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Os Fenícios: Uma experiência de ensino de História Antiga a partir da perspectiva

histórico cultural

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Isaias Holowate
Graduando em História pela UEPG
Email: isaiasholowate@gmail.com

Resumo:
Partindo do pressuposto da necessidade de compreensão do surgimento e das especificidades
do desenvolvimento da escrita no decorrer da História como uma das possibilidades para a
compreensão do desenvolvimento das culturas do Oriente Próximo, o presente trabalho trata-
se de uma reflexão sobre o Plano Didático aplicado durante as atividades da Disciplina de
Estágio I aos alunos de quatro turmas do 6º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual
Edison Pietrobelli, em Ponta Grossa, no mês de agosto de 2014. O Projeto utilizou-se dos
princípios da teoria cognitiva histórico cultural, de Vygotsky, e teve por objetivos ensinar
sobre o surgimento da civilização Fenícia com enfoque em aspectos culturais buscando
clarificar a influência das características de seu sistemas de escrita para o desenvolvimento
dessa sociedade. A realização do projeto além de permitir a compreensão da escrita como uma
prática histórica, cuja historicidade influencia na forma com que ela é compreendida pela
sociedade, buscou também, atraindo a atenção do aluno para a aprendizagem de História
Antiga, possibilitar uma melhor compreensão das características da sociedade Fenícia, da
forma com que se relacionavam com o mundo, a sua religião, a sua estrutura política,
comercial e cultural.

Palavras-chave: Ensino; Escrita; História Antiga.

Abstract:
Following the necessity of comprehension about the start and specificities on the development
of the written word as one of the possibilities for the understanding of the cultural
development on the Near East, the following paper presents thoughts about the Didactic Plan
that was applied during the activities of the Subject of Internship I to the students of classes of
the 6th year of the Middle School of the State High School Edison Pietrobelli, in Ponta
Grossa, in August of 2014. The Plan used the principles of the historical cultural cognitive
theory, of Vygotsky, with the objective of teaching about the appearance of the Phoenician
civilization focusing on cultural aspects trying to clarify the influence of the characteristics of
its writing systems in the development of this society. The accomplishment of the Project
objectified to give a better understanding of the characteristics of the Phoenician society and
its relationships with the world, its religion, political, commercial and cultural structure.

Keywords: Ancient History; Teaching; Written Word.

Introdução

No ano de 1851, o surgimento da escrita foi pela primeira vez utilizado pelos
historiadores como o parâmetro de separação entre os tempos Pré-histórico e Histórico. Nessa
época de ascensão do Historicismo Alemão (BARROS, 2012, p. 392) em que a História como
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conaquistava espaço como disciplica científica, historiadores como Leopold Von Ranke
defenderam a importância do documento escrito como a fonte histórica que relataria a verdade
(MARTINS, 2010). Nos tempos posteriores, após a ascensão da Escola dos Annales, diversos
historiadores contestaram essa pretensão de verdade da História, demonstrando a presença de
diversos discursos e subjetividades presentes nos estudos das fontes escritas.
Nos livros didáticos de História Antiga, a historicidade da escrita costuma aparecer
apenas em breves citações, de forma pouco aprofundada. A Hitória da escrita é citada apenas
como o ponto de divisão entre Pré-história e História e alguns breves apontamentos sobre a
escrita hieroglífica egípcia, as escritas cuneiformes Mesopotâmicas, o alfabeto Fenício, o
alfabeto Grego e as escritas ideográficas e logográficas Chinesas e Japonesa.
Contudo o desenvolvimento da escrita, foi um importante fator aglutinador no
desenvolvimento das sociedades. Desde o período paleolítico, quando os grupos de caçadores-
coletores faziam suas pinturas nas paredes das cavernas, representando suas caças, esses
signos pictográficos tinham um significado intrínseco para o grupo. Seu surgimento foi um
dos marcos no desenvolvimento das civilizações alterando de forma drástica a estrutura
dessas sociedades e complexificando suas estruturas políticas, sociais, econômicas e culturais.
A compreensão das especificidades dos processos de seu surgimento da escrita e suas
características nessas sociedades nos permite uma compreensão mais aprofundada da forma
com que essas culturas se estruturavam.
O projeto de ensino sobre a cultura fenícia teve como objetivos a compreensão dos
laços de identidade e diferenças entre práticas culturais letradas do passado e do presente,
buscando possibilitar um entendimento da História como um processo dinâmico, em que as
práticas quotidianas da sociedade contemporânea descendem de inovações ocorridas no
decorrer do tempo. Também buscou-se dimensionar a importância da escrita no
desenvolvimento das civilizações buscando possibilitar uma melhor compreensão da
influência escrita na estrutura social da atualidade.

A escrita na História

A Fenícia foi uma sociedade que entre aproximadamente os anos 3000 A.C. e 300 A.C.
ocupou o território do atual do Líbano, organizada em diversas cidades-estados, onde a escrita
esteve ligada ao desenvolvimento do comércio, possibilitando o contato com povos distantes,
e permitindo o florescimento de uma cultura bastante diferenciada dos outros Estados
existentes no período. Mantiveram uma estrutura política descentralizada e sem um poder
absoluto. Sua cultura influenciaria de forma drástica a cultura grega, chegando até nós,
notadamente através da invenção do alfabeto fenício. Esse sistema de escrita possibilitou a
comunicação entre povos distantes e teve grande importância no desenvolvimento de toda a
cultura ocidental (HARDEN, 1971).
A civilização fenícia se baseou principalmente no comércio marítimo. Seus barcos
comercializavam com a Ilha de Chipre, Egito, península Itálica e a Espanha. Foram também
fundadores de importantes colônias, das quais a principal foi Cartago, que dos séculos VI até
o III A.C. era uma das mais importantes potências navais do Mediterrâneo Ocidental.
A grande revolução na arte da escrita introduzida pelos Fenícios foi o alfabeto
constituído de apenas 22 sinais, que representavam apenas as consoantes, não havendo sinal
para as vogais. Esses signos quando combinados, podiam representar qualquer palavra na
língua Fenícia, enquanto que outros sistemas de escrita, como o hieroglífico, possuíam
centenas de signos.

Materiais e métodos

Pensamos o processo de ensino-aprendizagem como um processo de estímulos


culturais em que as apropriação do conhecimento ocorre no ensino que está dentro da Zona de
desenvolvimento próximo (VYGOTSKI, 1984) aos quais o aluno consegue realizar
associações cognitivas.
O professor, no processo de ensino-aprendizagem, deve funcionar como um mediador
do conhecimento, de forma à compreender as necessidades e especificidades do ambiente
social ao qual realiza suas atividades, buscando promover um ensino que forme cidadãos
autônomos, capazes de pensar e questionar a sociedade em que vivem (FREIRE, 2002).
Na escolha pelo tema “Os Fenícios”, foi optado por trabalhar “a escrita na História”,
dando ênfase na revolução do alfabeto Fenício, com o objetivo de ensinar a História partindo
do presente para o estudo do passado, situando o aluno no tempo e espaço, apreendendo o
dinamismo do processo histórico, em que as práticas históricas do presente descendem de
outras práticas surgidas no passado.
As aulas começaram com uma exposição sobre o tema. O objetivo dessa exposição era
permitir aos alunos reconhecer laços de identidade e diferenças entre práticas culturais
letradas do passado e do presente, compreender o dinamismo da História e dimensionar a
importância da escrita no desenvolvimento das civilizações. A exposição partiu do presente
para estudar o surgimento da escrita na Mesopotâmia no quarto milênio antes de Cristo, e
passando pela escrita Hieroglífica egípcia, pelo surgimento do alfabeto Fenício e pelo alfabeto
grego.
Em seguida, foi realizada uma dinâmica com o objetivo de possibilitar aos alunos
compreender a importância das diferentes formas de escrita nas sociedades antigas.
Na parte final das atividades, os alunos montaram com apoio do professor, um quadro
teórico sobre as estruturas sociais, políticas e culturais da sociedade fenícia e a partir dos
resultados dos quadros, foi discutida as mudanças e continuidades dessa sociedade em relação
à sociedade brasileira atual.

Resultados

Os resultados obtidos foram bastante positivos, embora, sendo o processo de


aprendizado individual, cada aluno atingiu níveis variáveis de aprendizagem. A maioria
conseguiu compreender a processualidade da História no estudo desse tema, de como algumas
continuidades se mantém no tempo, sendo que inclusive alguns conseguiram tanto
dimensionar a importância da escrita no desenvolvimento das civilizações, como compreender
as mudanças que esta sofreu no decorrer do tempo, com debates questionando a influência da
escrita na atualidade.
O objetivo de promover uma formação de uma consciência de si como ser histórico
por parte do aluno é algo que demanda tempo e atuação constante do professor de forma
mediar junto ao aluno uma formação capacitada para o enfentamento dos desafios da
historicidade humana, pois a consciência histórica se organiza a partir da necessidade do ser
humano de se orientar no tempo e espaço, de forma a responder questões que a convivência
em grupo impõe para o indivíduo. Tal como defende Rusen (2001, p. 57) ao afirmar uma
necessidade de pesquisa histórica a partir das carências de orientação na vida prática, pois
essas carências e as pesquisas em relação a elas é o que determina a forma com que a
sociedade vai construir a sua visão de mundo. Por isso, pensando numa formação que
respeitasse o estágio de aprendizagem do aluno, o projeto buscou atuar de forma a formar um
indivíduo autonomo e consciente de seu espaço na sociedade.

Considerações finais

As atividades realizadas realizadas permitiram uma melhor compreensão da


processualidade do ensino, assim como das trocas sociais no ato de ensinar, sendo que ao
mesmo momento em que ensinamos os alunos, também aprendemos a ensinar observando e
refletindo sobre a aprendizagem do aluno. Também, o ensino da História Cultural aparece
como extremamente importante para a formação do aluno como ser social, capaz de
compreender e respeitar as diferentes culturas, conhecendo a história do passado para
compreender a atualidade.

REFERÊNCIAS

BARROS, José D’Assunção. Historicismo: notas sobre um paradigma. Revista Antíteses, v.


5, n. 9, p. 391-419, jan/jul 2012, Londrina, UEL.

BRAICK, Patrícia Ramos. Estudar a História: Das origens do Homem à Era digital;
Patrícia Ramos Braick. _ 1º ed. _ São Paulo: Moderna, 2011;

BURKE, Peter. A Revolução Francesa da historiografia: a Escola dos Annales 1929-


1989 /Peter Burke; tradução Nilo Odália. – São Paulo: Editora Universidade Estadual
Paulista, 1991.

CHARTIER, R. A História cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica educativa. São


Paulo: Paz e Terra, 2002. 92p

HARDEN, Donald Bazum. Os Fenícios. Traduzido por: M. Farinha dos Santos. Editora
Verbo; Lisboa, 1971;

RAMOS, Ronald. Cultura fenicia. In: www.monografias.com. Acesso em 5 de julho de


2014.

RANKE, Leopold von. O Conceito de História Universal. In: MARTINS, Estevão Rezende
(org.) A História Pensada. Teoria e Método na Historiografia Europeia do Século XIX.
São Paulo: Contexto, 2010, pp. 202-216.

RUSEN, J. Razão histórica. Brasília: Editora da UnB, 2001.

VYGOTSKY, Lev. Pensamento e linguagem. São Paulo: 4º ed. Martins Fontes, 2008.

______ . A formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

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