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SÃO CARLOS
2010
693 Torres, Rubens Francisco
O uso da cor nos audiovisuais: análise
semiótica na recuperação da informação / Rubens
Francisco Torres. ─ 2010.
75 p.:il.
Orientadora: Profª. Dra. Nádea Regina
Gaspar.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação)
– Universidade Federal de São Carlos, 2010.
Banca examinadora:
SÃO CARLOS
2010
DEDICO este trabalho àqueles que mais me incentivaram e
acreditaram nos meus estudos: Deus e meus pais, Onofre e
Odete Torres.
AGRADECIMENTOS
Aos meus familiares e à minha irmã Rosângela pelo apoio ao longo de todo
o caminho percorrido.
À minha orientadora, Profª. Dra. Nádea Regina Gaspar, por ter-me mostrado
o caminho a percorrer.
A Cristo e Maria que ouviram meu desabafo nos momentos mais difíceis.
A São Francisco de Assis que me mostrou toda a beleza das cores
espalhada por esse nosso mundo.
Aos meus amigos de Minas Gerais, em especial Roberto, Hellen, Douglas
Prado, Larissa, Silvia, Dany Oliveira, Douglas Madson, Janaína, Marcelo e
Roberta, que torceram e deram todo o apoio possível ao meu trabalho.
A todos os meus amigos da BCI-UFSCar, em especial da minha turma 06,
que tornaram meus últimos quatro anos muito mais felizes.
Agradeço a todos os professores do DCI, que me apresentaram à
Biblioteconomia e Ciência da Informação e me incentivaram a desbravar novos
caminhos dessa profissão fantástica.
Aos meus amigos de alojamento, do Bloco 19, em especial Didi e
Alexandre, que muito contribuíram com meu trabalho me ouvindo e incentivando
diariamente.
Aos amigos Renan, Laura, Sheila e Cássia que muito me ajudaram para a
realização desse trabalho.
E à Biblioteca Comunitária da UFSCar que me ajudou com a aquisição dos
livros que enriqueceram este trabalho.
Renda-se como eu me rendi. Mergulhe no que você não
conhece, como eu mergulhei. Pergunte, sem querer a resposta,
como estou perguntando. Não se preocupe em "entender".
Viver ultrapassa todo o entendimento.
Clarice Lispector
El presente trabajo tuvo como objetivo averiguar si un elemento del lenguaje visual,
como el color, revela el sentido en obras audiovisuales y si se puede utilizarlo en la
recuperación de información de tales obras. Otro aspecto importante de la
investigación fue demostrar que los fundamentos de la teoría del imagen, del color y
de la teoría semiótica pueden ser utilizados por las ciencias de la información como
herramientas para el análisis de la información audiovisual. Para tanto, después del
análisis de las películas del director estadounidense Tim Burton - que tiene
características particulares de liderazgo y utiliza el color como una herramienta
importante en la narración de sus películas - se intentó poner en destaque los
colores más importantes que Burton ha utilizado. Las siguientes películas fueron
seleccionadas: "Edward Scissorhands" (1990), "Big Fish" (2003) y "Corpse Bride"
(2005) y a partir de ellos se realizó una descripción del uso de colores y sus
relaciones con la narrativa, utilizando el análisis semiótico como apoyo.
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................14
2 OBJETIVOS: GERAL E ESPECÍFICOS.....................................................................16
2.1 Objetivo Geral .........................................................................................................16
2.2 Objetivos Específicos ...............................................................................................16
3 A IMAGEM ..................................................................................................................17
4 SEMIÓTICA ................................................................................................................26
5 A COR.........................................................................................................................30
5.1 Percepção das cores............................................................................................... 31
5.2 Características das cores .........................................................................................36
5.2.1 Matiz, Valor e Croma.............................................................................................36
5.2.2 Cores primárias, princípio subtrativo e aditivo...................................................... 37
5.2.3 Círculo Cromático..................................................................................................40
5.3 Utilização da cor na comunicação ...........................................................................42
5.4 Significados culturais e psicológicos das cores........................................................43
5.4.1 Sensações acromáticas ........................................................................................43
5.4.1.1 Branco ............................................................................................................... 44
5.4.1.2 Preto...................................................................................................................44
5.4.2 Sensações Cromáticas..........................................................................................44
5.4.2.1 Vermelho ............................................................................................................44
5.4.2.2 Laranja ...............................................................................................................45
5.4.2.3 Amarelo ..............................................................................................................45
5.4.2.4 Verde..................................................................................................................46
5.4.2.5 Azul ....................................................................................................................46
6 ANÁLISE DAS CORES NOS FILMES DE TIM BURTON ..........................................47
6.1 Tim Burton............................................................................................................... 47
6.2 Resultados das análises dos filmes analisados .......................................................50
6.2.1 Edward mãos de tesoura.......................................................................................50
6.2.1.1 Resumo do enredo .............................................................................................50
6.2.1.2 Análise do percurso narrativo.............................................................................54
6.2.1.3 Análise da cor.................................................................................................... 55
6.2.2 Peixe Grande e suas histórias maravilhosas.........................................................57
6.2.2.1 Resumo do enredo ............................................................................................57
6.2.2.2 Análise do percurso narrativo ............................................................................61
6.2.2.3 Análise da cor.....................................................................................................63
6.2.3 A Noiva Cadáver .................................................................................................. 65
6.2.3.1 Resumo do enredo .............................................................................................65
6.2.3.2 Análise do percurso narrativo ............................................................................67
6.2.3.3 Análise da cor ....................................................................................................69
1 INTRODUÇÃO
3 A IMAGEM
A imagem está muito presente em nossas vidas, ela está nas propagandas,
nos desenhos artísticos, na imprensa, na TV, no cinema, em nossas roupas, na
internet, enfim, por todos os lugares por onde o homem transita. Desde a pré-história
a humanidade sente a necessidade de reproduzir o que vê do mundo nos mais
variados meios de comunicação e suportes. Desde que nascemos somos
bombardeados por imagens dos mais diversos tipos, fato esse que acelerou nosso
processo de reconhecimento delas. Neiva Júnior (1994, p. 59) afirma que: “existem,
certamente, dois tipos de imagens: aquelas traduzidas por traços artesanais,
verdadeiras assinaturas do pintor, e as automáticas e mecânicas, que só foram
possíveis a partir da invenção da fotografia”. Também Buoro (2002, p. 34) considera
que a imagem
ocupa um espaço considerável no cotidiano do homem contemporâneo [...].
Faz-se necessária uma tomada de consciência dessa presença maciça,
pois, pressionados pela grande quantidade de informação, estabelecemos
com as imagens relações visuais pouco significativas [...]
Uma imagem figurativa, que represente algo do mundo real, é mais facilmente
interpretada do que uma imagem não figurativa, como uma pintura abstrata. Já uma
imagem com função de signo é preciso um aprendizado para se assimilar seu
significado. Mas as imagens não são fechadas em um único tipo de valor, uma
mesma imagem pode ser uma combinação desses valores, com características
representativas, simbólicas ou sígnicas em conjunto.
Além desses valores, as imagens também assumem três tipos de funções:
a) O modo simbólico. Inicialmente as imagens serviram de símbolos; para
ser mais exato, de símbolos religiosos [...];
b) O modo epistêmico. A imagem traz informações (visuais) sobre o mundo,
que pode assim ser conhecido, inclusive em alguns de seus aspectos não-
visuais [...];
c) O modo estético. A imagem é destinada a agradar seu espectador, a
oferecer-lhe sensações (aisthésis) específicas [...]. [E] essa função da
imagem é hoje indissociável, ou quase, da noção de arte, a ponto de se
confundirem as duas, e a ponto de uma imagem que visa obter um efeito
estético poder se fazer passar por imagem artística (vide a publicidade, em
que essa confusão atinge o auge) (ARNHEIM, 1969, apud AUMONT, 1995,
p. 79-80).
Essas funções também não são estanques, uma mesma imagem pode
apresentar uma combinação de funções, o que mostra a complexidade de se
analisar uma imagem e a riqueza de informações que ela carrega em si.
A partir dessas definições, Aumont (1995) sugere que a análise da imagem
pode ser dividida em cinco aspectos: a parte do olho, do espectador, do dispositivo,
da imagem e da arte. Assim, é preciso ter um conhecimento básico:
a) do funcionamento da visão humana, como ela decodifica o que vê e como
ela realiza essa decodificação;
b) depois é preciso entender como o cérebro recebe essas informações e
interpreta de acordo com a personalidade do sujeito, pois cada pessoa
recebe as informações de uma forma, pois traços da cultura e modo de
vida pessoal interferem na compreensão imagética;
c) entender como as imagens são produzidas e as diferentes características
dos diversos materiais usados para isso, também são elementos
importantes na análise, principalmente porque, apesar das imagens serem
representações da realidade, elas nunca são legitimamente iguais com o
que representam e também possuem diferenças entre si, mesmo que
representem a mesma coisa.
21
possuem algum tipo de problema visual. É por meio da visão que captamos tudo o
que está presente no mundo e a luz é parte fundamental desse processo de
percepção visual. Aumont (1995) esclarece isso, quando diz que,
a percepção visual é o processamento, em etapas sucessivas, de uma
informação que nos chega por intermédio da luz que entra em nossos olhos.
Como toda informação, esta é codificada – em um sentido que não é o da
semiologia: os códigos são, aqui, regras de transformação naturais (nem
arbitrárias, nem convencionais) que determinam a atividade nervosa em
função da informação contida na luz. Falar de codificação da informação
visual significa, pois, que nosso sistema visual é capaz de localizar e
interpretar certas regularidades nos fenômenos luminosos que atingem
nossos olhos. Em essência, essas regularidades referem-se a três
características da luz: sua intensidade, seu comprimento de onda, sua
distribuição no espaço (AUMONT, 1995, p. 22).
Dependemos, portanto, da luz para ver imagens. “As imagens são autônomas
em relação aos objetos, pois deles não provêm” (NEIVA JR, 1994, p. 58). Variações
na iluminação modificam o processo de percepção visual e ainda podem provocar
23
estímulos diferentes entre si. Na mente humana, todos estes estímulos são
recebidos e decodificados, devolvendo ao espectador o seu entendimento do que
aquela imagem representa.
[A] parte do olho induz, automaticamente, a considerar o sujeito que utiliza
esse olho para olhar uma imagem, a quem chamaremos [...] de espectador.
Esse sujeito não é de definição simples, e muitas determinações diferentes,
até contraditórias, intervêm em sua relação com uma imagem: além da
capacidade perceptiva, entram em jogo o saber, os afetos, as crenças, que,
por sua vez, são muito modelados pela vinculação a uma região da história
(a uma classe social, a uma época, a uma cultura). Entretanto, apesar das
enormes diferenças que são manifestadas na relação com uma imagem
particular, existem constantes, consideravelmente trans-históricas e até
interculturais, da relação do homem com a imagem em geral (AUMONT,
1995, p. 77).
Uma característica das imagens é que elas são únicas. Uma imagem nunca é
o que ela representa e mesmo duas imagens semelhantes não são a mesma coisa.
Mesmo que se imprima uma mesma foto em várias folhas de papel, cada foto possui
uma característica própria. Além disso, pequenas variações nos tons e nas tintas
usadas na impressão já modificam a imagem.
Uma menina não é uma representação de sua irmã gêmea; uma palavra
impressa não é imagem de outra palavra impressa com o mesmo tipo; duas
fotografias da mesma cena, mesmo que as cópias tenham sido feitas a
partir do mesmo negativo, não são imagens uma da outra (GOODMAN,
1979, APUD NEIVA JR, 1994, p. 10).
Cabe ao analista dissecar todas essas características das imagens para tentar
compreendê-la. Como vimos, a imagem é diferente da escrita, exige procedimentos
específicos de análise, que é preciso:
As imagens, assim, “escondem” muito mais do que aquilo que vemos nelas.
Existe um universo de informações a ser explorado. Identificar essas informações e
as relacionar são trabalhos essenciais de um analista de imagens.
No próximo tópico será especificada uma das características da imagem, a
cor. Para tanto, valemo-nos da teoria semiótica.
26
4 SEMIÓTICA
5. A COR
Visto, então, que a ideia de cor depende da definição dada pela área de sua
aplicação, com base no que foi apresentado até agora, podemos esboçar
uma definição que consubstancie todos os componentes (o objeto, a luz, o
órgão da visão, o cérebro) do nosso vetor imaginário dos conceitos da cor:
A cor é uma informação visual, causada por um estímulo físico, percebida
pelos olhos e decodificada pelo cérebro (GUIMARÃES, 2004, p. 12, grifo do
autor).
Tomando-se, deste modo, a cor como fundamento signico para este trabalho,
serão destacados a seguir elementos essenciais da cor, que subsidiarão
posteriormente a análise, tendo em vista: a percepção das cores; as características
das cores; a utilização da cor na comunicação; os significados culturais e
psicológicos das cores. Vamos a eles.
Sobre o indivíduo que recebe a comunicação visual, a cor exerce uma ação
tríplice: a de impressionar, a de expressar e a de construir. A cor é vista:
impressiona a retina. É sentida: provoca uma emoção. E é construtiva, pois,
tendo um significado próprio, tem valor de símbolo e capacidade, portanto,
de construir uma linguagem própria que comunique uma ideia (FARINA;
PEREZ; BASTOS, 2006, p. 13, grifo do autor).
De acordo com Farina, Perez e Bastos (2006, p. 60, grifo dos autores), é
possível fazer um paralelo entre a existência da cor e a Comunicação, da seguinte
maneira:
emissor – objeto, cuja superfície reflete a luz;
codificador – condições físicas do objeto para refletir a luz;
canal – raio de luz;
mensagem – cor;
decodificador – aparelho visual do indivíduo;
receptor/intérprete – cérebro do indivíduo.
Deste modo, um primeiro conceito importante que devemos saber sobre a cor
é que ela não é uma característica própria dos elementos do mundo, mas sim uma
percepção visual da luz que nos cerca, pois “a cor não tem existência material. Ela é,
tão-somente, uma sensação provocada pela ação da luz sobre o órgão da visão”
(PEDROSA, 2008, p. 19). Já Aumont (1995, p. 25), afirma que “a cor – bem como a
luminosidade – não está ‘nos objetos’, mas ‘em’ nossa percepção”.
Pedrosa (1982) também compartilha da visão de Aumont (1995) quando diz:
A cor não tem existência material: é apenas sensação produzida por certas
organizações nervosas sob a ação da luz – mais precisamente, é a
sensação provocada pela ação da luz sobre o órgão da visão. Seu
aparecimento está condicionado, portanto, à existência de dois elementos: a
luz (objeto físico, agindo como estímulo) e o olho (aparelho receptor,
funcionando como decifrador do fluxo luminoso, decompondo-o ou
alterando-o através da função seletora da retina) (PEDROSA, 1982, p. 17,
grifo do autor).
diferente [...] (uma cor próxima a outra muda a percepção de ambas)” (ARNHEIM,
1997, p. 335). Com isso, “[...] as cores valem sobretudo pela coloração vizinha,
adquirindo maior importância ou perdendo-a irremediavelmente” (MOTTA, 1979, p.
80).
A luz branca possui todas as diferentes cores que conhecemos dentro do
espectro de 380 a 760 milimícrons do comprimento de onda que é percebido pelo
ser humano. Fora dessa faixa as ondas não são percebidas pelo homem.
Todas as cores que não percebemos estão presentes na luz branca. Sua
dispersão, isto é, a dispersão da luz, origina o fenômeno do cromatismo. A
luz branca, o branco que percebemos é, portanto, acromático, isto é, não
tem cor. O mesmo diremos do preto, que representa a absorção total de
todas as cores, ou seja, a negação de todas elas (FARINA; PEREZ;
BASTOS, 2006, p. 61).
Além dessa característica biológica, “[...] cada uma das cores também tem
inúmeros significados psicológicos, associativos e simbólicos. Assim, a cor oferece
um vocabulário enorme e de grande utilidade para o alfabetismo visual” (DONDIS,
1997, p. 64). Uma dessas características é a psicológica, pois a cor permite
modificar comportamentos humanos, estimular sensações e alterar nossa percepção
do mundo em geral, como diz os autores abaixo.
As cores influenciam o ser humano e seus efeitos, tanto de caráter
fisiológico como psicológico, intervêm em nossa vida, criando alegria ou
tristeza, exaltação ou depressão, atividade ou passividade, calor ou frio,
equilíbrio ou desequilíbrio, ordem ou desordem, etc. As cores podem
produzir impressões, sensações e reflexos sensoriais de grande
importância, porque cada uma delas tem uma vibração determinada em
nossos sentidos e pode atuar como estimulante ou perturbador na emoção,
na consciência e em nossos impulsos e desejos (FARINA; PEREZ;
BASTOS; 2006, p. 02).
O que está presente na maioria das culturas são os conceitos mais primitivos
de associação das cores com elementos da natureza, como, por exemplo, o azul do
céu e do mar, o vermelho do sangue, o marrom da terra e o verde das plantas.
Talvez algumas das reações emocionais à cor sejam condicionadas pelas
cores encontradas na natureza. O branco, símbolo de pureza, lembra a
neve recém-caída; o negro, uma cor de tristeza, é ligado à ausência de luz e
calor à noite; os verdes e azuis evocam a tranqüilidade encontrada em
bosques, colinas, campinas e lagos; os amarelos e laranjas, cores do sol e
do fogo, criam uma impressão de calor, brilho e felicidade (BUSSELE, 1977,
p. 78).
1
JUNG, C. G.; et al. Collected Works: Psychology and Alchemy. E.U.A.: Pantheon Press, 1953, v. 12.
36
É preciso ter cuidado com o uso desses termos, pois existem diversas
definições e nomenclaturas para eles em autores diversos. Para o presente trabalho,
utilizamos os conceitos tal como entende Guimarães (2004) e Pedrosa (2008).
Para Guimarães (2004, p. 54), o matiz (também conhecido como tom), seria
“a própria coloração definida pelo comprimento de onda; é o que determina o que
conhecemos por azul, vermelho, amarelo, verde etc”.
Pedrosa (2008, p.20) busca também designar a cor:
Em linguagem corrente, a palavra cor tanto designa a sensação cromática,
como o estímulo (a luz direta ou o pigmento capaz de refleti-la) que a
provoca. Mas, a rigor, esse estímulo denomina-se matiz, e a sensação
provocada por ele é que recebe o nome de cor.
resultantes das misturas dessas cores”. É por meio de tons e matizes, que, segundo
Bussele (1977, p.76), “a cor define a forma e transmite emoções e estados de
espírito”.
Já, o Valor (também denominado luminosidade ou brilho) está relacionado
com a luminosidade. De acordo com Pedrosa (2008, p. 35), o Valor são “termos
utilizados para designar o índice de luminosidade da cor”, “[...] ou o quanto a cor se
aproxima do branco ou do preto” (GUIMARÃES, 2004, p. 54).
Outra característica importante do ato perceptivo da cor é o croma. Para
Pedrosa (2008, p. 35), croma “refere-se à saturação, percebida como intensidade da
cor. Estágio em que o vermelho apresenta-se mais vermelho, equidistante do azul e
do amarelo; o amarelo mais amarelo; o verde mais verde; o azul mais azul”. O croma
se relaciona com o grau de intensidade de uma cor. Mais intensa, a cor se mostra
mais viva, radiante; menos intensa, a cor se aproxima do cinza.
Conhecer bem o matiz, valor e croma é importante para se realizar um
trabalho visual bem organizado e harmônico, contribuindo para a mensagem que se
deseja passar, pois,
em qualquer composição bem organizada, o matiz, lugar e tamanho de
qualquer área de cor, bem como sua claridade e saturação, são
estabelecidos de tal modo que todas as cores juntas se estabilizam
mutuamente num todo equilibrado (ARNHEIM, 1997, p. 336).
Guimarães (2004) mostra que foi no século 18, com o trabalho do gravador
alemão Jackob Christof Le Blon, com contribuição de Goethe, que se chegou à
definição de uma tríade primária para as cores pigmento: formadas pelas cores
púrpura, azul-esverdeado (posteriormente denominados por magenta e ciano,
respectivamente) e amarelo (Figura 1).
Síntese subtrativa
das cores
Magenta
Amarelo Ciano
Cor-pigmento
Além desse processo, existe também a síntese aditiva das cores, que
corresponde a combinação das cores-luz. As três cores básicas da síntese aditiva
são o azul, verde e vermelho (Figura 2).
Síntese aditiva
das cores
Verde
Azul Vermelho
Cor-luz
Figura 2 – Síntese aditiva das cores
Fonte: GUIMARÃES (2004, p. 65).
Círculo Cromático
Como assinala Motta (1979, p.80): “cores complementares são aquelas que,
colocadas uma ao lado da outra, se complementam naturalmente, no sentido da luz”.
O círculo cromático revela a variedade de cores que podem ser produzidas,
dando a entender que,
há algo incompleto em toda e qualquer cor em particular [...]. O caráter
único dessa cor, sua frieza ou calor, tal importunidade ou distância, nos
afeta unilateralmente e aponta por sua mera presença para a existência de
uma contraparte que poderia restabelecer o equilíbrio em nossa experiência
visual (ARNHEIM, 1997, p. 346).
41
Farina, Perez e Bastos (2006, p. 116), afirmam que “podemos constatar que o
uso da cor, [...] não pode ser resolvido arbitrariamente, com base apenas na
percepção estética e no gosto pessoal”. Na área da comunicação, principalmente no
jornalismo e publicidade, o interesse sobre seu estudo cresceu muito nas últimas
décadas, pois já foi possível perceber a sua importância dentro da comunicação.
Na realidade, a cor é uma linguagem individual. O homem reage a ela
subordinado às suas condições físicas e às suas influências culturais. Não
obstante, ela possui uma sintaxe que pode ser transmitida, isto é, ensinada.
Seu domínio abre imensas possibilidades aos que se dedicam ao estudo
dos inúmeros processos de comunicação visual. [...] Essa sintaxe rege os
elementos que constituem a mensagem plástica: a cor possui, como a luz, o
movimento, o peso, o equilíbrio e o espaço, leis que definem a sua
utilização (FARINA; PEREZ; BASTOS; 2006, p. 14).
5.4.1.1 Branco
Varichon (2005) define o branco como a luminosidade por excelência. Ele
sempre esteve relacionado com o sagrado e espiritual, por remeter à luz, paz e
limpeza. Na Bíblia Sagrada o branco é o emblema do divino, sendo a cor dos anjos
e elementos sagrados como o cordeiro e a pomba. Em algumas culturas é a cor da
fertilidade e da vida, por estar associada ao leite e ao esperma.
Apesar de possuir tantos aspectos positivos associados, o branco é a cor
mais irritante justamente por ser a soma de todos os comprimentos de onda,
podendo provocar desespero, medo e sentimento de prisão, de falta de liberdade,
como explicitam os autores abaixo:
Remete também a algo incorpóreo, a cor dos fantasmas e espíritos. O
branco é a cor do vazio interior, da carência afetiva e da solidão, haja vista
que a exposição prolongada de sujeitos em ambientes totalmente brancos
tende a acentuar neles caracteres esquizóides. Segundo recomendação da
Organização Mundial de Saúde para as Instituições Hospitalares, as
paredes dos ambulatórios e os quartos não devem ser totalmente brancos
(FARINA; PEREZ; BASTOS, 2006, p. 97).
5.4.1.2 Preto
Pastoureau (2005) afirma que o preto é a cor da morte, solidão e melancolia,
dentro da cultura ocidental. Renúncia, culpa e desonestidade. Cor utilizada em
religiões representando austeridade, renúncia e penitência. Também é a cor da
elegância, modernidade e autoridade (por exemplo, nos árbitros de futebol e juízes).
“A cor preta é a ausência de luz e corresponde a buscar as sombras e a escuridão.
É a cor da vida interior sombria e depressiva. Morte, destruição, tremor estão
associados a ela” (FARINA; PEREZ; BASTOS, 2006, p. 98).
5.4.2.1 Vermelho
Segundo Varichon (2005), o vermelho é uma cor rica em simbolismos e que
fascina o homem desde a pré-história. É a cor que representa o sexo, a fertilidade,
virilidade e perigo. Pastoureau (2005) diz que chamar o vermelho de cor é
45
praticamente um pleonasmo, por ela ser considerada a cor por excelência, cor
arquétipa, a primeira de todas as cores para o homem, tanto que em várias línguas o
termo vermelho e cor possuem o mesmo significado. É a cor da sedução, do amor,
do erotismo, da paixão e a tudo que é relacionado a esses temas. É também a cor
da criatividade, do dinamismo, do sangue, da guerra, do fogo, da matéria e do
materialismo.
5.4.2.2 Laranja
É uma cor sedutora e que remete à saúde e vitalidade (PASTOUREAU,
2005).
Associação material: ofensa, agressão, competição, operacionalidade,
locomoção, outono, laranja [fruta], fogo, pôr-do-sol, luz, chama, calor, festa,
perigo, aurora, raios solares, robustez.
Associação afetiva: desejo, excitabilidade, dominação, sexualidade, força,
luminosidade, dureza, euforia, energia, advertência, tentação, prazer, senso
de humor (FARINA; PEREZ; BASTOS, 2006, p. 100).
5.4.2.3 Amarelo
Varichon (2005) nos mostra que o sol é a principal associação da cor amarela
e é a cor mais paradoxal, pois pode representar situações contrárias, como a riqueza
e a exclusão social. “O amarelo é um pouco mais frio do que o vermelho e remete à
alegria, espontaneidade, ação, poder, dinamismo, impulsividade” (FARINA; PEREZ;
BASTOS, 2006, p. 101).
O teórico e cineasta Einsestein (1990, p. 79-84), apresenta algumas
características da cor amarela:
As linguagens divina e sagrada designavam pelas cores o ouro e amarelo a
união da alma a Deus e, por oposição, o adultério num sentido espiritual [...].
A maçã dourada era, para os gregos, o símbolo do amor e da concórdia,
mas, por oposição, representava a discórdia e todas as desgraças em
conseqüência [...]. O Amarelo se tornou a cor do ciúme, da inveja, da traição
[...]. Há uma razão especial para o cristianismo ver o amarelo com
suspeição. Fora a cor associada ao amor libertino [...]. Sua reputação
negativa na Idade Média foi formada pela soma de alusões associativas e
não mais estritamente pela cor. Os árabes viam nesta cor ‘lividez’ em vez de
‘brilho’. Os rabinos consideravam o amarelo ‘palidez’ em vez de ‘vivacidade’,
e privilegiavam as associações com o sentido do gosto: o gosto ‘traiçoeiro’
do limão, diferente da doçura da laranja.
46
5.4.2.4 Verde
Pastoureau (2005) diz que o verde é uma cor ambivalente e pode representar
o destino, a chance e o azar, o dinheiro, a permissão, a liberdade e a esperança. É a
cor da natureza, das plantas, das coisas naturais e saudáveis (como legumes e
verduras), é calmante e tranquilizadora. Também é a cor da juventude, libertinagem,
vícios, drogas, infidelidade e transgressão. O verde, como afirma Eisenstein (1990,
p. 79) remete “aos símbolos da vida – jovens brotos de folhas, folhagem e a própria
‘verdura’ – de modo tão firme quanto o é com os símbolos da morte e decadência –
musgo, limo, e as sombras no rosto de um cadáver”.
Outros autores também qualificam o significado do verde.
Mistura do amarelo e azul, contém a dualidade do impulso ativo e a
tendência ao descanso e relaxamento. É um sedativo que dilata os vasos
capilares e tem efeito de reduzir a pressão sanguínea, suas radiações
acalmam as dores nevrálgicas e resolvem alguns casos de fatiga nervosa,
insônia, etc. (FARINA; PEREZ; BASTOS, 2006, p. 101).
5.4.2.5 Azul
Pastoureau (2005) afirma que o azul é apontado como uma das cores
preferidas pelas pessoas em países ocidentais. É a cor do infinito, da distância, dos
sonhos, da evasão e fuga da realidade. Cor da fidelidade e da humildade, ela
representa a pureza e a castidade da Virgem Maria na cultura Cristã. É também a
cor da paz, do frio, da água e da aristocracia. Na Ásia, segundo Varichon (2005), o
azul é uma cor cercada de conotações negativas. Na Turquia e Ásia Central é a cor
do luto. Na China, é associada a tormentas e evocação de espíritos e anúncio de
morte. Na Índia, é a cor da abjeção e também do luto.
O azul-escuro indica sobriedade, sofisticação, inspiração, profundidade e
está de acordo com a idéia de liberdade e de acolhimento. Designa infinito,
inteligência, recolhimento, paz, descanso, confiança, segurança. Pode ter
conotação de nobreza (sangue azul). O azul escuro também apresenta um
componente de densidade (o mar profundo e denso tende a ser azul
escuro) (FARINA; PEREZ; BASTOS, 2006, p. 102).
Wood” (1994), considerado o pior diretor de todos os tempos. Apesar de ter tido uma
ótima aceitação da crítica, não conseguiu aprovação do público. “Marte Ataca”
(1996), seu próximo filme, também seria outra homenagem, desta vez ao cinema de
ficção científica da década de 50 e 60, que também influenciou muito na criação de
seu estilo, porém este filme teve recepção morna da crítica e público. Burton se
envolveu, então, com um projeto de uma nova versão de “Superman”, mas que foi
cancelado após meses de trabalho já iniciado. Ele conseguiu se recuperar dessa
fase mais difícil com “A lenda do cavaleiro sem cabeça” (1999). Seus filmes
seguintes foram: “Planeta dos Macacos” (2001), “Peixe Grande e suas histórias
maravilhosas” (2003), “A fantástica fábrica de chocolates” (2005), “A Noiva cadáver”
(2005) e “Sweneey Todd – O barbeiro demoníaco da Rua Fleet” (2007). Seu último
trabalho é o filme “Alice no país das maravilhas”, versão do clássico livro infantil de
Lewis Carroll e filmado com tecnologia 3D.
Uma das características que mais marcam o trabalho do diretor é o uso de
diversas cores, o estilo gótico, elementos que misturam curvas e retas e o tom
sombrio da narrativa. Ele também costuma repetir parcerias com atores e
profissionais que trabalham com ele, como o ator Johnny Depp e o músico Danny
Elfman, entre outros.
A cor é um elemento importante nos filmes de Tim Burton e que apresentam
sempre um grande destaque. Analisando sua filmografia é possível identificar que as
cores mais usadas por Tim Burton são: o azul, o vermelho e o verde, acompanhado
das sensações acromáticas brancas e pretas.
O azul, como dito anteriormente, é a cor que marca a subjetividade, a vontade
de sair da realidade e mergulhar em um mundo mágico e misterioso. É também um
indicador de pureza, inocência ou ingenuidade. Em praticamente todos os seus
filmes, a cor azul aparece logo na abertura, sempre acompanhada da cor preta.
Essa combinação nos passa uma sensação de frieza e distanciamento e é muito
usada quando relacionada com a morte, como em “Os fantasmas se divertem” e “A
Noiva cadáver”. O uso da cor em seus filmes foi se modificando ao longo de sua
filmografia e é possível dividir sua carreira em dois períodos, em que se observa que
ele passa de uma representação da visão do mundo mais objetiva para uma
representação do interior das personagens, dando o caráter de subjetividade.
Em seus primeiros filmes, havia um personagem destituído de cores e que
vive em um mundo monocromático até que outros personagens o levam a entrar em
49
McMahan (2006) afirma que “Edward mãos de tesoura” (1990) é o filme que
até hoje define o diretor no imaginário das pessoas e que possui a estrutura de um
conto-de-fadas em sua narrativa. Conta a história de um jovem que possui tesouras
no lugar das mãos e que foi criado sozinho por um inventor louco, em uma mansão
isolada perto de uma pequena cidade. Ele é descoberto por uma moradora da
cidade, que se compadece de sua situação e o leva para viver com sua família. Num
primeiro momento, as pessoas da cidade até procuram fazer amizade com o rapaz,
mas elas o acham estranho e muito diferente. Edward se apaixona pela filha da
mulher que o acolheu e esse amor acaba gerando a ruína da relação dele com os
moradores da cidade, que passam a temê-lo e anseiam por expulsá-lo de lá.
O filme se inicia com uma senhora idosa que conta uma história para sua neta
que tenta dormir. Essa história é a vida de Edward mãos de tesoura. Edward era, na
verdade, um dos inventos de um inventor que morava em uma mansão isolada.
Esse inventor faleceu antes de terminar a criação de Edward, por isso ele ficou sem
mãos, que eram substituídas por tesouras. Edward passou a viver sozinho nessa
mansão, após a morte de seu pai/inventor, sem nenhum contato com o mundo
externo.
Certo dia, Peg Boggs, uma revendedora de produtos de beleza e moradora
da pequena cidade onde fica a mansão, resolve visitar o local para ver se mora
alguém e se há algum cliente por lá. Ela, então, conhece Edward, que se sente
assustado com sua presença. Ela também sente medo dele num primeiro momento,
mas acaba se compadecendo de sua situação, pois percebe que ele é uma boa
pessoa. Edward é muito tímido, calado e envergonhado. Ele usa roupas de couro
preto e possui o rosto pálido e cheio de cicatrizes, por causa das lâminas de suas
tesouras. Peg o leva para sua casa e promete cuidar dele e de suas cicatrizes. Ela o
apresenta para o marido e o filho pequeno, que aceitam a presença dele em casa.
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Peg ainda mostra para Edward fotos de sua filha adolescente, Kim Boggs, que
viajou com o namorado e amigos. Ao ver as fotos, Edward se sente atraído por ela.
Logo as moradoras da cidade ficam sabendo que Peg levou um rapaz
estranho para casa e ficam curiosas para saber quem é, mas Peg tenta preservá-lo.
Edward sente muita dificuldade em se adaptar na sua nova realidade, e não
consegue realizar atividades simples como se vestir e comer, mas Peg sempre tenta
motivá-lo e o ajuda como pode. O marido e filho de Peg descobrem que Edward
possui um talento, que é o de cortar belos arbustos em formato de animais e coisas.
As vizinhas ficam ainda mais curiosas para conhecê-lo e acabam marcando um
churrasco com a família para apresentá-lo à cidade. Os moradores são simpáticos
com ele, mesmo fazendo várias piadas com a sua situação. Ele recebe o convite de
várias pessoas para que corte os arbustos de suas casas também.
Tarde da noite, enquanto todos dormem, Kim, a filha adolescente, chega sem
avisar a família. Ela vai para o seu quarto e não percebe a presença de Edward que
dorme em sua cama. Quando ela o vê, se assusta e grita desesperada pelos pais.
Edward também se assusta e acaba furando o colchão d’água com suas lâminas. Os
pais acalmam Kim e contam quem ele é e que viverá com eles, já que ele não tem
família. Ela ainda se sente um pouco assustada, mas acaba sendo apresentada ao
Ed, que de tão nervoso, acaba desmaiando. No dia seguinte, Edward começa a
cortar os arbustos dos moradores da cidade. Depois eles descobrem que ele
também sabe fazer belos cortes nos pelos de cães e todos ficam interessados em
cortar os pelos de seus cães com ele. Finalmente, percebem que a habilidade de Ed
pode ser usada para cortar cabelos e as mulheres da cidade cortam seus cabelos
com ele.
A cada dia que passa, Edward se sente mais atraído por Kim, mas ela só tem
olhos para Jim, seu namorado, e vê Ed apenas como uma pessoa com problemas
que precisa de ajuda. Certo dia, Peg e Edward vão a um programa de auditório onde
respondem perguntas da platéia sobre a vida dele. Entre as várias perguntas feitas,
uma mulher questiona se ele tem namorada e ele fica calado, sem ação. Kim, Jim e
Kevin, irmão de Kim, assistem ao programa em casa e ao ouvirem essa pergunta,
Jim e Kevin insinuam que Kim seria a namorada dele. Ela os repreende. Enquanto
isso, o apresentador volta a questionar Edward se ele tem alguma mulher especial
em sua vida. Ao tentar pegar o microfone para responder, ele acaba cortando os fios
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provocando um curto-circuito que o faz cair de costas da cadeira. Jim e Kevin riem
da situação dele e Kim fica nervosa com os dois, se compadecendo de Edward.
Em outro dia, Joyce, uma das vizinhas de Peg, leva Edward para conhecer o
lugar onde ela pretende abrir um salão de beleza em sociedade com ele. Ela, na
verdade, sente uma forte atração sexual por ele, mas ao tentar ter uma relação com
Ed, ele foge assustado e conta tudo o que aconteceu para a família Boggs.
Enquanto isso, Jim tenta convencer Kim a usar Edward para abrir a porta de um
cômodo de sua própria casa, onde seu pai esconde um cofre com o dinheiro da
família e que não deixa Jim entrar. Jim deseja comprar um carro e por isso deseja
invadir esse quarto para pegar o dinheiro e ele sabe que Ed consegue abrir portas
facilmente. Mesmo relutando, Kim acaba concordando e convence Edward a
participar da invasão. Eles, juntos com os amigos de Kim, todos vestidos de preto,
invadem a casa de Jim e Edward abre a porta onde fica o cofre, mas acaba preso
sozinho dentro dele. Kim se desespera e tenta ficar para ajudar Ed, mas Jim não
deixa e a pega pelos braços, levando-a embora na Kombi com os amigos. Edward
só sai quando a polícia chega e o acaba prendendo. Ele não conta a verdade nem
para a polícia e nem para a sua família. Peg e o marido, que assumem uma postura
de pai e mãe de Edward, conversam com ele, tentando explicar que sua ação fora
errada e que não deveria repetir isso. A polícia acaba o liberando e a população da
cidade começa a sentir medo dele. Ao chegar em casa, Kim pergunta a ele se está
bem. Depois ela briga com o namorado, dizendo que o que ele fez não era certo. Ao
ver os dois juntos, Ed sente raiva e ciúme, furando e rasgando as paredes da casa.
O marido de Peg tenta ensinar noções de ética para ele, e Peg diz que eles o
ajudarão a aprender a viver em sociedade.
As vizinhas acabam descobrindo que ele rasgou as paredes da casa e
começam a espalhar umas as outras, criando mentiras sobre ele. Joyce aproveita e
diz que Edward é perigoso e até já havia tentado estrupá-la. Peg prefere ignorar
esses boatos e começa a iniciar os preparativos para o Natal. Certa noite, enquanto
ajuda a mãe a enfeitar a árvore de Natal, Kim escuta o barulho das lâminas de
Edward vindo do quintal e vai atrás para descobrir o que ele está fazendo. Ela o vê
esculpindo um enorme anjo de gelo e as lascas caem como neve para todos os
lados. Sem que Ed a veja, Kim começa a rodar e dançar, sentindo a neve. Jim chega
de repente e dá um grito que assusta Edward, que acaba ferindo sem querer Kim na
mão. Ela não se importa, mas Jim começa a dizer que Ed atacou Kim. Jim é
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agressivo com Ed e pede aos gritos que ele se afaste dela. Ed sai sem rumo pela
rua e Kim, ao saber o que Jim fez, o expulsa de casa.
Edward se encontra transtornado, rasga sua camisa branca e volta a ficar
apenas com sua antiga roupa de couro. Ele começa a depredar coisas da cidade ao
longo do caminho e a polícia é chamada. Ao ver a polícia, Ed volta para casa e
reencontra Kim. Ela pede que ele a abrace e ele diz que não pode e se afasta para
perto da janela. Kim vai até ele e o abraça. Durante o abraço, Ed relembra o dia em
que o pai/inventor lhe mostrou suas mãos humanas que haviam ficado prontas e que
seriam colocadas nele, mas ele acabou falecendo nesse momento. As mãos caem e
se quebram no chão. Ed observa as mãos quebradas e se aproxima do pai, tocando
em seu rosto com suas lâminas e o ferindo. Ele olha então para suas lâminas
vermelhas de sangue. O abraço só termina quando Edward percebe que Kevin está
na rua e corre o risco de ser atropelado pela Kombi do amigo de Jim, que está
bêbado com ele procurando por Edward. Ed salva o menino, mas acaba ferindo-o
sem querer no rosto. Os vizinhos se aproximam e acham que ele está atacando
Kevin. Jim começa a bater em Edward até que uma das lâminas o fere. A polícia
chega e Kim pede que ele fuja; ele concorda e corre em direção à sua antiga
mansão abandonada. O policial vai atrás e atira para o alto, gritando para que ele
não volte. O policial diz para a população que está tudo resolvido e que eles podem
ir embora. Depois que o policial se vai, a população resolve ir atrás de Edward.
Kim chega primeiro e procura por ele no segundo andar da mansão. Jim
chega de repente e dá um tiro tentando acertar Edward. Kim tenta impedi-lo, mas
isso faz com que ele dê um tiro para o alto e parte do telhado cai sob a cabeça de
Ed. Jim então começa a espancá-lo com um pedaço de metal, até que Kim o acerta
com um pedaço de madeira e o ameaça de morte, usando as lâminas de Ed como
arma. Ele, porém, lhe dá um tapa no rosto e a joga para longe. Edward tenta ajudá-
la, mas Jim tenta impedir. Ao se virar para Jim, Ed acaba o ferindo na barriga com
sua lamina e ele cai morto da janela no jardim da mansão. Edward então se
despede de Kim, que o beija na boca, diz que o ama e sai correndo em direção à
saída. No caminho ela pega uma velha lâmina e ao ver os moradores da cidade no
jardim, ela diz que Jim e Edward estavam mortos e a prova da morte de Edward
eram as lâminas que ela carregava consigo.
Nesse momento, voltamos a ver a senhora idosa do começo do filme que
conta essa história para a neta, finalizando a narrativa, afirmando que depois desse
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dia ela nunca mais o viu. A menina fica curiosa em saber como ela sabe dessa
história e a avó diz que sabe porque viveu esta história, dando a entender que ela é
a Kim. O filme termina mostrando então Edward cuidando do jardim de sua mansão
que está bem cuidado e colorido, com um céu muito azul ao fundo. Kim conta para a
neta que na cidade nunca nevou, mas que, desde que Edward apareceu, neva todos
os anos e, por isso, ela acredita que ele ainda esteja vivo.
abraçá-la e ela vai atrás dele e o abraça. Esse é o momento pleno de sentimento e
entrega entre os dois. É nesse momento que Edward relembra seu amor pelo
pai/inventor que é semelhante ao amor que sente pela Kim, e lembra que quando
tentou fazer um carinho no pai/inventor já morto, ele o fere no rosto. Ele sente-se
responsável pela morte do pai e de certa forma teme que também machuque a Kim.
A seguir ele acaba sendo expulso da cidade, voltando novamente ao seu
estado inicial. Kim o ajuda e impede que o namorado o mate. No último contato entre
Ed e Kim ela o beija e reafirma seu amor por ele. Para protegê-lo, mente para a
cidade afirmando que ele está morto. A partir de então suas vidas se tornam
disjuntas na realidade, mas o amor continua conjunto na fantasia, e é simbolizado
pela neve que passa a cair na cidade todos os anos e Kim acredita ser pelo trabalho
de Edward.
também é destituído de cores, ele usa uma roupa preta de couro e tem a pele muito
pálida, quase branca.
Já, as categorias incluído e normal, são simbolizadas pelo uso de diversas
cores e expressas nas casas coloridas da cidade, nas roupas dos moradores, nos
gramados verdes e céu azul. Os moradores usam as mais variadas cores em suas
roupas e sempre variam essas cores, assim como suas casas.
Há uma cena marcante que expressa bem a tentativa de Peg em incluir
Edward na vida social, quando ela tenta apagar as marcas de cicatrizes dele com
produtos de beleza em seu rosto. É como se ela tentasse apagar sua palidez
introduzindo novas cores em sua vida. Simbolicamente ela tenta “colorir” o
acromático Edward.
Outro uso importante da cor no filme é o da roupa da Kim, que marca a
transição da conjunção dela com Jim para Edward. Na primeira cena em que ela
aparece, quando ela se despede do namorado na Kombi e depois vê Edward pela
primeira vez, ela usa uma camisa verde listrada, um casaco e tênis laranja e calça e
meias azuis. Somente uma regata que ela usa por baixo dessas roupas é branca.
Ou seja, ela usa roupas coloridas, assim como os outros moradores e o namorado.
À medida que ela vai se afeiçoando por Edward, as cores vão sumindo e dando
lugar ao branco. No dia em que ela assiste Ed no programa de TV, ela usa uma
saia-macacão laranja junto com uma camisa e tênis branco. Logo após Edward
voltar da polícia, depois de ser preso por ter ajudado Jim e Kim no plano do roubo,
Kim vai falar com ele e dessa vez usa uma camisa amarelo claro e uma saia branca.
As cores vão enfraquecendo e o branco tomando lugar em sua vestimenta.
Logo depois desse acontecimento, ela aparece novamente usando roupas
coloridas, quando ela observa Edward ao longe podando um pé de rosas brancas e
vermelhas. Só que a blusa que ela veste é marrom e possui estampas de rosas
vermelhas e cor-de-rosa, junto com uma calça bege. Essa cena expressa que
internamente Kim já se sente atraída e apaixonada por Ed, pois tanto as rosas
verdadeiras quanto as rosas da estampa já antecipam o momento de conjunção
entre os dois que ocorrerá no futuro e que será expresso pelas cores vermelha e
branca.
A próxima cena em que eles voltam a se encontrar é quando ela o observa
cortando o gelo. Nesse momento, ela assume plenamente seu amor por ele e veste
um vestido completamente branco, que continua até o último momento que
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vivenciam juntos e onde acontece o primeiro e único beijo dos dois. Nesse momento
final, seu vestido fica manchado de sangue, retomando o simbolismo das lâminas
manchadas pelo sangue do pai/inventor de Edward e sinalizando a condição de
disjuntos na realidade e ao mesmo tempo conjuntos na fantasia.
Finalmente, a roupa de Kim já idosa, conversando com a neta, sinaliza essa
sua condição de disjunção com Edward. Ela usa um vestido vermelho, que simboliza
o amor entre eles, e um colete azul escuro, quase preto, que indica o fim do branco
e a representação de conjunção presencial com Edward. A cor escura simboliza
quase uma espécie de luto entre o amor dos dois, pois nunca mais se viram, mas
nunca deixaram de se amar.
O filme começa com a história que Edward conta para todos sobre como foi o
dia do nascimento de Will. Havia um peixe em um rio que pescador nenhum
conseguiria pescar e que ele se sentia desafiado a pegar esse peixe. Ele descobriu
que o peixe só se deixava pegar por quem lhe oferecesse ouro. No dia do
nascimento de Will, Ed foi ao rio e ofereceu a aliança ao peixe que aceitou e deixou
ser pego. Edward se sentia feliz e devolveu o peixe ao rio.
O filho de Ed cresceu ouvindo essa história, que o pai contava para todos em
todas as reuniões sociais de que participavam. Todos adoravam as histórias de Ed e
sentiam curiosidade em ouvi-las, menos o filho, que acaba brigando com o pai por
conta delas. O filho acha que tudo é mentira e que o pai nunca lhe conta nada que
seja verdadeiro. Depois dessa briga, eles ficam três anos sem se falarem.
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O filho só volta a visitar os pais e a falar com o pai quando descobre que ele
está com câncer e pode falecer. Will acredita que nunca se viu refletido no pai, mas
mesmo assim ele começa a nos contar como foi a vida do pai, do mesmo modo que
ouvira do pai. O filme passa então a contar duas histórias. Uma no presente,
mostrando o filho tentando descobrir quem é o pai de verdade e outra no passado,
mostrando a vida do pai, como o pai contava em suas histórias.
Edward nasceu em uma pequena cidade e era muito querido por todos lá,
uma verdadeira celebridade local. Certa vez, apareceu um terrível monstro que
passou a assustar a população e Ed se ofereceu a ir atrás do monstro e o expulsar
da cidade. Ele vai e descobre que o monstro é na verdade um homem grande
demais, chamado Karl. Ele convence Karl a deixar a cidade e diz que vai com ele,
porque acha que a cidade é pequena demais para eles e para sua ambição pessoal.
Ed se despede da população e parte com Karl. No meio do caminho eles se
separam. Edward escolhe o caminho mais perigoso e sinistro, que o leva a uma
pequena comunidade chamada Spectra. É uma cidade linda e colorida, todos
gostam de viver ali e nunca a deixam, desde que chegaram por lá. Ed logo faz
amizade com todos, em especial com um poeta e uma garotinha chamada Jenny,
que lhe conta a história de um peixe mágico que vive no rio. Ed vive bem e feliz ali,
mas resolve partir, prometendo retornar um dia.
No presente, apenas Sandra, esposa de Edward, e a esposa de Will é quem
dão atenção ao velho pai, o filho continua reticente com relação às histórias do pai.
Em uma noite, Edward, que está deitado em seu quarto com a esposa de Will, conta
para ela como foi que conheceu Sandra. Ele diz que havia acabado de deixar
Spectra quando descobriu um circo, que levara o amigo Karl para tentar trabalhar
por lá. Nesse circo ele vê Sandra rapidamente e se apaixona por ela, mas não
consegue chegar perto dela. O dono do circo diz que conhece a moça, mas só lhe
dará informações sobre ela se ele aceitar trabalhar para ele de graça, em troca das
informações. Ele aceita e passa três anos trabalhando ali e recebendo pequenas
informações sobre a moça. Essas informações não o ajudam a saber quem ela é e
nem onde mora, porém ele fica feliz mesmo assim. Certa noite, quando descobre
que o dono do circo é um lobisomem e o ajuda, ele acaba recebendo as informações
mais importantes, que eram o nome da moça e onde ela estudava.
Ele deixa o circo e parte atrás de Sandra. Ele encontra onde ela mora e se
declara apaixonado por ela, porém, ela o avisa que não pode aceitar seu amor por já
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estar comprometida e que seu noivo era um antigo colega de escola de Bloon, um
rapaz que não gostava dele por ser tão popular e ele não. Mas Edward não desiste e
passa a fazer diversas declarações de amor para ela. Na última, ele enche seu
quintal de lírios amarelos.
O noivo de Sandra o vê e o espanca. Ed não revida porque havia prometido a
Sandra e ela consegue encerrar a briga, devolve a aliança para o noivo e termina o
relacionamento dos dois, dizendo que irá se casar com Edward. Só que eles não
puderam se casar, porque Edward foi convocado para servir no exército. Ele teria
que passar três anos servindo e, para reduzir ao máximo esse tempo, ele passou a
aceitar as missões mais difíceis e perigosas. Em um desses trabalhos, ele ficou
incomunicável por muito tempo e o exército acredita que ele faleceu em combate e
avisa à Sandra. Ela sofre por quatro meses e quando está quase recuperada da dor,
ele volta, e eles finalmente se casam.
A mulher de Will diz a ele que achou a história de amor de seus pais linda,
mas para ele tudo é mentira. Ela questiona se ele realmente ama o pai e Will diz que
sempre desconfiou que o pai traia sua mãe e possivelmente deveria ter outra família,
devido ao enorme tempo que ele passava fora de casa, quando Will ainda era
criança. Ela o aconselha a conversar com o pai. O filho tenta novamente dizer para o
pai que não o conhece de verdade e que queria saber como foi sua vida de verdade.
O pai retruca dizendo que sempre lhe contou tudo sobre sua vida e que era um
contador de histórias. O filho discorda e diz que tudo são mentiras e fantasias e que
se sentia um idiota ouvindo-as. Edward diz, então, que sempre foi a mesma pessoa
desde que nasceu e que o problema era com o filho, não com ele, o que encerra a
conversa dos dois.
Will e as outras duas mulheres começam a revirar coisas velhas de Ed,
guardadas em um velho e bagunçado escritório. Ali ele começa a encontrar
documentos que mostram que nem tudo que o pai contava eram mentiras, como o
fato de ter servido no exército, fato que foi confirmado pela mãe. Entre esses
documentos, Will encontra alguns papéis de escritura da cidade de Spectra e resolve
ir até lá. Ele conhece, então, Jenny, já adulta, e tenta descobrir se ela já teve um
caso amoroso com o pai. Ela então começa a contar a história da segunda vez que
Ed esteve em Spectra. Nessa segunda ida, ele encontrou a cidade praticamente
acabada e já sem a cor e vida de antes, devido à criação de uma estrada que a
ligava até a cidade grande, passando por ali perto. Isso fez falir com os negócios da
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cidade e muita gente começou a ir embora. Edward resolveu, então, comprar toda a
cidade, com a ajuda financeira de amigos que o haviam ajudado a se enriquecer no
passado, e criou um documento no qual as pessoas doavam suas casas para ele,
com a promessa de que ele as reconstruiria e que devolveria a todos, desde que a
mantivessem como no passado. Todos aceitaram, exceto Jenny. Mesmo com a
recusa dela, ele não desiste e reforma sua casa. Jenny se descobre apaixonada por
ele e tenta beijá-lo, mas ele não aceita, alegando que só ama Sandra. Jenny se
conforma e aceita assinar a escritura doando sua casa para Ed. Após concluir as
reformas e devolver as casas aos moradores, Ed foi embora e nunca mais voltou lá.
Jenny afirma a Will que seu pai nunca traíra sua mãe, porque ela era única para ele,
sua família era a sua realidade e todo o resto era faz-de-conta para Edward.
Ao retornar para casa, Will descobre que o pai piorou e foi para o hospital. Ele
vai para lá para passar a noite com o pai, enquanto a mãe e sua esposa voltam para
casa para descansar. Durante a noite, o médico da família conta para Will como foi
seu nascimento de verdade e que foi algo muito trivial e comum. Ele diz que a
história verdadeira era sem graça e que se pudesse escolher entre essa história e a
história fantasiosa sobre um peixe, preferiria a fantasia.
O pai acorda durante a madrugada e pede ao filho que lhe conte como é a
história de sua morte. Will, um pouco sem jeito diz que vai tentar. Ele começa a
narrar uma história fantástica, bem ao modo do seu pai, onde eles fugiriam do
hospital no dia seguinte e iriam em direção ao rio. Ao chegarem na margem do rio, o
filho pega o pai pelos braços e vê que todas as pessoas que passaram pela vida do
pai estão ali, para se despedirem dele, e ninguém está triste. O filho entra no rio com
o pai, onde Sandra está esperando por eles. Ed se despede dela e tira uma aliança
da boca, devolvendo para ela. O filho o leva até o meio do rio e o solta nas águas,
onde se transforma em um peixe e vai embora.
Ao terminar a história o pai falece. Durante o velório, Will conhece as pessoas
que passaram pela vida de seu pai e vê que elas realmente existiram. O pai é
sepultado e depois todos relembram suas histórias. Will repassa essas histórias ao
seu filho no futuro, afirmando que, são pelas histórias que o homem se torna imortal.
61
noivo aparece, provoca e agride Edward. Com essa ação, Sandra rompe
definitivamente com o noivo e aceita o pedido de casamento com Ed, tornando-se
assim, conjunta com ele. Porém, essa conjunção só ocorre muito tempo depois,
após Edward servir ao exército e vivenciar diversas situações perigosas. Depois de
um tempo sem notícias, o exército avisa Sandra de que ele possivelmente faleceu
em combate e ela sofre com essa possibilidade de disjunção com o ser amado. Ela
só volta a se acalmar quando finalmente ele volta e se casam, concretizando, deste
modo, essa conjunção que permanece durante toda a vida dos dois.
No presente, o filho tenta de todas as maneira conhecer quem é o pai de
verdade, ele não se conforma com as histórias fantasiosas e acredita que existam
coisas escondidas sobre a vida do pai. Numa conversa entre os dois, o filho tenta de
todas as maneiras manipular o pai para descobrir a verdade, mas o pai não aceita
essas manipulações e afirma que tudo o que há para se saber sobre sua vida, ele já
havia contato. Depois dessa conversa, Will encontra antigos documentos do pai que
sinalizam que algumas coisas das histórias do pai podem ser verdadeiras. Ele
encontra as escrituras de Spectra e resolve ir até esse lugar, onde encontra Jenny. É
a primeira vez que o filho entra em contato com algum lugar das histórias do pai. Ele
vê que o lugar possui diferenças com o lugar que o pai narrava, mas conversando
com Jenny ele começa a perceber que as histórias, por mais fantasiosas que
parecessem, possuíam um fundo de verdade. Jenny afirma que já foi apaixonada
por seu pai e o tentou seduzir, mas ele não aceitou a sedução. Ele realmente
possuía um amor incondicional por Sandra, e Jenny afirma para Will que seu pai
nunca a trairia.
Nesse momento, o filho está balançado com os seus sentimentos em relação
ao pai, ele começa a perceber que o pai viveu realmente aquelas histórias, e só o
que ele fez foi tornar as narrativas mais belas e fantasiosas para alegrar a quem
contasse. Mas Will só tem a certeza disso ao descobrir um fato verdadeiro de sua
vida, quando, no leito hospitalar onde o pai está, o médico lhe conta como foi que
ele nasceu de verdade e contrasta com a história fantasiosa, afirmando que essa é
melhor.
A conjunção definitiva entre pai e filho se dá quando o pai acorda durante a
madrugada e pede ao filho que lhe conte como será sua morte. Will aceita esse
pedido e narra a história da morte do pai de forma fantasiosa. Nesse momento, eles
se tornam conjuntos e o filho passa a assumir a figura de contador de histórias do
63
pai, após sua morte de verdade. No velório, quando Will conhece as pessoas que o
pai conviveu, ele finalmente aceita as histórias fantasiosas e percebe definitivamente
que o pai sempre foi sincero, o problema era que ele, o filho, não o compreendia.
Já, os momentos em que eles estão conjuntos, em que celebram o amor, ela
sempre usa uma roupa azul. Por exemplo, quando ela aceita se casar com ele, após
a sua última declaração de amor, ela usa um vestido azul e ele um terno todo azul
que só possui um detalhe em vermelho na gravata, simbolizando o amor dele por
ela. Em outro momento, eles já idosos, quando Ed está em uma banheira cheia
d’água e ela entra junto e o abraça, reafirmando o amor entre um e outro, ela usa
um vestido azul. O pijama que Edward usa durante todo o tempo em que está
doente é azul bem claro. O azul assume, assim, a característica da vida plena, a
felicidade alcançada (Quadro 3).
O filme mostra duas famílias, que resolvem casar seus filhos acreditando que
isso fará com que eles saiam da falência. A família do jovem Victor o leva para
conhecer a família de sua noiva, Victória. Lá as famílias acertarão os detalhes do
casamento, que, na verdade, é um negócio financeiro para eles. Quando Victor
conhece Victória eles se apaixonam de verdade e ficam felizes. Eles, então, vão
para o ensaio do casamento, onde eles simularão os votos para o pároco da cidade,
com suas famílias presentes. Também aparece um misterioso Lorde Barkis Bitten
para assistir ao ensaio. Victor fica todo desajeitado e atrapalhando, acabando por
deixar a aliança cair e ao tentar pegá-la, acaba colocando fogo na saia da sogra sem
querer, gerando muita confusão. O padre diz que o casamento não poderá
acontecer enquanto o noivo não aprender a fazer os votos corretamente. Victor vai
sozinho para a rua e segue em direção à floresta, para treinar os votos. Quando
consegue, coloca a aliança em um galho que se revela ser um esqueleto de uma
Noiva Cadáver. Essa sai da terra e diz aceitar se casar com ele. Victor foge de medo
e ela o segue, até conseguir pegá-lo e levá-lo ao mundo dos mortos, que é um lugar
colorido e animado, cheio de criaturas esqueléticas e estranhas, com várias
referências sinistras. Lá, Victor descobre que a Noiva, quando viva, se apaixonou
por um rapaz e sua família não aceitou o casamento, fazendo com que ela fugisse
de casa para viver com ele. Eles marcaram de se encontrar no cemitério. O rapaz,
na verdade, não a amava, e queria apenas seu dinheiro, por isso a roubou e a
assassinou. Ela só encontraria descanso quando finalmente encontrasse um marido
para se casar com ela.
66
ele é válido somente enquanto a morte não os separar e, no caso dos dois, ela já os
separou. O único jeito de mudar isso seria Victor aceitar morrer e repetir os votos
com ela. A Noiva diz que nunca poderia pedir isso a ele, mas Victor aparece dizendo
que escutou tudo e que aceita morrer para se casar com ela. Ele convida todos os
mortos para o seu casamento e avisa que será no mundo dos vivos. Todos se
preparam e seguem em marcha para o mundo dos vivos. Os moradores vivos da
cidade se assustam com a chegada deles, mas o susto acaba quando começam a
reconhecer nesses mortos a figura de entes queridos já falecidos.
O Lorde propõe a Victória que eles aproveitem a confusão e fujam com o
dinheiro do dote, mas ela avisa que não há dote, pois seus pais estão falidos, o que
o desagrada.
Os mortos se reúnem na igreja para a cerimônia de casamento de Victor com
a Noiva Cadáver. Victória assiste ao casamento de longe, escondida. A Noiva coloca
o veneno na taça de Victor, mas vê Victória e não consegue concluir os votos,
impedindo que ele beba da taça. Diz que seria um erro para ela roubar os sonhos
dele só porque teve seus sonhos roubados por outro, no passado. Ela diz que o ama
e por isso não pode permitir que ele se mate por ela, pois ele não é dela.
A Noiva chama, então, por Victória, que vai até o altar, e a Noiva a entrega ao
Victor. Nesse momento, o Lorde invade a igreja, toma Victória pelas mãos e diz que
não permitirá que eles fiquem juntos, pois ele não tem dinheiro. A Noiva cadáver,
então, reconhece o Lorde, pois é o mesmo homem que a seduziu e a assassinou no
passado. Barkis ameaça Victória de morte e depois trava uma luta de espada com
Victor, que improvisa sua espada com um garfo. Quando o Lorde está prestes a
matá-lo, a Noiva se coloca na frente e evita que Barkis o mate. Ela pega a espada e
diz para ele ir embora, mas o Lorde desdenha dela, por ela estar morta e ele não,
porém ele acaba bebendo do veneno achando que é uma bebida comum e morre,
sendo levado para o mundo dos mortos, pelos outros falecidos. A Noiva diz para
Victor que ele manteve a sua promessa e por isso a libertou. Ela devolve a aliança,
caminha em direção à porta da igreja e joga o buquê para traz, que acaba parando
nas mãos de Victória, que está junto com Victor. A Noiva, sob a luz da lua cheia, se
desfaz em inúmeras borboletas azuis que voam na direção da lua.
Eles se preparam e vão para a igreja do mundo dos vivos confirmar esse
novo contrato. Victória fica sabendo do casamento e vai até lá para ver a
celebração, mas não faz nada para impedir. Ao declarar seus votos, a Noiva vê
Victória e não permite que Victor tome o veneno. Seu amor por Victor não permite
que ela o deixe perder a conjunção com algo tão importante como a vida, além de
deixar outra moça infeliz, como ela ficou no passado. Assim, Victor fica livre para
entrar em conjunção com seu objeto de valor, Victória, e essa também fica livre do
compromisso de se casar com o novo noivo, pois ele acaba morrendo. Já, a Noiva
fica disjunta de Victor, mas fica conjunta com a liberdade de sua alma, pois Victor
cumpriu sua promessa de que se casaria com ela, e só não casou por ela não
permitir que isso ocorresse.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
8 REFERÊNCIAS
A NOIVA cadáver. Direção: Tim Burton. Produção: Allison Abbate e Tim Burton.
Roteiro: Caroline Thompson, baseado em roteiro de John August e Pamela Pettler.
[S.l.]: Warner Bros., 2005. Animação. 1 DVD (78 min.) color.
ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora. São
Paulo: Livraria Pioneira, 1997.
BARROS, Diana L. P. Teoria semiótica do texto. 4. ed. São Paulo: Ática, 2007.
BUSSELLE, Michael. Tudo sobre fotografia. São Paulo: Círculo do Livro, 1977.
DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1997.
EDWARD mãos de tesoura. Direção: Tim Burton. Produção: Tim Burton e Denise Di
Dovi. Roteiro: Caroline Thompson. Intérprete: Johnny Depp, Winona Ryder, Dianne
Wiest, Anthony Michael, Vincent Price e Alan Arkin. [S.l.]: 20th Century Fox Film
Corporation, 1990. 1 DVD (105 min.) color.
JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem. 11. ed. Campinas: Papirus, 1996.
74
KLEE, Paul. Theory de l’art moderno. Paris: Denoël: Gonthier, 1973, p. 34.
MCMAHAN, Alison. The films of Tim Burton: animating live action in contemporary
hollywood. New York: Continuum, 2006.
PEDROSA, Israel. Da cor à cor inexistente. 3. ed. Rio de Janeiro: Léo Christiano
Editorial: Editora Universidade de Brasília, 1982.
PEIXE grande e suas histórias maravilhosas. Direção: Tim Burton. Produção: Bruce
Cohen e Dan Jinks. Roteiro: John August, baseado em livro de Daniel Wallace.
Intérpretes: Albert Finney, Ewan McGregor, Jessica Lange, Alison Lohman, Billy
Crudup, Helena Bonham Carter, Marion Cotillard e Danny deVito. [S.l.]: Columbia
Pictures: Sony Pictures Entertainment, 2003. 1 DVD (125 min.) color.
VARICHON, Anne. Couleurs: pigments et teintures dans les mains des peuples.
Roussillon: Seuil, 2005.