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Ética de Schopenhauer e Nietzsche

1788-1860 1844-1900 1926-1984


Arthur Schopenhauer

Diante de um mundo de dores e sofrimentos, Schopenhauer


propõe uma ética prática e vivencial baseada na compaixão.
Apesar do egoísmo e da crueldade que fazem parte da
existência humana, a caridade e a compaixão são o
contraponto do egoísmo. O egoísmo é fruto do “eu” e do
“ego”, que faz o homem se considerar o “centro do
mundo” e se opor violentamente contra tudo que impeça seu
bem-estar. O egoísmo separa os homens, a compaixão, por sua
vez, nos aproxima.

A compaixão, enquanto princípio ético fundamental, é a


proposta de Schopenhauer.
A compaixão consiste numa ação de identificação comprometida
com o sofrimento do outro, um verdadeiro encontro de
humanidades. Schopenhauer afirma ser a compaixão uma
capacidade inerente ao homem, mas o egoísmo se encarregou de
condená-la ao esquecimento e ao desprezo.
A potencialidade da realização humana se resume na capacidade
de construir a felicidade do outro, dessa forma, seremos
verdadeiramente éticos.
A existência humana é um perpétuo sofrimento e está sempre
expostas às experiências amargas. Isso não acontece por obras da
natureza, mas é a obra e criação do próprio ser humano que é
responsável por isso, e o grande centro de todos os problemas e
sofrimentos é o egoísmo. Segundo o autor, a ação humana se
orienta por três causas: egoísmo, maldade e crueldade.
Schopenhauer se volta para as “dores do mundo”, mas de
forma existencial e não mais platônica ou kantiana, e
buscará na compaixão e na bondade um fundamento para a
ética, renegando o frio e abstrato imperativo categórico
kantiano que se baseia no dever e na dignidade.
Schopenhauer irá introduzir, na filosofia ocidental, elementos
do budismo, que considera a compaixão e a bondade virtudes
fundamentais nas relações humanas, enquanto que a tradição
ocidental, e principalmente Kant, não consideram a compaixão
uma virtude.
As dores do mundo

Schopenhauer busca fundar uma ética da compaixão, e para


isso estabelece uma metafísica baseada em uma vontade
universal, que é a essência de todos os seres. Através da
compaixão, percebo a unidade de todas as coisas e consigo
estabelecer uma relação que me une e me conecta com os
outros, enquanto o egoísmo seria uma “ausência metafísica”
que separa os homens.
Friedrich Nietzsche
Nietzsche, o filósofo do martelo,
é conhecido por romper com a
filosofia tradicional, propondo
um novo estilo filosófico que
contrapõem a racionalidade
filosófica e a moral cristã. Ele
foi um grande crítico de
Sócrates e da figura de Cristo,
principalmente por conta dos
valores morais, que afirmava
serem instrumentos que os
fortes inventaram para
submeter e controlar os fracos.
Nietzsche recorre ao seu método “genealógico da moral”
a partir de duas matrizes (representação apolínea e
dionisíaca), que são constituintes do homem. Desde a
Grécia antiga atesta a supremacia do apolíneo,
marcada pela predominância e requisição da postura
racional, evidenciada desde Sócrates, Platão e
Aristóteles, culminando no cristianismo, o que molda o
homem moral do ocidente, no entanto, o autor detecta
a constituição de uma moral de rebanho, consagrada
no ressentimento e tolhimento (constrangimento) da
vontade de potencia do mesmo.
Apolíneo-dionisíaco é uma
expressão metafórica ao que
vem dos deuses: Apolo e
Dioniso – expressão
popularizada e tratada por
Nietzsche no livro ‘O
nascimento da tragédia”, que
aponta o homem entre o
espírito da ordem, da
racionalidade e da harmonia
intelectual, representado por
Apolo, e o espírito da vontade
de viver espontânea e
extasiada, representado por
Dioniso.
O homem constitui um elo com o mundo. Não deveríamos nos
afastar dessa realidade que era vivenciada na época antiga. “O
Nascimento da tragédia” apresentado por Nietzsche, parece
prever o que ocorreria com o homem um século depois desse
livro ser publicado, hoje o homem evita toda a finitude e a
“realidade” que é mostrada na tragédia grega. O homem dos
nossos dias não aceita sofrer, não enfrentar a dor, não aceita a
angústia, procura afastar-se de “todo mal” através de
medicamentos e mais “medicamentos”, foge de tudo e de todos,
utiliza-se de um movimento desenfreado, da agitação, das
“atividades”, evita a solidão, não dá tempo para si próprio, tem
medo do “real;” e o pior é que a “normalidade” da sociedade é
uma loucura assustadora. A propósito: Quem é “louco”? Quem
é “sano”?
Ao criticas as bases moral tradicional,
Nietzsche antecipa a transvaloração dos
valores, denunciando a moral de rebanho
decadente e que nega o “querer viver”, além
de fundamentar-se no ressentimento, na
bondade, humildade e piedade, para
contrapor-se a referida moral de escravo.
O individuo que supera os valores morais
da tradição atinge o “além-homem”, pois
reavaliou os valores e o destruiu sendo
niilista (Ponto de vista que afirma ser as
crenças, as verdades e os valores
tradicionais sem fundamento, sentido e
utilidade), pois destrói tudo para renascer
nos valores do “além do homem”.
Michel Foucault
“(...) o corpo é investido por relações de poder e de dominação;
mas em compensação sua constituição como força de trabalho
só é possível se ele está preso num sistema de sujeição (onde a
necessidade é também um instrumento político cuidadosamente
organizado, calculado e utilizado); o corpo só se torna força útil
se é ao mesmo tempo corpo produtivo e corpo submisso”.
(FOUCAULT, 1995, p. 28)

A ética do “cuidado de si” consiste em um conjunto de regras


de existência que o sujeito dá a si mesmo promovendo,
segundo sua vontade e desejo, uma forma ou estilo de vida
culminando em uma “estética da existência”. O cuidado de si
não consiste em uma ética em que o sujeito se isola do mundo,
mas sim retorna para si mesmo para depois agir.
Michel Foucault viu no comportamento do homem ocidental
contemporâneo como forjado e resultante, em certa medida, do
projeto iluminista. O autor questiona noções de liberdade,
autonomia, razão, poder e saber.

O pensamento de Foucault indica que o homem pós-iluminista


vive uma ilusão de autonomia, pois denunciou que
comportamento considerados normais seriam ditados por
regras impostas pela sociedade e internalizada como padrão.
• Temos que pensar o poder não como uma “coisa” que uns tem e
outros não, como por exemplo o pai e o filho, o rei e os súditos, o
presidente e seus governados, etc., mas como uma relação que se
exerce, que opera entre pares: o filho que negocia com o pai , os
súditos que reivindicam ao rei, os governados que usam
dispositivos legais para fiscalizar o presidente e etc.

• O poder não se restringe ao governo, mas espalha-se pela


sociedade em um conjunto de práticas, a maioria delas
essenciais à manutenção do Estado.

• O poder é uma espécie de rede formada por mecanismos e


dispositivos que se espraiam por todo cotidiano – uma rede da
qual ninguém pode escapar. Ela molda nossos comportamentos,
atitudes e discursos.
Corpos dóceis
“É dócil um corpo que pode ser submetido, que pode ser
utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado”

Foucault, Vigiar e Punir

O corpo se tornou alvo do poder, descobriu-se que ele podia ser


moldado, rearranjado, treinado e submetido para se tornar ao
mesmo tempo tão útil quanto sujeitado. O corpo foi dobrado
pouco a pouco pelo poder, de maneira sutil, através de
várias técnicas de dominação. Não que esta criação seja
inédita, as relações de força agem e agiram desde sempre, mas
com a modernidade o corpo passou a ser dividido, separado,
medido e investigado em cada detalhe.

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