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San1223 PDF
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Introdução
Perdas no sistema de abastecimento de água podem ocorrer tanto na estrutura física,
por meio de vazamentos, quanto administrativamente no gerenciamento e na forma de
ligações irregulares. Atualmente a grande maioria das empresas/órgãos de abastecimento de
água têm problemas com perdas físicas e de faturamento que comprometem a sua saúde
financeira e a qualidade da prestação do serviço.
Na tentativa de unificar a quantificação das perdas e uniformizar a linguagem com
relação a esse assunto, possibilitando a comparação entre os diferentes sistemas, foram
criados, por organismos nacionais e internacionais, os indicadores de perdas.
Tais indicadores são medidas da eficiência e eficácia na prestação dos serviços de
abastecimento de água. Eles são um instrumento gerencial utilizado para controle e suporte
na tomada de decisões econômicas e financeiras. O seu objetivo principal é promover uma
linguagem de referência adequada para uma gestão do sistema voltada ao desempenho e
cumprimento de metas, permitindo a comparação entre países e regiões distintas (ALEGRE
e BAPTISTA, 2004).
Os indicadores de perdas desenvolvidos pelo Programa Nacional de Combate ao
Desperdício de Água (PNCDA) classificam–se em três níveis: (1) básicos: que seriam
derivados de informações técnicas e gerenciais mínimas, exigíveis de todos os serviços ,
indistintamente, e as perdas físicas e aparentes que ainda não são separadas
completamente; (2) intermediários: que já se apresentam um estágio acima com relação ao
conhecimento das perdas físicas com indicadores relacionados a condições operacionais e
de desempenho hídrico do sistema; e (3) avançados: que são obtidos por meio de
informações-chave mais sofisticadas e que são usados para comparação do desempenho
entre serviços (SILVA e outros, 1998 apud MATOS, 2004).
Diante da situação de elevadas perdas nos Sistemas de Abastecimento de Água-SAA
administrados pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) do Município de Alagoinhas,
Estado da Bahia, o presente trabalho tem como objetivo identifica-las e quantifica-las na
forma de indicadores de perdas, com base nas informações disponíveis do sistema,
propondo ainda algumas soluções para sua minimização.
O trabalho foi desenvolvido no bojo da elaboração do Plano Municipal de Saneamento
Ambiental de Alagoinhas, em cumprimento à Lei Municipal 1.460/01, e surgiu da
necessidade de analisar os altos índices de perdas no sistema de abastecimento de água da
sede municipal.
Metodologia
Alagoinhas é uma cidade de médio porte do interior da Bahia, distante 109km de
Salvador e tem cerca de 120 mil habitantes. A prestação dos serviços de abastecimento de
água e esgotamento sanitário é feita por meio de uma Autarquia Municipal, o Serviço
Autônomo de Água e Esgoto-SAAE, que opera os 12 SAA da sede do Município.
Realizou-se uma caracterização dos SAA existentes e agrupou-se informações
referentes aos volumes produzidos, faturados e consumidos que são produzidas
mensalmente pelo SAAE de Alagoinhas, bem como outras informações físicas do Sistema
Sobocó, o principal sistema que abastece a sede do Município de Alagoinhas para geração
de indicadores básicos propostos pelo Programa Nacional de Combate ao Desperdício de
Água – PNCDA.
As informações-chave consideradas na confecção dos indicadores foram:
• Volume disponibilizado (VD) que é a soma algébrica dos volumes produzido, exportado
e importado, disponibilizados para distribuição no sistema de abastecimento de água
considerado.
• Volume utilizado (VU) que é a soma dos volumes micromedido, estimado, recuperado,
operacional e especial.
• Volume faturado (VF) é todo aquele medido, presumido, estimado, contratado, mínimo
ou informado, faturados pelo sistema comercial do prestador de serviços.
• Extensão parcial da rede (EP) corresponde a extensão de adutoras, subadutoras e
redes de distribuição de água, não contabilizados os ramais prediais.
• Número de dias (ND) que é a quantidade de dias correspondente aos volumes
trabalhados.
Resultados
Com base nas informações geradas pelo SAAE, referentes ao Sistema de
Abastecimento de Água Sobocó calcularam-se os índices IPD, IPF, ILB, e IPL, apresentados
na Figura 1.
90 45 0.5
IPD (%)
80 0.45
40
IPF ou ANF (%) ILB IPL Linear (IPL)
70
0.4
35
60
0.35
IPL (m /ligações/dia)
30
50
ILB (m /km/dia)
Percentual (%)
0.3
40 25
0.25
3
30 20
3
0.2
20
15
0.15
10
10
0 0.1
MAI
MAI
JAN
MAR
ABR
JUN
JAN
MAR
ABR
JUN
SET
OUT
SET
OUT
AGO
AGO
JUL
JUL
DEZ
DEZ
FEV
NOV
FEV
NOV
-10 5 0.05
-20 0 0
UT
UT
BR
BR
I
R
N
T
T
L
L
N
N
O
V
Z
Z
V
V
A
A
JU
JU
SE
SE
JU
JU
DE
DE
FE
FE
NO
NO
A
A
G
G
JA
JA
M
M
O
O
M
M
A
A
A
Os índices volumétricos de perdas nos anos 2001 e 2002 apresentaram uma tendência
crescente nos seus valores (V. Figura 1), o que denota um aumento nas perdas relativas no
período. Esse tipo de análise sinaliza ao prestador de serviço a necessidade de intervenções
para a detecção da origem do problema e para a sua solução.
A Figura 2 apresenta os índices que relacionam volumes de perdas com aspectos
físicos do SAA, especificamente, a extensão da rede e o número de ligações. Observou-se
também uma tendência crescente desses índices ao longo do período, e numa taxa bastante
superior ao crescimento dos volumes produzidos e disponibilizados, o que denota um quadro
preocupante, requerendo intervenções. A virtual coincidência entre os gráficos com os dois
índices, dá-se pela alta correlação, ou correspondência, verificada entre o comprimento de
rede e o número de ligações ao longo da mesma.
Conclusão
Com a utilização desses índices de desempenho, possibilita-se uma melhoria na
qualidade dos serviços prestados pelo SAAE no sistema Sobocó, e no futuro dos demais
SAAs, além de um maior controle sobre a atuação.
Ressalta-se que tais indicadores contam com grandes incertezas, uma vez que os
volumes produzidos têm sido estimados de acordo com a vazão de placa das bombas e
embora exista no SAA micromedição em 95% das ligações domiciliares, este número
elevado ainda não oferece grande controle dos volumes consumidos.
Sabe-se que indicadores percentuais, embora fáceis de calcular, não são muito
significativos e são melhor empregados para análise de desempenho financeiro. Eles não
avaliam a administração do sistema de distribuição e sofre influência da variação de
consumo e da intermitência. Entretanto, como o SAAE está apenas começando a geração
desses indicadores e possui poucas informações, optou-se por calculá-los mesmo
conscientes das limitações.
Indicadores confiáveis exigiriam maiores avanços operacionais e identificação do
caminho percorrido pela água no sistema. Para isso sugere-se alguns procedimentos como
qualidade da macro e micromedição, monitorização, rotinas para cálculo e análise dos
indicadores, informatização do processo e leituras bem feitas.
A expansão para indicadores intermediários, no futuro, necessitará de informações mais
precisas e específicas, com incorporação dos fatores efetivamente apurados e
considerações dos desvios de macro e micromedição, bem como a utilização de fatores de
correção para confiabilidade dos dados e o devido tratamento estatístico.
Ressalta-se aqui que apenas um indicador não é suficiente para representar o
problema das perdas de água no sistema. O ideal é que vários indicadores sejam
combinados para que forneçam uma idéia mais real do desempenho. Deve-se ainda estar
sempre buscando uma melhor qualidade nas informações para que indicadores
intermediários e avançados possam, aos poucos, ir sendo construídos.
A incorporação dos indicadores nas atividades do SAAE Alagoinhas é também um
processo a ser construído. Mais que uma prática técnica rotineira, constitui-se num novo
modo cultural de tratar a prestação do serviços de abastecimento de água.
Referências
ALEGRE, H.; BAPTISTA , J.M. O Sistema de Indicadores de Desempenho da IWA Para
Serviços de Abastecimento de Água. Portugal: 199X. Disponível em:
<http//members.fortunecity.com/perdasdagua/links.html >. Acesso em: 25 mar. 2004.