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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Curso: Psicologia / Disciplina: Teoria dos grupos e processos psicossociais

Profª: Adriana Penzim

Alunos:

 Antônia Maria
 Aparecida Maria Stela Nunes Ferreira
 Bruna Coutinho Silva
 Gianne Stefani Gonçalves
 Otávio Igor Guimarães Pires
 Samuel Vítor
 Vera Lúcia de Oliveira Silva

Proposta:
Elaborem uma questão acerca de qualquer um dos conceitos e problemáticas
expostos nos textos estudados, buscando correlacioná-los com fenômenos e fatos
sociais presentes no mundo contemporâneo e apresentem sua própria tentativa de
resposta e elaboração.

Questão:
Freud, em “Psicologia de Grupo e a Análise do Ego” (1996), retoma a noção de
sugestão em McDougall, no sentido de problematizá-la. Este termo foi cunhado como
uma explicação para o fenômeno dos indivíduos no grupo, em que os sujeitos
encontram-se submetidos à influência grupal em seus pensamentos, ações e
emoções, por exemplo. Freud (1996) diz que o McDougall não considerou a natureza
da tal sugestão. Ele dará continuidade ao texto supracitado abordando a libido, na
forma de laços de afetividade ou amor, como manifestação dos impulsos instintuais
sexuais, direcionados a outros objetivos. Quando em um grupo, a libido pode se
direcionar à figura do líder ou à ideia dominante, como afirma Freud.
Não seria correto supor serem estes laços libidinais somente positivos. Por isso, o
autor ressalta:
O líder ou a ideia dominante poderiam também, por assim dizer, ser negativo;
o ódio contra uma determinada pessoa ou instituição poderia funcionar
exatamente da mesma maneira unificadora e evocar o mesmo tipo de laços
emocionais que a ligação positiva (FREUD, 1996, p.111).

Tendo em vista essas considerações, reflita sobre como se evidenciam nos seguintes
fenômenos, buscando articulá-los: o filme “A onda” e as torcidas organizadas.

Resposta:
Tanto nos fenômenos das torcidas organizadas, quanto no fenômeno do grupo de
estudantes sob a experiência de um regime autocrático totalitário, podemos perceber
certas semelhanças, vinculadas a alguns elementos discutidos em “Psicologia de
Grupo e a Análise do Ego”.

Podemos apontar:
 a presença de ideias dominantes: isso pode ser percebido pela criação de
símbolos (bandeira, hino, uniforme do time; o ódio pelos torcedores de outros
times; o símbolo da “Onda”, a cor da camisa, os gestos de cumprimentos aos
colegas semelhantes, ou seja, aos pertencentes ao movimento), como
elementos criadores dos laços libidinais, que ligam os indivíduos uns aos
outros;
 a presença do líder: nos fenômenos das torcidas organizadas isso não é tão
perceptível quanto no filme. O professor, no papel de líder, introduz uma série
de ideias, como dizer que marchar no mesmo lugar é uma forma de se fazer
circular melhor o sangue; ideias que acabam por ser dominadoras,
instrumentos de manipulação ideológica. Vemos então, como também nos diz
Freud(1996), que a figura do líder pode estar associada às ideias dominantes;
 tolerância para com os membros dos grupos e intolerância para com os demais:
a ideia de homogeneidade também é dada pela simbologia dos elementos
elencados anteriormente, associada aos laços libidinais que são estabelecidos
entre os membros do grupo. Na situação do filme, todos os que não aderiram
à “onda” era hostilizados e até tratados com violência pelos colegas de escola
pertencentes ao movimento. Nos fenômenos das torcidas organizadas,
práticas de extrema violência verbal e física, ocasionando, em alguns casos,
mortes, são comuns na sociedade brasileira, quando do confronto entre dois
grupos distintos; e isso ocorre devido à perda de inibições individuais e da
faculdade crítica. Freud (1996) ressalta que essa tolerância é mais ou menos
permanente nos grupos, “visto que essa tolerância não persiste por mais tempo
do que o lucro imediato obtido pela colaboração de outras pessoas” (FREUD,
1996, p.113);
 identificação com o líder (corporificada no mesmo) ou com o grupo: Freud
(1986) discute esse processo como sendo decorrente de uma forma originária
de se estabelecer laços libidinais com um objeto, em que o ego introjeta esse
objeto, transformando-o em seu ideal. Podemos nos aperceber disso na figura
do estudante Tim, que se posiciona de forma autosacrificante pelo grupo e pelo
professor, chegando a oferecer-se como guarda-costas deste. Tim, ao
identificar-se com a ideologia do grupo e com o líder, o qual teria idealizado,
experiencia uma sensação de prazer e triunfo, pela coincidência do ego com
o ideal de ego; age de forma irracional ao ser contagiado pelos sentimentos e
ações proporcionados pelo grupo. No mesmo sentido, uma torcida identifica-se
com seu time para ser como o idealiza: poderoso, vencedor e imbatível;
experienciando um estado de “apaixonamento” quando o time ganha a partida,
e, ao mesmo tempo, frustração, quando de uma derrota. Esse movimento de
idealização e frustração permanece enquanto existe a organização de uma
torcida.

Resgatando Le Bond, Freud (1996) retoma as noções do grupo como espaço


para a manifestação de impulsos instintuais, caracterizando-o como irracional.
Retomemos o seguinte trecho, com alguns aspectos presentes nos grupos:
[...] a fraqueza de capacidade intelectual, a falta de controle emocional, a
incapacidade de moderação ou adiamento, a inclinação a exceder todos os
limites na expressão da emoção e descarregá-la completamente sob a forma
de ação (FREUD, 1996, p.127).

Tais características se presentificam nos fenômenos considerados aqui. Tratemos do


filme. Os alunos integrantes, de fato, do movimento da “Onda” aderem às ideias
disseminadas pelo líder sem sequer questioná-las, as tomando por verdades
absolutas. Os alunos agiam com impulsividade e agressividade para com outros
colegas, sempre quando da iminência de perturbação de algum membro do
movimento. Suas ações coletivas, como pichar os muros de vários prédios,
demonstravam o imediatismo de suas atitudes, sempre em nome do coletivo. Já nos
fenômenos das torcidas organizadas, percebemos que quaisquer resultados no
campo de futebol, por exemplo, como um gol, já é algo suficiente para fazer emergir
atitudes de extrema violência e hostilidade, necessitando de contenção de policiais.
Muitos dos torcedores vão na onda, agindo de forma impensada, e porque os outros
também o estão fazendo. São momentos de descarga emocional, em que os
indivíduos sentem-se totalmente onipotentes, como afirma Freud (1996); dotados de
forças e capacidades ilimitadas.
Segundo McDougall, apud Freud (1996, p.109),

uma multidão de seres humanos dificilmente pode reunir-se sem possuir, pelo
menos, os rudimentos de uma organização [...]; esses indivíduos devem ter
algo em comum uns com os outros , interesse comum no objeto, certo grau
de influência recíproca.

Ele acredita que o estado emocional compartilhado simultaneamente faz com que a
“compulsão automática” cresça. “O indivíduo perde seu poder de crítica e deixa
deslizar-se pela emoção” (MCDOUGALL apud FREUD, 1996, p.110).
No filme estudantes que compunham o grupo/o movimento “a onda” passaram
a ter algo em comum, divulgar uma ideia, criarem um linguagem própria, e, tanto o
líder (professor), quanto os membros, exerciam influência nas ações uns dos outros.
Ao experimentarem a mesma emoção de serem um grupo, como por exemplo, na
difusão do símbolo forjado para o movimento “A onda” em todos os locais da cidade,
perderam o senso crítico e não foram capazes de pensar nas consequências de suas
ações.

REFERÊNCIAS
FREUD, Sigmund. Psicologia de Grupo e a Análise do Ego. In. FREUD, Sigmund.
Obras psciológicas completas de Sigmund Freud: edição standart brasileira.
Volume XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996, pp.81-154.

MEZAN, Renato. Perigos da obediência. Disponível em:


<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1110200915.htm>. Acesso em 17 set.
2014.

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