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Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

G1 – Ética 1

Aluno:Thiago Nolasco ; Professor:Edgar José

Esclareça o conceito de eudaimonia em Aristóteles,considerando a relação


deste conceito com os conceitos de função própria do homem,de excelência e de
fortuna:

No início de sua ética a Nicómaco, Aristóteles inicia sua investigação a cerca dos
fins últimos das artes ou perícias humanas e constata que todas, como produtos da ação
humana, tem com finalidade um “bem”. Ora, isso ocorre pois, como esclarece porque
“todo o saber e toda a intenção têm um bem por que anseiam”1. Logo, na medida que a
ação humana, que compõe toda perícia e toda a arte, possui uma intencionalidade, ela
destina-se para uma instância do fim ,i.e, algo à qual o desejo humano, contido na sua
ação, almeja alcançar : o bem. Mas ,visto como colocado por Aristóteles “Os fins das
perícias superiores são preferíveis aos finas das perícias que lhes estão subordinadas,
porque os fins destas são perseguidos em vistas os fins das primeiras”2, portanto, entende-
se que a ação humana não destina-se para qualquer tipo de “bem”, ou para os bens das
coisas particulares tomadas em si mesmo, mas tem como alvo um bem último ,i.e, um
“bem supremo”.

A priori, de acordo com a investigação, pelo fato da Política se preocupar também


com as ações e os bens do homem, parece que a ciência que deve ser estudada deve ser
esta chamada de ciência política, no entanto, como esclarece Aristóteles, mesmo a ciência
política, tem como fim a busca de um bem mais extremo obtido pela ação humana,
confluindo assim ,também, para um desejo ao bem supremo. E, tal “bem”, vem a ser
conhecido como a “eudaimonia” ,i.e, a felicidade. Ora, pois, embora certas escolhas,
como a honra ,o prazer participem em certa medida do bem – por serem acidentes da
essência do bem, e participarem de suas categorias – , por vezes são buscados pelos
homens com bens em si mesmo; eles resultam em proporcionar ao homem àquilo que ele
tem em vista na sua atividade mesma, a obtenção de algo, e isso nada mais é que a própria
felicidade3.Aristóteles então esclarece que a felicidade é um bem completo ,i.e, um bem

1
Aristóteles.Ética a Nicômaco,tradução António de Castro Caeiro, Quetzal Editores,2015,Lisboa,p21
2
Aristóteles.Ética a Nicômaco,tradução António de Castro Caeiro, Quetzal Editores,2015,Lisboa,p22
3
Aristóteles.Ética a Nicômaco,tradução António de Castro Caeiro, Quetzal Editores,2015,Lisboa, p31
que basta a si próprio , auto-suficiente. Pois na medida que nada mais precisar-se-ia
acrescentar ,e na medida que isolado em si mesmo já é suficiente, a felicidade basta em
si mesma. Por conseguinte , devido a sua completude, a felicidade parece ser o fim ultimo
de todas ações humanas possíveis.

Como marca do escopo das ações humanas, Aristóteles então salienta que há uma
relação necessária entre a felicidade e a função própria do homem. Tendo em vista que
algumas funções humanas compõe o seu repertório necessário referente à vida enquanto
existência, assim como a dos animais e os vegetais, tais casos naturais parecem pertencer
àquilo que Aristóteles denominou como função vital. No entanto, àquilo que resta à vida
ativa do homem, resta-se uma certa forma onde insere-se a “eudaimonia” como
componente dessa âmbito; tal âmbito, tal forma da vida ativa do homem ,só pode existir
na dimensão da alma Humana , essa que é capacitada de razão. Portanto à função
específica do homem parece se destinar a essa dimensão da alma e, por ser capacitada de
razão “ela deve ser entendida através da sua ativação e do exercício da sua função
específica”4,logo, são ações conformadas à um sentido ,esse que destina-se a
excelência.Com isso, a função específica do homem está contida nessa atividade da alma
que estende-se ,na ação, para busca de uma realização, com uso da razão, que visa a
excelência, colocando assim excelência e felicidade como intimamente interligados.

Contudo, Aristóteles prossegue sua investigação tentando esclarecer, se a


felicidade é um estado constante, visado pela ação humana, o que dizer daqueles que
foram sempre bem afortunados, e, em certa medidas felizes, como o rei Príamo, mas, por
via da fortuna, caíram em desgraça? Ou seja, há uma relação entre a felicidade e a fortuna?
Pois há aqueles ainda que buscam a sorte e caem tanto na felicidade como na miséria
muitas vezes. Ora, de fato é evidente ,como aponta, que todos os vivos estão expostos às
vicissitudes da vida e que tais ocorrências podem alterar o estado de “felicidade” dos
homens, mas, no entanto, na medida que felicidade e excelência estão interligados, àquele
que visa a completa realização da felicidade no desenvolvimento dessa função própria da
alma humana, busca, em outras palavras, a excelência e, por conseguinte, como efeito
não contingente dessa busca, o homem reside na felicidade. Isso ocorre pois ,Aristóteles,
salienta que essa é a atividade autêntica5, que visa agir de acordo com a excelência.

4
Aristóteles.Ética a Nicômaco,tradução António de Castro Caeiro, Quetzal Editores,2015,Lisboa, P 32
5
Aristóteles.Ética a Nicômaco,tradução António de Castro Caeiro, Quetzal Editores,2015,Lisboa, P 33
Mas, permanece, por fim, a investigação a cerca da excelência. Visto que a
excelência é o alvo da atividade autêntica do homem, Aristóteles expõe que a mesma não
pertence a outros dois tipos de fenômenos alma que são a as afecções ,como a ira e o
medo, nem são as capacidades ,i.e, aquilo que possibilita com que nós sejamos afetados.
A excelência ,portanto, quanto gênero, parece pertencer às disposições do caráter ,ou seja,
relativo à alma. E se louvamos, ou reprovamos, outrem por causa das excelências ou
perversões, é porque tais ocorrências são pertencentes à disposição da alma enquanto
ocasionadora de tais ações que merecem louvores ou reprovações, por tal razão, a
excelência está circunscrita nessa categoria da alma humana. E, como disposição, que fim
visa a excelência alcançar em toda e qualquer ação humana ? Visto que toda ação que
visa o excesso, escapa ao bem e passa a se tornar um mal, a excelência – que também
pode ser traduzida como virtude, já que vem do grego areté – visa alcançar o bem através
da busca pelo meio-termo, pois, tanto o excesso, quanto a falta ,não integram a
completude da perfeição, por tal razão, o meio-termo , parece ser , acertadamente, o
elemento o qual compõe, qualitativamente, a excelência, já que esse foge das ocorrências
dos erros e possibilitam alcançar o bem, i.e , o alvo da ação humana, em sua totalidade.

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