Diante de um mundo de dores e sofrimentos, Schopenhauer
propõe uma ética prática e vivencial baseada na compaixão. Apesar do egoísmo e da crueldade que fazem parte da existência humana, a caridade e a compaixão são o contraponto do egoísmo. O egoísmo é fruto do “eu” e do “ego”, que faz o homem se considerar o “centro do mundo” e se opor violentamente contra tudo que impeça seu bem-estar. O egoísmo separa os homens, a compaixão, por sua vez, nos aproxima.
A compaixão, enquanto princípio ético fundamental, é a
proposta de Schopenhauer. A compaixão consiste numa ação de identificação comprometida com o sofrimento do outro, um verdadeiro encontro de humanidades. Schopenhauer afirma ser a compaixão uma capacidade inerente ao homem, mas o egoísmo se encarregou de condená-la ao esquecimento e ao desprezo. A potencialidade da realização humana se resume na capacidade de construir a felicidade do outro, dessa forma, seremos verdadeiramente éticos. A existência humana é um perpétuo sofrimento e está sempre expostas às experiências amargas. Isso não acontece por obras da natureza, mas é a obra e criação do próprio ser humano que é responsável por isso, e o grande centro de todos os problemas e sofrimentos é o egoísmo. Segundo o autor, a ação humana se orienta por três causas: egoísmo, maldade e crueldade. Schopenhauer se volta para as “dores do mundo”, mas de forma existencial e não mais platônica ou kantiana, e buscará na compaixão e na bondade um fundamento para a ética, renegando o frio e abstrato imperativo categórico kantiano que se baseia no dever e na dignidade. Schopenhauer irá introduzir, na filosofia ocidental, elementos do budismo, que considera a compaixão e a bondade virtudes fundamentais nas relações humanas, enquanto que a tradição ocidental, e principalmente Kant, não consideram a compaixão uma virtude. As dores do mundo
Schopenhauer busca fundar uma ética da compaixão, e para
isso estabelece uma metafísica baseada em uma vontade universal, que é a essência de todos os seres. Através da compaixão, percebo a unidade de todas as coisas e consigo estabelecer uma relação que me une e me conecta com os outros, enquanto o egoísmo seria uma “ausência metafísica” que separa os homens. Friedrich Nietzsche Nietzsche, o filósofo do martelo, é conhecido por romper com a filosofia tradicional, propondo um novo estilo filosófico que contrapõem a racionalidade filosófica e a moral cristã. Ele foi um grande crítico de Sócrates e da figura de Cristo, principalmente por conta dos valores morais, que afirmava serem instrumentos que os fortes inventaram para submeter e controlar os fracos. Nietzsche recorre ao seu método “genealógico da moral” a partir de duas matrizes (representação apolínea e dionisíaca), que são constituintes do homem. Desde a Grécia antiga atesta a supremacia do apolíneo, marcada pela predominância e requisição da postura racional, evidenciada desde Sócrates, Platão e Aristóteles, culminando no cristianismo, o que molda o homem moral do ocidente, no entanto, o autor detecta a constituição de uma moral de rebanho, consagrada no ressentimento e tolhimento (constrangimento) da vontade de potencia do mesmo. Apolíneo-dionisíaco é uma expressão metafórica ao que vem dos deuses: Apolo e Dioniso – expressão popularizada e tratada por Nietzsche no livro ‘O nascimento da tragédia”, que aponta o homem entre o espírito da ordem, da racionalidade e da harmonia intelectual, representado por Apolo, e o espírito da vontade de viver espontânea e extasiada, representado por Dioniso. O homem constitui um elo com o mundo. Não deveríamos nos afastar dessa realidade que era vivenciada na época antiga. “O Nascimento da tragédia” apresentado por Nietzsche, parece prever o que ocorreria com o homem um século depois desse livro ser publicado, hoje o homem evita toda a finitude e a “realidade” que é mostrada na tragédia grega. O homem dos nossos dias não aceita sofrer, não enfrentar a dor, não aceita a angústia, procura afastar-se de “todo mal” através de medicamentos e mais “medicamentos”, foge de tudo e de todos, utiliza-se de um movimento desenfreado, da agitação, das “atividades”, evita a solidão, não dá tempo para si próprio, tem medo do “real;” e o pior é que a “normalidade” da sociedade é uma loucura assustadora. A propósito: Quem é “louco”? Quem é “sano”? Ao criticas as bases moral tradicional, Nietzsche antecipa a transvaloração dos valores, denunciando a moral de rebanho decadente e que nega o “querer viver”, além de fundamentar-se no ressentimento, na bondade, humildade e piedade, para contrapor-se a referida moral de escravo. O individuo que supera os valores morais da tradição atinge o “além-homem”, pois reavaliou os valores e o destruiu sendo niilista (Ponto de vista que afirma ser as crenças, as verdades e os valores tradicionais sem fundamento, sentido e utilidade), pois destrói tudo para renascer nos valores do “além do homem”. Michel Foucault “(...) o corpo é investido por relações de poder e de dominação; mas em compensação sua constituição como força de trabalho só é possível se ele está preso num sistema de sujeição (onde a necessidade é também um instrumento político cuidadosamente organizado, calculado e utilizado); o corpo só se torna força útil se é ao mesmo tempo corpo produtivo e corpo submisso”. (FOUCAULT, 1995, p. 28)
A ética do “cuidado de si” consiste em um conjunto de regras
de existência que o sujeito dá a si mesmo promovendo, segundo sua vontade e desejo, uma forma ou estilo de vida culminando em uma “estética da existência”. O cuidado de si não consiste em uma ética em que o sujeito se isola do mundo, mas sim retorna para si mesmo para depois agir. Michel Foucault viu no comportamento do homem ocidental contemporâneo como forjado e resultante, em certa medida, do projeto iluminista. O autor questiona noções de liberdade, autonomia, razão, poder e saber.
O pensamento de Foucault indica que o homem pós-iluminista
vive uma ilusão de autonomia, pois denunciou que comportamento considerados normais seriam ditados por regras impostas pela sociedade e internalizada como padrão. • Temos que pensar o poder não como uma “coisa” que uns tem e outros não, como por exemplo o pai e o filho, o rei e os súditos, o presidente e seus governados, etc., mas como uma relação que se exerce, que opera entre pares: o filho que negocia com o pai , os súditos que reivindicam ao rei, os governados que usam dispositivos legais para fiscalizar o presidente e etc.
• O poder não se restringe ao governo, mas espalha-se pela
sociedade em um conjunto de práticas, a maioria delas essenciais à manutenção do Estado.
• O poder é uma espécie de rede formada por mecanismos e
dispositivos que se espraiam por todo cotidiano – uma rede da qual ninguém pode escapar. Ela molda nossos comportamentos, atitudes e discursos. Corpos dóceis “É dócil um corpo que pode ser submetido, que pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado”
Foucault, Vigiar e Punir
O corpo se tornou alvo do poder, descobriu-se que ele podia ser
moldado, rearranjado, treinado e submetido para se tornar ao mesmo tempo tão útil quanto sujeitado. O corpo foi dobrado pouco a pouco pelo poder, de maneira sutil, através de várias técnicas de dominação. Não que esta criação seja inédita, as relações de força agem e agiram desde sempre, mas com a modernidade o corpo passou a ser dividido, separado, medido e investigado em cada detalhe.