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FACIDER Revista Científica

ISSN 2316-5081

DELAÇÃO PREMIADA: DIREITOS E GARANTIAS DO DELATOR A


LUZ DA LEI N° 12.850/13

Bruno Alencar Custodio¹

Faculdade de Colider – FACIDER, Avenida Ivo Carnelós, 1039 – Setor Leste Colider - MT, 78500-000
*
e-mail: brunoalencar2612@gmail.com.

RESUMO: O presente artigo tem como objetivo apresentar os direitos e garantias do delator, além
de suas origens e evolução histórica no ordenamento jurídico brasileiro, com foco especial na lei n°
12.850/13 lei do combate ao crime organizado, abordando os métodos usados pelo instituto da
delação, trazendo de forma clara a importância para o combate às organizações criminosas, uma vez
que bem estruturada, dificultando seu combate por meios comuns de investigação. Dessa forma, no
ordenamento jurídico brasileiro, o legislador trouxe em vários momentos a delação em legislações
variadas, mas sempre deixando lacunas para supostos entendimentos, chegamos à lei atual do
combate as organizações criminosas que trouxe inovações e facilidade ao seu entendimento, para
que de modo eficaz, seja aplicada. O trabalho apontara pontos críticos dos direitos, e das garantias
que a lei fornece ao delator como meio de obter de forma efetiva sua colaboração, para que atinja os
resultados que a lei define, obtendo sucesso nas investigações. Será analisado o instituto como
beneficio ao delator, que preenchendo os requisitos necessários pode desfrutar do prêmio, no qual
será definido pelo grau de eficácia da colaboração homologado pelo magistrado. Por fim será um
tema de grande relevância social no atual momento, precisando analisar pontos contrários e
favoráveis apontados pela doutrina com relação ao instituto.

PALAVRAS-CHAVE: Delação Premiada, Crime Organizado, Lei n° 12.850/13, Colaboração.

ABSTRACT: This article aims to present the rights and whistle-blower guarantees, as well as its
origins and historical evolution in the legal system, with particular focus on Law No. 12,850/13 fight
against organized crime, addressing the methods used by the whistleblower institute bringing clearly
the importance in combating organized crime, as well structured and with the latest technology,
making it difficult to combat by joint investigation means. Thus the legislator within the Brazilian legal
system that brings at various times in various whistleblowing legislation, but always leaving gaps for
alleged understandings we reached current law criminal organizations fighting that brought
innovations and facilitating their understanding in order to efficiently is applied. Aim critical points of
the rights of the rights and guarantees that the law gives the whistleblower as a means to effectively
its collaboration to achieve results in which the law defines succeeding in investigations. Analyzing the
institute as benefit the snitch, which fulfilling the necessary requirements can enjoy the award in which
will be defined by the effective collaboration of degree approved by the magistrate. Finally presenting
a topic of great relevance partner at the moment, need to analyze contrary and favorable points raised
by the doctrine regarding the institute.
.

KEYWORDS : Plea Bargaining, Organized Crime, Law no 12.850/13,Collaboration.

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1. INTRODUÇÃO

As organizações criminosas no seu atual momento exigem métodos mais


objetivos de investigação para obtenção de provas, para se chegar a uma maior
eficiência na persecução penal, já que a realidade social esta marcada por avanços
tecnológicos, facilitando novas formas delituosas, e dificultando a segurança pública
de obter sucesso em desmantelar o crime organizado.
No momento atual, em que o fluxo econômico e politico, abre portas para o
crescimento das organizações criminosas, com interesses de se obter vantagens
financeiras e materiais de forma ilícita, gerando impacto irreparável a sociedade.
Dessa forma exigem-se métodos diferenciados para seu combate, sabendo
das limitações o Estado sempre está em busca de novas soluções, assim o
legislador trouxe métodos mais eficazes que nós deparamos na nova lei do combate
ao crime organizado, a qual será discutida exaustivamente, e se utilizando da
doutrina para esclarecer a presente lei.
Um desses métodos é a delação premiada, que está incluso em várias leis do
nosso ordenamento jurídico brasileiro, mas sempre de modo que surgiam
imperfeições nas regras que asseguravam o instituto. A lei n° 9.034/95, que foi
revogada, tratava do crime organizado e trazia o instituto da delação. Posteriormente
a lei n° 12.850/13, trouxe inúmeras inovações para um melhor entendimento a
deixando mais clara em seus objetivos, assim destaca Michelle Barbosa de Brito:

Após a introdução da delação premiada pela lei n°. 8072/90, diversas leis
penais esparsas também contemplaram a hipótese de aplicação do
instituto, não obstante a total falta de uniformidade nos critérios
mencionados nesses diplomas (BRITO, 2016, p. 45).

Publicada no Diário Oficial da União em 05 de agosto de 2013, a nova lei das


organizações criminosas entrou em vigor em 19 de setembro do mesmo ano, e
trouxe o instituto da colaboração premiada, meio valoroso muito usado nos tempos
atuais para obtenção de provas, que dificilmente seriam coletadas por meios
comuns, fazendo deste o instituto mais importante da presente lei, já que as
organizações são muito bem estruturadas com sua divisão de tarefas, dificultando a
identificação dos seus comandantes.

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Com a detenção de membros das organizações, o instituto entra em


atividade, e o membro fará acordo com Ministério Público ou delegado responsável
pelas investigações para revelar detalhes. A norma traz os requisitos que o mesmo
deve atingir para que possa receber sua premiação, que também estará expresso no
acordo que deve ser analisado pelo magistrado, e assim, homologado.
A delação deverá trazer efetividade para as investigações, e nunca poderá
ser usada unicamente como prova para condenar algum acusado, devendo atingir
um único resultado entre vários que à lei apresenta. Dessa forma, o delator deve ter
a garantia de que se alcançado o resultado previsto em lei, terá sua pena diminuída
ou substituída, a pena privativa de liberdade por uma pena privativa de direito, ou
até mesmo pelo perdão judicial, como forma de premiação. Vejamos que o delator,
colaborando contra uma organização criminosa, na qual participava, criara
problemas com os mesmos, devido à entrega de informações privilegiadas, sobre a
organização para o órgão responsável pelas investigações. Assim, a lei aduz os
direitos do delator, que deve ter sua imagem preservada além de ir a juiz
separadamente dos demais acusados, bem como a prisão, deve se dar em local
diferente dos demais, entre outras medidas protetivas.
A delação premiada é de suma importância às autoridades competentes
pelas investigações, fazendo dela indispensável instrumento contra as organizações
criminosas, mas sempre devendo se observar a veracidade das informações
impostas pelo delator, além de preservar sua imagem como forma de proteção dos
demais envolvidos.

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA DELAÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO


BRASILEIRO

A delação premiada está presente em várias normas do ordenamento jurídico


brasileiro, onde teve uma evolução constante, assim Fabiana Grechi, disserta sobre
a aparição da delação premiada no Brasil:

No Brasil a origem da delação premiada remonta às Ordenações


Filipinas, cuja parte que disponha sobre matéria criminal (Livro V),
vigorou de 1603 até a entrada em vigor do Código Criminal de 1830
(GRECHI, 2007, p. 02).

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Sua introdução originalmente se deu com a promulgação da n° lei 8.072/90,


lei dos crimes hediondos em que no art. 8°, paragrafo único, registrava a diminuição
de pena para o participante que denunciasse à autoridade bando ou quadrilha,
possibilitando seu desmantelamento.

Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288
do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da
tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.
Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à
autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento,
terá a pena reduzida de um a dois terços.

Posteriormente, a delação premiada foi introduzida pela Lei 9.034/95, o


instituto teve a ideia de, por meios operacionais, a permitir a prevenção e repressão
do crime organizado, constando em seu art. 6° a diminuição de pena de 1/3 a 2/3,
para quem de modo espontâneo, e que esteja ligada a organização criminosa,
prestar informações que possam levar as autoridades aos esclarecimentos de
crimes cometidos pelos criminosos, “O mecanismo de colaboração premiada
estatuído na Lei 12.850/13 apresenta grandes alterações ao que era previsto na
revogada Lei 9.034/95, trazendo requisitos objetivos e subjetivos à concessão do
benefício processual” (SILVA, 2013, p. 66).
A Lei n° 9.613 (Lei de lavagem de capitais) prevê no art. 1°, paragrafo 5°,
redução igual à Lei nº 9.034/95 (Lei do crime organizado), porém é mais completa,
trazendo em seu texto, que o réu poderá mesmo após sua condenação acordar em
colaborar por meio da delação, sendo possível o cumprimento da pena em regime
aberto, substituindo-a por uma pena restritiva de direitos, para o coautor ou partícipe
que na delação, espontaneamente colaborasse de forma que as autoridades
conseguissem apurar as infrações penais, ou localização de bens objetos de crime.
Na mesma tendência, a delação foi incorporada a Lei 9.807/99, lei de
proteção às vitimas e às testemunhas, que prevê em seu art. 13, a concessão de
perdão judicial, sendo que para que se alcance a extinção da punibilidade, é
necessário que o colaborador seja réu primário, e que resulte na identificação dos
coautores ou partícipes, localização da vitima com sua integridade física preservada
e ainda, a recuperação total ou parcial do produto do crime. A delação também se
apresenta no art. 14 da mesma lei.

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Art. 14. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a


investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais
coautores ou partícipes do crime, na localização da vítima com vida e na
recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de
condenação, terá pena reduzida de um a dois terços.

Vale ressaltar que a delação também foi prevista pela lei n° 10.409/02, que foi
revogada pela lei 11.343/06 que em seu art. 41 prevê apenas a diminuição de pena
de um a dois terços, não sendo possível o perdão judicial. Por fim a lei n° 12.850/13
figura em destaque, no combate ao crime organizado, pois trouxe inúmeras
novidades, entre elas o conceito de crime organizado, muito utilizado nos dias atuais
contra crimes políticos. Vejamos que a delação está incluída no rol de meios de
obtenção de provas, e prevista em seu art. 4° a colaboração premiada, denominação
utilizado na referida lei.

Art. 4o O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão


judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou
substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva
e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde
que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:
I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização
criminosa e das infrações penais por eles praticadas;
II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da
organização criminosa;
III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da
organização criminosa;
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das
infrações penais praticadas pela organização criminosa;
V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física
preservada.

“A colaboração premiada é modalidade de meio de obtenção de prova que


possibilita a negociação entre agentes públicos, encarregados na persecução penal
e os integrantes da organização criminosa” (RABESCHINI, 2014, p. 2).
A referida lei traz em seu conteúdo para que o colaborador obtenha os
referidos prêmios, sua colaboração deve atingir determinados resultados sendo
então possível a diminuição da pena e perdão judicial. Dessa forma, encerra-se o
ciclo evolutivo da delação premiada no ordenamento jurídico brasileiro, com
possíveis mudanças futuramente, já que o direito está em constante evolução.

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3. COLABORAÇÃO PREMIADA NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO

A nova lei n° 12.850/13 apresenta mecanismos para o enfretamento as


organizações criminosas, já que a realidade atual do país demonstra preocupação,
uma vez que está tomada por organizações criminosas, agindo de todos os tipos
variáveis de formas.

O Brasil hoje é um refúgio ideal para criminosos de altos níveis, uma vez
que, contamos com estruturas precárias de investigações internacionais,
bem como de acompanhamento interno de pessoas e de movimentações
financeiras suspeita, tal fato os atrai vir para o Brasil e trazer consigo
parte de suas estruturas criminosas (AGUIAR, 2014. p. 03).

O conceito de crime organizado foi modificado, o qual se encontrava sem


harmonia com o restante do nosso ordenamento jurídico brasileiro. Em um momento
pontual, no qual o crime organizado vira destaque nos principais noticiários do
Brasil, contamos com uma nova lei, que veio para reger sobre o assunto, buscando
mais efetividade nos resultados, vejamos o seu art. 1°,§ 1º.

Art. 1o Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a


investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais
correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado.
§ 1o Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou
mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de
tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou
indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de
infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro)
anos, ou que sejam de caráter transnacional.

Dada à definição de crime organizado, necessita-se de meios eficientes para


o seu combate, e devido ao avanço social, e alta estrutura usada pelos membros
das organizações criminosas para que dificulte a identificação de seus comparsas,
os meios investigativos comuns não atingiriam de forma eficiente o crime
organizado, para efetuar o seu desmantelamento, já que seus membros dificilmente
revelariam o comando sem um prêmio a receber.

Outra vertente é tratada com o alto grau de operacionalidade dos grupos


criminosos, compostos por pessoas com qualificação de ponta nas
diversas áreas onde se faça necessária a sua influição, os quais
recebem excelente remuneração e quase nunca possuem informações
acerca do restante da organização, como forma de evitar que haja
vazamento de informações (AGUIAR, 2014, p. 04).

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O capitulo II da referida lei define um rol de meios de obtenção de provas,


entre eles a colaboração premiada.

Antes denominada de delação premiada, é instituto que já se encontra


presente no sistema jurídico-penal brasileiro, embora em diversas
legislações, nem sempre coerentes. Em relação à aplicação para
integrantes de organização criminosa propriamente dita a ora revogada
lei 9.807/95 era extremamente vaga e lacunosa (MENDRONI, 2014,
p.22).

O art. 4° da lei de combate ao crime organizado estabelece que o magistrado


poderá conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 a pena privativa de liberdade
ou substitui-la por restritiva de direito daquele que colaborar com as investigações, e
que advenha de resultados expressos em seus incisos, e com obrigatoriedade que
seja voluntária e espontânea.

Ademais, a L. 12.850/13 traz o que chamamos de “Colaboração


Posterior”, hipótese em que, se a colaboração for posterior à sentença, a
pena poderá ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão
de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos. Como se vê, o
instituto da colaboração tem cabimento em sede de inquérito policial,
fase processual e de execução da pena. Todavia, para concessão do
benefício, o réu deverá apresentar condições subjetivas positivas, pois a
lei somente traz exceção ao requisito objetivo (SILVA, 2013, p. 67,68)

Dessa forma, é necessário que o colaborador atinja um dos resultados para


que possa ser premiado por sua colaboração, desde que seja efetiva e voluntária, no
art. 4°, § 1°, aduz que também deverá levar em conta a personalidade do
colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e repercussão social de
forma que seja feita uma análise profunda antes de beneficiar o delator.

Por outro lado, um agente colaborador revoltado e desafiador demonstra


firme proposito de acreditar no acerto da sua conduta ao participar da
organização criminosa, e supostamente pouco ou nada trará de eficaz
para o processo criminal, eventualmente mentindo, segredando ou
tergiversando provas, não podendo, ou pouco devendo, desta forma,
fazer jus a qualquer beneficio (MENDRONI, 2014, p.36,37).

Desse modo, vale analisar a possibilidade do colaborador estar passando


informações de nenhum valor para a investigação para que consiga sua premiação,
devendo o magistrado analisar e confrontar a delação.

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O fato de as declarações de colaborador advirem de pessoa interessada


no objeto do processo exige que se racionalize sua valoração tendo em
conta exatamente sua peculiaridades, exigindo, conforme já
mencionado, que o agente exaure seu conhecimento sobre os fatos em
apuração, apresente narrativa solida, coerente e constante, e que,
principalmente, haja elementos exteriores de confirmação das
revelações de modo de atestar sua credibilidade (PEREIRA, 2014, p.
173).

Nesse sentido Rafael de Vasconcelos Silva aduz sobre o assunto.

Outro ponto relevante da alteração é a exigência da colaboração


voluntária, ao revés do que era requerido pela antiga norma, que exigia
colaboração espontânea. Como se sabe, são conceitos díspares,
situação em que colaboração espontânea é aquela que não pode sofrer
qualquer influência externa, partindo de motivação interna do agente;
enquanto a voluntária aceita influências externas (SILVA, 2013, p. 03).

Referente ao prazo determinado para o trânsito do processo referente à


colaboração, poderá ser suspenso em 6 (seis) meses, prorrogável por igual período,
para uma melhor aplicação do instituto. O perdão judicial poderá ocorrer, assim
quando o Ministério Público deixar de oferecer a denúncia para o colaborador que
não for o líder da organização criminosa, ou que for o primeiro a prestar efetiva
colaboração nos termos da lei. Caso seja após a sentença, a pena poderá ser
reduzida até a metade ou será admitida a progressão para regime aberto. Vale
destacar que nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento
apenas nas declarações do agente colaborador.

Pelo dispositivo resta evidente que as informações a titulo de


colaboração da pessoa envolvida na organização criminosa pode servir
apenas de complemento ou subsidio para o contexto probatório, não
podendo ser exclusiva a ponto de ensejar a condenação, nem dele
próprio, nem daqueles demais integrantes por ele indicados
(MENDRONI, 2014, p.49).

Após a colaboração e sua relevância para a investigação, as autoridades


competentes poderão a qualquer tempo requerer o perdão judicial do colaborador,
não havendo concordância pelo magistrado, aplica-se o princípio da devolução. O
juiz em momento algum deverá participar do acordo feito pelas autoridades
responsáveis pela investigação e o colaborador, a fim de se manter imparcial. O
requerimento do acordo deverá ser sigilosamente distribuído para que não ocorra a
identificação do colaborador, destaque-se que o delator durante sua delação,

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produza provas auto incriminadoras, as mesmas não poderão ser utilizadas


exclusivamente em seu desfavor, conforme art. 4°, § 10° da lei n° 12.850/13 do
(combate ao crime organizado).

4. DA AUSÊNCIA DO MAGISTRADO NA REALIZAÇÃO DO ACORDO

Devido o atual momento em que o nosso país passa, com vários escândalos,
envolvendo organizações criminosas, devemos destacar o papel do magistrado na
atuação da colaboração premiada regida pela lei nº 12.850/13 (das organizações
criminosas).
Destaca-se a sua imparcialidade, princípio supremo do processo, aonde o
magistrado não participa do acordo, que é deixado a cargo dos órgãos competentes
sobre a investigação, sendo ele o Ministério Publico ou o Delegado de policia, o
dispositivo que destaca tal imparcialidade se encontra já no mencionado artigo 4º,
paragrafo 6º da referida lei.

§ 6o O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes


para a formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o
delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do
Ministério Público, ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o
investigado ou acusado e seu defensor.

A norma deixa clara a não participação do magistrado no acordo, destacando


sempre a presença do defensor do colaborador, cabendo o magistrado a
fiscalização da legalidade acordada entre as partes para uma possível homologação
ou recusa da mesma, como relata Julian Pacheco:

O juiz competente para a homologação do acordo pode, antes de


confirmar os termos, retificar alguns aspectos do acordo, colocando-o
dentro da legalidade, sem adentrar ao seu conteúdo. Um exemplo é a
proposição de renegociação do prêmio legal obtido com a colaboração,
por o mesmo acordado anteriormente não ser previsto em lei. Não cabe
ao juiz determinar qual a sanção adequada, pois esta ação seria
atentatória à imparcialidade necessária ao juiz (PACHECO, 2015, p.06).

Fica claro que se a colaboração não atender os requisitos determinados na lei


à colaboração será recusada pelo magistrado, e de modo devolutivo será imposto
ratificação, atacando somente os aspectos do acordo e não seu conteúdo, que será

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analisado em uma possível sentença posterior, assim a mesma se torna legal, de


modo que possa ser homologada.

5. DIREITOS E GARANTIAS DO DELATOR

Os direitos do colaborador estão previstos, no art. 5° da referida lei do


combate ao crime organizado, que são medidas de proteção e segurança que serão
aplicadas ao colaborador, já que o mesmo prestará informações sobre a
organização criminosa na qual participava, colando sua segurança em risco, diante
dos demais membros daquela organização.

o
Art. 5 São direitos do colaborador:
I - usufruir das medidas de proteção previstas na legislação específica;
II - ter nome, qualificação, imagem e demais informações pessoais
preservados;
III - ser conduzido, em juízo, separadamente dos demais coautores e
partícipes;
IV - participar das audiências sem contato visual com os outros
acusados;
V - não ter sua identidade revelada pelos meios de comunicação, nem
ser fotografado ou filmado, sem sua prévia autorização por escrito;
VI - cumprir pena em estabelecimento penal diverso dos demais corréus
ou condenados.

As medidas protetivas incorporadas ao delator estão previstas na lei 9.807/99,


a lei de proteção a vítimas e testemunhas, em que segundo o art. 15, o colaborador
terá sua imagem e demais informações preservadas.

Essas providencias parecem surtir qualquer efeito somente na hipótese


em que os demais integrantes da Organização Criminosa não saibam
dentre ele, qual é o colaborador, que devera seguir agindo na OC, mas
de forma dissimulada em relação aos demais integrantes.” ( MENDRONI,
2014, p.51).

A condução do colaborador em juízo separadamente dos demais réus, e a


garantia de estar em audiência sem contato visual com os demais acusados, é uma
forma de proteção não só pessoal, mas para quem convive com o delator. Outra
medida de proteção é a não divulgação de sua identidade por meios de
comunicação, sem prévia autorização por escrito, sendo assim a mídia não poderá
ter acesso às informações pessoais do colaborador, com risco de ser ineficaz a
delação. O cumprimento de pena também está incluso no rol de proteção do

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colaborador, que prevê que deverá ser cumprida em estabelecimento penal diverso
dos demais condenados envolvidos na organização criminosa. Uma das garantias
do delator durante sua delação, em todos os atos processuais da colaboração é que
o mesmo deverá estar acompanhado de seu defensor.
.
Trata-se de providencia que atende especialmente o principio
constitucional da ampla defesa, mas também do devido processo legal,
nos termos do artigo 5°, LIV e LV, da CF. A assistência do advogado dá
mais segurança e tranquilidade ao colaborador, ao mesmo tempo que se
converte em prova de maior valorização a ser avaliada no seu tempo
certo (MENDRONI, 2014, p.48,49).

A garantia de uma diminuição de pena ou até perdão judicial se dá pelo


acordo feito entre o Ministério Público ou Delegado de Polícia responsável pelas
investigações. O acordo deverá ser escrito e conter o relato da colaboração, as
condições da proposta das autoridades responsáveis citadas acima, a aceitação do
colaborador e de seu defensor, as assinaturas de todas as partes envolvidas no
acordo, e especificação das medidas protetivas para o colaborador e sua família,
quando necessário.

6. A HOMOLOGAÇÃO DO ACORDO

Após a realização do acordo conforme termos, será remetido o mesmo para


homologação, sendo assim a distribuição será realizada sigilosamente.

Dando continuidade ao tema, o pedido de homologação do acordo será


sigilosamente distribuído, contendo apenas informações que não
possam identificar o colaborador e o seu objeto, convém notar que a Lei
12.850/13 compatibiliza-se com o entendimento sufragado pela Súmula
Vinculante 14 (SILVA, 2013, p. 65).

Na distribuição, o termo acompanhado das declarações do colaborador, no


qual o magistrado verificará se os requisitos foram preenchidos, de forma que possa
homologar o mesmo, o paragrafo 7° do art. 4° da lei do crime organizado, já
mencionado no presente trabalho nos detalha o procedimento:

§ 7°. Realizado o acordo na forma do § 6o, o respectivo termo,


acompanhado das declarações do colaborador e de cópia da
investigação, será remetido ao juiz para homologação, o qual deverá

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verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade, podendo para


este fim, sigilosamente, ouvir o colaborador, na presença de seu
defensor.

Caso o acordo não atenda os requisitos necessários para a


homologação, a mesma poderá ser recusada pelo magistrado no termos do
paragrafo 8° do artigo 4° da referida lei. Vale destacar que caso a homologação
venha se efetivar a mesma não gera qualquer tipo de decisão. “A decisão do juiz de
ratificar os termos da colaboração não tem caráter decisório ou definitivo, não
causando o efeito de coisa julgada nem assegurando o seus benefícios ao
colaborador” (PACHECO, 2015 p. 7).
Prosseguida a homologação, o colaborador juntamente com seu defensor,
poderá ser ouvido pelo órgão responsável pelas investigações a qualquer momento
assim conclui Julian Pacheco.

É possível deduzir que a vontade do legislador, ao permitir tal oitiva, era


a de oportunizar ao colaborador a prestação de novas informações às
autoridades, ou a de complementar informações dadas em momento
anterior, ou até mesmo denunciar possíveis ameaças contra sua
integridade ou a de sua família, podendo neste momento requisitar
medidas de proteção, de acordo com a lei 9.807/99 (PACHECO, 2015, p.
4).

A sentença sempre buscará observar todos os requisitos atendidos na


colaboração, e a sua eficácia. Destacando-se que ninguém será condenado
somente com fundamentação nas declarações de um colaborador.
Será possível a retratação do acordo em qualquer momento pelas partes, já
que a mesma é uma fonte de vontade entre elas, Julian Pacheco diz que após a
desistência do acordo a mesma cessara seus efeitos, e não terá mais validade. “Na
ocasião de o delator se arrepender e retratar-se de suas declarações, nenhum
benefício será concedido, vez que tais informações não podem ser valoradas em
juízo” (PACHECO, 2015, p.3). A retratação encoberta o órgão investigador de
possíveis delações falsas, com intuito de apenas buscar vantagens impostas pelo
instituto. E para o delator não será possível usar declarações que o altamente o
incrimina, em seu desfavor.

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Após a sentença, o magistrado analisando o acordo juntamente com outras


provas, deixando claro que a colaboração além de atender os requisitos , foi efetiva
para as investigações, o juiz aplicara o beneficio ao delato.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho se dá pelo momento atual brasileiro dentro da politica


criminal, onde nos deparamos todos os dias com situações de investigações contra
organizações criminosas, como exemplo notório a Lava Jato, e na maioria das
vezes, para se obtiver sucesso é utilizado o instituto da delação premiada, que está
presente na lei n° 12.850/13, (Lei do combate ao crime organizado), e qual tal ajuda
deste instituto se desvendou o maior escândalo de corrupção no mundo. Dessa
forma, fica evidente que tal instituto é de suma importância para as autoridades que
são responsáveis pela investigação, apesar da divisão dos doutrinadores sobre o
instituto ir de contra com os princípios regidos por nossa Constituição, alegando a
falha do Estado em compactuar com criminosos, a demais doutrinadores demonstra
satisfação dos resultados alcançados com as delações.
A discussão atual sobre organizações criminosas que ganham destaque em
noticiários dentro e fora do Brasil, usando de poderes que foram lhe investidos para
buscar soluções para sociedade e acabam usando de forma ilícita para obter
vantagens financeiras e materiais, cresce cada vez mais diante dos nossos olhos, e
na busca de soluções o Estado encontrou na delação premiada meio para tentar
conter a expansão da criminalidade organizada. Vejamos que o instituto da delação
premiada, o mesmo que está sendo usado atualmente pela justiça, para que de
modo efetivo se consigam informações, assim sendo utilizado de forma que traga
sucesso nas investigações, e desmantele as organizações, já que de outro modo
não se conseguiria descobrir como atuam e quem são os membros da organização,
já que dificilmente os membros entregariam seus comparsas sem nenhum incentivo.

CUSTÓDIO, B. A.
FACIDER Revista Científica, Colider, n. 09, 2016 Página 13
FACIDER Revista Científica
ISSN 2316-5081

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