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As teorias mais gerais da motivação enfatizam quatro qualidades essenciais dos estados moti- modelo de feedback
negativo As respostas do corpo
,·acionais. Primeiro, os estados motivacionais são energizantes no sentido de que ativam ou estimu- aos desvios em re lação ao
illm comportamentos - levam os animais a fazer alguma coisa. Por exemplo, o desejo de estar equilíbrio.
5.sicamente em forma pode motivar você a sair da cama e ir correr em uma manhã fria. Segundo, os ponto estabelecido Um estado
estados motivacionais são diretivos no sentido de que orientam o comportamento para satisfazer hipotético que indica homeostase.
objetivos ou necessidades específicos. Afome motiva o comer, a sede motiva o beber, e o orgulho (ou
o medo ou muitas outras coisas) motiva estudar muito para os exames. Terceiro, os estados motiva-
cionais ajudam as pessoas a persistir em seu comportamento até que os objetivos sejam atingidos ou
as necessidades sejam satisfeitas. Afome nos atormenta até encontrarmos algo para comer; a persis-
;ência nos leva a praticar arremessos de beisebol até conseguirmos acertar. Quarto, a maioria das
reorias concorda que os motivos diferem em sua força , dependendo de fatores internos e externos.
\1uitas vezes nos deparamos com motivos concorrentes: devemos estudar (orgulho) ou sair com
amigos (companheirismo)? Devemos comer uma pizza (prazer) ou arroz integral (saúde)? O motivo
mais forte geralmente vence. As teorias da motivação tentam responder a perguntas como: De onde
vêm as necessidades e os objetivos? Como as necessidades e os objetivos adquirem força? Como os
motivos são transformados em ação? A seguir, examinaremos várias teorias concorrentes e suas
diferentes respostas.
Os instintos motivam o
Feedback negativo
comportamento
No século XIX, o psicólogo estadunidense Willi-
am James propôs que grande parte do comportamento
humano era instintiva. Os instintos são ações não-
aprendidas, automáticas, desencadeadas por deixas
externas. Por exemplo, quando você escuta um baru-
Ar-condicionado lho alto, tende a olhar na direção da fonte do baru-
lho automaticamente, talvez sem sequer perceber que
Temperatura está fazendo isso. Aousada afirmação de James con-
da sala ~
tradizia as crenças de teóricos anteriores de que o
comportamento humano é principalmente aprendi-
do, em vez de inato.
Os instintos são semelhantes aos reflexos no sen-
tido de que produzem um impulso imediato de agir. A
menos que algo bloqueie o impulso, o instinto leva a
uma ação específica. Atualmente, os instintos são co-
nhecidos como um padrão de ação fixa. Podemos ver
um exemplo disso no esgana-gata, um pequeno peixe
Feedback negativo com três espinhaços (Tinbergen, 1951). Os esgana-
gatas machos desenvolvem um ventre vermelho niti-
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ti
damente perceptível durante a estação de acasalamen-
:t FIGURA 9.1 Um modelo de homeostase de feedback negativo. Quando a temperatura to e atacam os outros peixes com ventre vermelho que
li sobe acima do ponto estabelecido (temperatura da sala), é detectada uma discrepância e o
t: se aproximam. Os ventres vermelhos servem como um
ar-condicionado é ativado. O ar é resfriado até a temperatura voltar ao ponto estabelecido. estímulo liberador para o padrão de ação fixa de ata-
ll Inversamente, quando a temperatura cai abaixo do ponto estabelecido, a calefação é
que. Mesmo um modelo malfeito de um peixe pintado
ativada. Quando a temperatura atinge o ponto estabelecido, a calefação pára de funcionar.
de vermelho na parte de baixo elicia esse padrão de
ação fixa. Da mesma forma, os perus machos ficam
excitados simplesmente ao observar a cabeça de outro peru, mesmo que não exista corpo preso à
cabeça ou que a cabeça seja falsa. Uma série de outros comportamentos parece ser instintiva: as
aranhas tecem teias, os pássaros voam e cantam, os cachorros perseguem gatos, os gatos perseguem
ratos. Exemplos de padrões de ação fixa nos humanos são certas expressões faciais que ocorrem
universalmente em todas as culturas e, portanto, parecem ser instintivas.
No início do século XX, o psicólogo William McDougall transformou o conceito de instinto em
uma teoria geral da motivação. McDougall acreditava que os instintos consistem em componentes
cognitivos (conhecer o objeto ou resultado do instinto), componentes afetivos (sentimentos de prazer
ou dor) e esforços de aproximação ou afastamento de um dado objeto. Por exemplo, um bebê apren-
Qual é o papel do instinto no de que chorar traz atenção, o que gera sentimentos de prazer e o desejo de se aproximar da pessoa
comportamento?
que dá atenção.
A concepção de McDougall dos instintos entusiasmou os psicólogos, e muitos pesquisadores e
teóricos começaram a catalogar comportamentos que pareciam instintivos. As listas cresceram rapi-
damente, atingindo mais de 6 mil comportamentos supostamente instintivos. Mas os críticos logo
começaram a atacar a teoria do instinto, observando que a maioria dos chamados comportamentos
instintivos - como brincar, oferecer consolo ou aprender a caçar para obter alimento - eram, na
verdade, modificados pela experiência. Mais seriamente, os críticos afirmaram que todo o conceito
de instinto se baseava em uma lógica circular e, por essa razão, tinha pouco valor explanatório. Um
comentarista descreveu astutamente a situação: "Se ele vai com os companheiros, é o 'instinto de
rebanho'; se ele vai sozinho, é o 'instinto anti-social'; se ele gira os polegares, é o 'instinto de girar os
polegares'; se ele não gira os polegares, é o 'instinto de não girar os polegares'. Assim, tudo é expli-
cado com a facilidade da mágica - a mágica da palavra" (Holt, 1931, p. 4). Esse raciocínio circular
levou muitos behavioristas a rejeitarem os estados motivacionais como sem significado. Os instintos
eram úteis no nível descritivo, mas não adiantavam muito como explicação. O interesse pelo concei-
to dos instintos morreu na década de 1930, em parte devido ao desafio dos behavioristas, que afir-
instintos Ações não-aprend idas,
automáticas, desencadeadas por mavam que todo o comportamento resulta de aprendizagem. Hoje, como parte da revolução biológi-
deixas específicas. ca, novos entendimentos de como os mecanismos neurais são traduzidos em comportamentos
reacendeu o interesse pelo exame desses comportamentos.
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 283
.1
nalmente. O estado pulsional leva à excitação e à ativação comporta-
mental, e o animal então age até que um de seus comportamentos satis-
Necessi-
Impulsos
Compo r- faça o impulso e reduza a excitação. Assim, a satisfação das necessida-
dade tamento des envolve aprendizagem . O modelo de Hull propõe que os
comportamentos apresentados pelo animal são arbitrários. Quando um
comportamento satisfaz a necessidade, ele é reforçado e, portanto, a
Nutrientes Fome Comer probabilidade de sua ocorrência aumenta. Com o passar do tempo, se
um comportamento reduz consistentemente um impulso, ele se torna
um hábito; a probabilidade de um comportamento ocorrer deve-se tan-
to ao impulso quanto ao hábito.
Função
Sede Beber
A teoria de Hull e seu clássico livro Principies of behavior tiveram
celular um tremendo impacto sobre a pesquisa psicológica. Uma crítica, contu-
do, é que a teoria de Hull sobre o impulso não podia explicar por que as
pessoas escolhem apresentar comportamentos que não parecem satisfa-
zer necessidades biológicas. Por que, por exemplo, as pessoas ficam acor-
FIGURA 9.3 As necessidades criam impulsos que motivam
dadas toda a noite estudando para um exame? Por que as pessoas co-
comportamentos específicos.
mem uma segunda fatia de torta de abóbora no Dia de Ação de Graças
mesmo não estando com fome depois de comer a primeira fatia?
Hedonismo e recompensa Sigmund Freud acreditava que os impulsos são satisfeitos de acor-
do com o princípio do prazer, que diz aos organismos para buscarem o prazer e evitarem a dor. Essa idéia
é central para muitas teorias da motivação. Com origem na antiga Grécia, o hedonismo, como princípio
l~ motivacional, refere-se às experiências humanas de prazer e desprazer. O princípio do prazer de Freud
:i e a teoria do instinto de McDougall concordam que os animais e os humanos são motivados para buscar
Íi
t: o prazer e evitar a dor. O contemporâneo de Darwin, Herbert Spencer, escreveu: "todo animal persiste
no ato que dá prazer - e desiste do ato que causa dor" (Spencer, 1872, citado em Stellar e Stellar,
1984). Todos esses grandes pensadores afirmaram uma verdade essencial: o prazer é um motivador
primário. Nós realmente fazemos as coisas que nos fazem sentir bem e, se alguma coisa faz com que nos
sintamos bem, nós a fazemos de novo. Um excelente exemplo de hedonismo e adaptatividade é o sexo.
O sexo é essencial para a sobrevivência das espécies, e poucas pessoas precisam ser persuadidas dos
aspectos prazerosos do comportamento sexual, independentemente de ele levar à repro-
dução. O estudo científico do comportamento sexual é discutido em '~travessando os
níveis de análise: Fatores que influenciam o desejo sexual".
Lembre que um limite das teorias biológicas do impulso (como a de Clark Hull) é que
os animais apresentam comportamentos que necessariamente não satisfazem necessida-
des biológicas. Isso, comumente, ocorre quando o comportamento é prazeroso. Por exem-
plo, um clássico estudo examinou as preferências alimentares dos ratos (Sheffield e Roby,
1950). Uma das substâncias que produziram uma forte resposta foi a sacarina, que é doce
e, portanto, prazerosa, mas não satisfaz nenhuma necessidade biológica. Freqüentemen-
te, os animais escolhem o prazer, mais que a redução de impulsos biológicos. No clássico
estudo de Olds e Milner, descobriu-se que a estimulação elétrica aplicada a certas regiões
cerebrais era altamente recompensadora (veja o Capítulo 6). Os animais capazes de se
auto-administrar estimulação elétrica ao pressionar uma alavanca fizeram isso umas 2 mil
vezes por hora. Ratos machos pressionavam a alavanca mesmo quando estavam privados
de comida, tinham acesso a uma fêmea sexualmente receptiva ou precisavam atravessar
uma grade eletrificada para chegarem à alavanca.
1 2 3 4 5
FIGURA 9.5 Até os recém-nascidos preferem o sabor doce ao amargo: 1. rosto em descanso, 2.
reação à água destilada, 3. estímulos doces; 4. estímulos ácidos, 5. estímulos amargos.
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comer aquele alimento. Em contraste, a maioria dos venenos e toxinas tem sabor amargo, de modo
que não surpreende que os animais evitem sabores amargos.
Lembre, do Capítulo 6, que a experiência de recompensa se deve principalmente à ativação de
neurônios de dopamina no núcleo accumbens. Os comportamentos adaptativos também utilizam o
sistema de dopamina. O comportamento sexual, por exemplo, leva ao aumento da dopamina no Que papel o prazer desempenha na
motivação de comportamentos?
núcleo accumbens. Os bloqueadores de dopamina interferem nas propriedades recompensadoras do
alimento, da água e de várias drogas, como cocaína e anfetamina, que normalmente são experiencia-
das como recompensadoras. Assim, a ativação de dopamina pode ajudar a orientar comportamentos
adaptativos ao recompensar os que promovem sobrevivência ou reprodução.
Amotivação pode ser vista como uma capacidade que inicia, dirige e sustenta comportamentos
que promovem sobrevivência e reprodução. Assim, os animais são fortemente motivados a repetir
comportamentos adaptativos e a evitar comportamentos desadaptativos. Os estados motivacionais,
portanto, provocam comportamentos que resolvem problemas adaptativos. Os animais precisam
ingerir oxigênio, água e nutrientes e, dessa maneira, respirar, beber e comer são comportamentos
motivados. Para os humanos, a motivação de apresentar comportamentos maternos promove o cui-
dado da prole, garantindo assim que os genes serão transmitidos. Aamamentação provoca a libera-
ção do hormônio ocitocina, que promove o vínculo e libera as endorfinas que dão origem a sentimen-
tos de prazer (Carter, 1998).
vard. Na década de 1930, Murray propôs 27 necessidades psicossociais básicas, como a necessidade
de poder, autonomia, realização, sexo e lazer. Oestudo das necessidades psicossociais trouxe insights
importantes sobre o que motiva o comportamento humano. Destaca-se a motivação especial das
pessoas para atingir objetivos pessoais. A auto-regulação do comportamento é o processo pelo
Como as pessoas estabelecem e qual as pessoas iniciam, ajustam ou terminam ações a fim de atingir objetivos pessoais.
atingem objetivos pessoais?
Às vezes, quando ficamos estudando até tarde da noite para um exame, perguntamo-nos por
que trabalhamos tanto. Para muitas pessoas, o trabalho duro é motivado por seus objetivos a longo
prazo. De acordo com uma teoria influente desenvolvida pelos psicólogos organizacionais Edwin
Locke e Gary Latham (1990), os objetivos dirigem a atenção e os esforços, estimulam a persistência
de longo prazo e ajudam as pessoas a desenvolver estratégias. Os objetivos que as pessoas estabele-
cem influenciam seus esforços de auto-regulação. Locke e Latham sugerem que os objetivos desafia-
dores, difíceis e específicos são mais produtivos. Objetivos desafiadores despertam maior esforço, per-
sistência e concentração, enquanto objetivos fáceis ou difíceis demais podem enfraquecer a motivação
e freqüentemente levam a maus resultados. Objetivos que podem ser divididos em etapas específicas
e concretas também favorecem o sucesso. Uma pessoa interessada em correr a Maratona de Boston
precisa primeiro desenvolver resistência para correr um quilômetro. Depois de atingir o objetivo de
correr 1 quilômetro, a pessoa pode se propor objetivos mais desafiadores até chegar à maratona de
26 quilômetros. Focalizar objetivos concretos no curto prazo facilita a conquista dos objetivos de
longo prazo.
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pessoais. Um ponto essencial do modelo de Carver e Feedback negativo
I
Scheier é que futuras tentativas de auto-regulação de-
pendem da probabilidade de ser capaz de diminuir a
lacuna entre onde você está agora e onde quer ir. Se a
probabilidade percebida de conseguir reduzir a discre- Teste Operar Teste
pância for alta, então o afeto negativo motiva tentati- Comparar Compor- Equipar
vas de reduzir a discrepância. Mas se a probabilidade com padrão tamento compadrão l Se
percebida de sucesso for baixa, então as pessoas po- congruente
dem desistir de tentar.
objetivos e, assim, ajuda a evitar que se sintam mal com isso. Infelizmente, as evidências sugerei:;:.
adiamento da
gratificação Quando as pessoas
que escapar da autoconsciência está associado a diversos comportamentos autodestrutivos, come
t ranscendem t entações imed iat as comer descontroladamente, praticar sexo inseguro e cometer suicídio. Segundo o psicólogo socia.
para consegui r atingir objetivos a Roy Baumeister (1991), esses problemas ocorrem porque as pessoas fazem coisas, quando têm baixa
longo prazo. autoconsciência, que jamais fariam se fossem autoconscientes.
ai., 1998). B
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Existe uma estreita conexão entre
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motivação e emoção
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Os estados emocionais geralmente motivam comportamentos especí- - 100 o 100 200 300 400 500
ficos. Por exemplo, a culpa pode nos motivar a oferecer uma compensação Aumento no tempo de resposta
ou a pedir desculpas, e o medo pode nos motivar a fugir de pessoas ou
situações ameaçadoras. Ligações entre os lobos frontais e o sistema límbi-
co, especialmente a amígdala e o córtex orbitofrontal, permitem que as F GURA 9.12 O gráfico mostra que o aumento no tempo de
resposta na tarefa de memória de trabalho mais difícil estava
pessoas antecipem suas reações emocionais a diferentes situações, o que as
associado a uma maior ativação no cingulado anterior. Essa maior
ajuda a regular o seu comportamento. Por exemplo, pensar sobre como nos ativação está indicada pelo amarelo na imagem cerebral mostrada.
sentiremos se recebermos uma multa por excesso de velocidade nos ajuda a
dirigir mais devagar.
O neurocientista Antonio Damasio sugeriu que o raciocínio e a tomada de decisão são guiados
pela avaliação emocional das conseqüências de uma ação. Damasio criou a teoria do marcador
somático em seu influente livro O Erro de Descartes, em que propõe que as ações e decisões mais
auto-reguladoras são afetadas pelas reações corporais, chamadas de marcadores somáticos, que sur-
gem quando contemplamos seus resultados. Para Damasio, o termo "sentir nas entranhas" quase
pode ser tomado literalmente. Quando refletimos sobre uma ação, experienciamos uma reação emo-
cional, baseada em parte na nossa expectativa do resultado da ação, que é determinada por nossa
história passada envolvendo essa ação ou ações semelhantes. Na extensão em que dirigir rápido
demais levou a multas por excesso de velocidade no passado, estaremos motivados a dirigir mais
devagar. Damasio descobriu que as pessoas com lesões no córtex orbitofrontal tendem a não usar
resultados passados para regular seu comportamento futuro. Por exemplo, em estudos que utiliza-
vam uma tarefa de jogo, os pacientes continuavam seguindo uma estratégia arriscada que já se
mostrara deficiente em tentativas anteriores.
Em termos da explicação de adaptatividade para a motivação, as reações emocionais nos aju-
dam a selecionar respostas que provavelmente promoverão sobrevivência e reprodução. Assim, a teoria do marcador
antecipação de que um evento, ação ou objeto produzirá um estado emocional prazeroso nos motiva somático Ações e decisões auto-
reguladoras são afetadas pelas
a buscá-los, enquanto a antecipação de emoções negativas nos motiva a evitar outras situações. reações corpora is que surgem
Portanto, os marcadores somáticos podem orientar os organismos para a execução de comportamen- quando as contemplamos.
tos adaptativos.
296 GAZZANIGA e HEATHERTON
assistente Arthur Washburn. Um dia, trabalhando no laboratório, Cannon notou que o estômago de
índice de massa corporal
(IMC) Uma proporção entre peso
Washbum estava fazendo sons de ronco. Cannon teorizou que talvez o estômago estivesse roncando
corporal e altura utilizada para porque Washbum estava com fome e rapidamente improvisou um experimento para testar sua hipó-
medir a obesidade. tese. Em vez de deixar Washbum comer, Cannon o fez engolir um balão vazio e depois inflou o balão
de modo a poder registrar mudanças nas paredes do estômago causadas por contrações. Ao mesmo
tempo, ele pediu a Washburn que relatasse sempre que sentisse uma pontada aguda de fome. Can-
non descobriu que Washbum relatava sentir fome no final de cada contração do estômago e, portan-
to, propôs que a fome era o sentimento subjetivo associado às contrações do estômago. Embora esses
achados fossem intuitivamente atraentes, logo ficou claro que as contrações do estômago não eram
os únicos fatores que determinavam a fome. Comer uma pequena quantidade de comida interrompe
as contrações do estômago, mas é mais provável que leve a um comer adicional do que ao fim do
comer. Além disso, as pessoas que tiveram o estômago removido continuam a relatar que sentem
fome. As pesquisas nas últimas décadas estabeleceram que as contrações e distensões do estômago
são determinantes relativamente pouco importantes da fome e do comer.
Nas décadas de 1940 e 50, alguns pesquisadores postularam a existência de receptores na
corrente sangüínea que monitoram os níveis de nutrientes vitais. Uma dessas teorias mais conheci-
das é a teoria glicostática, que propõe que receptores de glicose especializados, chamados glicostatos.
monitoram a extensão em que a glicose é absorvida para poder ser usada como energia. Uma vez que
a glicose é o principal combustível para o metabolismo e é especialmente crucial para a atividade
neuronal, faz sentido que os animais sejam sensíveis a deficiências de glicose. As evidências apóiam
a existência de receptores de glicose, e vários experimentos demonstraram que injeções de glicose na
corrente sangüínea podem adiar o comer em animais famintos. Da mesma forma, a teoria lipostática
propõe um ponto estabelecido para a gordura corporal em que desvios em relação a esse ponto
iniciam comportamentos compensatórios para voltar à homeostase. Assim, por exemplo, quando um
animal perde gordura corporal, sinais de fome motivam o comer e o retomo ao ponto estabelecido.
O hormônio leptina, recentemente descoberto, está envolvido na regulação da gordura. Alepti-
na é liberada das células de gordura num ritmo aproximadamente igual à quantidade de gordura
que está sendo armazenada nessas células. A leptina vai até o hipotálamo, onde age para inibir o
comportamento de comer. A mensagem da leptina é de lenta ação e leva um tempo considerável.
depois de iniciado o comer, para que os níveis de leptina mudem no corpo. Assim, a leptina é mais
importante para a regulação da gordura corporal a longo prazo do que para o controle do comer a
curto prazo. Os animais que não produzem leptina tomam-se extremamente obesos; quando rece-
bem injeções de leptina, eles perdem rapidamente gordura corporal.
Uma vez que tantas pessoas querem perder peso, a maior parte das pesquisas está menos preo-
cupada com a motivação para comer do que com compreender a motivação para não comer, que é um
motivo intencional, em vez de regulador. A obesidade é um problema de saúde importante, com
conseqüências físicas e psicológicas. Embora não exista uma definição precisa, as pessoas são consi-
deradas obesas se estiverem aproximadamente 20% acima do peso ideal, conforme indicado por
vários estudos de mortalidade. Uma das medidas de obesidade mais amplamente utilizadas nas
pesquisas é o índice de massa corporal (IMC), que calcula uma proporção entre peso corporal
e altura. A Figura 9.14 mostra como calcular o IMC e como interpretar o valor obtido. Utilizando
pontos de corte padrão de IMC, mais de um terço dos estadunidenses estão obesos atualmente. Os
pesquisadores passaram pelo menos 60 anos tentando compreender as causas da obesidade. Embora
tenhamos aprendido muito, está claro que a obesidade é um problema multifacetado, influenciado
tanto por genes como pelo ambiente.
Influência genética Uma ida ao centro comercial de sua cidade revelará imediatamente um fato
óbvio sobre o peso corporal: a obesidade tende a ocorrer em famílias. Na verdade, vários estudos de
famílias e de adoção indicam que aproximadamente metade da variabilidade no peso corporal pode ser
considerada resultado da genética. Um dos melhores e maiores estudos, executado na década de 1980
na Dinamarca, descobriu que o IMC de crianças adotadas estava fortemente relacionado ao IMC dos
pais biológicos e não estava relacionado ao IMC dos pais adotivos (Sorensen et ai., 1992). Estudos de
gêmeos idênticos e fraternos fornecem evidências ainda maiores do controle genético do peso corporal,
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 299
As dietas
costumeiramente
f -cass M
Fazer dieta é um meio, sem dúvida
ineficaz de perder peso permanentemen-
te. Amaioria dos indivíduos que perderr.
2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 peso fazendo dieta recuperam esse pese
e muitas vezes engordam mais do que
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ó
2,5
O peso corporal tem um ponto
2 3 3,5 4 4,5 5
estabelecido Aprincipal razão pela
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p qual a maioria das dietas fracassa tem a
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~: ver com a defesa natural do corpo con-
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Atraente Atraente Atual Ideal tra a perda de peso. O peso corporal e
para o outro regulado em torno de um ponto estabe-
lecido, determinado principalmente pela
influência genética. Embora seja poss1-
F GURA 5 Homens e mulheres foram solicitados a escolher as figuras que representavam como vel alterar o peso corporal, o corpo res-
eles viam atualmente o seu corpo, qual era a sua forma corporal ideal e qual acreditavam ser atraente para ponde à perda de peso tornando o me-
o sexo oposto. As mulheres escolheram um peso corporal ideal mais magro do que elas acreditam que os
tabolismo mais lento e usando menos
homens querem e também mais magro do que os homens disseram querer nas mulheres. Os homens
escolheram um ideal mais próximo à sua auto-avaliação atual e próximo do que acreditam que as mulheres
energia. Assim, após a privação alimen-
preferem, mas mais pesado do que as mulheres disseram querer nos homens. tar, é necessário menos alimento para
manter um determinado peso corporal.
Essa resposta está descrita em "Estudan-
do a mente: Compreendendo o comportamento de dieta''. Da mesma forma, o ganho de peso ocorre
muito mais rapidamente em animais privados de alimento do que seria esperado pela ingestão caló-
rica somente. Além disso, repetidas alterações entre privação calórica e superalimentação têm efei-
tos metabólicos cumulativos, de modo que a perda de peso e o funcionamento metabólico diminuem
progressivamente mais cada vez que o animal é colocado sob privação calórica, e o ganho de peso
ocorre mais rapidamente com cada retomada da alimentação. Esses padrões poderiam explicar por
que as pessoas "ioiô", que fazem dieta e voltam a engordar repetidas vezes, tendem a ganhar peso
progressivamente com o passar do tempo.
O comer restritivo Uma segunda razão pela qual as dietas tendem a fracassar são os ocasio-
nais, ou não tão ocasionais, episódios de superalimentação. Em uma importante pesquisa nas duas
últimas décadas, os psicólogos Janet Polivy e Peter Herman (1985) demonstraram que os indivíduos
que fazem dieta cronicamente, chamados por eles de comedores restritivos, são propensos a comer
excessivamente em certas ocasiões. Por exemplo, se os comedores restritivos acreditam que come-
ram comidas altamente calóricas, eles abandonam a dieta (veja a Figura 9.16). O raciocínio dos
comedores restritivos é: "Eu já quebrei a minha dieta, então agora posso muito bem continuar co-
mendo''. Relatos de vida real sugerem que esse comportamento é generalizado: os comedores restri-
tivos fazem dieta toda a semana apenas para ver a dieta ir para o espaço no fim de semana, quando
se deparam com inúmeras tentações.
O comer compulsivo por parte dos comedores restritivos depende de sua percepção da dieta ter
sido quebrada ou não. As pessoas podem comer 1.000 calorias em saladas Caesar e acreditar que sua
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 301
dieta está indo bem, mas se comem uma barra de chocolate de 200 calorias sentem que
sua dieta está arruinada e perdem as inibições. O problema dos comedores restritivos é 150
que eles confiam no controle cognitivo da ingestão de alimento, que tende a se desfazer
135
quando eles comem alimentos altamente calóricos ou se sentem emocionalmente per- .E!
rurbados. Em vez de comer de acordo com os estados internos de fome e saciedade, os ~
comedores restritivos comem de acordo com regras como a hora do dia, a quantidade
o 120
Vl
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-o
de calorias e o tipo de comida. Fazer com que os comedores restritivos entrem em Vl
105
contato com seus estados motivacionais internos é um objetivo das abordagens sensa- "'
E
~
tas ao comportamento de fazer dieta. \.'.) 90
A. Recusa a manter o peso corporal em ou acima de um mínimo A. Episódios recorrentes de comer descontroladamente. Um
normal à idade e à altura (p. ex., perda de peso episódio de comer descontroladamente é caracterizado por
levando à manutenção de peso corporal abaixo de 85% do ambos os seguintes aspectos: (1) comer, num período distinto de
esperado; ou incapacidade de atingir o peso tempo (p. ex., num período qualquer de duas horas), uma
esperado durante o período de crescimento, levando a um quantidade de comida definitivamente maior do que a maioria
peso corporal inferior a 85% do esperado). das pessoas comeria durante um período semelhante de tempo
B. Medo intenso de ganhar peso ou de engordar, mesmo estando e em circunstâncias semelhantes; (2) um senso de falta de
com peso abaixo do normal. controle sobre o comer durante o episódio (por exemplo, o
C. Perturbação no modo de vivenciar o peso ou a forma do sentimento de não poder parar de comer ou controlar o que ou
corpo, influência indevida do peso ou da forma corporal quanto vai comer).
na auto-avaliação, ou negação da gravidade do baixo B. Comportamento recorrente inadequado compensatório, a fim de
peso corporal atual. prevenir o ganho de peso, tal como vômito auto-induzido;
D. Nas mulheres pós-menarca, amenorréia, isto é, ausência de uso inadequado de laxantes, diuréticos, enemas ou outras
pelo menos três ciclos menstruais consecutivos. (Uma mulher é medicações; jejum; ou exercício excessivo.
considerada com tendo amenorréia se sua menstruação só C. O comer descontrolado e os comportamentos compensatórios
ocorre quando ela toma hormônios, como estrógeno.) inadequados ocorrem ambos, em média, pelo menos duas vezes
por semana por três meses.
D. Auto-avaliação indevidamente influenciada pela forma e peso
corporal.
E. A perturbação não ocorre exclusivamente durante episódios de
anorexia nervosa .
O QUE É O SONO?
Aquantidade de tempo que as pessoas gastam comendo é trivial se comparada à quantidade de
:empo que passam dormindo, um comportamento motivado que ocupa quase um terço da nossa
·.ida. Apessoa média dorme cerca de 8 horas por noite, embora exista uma tremenda variabilidade,
.anto em termos de diferenças individuais como em termos de idade. Os bebês dormem a maior
parte do dia, ao passo que as pessoas mais velhas podem precisar de apenas algumas horas de sono
por noite. Alguns adultos relatam precisar de 9 ou 10 horas de sono para se sentirem descansados,
enquanto outros precisam de apenas 1 ou 2 horas. Uma enfermeira aposentada, a Srta. M., relatou
dormir apenas 1 hora por noite. Talvez, como os pesquisadores que estudaram a Srta. M., você ache
isso difícil de acreditar. Mas depois de passar duas noites insones em um laboratório do sono, apa-
rentemente devido à excitação, ela dormiu por apenas 99 minutos na terceira noite, acordando
renovada, alegre e cheia de energia (Meddis, 1977). Imagine ter todas essas horas extras de tempo
livre!
Osono se dá conforme os princípios gerais da motivação discutidos anteriormente neste capítulo:
a sonolência dirige uma ação específica (dormir); você dorme até não precisar mais; quanto mais
privado de sono, mais sonolento você se sente. Mas o sono difere de outros comportamentos motivados,
no sentido de que ele dirige as pessoas a passar o tempo aparentemente não realizando nenhuma
atividade. Mas, enquanto dormimos, nosso cérebro e outros processos fisiológicos estão bastante ativos.
Osono é claramente um comportamento importante, dada a quantidade de tempo que as pessoas e os
animais dedicam a ele. Conforme vimos na abertura deste capítulo, Randy Gardner descobriu que
podemos adiar o sono, mas não podemos adiá-lo indefinidamente. Dado que o sono ocorre em todos os
animais, a maioria dos pesquisadores acredita que ele tem algum propósito biológico. Entretanto, como
veremos, ainda não está totalmente claro, no presente, exatamente por que o sono é importante.
Sono REM Depois de cerca de 90 minutos de sono, acontece algo muito peculiar. O ciclo de
sono é invertido, voltando ao estágio 3 e depois ao 2. Nesse momento, o EEG subitamente indica
insônia Um transtorno de sono uma azáfama de atividade de ondas beta que normalmente indicam uma mente alerta, acordada.
caracter izado pela incapacidade de
dormir.
Ele é chamado de sono REM pelos movimentos rápidos dos olhos (REM, rapid eye movements) que
ocorrem durante esse estágio. Ele, às vezes, é chamado de sono paradoxal devido ao paradoxo de um
sono REM O estág io do sono
marcado por movimentos rápidos
corpo adormecido com um cérebro ativado. Na verdade, alguns neurônios no cérebro, especialmente
dos olhos, pelo sonhar e pela no córtex occipital e regiões do tronco cerebral, estão mais ativos durante o sono REM do que duran-
paralisia dos sistemas motores. te as horas de vigília. Mas, enquanto o cérebro está ativo, a maioria dos músculos dos membros e do
corpo está paralisada durante os episódios de sono REM. Ao mesmo tempo, o corpo mostra sinais de
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 305
1. Vá para a cama e levante todos os dias à mesma hora, incluindo fins de semana. Estabeleça uma
rotina para ajudar a regular seu relógio biológico. Mudar o horário em que você acorda todos os
dias pode alterar os ciclos de sono e perturbar outros sistemas fisiológicos.
2. Nunca beba álcool ou cafeína logo antes de ir para a cama. O álcool pode ajudar a adormecer
mais rapidamente, mas vai interferir no seu ciclo de sono e fazer com que você acorde cedo no
dia seguinte.
3. Exercício regular ajudará os ciclos de sono, mas não faça exercícios imediatamente antes de ir
dormir.
4. Use a cama apenas para dormir e para fazer sexo. Não fique na cama lendo, comendo ou
assistindo à televisão.
5. Relaxe. Não se preocupe com o futuro. Tome um banho quente ou escute música tranqüilizadora.
Aprender técnicas de relaxamento, como imaginar que você está na praia, com o sol aquecendo
suas costas e se irradiando para as mãos, pode ajudar a lidar com o estresse crônico.
6. Se você sente dificuldade para dormir, levante e faça alguma outra coisa. Não se obrigue a ficar
deitado/a tentando pegar no sono. Lembre que uma noite sem dormir não vai afetar muito o seu
desempenho, e a preocupação com como você será afetado/a pelo não dormir só torna ainda
mais difícil adormecer.
excitação nos genitais, com a maior parte dos homens de todas as idades tendo uma ereção e as
mulheres experienciando ingurgitamento clitoriano.
A importância psicológica do sono REM é que cerca de 80% do tempo em que as pessoas são
acordadas durante o sono REM elas relatam sonhar, em comparação com menos de metade do tem-
po durante o sono não-REM (Solms, 2000). Como veremos a seguir, os próprios sonhos são muito
diferentes durante os dois tipos de sono.
No decorrer da noite, o ciclo de sono se repete, com progressão do sono de onda lenta para o
sono REM e depois de volta para o sono de onda lenta. Com a aproximação da manhã, o ciclo de
sono fica mais curto e relativamente mais tempo é passado no sono REM (Figura 9.1). As pessoas
também acordam brevemente muitas vezes durante a noite, mas não lembram ao acordar de
manhã. Conforme envelhecem, as pessoas podem ter maior dificuldade em voltar a adormecer
depois de acordar.
Acordado
Estágio 1
Estágio li
Estágio Ili REM
Estágio IV
2 3 4 5 6 7 8
Estágios do sono no Horas de sono
decorrer da noite.
parece que o sono permite que o cérebro refaça os depósitos de glicogênio e fortaleça o sistem:
imune (Hobson, 1999).
Numerosos estudos de laboratório examinaram os efeitos da privação do sono sobre o desem-
penho físico e cognitivo. Surpreendentemente, a maioria dos estudos descobriu que dois ou três dias
de privação de sono têm pouco efeito sobre a força, a capacidade atlética ou o desempenho cognitiYc
em tarefas complexas. Entretanto, realizar tarefas aborrecidas ou comuns quando estamos privado_
de sono é quase impossível. Um estudo de imagens cerebrais de pessoas privadas de sono mostroL
uma ativação aumentada no córtex pré-frontal, sugerindo que algumas regiões cerebrais poden:
compensar os efeitos da privação (Drummond et ai., 2000). No entanto, quando se trata de períodos
muito longos, a privação de sono acaba trazendo problemas de humor e desempenho cognitivo. -..
verdade, estudos utilizando ratos descobriram que a privação prolongada de sono compromete e
sistema imune e leva à morte.
As pessoas que sofrem de privação crônica de sono, como muitos universitários, podem expen-
enciar lapsos de atenção, memória de curto prazo reduzida e microssonos, em que adormecerG
durante o dia por breves períodos de tempo que variam de alguns segundos a um minuto. Esses
microssonos podem levar a resultados desastrosos se a pessoa estiver dirigindo ou realizando uma
tarefa perigosa.
Interessantemente, a privação de sono pode ter um propósito muito útil, que é ajudar as pesso-
as a superar a depressão. Na última década, surgiram evidências consistentes demonstrando que
privar as pessoas deprimidas de sono às vezes alivia a sua depressão. Esse efeito parece ocorrer
porque a privação de sono leva a uma ativação aumentada dos receptores de serotonina, come
fazem as drogas utilizadas para tratar a depressão (Benedetti et ai., 1999).
Ritmos circadianos Ateoria do ritmo circadiano propõe que o sono desenvolveu-se para man-
ter os animais quietos e inativos durante as horas do dia em que o perigo é maior, que para a maioria
deles é quando está escuro. Processos fisiológicos e cerebrais são regulados em padrões regulares
conhecidos como ritmos circadianos (circadiano poderia ser traduzido como "que ocorre cerca
de uma vez por dia") . Atemperatura corporal, os níveis de hormônio e os ciclos de sono-vigília são
exemplos de ritmos circadianos, que operam como relógios biológicos. Os ritmos circadianos são
eles próprios controlados por ciclos de luz e escuridão, embora os animais continuem apresentando
esses ritmos quando as deixas de luz são removidas.
De acordo com a teoria do ritmo circadiano, os animais precisam de uma certa quantidade de
tempo do dia para atender às necessidades de sobrevivência, e é para se adaptar que passam o
restante do tempo inativo preferivelmente escondido. Correspondentemente, a quantidade de tem-
po que um animal dorme depende de quanto tempo ele precisa para obter comida, quão facilmente
consegue esconder-se e quão vulnerável é a um ataque. Os pequenos animais dormem muito, ao
microssonos Breves episódios passo que os grandes animais vulneráveis a ataques, como as vacas e os veados, dormem pouco.
involuntários de sono, que variam Animais grandes que não são vulneráveis, como os leões, também dormem bastante. Depois de
de alguns segundos a um minuto,
matar um animal, um leão pode dormir durante dias. Os humanos, que dependem muito da visão
causados por privação crônica de
sono. para a sua sobrevivência, adaptaram-se para dormir à noite, quando a ausência de luz os coloca em
possível perigo.
ritmos circadianos A reg u lação
dos ciclos biológi cos em padrões
regula res. Facilitação da aprendizagem Foi proposto que o sono pode ser importante por estar envol-
vido no fortalecimento das conexões neuronais que funcionam como a base da aprendizagem. A
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idéia geral é que os circuitos que descarregaram juntos durante o período de vigília são consolida-
dos, ou fortalecidos, durante o sono (Wilson e McNaughton, 1994). Robert Stickgold e colaborado-
res (2000) realizaram um estudo em que os participantes precisavam aprender uma tarefa complexa
de discriminação visual. Eles descobriram que os sujeitos só melhoravam na tarefa quando tinham
dormido no mínimo seis horas depois do treinamento. Tanto o sono de onda lenta como o sono REM
parecem ser importantes para que a aprendizagem aconteça. Os pesquisadores argumentaram que
aprender a tarefa requeria mudanças neuronais que normalmente só ocorrem durante o sono. Embo-
ra a aprendizagem certamente possa ocorrer na ausência de sono, o sono parece ser um momento
eficiente para a consolidação da aprendizagem. Na verdade, algumas evidências indicam que os
alunos têm mais sono REM durante os períodos de provas, quando esperaríamos uma maior conso-
lidação de informações (Smith e Lapp, 1991).
Oargumento de que o sono, especialmente o sono REM, promove o desenvolvimento de circuitos
cerebrais para a aprendizagem também é apoiado pelas mudanças nos padrões de sono que ocorrem ao
longo do curso de vida. Os bebês e as crianças pequenas, que aprendem uma quantidade incrível de
coisas em poucos anos, dormem mais e também passam a maior parte do tempo em sono REM.
O que os sonhos significam? Sig- Padrões de ativação utilizando-se PET, comparando sono REM com sono de onda
mund Freud, um dos primeiros teóricos im- lenta e vigília. Observe que existe maior ativação (indicada pelo amarelo e pelo vermelho) nas regiões
portantes dos sonhos, argumentou que os límbicas durante o sono REM do que no sono de onda lenta. Também existe menor ativação (indicada
sonhos continham um conteúdo escondido pelo roxo) em grande parte do córtex pré-frontal.
que representava conflitos inconscientes.
Segundo Freud, o conteúdo manifesto é
o sonho como o sonhador o lembra, enquanto o conteúdo latente é o que o sonho simboliza, ou o
material que está disfarçado para proteger o sonhador. Entretanto, não existe praticamente nenhum
apoio para a idéia de Freud de que os sonhos representam conflitos ocultos ou que os objetos no
sonho têm significados simbólicos especiais. Oque é verdade é que as experiências da vida cotidiana
influenciam o conteúdo dos sonhos. Por exemplo, é especialmente provável termos sonhos de ansie-
dade enquanto estamos estudando para as provas. Os sonhos possuem uma estrutura temática no
sentido de que se desenrolam como eventos ou histórias, em vez de como uma mixórdia de imagens
desconectadas, mas, aparentemente, não existe nenhum significado secreto na maneira pela qual a
história é contada.
conteúdo manifesto A trama de
um sonho; a maneira pela qual o
Hipótese da ativação-síntese O pesquisador do sono Alan Hobson propôs uma influente teo- sonho é lembrado.
ria que tem dominado o pensamento sobre o sonhar nas duas últimas décadas. Ahipótese da ativa-
conteúdo latente O que um
ção-síntese de Hobson propõe que a estimulação neural da ponte ativa mecanismos que normalmen- sonho simboliza, ou o materia l que
te interpretam o input visual. A mente adormecida tenta dar sentido à descarga neuronal aleatória está disfarçado no sonho para
sintetizando a atividade aparente nos neurônios visuais e motores com memórias armazenadas. Dessa proteger o sonhador.
perspectiva, então, os sonhos são epifenomenais - eles são os efeitos colaterais experienciados dos hipótese da ativação-
processos mentais. Hobson e colaboradores (2000) revisaram recentemente o modelo de ativação- síntese Uma teoria do sonhar
que propõe que a estimu lação
síntese para levar em conta achados recentes da neurociência cognitiva. Por exemplo, eles incluíram a neural da ponte ativa mecanismos
ativação da amígdala como a fonte do conteúdo emocional dos sonhos e propuseram que a desativação que normalment e interpretam o
dos córtices frontais contribui para o aspecto delirante e ilógico dos sonhos. Por sua natureza, a hipóte- input visua l.
se da ativação-síntese tem mais a ver com os sonhos REM do que com os não-REM.
310 GAZZANIGA e HEATHERTON
O que é o sono?
Todos os animais experienciam o sono, um estado alterado de consciência em que aquele que dorme perde a ma ior
parte do contato com o mundo externo. O sono tem vários estágios que podem ser ident ificados por diferentes
padrões em registros de EEG . Existe uma distin ção básica entre o sono não-REM e o sono REM, e diferentes
mecanismos neura is são responsáve is por produzir cada tipo, embora o tronco cerebral figure proeminentemente
na regulação dos ciclos de sono-vigíl ia. Os sonhos ocorrem no sono REM e no não-REM, embora o conteúdo desses
sonhos seja diferente. Isso talvez se deva à ativação diferencial de estruturas cerebrais associadas à emoção e à
cognição. Embora algumas teorias tenham sido propostas para explicar o dormir e o sonhar, a sua função biológica
ainda não está totalmente clara .
Amotivação é a área da psicologia que busca determinar por que as pessoas apresentam com-
portamentos específicos. Embora os psicólogos motivacionais, no passado, tenham focado exclusiva-
mente motivos reguladores ou intencionais, uma crescente ênfase na neurociência esmaeceu a dis-
tinção entre essas abordagens. Por exemplo, o controle do comportamento alimentar humano envolve
tanto mecanismos intencionais como reguladores, e o cérebro está envolvido em ambos os tipos de
motivação. Além disso, esforços colaborativos em diferentes níveis de análise, por parte de neurocien-
tistas e psicólogos sociais, levaram a novas teorias da motivação, tal como o modelo frio/quente da
gratificação adiada, que se desenvolveu como princípios cumulativos. As abordagens neurocientífi-
cas também permitiram aos pesquisadores reexaminar questões importantes, entre as quais como os
instintos e impulsos motivam o comportamento. O crescente conhecimento sobre o cérebro possibi-
lita um entendimento mais profundo de motivos humanos importantes - por exemplo, como esta-
belecemos e atingimos objetivos pessoais - e também da extensão em que podemos controlar ou
suprimir processos biológicos básicos, como dormir e comer.
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Ciência psicológica: mente, cérebro e comportamento /
Michael S. Gazzaniga e Todd F. Heatherton; trad . Maria
Adriana Veríssimo Veronese . - 2. imp. rev. - Porto Alegre:
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ISBN 978-85-363-0432-8
CDU 159.9.01/.98