação entre o produtor e o fornecedor dos alevinos e atrasam
uniformidade de tamanho, dentre muitos outros fatores). os ciclos de produção. A estrutura e o pessoal ficam ociosos, os
O que pode ser verificado de imediato? a) a condição custos de produção se elevam e a programação de vendas acaba
corporal dos alevinos : observe a musculatura no dorso dos alevi- comprometida. Este furo na produção faz com que muitos com-
nos. Alevinos que foram bem alimentados apresentam dorso bem promissos de entrega de peixes sejam adiados e descumpridos, Os
desenvolvido. Os que passaram por severa privação alimentar clientes órfãos e insatisfeitos vão buscar a salvação junto aos seus
podem apresentar musculatura dorsal rebaixada. O produtor concorrentes e podem nunca mais precisar da sua tilápia. Assim,
também deve se certificar da ausência ou da ocorrência de um esta rachadura no processo de produção e venda que começou
número muito pequeno de peixes machucados ou de peixes com com uma falha na qualidade no fornecimento dos alevinos pode
manchas ou descamação no corpo, ou ainda com podridão nas acumular consideráveis perdas ao seu empreendimento, muitas
nadadeiras também deve ser verificada; b) a coloração vermelho das quais podem ser irreparáveis.

Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006 23


Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006 1
Ajustes na nutrição e
alimentação das tilápias
No atual desenvolvimento da tilapicultura no Brasil, falar
sobre a importância da nutrição e alimentação no desempenho
e saúde das tilápias pode até parecer preciosismo. Mas ainda há
muitos piscicultores em nosso país com dificuldades na definição
de um programa nutricional e alimentar e na avaliação da relação
custo/benefício das rações disponíveis no mercado. Uma dúvida
freqüente nas fazendas é se o manejo alimentar empregado é o
mais adequado. Portanto, nada mais oportuno do que começar
2007 apresentando estratégias de alimentação que possam
melhorar ainda mais o desempenho dos cultivos de tilápia, que é
hoje a espécie mais produzida na aqüicultura nacional.

Por: Fernando Kubitza, Ph.D.


Especialista em nutrição e produção de peixes
Acqua Imagem Serviços Ltda
fernando@acquaimagem.com.br

14 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006


Alimentação de Tilápia
Os equívocos têm início já na produção dos alevinos. cie mais produzida na aqüicultura nacional (seguramente
No intuito de fornecer a melhor nutrição possível, o produtor cerca de 100 mil toneladas anuais) e um produto comum
lança mão de rações com níveis de proteína muito acima das de se encontrar nas principais redes de supermercados do
exigências nutricionais estabelecidas para pós-larvas e alevinos país, com poucas exceções. E, na lembrança deste autor,
de tilápia. As conseqüências disso serão discutidas oportuna- de 2000 até o momento, nada mais foi escrito nesta revista
mente. Na recria e engorda em tanques de terra os complica- especificamente sobre o manejo nutricional e alimentar
dores são outros na hora de definir a estratégia alimentar. Com no cultivo de tilápias. Portanto, nada mais oportuno do
pouca compreensão da relação entre a densidade de plâncton e que começar 2007 discutindo importantes aspectos do
a biomassa estocada, há produtores que se excedem nas taxas de manejo nutricional e alimentar na produção de tilápias e
alimentação sob baixa estocagem (1 a 2 tilápias/m2), não tirando apresentando estratégias de alimentação que possam ser de
proveito da contribuição do alimento natural. Outros utilizam utilidade para a melhoria do desempenho dos cultivos.
densidades elevadas e, para isso, investem em aeração e dis-
põem de renovação de água, mas ainda insistem em usar rações Os cuidados com a nutrição dos reprodutores
baratas de baixa densidade nutricional, e que acabam resultando
em pior conversão alimentar, menores taxas de crescimento e Ao contrário do que muita gente imagina, não são o
maior acúmulo de gordura visceral. hormônio, o álcool, a ração e a mão de obra usada na reversão
Outro complicador em tanques de terra é a dificuldade os principais componentes do custo de produção de alevinos.
que muitos tilapicultores têm em estabelecer e manter uma ade- Mas sim, as despesas com a formação e manutenção dos re-
quada densidade de plâncton e implementar um eficiente manejo produtores que, em uma situação normal, chegam a representar
nutricional e alimentar. Geralmente os peixes são alimentados algo entre 30 e 60% deste custo, dependendo do sistema de
em excesso e acabam ficando preguiçosos no aproveitamento produção de alevinos adotado. Portanto, descuidos no manejo
do alimento natural. Nos cultivos de tilápia em tanques-rede dos reprodutores que prejudiquem a produção e a qualidade
o manejo nutricional é um pouco mais uniforme, pois não há das pós-larvas e alevinos, amplificam em muito o custo de pro-
muita margem para brincadeiras e experimentações. Isso, no dução. Entre estes descuidos está a má nutrição. Deficiências
entanto, não impede que cada produtor experimente e encontre na nutrição comprometem não apenas a produção de ovos e
estratégias de alimentação que melhor sirvam às características pós-lavras, mas também o desenvolvimento, a sobrevivência
do seu empreendimento, sem é claro prejudicar o desempenho e a qualidade dos alevinos.
dos peixes. Ainda assim, tenho visitado muitos produtores que Em diversas espécies de peixes já foram investigados os
já trabalham com tanques-redes há anos e uma das grandes ques- efeitos negativos da má nutrição sobre o desempenho repro-
tões é se o manejo alimentar que empregam está adequado. dutivo e a qualidade dos ovos e pós-larvas. No caso particular
Em oportunidades anteriores nesta revista foram apresen- das tilápias, são resumidas aqui algumas informações. As
tadas matérias específicas sobre a nutrição e o manejo alimentar rações para reprodutores de tilápia do Nilo devem ter entre
no cultivo de tilápias (Panorama da Aqüicultura, 1999 – Ed.52 28 e 40% de proteína (Wee e Tuan, 1988; Siddiqui et al 1998;
e 53; Panorama, 2000 – Ed.60). Não por mera coincidência, Al-Hafedh et al 1999). Baixa ingestão de proteína resulta em
estas matérias sempre acompanharam momentos importantes atraso na maturação sexual e baixa produção de ovos. Além
na tilapicultura nacional. O primeiro deles foi o início do cultivo da importância da nutrição protéica, é de conhecimento geral
da tilápia em tanques-rede no reservatório de Xingó no Rio São o impacto negativo de deficiências em vitaminas, minerais e
Francisco, marcado pelo Festival da Tilápia de Paulo Afonso ácidos graxos na eficiência reprodutiva de diversas espécies
(maio, 1999), que teve repercussão nacional e foi o estopim da de peixes. Com tilápia, em particular, há um estudo digno de
tilapicultura em tanques-rede no Nordeste do Brasil. O segundo, discussão neste artigo (Tabela 1).
foi o Simpósio Internacional sobre a Aqüicultura de Tilápias
(ISTA – setembro, 2000) realizado no Rio de Janeiro, e que deve
Tabela 1 - Efeito da deficiência de vitamina C na ração dos reprodutores sobre
ser considerado um importante marco na difusão da tecnologia a eclosão dos ovos e a qualidade das pós-larvas de Tilápia de Moçambique
de cultivo de tilápias em nosso país. (Oreochromis mossambicus). Adaptado de Soliman et al 1986
Nos anos que seguiram até o momento houve
um grande avanço no cultivo de tilápias. Primeira-
mente pelo papel dos fabricantes de rações em ofertar
produtos de qualidade para assegurar o sucesso dos
cultivos intensivos (particularmente em tanques-rede,
que até então vinha sofrendo grandes prejuízos com
desequilíbrios nutricionais e doenças decorrentes da
má nutrição). Segundo, pelos investimentos feitos em
anos recentes na industrialização e comercialização
da tilápia, com foco na exportação e na popularização
deste peixe no mercado interno. A tilápia é hoje a espé-

Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006 15


Alimentação de Tilápia
Reprodutores de tilápia de Moçambique alimentados Tilápias estão constantemente formando, enriquecendo seus
com ração desprovida de vitamina C produziram ovos e ovos e desovando para atender a demanda reprodutiva imposta
larvas de baixa qualidade. A cada 1.000 ovos gerados pelas nos sistemas intensivos. Assim, mudanças na nutrição resultam
fêmeas mal nutridas, apenas 540 eclodiram (taxa de eclosão em rápida resposta na produção e na qualidade dos ovos e das
de 54%), resultando na produção de 540 pós-larvas. Destas, pós-larvas.
57% (307 pós-larvas) apresentaram deformidades corpo- Minha recomendação aos produtores de alevinos de ti-
rais que comprometiam o seu desenvolvimento, restando lápia começa com o uso de rações nutricionalmente completas
apenas 132 pós-larvas aparentemente sadias (43% das que com pelo menos 32% de proteína na alimentação das matrizes.
nasceram). Já para fêmeas bem nutridas, a cada 1.000 ovos Estas rações devem ser usadas mesmo quando os reprodutores
produzidos, eclodiram 880 pós-larvas sadias (6,7 vezes são estocados em tanques de terra com água verde (presença
mais pós-larvas sadias). As pós-larvas produzidas por ma- de fitoplâncton) e a uma baixa densidade (0,4 a 0,6kg de repro-
trizes que receberam ração com vitamina C apresentaram dutor/m2). Rações de boa qualidade usadas na recria e engorda
peso médio de 7,25mg (45% mais pesadas) do que as pós- em tanques-rede geralmente suprem bem as necessidades
larvas oriundas de fêmeas mal nutridas, com peso médio nutricionais dos reprodutores. No entanto, em sistemas mais
de 5mg. Ambos os grupos de pós-larvas foram submetidos intensivos de reprodução (como a coleta de ovos em hapas) o
a um período de crescimento de 35 dias, o equivalente à uso de rações com 40% de proteína pode aumentar em 20 a 50%
fase de reversão sexual. Durante este período as pós-larvas a produção de ovos e pós-larvas, além de melhorar a qualidade
receberam ração nutricionalmente completa. de ovos e conferir maior resistência das pós-larvas durante a
O interessante de notar é que, mesmo fornecendo reversão sexual, comparativamente ao uso de rações com 28
uma adequada nutrição na fase de re- e 32% de proteína. Vale a pena avaliar
versão sexual, as pós-larvas oriundas isso, usando uma boa ração para peixes
de matrizes mal nutridas apresenta- "Deficiências de carnívoros. No entanto, o produtor deve
ram baixa sobrevivência (1,8%) e estar ciente de que o fato de uma ração
crescimento (peso médio final de vitaminas e minerais ter 40% de proteína não assegura que
0,03g), contra uma sobrevivência de a mesma seja melhor do que uma com
86,4% e peso médio final de 0,24g
com importantes 32%. Importam a qualidade da proteína
para as pós-larvas oriundas de ma- funções fisiológicas (digestibilidade e balanço em aminoá-
trizes bem nutridas. Este exemplo cidos) e dos ingredientes, bem como o
nos dá uma boa idéia do impacto da na reprodução e no enriquecimento mineral e vitamínico e
deficiência de uma única vitamina a qualidade do processo ao qual a ração
na ração dos reprodutores sobre a desenvolvimento foi submetida, dentre muitos outros
viabilidade dos ovos e a qualidade
e a sobrevivência das pós-larvas.
embrionário e larval fatores que podem interferir no valor nu-
tritivo das rações. Na produção de ovos
Deficiências de outras vitaminas e podem comprometer e pós-larvas em hapas os resultados da
minerais com importantes funções troca de uma ração podem ser avaliados
fisiológicas na reprodução e no de- seriamente a produção rapidamente, desde que haja um registro
senvolvimento embrionário e larval preciso do número de ovos e pós-larvas
podem comprometer seriamente a
de alevinos" coletados em cada hapa.
produção de alevinos. Quanto ao manejo alimentar dos
reprodutores, algumas particularidades
Recomendações quanto ao manejo devem ser compreendidas. Durante a reprodução as fêmeas se
nutricional e alimentar na reprodução alimentam pouco, comparativamente aos machos, pois estão
ocupadas com a incubação e proteção dos ovos e pós-larvas.
Durante alguns anos tenho acompanhado o trabalho Grande parte da farra na alimentação é feita pelos machos.
de diversos produtores de alevinos, não apenas de tilápias, Quando não é desejável que os reprodutores cresçam muito
mas também de peixes nativos, em diversas regiões do rápido, a taxa de alimentação deve ficar próxima dos níveis
país. E, em muitas oportunidades, me deparei com situ- de manutenção (em torno de 0,4 a 0,5% do PV/dia). Assim,
ações de baixa produção e qualidade de ovos (baixa taxa a ração deve ser fornecida de forma restrita. Uma boa estra-
de fecundação e eclosão) e de pós-larvas, as quais foram tégia é fornecer dia sim, dia não, uma quantidade de ração
corrigidas com a simples troca da ração que vinha sendo não superior a 1% da biomassa dos machos, em uma única
usada, confirmando o grande impacto da nutrição sobre a refeição no dia. Dividir a alimentação em várias refeições
reprodução. Com espécies nativas, que desovam em uma pequenas não é recomendável quando se faz uma alimenta-
época definida no ano, errar na nutrição dos reprodutores ção restrita. Isso pode favorecer os peixes mais vorazes em
significa comprometer toda uma safra, porém com a tilápia, detrimento dos mais tímidos, acentuando assim as diferenças
os erros com a nutrição podem ser rapidamente reparados. de tamanho entre os machos.

Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006 17


Alimentação de Tilápia
Quando se deseja que os reprodutores ganhem espécies de peixes. Seguindo estas orientações, muitos produ-
peso, a taxa de alimentação diária deve ficar entre 0,8 e tores de alevinos, com o intuito de oferecer a melhor nutrição
1% da biomassa total estocada (machos e fêmeas). Uma possível e assim melhorar o crescimento e a condição dos seus
única refeição diária deve ser oferecida, para que todos os alevinos, vêm utilizando estas rações na reversão sexual.
peixes tenham oportunidade de se alimentar. As fêmeas Em 2003 realizei um teste comparativo entre duas rações
ganham peso durante a reprodução. Porém, este ganho de comerciais em pó para pós-larvas e alevinos: uma com 40% de
peso seria maior se elas fossem mantidas separadas dos proteína e outra com 55% (Tabela 3).
machos, em descanso dentro de hapas ou de tanques. Se o
interesse é aumentar rapidamente o tamanho das fêmeas, Tabela 3 - Desempenho de alevinos de tilápia do Nilo (linhagem
estas devem passar um tempo sem reproduzir e devem ser tailandesa) em aquários alimentados com duas rações comerciais
alimentadas diariamente entre 1 a 2% do PV dividido em (dados do autor)
duas refeições diárias.
Em meio à reprodução, os reprodutores devem ser
alimentados preferencialmente antes das 10-11 horas, pois
grande parte das desovas das tilápias ocorre em horários
de muita luz (11 às 14 horas). Assim, não queremos muito
alvoroço com peixes brigando pela ração no momento mais
íntimo dos casais, principalmente se a reprodução é feita
em hapas. Evite alimentar os peixes ao final do dia, para
que eles não entrem o período noturno com a barriga cheia
e possam sofrer mais com uma eventual queda nos níveis
de oxigênio.

Proteína na ração das pós-larvas e alevinos O principal motivo que me levou a realizar este teste foi o
durante a reversão sexual grande número de consultas que vinha recebendo, na ocasião, de
produtores de alevinos de tilápia que se queixavam basicamente
Uma revisão nas pesquisas sobre a nutrição de pós- da baixa resistência dos alevinos que estavam produzindo. Havia
larvas e alevinos de tilápia do Nilo indica que, para pós- alta mortalidade de alevinos ao final da reversão, particularmente
larvas e alevinos até cerca de 1g (fase de reversão sexual), após o manuseio, a depuração e o transporte. Muitos relataram
os níveis adequados de proteína geralmente ficam entre 40 que os alevinos, ainda durante a reversão, desenvolviam man-
e 45%. Para alevinos de 1g a 10g os níveis de proteína na chas esbranquiçadas na pele. Um elo em comum entre estes
ração que resultaram em máximo crescimento ficaram entre produtores era o uso de rações comerciais com mais de 50%
30 e 38% (Tabela 2). de proteína. Assim, estoquei alevinos de tilápia do Nilo (linha-
gem tailandesa) com cerca de 0,3g em aquários de 50 litros (4
Tabela 2 - Níveis de proteína para máximo crescimento de pós-larvas
aquários para cada tipo de ração e 100 alevinos por aquário).
e alevinos de tilápia do Nilo (Adaptado de Kubitza 2000; El-Sayed, Forneci quantidades iguais de ração (4 vezes ao dia) a todos os
sem data; Rotta et al 2003) aquários durante um período de 20 dias.

Alimentação de pós-larvas de tilápia em hapa de reversão sexual

O interessante é que, mesmo com muitas informações


disponíveis sobre as exigências protéicas para pós-larvas e
alevinos de tilápia, a partir de 2002 diversas empresas de
rações disponibilizaram e recomendaram rações com mais
de 50% de proteína para a larvicultura de tilápias e outras

18 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006


Alimentação de Tilápia
Os aquários receberam aeração e troca contínua de catfish americano Ictalurus punctatus.
água de forma a manter condições de qualidade de água Resultados de estudos como estes e a observa-
semelhantes em todos os aquários. Os alevinos alimentados ção de problemas práticos no campo devem fazer os
com a ração de 40% apresentaram um peso médio final de produtores questionarem o real benefício do uso de
1,6g contra 1,4g nos alevinos que receberam a ração de rações com altos níveis de proteína na reversão sexual
55%. A conversão alimentar de 0,9 contra 1,2. Um resultado de tilápias. Ainda mais diante do atual manejo da ali-
surpreendente, não acham? Principalmente considerando mentação empregado pela maioria dos produtores, no
que, na ocasião, a ração de 40% custava cerca de R$ 1,20/kg qual se aplicam altas taxas de alimentação diária (acima
contra R$ 1,80/kg da ração com 55% de proteína. de 30% do PV/dia) e um grande número de refeições
O leitor não deve concluir com isso que toda a ração (muitas vezes mais do que 8 refeições/dia). Com tanta
com 40% de proteína é melhor que qualquer ração de 55% ração e refeições assim, sobra proteína (aminoácidos),
de proteína. O que deve concluir é que é preciso avaliar o ainda mais quando são usadas rações com altos níveis
resultado de desempenho e o custo benefício das rações protéicos.
que estão disponíveis no mercado. Mas, nesta questão de
rações com alta proteína na alimentação de pós-larvas, eu
não fui o único que experimentou tal resultado. Pesqui- Tabela 5 - Influência dos níveis de proteína bruta (PB) sobre
sando na internet (aliás, esta é uma excelente ferramenta o ganho de peso (GDP), a conversão alimentar (Conv. alim.) e
para os produtores e técnicos na busca de informações a composição em gordura na matéria seca (MS) de juvenis de
tambaqui (Adaptado de Meer et al 1995)
sobre tilápias e outros peixes), encontrei a
íntegra do trabalho do Dr. Carmino Hayashi
e colaboradores da Universidade Estadual
de Maringá – PR. Eles haviam verificado
que o nível de 38,6% de proteína digestível
(41% de proteína bruta) proporcionou maior
crescimento em pós-larvas de tilápia do Nilo
(Tabela 4) e também registraram uma ligeira
redução no crescimento e na sobrevivência
dos peixes ofertando rações com níveis mais
elevados de proteína.

Tabela 4 - Efeito dos níveis de proteína na ração sobre o desempenho de Rações com 50% ou mais de proteína
alevinos de tilápia do Nilo (Adaptado de Hayashi et al 2002) também estão sendo usadas durante a fase de
recria em tanques-rede, com tilápias de 5 a
20g. Recomendo fortemente aos produtores
de alevinos reavaliar as estratégias nutricio-
nais, até por que hoje se paga entre R$ 1,90
e 2,50/kg pelas rações com mais de 50% de
proteína contra R$ 1,40 e 1,60/kg nas rações
com 40%. Para justificar esta diferença de
preço, um grande adicional em crescimento
e sobrevivência ao manuseio e transporte
Em outro estudo, um pouco mais antigo, realizado deveria ser esperado usando rações com alta proteína.
desta feita com alevinos de tambaqui também foi verificado O produtor tem que avaliar isso, pois cada fabricante
que o aumento excessivo nos níveis de proteína prejudicou tem sua fórmula, seus procedimentos de controle de
o crescimento e a conversão alimentar (Tabela 5). Lim et al. qualidade de ingredientes, suplementações minerais
(1979) também verificaram uma ligeira redução no cresci- e vitamínicas específicas, formas diferentes de pro-
mento do milk fish com rações com 50 e 60% de proteína, cessamento, dentre muitas outras variáveis que deter-
comparado ao uso de rações de 40% e atribuíram isso à in- minam a qualidade de uma ração. Os parâmetros que
suficiente quantidade de energia de origem não protéica nas possibilitam avaliar isso (crescimento, tolerância ao
rações com alta proteína. Prather e Lovell (1973) também manuseio e transporte e custo de ração por milheiro de
sugeriram que rações com altos níveis de proteína e baixa alevino produzido) somente podem ser apurados com
quantidade de energia não protéica podem ser tóxicas ao uma cuidadosa experimentação.

Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006 19


Sugestão de manejo alimentar na reversão sexual Usando a regra dos 15 minutos, o tratador poderá deter-
minar a quantidade adequada de alimento que deve ser fornecida
Alevinos de Tilápia

No box abaixo seguem resumidas minhas recomen- aos peixes, visando otimizar o crescimento e maximizar a efici-
dações sobre a qualidade das rações e o manejo da alimen- ência alimentar. Atenção para não usar peletes demasiadamente
tação durante a reversão sexual de tilápias. Informações grande. Quando isso ocorre, a tilápia demora mais tempo para
mais detalhadas sobre o assunto poderão ser encontradas consumir a ração por uma limitação física, e assim fica a im-
no livro Tilápia (Kubitza, 2000). pressão após 20 minutos de que os peixes estão saciados, devido
à sobra de ração que ficou na superfície.
Manejo alimentar na recria e engorda de tilápias O acúmulo de gordura visceral, freqüentemente notado
pelos produtores, está muito relacionado com a qualidade das
O produtor deve ter em mente um importante funda- rações. Rações com excessiva relação energia/proteína (àque-
mento no manejo da alimentação: quanto mais próximo da las com níveis protéicos baixos, geralmente abaixo de 28%),
máxima capacidade de consumo um peixe for alimentado, assim como rações desbalanceadas em aminoácidos essenciais,
maior será o crescimento, porém, pior será a conversão podem resultar em peixe demasiadamente gordo. No entanto, é
alimentar. Com tilápias pequenas (até 20 a 30g), o pro- no manejo da alimentação onde reside a causa mais comum do
dutor deve buscar máximo crescimento, em detrimento acúmulo de gordura corporal. Peixes alimentados em excesso,
da conversão alimentar. Isso é conseguido alimentando mesmo com uma ração bem balanceada, acumulam grande
os peixes próximo da máxima capacidade de consumo quantidade de gordura, particularmente nas vísceras. E isso,
em cada refeição. Por outro lado, quando os peixes ficam somente o produtor pode prevenir.
maiores e o consumo de ração significativo (o que ocorre
com tilápias acima de 150 a 200g), o produtor deve priori- Cultivo em tanques-rede
zar a conversão alimentar em detrimento do crescimento.
Isso é alcançado alimentando os peixes de forma restrita, No cultivo de tilápias em tanques-rede é muito fácil com-
entre 80 a 90% do máximo consumo. Um modo prático parar os resultados de diferentes rações e estratégias alimentares,
de se atingir isso é usar a regra dos 15 minutos que tenho de modo que o produtor pode rapidamente ajustar o manejo nu-
indicado para muitos produtores. Esta regra também deve tricional e alimentar e, até mesmo mudar de fornecedor de ração.
ser aplicada no cultivo de tilápias em tanques de terra. Apesar de muitos produtores terem suas estratégias particulares de
alimentação (número de refeições, quantidade fornecida, tamanho
dos peletes e níveis de proteína para cada fase), é inquestionável
Regra dos 15 minutos a necessidade do uso de rações nutricionalmente completas, visto
que as exigências nutricionais devem ser totalmente atendidas
Durante uma refeição deve-se observar o tempo necessário para o através da ração. Há alguns anos era comum observar desordens
consumo da ração fornecida. Se durante as refeições de um dia a
ração ofertada demorou mais de 20 minutos para ser consumida, nutricionais em tilápias cultivadas em tanques-rede. Felizmente
nas refeições do dia seguinte deve ser reduzida a quantidade de hoje a maioria dos fabricantes dispõe de rações nutricionalmente
ração em cada refeição. Se, por outro lado, a ração fornecida foi completas de alta qualidade especificamente desenhadas para
consumida em menos de 10 minutos, no dia seguinte a quantidade
de ração por refeição deve ser aumentada. Assim, o produtor deve
atender às exigências do cultivo intensivo da tilápia tanto em
buscar fornecer em cada refeição o que os peixes são capazes de tanques-rede como em sistemas de alto fluxo ou de recirculação.
consumir em cerca de 15 minutos. Na tabela 6 segue a minha recomendação de manejo nutricional
para tilápias nestes sistemas de cultivo.

Recomendações sobre a qualidade das rações • Estabilidade na superfície da água (flutuabilidade) - rações
e o manejo da alimentação em pó que permanecem mais tempo na superfície d´água apresen-
tam menores perdas de nutrientes, ficam mais tempo à disposição
dos peixes e possibilitam uma melhor visualização do consumo
• Proteína entre 40 e 45% e moagem fina, com partículas e ajuste da oferta de ração. A flutuabilidade das rações em pó
menores que 0,5mm; depende basicamente do tipo de ingrediente usado na fórmula e
do grau de moagem da ração. Também o produtor irá notar que
• Suplementação extra de vitaminas e minerais - para uma ração que flutua bem antes de ser impregnada com o álcool,
compensar as perdas por lixiviação na água. Esta suple- pode não flutuar tão bem após a evaporação do álcool.
mentação adicional é uma prática de grande parte dos
fabricantes. No entanto, muitas vezes o próprio produtor • Uso da extrusão no processo de fabricação - submeter a mistura
pode se encarregar disso na propriedade, adicionando premix ao processo de extrusão e a uma nova moagem aumentam os custos de
vitamínico e mineral completo e, até mesmo, fortificando as fabricação. No entanto, melhora o valor nutricional da ração (devido
rações com mais vitamina C (até cerca de 1g/kg). ao aumento na disponibilidade e digestibilidade dos nutrientes de

20 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006


Tabela 6 - Recomendações quanto ao manejo nutricional e alimentar da

Alevinos de Tilápia
tilápia em tanques-rede, sistemas de alto fluxo ou de recirculação

Recomendações complementares: A indicação apresentada nesta tabela sobre a quantidade de ração a ser
fornecida diariamente deve ser usada como uma referência. O consumo real dos peixes pode ser afetado pela
temperatura da água, por infestações parasitárias, pela qualidade da água nas unidades de cultivo, entre outros
fatores. Assim, o tratador deve ficar atento ao consumo dos peixes e ajustar a quantidade de ração com base na Alimentação de tilápias em tanques-rede no
resposta alimentar (presença de sobras ou velocidade de consumo). Use a regra dos 15 minutos na Fase 2 e Fase reservatório de Xingó - Rio São Francisco
3. Na Fase 1 procure alimentar próximo a saciedade em cada refeição.

Na Fase 1a do berçário geralmente são estocados alevi- Na Fase 2 - recria os peixes passam a ser alimentados
nos pós-reversão entre 0,3 e 1,0g. A alimentação deve ser com ração contendo 32% de proteína e peletes de 3-4mm,
feita com ração farelada com 40%PB. Quando os peixes em quantidades entre 5 e 3% do peso vivo/dia, dividida
atingem cerca de 5g de peso médio (10 a 20 dias mais ou em 3 ou 2 refeições. A quantidade de ração fornecida
menos, dependendo do tamanho inicial e da temperatura deve ser reajustada de acordo com a resposta alimentar.
da água), deve ser feita uma classificação para descarte dos Use a regra dos 15 minutos.
peixes do fundo do lote. Os peixes com peso entre 3 e 8g Na Fase 3 – terminação os peixes são alimentados com
(média de 5g) vão para a Fase 1b do berçário. Na primeira peletes de 3-4mm contendo 32% de proteína, em quantidade
semana da Fase 1b ainda deve ser fornecida a ração em entre 3 e 2% do peso vivo ao dia. Não é necessário mais do
pó 40%PB, porém deve ser iniciada a oferta de peletes de que duas refeições ao dia. O tamanho dos peletes deve ser
2mm de 35-36%PB. Como os peixes maiores e vorazes aumentado de acordo com o tamanho dos peixes. Quando os
geralmente são os que se alimentam primeiro, procure peixes atingem cerca de 300 a 400g, podem ser usados peletes
fornecer primeiro os peletes de 2mm na quantidade que de 5-6m, mantendo assim até um peso de 600g. Para tilápias
os peixes forem capazes de consumir (visualizar a sobra acima de 800g podem ser fornecidos peletes de 8mm. Use a
de ração nos anéis de alimentação). Em seguida, deve ser regra dos 15 minutos para ajuste da oferta de ração. Quando os
ofertada a ração farelada, para que os menores peixes do peixes atingem cerca de 300 a 400g muitos produtores optam
lote ainda possam se alimentar adequadamente e também pelo uso de ração com 28% de proteína, acreditando que com
crescer. Após esta primeira semana, a alimentação deve isso haverá uma redução no custo de produção. Geralmente a
seguir exclusivamente com peletes de 2mm. No final desta diferença de preço entre uma ração com 28%PB e outra com
fase (peixes próximos a 30g) é possível iniciar o forneci- 32%PB não é muito grande (cerca de 10%) e não compensa a
mento de peletes de 3-4mm com 32%PB. Durante as fases redução no ganho de peso, o aumento na conversão alimentar
de berçário, em cada refeição o produtor deve alimentar os e o maior tempo necessário para terminação da tilápia. Além
peixes próximo à saciedade. No entanto, não deve haver disso, rações com baixa proteína geralmente promovem
muito desperdício (sobras) de ração. maior deposição de gordura visceral.

alguns ingredientes), confere maior homogeneidade na composição temperatura da água, o oxigênio, as infestações por parasitos, a
das partículas da ração (o que reduz a seletividade alimentar pelas composição e palatabilidade da ração, entre outros tantos, tor-
pós-larvas), minimiza as perdas de nutrientes por dissolução na água nando difícil precisar exatamente o que será consumido. Portanto,
e reduz a carga microbiológica da ração (pois alguns ingredientes, em tome como base a resposta dos peixes. Daí a importância de usar
particular os de origem animal, podem apresentar elevada contagem uma ração de boa flutuabilidade na água, que permita visualizar
de bactérias nocivas ao desempenho e saúde dos peixes). as sobras e, assim o ajuste na quantidade ofertada.

Estratégia de alimentação • Como fornecer: a quantidade diária acima sugerida deve ser
dividida em 5 ou 6 refeições/dia. Em uma refeição, evite jogar
• Quantidade de ração ofertada diariamente - Semana 1 – 25-30% toda a ração de uma vez só nos hapas ou tanques. Divida em pelo
do PV (peso vivo)/dia; Semana 2 – 20-25%; Semana 3 – 15-20%; e menos 3 parcelas, de forma que as pós-larvas tenham tempo de
Semana 4 – 10-15% do PV/dia. Estas quantidades devem ser divididas consumir as partículas antes que estas atinjam o fundo dos hapas
em 5 a 6 refeições/dia. Não se prenda tanto ao percentual do peso vivo, e tanques. Anéis de alimentação ajudam a visualizar o consumo e
pois o consumo de ração é regulado por diversos fatores, entre eles a não deixam que a ração escape através da malha dos hapas.

Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006 21


tar. Tilápias também exploram intensivamente algas de maior
Alimentação de Tilápia

porte que compõem o fitoplâncton, favorecendo a proliferação


de algas de menor tamanho (conhecidas como nanoplâncton),
que são ainda mais eficientes em termos de produção de massa
planctônica. As algas do nanoplâncton também são aproveitadas
pela tilápia, graças a sua habilidade em secretar, na faringe,
um muco que auxilia na aglutinação destas minúsculas algas,
concentrando-as para o consumo. Esta reciclagem de nutrientes
do alimento natural e a constante oferta de ração aportam diaria-
mente nutrientes importantes para a manutenção do plâncton.
Mesmo com esta facilidade, muitos produtores têm fa-
lhado na formação e manutenção do plâncton. Diversos erros de
manejo contribuem com isso. O mais comum deles é o excesso
de renovação de água nos tanques. Isso se deve ao equivocado
conceito de muitos produtores e técnicos de que, se não tiver
água renovando constantemente, faltará oxigênio aos peixes.
Assim, com o excesso de renovação de água, há uma diluição
Taques-rede com anéis de alimentação
dos nutrientes e o plâncton não se desenvolve. Quando os pei-
xes são alimentados com ração, os nutrientes excretados nas
fezes e através das brânquias são suficientes para manter uma
adequada biomassa de plâncton (se não houver uma renovação
Cultivo tanques de terra excessiva de água). Troca de água na recria e engorda de tilápias
em tanques de terra somente faz sentido quando se atinge uma
No cultivo de tilápias em tan- determinada biomassa de peixes (a partir
ques de terra a estratégia nutricional e
alimentar para cada fase de cultivo deve
"Estamos em 2007 de mais ou menos 600g/m2 ou 6.000
kg/ha). Ou melhor, quando se atinge uma
ser ajustada em função do estoque de e muitos produtores determinada taxa de alimentação (acima
peixes no tanque (biomassa) e da dis- de 80kg/ha/dia). O disco de Secchi é uma
ponibilidade de plâncton (notadamente estocam pequenos ferramenta útil para determinar quando
o fitoplâncton). O produtor de tilápia
deve ter em mente que o plâncton
alevinos e esperam a água deve ser renovada. A transparên-
cia da água em tanques de tilápia deve
chega a contribuir com 50 a 70% do meses para colher os ser mantida entre 20 e 30cm. Quando
crescimento das tilápias em tanques a transparência cai abaixo de 20cm, é
com água verde e baixa renovação peixes de tamanho de o momento de começar a renovar um
de água. Mesmo em tanques com alta pouco de água. Quando a transparên-
densidade de tilápias, porém com água mercado, sem nenhum cia retorna a valores entre 20 e 30cm
verde, esta contribuição ainda pode
chegar a cerca de 30%. O plâncton
manejo intermediário. a troca de água deve ser interrompida.
Além da excessiva troca de água, ou-
contribui para o balanceamento da dieta O conhecimento de tras condições impedem a formação de
das tilápias, fornecendo aminoácidos adequado plâncton: a baixa alcalinidade
essenciais, ácidos graxos, minerais e noções básicas de da água (corrigida através da calagem);
vitaminas que podem estar ausentes ou
em quantidades limitantes nas rações.
qualidade de água e a presença de argila em suspensão na
água (devido a enxurradas, aeração mal
Por isso, dificilmente são observados de planejamento da aplicada, dentre outros fatores) e a esto-
sinais de deficiências nutricionais em cagem inicial de uma biomassa pequena
tilápias cultivadas em tanques de terra produção fariam uma de peixes. Esta última condição é algo
com águas verdes. Portanto, promover muito comum quando os produtores
a formação do plâncton (deixar a água grande diferença nestas não adotam o sistema de produção por
verde) é o primeiro dever de casa para
quem cria tilápia em tanques de terra.
pisciculturas" fases. Por exemplo, quando se estoca 2
a 3 alevinos de tilápia de 1g nos tanques
As próprias tilápias contribuem para de terra, a biomassa que na estocagem
isso, realizando uma forte predação é de apenas 2 a 3g por m2, permanece
sobre os organismos do zooplâncton, baixa durante um longo período. Assim,
que são importantes consumidores de algas. Controlando o zo- a quantidade de ração aplicada no tanque é muito pequena, não
oplâncton, a população de algas do fitoplâncton tende a aumen- fornecendo nutrientes suficientes para manter uma adequada

22 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006


Alimentação de Tilápia
massa de plâncton. Além do atraso no crescimento, tal prática intenso, é possível que a quantidade de ração fornecida
implica em ineficiente uso do espaço na piscicultura. esteja abaixo do adequado. Já quando as fezes se apre-
Muitos produtores ainda conduzem seus cultivos em sentam com coloração bege-marrom, muito pouco tom
uma única fase (estocam pequenos alevinos e esperam meses de verde, seguramente a oferta de ração está excessiva
para colher os peixes de tamanho de mercado, sem nenhum (ou pode não haver plâncton na água, no caso de águas
manejo intermediário). O conhecimento de noções básicas de transparentes ou barrentas).
qualidade de água e de planejamento da produção faria uma Peixes que recebem muita ração ficam preguiço-
grande diferença nestas pisciculturas. sos em explorar o alimento natural (fitoplâncton). Na
Diferente do cultivo em tanques-rede, onde as condições tabela 7 são apresentadas as estratégias de alimentação
de qualidade de água se mantêm relativamente constantes, nos que tenho indicado para a recria e terminação de tilápias
tanques de terra, além das diferentes condições de disponibili- em tanques de terra com plâncton. Essa estratégia está
dade de alimento natural e das diferentes taxas de estocagem (e adaptada às rações comerciais disponíveis no mercado
biomassa) de peixes, ainda ocorrem variações diárias em impor- (tamanho de peletes e níveis de proteína).
tantes parâmetros de qualidade da água (oxigênio dissolvido, No cultivo de tilápias em tanques de terra com
temperatura, gás carbônico, pH e amônia tóxica), que interfe- plâncton, conforme a biomassa de peixes aumenta em
rem no consumo de alimento dos peixes. Isso faz do manejo cada fase do cultivo, a disponibilidade de alimento na-
alimentar das tilápias em tanques de terra uma arte. Uma arte tural por peixe (ou por quilo de peixe) diminui. Assim,
que precisa ser assimilada e aprimorada dia a dia. o lógico seria iniciar uma fase com uma ração menos
Para auxiliar nesta arte, deixo aqui uma referência: concentrada em nutrientes e finalizar cada fase com uma
fiquem atentos à coloração das fezes da tilápia. Este é o mais ração mais concentrada em nutrientes. Por exemplo, no
eficiente indicador para a adequação do manejo alimentar em berçário se a água estiver bem verde, no início poderia
tanques com plâncton. O produtor atento irá notar na superfície ser usada uma ração farelada com 30-32% de proteína,
da água a presença das fezes. Fezes de coloração marrom-esver- passando gradualmente para uma ração mais rica em
deada indicam que o peixe está explorando o alimento natural proteína e na forma de peletes 2mm (32-36% de proteína)
em conjunto com a ração fornecida. Se as fezes são de cor verde quando os peixes se aproximam de 5g. No entanto, geral-

Tabela 7 - Recomendações para o manejo alimentar de tilápias em tanques com água verde (plâncton)

Recomendações complementares: Promova rapidamente a formação do plâncton (mantenha a água fechada; calagem quando necessário;
adubação inicial 5kg uréia/1.000m2 nas primeiras 2 a 3 semanas. Também pode ser feito o uso de farelos e estercos de aves e suínos em conjunto
com a uréia nas primeiras semanas, não ultrapassando uma taxa de aplicação de 5kg de matéria seca por 1.000m2/dia).
Mantenha a água verde com transparência entre 20 e 30cm (se estiver fazendo adubação, pare de adubar quando a transparência chegar aos
30cm). Renove um pouco de água se a transparência cair abaixo de 20cm.
Na recria e engorda, enquanto a biomassa for menor que 200g/m2 (2.000kg/ha) forneça ração apenas uma vez ao dia em quantidade equivalente
à metade da taxa de alimentação indicada nesta tabela. Quando a biomassa superar 200g/m2, alimente como indicado na tabela. Fique atento
à coloração das fezes dos peixes e ajuste a taxa de alimentação com base nesse indicativo. Fezes marrons: reduza a oferta de ração; fezes
verdes: aumente a oferta de ração; fezes marrom-esverdeadas: mantenha a alimentação como está.
Lembre-se que, com o aumento na biomassa de peixes do início ao final de cada fase de cultivo, a disponibilidade de alimento natural por
quilo de peixe diminui. Assim, não reduza a qualidade da ração no final de cada fase de cultivo, pois os peixes precisam de um alimento ainda
melhor nestes momentos.

Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006 23


Alimentação de Tilápia

mente o produtor não encontra uma ração em pó com 30-32% engorda onera o custo de produção.
de proteína. Duas alternativas ao produtor: moer peletes com No cultivo de tilápia, todo dia é dia de aprendizado e revisão
30 a 32% de proteína ou fornecer uma ração em pó com 40% de conceitos e procedimentos. É natural que a tecnologia de cultivo,
de proteína de forma limitada (alimentação restrita). assunto do interesse de muitos pesquisadores e produtores em todo
Outra consideração importante no cultivo de tilápia em o mundo, passe por aprimoramentos e ajustes finos diariamente. E
tanques com plâncton: na fase de terminação, principalmente nem sempre estes novos avanços estão disponíveis de forma pronta
da metade para o final da fase, o consumo de ração fica muito e mastigada ao setor produtivo. Assim, os produtores e técnicos de-
alto e há uma tendência dos produtores em comprar rações vem estar sempre abertos para rever seus conceitos e estratégias de
mais baratas, geralmente com baixo teor protéico (menos de produção, bem como estabelecer uma rotina ou hábito diário de busca
28%), acreditando que isso reduzirá o custo de produção. Neste de informações que lhe permitam expandir seus conhecimentos. Seja
momento a biomassa de peixes está alta e a disponibilidade de via internet, livros, revistas, seminários, cursos, entre outros.
alimento natural diminui. Usar uma ração de baixa proteína, A experimentação cuidadosa na propriedade também pos-
principalmente em situações em que se espera produzir mais sibilita grande aprendizado e identificação de correções no manejo
do que 15-20 toneladas de tilápia por hectare, pode ser um tiro da produção. Não devemos, também, nos esquecer que muito pode
pela culatra. Principalmente se a ração for desbalanceada em ser aprendido com os seus funcionários e os funcionários dos seus
aminoácidos essenciais e tiver baixo enriquecimento mineral e vizinhos e amigos tilapicultores, que estão dia a dia envolvidos dire-
vitamínico (o que, geralmente, é uma regra nas rações de baixa tamente com a produção e enfrentando problemas muito parecidos
proteína e de preços extremamente atrativos disponíveis no com os seus. Ouvir a experiência destas pessoas pode ser um hábito
mercado). Mesmo o uso de uma boa ração com 28% de proteína muito prazeroso e de integração de sua equipe de funcionários com
nesta fase final pode não trazer vantagens em termos de redu- a equipe de outras pisciculturas e até com você mesmo. Ainda mais
ção do custo de produção (exceto quando a biomassa final não quando estas reuniões informais são acompanhadas de um saboroso
ultrapassa 800g/m2 ou 8 toneladas/ha e há plâncton disponível). filé de tilápia e uma cerveja bem gelada.
A economia no preço da ração é da ordem de 10%. No entanto Nunca se esqueçam de valorizar o material humano que
é comum a conversão alimentar se elevar em mais de 15 a 20% têm em suas mãos. Lembrem-se de que pela mão dos seus trata-
quando se troca uma ração de 32% por uma de 28% de proteína. dores, passa, na forma de ração, pelo menos 50% do seu capital
Assim, economiza 10% no preço de compra. No entanto, usa-se de giro. Assim, estimule-os a serem os melhores possíveis.
15 a 20% mais ração por quilo de peixe produzido. Além disso, o Premiem quem merece. Finalmente, deixo aqui meus votos de
crescimento um pouco mais lento do peixe com a ração de 28% que 2007 seja um ano de mudanças de atitude, de busca inces-
de proteína requer um tempo adicional de cultivo de cerca de 30 sante por mais aprendizado e de resultados cada vez melhores
(para tilápias até 600g) a 60 dias (no caso de tilápias de 1kg). O nos cultivos. Esta somatória de evolução e sucesso contribuirá
produtor deve lembrar que tempo é dinheiro e esta extensão da com a expansão da tilapicultura em nosso país.

24 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006


Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 1
Estimulada pela crescente expansão do consumo
em mercados nacionais e internacionais, a aqüicultura
mundial de tilápias experimentou grande intensificação a
partir da década de 90. As estratégias de cultivo seguiram
em direção ao aumento nas densidades de estocagem
e a uma dependência cada vez maior das rações for-
muladas, reduzindo a contribuição dos alimentos naturais
antes abundantes nos cultivos. Em diversos países prolifera-
ram sistemas intensivos de cultivo com recirculação de água,
cultivos em tanques de alto fluxo e também em tanques-rede
com alta densidade. No Brasil, em particular, a grande expansão
da produção de tilápias deve ser atribuída ao aproveitamento dos grandes
reservatórios para o cultivo em tanques-rede de pequeno volume e alta densidade, além da
intensificação dos cultivos em tanques de terra.
Antes desta intensificação as tilápias eram consideradas peixes de superior rusticidade e resistentes às do-
enças, comparadas às demais espécies cultivadas. No entanto, o cenário que se presencia hoje nos cultivos intensivos
de tilápia tem sido marcado por episódios de massiva mortalidade devido à desatenção e inabilidade no manejo e/
ou por infecções causadas por uma grande gama de patógenos.

Tilápias na mira dos patógenos


Por:
Fernando Kubitza, Ph. D.
Acqua & Imagem Serviços Ltda.
fernando@acquaimagem.com.br

Da euforia ao desastre

A rápida expansão no cultivo intensivo de tilápias no Brasil,


particularmente com tanques-rede nos grandes reservató-
rios do país, está associada à instalação de um grande número
Portanto, a inexperiência dos produtores debutantes, o
desconhecimento das boas práticas de manejo e dos fundamentos
técnicos da atividade, bem como o inadequado preparo técnico
de empreendimentos de pequeno porte, alguns de gerenciamento dos profissionais que prestarão suporte a estes empreendimentos,
individual, outros conduzidos por associações de pescadores ou são fatores que contribuem com as grandes perdas de peixes e
de pequenos produtores rurais. Geralmente, no início da operação prejuízos durante as primeiras incursões na criação. E isso pode
destes empreendimentos tudo é uma festa. Porém, muitos destes contribuir de forma significativa com a instalação e proliferação
empreendimentos negligenciam as boas práticas para um eficaz de perigosos agentes patogênicos nas áreas de cultivo.
manejo sanitário preventivo. Adquirem alevinos e juvenis infes-
tados por parasitos e não dão a devida importância a uma nutrição
adequada, achando que todas as rações são a mesma coisa, e o
que vale é o preço. Não contam com supervisão experiente, nem
equipamentos adequados para as atividades de rotina. Assim,
produtores iniciantes geralmente derrapam no manejo básico das
classificações e transferências de peixes, experimentando alta
mortalidade logo após as primeiras operações de manejo. Produ-
tores iniciantes e sem orientação técnica segura, tendem a pecar
pelo excesso de alimento fornecido aos peixes, o que geralmente
compromete a conversão alimentar e a resistência dos peixes a
algumas doenças. Ansiosos em retornar o capital investido aos
caixas do empreendimento, se lançam sem conhecimento em
irresponsáveis transportes de longa distância, sem um preparo
correto dos peixes e sem dispor de equipamentos adequados.

28 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008


Foto 1 – Mortalidade de juvenis de tilápias em
tanque-rede (Foto: Fernando Kubitza) QUADRO 2 – Sinais clínicos de bacterioses nos peixes

• Perda do apetite e letargia;

Tilápia
• Ocorrência de mortalidade crônica (todos os dias
aparecem peixes mortos nos tanques);
• Natação errática e com movimentos espiralados;
• Hemorragia nas nadadeiras e no corpo;
• Hemorragia nos olhos e no ânus;
• Podridão (necrose) das nadadeiras;
• Lesões na pele (manchas brancas, lesões com aspecto
inflamado ou ainda lesões na forma de úlceras
ou furúnculos);
• Abdômen distendido (ascite) geralmente devido ao
acúmulo de fluído na cavidade abdominal;
• Escamas eriçadas, em função da excessiva distensão
do abdômen;
• Hemorragia nas vísceras e nos órgãos internos;
• Baço aumentado e de coloração escura;
• Nódulos brancos no baço, rins e fígado;
• Intestino com fluído sanguinolento.

Em 2001 foi publicado na revista Panorama da AQÜI-


Doenças bacterianas de potencial risco CULTURA (Vol. 11, no 66) um dos primeiros relatos alertando
para a ocorrência de infecções por Streptococcus em exempla-
Diversas bacterioses em tilápia que, há alguns anos eram res de tilápias provenientes de cultivos em tanques-rede e de
de pouca expressão ou mesmo sequer haviam sido diagnosticadas pesque-pagues da Região Sudeste (Foto 2). Na ocasião, alguns
no Brasil, hoje impõem consideráveis prejuízos econômicos ao patologistas e técnicos duvidaram da existência deste patógeno
setor (Quadro 1 e Quadro 2). A globalização da tilapicultura, com nos plantéis de tilápia em nosso país. Hoje, reconhecidamente, a
a transferência de pós-larvas, alevinos e matrizes entre diversos septicemia causada por bactérias do gênero Streptococcus é tida
países, tem favorecido a rápida disseminação de agentes patogê- como uma das mais graves patologias nas criações intensivas
nicos junto aos principais centros de cultivo. de tilápia no Brasil (como também é em outros países) e o seu
potencial patogênico por diversas vezes mereceu destaque nas
páginas desta revista (Panorama da AQÜICULTURA: Vol.
11, no 66; Vol. 15, no 89; Vol. 17, no 103 e Vol. 17, no 104) e em
Quadro 1 – Principais bactérias
palestras apresentadas em diversos eventos do setor.
patogênicas na tilapicultura

Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 29


As septicemias causadas pelas bactérias do gêne-
Foto 2 – Tilápia com infecção por Streptococcus apresentando natação errática ro Aeromonas, Edwardsiella (especialmente a espécie
e espiralada, corpo curvado em forma de “S” e coloração escurecida (Foto: Edwardsiella tarda - Foto 4) e Vibrio também são bastante
Fernando Kubitza)
freqüentes nos cultivos de tilápia, geralmente acometendo

Tilápia
peixes com a resistência comprometida após estresses
associados ao manejo ou a problemas de qualidade de
água (Quadro 3).

Quadro 3 - Fatores que favorecem a ocorrência de


doenças bacterianas nos peixes

• Deterioração da qualidade da água;


• Nutrição deficiente (deficiências nutricionais);
• Excessiva alimentação dos peixes;
• Temperatura da água muito elevada;
• Estresse físico e fisiológico no manuseio e
transporte;
• Excessiva estocagem nos tanques de cultivo;
• Infestações por parasitos potenciais vetores
de doenças.
Mortalidade massiva de alevinos e juvenis devido
à infecção por Flavobacterium columnaris (Panorama da
AQÜICULTURA: Vol. 17, no 101) sempre foram comuns no
cultivo de tilápias e outras espécies, particularmente após o
Foto 4 – Tilápia com septicemia provocada por
manejo relacionado às despescas, classificações (Foto 3) e Edwardsiella tarda (Foto: Fábio Mori)
transporte. No entanto, no cultivo de tilápias em tanques-rede
esta bactéria ganha importância econômica ainda maior quando
acomete peixes de maior porte. Em virtude da particularidade de
alguns mercados como, por exemplo, o mercado de peixes vivos
para consumo ou pesca esportiva, tem havido a necessidade de
realizar a seleção (classificação) dos lotes prontos para despesca,
de forma a assegurar a venda de peixes com peso acima do míni-
mo determinado pelos compradores. Este manuseio com peixes
de grande porte muitas vezes é bastante traumático, resultando
em perdas de escama, lesões no corpo e supressão da resposta
imunológica dos peixes, favorecendo a Columnariose tanto
nos peixes que foram vendidos como os que acabam ficando
na piscicultura para completar o crescimento.

Foto 3 – Manejo de classificação dos peixes em empreendimento


de tanques-rede (Foto: Daniel Umezu)

Recentemente uma bactéria do gênero Francisella sp.,


extremamente virulenta para diversas espécies de peixes mari-
nhos e de água doce, foi associada a massivas mortalidades de
tilápia em cultivos comerciais em Taiwan, Havaí e Costa Rica
(Hsieh et al 2006; Mauel et al 2007; Soto et al 2007). As baixas
nos estoques de peixes nos tanques devido a esta bacteriose
foram entre 5 e 80%, com média de 50%. Em 2005, esta bacte-
riose, a princípio confundida com a doença causada por bactérias
do gênero Pisciriketsia (comum causadora de septicemias em

Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 31


salmonídeos), dizimou os estoques de fornecerem pós-larvas com sintomas
tilápia de uma das principais empresas da virose como alimento a alevinos
produtoras e exportadoras de filés frescos de um peixe carnívoro (Lates cal-
para os Estados Unidos, a Aqua Corpo- carifer - barramundi), estes últimos
"É bem provável

Tilápia
ration, na Costa Rica. Os sinais clínicos desenvolveram sinais clássicos de
não específicos desta bacteriose incluem virose causada por iridovírus. Pós-
perda do apetite, comportamento letárgi-
co, natação errática e olhos saltados. In-
que episódios de larvas de tilápias aparentemente
sadias também se tornavam infec-
ternamente foi observado um sinal mais tadas com o vírus, após comerem
específico da doença, que é a presença de viroses estejam pós-larvas sintomáticas, moribundas
um grande número de nódulos brancos ou mortas, que apresentavam os
nas brânquias, no baço, no rim e nas sintomas da virose. Mortalidade de
gônadas. Estes nódulos ocasionalmente ocorrendo em até 100% era possível de ser obser-
eram vistos no fígado e no coração. Até vada. Em diversos empreendimentos de
30% dos filés dos peixes provenientes de produção de alevinos de tilápia no Brasil,
estoques afetados apresentavam lesões cultivos de tilápia sinais clínicos semelhantes aos relatados
granulomatosas de aspecto escurecido. por estes pesquisadores podem ser obser-
Produtores que observarem os sinais
clínicos típicos da infecção por esta
no Brasil e no vados nas pós-larvas durante a reversão
sexual. Em alguns casos que acompanhei,
bactéria (granulomas viscerais) devem não foi detectada a presença de parasitos
comunicar o fato e enviar amostras de
peixes moribundos a laboratórios de
mundo sem que ou bactérias que pudessem explicar a
sintomatologia da doença. Tampouco
patologia de peixes para o diagnóstico tratamento com produtos terapêuticos
do agente patogênico. haja um real na água ou a inclusão de antibióticos na
ração foi capaz de amenizar a mortalidade
Doenças virais em tilápias de pós-larvas e alevinos.
diagnóstico do Sinais clínicos de doenças virais em
Apesar de ainda serem escassos peixes incluem hemorragia no corpo, ane-
os registros de viroses em tilápias, mia severa (brânquias ficam extremamente
diversas espécies de peixes são acome- problema devido pálidas, quase brancas), os peixes apre-
tidas por doenças virais, algumas delas sentam abdômen distendido devido a um
extremamente severas e de notificação
obrigatória em diversos países, levando
à carência de acúmulo de fluído na cavidade abdominal.
Alevinos e juvenis costumam arrastar lon-
à eliminação completa do estoque de gos cordões de fezes de coloração branca.
peixes suspeito de ser portador da viro- profissionais Outros sinais clínicos de viroses se asseme-
se, bem como de estoques de matrizes lham aos sinais das septicemias bacterianas
potencialmente infectados. (Quadro 2). Assim, muitos casos de viroses
Em 1994, Avtalion & Shlapober- treinados e de acabam sendo equivocadamente diagnos-
sky observaram perda de apetite, escure- ticados como bacteriose, particularmente
cimento do corpo e natação espiralada em quando alguma bactéria é isolada dos peixes
tilápias com menos de 30 dias de idade, laboratórios afetados. É bem provável que episódios de
mantidas em laboratório. A mortalidade viroses estejam ocorrendo em cultivos de
tinha início por volta do 4o e 6o dia de
vida e um novo pico de mortalidade equipados para tilápia no Brasil e no mundo sem que haja
um real diagnóstico do problema devido
ocorria próximo do 14o dia de vida. Estes à carência de profissionais treinados e de
pesquisadores identificaram partículas
semelhantes a iridovírus em células iso-
o diagnóstico de laboratórios equipados para o diagnóstico
de doenças virais nos peixes. Em casos de
ladas do cérebro dos peixes. Em 1997, mortalidade de peixes onde não é possível
Ariel e Owens, também observaram pós- doenças virais isolar ou diagnosticar um agente patogênico
larvas de tilápia de Moçambique com os (parasitos ou bactérias), e/ou tampouco há
mesmos sintomas de natação espiralada indicativos de problemas ambientais ou de
e corpo escurecido. A morte das pós- nos peixes." manejo, ou mesmo quando a terapia com
larvas ocorria cerca de 24 horas após o antibióticos ou a aplicação de produtos
aparecimento dos sintomas. Não foram terapêuticos na água não resolva o
identificadas bactérias ou parasitos que problema, o produtor deve suspeitar da
pudessem explicar esta mortalidade. Ao ocorrência de virose e notificar algum

Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 33


laboratório de patologia que possa diversos motivos:
assisti-lo no diagnóstico. a) os animais doentes geral-
mente deixam de se alimentar. As-
Vacinas "É preciso sim os antibióticos acabam servindo

Tilápia
apenas para prevenir que outros
Diversas doenças bacterianas e vi-
rais na criação de salmões, trutas, “catfish”
incentivar animais do plantel manifestem os
sinais da doença:
americano e de diversas espécies de peixes b) os produtores invariavel-
marinhos, entre outros, são hoje controladas parcerias entre mente usam antibióticos sem ter a
através da vacinação de alevinos e juvenis. A certeza de que o produto realmente é
relevância da tilápia na aqüicultura mundial
e a magnitude dos prejuízos causados pelas
as instituições de eficaz contra a bactéria combatida;
c) é muito difícil precisar a
infecções bacterianas têm estimulado o quantidade correta do produto que
investimento em pesquisas para o desenvol- pesquisa na área deve ser adicionada à ração, pois deve se
vimento e avaliação de vacinas para prevenir levar em conta uma estimativa do consu-
as principais bacterioses que acometem este
peixe. Vacinas contra Estreptococcose, Co-
de ictiopatologia mo dos peixes no lote a ser tratado e uma
possível perda do produto por dissolução
lumnariose, Vibriose e septicemias causadas na água;
por bactérias do gênero Aeromonas e Edwar- e as empresas d) alguns peixes comem mais do
dsiella têm sido experimentalmente avalia- que outros e, portanto, a eficácia do trata-
das. Vacinas contra Streptococcus iniae e públicas que mento pode não ser homogênea no lote.
Streptococcus agalactie (esta última espécie Além disso, a administração de anti-
já diagnosticada no Brasil) já são produzidas bióticos via ração implica em custo adicio-
comercialmente e utilizadas em diversos dispõem, em nal, nem sempre recuperado adequadamente
países. No país apenas uma vacina contra visto que o tratamento sempre é feito após
vibriose foi registrada para uso na aqüicul- seu corpo de o início do curso de uma doença, quando
tura. Em breve, novos produtos deverão estar já ocorreu alguma ou muita mortalidade.
disponíveis, visto que as empresas/laborató-
rios que produzem vacinas para organismos especialistas, Portanto, a vacinação massiva de lotes de
alevinos como forma de prover imunidade
aquáticos estão de olho no grande mercado específica a estas doenças é de fundamental
representado pela tilapicultura no Brasil. O de profissionais importância para a sustentabilidade da indús-
Ministério da Agricultura (MAPA) deve tria. Por se tratar de uma prática preventiva, a
priorizar o atendimento às solicitações de
registros de vacinas para uso em aqüicultura.
altamente vacinação pode colaborar significativamente
para que a aqüicultura não seja manchete nos
Uma boa parte destas vacinas é preparada a noticiários devido aos episódios constantes
partir dos patógenos que comprovadamente tarimbados no de mortalidade nos cultivos mundo afora.
já estão presentes nos cultivos aquáticos no Com isso, além da melhor previsão dos
Brasil. Portanto, o risco do uso destas vacinas
nas pisciculturas nacionais é praticamente
desenvolvimento resultados da produção, da redução no uso
de medicamentos e da minimização dos
inexistente.Também há um grande espaço custos associados ao tratamento de doenças,
para pesquisa e desenvolvimento nesta área de vacinas para a aqüicultura se beneficiará imensamente
a partir de cepas de patógenos isolados em ao passar a ter uma percepção mais positiva
nossos próprios cultivos. É preciso incentivar
parcerias entre as instituições de pesquisa na
outras espécies por parte do consumidor em relação ao de-
senvolvimento da atividade e à qualidade e
área de ictiopatologia e as empresas públicas segurança dos seus produtos.
que dispõem, em seu corpo de especialistas, animais e mesmo
de profissionais altamente tarimbados no Boas práticas de produção para a pre-
desenvolvimento de vacinas para outras
espécies animais e mesmo para uso na me-
para uso venção de doenças

dicina humana. As instituições de fomento Medicamentos e vacinas são fer-


à pesquisa devem priorizar o financiamento na medicina ramentas importantes na produção. No
de iniciativas neste sentido. entanto, nenhuma delas é capaz de reparar
O tratamento convencional das humana. " os estragos causados pelo descaso no uso
bacterioses na tilapicultura, feito através de boas práticas de produção e de manejo
da administração de antibióticos incorpo- sanitário, que abrem as portas dos culti-
rados às rações nem sempre é eficaz, por vos às doenças.Dentre as principais boas

Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008 35


práticas de manejo sanitário em pis- et al 2007) demonstraram que o monoge-
cicultura, vale a pena ressaltar pontos nóide Gyrodactylus niloticus serve como
fundamentais que todo produtor e
técnico devem ter cristalizados em
"Para baratear reservatório e vetor do Streptococcus e
que infestações por este parasito podem
Tilápia

seus conceitos de produção (ver agravar a severidade da mortalidade de


resumo no quadro 4). a alimentação tilápias infectadas com esta bactéria.
Atenção à qualidade da Manter os novos estoques re-
água - monitoramento contínuo e dos peixes alguns cebidos (alevinos e juvenis) em locais
manutenção de adequada qualidade isolados dos estoques já em produção
da água nos tanques de criação. piscicultores - no caso do cultivo em tanques-rede,
No caso da criação de tilápias em manter uma linha de tanques distante
tanques-rede nos grandes reserva-
tórios, o produtor pouco (ou nada)
lançam mão das demais linhas, exclusivamente para o
recebimento de alevinos e juvenis.
pode fazer no que tange à correção da Remoção imediata de peixes mo-
qualidade da água. Portanto, é fundamen- de resíduos ribundos ou mortos, que servem como
tal a escolha dos locais adequados para potencial reservatório e propagadores dos
a instalação dos seus cultivos com base animais, tais patógenos. Peixes mortos em decomposi-
em uma análise criteriosa dos possíveis ção liberam na água aminas biogênicas,
riscos associados ao local de implantação
do projeto e das séries históricas dos
como carcaças dentre muitas a histamina, que podem
provocar reações adversas (como o choque
parâmetros de qualidade de água dos re- anafilático) ou deprimir o sistema imuno-
servatórios quando estas são disponíveis. e vísceras de lógico de peixes sadios no mesmo tanque
Em geral as análises dos parâmetros de ou, no caso do cultivo em tanques-rede, de
qualidade de água são freqüentemente frango, ou peixes que estão em tanques posicionados
negligenciadas ou realizadas de maneira próximos aos tanques-rede onde estão se
muito pontual, desconsiderando altera-
ções sazonais que costumam ocorrer em
mesmo resíduos acumulando os peixes mortos.
Isolamento das unidades de
alguns reservatórios. produção onde os peixes apresentam
Adequada nutrição e alimenta- resultantes do mortalidade crônica e sinais clínicos de
ção - ajustar os níveis nutricionais das doenças infecciosas - no caso da criação
rações, o tamanho dos peletes e a oferta processamento em tanques-rede, as unidades de cultivo
diária conforme a fase de desenvolvimen- afetadas devem ser deslocadas para uma
to e as condições do cultivo.
Evitar o uso de resíduos animais
do peixe, muitas linha isolada do bloco da produção.
Exames de rotina para detectar
na alimentação dos peixes - em épo- problemas - mesmo em lotes de peixes
cas de altos preços das rações, muitos vezes realizado aparentemente sadios, periodicamente de-
produtores buscam alternativas caseiras vem ser feitos raspados de brânquias e do
para baratear a alimentação dos peixes. na própria muco dos peixes, de modo a detectar uma
Muitos deles lançam mão de resíduos infestação parasitária ainda em seu início,
animais (carcaças e vísceras de frango, piscicultura. facilitando o controle. Peixes moribundos
por exemplo) ou dos resíduos resultan- devem ser sempre inspecionados para de-
tes do processamento do peixe, muitas
vezes realizado na própria piscicultura.
Tal prática tecção de parasitos ou observações de sinais
clínicos externos e internos indicativos de
Tal prática pode favorecer a ocorrência doenças. Peixes sadios também devem ser
de doenças bacterianas e virais. pode favorecer rotineiramente inspecionados, verificando
Cuidados na introdução de a condição de integridade e coloração das
alevinos, juvenis e reprodutores - dar a ocorrência brânquias, a integridade do muco e a firme-
preferência para a aquisição de alevinos za das escamas, bem como a condição dos
e matrizes junto a produtores que empre-
gam boas práticas de manejo sanitário na
de doenças órgãos internos dos peixes, sempre atento a
sinais clínicos que possam indicar alguma
produção. Alguns parasitos comuns du- anormalidade.
rante a reversão sexual de tilápias, como bacterianas Atenção constante ao com-
a tricodina e os monogenóides podem portamento dos peixes - em especial
favorecer a infecção por bactérias. Em e virais." durante as alimentações, observando a
trabalho de pesquisa recente, pesquisa- resposta em termos de tempo de consu-
dores do USDA nos Estados Unidos (Xu mo da ração.

36 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008


Evitar uso indiscriminado de terapêuticos e fazer o uso Do ponto de vista sanitário e, até mesmo, de
de medicamentos apenas sob a orientação de um profissional ex- segurança alimentar, a sustentabilidade da tilapicultura
periente no tratamento de patologias em peixes. no Brasil depende de atitudes responsáveis por parte
Realizar a desinfecção de equipamentos que foram usados dos produtores e profissionais envolvidos no setor, bem

Tilápia
em outras propriedades (redes, puçás, caixas de transporte, roupas, como de ações melhores planejadas das instituições
calçados, bombas de água, entre outros). que fomentam o desenvolvimento aqüícola no país (em
No cultivo em tanques de terra, periodicamente os tanques caráter estadual e federal). Um primeiro passo é padro-
devem ser drenados deixando que o seu fundo seja exposto ao sol nizar os procedimentos sanitários nas pisciculturas atra-
forte por um ou mais dias. Tal prática também pode ser utilizada nos vés da elaboração e distribuição de um manual de boas
cultivos em tanques-rede, entre uma despesca e outra, mantendo os práticas para o manejo sanitário em pisciculturas em
tanques suspensos, expondo a malha dos mesmos ao sol. tanques escavados e em tanques-rede, voltado à orien-
tação de técnicos e produtores sobre os procedimentos
Quadro 4 - Fundamentos básicos do manejo sanitário preventivo
mais adequados para a prevenção e controle das prin-
• Contínuo monitoramento e correção da qualidade cipais enfermidades. Ainda há um tabu muito grande entre
da água; profissionais de diversas classes sobre o quanto o produtor
• Assegurar uma correta nutrição através do uso de rações deve saber sobre tratamento de doenças na piscicultura. Em
de qualidade adequada às condições do cultivo; minha opinião ele deve saber o máximo possível sobre o
• Prover adequado manejo alimentar, evitando alimentar os assunto, pois na hora do aperto geralmente o produtor não
peixes de maneira excessiva; encontra um especialista de plantão para socorrê-lo e aca-
• Manter adequadas condições de estocagem; ba sendo dele próprio a decisão sobre o que fazer. Se não
• Aquisição de alevinos com fornecedores idôneos e tiver a mínima idéia, palpites de vizinhos e comerciantes
atentos ao manejo sanitário dos seus estoques; leigos acabam sendo a única alternativa que lhe resta. É
• Atenta observação do comportamento dos peixes e preciso, também, que o Ministério da Agricultura, através
dos sinais indicativos de anormalidades e doenças; de suas agências competentes, regulamente os produtos
• Exames rotineiros de peixes sadios e moribundos; seguros para a prevenção e controle de enfermidades em
• Controle preventivo de infestações parasitárias e de animais aquáticos. Hoje, por exemplo, aplicar calcário
potenciais vetores de doenças; ou sal nos tanques de cultivo pode ser considerado um
• Rotina de remoção de peixes moribundos ou mortos; procedimento ilícito, pois não há regulamentação sobre o
• Adequado manejo de classificação e manuseio uso destes produtos para fins de aqüicultura no país. Nesta
dos peixes; regulamentação vale usar o bom senso. O melhor caminho
• Uso de técnicas eficazes e equipamentos adequados é simplificar esta tarefa, balizando-se pelas normatizações
no transporte de peixes vivos; existentes em países onde este assunto já está bem mais
• Apoio de profissional especializado para o evoluído e sacramentado. Não adianta querer inventar a
estabelecimento de ações para o controle de doenças; roda nesta questão. Melhor é empreender esforços para
• Desinfecção de equipamentos sempre que necessário. um maior rigor no controle da compra e na fiscalização
do uso destes produtos.

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