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1.

Contexto Histórico e atual do Sistema Político da Revolução Cubana

Cuba é uma Ilha localizada na América Central, no mar do Caribe, com um território
de 110,8 mil quilômetros quadrados, em que reside 11,28 milhões de pessoas, com uma
densidade demográfica de 102 habitantes por quilômetro quadrado, conforme senso de
20101.
Segundo as Nações Unidas, Cuba apesar do embargo econômico imposto pelos
Estados Unidos, desde 1962 até os dias atuais – um dos mais longos da historia,
apresenta um dos melhores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo, com
0,863. A educação e a saúde são totalmente públicas e gratuitas aos cubanos e o preço
do transporte público é simbólico [0,4 centavos de peso cubano]. Em Cuba os índices de
mortalidade infantil e materna, são um dos mais baixos do mundo. O analfabetismo se
situa em 0,3% da população e 93 por cento dos alunos do ensino fundamental chegam ao
Ensino Superior. Cuba foi o único país das Américas a atender as seis metas
internacionais de qualidade em educação propostas pela UNESCO 2.
Estas conquistas sociais somente foram possíveis devido a revolução de 1959,
que se definiu como socialista a partir de 1961 e tem colocado as necessidades humanas
como prioridade no sistema político e econômico.

A atualidade da Revolução Cubana

Foi uma revolução total, que:

[…] implicou na radicalidade política como prática transformadora.


Esta impactou as estruturas do capital ao desmercantilizar os direitos
humanos: educação e artes, saúde, emprego, moradia; a
independência nacional e a justiça social; distribuição igualitária das
riquezas; solução do problema agrário [Reforma Agrária]; inclusão do
sujeito popular diverso a gestão política (Díaz, 2017. tradução nossa).

1
Retirado de: http://latinoamericana.wiki.br/verbetes/c/cuba
2
Retirado de: http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/04/cuba-e-unico-latino-americano-atingir-metas-de-
educacao-diz-unesco.html. Em 24/02/2017.
A revolução dignificou a muita gente, que de nada passaram a ser o tudo da pátria 3.
Depois de 1959 o desafio de Cuba foi tentar realizar um câmbio estruturante contra a
corrente do mundo capitalista, enfrentando toda força do maior império capitalista de
nossa historia.
Cuba tinha total dependência do petróleo Estadunidense e de que este lhe
comprasse o açúcar – principal produto da economia em seu lastro colonial. A partir da
declaração do caráter socialista da revolução, as relações comerciais entre Cuba e EUA
foram rompidas, a única possibilidade viável que se apresentou a Cuba foi à cooperação
com a URSS. Segundo Diaz (2016):

Organizar la justicia social al tiempo que garantizar la independencia


nacional fue un desafío dramático para Cuba en aquellas
circunstancias. La relación estratégica con la URSS consolidó,
extendió y estructuró en Cuba una comprensión del socialismo que,
al tiempo que garantizó niveles sin precedentes de igualdad social,
dignidad personal y derechos humanos desde la inclusión social, la
estatalización de la propiedad fue un rasgo determinante de esa
consagración.

Os Desafios na Atualidade da Revolução

O bloqueio econômico imposto a Cuba tem causado inúmeros prejuízos à


economia do país, a situação de crise ainda permanece, apesar dos avanços e
resistências. Mas mesmo depois de 27 anos de período especial (crise gerada pelo fim da
URSS e a cooperação que realizava com Cuba) ainda estão por superar muitos limites
econômicos, um deles é elevar a produção agrícola do país, modernizar os equipamentos
e fortalecer a indústria, investir em novas máquinas, abrir novas áreas de cultivo na
agricultura e pecuária, ativar novas empresas e indústrias de processamento de
alimentos.
Com estes objetivos desde 2010/2011 vem sendo levado a cabo um processo de
atualização do sistema econômica cubano.

3
As analises realizadas neste texto tem como base o diálogo com Ariel Diaz Dakal, educador popular e membro da
equipe do Centro Memorial Dr. Martin Luther King – Havana /Cuba, realizadas em janeiro e fevereiro de 2017.
Bem como os textos: … que tratam sobre o atual sistema político revolucionário da Ilha.
Na proposta de atualização do modelo econômico do país, o Estado abre mão do
monopólio dos negócios, e possibilita a organização de pequenos negócios/trabalho por
conta própria, sendo os mesmos de fonte privada. Por tanto, depara-se hoje com pelo
menos três tipos de negócios, os geridos pelo estado, as cooperativas de serviços
privados e os negócios privados particulares.
Nos últimos anos o governo passou a estimular investimentos estrangeiros (de
forma moderada), promoveu aproximação com a Venezuela (atualmente esse país
fornece 100 mil barris de petróleo diários com preços inferiores) também ha investimentos
no país de outras empresas estrangeiras de origem brasileira, chinesas e outras.
No processo de atualização do modelo econômico do país há em disputa hoje pelo
menos três perspectivas. Uma das contradições é a que se pretende reconstruir as
relações capitalistas – negócios privados, a mudança de narrativa desde Miami que
afirma hoje que “a revolução era necessária, mas não deu certo”.
Há um discurso oficial sobre os problemas da revolução, tem um enfoque
predominantemente economicista, não está debatendo o conteúdo do socialismo cubano,
centra-se muito na questão econômica, e esquece-se dos processos de democratização
dos debates nos coletivos dos trabalhadores, bem como os rumos da revolução, esse
debate ainda é muito centrado no alto comando do governo. E há um discurso crítico
revolucionário, que busca compreender os desafios, os problemas concretos, os limites
da revolução e a reinvenção do socialismo pela democratização do poder e seus dilemas
econômicos. Para esta ultima tendência, é necessário reinventar o socialismo,
democratizar, redimensionar a participação popular que se tornou muito verticalizada.

[...] abarcadores de socialización del poder, la propiedad, el saber, es


decir, asumir la democracia de la vida cotidiana como camino y no
reducida a meta. Es decir, resignificar el contenido internacional de
la independencia y la justicia es condición de posibilidad para su
realización en la nación cubana (DÍAZ, 2016).

Segundo os analistas e historiadores críticos do sistema compreende-se que há


uma missão no prosseguimento da revolução socialista, isto é, precisa-se urgente
reinventar a sua participação popular, ou seja, da democratização do poder.
Cuba com suas quase seis décadas de revolução mostrou para o mundo que é
possível viver onde os direitos humanos sejam para todos os trabalhadores. Outro legado
que a revolução deixa é o patriotismo de todos os cubanos, principalmente a juventude,
dispostas a criar novas relações para acesso a outros bens como internet e bens
materiais, mas ao mesmo tempo não abrem mão da revolução socialista, dos direitos a
saúde, educação, trabalho e outros.
A revolução criou condições radicalmente para que todos os cubanos tenham
acesso à riqueza produzida no país, antes concentrada na mão de uma pequena margem
da população. Para Diaz Cuba precisa ter uma base de participação democrática e
coletiva para dar seguimento no processo de aperfeiçoamento do socialismo, ou seja, se
reinventar:

La revolución ha de vivir porque es el alma de nuestro pueblo. (Ha de


vivir) en el respeto...a los cubanos que por ahí buscan sinceramente,
con este nombre o aquel, un poco más de orden cordial, y de
equilibrio indispensable en la administración de las cosas de este
mundo.

Em suma os cubanos acreditam e tem afirmado por onde andamos que o projeto
de revolução socialista em mais de cinco décadas de construção trouxe muita dignidade e
justiça social para sua população. E a partir dos anos 90 (denominado como período
especial) com a queda do socialismo no leste europeu (URSS) acontece uma drástica
diminuição de acesso a bens de serviços e bens materiais para a continuidade do
processo socialista.
Em 2017 acreditamos que não é possível ser socialista se não garantirmos todas
as condições de justiça social e soberania nacional justa e necessária para todas/os
cubanos. Cuba é um país de uma experiência sem precedente pela sua capacidade de
garantir as condições de seu povo mais próximas da emancipação humana.
Portanto, acredita-se que o grande desafio dos cubanos é ir aperfeiçoando as
condições do acesso ao mundo do trabalho, a economia e a melhoria de seus salários,
que os mesmos possam viver com dignidade pelo que ganham, bem como ter mais
acesso as condições melhores a moradia, aos meios produtivos e de produção, mas ao
mesmo tempo assegurar as conquistas sociais, sem que essa evolução deixe cair os
direitos já conquistados pela revolução.

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