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A psicologia do desenvolvimento e o

estudo científico da adolescência: aspectos


biológicos, emocionais, sexuais,
psicossociais e cognitivos da adolescência.

Autora: Valéria de Oliveira

Sumário

I. Introdução
II. Adolescência: um fenômeno recente
Mas afinal, o que é adolescência?
III. Pubescência e Puberdade
IV. Fases da Adolescência
V. Desenvolvimento psicossexual, psicossocial e cognitivo na
adolescência
Desenvolvimento psicossexual
Desenvolvimento psicossocial
Desenvolvimento cognitivo
VI. Voltando à adolescência
VII. Conflitos e crises na adolescência
A importância do grupo na adolescência
VIII. Aborrecente ou adolescente?
IX. Referências

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I. Introdução

Este texto tem como finalidade fornecer subsídios teóricos que possam instrumentalizar a
prática de profissionais que trabalhem com adolescentes.
O que se pretende é fornecer uma visão geral do que seja a adolescência, seu
conceito, suas características e as implicações dessa etapa do ciclo vital humano no
relacionamento do adolescente consigo mesmo e com seu entorno.
O texto começa por abordar a adolescência, tal como se conhece no ocidente, neste
início de século XXI, como um conceito histórico e um fenômeno recente. E a partir daí,
serão apresentados os conceitos de pubescência e puberdade, demonstrado que enquanto
o termo adolescência se refere a processos sociais, a puberdade se remete a orgânicos e
biológicos. Serão apresentadas as principais características do período da adolescência,
buscando estabelecer uma conexão entre os pressupostos teóricos abordados com os
comportamentos observados no dia a dia dos adolescentes na atualidade, que se
manifesta tanto no espaço privado quanto nos espaços públicos. E, consequentemente,
nas salas de aulas.

II. Adolescência: um fenômeno recente

Será que a adolescência é um período de desenvolvimento no ciclo de vida do ser


humano, ou é invenção de algumas sociedades e seu conceito é variável em função
do tempo e do lugar?

Palácios e Oliva (2002) assinalam que a adolescência, tal como a conhecemos hoje
na nossa sociedade ocidental, é um produto do século XX, que também é quando ela
passa a ser estudada desde diferentes perspectivas. O primeiro estudo publicado sobre
essa fase da vida, desde o ponto de vista psicológico, aconteceu em 1904, por Stanley
Hall: “adolescência: sua psicologia e sua relação com a fisiologia, sociologia, sexo, crime,
religião e educação”. Na década de 1920, surgiram vários estudos sobre aspectos
biológicos da adolescência, que se tornaram cada vez mais importantes para a
compreensão da puberdade – o aspecto biológico da adolescência. Antropólogos como
Margareth Mead (1970) e historiadores como Philippe Ariés (1981 e 1990) também se
detiveram em pesquisas dessa etapa de vida do ser humano, demonstrando que não
existe um único tipo de adolescência no tempo e no espaço, mas que o conceito de
adolescência varia por razões temporais, culturais, econômicas e sociais.
Philippe Áries (1981) ressalta que nas sociedades pré­industriais, quando o menino
atingia a idade de se cuidar sozinho – entre os 7 e 8 anos – era retirado do mundo das
mulheres, onde vivia desde o nascimento, sendo transferido sem nenhum período de
transição para o mundo dos homens adultos, trabalhando não somente com eles, mas
também como eles, nas oficinas, campos ou os acompanhando nas caçadas, viagens e
guerras. Nessa sociedade medieval intermédia, dominava a aprendizagem direta:
aprendia­se com a prática. A transmissão do saber acontecia pela palavra, pelo gesto,
pelo exemplo e era acompanhada pelo ensino do ofício no próprio local de trabalho e não
na escola.
Portanto, o traço dominante da adolescência nessas sociedades era um período de
tempo reduzido, ao contrário do que ocorre nas sociedades em que a transmissão da
cultura pressupõe a escrita, como nas sociedades escolares do tipo das sociedades

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clássicas (ginásio e liceu) e na sociedade industrial, em que a adolescência se caracteriza
por ser mais longa. A escola passa a ser o locus de transmissão das regras sociais e
culturais do mundo adulto e só depois de passar por essa formação se tem o direito de
ingressar no mundo dos adultos.

Philippe Áries (1981) também assinala que as classes populares resistiram durante
algum tempo às obrigações escolares, talvez porque não tinham outra alternativa.
Seus filhos desde criança iam trabalhar na agricultura, nas minas e nas fábricas.
Dessa forma, o término da adolescência ocorria não com o término da escolaridade,
mas com o casamento ou com o ingresso no serviço militar. Sobre este tema assim
escreve Palácios e Oliva:

Ainda que os filhos dos operários tenham continuado a se


incorporar ao mundo do trabalho em idades muito precoces,
os filhos das classes médias e altas permaneceram nas escolas,
que aumentaram em número, desenvolveram programas
específicos e mais complexos. No final os filhos dos operários
também foram unindo­se a esse estilo de vida, segundo
avançava o século, foi­se introduzindo nos diversos paises
ocidentais o conceito de escolaridade obrigatória, que foi se
prolongando até chegar na atualidade, na maioria dos paises
europeus aos 16 anos. Não são poucos os adolescentes que
continuam seus estudos depois do ensino médio,
permanecendo no sistema escolar por mais alguns anos [...]
(PALACIOS; OLIVA, 2002, p. 310).

Este é o cenário que temos ainda hoje na nossa sociedade ocidental e, neste início
de século XXI, ou seja, a incorporação do adolescente no status de vida adulta foi adiado
quando comparado à períodos anteriores da história da humanidade. Sem se esquecer de
que em sociedades tribais, também chamadas primitivas, existe sempre um ritual de
passagem à vida adulta, que é vivido pelo adolescente. Esse ritual pode ser a primeira
caçada, uma noite no mato esperando um sonho profético etc. Após essa cerimônia a
criança é aceita no mundo dos adultos e integrada na sociedade.

Atividade Complementar 1
Assista ao documentário “XINGU” e produza um texto relacionando esse histórico
com o ritual documentado para as adolescentes daquela nação indígena.

Mas afinal, o que é adolescência?


Já foi comentado que a adolescência é um conceito histórico que ganhou força no
século XX e vem servindo para designar o tempo intermediário e indefinido entre a
infância e a vida adulta (CALLIGARIS, 2000).
No Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, está escrito que adolescente é
aquele que “[...] está no começo, que ainda não atingiu todo o vigor”. Segundo
Rapapport (1981, p. 23) o termo adolescência vem do latim “adolescere” e significa
“crescer ou crescer até a maturidade”.

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Em nossa cultura ocidental, a adolescência é o período que se caracteriza pelo
ajustamento sexual, social, ideológico, vocacional e de luta pela emancipação dos pais. E
não somente uma fase terminal do crescimento biológico.
Considera­se que a principal tarefa da adolescência é a conquista de uma
identidade própria. Para Knobel (1992) a adolescência se caracteriza por ser uma fase do
desenvolvimento em que o indivíduo estabelece sua identidade adulta a partir de
internalizações e identificações ocorridas na infância, principalmente na relação com seus
pais, mas também levando em conta as influências da sociedade em que vive. Mas, como
caracterizar a passagem da adolescência para a vida adulta? Diríamos que após viver a
adolescência o ser humano teria condições de ter:

· definição da identidade sexual e a capacidade de estabelecer relações afetivas


estáveis;
· independência econômica;
· consolidação do seu sistema de valores pessoais, o seu código de ética próprio;
· estabelecimento de uma relação de reciprocidade com a geração precedente.

A puberdade é um processo decorrente das transformações biológicas e a


adolescência é fundamentalmente psicossocial.

Atividade Complementar 2
Acesse a página web abaixo, leia o artigo “Rituais de passagem segundo os
adolescentes” e elabore uma lista das mudanças que ocorrem na adolescência
percebidas pelos adolescentes pesquisados:

http:/ / www.scielo.br/ scielo.php?pid=S0103­1002008000300004&script=sci_arttext

III. Pubescência e Puberdade

Os termos puberdade e pubescência – derivadas do latim “pubertas”, a idade da


maioridade, e “pubescere”, apresentar cabelos no corpo, atingir a puberdade – são, muitas
vezes, utilizados como sinônimo de adolescência. No entanto, já foi discutido no início
deste texto que a adolescência é uma invenção social. Diferentemente da adolescência, o
conceito de puberdade está relacionado com transformações em nível fisiológico e é um
fenômeno universal, que ocorre de forma semelhante na maioria dos seres humanos,
independentemente de sua raça ou cultura.
As transformações físicas que ocorrem neste período de vida dependem da ação do
hipotálamo, que está situado na base do cérebro, cujos hormônios estimulam os ovários,
os testículos e as glândulas adrenais a produzirem os hormônios sexuais que
desencadeiam todo processo de crescimento físico e maturidade reprodutiva.
O surto de crescimento em ritmo acelerado, gerado por essa ação endócrina, é um
sinal da pubescência, que constitui um período de transformações físicas que
conduzem à maturidade da capacidade reprodutiva.

Portanto, a pubescência se refere ao desenvolvimento fisiológico durante o qual as


funções reprodutivas amadurecem, aparecem as características sexuais secundárias e a

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maturidade fisiológica dos órgãos sexuais primários. O início desse desenvolvimento
pode variar de pessoa para pessoa. Para o sexo feminino a puberdade ocorre entre os
nove e treze anos de idade, enquanto que para o sexo masculino entre os dez e catorze
anos de idade, geralmente.

As principais características dessas transformações biológicas nos meninos são:


· surgimento de pêlos nas regiões axilares (axila), inguinais (pubianos) e torácicos
(peito);
· aumento em volume dos testículos e tamanho do pênis;
· crescimento de pêlos faciais (barba);
· oscilação com posterior entonação da voz;
· alargamento da omoplata (escápula/ ombros);
· desenvolvimento da massa muscular;
· aumento de peso e estatura;
· início da produção de espermatozóides.

Nas meninas se observa as seguintes mudanças:


· expansão óssea da cintura pélvica (bacia);
· início do ciclo menstrual;
· surgimento de pêlos nas regiões axilares (axila) e inguinais (pubianos);
· depósito de gordura nas nádegas, nos quadris e nas coxas;
· surgimento do broto mamário e desenvolvimento das mamas.

Essas mudanças são coordenadas


pelos hormônios hipotalâmicos,
desencadeando a síntese de
hormônios hipofisários, que irão
estimular as glândulas sexuais a
produzirem, respectivamente:
testosterona nos testículos
(gônada masculina) e estrógeno
nos ovários (gônada feminina). A
produção desses hormônios além
de desencadear transformações a
nível corporal, no qual o corpo
infantil, de maneira gradual, vai
se metamorfoseando em um
corpo adulto, também influencia
diretamente no comportamento
dos adolescentes.

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Puberdade é o ponto do
desenvolvimento, no qual as
mudanças biológicas da pubescência
atingem o início do desenvolvimento
sexual.

As alterações na puberdade não são unicamente físicas, mas também


psicológicas, pois nesse período ocorrem grandes oscilações emocionais. Por isso, se
observa nos adolescentes as rápidas e abruptas mudanças de humor, surgindo
comportamentos agressivos, a agitação e preguiça, alterações no ciclo do sono. Além de
sentimentos de tristeza e felicidade que se alternam.

IV. Fases da Adolescência

A adolescência pode ser dividida em duas fases principais. A primeira desencadeada


pelo aumento das forças instituais, iniciadas a partir da maturação dos órgãos
reprodutores e as mudanças fisiológicas da puberdade. Essa primeira fase é marcada
por intensos e repentinos impulsos eróticos e agressivos, que por sua vez acabam
gerando muitos conflitos internos e a busca do equilíbrio e da manutenção do controle.
Os adolescentes, principalmente os meninos, precisam gastar muita energia no controle
de sensações eróticas repentinas e isso pode provocar uma certa inibição do potencial
intelectual neste período. Isso se reflete no espaço escolar, pois muitos desses alunos
acabam por registrar uma queda no rendimento no oitavo ou nono ano.
Essa fase costuma terminar aproximadamente aos 16 anos. As características dessa
primeira fase são:

1. rebelião contra os adultos e seus valores;


2. intenso narcisismo com acentuada preocupação com o próprio corpo;
3. busca por pertencer a um grupo, uma tribo;

4. os impulsos e emoções sexuais se intensificam e ganham expressão, a princípio


em fantasias, depois em atividades masturbatórias e a busca de relações sexuais;

5. aumento da agressividade;

6. aumento da capacidade intelectual e emocional;


7. mudanças repentinas e imprevisíveis de humor e comportamento.

A segunda fase da adolescência, que acontece depois dos 16 anos, caracteriza­se


por uma maior estabilidade, no que diz respeito às terríveis oscilações hormonais e

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suas conseqüências. Com o apoio das identidades já adquiridas, nessa segunda fase da
adolescência constrói­se um novo mundo social. No entanto, a crença de que se é
poderoso, que nada de mal pode lhe atingir, que a realidade é reversível e o imediatismo
fazem com que o adolescente se envolva em situações sem pensar nas conseqüências
futuras: o abandonar a escola, a gravidez não desejada, o envolvimento em acidentes de
trânsito, o consumo de drogas e bebidas alcoólicas, são exemplos dessas situações
frequentemente vivenciadas por muitos adolescentes. Além disso, a inconstância é
presente o que gera freqüente troca de objetos de amor, a necessidade de pertencer a
grupos diferentes e às vezes marginais. Ao final dessa segunda fase o adolescente
consegue:

1. efetuar a separação e independência dos pais;


2. estabelecer uma identidade sexual;
3. ser capaz de desenvolver uma atividade econômica;
4. desenvolver um sistema pessoal de valores morais;
5. ter capacidade de estabelecer relações amorosas duradouras;
6. regressar aos pais numa relação baseada em igualdade relativa.

As condutas típicas desse período são: a busca de reconhecimento entre o grupo


de pares e entre os adultos e o ingresso em atividades sociais, políticas e profissionais.
Na nossa sociedade ocidental, a primeira oportunidade para exercer e usufruir as
prerrogativas adultas ocorre na segunda fase da adolescência: votar, dirigir, fumar são
exemplos dessas prerrogativas. Portanto, nesse momento o adolescente entra no mundo
adulto, embora nem sempre aceite as regras e valores impostos.

V. Desenvolvimento psicossexual, psicossocial e cognitivo na


adolescência

Para que ocorram as mudanças relatadas no item anterior, muitas coisas acontecem
internamente no adolescente. O desenvolvimento nessa etapa da vida não é apenas físico,
mas também na maneira de raciocinar e de interagir com o mundo a seu redor. Para
entender todo este processo, primeiramente será abordado o que significa
desenvolvimento psicossexual, psicossocial e cognitivo, para isso recorremos a
importantes teóricos que abordaram cada um desses temas:
· Sigmund Freud, que estudou o desenvolvimento psicossexual;
· Eric Erikson, que estudou o desenvolvimento psicossocial;
· Jean Piaget, que estudou o desenvolvimento cognitivo.

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Desenvolvimento psicossexual
Sigmund Freud propõe uma explicação interessante do desenvolvimento humano.
Para ele, o comportamento humano é orientado pelo impulso sexual, que ele chamou de
libido, palavra feminina latina que significa desejo, vontade. Esse impulso pela busca do
prazer, libido, já se manifesta no ser humano desde os primórdios da vida. Freud
demonstrou que o ser humano é movido por suas pulsões libidinais direcionadas à busca
do prazer e elas se manifestam muito precocemente.
Freud classificou o desenvolvimento psicossexual em cinco fases que para ele,
correspondem a estádios do desenvolvimento da personalidade: oral, anal, fálica,
latência e genital, conforme a idade do indivíduo e a localização corporal da principal
fonte de sentimentos prazerosos. Portanto, o desenvolvimento psicossexual se faz por
meio dos vários estádios que correspondem à prevalência de diferentes zonas erógenas,
isto é, de partes do corpo cuja estimulação pode produzir prazer.
Para Freud, o ser humano está sujeito desde o nascimento a um desenvolvimento
estreitamente relacionado com o direcionamento da libido em cada uma das fases, que
determina a construção e estruturação da personalidade, ou seja, o desenvolvimento
emocional adequado, a construção e a estruturação da personalidade do ser humano
estão diretamente relacionadas, segundo Freud, à maneira pela qual o ser humano
vivencia diferentes fases do seu desenvolvimento psicossexual.
O desenvolvimento da personalidade é, na perspectiva freudiana, centrado no
desenvolvimento psicossexual, ou seja, as características da personalidade de cada um
resultariam, além das características inatas, das relações que estabelece, das
identificações, das formas de resolução de conflitos intrapsíquicos e dos mecanismos de
defesa que privilegiou.

Desenvolvimento psicossocial Eric Erikson (1902 –


1994), alemão
Eric Eriksonm, discípulo de Freud, elaborou uma teoria do desenvolvimento
naturalizado americano,
psicossocial e, em seu livro Infância e sociedade, apresenta uma detalhada descrição do foi um psiquiatra que
desenvolvimento, abrangendo toda a vida humana. Sua teoria também é conhecida como desenvolveu a Teoria do
desenvolvimento
as oito idades do homem. Psicossocial. Erikson
acreditava que o ser
Para Eric Erikson, o desenvolvimento psicossocial é sinônimo de desenvolvimento humano passa por
da personalidade e acontece ao longo de oito etapas que, no seu conjunto, constituem o estágios de
ciclo da vida (Tabela 1): desenvolvimento, até
atingir sua completa
1. Confiança Básica X Desconfiança maturidade, divididos
em oito fases, e não cinco
2. Autonomia X Vergonha como teorizava Freud.

3. Iniciativa X Culpa
4. Diligência X Inferioridade
5. Identidade X Confusão de Papeis
6. Intimidade X Isolamento
7. Generatividade X Auto­Absorção
8. Integridade do Ego X Desesperança

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Um dos conceitos fundamentais na teoria de Erikson é o de crise ou conflito que o
indivíduo vive ao longo dos períodos por que vai passando, desde o nascimento
até à velhice. Por isso, cada etapa é apresentada como se fosse uma oposição entre
duas questões, um conflito que é resolvido positiva ou negativamente pelo
indivíduo. A resolução positiva se traduz numa virtude, que é um ganho
psicológico, emocional e social: uma qualidade, um valor, um sentimento, enfim,
uma característica de personalidade que lhe confere equilíbrio mental e capacidade
de um bom relacionamento social. É interessante ressaltar que, para Erikson, se a
resolução da crise for negativa, o indivíduo sentir­se­á socialmente desajustado e
tenderá a desenvolver sentimentos de ansiedade e de fracasso. No entanto, é
importante que se diga que numa fase posterior, a pessoa pode passar por
vivências que lhe permitam refazer o equilíbrio e reconstruir o seu autoconceito
(Tabela 1).
Podem­se dividir essas etapas, agrupando­as em três momentos e a cada um deles
corresponde à formação de um aspecto particular da personalidade. O primeiro
momento, incluindo as quatro crises iniciais nos estágios da infância, cuja resolução
estabelece um modelo básico de relação com o mundo (Confiança Básica X Desconfiança,
Autonomia X Vergonha, Iniciativa X Culpa, Diligência X Inferioridade).
O segundo é a configuração da identidade propriamente dita – período
correspondente à adolescência (Identidade X Confusão de Papeis) e o terceiro
corresponde às três etapas finais da vida, em que cada uma delas corresponde a um
momento de ‘produção’ quer ao nível interno ou social (Intimidade X Isolamento,
Generatividade X Auto­Absorção, Integridade do Ego X Desesperança) (BOSSA, 1998).

Desenvolvimento cognitivo
Para Piaget (1973), o ser humano ao nascer é possuidor de uma estrutura biológica
que permite o seu desenvolvimento mental e sua capacidade de raciocínio. Contudo, essa
estrutura biológica por si só não é suficiente para assegurar o desencadeamento de
fatores que propiciarão o seu pleno desenvolvimento. Isso só ocorrerá a partir da
interação do sujeito com o meio e da experimentação do objeto a conhecer. No entanto, só
a experimentação e a interação com o meio não são condições suficientes para o pleno
desenvolvimento cognitivo, é necessário ainda o exercício do raciocínio, o processo
interno de reflexão.
Jean Piaget assinala que a maneira de pensar, de raciocinar, do ser humano sofre
mudanças ao longo de seu desenvolvimento cognitivo. Ou seja, uma criança tem
estruturas mentais diferente de um adulto. A maneira como raciocina e encontra soluções
para desafios e problemas que lhe são apresentados varia em função do estádio, período
de desenvolvimento cognitivo em que esteja.

Piaget considera quatro períodos ou estádios no processo de desenvolvimento


cognitivo do ser humano que são: Sensório motor, Pré­operatório, Operações concretas
e Operações formais. Cada um deles é caracterizado por formas diferentes de
organização mental que possibilitam as diferentes maneiras do indivíduo relacionar­se
com a realidade a seu redor. Cada estádio é um sistema de pensamento qualitativamente
diferente do anterior, isto é, cada estádio constitui uma transformação fundamental dos
processos de pensamento.

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De uma forma geral, todos os indivíduos vivenciam esses quatro períodos na
mesma seqüência, porém o início e o término de cada um deles pode sofrer
variações em função das características da estrutura biológica de cada indivíduo e
da quantidade e qualidade (ou não) dos estímulos proporcionados pelo meio
ambiente em que ele estiver inserido. Por isso, a divisão nessas faixas etárias é uma
referência e não uma norma rígida. Além disso, não existe dia e hora para se passar
de um estádio de desenvolvimento cognitivo para o outro, a capacidade de
raciocínio, as estruturas de pensamento vão ao longo do tempo se desenvolvendo
de tal forma, que permitem períodos de gradual transição, entre um estádio e outro
(PIAGET, 1973).
Embora estejamos falando sobre a adolescência é interessante ter uma noção das
diferentes etapas do ciclo vital, pois não há como falar do desenvolvimento ocorrido
nesta fase da vida sem mencionar as etapas anteriores e posteriores do desenvolvimento
do ser humano. Para isso se efetuará um paralelo entre três autores. A tabela a seguir
apresenta as etapas propostas por cada um desses autores do nascimento até a velhice.

Tabela 1. Estágios de desenvolvimento proposto pelos três teóricos: Freud, Erikson e Piaget.

Freud Erikson Piaget


Fases do Etapas do Etapas do
Anos desenvolvimento desenvolvimento desenvolvimento
psicossexual psicossocial cognitivo
(as 8 idades)
0a Fase Oral Confiança Básica X Período Sensório
1 e meio Desconfiança Motor
1 e meio Fase Anal Autonomia X Vergonha Período pré­
a 3 anos Operatório
3 a 6 Fase Fálica Iniciativa X Culpa
7 a 12 Período de Latência Diligência X Período Operatório
Inferioridade Concreto
12 a 18 Fase Genital Identidade X Confusão Período Operatório
de Papeis Formal
18 a Intimidade X Isolamento
30
30 a 60 Generatividade X Auto­
Absorção
60... Integridade do Ego x
Desesperança

Internet
Aqui vou me ater a discutir o período correspondente à adolescência, mas se desejar conhecer mais a
respeito das características de cada uma dessas fases consulte as paginas da web:
Sobre a Teoria Freudiana e o desenvolvimento Psicossexual:
<http:/ / cienciahoje.uol.com.br/ 3361>
<http:/ / www.fw2.com.br/ clientes/ artesdecura/ >
<http:/ / www.cefetsp.br/ edu/ eso/ filosofia/ glossariofreud.html>

Sobre Erikson e o desenvolvimento Psicossocial:


<http:/ / www.josesilveira.com/ artigos/ erikson.pdf>
<http:/ / web.educom.pt/ ~pr1327/ psy_antigo/ 63­65_licao_erikson.pdf>

Sobre Piaget e sua teoria do desenvolvimento cognitivo:


<http:/ / www.unicamp.br/ iel/ site/ alunos/ publicacoes/ textos/ d00005.htm>

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VI. Voltando à adolescência...

A adolescência é uma fase singular. É quando simultaneamente estão acontecendo um


conjunto de mudanças evolutivas significativas, em nível orgânico, cognitivo, afetivo e
social, ou seja, tudo acontece ao mesmo tempo. E é interessante se ter isso em mente para
compreender as profundas mudanças ocorridas na maneira de pensar e agir do
adolescente.
Quando se chega ao período operatório formal, que normalmente ocorre em torno
dos 12, 13 anos, o adolescente é capaz de pensar não somente em termos concretos, mas
de ter um pensamento hipotético­dedutivo, isto é, ele consegue formular mentalmente
todo um conjunto de explicações e possibilidades partir de dados que possue, elaborando
hipóteses e deduções. Ter o pensamento hipotético dedutivo significa ser capaz de
desprender­se do real e raciocinar sem se apoiar em fatos. Isso permite com que o
adolescente perceba que existem múltiplas formas de perceber a realidade.
Outro aspecto interessante dessa etapa do desenvolvimento cognitivo é que a
partir da chegada ao período operatório formal, o ser humano é capaz de pensar sobre o
próprio pensamento e sobre o pensamento de outras pessoas, percebendo que diante a
uma mesma situação diferentes pessoas podem ter diferentes pontos de vista. É essa
estrutura de raciocínio que permite ao adolescente questionar­se e questionar o seu
universo, seu contexto social e cultural. Por isso, também se observa no adolescente um
aumento da intelectualização, o gosto pela discussão, a busca de soluções teóricas de
problemas como o amor, a liberdade, educação, religião, sexo etc. A esse respeito escreve
Bossa (1998, p. 217):

A adolescência é a conquista do pensamento, se o jovem agora


pode pensar sobre o abstrato, isso traz mudanças também na
esfera das emoções. Agora ele é capaz de dirigir suas emoções
para idéias e não apenas para pessoas. Enquanto que antes ele
podia amar a mãe e odiar um amigo, agora pode amar a
liberdade ou odiar a exploração, ou seja, pode canalizar suas
emoções para coisas abstratas.

Esse fato permite ao adolescente desenvolver a sua própria identidade, levando em


conta que já tem as estruturas mentais que lhe permite pensar sobre a existência,
ponderar sobre o certo e o errado, manifestar outros interesses e ideais diferentes
daqueles que foram ensinados ao longo de sua infância e que defende segundo suas
próprias idéias.
Desde a perspectiva do desenvolvimento psicossexual de Freud, atingir a
adolescência é alcançar a fase genital que constitui a organização genital propriamente
dita, ocorrida com os processos de amadurecimento orgânico desencadeados na
puberdade. Isso é abordado por Freud (1905), na parte III de seu texto “Três Ensaios
sobre a Teoria da Sexualidade (1905)”, onde o autor nos mostra como a chegada da
puberdade opera mudanças destinadas a dar à vida sexual infantil sua forma final
normal, que consiste basicamente na passagem do auto­erotismo para a procura de um
objeto real. Portanto, desde a perspectiva freudiana, a resolução e reintegração bem­
sucedida nos estágios psicossexuais anteriores à adolescência, que é plenamente genital,
normalmente estabelece o cenário para uma personalidade totalmente madura. Atingida
essa fase, portanto, o adolescente teria condições de:
· aprender a amar, trabalhar e competir;

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· discriminar seu papel sexual;
· atingir o pleno desenvolvimento intelectual e socialmente;
· ser capaz de amar num sentido genital amplo e de definir um vínculo
heterossexual significativo e duradouro;

· ter capacidade orgástica plena e ligada a capacidade de amar.


Essas conquistas só são possíveis porque, como já vimos, o adolescente também
está se desenvolvendo cognitivamente, porque as estruturas mentais próprias do estádio
operatório formal permitem que o raciocínio abstrato surja e o adolescente então pode
elaborar hipótese e deduções, como também pensar sobre seu próprio pensamento e
dirigir suas emoções para idéias e não somente para pessoas.

Atividade Complementar 3
Baseado no que você leu até agora, elabore um texto a partir da frase abaixo:

“A adolescência como fase do desenvolvimento humano tem um princípio


biológico e um término psicológico.”

VII. Conflitos e crises na adolescência

Amparo Caridade (1999) assinala que quando o ser humano passa por intensas A expressão crise vem
do grego Krisis – ato ou
transformações ele vivencia um processo de crise. Dessa maneira, a crise seria algo faculdade de distinguir,
próprio do sujeito humano. A adolescência é uma etapa de vida marcada por escolher, dividir ou
resolver. Não se
desorganizações físicas, hormonais, psíquicas e emocionais e, claro, as
caracteriza, portanto
conseqüentes reorganizações. É, portanto, um momento de crise. como uma tragédia, mas
um ponto conjuntural
Aberastury e Knobel (1992) relacionam os lutos e as perdas vividas pelo necessário ao
adolescente. Lutos estes que se referem a aspectos infantis, alguns são perdidos outros desenvolvimento tanto
do individuo como das
renunciados para darem passo ao crescimento, a maturidade a vida adulta: instituições

O luto pelo corpo infantil perdido através da mudança


biológica que se impõe ao indivíduo que não poucas vezes tem
que sentir suas mudanças como algo externo, frente ao que se
encontra como expectador impotente do que ocorre no seu
próprio organismo; o luto pelo papel e identidade infantis, que
o obriga a uma renúncia da dependência e a uma aceitação de
responsabilidades que muitas vezes desconhece; o luto pelos
pais da infância, os quais persistentemente tentam reter na sua
personalidade, procurando o refúgio e a proteção que eles
significam ( ABERASTURY; KNOBEL, 1992, p. 10).

As transformações corporais que ocorrem a partir da puberdade são vividas pelo


adolescente, geralmente, com ansiedade. Nessa etapa da vida, o ser humano possui uma
mentalidade ainda infantil, num corpo que vai se transformando rapidamente sem que
ele tenha controle. Na realidade, o adolescente vivencia essas mudanças como um
espectador. A imagem e o esquema corporal também necessitam ser mudados e isso só se
torna possível à medida que ocorre a elaboração da perda, do luto pelo corpo infantil.

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Freud (1905) falou que ao elaborar o luto pelo corpo infantil perdido, a aceitação da
genitalidade surge com força na adolescência, imposta pela presença da menstruação ou
do aparecimento do sêmen.

Na infância, ocorre a relação de dependência natural no convívio da criança com os


pais. No entanto, quando chega a adolescência, há uma confusão de papéis, pois o
adolescente não é mais criança e não é ainda adulto. E ao mesmo tempo não sabe qual o
papel deve desempenhar, pois ora dizem que ele é criança para fazer determinadas
coisas e ora exigem que seja um adulto e dizem que ele já é bem grandinho. Mas, para
amadurecer e chegar ao status de adulto é necessário renunciar a identidade infantil: é o
que Aberastury e Knobel chamam de luto pelo papel e identidade infantil. Já foi visto
aqui que Erikson denomina de Identidade x Confusão de Papéis ao período da
adolescência.
Outra perda vivida pelo adolescente e que também gera conflitos é o que
Aberastury e Knobel vão denominar de luto pelos pais da infância. Nessa fase da vida
“O diário de Anne
existe uma dicotomia entre dependência e independência dos filhos em relação aos pais e Frank” é um livro muito
vice­versa, em que o crescimento é desejado e temido por ambas as partes. Os pais que interessante para ser lido
até então eram vistos como personificação de super­heróis passam e ser alvos de críticas por adolescentes,
educadores e pais, para
e questionamentos. E o adolescente acaba tendo sentimentos ambíguos, essa alternância perceber como essas
de sentimentos positivos e negativos leva o adolescente a interromper a comunicação teorias se manifestam na
vida de uma adolescente
com os pais e muitas vezes a se refugiar no quarto e até mesmo passar a escrever um
durante a Segunda
diário. Guerra Mundial.

Esse destronar da imagem paterna leva a uma busca de figuras de identificação


fora do ambiente familiar e a projetar a imagem paterna idealizada em amigos, atletas,
políticos, professores etc.
O adolescente vivendo a instabilidade do processo de transição entre ser criança e
ser adulto por meio do luto pelo corpo infantil, pelo papel e identidade infantis e pelos
pais da infância, acaba por estar sujeito a certa desestruturação psicológica, que causa
muita dor, angústia e conflitos internos.

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Como um momento crucial da vida do ser humano, a adolescência é um momento
de crise vital, chamada de crise normativa, ou seja, é um momento evolutivo assinalado
por um processo normativo de organização da estrutura de personalidade constituíndo­
se como uma etapa decisiva de um processo de desprendimento. Aberastury (1992)
assinala que a conduta do adolescente é uma conduta perturbada e ao mesmo tempo
perturbadora para o meio familiar e social em que está inserido, mas que é necessária
para sua reestruturação interna formando uma identidade, o que lhe resultará em uma
vida adulta saudável. Oliveira e outros autores (2003, p. 62) falam da crise e do conflito
como estruturantes da personalidade do adolescente, ou seja, o conflito existe e é inerente
ao processo de diferenciação e construção de identidade do adolescente:

Termos como transformação, conflito e separação são centrais


à compreensão dos processos desenvolvimentais da
adolescência. As transformações referem­se a um conjunto de
processos que vão da maturação biológica à adoção de novos
papéis sociais, no curso dos quais o adolescente ressignifica a
si, ao outro e à realidade. Os conflitos têm relação com a
necessidade premente de diferenciação sujeito/ outro, que se
intensifica no curso dessa fase da vida. A separação envolve
um processo de paulatino distanciamento entre os
adolescentes e as antigas figuras de referência, como a família e
a escola, quando eles tendem a privilegiar o compartilhamento
de experiências com os grupos de companheiro.

À medida que se passa da primeira para a segunda fase da adolescência e dentro


do processo de configuração de identidade, o adolescente vivencia muitas crises. Os
adultos respondem ao crescimento e à maturidade crescente do adolescente e esperam
que este assuma um papel cada vez maior na sociedade. Essa expectativa gera muitas
cobranças principalmente nos últimos anos do ensino médio e nos início do curso
superior: agora é hora de levar a vida a “sério”. Dessa forma, o adolescente sente­se
pressionado a efetuar escolhas dentro de seu mundo: deverá definir suas identidades
sexual, profissional e também ideológica. Cada uma dessas escolhas é geradora de crises,
pois implicam trazer à tona os prós e os contras de cada opção, gerando dúvidas e
ansiedade.
Além disso, o adolescente deve atualizar a energia, vitalidade e coragem
necessárias no processo de escolhas e conquista de seus objetivos. Assim, devido ao
turbilhão de sentimentos vivenciados nessa etapa da vida, busca­se maneiras alternativas
para aliviar as tensões provocadas por todas essas pressões. Essa busca de alívio de
tensão se manifesta em comportamentos de briga, hostilidade, contestações, de afrontas,
de desafio a ordens, normas e conflitos com pessoas que representam autoridade.
Conflito de gerações é algo que sempre existiu ao longo da história, algumas vezes
apresentando­se de forma mais suave, pouco expressiva, e outras vezes de forma nítida e
manifesta. Esse conflito pode ser uma experiência enriquecedora para uma sociedade e é,
com freqüência, o ponto desencadeador de mudanças culturais a partir da contestação de
regras, normas e valores que provocam um repensar, um reconstruir e criar novas
maneiras de atuar no mundo. No entanto, é comum ocorrer um cerceamento dos
adolescentes por parte dos adultos, por uma razão defensiva compreensível, pois se
imaginam deslocados e perdendo a autoridade conquistada pelos anos de experiência de
vida.

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Atividade Complementar 4
Reflita acerca do parágrafo anterior e responda:

O que foi escrito acontece também no espaço escolar? De que maneira esse conflito
se manifesta na escola?

A importância do grupo na adolescência


Você já percebeu que adolescente adora andar em grupo?
A necessidade de constituir­se como ser único e independente, rompendo com a
dependência dos pais, faz que de maneira geral o adolescente vá de encontro aos
preceitos, crenças e valores de seus progenitores, faz que o adolescente experimente
novas alternativas sócio­afetivas e se una a seus iguais. O grupo constitui a transição
necessária entre a família e o mundo externo para alcançar a individualização adulta.
Assim, fazer parte de um grupo facilita ao adolescente estabelecer uma identidade
adulta, pois permite o distanciamento necessário dos pais e, ao mesmo tempo, permite
novas identificações, o que o leva a novas construções e reestruturações da
personalidade. Aberastury e Knobel (1992) assinalam que as atuações do grupo e dos
seus integrantes representam a oposição aos pais e às regras preestabelecidas por eles,
determinando uma identidade diferente à do meio familiar. Portanto, os grupos têm um
papel fundamental na superação da confusão de papéis (assinalada por Erikson), típica
da adolescência.
A busca pela inserção em um grupo é uma característica da primeira fase da
adolescência, quando o grupo passa a ter papel mais expressivo como fonte de
referências identitárias. Durante certo período, o adolescente pertence mais ao grupo de
amigos que ao grupo familiar, transferindo para o grupo grande parte da dependência
afetiva que mantinha com sua família. Essa influência diminui quando se aproxima o Maffesoli (2000),
final da adolescência. define tribos urbanas
como agrupamentos
Nos contextos urbanos contemporâneos se presencia crescer o que foi denominado semi­estruturados,
constituídos
de “as tribos urbanas”. No grupo, na sua tribo, entre iguais, o adolescente compartilha predominantemente de
códigos (gírias, jargões, música, comportamento), elementos estéticos (roupas, acessórios) pessoas que se
e práticas sociais (formas de lazer, expressão política, uso dos espaços urbanos). aproximam pela
identificação comum a
No grupo, o adolescente se sente mais compreendido, pois este lhe proporciona um rituais e elementos da
cultura que expressam
sentido de relação íntima e um sentimento de força e poder muito grande. Por isso ser valores e estilos de vida,
aceito por um grupo ou fazer parte de um grupo é muito importante. E, a fim de ser moda, música e lazer
típicos de um espaço­
aceito, por vezes, o adolescente muda o corte de cabelo, utiliza as mesmas roupas que
tempo
todos do grupo, lê as mesmas coisas (livros, revistas, mangas...), vê o mesmo tipo de
filme, ouve e gosta do mesmo tipo de música. Oliveira e colaboradores (2003, p. 66)
escrevem que é lícito afirmar que:
[...] a transição do mundo da casa para o da rua, que marca o
início da adolescência, transfira da família para o grupo o
monitoramento do sujeito, o que justificaria, em certos casos, o
papel coercitivo que esse último pode assumir na definição das
pautas comportamentais dos sujeitos. Por outro lado, os
próprios processos de desenvolvimento da adolescência, que
concorrem para uma maior estabilização do self nos anos finais,

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contribuem para que um sentimento de autonomia em relação
aos pares possa crescer.

VIII. Aborrecente ou adolescente?

“Aborrecente” é um termo muito utilizado pelos adultos para designar aquele que está
nesta etapa do desenvolvimento, que é essencial à construção da identidade.

Por que o adolescente aborrece?


Será que é por sua inconstância e por não saber o que quer da vida? Mas, isso não
seria o transparecer das próprias incertezas e inseguranças, oriundas de alguém
que tem um corpo que se transforma dia a dia?
Será por sua sexualidade aflorada? Mas seu desenvolvimento também é um sinal
que revela saúde, à medida que amadurecem seus órgãos reprodutivos. Além do
que é o sinal da própria preservação da raça humana, pois novos indivíduos estão
aptos a procriarem e sinaliza que a espécie não está fadada a extinção.
Será por suas atitudes contestatórias e reivindicatórias? Mas, como vimos essas
atitudes são manifestação de saúde, pois revelam que o adolescente pode pensar de
maneira abstrata. Além disso, é a maneira de extravasar a sensação de impotência diante
das tremendas mudanças em seu corpo. Essa impotência faz com que ele desloque sua
rebeldia para a esfera do pensar. Quer coisa mais saudável? E a contestação de valores e
costumes acaba por renovarem e transformarem a sociedade. Como educadores,
devemos compreender que o aborrecer causado pelo adolescente nada mais é do que a
manifestação da sua normalidade e que ele está passando por essa etapa da vida de
maneira saudável.

Atividade Complementar 5
Acesse o site abaixo, assista ao filme e faça um enlace com tudo o que você
aprendeu sobre adolescência, redigindo uma síntese deste módulo.
http:/ / palavraaberta.blogspot.com/ 2007/ 11/ tribos­urbanas­caic­prof­
marianocosta.html

IX. Referências

ABERASTURY, A.; KNOBEL, M. Adolescência normal. 10. ed. Porto Alegre, RS: Artes
Médicas, 1992.
ARIÉS, P. História Social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Livros técnicos e
científicos; Ed. S. A., 1981.
BOSSA, N.A. O normal e o patológico na adolescência. In: OLIVEIRA, V. B.; BOSSA, N.
A. Avaliação Psicopedagógica do Adolescente. Petrópolis: Vozes, 1998.

CALLIGARIS, C. A adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000.


FREUD, S. Três Ensaios Sobre a Sexualidade. Rio de Janeiro: Imago, 1972. (Edição Standard
Brasileira).

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GUIMARÃES, E. M. B.; ALVES, M. F. C.; VIEIRA, M. A. S. Saúde sexual e reprodutiva
dos adolescentes – um desafio para os profissionais de saúde no município de
Goiânia/ GO. Revista da UFG, Goiás, v. 6, n. 1, jun. 2004.
KNOBEL, M. A síndrome da adolescência normal. In: ABERASTURY, A.; KNOBEL, M.
Adolescência normal. 10. ed. Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 1992. p. 24­62.
MAFESOLI, M. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa. 3. ed.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.
MEAD, M. O conflito de gerações. Lisboa: Dom Quixote, 1970.
OLIVEIRA, M. C, L.; CAMILO, A. A.; ASSUNÇÃO, C. V. Tribos urbanas como contexto
de desenvolvimento de adolescentes: relação com pares e negociação de diferenças.
Temas em Psicologia da SBP, Brasília, v. 11, n. 1, p. 61­75, 2003.
OSÓRIO, L. C. Adolescente hoje. Porto Alegre: Ed. Artes médicas, 1989.
PALACIOS. J.; OLIVA, A. Adolescência e seu significado evolutivo. In: COLL, C.
Desenvolvimento psicológico e educação. Porto Alegre: Artmed, 2004. p. 309­322.
PIAGET, J. Problemas de psicologia genética. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1973.
RAPPAPORT, C. R. Psicologia do desenvolvimento. São Paulo: EPU, 1981.

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