Você está na página 1de 4

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Disciplina: Interação Social na Perspectiva de Piaget e Vygotsky


Docente: Tânia Stoltz
Doutoranda: Carla Sant’Ana de Oliveira Turma: 2017

Análise

O artigo de Venturi (2017) analisa dados de duas pesquisas brasileiras de


2013, referente a população brasileira com 16 anos e mais, que abordou
percepções, práticas e opiniões sobre o uso de drogas psicoativas no Brasil.
O autor analisa os posicionamentos das pesquisas à primeira vista
contraditórios, em termos de dissonância entre comportamento declarado e
atitude manifesta (os usuários de drogas ilícitas proibicionistas e favoráveis à
manutenção da política de drogas vigente, que criminaliza o consumo e prioriza
o enfoque do problema como questão de segurança pública e os não usuários
antiproibicionistas) a análise é feita à luz da teoria construtivista da moralidade
de Piaget1 e Kohlberg2, para compreender as respostas e para abordar a
discussão das políticas públicas voltadas para lidar com o fenômeno universal
do consumo de substâncias psicoativas.
Trata-se de uma pesquisa de métodos mistos, pois a análise é elaborada
por meio de triangulação de dados, conforme defende Creswell (2010) como
uma forma correta de elaborar pesquisas quanti-quali. Venturi (2017, p. 170)
usou o software SPSS para elaborar as análises construiu em três etapas: na
primeira onze variáveis independentes, sendo sete sociodemográficas (sexo,
raça/cor, religião, idade, escolaridade, renda per capita e posição na – ou
atividade fora da – força de trabalho), três variáveis de contexto (residência em
região metropolitana ou no interior, em zona urbana ou rural e presença de
familiar usuário de ilícita ou com dependência alcoólica no domicílio) e uma
comportamental (uso de álcool e tabaco). Nas etapas seguintes foram
sucessivamente removidas as variáveis cujos efeitos não se mostraram

1Piaget, Jean. ([1932] 1977), O julgamento moral na criança. São Paulo, Mestre Jou.
2Kohlberg, Lawrence. (1981), Essays on moral development. Vol. 1: The philosophy of moral
development. São Francisco, Harper & Row.

1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

significativos para explicar a variabilidade da variável resposta, de modo que ao


fim apenas seis variáveis se consolidaram como relevantes para o modelo (cor
e raça).
Venturi (2017) trabalha com a hipótese de que os posicionamentos em
que convergem comportamentos e atitudes aparentemente contraditórios (não
usuários favoráveis a legalizar o ilícito e usuários que condenam o próprio
comportamento) decorrem de perspectivas sociomorais atitude assumida
apenas pelos que conseguem julgar criticamente a lei com base em um ponto
de vista moral descentrado e autônomo; a segunda entre autônoma e
heterônoma, típica dos que tendem a tomar o legal sempre como o correto ou
justo, de modo que, caso ajam contra a regra, o farão com culpa ou
arrependimento; a partir de um ponto de vista moral egocêntrico e heterônomo,
admite agir contra a regra desde que consiga burlar quem tem por função zelar
por sua correta observância e punir os que a transgridem.
Sobre os resultados obtidos:
A análise da frequência das pontuações obtidas sugeriu a escala de
classificação em que 58% são proibicionistas; Intermediários 10% e
Antiproibicionistas somam 32%.
Os não usuários proibicionistas, que constituem maioria absoluta (53%),
e os usuários de ilícitas antiproibicionistas, que somam 6%; na outra diagonal,
dois grupos aparentemente contraditórios, nos quais comportamento e atitude
seguem em sentidos opostos – os não usuários antiproibicionistas, que
constituem um quarto da amostra (26%), e os usuários proibicionistas (5%).
Segundo a idade, cerca de treze vezes maior para os jovens de 16 a 24
anos e para adultos de 25 a 39 anos (1 303% e 1 314%, respectivamente) e seis
vezes maior (609%) para adultos de 40 a 59 anos, comparativamente aos idosos
(60 e mais).
Categoria sexo, 159% maior para os homens, em comparação à
categoria-controle mulheres;
Segundo a escolaridade, duas vezes maior (198%) para os que
chegaram ao ensino superior, 156% maior para os que foram até o em e 129%
maior para os que pararam no ensino fundamental.
Sobre a convivência com familiares, 127% maior entre os que têm no
domicílio usuário de droga ilícita e com uso abusivo de álcool, 81% e 78% maior
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

entre os que convivem com um ou com outro, respectivamente, em comparação


aos que não têm tais convivências;
Na categoria uso de tabaco e álcool, cerca de 12,5 vezes maior (1242%)
para usuários de ambos, 4,5 vezes maior (462%) para usuários de um ou de
outro e cerca de cinco vezes maior para ex-usuários de um e/ou de outro (522%),
comparativamente à categoria-controle dos que nunca usaram tabaco nem
álcool.
Sobre a análise de julgamento autônomo Venturi (2017, p. 179) diz que
está mais presente quanto maior o acesso à escolaridade e com a diminuição da
submissão a autoridades religiosas. Para Venturi (2017) associa a maior chance
de indivíduos não usuários antiproibicionistas ao aumento da escolaridade e
menor chance entre evangélicos e católicos praticantes constituem indícios
empíricos que convergem para confirmar a hipótese de que nesse grupo se
concentram indivíduos que veem a questão das drogas a partir de uma
perspectiva autônoma.
Toda via, a postura de usuário proibicionista, Venturi (2017, p.179) sugere
com base em Kolberg que a presença de critérios de julgamento moral
semiautônomos (convencionais) e tipicamente heterônomos (pré-
convencionais), seja como assunção do que está na lei como necessariamente
correto, seja tendo a lei como regra que não precisa ser seguida, desde que se
possa escapar da punição ao transgredi-la. Deste modo, Venturi (2017, p.179)
defende que com a diminuição da idade aumenta a chance de o indivíduo
assumir a função de usuário proibicionista, pois dificulta a capacidade de se
ultrapassar a perspectiva convencional, de se romper argumento de autoridade
(lei).
Considerações finais:

O desenvolvimento da moralidade em Piaget e Kohlberg realizada por


Venturi (2017) o autor demonstra que a autonomia e a heteronomia estão
intrinsecamente ligadas ao desenvolvimento cognitivo. E que a heteronomia diz
respeito a influência das regras e leis externas, muitas vezes consideradas
sagradas e imutáveis, mas que no caso dos sujeitos usuário e proibicionistas
esse sagrado traz culpa, mas não consciência da ação.

3
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Já a autonomia é demonstrada como um espaço em que o raciocínio lógico e a


reciprocidade fazem com que as regras sejam vistas como consequência de uma
ação livre de imposições religiosas, por exemplo. Mas, é a consequência de
compreensão do outro de descentração e de criação de normas que devem ser
aceitas pelo grupo.Venturi (2017) demonstra que o intelecto no caso da maior
escolaridade corresponde existente a formação de consciência e o julgamento
das regras.
Ao realizar a análise o autor baseia-se em Kohlberg para evidenciar a
moralidade intrínseca ao nível de maturidade moral apresenta em seus
argumentos as motivações da consciência e a interferência da racionalidade na
capacidade de argumentar sobre o poder de punir ou recompensar da lei aos
que respeitam ou burlam as regras.
É possível entender que quanto menor for a capacidade de argumentar e
compreender o contexto sem influências externas maior será a atitude de
conformidade com a ordem, ou punição social. O que fica deste artigo, é que a
moralidade é uma construção social mas que está intersectada com o
desenvolvimento das estruturas cognitivas.

Referências:
CRESWELL, John W. Projeto de Pesquisa: Métodos Qualitativo, Quantitativo e
Misto; Tradução Magda Lopes. 3 Ed. – Porto Alegre: Artmed, 2010.
VENTURI, Gustavo. Consumo de drogas, opinião pública e moralidade:
motivações e argumentos baseados em uso. Tempo soc., São Paulo , v. 29, n.
2, p. 159-186, Mai 2017 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
20702017000200159&lng=en&nrm=iso>. Acesso
em 18 Apr. 2018. http://dx.doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2017.126682.

Você também pode gostar