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I ?

-7
3
Antonio Gramsci 3
Obras de Antonio Gramsci
I'
Editor: Carloç Nelson Coutinho 3
Co-editores: Luiz Sérgio Henriques e
Marco Aurélio Nogueira < 3
,-
Cadernos do cárcere (6 vols.) '3
1. Introdução a o estudo da filosofia. A filosofia de ,-
Benedetto Croce
2. Os intelectuais. O princípio educativo. Jornalismo
Cadernos <-I
3
3. Maquiavel. Notas sobre o Estado e a política
4, Temas de cultura. Ação católica. Americanisrno e
fordismo
d o cárcere I
7
1
5. I1 Risorgr'mento.Notas sobre a história da ItáIia
6. Literatura. Folclore. Gramática. Apêndices: índices
e variantes 1
Volume 4: 1
Temas de cuItura. Ação católica. 3
Escritos políticos (2 vols.) Americanismo e fordismo.
I)
1.Escritos políticos 1910-1920 L,
2. Escritos políticos 1921-1926
TRADUÇÁO DE
Cnrlos Nelson Cowtinho
Cartas do cárcere (2 vols.) Luiz Sérgio Henriqtres

2Qdiçâo

Rio de Janeiro
2007
SISBI I UFU
1000312809

COPYRIGHT O Carlos Nelson Coutinho, Luiz Sérgio Henriques e Sumario


Marco Aurélio Nogueira, 2001.

PROIETOGRAF~CO
Evelyn Grzímach e ]oão de Souza Leite
PREPARAÇÃCIDE ORIGINA15
Carlos Nelson Coutinho e Luiz Sérgio Henriques

ClP-BRASIL. CATALOGAÇÁO NA FONTE


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

Gramsci, Antonio, 1891-1937


G45 8 c
Cadernos do cárcere, volume 4 / Antonio Gramsci; edi- I. Temas de cultura 1 1
çáo e tradução, Carlos Nelson Coutinho; co-edição, Luiz
v.4
2" ed. Sérgio i-ienriques e Marco Aurélio Nogueira. - 2a ed. - Rio 1. Caderno 16 (1933-1934): 13
d e Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. TEMAS DE CULTURA. l 0

Tradução de: Quaderni de1 carcere 2. Caderno 26 (1935): 79


Conteúdo: v. 4. Temas de cultura - Agão Catolica - TEMAS DE CULTURA. 2O
Americanismo e fordismo
ISBN 978-85-200-0561-3
3. Dos cadernos rniscelâneos 91
1. Gramsci, Antonio, 1891-1937 - Visão política e
WDERNO 1 (1929-1930) 93
social. 2. Ciência política. I. Titulo.
CADERNO 2 (1 929-1933) 95
CDD - 335.43 CADERNO 3 (1930) 98
01-0377 CDU - 330.342.5
CADERNO 4 (1930-1932) $01
CADERNO 5 (1930-1932) 101
CADERNO 6 (1930-1932) 104
CADERNO 7 (1 930-1931) 108
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamento ou CADERNO 8 (1931-1932) 210
transmissão d e partes deste livro, através de quaisquer meios, sem prévia
autorização por escrito. CADERNO 9 (1932) 117
CADERNO 14 (1932-1935) 123
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EDITORA CIVILIZAÇAO BRASILEIRA CADERNO '17 ( 1 933-1935) 1 40
um selo da
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Rua Argentina 171 - Rio de Janeiro, R j - Tel.: 2585-2000

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Impresso no Brasil
7nn7
CADERNOS DO CÁRCERE

11. Ação Católica 143 Nota prévia

I. C a d e r n o 20 (1934-2935):
AÇÁO~TÓLICA-CATÓUCOSINTEGRISTAS-IESU~TAS-MODERN~STAS 245

2. D o s cadernos miscelâneos 171


CADERNO 1 (1929-1930) 1 73
CADERNO 2 (1929-1933) 179
CADERNO 3 (1930) 2 85
CADERNO 4 (1 930-1932) I90 Para os critérios utilizados na presente edição brasileira dos Cadernos
CADERNO 5 (I930-1932) 191
do cn'rcere, cujo volume 4 o leitor tem agora em mãos, remetemos à
CADERNO 6 (1930-1932) 209
CADERNO 7 (1930-7931 1 220 detalhada "Introdução" contida n o volume 1.Nela, o leitor encontra-
CADERNO 8 (1931-1 932) 225 rá não apenas a explicitação desses critérios, mas também uma descri-
CADERNO 9 (1932) 229 ç5o dos Cadernos e uma história d e suas edições na Itália e n o Brasil.
CADERNO 14 (1932-1935) 231 Recordamos aqui apenas alguns tópicos:
CADERNO 15 (1 933) 234
1) O s Caderr~osdo cárcere se dividem, segundo indicações d o pró-
CADERNO 17 (1 933-1935) 236
prio Gramsci, em "cadernos especiais" e "cadernos miscelâneos". Nos
primeiros, em geral mais tardios, Grarnsci agrupou notas sobre temas
111. Americariisrno e fordismo 237
especificos; 110s segundos, reuniu apontamentos sobre diferentes as-
1. Caderno 22 (1934): sunros. Além d e reproduzir os "cadernos especiais" tais como nos fo-
AMERICANISMO E FORDISMO 239 ram legados por Gramsci, esta edição os faz sempre acompanhar pelas
notas contidas nos "caderr-ios miscelâneos" relativas ao conteúdo bási-
2. Dos caderiios miscelâneos 283 co de cada um dos "cadernos especiais".
CADERNO 1 (1929-1930) 285 O presente volume 4 contém quatro desses "cadernos especiais": dois
CADERNO 2 (1929-1933) 286 dedicados a "Temas de cultura", onde Gramsci aborda variados assuntos,
CADERNO 3 (1930) 291
CADERNO 4 (1930-1932) 294 um à "Ação Católica" e outro a 'LAmericanismoe fordismo". Tais cader-
CADERNO 5 (7 930-1932) 295 nos são seguidos por três partes intituladas "Dos cadernos miscelâneos".
CADERNO 6 (1930-1932) 303 A primeira delas agrupa notas sobre variados temas de cultura geral; a
CADERNO 7(1930-1931) 307 segunda reúne a maioria das notas dedicadas a temas organizativosda Igreja,
CADERNO 8 (1 931-1 932) 308
CADERNO 9 (1932) 3 2 1
em particuIar as que o próprio Gramsci intitulou "Ação Católica" e "Ca-
CADERNO 14 (1932-1935) 314 tólicos integristas, jesuitas, modernistas"; a terceira contém não só as no-
CADERNO 15 (1933) 316 tas diretamente vinculadas ao tema d o "americanismo~',mas também as
relativas aos Estados Unidos, aos processos de modernização industrial, a
questões demográficas e A crise econômica de 1929, ou seja, a temas tam-
bém abordados por Gramsci no caderno 22.
CADERNOS DO CÁRCERE

Apresentados aqui em sua presumível ordem cronológica d e reda-


) ção, os cadernos e as notas (sempre precedidas n o manuscrito de
i Gramsci por um sinal de S) sáo datados e numerados segundo os crité-
rios adotados na edição critica organizada por Vaientino Gerratana
1 (Qunderni de1 carcere, Turim, Ei naudi, 1975,4 vois.).
> 2) Em sua edição, Gerratana distingue as notas grarnscianas em tex-
3 tos A, B e C. Os textosA são aqueles que Gramsci cancela e depois reto-
) ma, com maiores ou menores alterações, em textos C ; os textos B são o s
de redação única Nossa edição, que reproduz a totalidade dos textos B
DERNOS DO CÁRCERE
3
'
)
e C, contém apenas aIguns textos A, incluidos como apêndice ao volu-
me 6. Enquanto os "cadernos especiaisy' são quase sempre constituídos
por textos C , os "cadernos miscelâneos" (se excluirmos os textos A e
Volume 4
) apenas três textos C) são formados por textos B. Quando houver exce-
ções a essa ?egra", elas seráo indicadas na presente edição, mediante a
)
inclusão, após cada parágrafo que não siga a "regra", dos signos {B} o u
9 {C}. Cabe advertir que, no presente volume 4, todas as notas contidas
) nos "cadernos especiais" (16,20,22 e 26) são d o tipo C, salvo os 5s 10
°) d o Caderno 1 6 , l do Caderno 22 e 4 do Caderno 26, que são textos B;
3 e todas as notas dos "cadernos miscelâneos" são de tipo B.
3) Sempre que o leitor encontrar, ao longo d o texto de Gramsci,
9
um número posto entre colchetes ([I], [2],[3], etc.), tal ndmero remete
) às "Notas ao texto", situadas no final de cada volume. Essas "Noras"
fazem parte do aparato crítico da presente edieo. No caso do atual
) volume, além de muitas notas originais e de outras sugeridas por V
Gerratana e por J. A, Buctigieg (nas edições mencionadas no vol. I),
valemo-nos também de indicações fornecidas por Elsa Fubini, orga-
nizadora do volume antológico de& Gramsci, IIVaticuno e I'ItaIia, Roma,
Riuniti, 1974, e por Franco de Felice, em sua ediçáo crítica d e A Grarnsci,
) Qunderno 22. Arnmicanismo e fordisrno, Turim, Einaudi, 1978.

C.N.C.
1. Caderno 16 (1933-1934):
Temas de cultura. 1
g 1. A religino, n loteria e o ópio da miséria. Nas Conversazio~ricriti&
(Série 11, p. 300-301), Croce busca a "fonte" d o P'ese di Cr,cccngm, de .
Matilde Serao, e a encontra num pensamento de Balzac [I]. N a narra-
tiva Ln Rnbouilleuse, escrita em 1841 e depois intitulada U n n z é ~ g e
degnr~on,falando de Madame Descoings, que há vinte e um anos apos-
tava numa famosa seqüência de três números, o "romancista sociólo-
go e filósofo" observa: "Essa paixão, tão universalmente condenada,
nunca foi estudada. Ninguém ainda compreendeu o ópio da miséria. A
loteria, a mais poderosa fada do mundo, não desenvolvia esperanças
magicris? A jogada de roleta, que acenava aos jogadores com montões
de ouro e de prazeres, n5o durava mais que um clarão; a o passo que a
loteria dava uma duraçHo de cinco dias a esse magnífico clarão. Qual
é, atualmente, a potência social que pode, por quarenta soldos, tornar-
vos felizes durante cinco dias e cotlceder-vos idealmente todas as feli-
cidades da civilizaç50 [23?"
Croce já havia observado (em seu ensaio sobre Serao, "Letteratura
deIia nuova Italia", 111, p. 51)que Posse d i Cuccczgna (1890) tinha sua
idéia matriz num trecho de outro livro de Serao, I1 ventre di Napoli
(1884), no qual "se realça a Ioteria como 'o grande sonho de felicida-
de' que o povo napolitano 'volta a sonhar toda semana', vivendo 'por
seis dias uma esperança crescente, voraz, que se alastra, sai dos limites
da vida real'; o sonho 'em que estão todas as coisas de que ele é priva-
do, uma casa limpa, de ar saudável e fresco, um bom raio de sol cálido
no cháo, uma cama branca e alta, uma cômoda luzidia, as massas e a
carne de todo dia, e a garrafa de vinho, e o berço da criança, e as rou-
pas da casa para a mulher, e o chapéu novo para o marido"'.
CADERNOS DO C ~ R C E R E CADERNO 16

O trecho d e Balzac também se poderia relacionar com a expressão que nenhum meio houvesse para chegar a Deus, através da razão ou
"ópio do povo", empregada na Crítica da filosofin do direito de Hegel, através d e um outro caminho qualquer, na absoluta impossibilidade de
em 1844 (verificar a data), cujo autor foi um grande admi- saber, seria preciso operar corno se soubéssemos. Isto porque, segun-
rador de Balzac: "Tinha uma tal admiração por Balzac que se propu- d o o c&lculodas probabilidades, é vantajoso apostar que a é
nha escrever um ensaio crítico sobre a Cornédia Humana", escreve verdadeira e regular a própria vida como se ela fosse verdadeira. Vi-
Lafargue em suas recordações d e K.M. publicadas na conhecida cole- vendo de modo cristão, arrisca-se infinitamente pouco, alguns anos de
tânea d e Riazanov (p. 114 da ediçzo francesa). Nestes últimos tempos prazeres conturbados (plaisir mêlé), para ganhar o infinito, a felicida-
(calvez em 193 1)foi publicada uma carta inédita de Engels e m que se de eterna. Deve-se refletir que Pascal foi muito sutil a o dar forma lite-
fala difusamente de Balzac e d a importância cultural que lhe deve ser rária, justificação lógica e prestígio moral a este argumento da aposta,
atribuída [3]. que na realidade é um modo d e pensar difuso em relação à religião,
É provLvel que a passagem d a expressáo "ópio d a miséria", usada mas um modo d e pensar que "se envergonha de si mesmo", porque, ao
por Ba]zac acerca da loteria, à express50 "Ópio d o povo" acerca da mesmo tempo que satisfaz, parece indigno e baixo. Pascal enfrentou a
tenha sido ajudada peIã reflexáo sobre o pari de Pascal, que "vergonha" (se é que se pode dizer assim, porque talvez o argumento
aproxima a reIigiáo d o jogo de azar, das apostas. Deve-se recordar que da "aposta", hoje popular, em formas populares, derive do livro de
justamente em 1843 Victor Consin identificou o manuscrito autêntico Pascal e náo se conhecesse antes) e buscou dar dignidade e justificação
d e Os Pensamentos de Pascal, editados pela primeira vez em 1670 por ao modo de pensar popular (quantas vezes se ouve dizer: "O que é que
seus amigos d e Port-Royal, com muitas incorreções, e reeditados em se perde indo na igreja, acreditando em Deus? Se não existir, paciên-
1844 pelo editor Faugère a partir d o manuscrito identificado por cia; mas, se existir, terá sido muito útil acreditar!", etc.). Este modo de
Cousin. Os Pensamentos, em que Pascal desenvolve o argumento d o pensar, mesmo na forma pascaliana do pari, tem algo de voltairianismo
pnri, são o s fragmentos de uma Apologia da religião cristB que PascaI e lembra uma expressão d e Heine: "Quem é que sabe se o Padre Eter-
náo levou a cabo. Eis a linha do pensamento de Pascal (segundo G. no não nos prepara alguma bela surpresa depois da morte?", ou algo
Lanson, História da Iiterarura francesa, 194 ed., p. 464): "Os homens d o gênero. (Ver como o s estudiosos de Pascal explicam e justificam
nutrem desprezo pela religião, têm ódio e medo de que ela seja verda- moralmente o argumento do pari. Deve haver um estudo de E E
deira. Para remediar isso, é preciso começar por mostrar que a religião Trompeo no volume Rilegnturegiameniste, em que se fala d o argumento
não é de modo algum contrária à razão; em seguida, que ela é vener5- do pari em relação a Manzoni. Deve-se ver também Ruffini por causa
vel, que merece respeito; torná-la, depois, amável, fazer com que os de seu estudo sobre o Manzoni religioso [SI.)
bons desejem que ela seja verdadeira, e por fim mostrar que ela é ver- De um artigo d e Arturo Marescalchi, "Durare! Anche nella bachi-
dadeira [4]." coltura", no Corriere della Sera de 24 de abril de 1932: "Para cada meia
Depois d o discurso contra a indiferença dos ateus, que serve como onça d e ovos investida na criação d o bicho-da-seda se concorre a prê-
introdução geral da obra, PascaI expõe sua tese da impotência d a ra- mios q u e vão d e cifras modestas (há quatrocentos de mil liras) até vá-
250, incapaz d e saber tudo e de saber alguma coisa com certeza, redu- rios de 10 a 2 0 mil liras e cinco entre 25 e 250 mil liras. N o povo italiano
zida a julgar segundo as aparências dadas pelo ambiente das coisas. A está sempre vivo o sentido de tentar a sorte; n o campo, ainda hoje,
fé é um meio superior d e conhecimento: ela se aplica além dos limites não existe quem se abstenha das 'rifas' e das tômbolas. Aqui se terá
a que ~ o d chegar
e a razão. Mas, mesmo q u e não fosse assim, mesmo grátis o bilhete que permite tentar a fortuna."
CADERNOS DO C A R C E R E CADERNO 1 6

De resto, há uma estreita conexão entre a loteria e a religião, a s processo d e desenvolvimento. Esta seleção pode ser feita levando em
premiações mostram q u e alguém foi "eleito", q u e alguém obteve u m a conta períodos mais OU menos longos, tal como se determinam intrin-
graça particular d e um Santo OU de Nossa Senhora. Seria possível u m a secamente e não a partir de informações externas (que também po.
comparagão entre a concepção ativista d a graça nos protestantes, q u e dem ser utilizadas), e acarreta uma série d e "eliminações", isto é,
deu forma moral a o espírito d e empreendimento capitalista, e a con- doutrinas e teorias parciais pelas quais aquele pensador pode ter tido
cepção passiva e indolente d a graça própria da gente comum católica. alguma simpatia e m certos momentos, até o ponto d e aceitá-las provi-
Observar a função que tem a Irlanda n o sentido d e revigorar as lote- soriamente e delas s e servir para seu trabalho crítico o u d e criação bis-
rias nos países anglo-saxóes e OS protestos dos jornais q u e representam tórica e científica. É observação comum d e t o d o estudioso, como
o espírito d a Reforma, como o Manchester Gunrdian. experiência pessoal, que toda nova teoria estudada com "furor herói-
Além disto, deve-se ver se Baudelaire, n o título d e seu livro Os co" (isto é, quando nao se estuda por mera curiosidade exterior, mas
pnrnísos nrtifiçinir ( e mesmo n o tratamento d o tema), n ã o terá se inç- por um profundo interesse) por um certo tempo, especialmente quan-
pirado na expressão "ópio d o povo": a fórmula pode ter chegado a ele do se é jovem, atrai por si mesma, domina toda a personalidade e é
indiretamente a partir da literatura política o u jornalística. N ã o m e limitada pela teoria sucessivamente estudada, até que se estabeleça um
parece provável (mas náo se pode excluir) que existisse já antes d o li- equilíbrio crítico e se estude com profundidade, mas sem se render
v r o de Balzac alguma expressão na qual o ópio e outros estupefacien- imediatamente ao fascínio do sistema ou d o autor estudado. Esta série
tes e narcóticos fossem apresentados como meios para gozar u m paraíso de observações é tanto mais válida quanto mais o pensador dado é
artificial. (E preciso lembrar, de resto, que Baudelaire participou, até bastante impetuoso, d e caráter polêmico, e não tem espírito d c siste-
1848, de uma certa atividade prática, foi diretor d e semanários politi- ma, quando se trara d e uma personalidade na qual a atividade teórica
cos e teve papel ativo nos acontecimentos parisienses d e 1848.) e a prática estão indissoluvelmente entrelaçadas, de um intelecto em
continua críação e em perpétuo movimento, q u e sente vigorosamente
j 2. Quest6es de rnétodo. Se se quer estudar o nascimento d e uma a autocriticà d o modo mais irnpiedoso e conseqüente. Dadas estas pre-
concepção d o mundo q u e não foi nunca exposta sistematicamente por missas, o trabalho deve seguir estas linhas: 1)a recoristrução d a bio-
seu fundador {e cuja coerência essencial se deve buscar não em cada grafia náo s ó n o tocante 2 atividade prática, mas especialmente n o
escrito particular ou série d e escritos, mas em t o d o o desenvolvimento rocante à atividade intelectual; 2) o registro d e todas as obras, mesmo
d o variado trabalho intelectual e m q u e os elementos d a concepçáo es- ris mais secundárias, em ordem cronológica, dividido segundo motivos
táo implícitos), é preciso fazer preliminarmente um trabalho filológico intrínsecos: d e formação intelectual, de maturidade, d e posse e aplica-
minucioso e conduzido com escrúpulos m k i m o s d e exatidão, d e ho- ção d o novo modo d e pensar e conceber a vida e o mundo. A pesquisa
nestidade científica, d e lealdade intelectual, d e ausência d e qualquer d o Leitrnotiv, d o ritmo d o pensamento em desenvolvimento, deve ser
preconceito e apriorismo o u posição preconcebida. É preciso, antes d e mais importante d o que as afirmações articulares e casuais e do que
mais nada, reconstruir o processo d e desenvolvimento intelectual d o o s aforismos isol ados.
pensador dado para identificar o s elementos que se tornaram estáveis Este trabalho preliminar possibilita toda a pesquisa subseqüente.
e cipermanentes", o u seja, q u e foram assumidos como pensamento pró- Entre as obras d o pensador dado, além disto, é preciso distinguir as
prio, diferente e superior a o "material" anteriormente estudado e q u e que ele concluiu e publicou e as que permaneceram inéditas, porque
serviu d e estímulo; s ó estes elementos sgo momentos essenciais d o não concluidas, e foram ~ u b l i c a d a por
s amigos ou discípulos, não sem
CADERNOS DO CÁRCERE CADERNO 16

escassa capacidade teárica n o segundo dos dois amigos (pelo menos, ~ ~ h r b r d lder
; h historische~zMethode, 64 ed-, 1908, Leipzig, Duncker
uma p o s i ç h subalterna dele em relação a o primeiro), é indispensável ~ ~ m b l otraduzido
t, em italiano e publicado pelo editor Çandron, de
investigar a quem cabe o pensamento original, etc. N a realidade, ja- paiermo) C83 O livro de Bernheim náo é um tratado da filosofia do
mais se fez uma investigaç20 sistemática desse tipo (exceto o livro de historicismoYmas a ela esrá implicitamente ligado. A chamada ccsocio-
Mondolfo) no mundo da cultura; antes, as exposições d o segundo, al- logia da filosofia da práxis" deveria estar para esta filosofia assim como
gumas relativamente sistemáticas, são agora consideradas em primei- o livro de Bernheim está para o historicismo em geral, ou seja, ser uma
ro como fonte autêntica e até como a única fonte autêntica. Por sistemática de cânones práticos d e investigação e d e inter-
isto, o volume de Mondolfo parece muito útil, pelo menos em razão pretação sobre a história e a política; uma coletânea de critérios ime-
da diretriz que traça diatos, de cautelas críticas, etc., uma filologia da história e da política,
tal como concebidas pela filosofia d a práxis. Sob alguns aspectos seria
g 3 . U m repertório da filosofia da práxis. (1). Seria utilíssimo um fazer, a propósito d e algumas tendências da filosofia da práxis '

inventário crítico d e todas as questões que foram levantadas e discuti (e porventura as mais difundidas em razão de seu caráter tosco), uma
das em torno da filosofia d a práxis, com amplas bibliografias críticas mesma crítica (ou tipo d e crítica) que o historicismo moderno fez d o
O para uma obra enciclopédica especializada deste gênero é velho método histórico e d a velha filologia, que haviam levado a for-
de tal extenso, desigual, de variadíssimo valor, em tantas línguas, mas ingênuas de dogmãtismo e substituíam a interpretação e a cons-
que um comitê de redação poderia elaborá-lo, e n20 a curto prazo. truç2o histórica pela descrição exterior e a listagem das fontes primárias,
Mas a iitilidsde que teria uma semelhante compilação seria de uma muitas vezes acumuladas desordenadarnente e incoerentemente. A força
import2ncia íinensa, seja n o campo científico, seja no campo educativo maior destas publicações consistia naquela espécie d e misticismo
e entre os estudiosos independentes. Tornar-se-ia um instrumento d e dogmático q u e se havia criado e popularizado paulatinamente e se
primeirti ordem para a difusão dos estudos sobre a filosofia d a práxis e expressava na afirmação não justificada de que se era adepto do m k o -
para sua consolidação como disciplina ci entifica, distinguindo nitida- do histáríco e da ciência.
mente duas épocas: a moderna e a anterior, d e improvisações, repeti- 3. Em torno destas questões, devem-se lembrar algumas observa-
ções e diletantismos jornalísticos. Para construir o projeto, deve-se ções da skrie "tipos d e revista" e sobre u m "Dicionário Crítico" 1193.
estudar todo o material d o mesmo tipo publicado pelos católicos dos
vários países a propósito d a Biblist, dos Evangelhos, d a Patrologia, da $ 4 . Os jortzais das grandes capitais. Uma série d e ensaios sobre
Liturgia, da Apologética, grandes enciclopédias especializadas d e va- o jornalismo das mais importantes capitais dos Estados d o mundo,
riado valor mas que se publicam continuamente e mantêm a unidade seguindo estes critérios: 1) Exame dos jornais cotidianos que num
ideológica das centenas d e milhares de padres e outros dirigentes que dia determinado (não escolhido por acaso, mas n o qual se registre
formam a estrutura e a força da Igreja Católica. (Para a bibliografia d a algum acontecimento importante para o Estado em questão) saem
filosofia da práxis na Alemanha, devem-se consultar as compilações numa capital - Londres, Paris, ~ a d r i Bedirn,
, Roma, etc. -, para
de Ernst Drahn, citadas pelo próprio Drahn na introdução aos núme- estabelecer o termo de comparação mais homogêneo possível, ou seja,
ros 6068-6069 da Reklnrns Universol Bibliotek [7].) o acontecimento principal e suas respectivas versões, a fim d e ter um
2. Seria preciso fazer sobre a filosofia da práxis um trabalho como quadro d o modo variado como o s art tidos e as tendências refletem
aquele que Bernheim fez sobre o método histórico (E. Bernheim: suas opiniões e formam a chamada opinião pública. Mas, como ne-
C A D D O~ C Á R~ C E R~E ~ ~ CADERNO 16

nhum jornal diário, especialmente e m certos países, é cotidianamen- mente através daEspanha, onde os estudos a propósito são inúmeros e
te o mesmo do ponto de vista técnico, será preciso conseguir, para contam com muitos especiaiistas: os ensaios de Levi quase sempre par-
cada qual, os d e toda uma semana OU do periodo em que tiam das obras d e arabistas espanhóis [10]. N o Mclrzocco de 29 de maio
se tiver o ciclo completod e certas colunas especiafizadas e d e certos de 1932, Levi comenta a introdução a o livro L'eredità dell'Islam, de
suplementos, cujo permite compreender a repercusszo que Angel Gonzales Palencia (a introduçáo saiu como opúsculo indepen-
obtêm junto aos leitores assíduos. dente, com O título: EE IsIam y Occidente, Madri, 193I), e enumera
2) Exame de toda a imprensa periódica, de toda espécie (da es- toda uma série d e empréstimos feitos à Europa pelo mundo oriental,
ate os boletins d e paróquia), que completa o exame dos coti- na cozinha, na medicina, na quimica, etc. O livro completo de Gonzales
dianos, na medida em que são publicados depois d o cotidiano-tipo. ~ a l e n c i aserá muito interessante para o estudo da contribuição dada
3) Informações sobre a tiragem, o pessoal, a direção, o s financia- pelos árabes à civilização européia, para um juizo da função desempe-
dores, a Em suma, deve-se reconstruir, n o caso de cada nhada ela Espanha na Idade Média e para uma caracterização da pró-
capital, o conjunto d o mecanismo editorial periódico que difunde as pria Idade Média mais exata d o que a corrente.
ideológicas que operam continuamente e simultaneamente
sobre a populaçáo- $6. O capitalismo antigo e uma disputn entre modernos. Pode-se
4) Estabelecer a relaçáo d a imprensa da capital com a das provin- expor, na forma d e resenha crítico-bibliográfica, a chamada questáo
tias; esta varia d e país para pais. Na Itália, a difusão dos jor- do capitalismo antigo. 1) Uma comparação entre as duas edições, a
nais romanos é muito inferior à dos jornais milaneses. A organização rime ira em francês, posteriormente traduzida em algumas outras lin-
territorial da imprensa francesa é muito diferente da ~ l e m a n h aetc.
, O guas européias, e a segunda, recente, em italiano, d o pequeno livro de
tipo d o semanário italiano talvez seja único n o mundo e Salvioli sobre o Cnpitnlismo n;iztico, com prefácio d e G. Brindisi (Ed.
corresponde a um tipo de leitor determinado. katerza) [ l l j . 2) Artigos e livros de Corrado Barbagallo (p. ex., Coro
5) No caso de certos países, é preciso levar em conta a existência e !i Fuoco, o s volumes da Storin Universnle relativos à era clássica, em
de outros centros dominantes além da capiral, como Miláo na Itália, via de publicaçáo pela Utet de Turim, e t c ) e a polêmica ocorrida há
Barcelona na Espanha, Munique na Alemanha, Manchester e Glasgow algum tempo sobre o tema na N ~ o v Rivistaa Sdorica entre Barbagallo,
na Inglaterra, etc. Giovanni Sanna e Rodolfo Mondolfo [12].Em Barbagallo se deve eç-
6) N o caso da Itiilia, o estudo poderia ser estendido a todo o pais pecialmente observar, nesta polêmica, o tom desencantado de quem
e a toda a imprensa periódica, ordenando a exposição segundo a irn- tudo sabe das coisas deste mundo. Sua concepçáo d e mundo 6 que náo
portância dos centros: por ex.: l0 Roma, Milão; 2 O Turim, Gênova; 3 O há nada de novo sob o sol, "o mundo todo é uma aldeia", "quanto mais
Trieste, Bolonha, Nápoles, Palermo, Florença, etc.; 4 O Imprensa polí- as coisas mudam, mais são as mesmas". A polêmica parece uma seqüên-
tica semanal; S0 Revistas políticas, literatura, ciência, religião, etc. cia farsesca da famosa "Disputa entre os antigos e os modernosyy[13].
Mas esta polêmica teve uma grande importância cultural e um signifi-
5 5. A influência da cultura árabe na civiliza@o ocidental. Ezio Levi cado progressista; foi a expressão d e uma consciência difusa de que
reuniu n o volume Castelli di Spagm (Treves, Milão) uma série d e arti- existe um desenvolvimento histórico, d e que já se havia entrado ple-
gos publicados dispersamente em revistas sobre as relações culturais namente numa nova fase histórico-mundial, completamente renova-
entre a civilização européia e o s árabes, que se verificaram especial- dora de todos o s modos de existência, e significou uma estocada ferina
CADERNOS DO CARCERE CADERNO 16

contra a religião católica, q u e deve sustentar que, quanto mais retroce- as queixas pelo fato de que OS esforços para conservar a
demos na história, tanto mais devemos encontrar os homens perfeitos, de Londres como centro financeiro internacional impõem sa-
porque mais próximos da comunicaçáo do homem com deus, etc. crifício~excessivos à indústria e a o comércio, mas observou que o
(A este propósito se deve ver o que escreveu Antonio Labriola, n o financeiro de Londres produz uma renda que contribui em
fragmento póstumo d o livro náo escritoDa un secolo all'altro, sobre o ampla medida para cobrir o déficit d o balanço d e pagamentos. Segun-
significado d o novo calendário instaurado pela Revolução Francesa: do uma pesquisa feita pelo Ministério d o Comércio, em 1928 esta
entre o mundo antigo e o mundo moderno jamais houvera uma conç- ~ d e 65 milhões d e esterlinos, em 1927 d e 63 milhóes,
c o n t r i b u i ~ áfoi
ciência tgo p o f u n d a de separação, nem mesmo com o advento do cris- em 1926 de 60 milhões; esta atividade deve-se considerar, por ino,
tianismo.) como uma das maiores indústrias "exportadoras" inglesas. Deve-se ter
contrario, a polêmica d e Barbagallo não tinha nada d e progres- em conta a parte importante que cabe a Londres na exportação de
sista, rendia a difundir ceticismo, a retirar dos fatos econômicos todo capitais, que gera uma renda anual de 285 milhões d e esterlinos e faci-
valor de deçenvolvirnento e d e progresso. Esta posição d e Barbagallo lita a exportação d e mercadorias inglesas, porque os investimentos
pode ser interessante para uma análise, porque ele ainda se declara aumentam a capacidade de compra dos mercados externos. E o expor-
adepro da filosofia da práxis (cf. sua breve polêmica com Croce na tador inglês encontra n o mecanismo que a finança internacional criou
NrAovn Rivista Storica há alguns anos), escreveu um pequeno volume e m Londres, faciI idades bancárias, cambiais, etc., superiores às exis-
sobre este tema na Biblioteca d a Federação das Bibliotecas Populares tentes em qualquer outro pais. E evidente, pois, que os sacrifícios fei-
de Milao 1141. Mas Barbagallo está ligado por fortes vínculos intelec- tos para conservar a supremacia d e Londres n o campo d a finança
tuais a Guglielrno Ferrero (e é um pouco loriano). É curioso q u e seja internacional sáo amplamente justificados pelas vantagens que daí de-
professor de história da economia e se dedique a escrever uma Storia rivam, mas para conservar esta supremacia considerava-se essencial que
U ~ ~ i u e r squem
~ l c tem d a história uma concepção tão pueril e superfi- o sistema monetário inglês tivesse por base o livre movimento d o ouro;
cialmente acritica; mas n ã o surpreenderia se Barbagailo atribuísse este acreditava-se que qualquer medida que perturbasse esta liberdade re-
seu modo de pensar h filosofia da práxis. dundaria em prejuizo para Londres como centro internacional para o
dinheiro à vista. O s depósitos externos feitas em Londres a este título
$ 7. A fidnçfio mundial de Londres. Como se constituiu historica- representavam somas muito consideráveis postas à disposição daquela
mente a funçáo mundta1 de Londres? Tentativas americanas e france- praça. Pensava-se que, se estes recursos cessassem d e afluir, a taxa d e
sas d e substiruir Londres. A funçáo de Londres é um aspecto d a juros talvez fosse mais estável mas seria indiscutivelmente mais alta.
hegemonia econômica inglesa, que persiste mesmo depois q u e a indús- Depois d o colapso d o esterlino, que fim levaram todos estes pon-
tria e o comércio ingleses perderam a posição anterior. Quanto rende tos de vista? (Seria interessante ver quais termos d a linguagem comer-
ã burguesia inglesa a funçgo de Londres? Em alguns textos d e Einaudi cial se tornaram internacionais em razão desta função de Londres,
antes da guerra existem amplas referências a este tema. O livro d e Mario termos que se repetem muitas vezes não só na imprensa especializada,
Borsa sobre Londres. O livro d e Angeio Crespi sobre o império inglês. mas também nos jornais e n o periodismo político geral.)
O livro de Guido D e Ruggiero [15].
O tema foi em parte tratado pelo presidente do Westminster Bank fi 8. Roberto Ardigò e a filosofia da prkxis [16]. (Cf. o volume Scritti
n o discurso pronunciado ante a assembléia social de 1929: o orador vczri, reunido e organizado por Giovanni Marchesini, Florença, Le
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mantém um dado organismo, que tem comportamentos particulares, que também a ela se possa referir o fato d a idealidade impulsiva do
tais numa espécie, outros tais noutra. Uma queda d'água faz girar um homem." (Fim.)
moinho que produz a farinha e um tear que produz O pano. Assim, 0 trecho apareceu pela primeira vez num número especial (talvez
para o moinho, além d a queda d'ãgua é preciso o gráo para triturar e, impresso pelo Giornnle d'ltalin) em benefício da Cruz Vermelha, em
O tear, 0 s fios para entrelaçar. Mantendo-se o organismo atra- janeiro de 1915. É interessante não s ó para demonstrar q u e Ardigò
vés do movimento, o ambiente, com suas contribuições d e o u t r o gê- jamais esteve preocupado em se informar diretamente sobre a questão
nero I! ?), determina, como dissemos, muitas funções que náo decorrem tratada e s ó leu artigos destrambelhados d e alguns jornalecos, mas
diretamente da nutriçáo, mas d a estrutura especial d o aparelho em porque serve para documentar as estranhas opiniões difundidas na ~ t á -
funcionamento, por uma parte, e d a ação, ou seja, c o n t r i b u i ~ á onova l i a sobre a "questão d o estômago". Por que, afinal, somente na Itália
do ambiente, por outra. Assim, por exemplo, um homem é estimulado estwa difundida esta estranha interpretação obcecada com o "estôma-
em sentidos. E e m todos irresistivelmente. É estimulado pelo go"? Ela não pode deixar de estar relacionada aos movimentos em razão
sentimento da fome, é estimulado por outros sentimentos, produzidos da fome, mas, deste modo, a acusação de obsessão com o estômago é
em razáo de sua esrrutura especial e das sensações e idéias que nele mais humilhante para os dirigentes que a faziam d o que para o s gover-
nascem através da ação externa, d o treinamento recebido, etc., etc. (sic). nados que sofriam realmente a fome. E, apesar de tudo, Ardigò não
Deve obedecer a o primeiro, MAS DEVE OBEDECER TAMBÉM AOS era uma pessoa qualquer.
OUTROS, queira ou não queira. E os equilíbrios que se formam entre
o impulso d o primeiro c o destes outros, através da resultante d a ação, g 9. Alguns problemas para o estudo d o desenvolvimento du filo-
sc revel;lm varíadissimos d e acordo com uma infinidade de circuns- sofro & prríxis. A filosofia da p r k i s foi um momento d a cultura mo-
tstlcias, que fazem sobrepor-se ora um, ora outro dos sentimentos derna; numa certa medida determinou ou fecundou algumas d e suas
estimuladores. Numa vara de porcos predomina o sentimento da fome, correntes. O estudo deste fato, muito importante e significativo, foi
mas entre o s homens tudo se passa de modo muito diferente, porque ~ie~ligenciado ou mesmo ignorado pelos chamados ortodoxos, e pela
também têm outras preocupações além de engordar. N o i-iomern mes- seguinte razão: a de que a combinação filosófica mais relevante acon-
mo, a equilíbrio se diversifica segundo as disposições que nele se pu- teceu entre a filosofia da prãxis e diversas tendências idealistas, o que
deram formar, e assim, com o sentimento d a fome, o ladrão rouba mas aos chamados ortodoxos, ligados essencialmente à corrente particular
o honesto rrabalhá: tendo aquilo que lhe é necessário para satisfazer a de cultiira do último quarto d o século passado (positivismo, cien-
fome, o avaro busca também o não-necessário, mas o filósofo se satis- tificismo), pareceu um contra-senso, se não uma jogada de charlatães
faz e dedica sua açáo à ciência. O antagonismo, afinal, pode ser de tal (no entanto, n o ensaio de PIekhanov, Questões funrinmeíztais, existe
ordem que acabem por prevalecer sentimentos diferentes d o d a fome, alguma referência a este fato, mas só d e passagem e sem qualquer ten-
até o ponto de o calar inteiramente, até fazer com que se suporte a tativa de explicação crítica) [19]. Por isto, parece necessário revalorizar
morte, etc., etc. (sic). A força presente no animal e em suas açóes é a a formulação d o problema assim como foi tentada ~ oAntonio
r Labriola
força da natureza, que o domina e o obriga a agir em sentidos multi- O que aconteceu foi isto: a filosofia da práxis sofreu realmente uma
formes, transformando-se de modo variado em seu organismo. Supo- dupla revisão, isto é, foi subsumida numa dupla combinação filosófi-
nhamos que se deva reduzir a concepção materialista à luz d o sol, d e ca. Por uma parte, alguns d e seus elementos, de modo explícito OU
preferência ;i razão econômica. À Iuz d o sol, entendida d e um modo implícito, foram absorvidos e incorporados por algumas correntes idea-
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listas (basta citar Croce, Gentile, Sorel, o próprio Bergson, o pragma- a posição de Antonio Labriola, d a qual o s livros de ~ ~ d ~ l f ~
tismo); por outra, os chamados ortodoxos, preocupados em encontrar ~ o n d o l f onão parecem (pelo menos, segundo se pode lembrar) um
uma filosofia que fosse, segundo seu ponto devista muito restrito, mais desenvolviniento coerente. parece que Mondolfo jamais abandonou
compreensiva do que uma "simples" interpretação d a história, acredi- o ponto d e vista fundamental do positivismo próprio
taram-se ortodoxos identificando-a fundamentalmente n o materialis- de aluno d e Roberto Ardigò. O livro d o discípulo de Mondolfo,
m o tradicional. Uma outra corrente voltou a o kantismo (e se podem ~ i a m b r i nPalazzi
i (prefaciado por Mondo1fo), La Filosofia di &tonio
além do professor vienense Max Adler, os dois professores ita- , documento d a pobreza de conceitos e d e diretrizes do
~ ~ b r i o léa um
lianos Afredopoggi e Adelchi Baratono). Pode-se observar, em geral, ensinamento universitário d o próprio Mondolfo.
q u e as correntes que tentaram combina~õesda filosofia d a práxis com por que a filosofia da práxis teve este destino, o d e ter servido para
tendências idealistas sáo, numa parte muito grande, d e intelectuais formar cornbinaçóes, com seus elementos principais, seja com o idea-
c< a o passo que a corrente q u e constituiu a ortodoxia era d e
lismo, seja com o materialismo filosófico? O trabalho de investigação
intelectuais mais acentuadamente dedicadas ê ativida- não pode deixar d e ser complexo e delicado: requer muita fineza de
de prática e, portanto, mais ligadas (por laços mais ou menos extrín- análise e sobriedade intelectual. Porque é muito fácil se deixar levar
às g a n d e s massas populares ( o que, de resto, não impediu a pelas semelhanças exteriores e não ver as semelhanças ocultas e os nexos
maioria de fazer piruetas não destituídas de importância histórico-po- necessários, mas camuflados. A identificação dos conceitos que a filo-
lítica). Esta distinção tem um grande alcance. 0 s intelectuais "puros", sofia da práxis "cedeu" 5s filosofias tradicionais, e pelos quais estas
c o m o elaboradores das ideologias mais amplas das classes dominan- encontraram alguns momentos d e rejuvenescimento, deve-se fazer com
tes, como líderes dos grupos intelectuais d e seus países, náo podiam muita cautela critica; e significa, nem mais nem menos, fazer a história
deixar de se servir pelo menos de alguns elementos da filosofia da práxis, da cultura moderna ap6s a atividade dos fundadores da filosofia d a
para fortalecer suas concepções e moderar o excessivo filosofismo práxis. A absorção explícita, evidentemente, não é difícil de rastrear,
especulativo com o realismo historicista da teoria nova, para prover ainda que também deva ser analisada criticamente. Um exemplo clás-
com novas armas o arsenal do grupo social a que se ligavam. Por o u t r a sico é o representado pela redução crociana d a filosofia da práxis a
parte, a tendência ortodoxa se encontrava em luta com a ideologia mais cânone empírico de investigação histórica, conceito que penetrou até
difundida nas massas populares, o transcendentalismo religioso, e acre- entre os católicos (cf. o livro d o Monsenhor Olgiati) e contribuiu para
ditava poder superá-lo s6 com o materialismo mais cru e banal, q u e criar a escola historiográfica econômico-jurídica italiana, difundida
e r a também uma estratificação n ã o indiferente do senso comum,
inclusive fora da Itália [20]. Mas a investigação mais difícil e delicada
mantida viva, mais d o que se acreditava e d o que se acredita, pela pró-
é a das absorções "implícitas", inconfessadas, realizadas justamente
pria religião, que assume n o povo uma expressão trivial e baixa, su-
porque a filosofia d a práxis foi um momento da cultura moderna, uma
persticiosa e mágica, n a qual a matéria tem uma função não desprezível.
atmosfera difusa, q u e modificou velhos modos de pensar mediante
Labriola se distingue d e uns e d e outros por sua afirmaçáo (nem
ações e reações náo aparentes e não imediatas. O estudo d e Sorel é
sempre segura, para dizer a verdade) de q u e a filosofia da práxis é uma
especialmente importante deste ponto de vista, porque através de Sorel
filosofia independente e original que tem em si mesma o s elementos
e sua fortuna se podem ter muitos indícios a propósito; e diga-se o
d e u m novo desenvolvimento para passar de interpretação d a história
mesmo de Croce. Mas parece que o estudo mais importante deve ser O
a filosofia geral. É preciso trabalhar justamente neste sentido, desen-
d a filosofia bergsoniana e o do pragmatismo, para ver em que medida
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algiimas d e suas posições seriam inconcebiveis sem o elo histórico da se deve buscar n o fato de que a filosofia da práxis teve de se aliar com
filosofia da práxis. o u t r s tendências para combater o s resíduos d o mundo pré-capitalista
Um outro aspecto da questão é o ensinamento prático d e ciência nas massas populares, especialmente n o terreno religioso. A filosofia
polirim q u e a filosofia d a práxis deu aos próprios adversários q u e a da práxiç tinha duas tarefas: combater as ideologias modernas em sua
combatem duramente por princípio, assim como o s jesuítas combatiam forma mais refinada, para poder constituir o próprio grupo de intelec-
teoricameiite Maquiavel, mesmo sendo na prática seus melhores discí- tuais independentes, e educar as massas populares, cuja cultura era
pulos. Nume "Opinione" publicada por Mario Missiroli e m L a Stampa, Esta segunda tarefa, que era fundamental, dado o caráter da
n o tempo em que foi correspondente em Roma (em t o r n o d e 1925), nova filosofia, absorveu todas as forças não s ó quantitativamente mas
afirma-se mais o u menos que caberia ver se, n o íntimo d e suas consci- também qualitativamente; por razões "didáticas", a nova filosofia re-
ências, os industriais mais inteligentes não estariam convencidos d e que dundou numa forma d e cultura q u e era um pouco superior à cultura
a Economia Crítica compreendera muito bem seus próprios assuntos e popular (que era muito baixa), mas absolutamente inadequada
não se serviam dos ensinamentos assim aprendidos. Nada disto seria para combater as ideologias das classes cultas, quando, a o contrário, a
de modo algum surpreendente, porque, se o fundador da filosofia d a nova filosofia nascera precisamente para superar a mais alta manifes-
práxis analisou exatamente a real i dade, ele apenas sistematizou racio- taçáo cultural d o tempo, a filosofia clássica alemã, e para suscitar um
nal e coerentemente aquilo que os agentes históricos desta realidade grupo d e intelectuais próprios d o novo grupo social d o qual era a con-
sentiam e sentem confusa e instintivamente e d e que tomaram maior cepçáo de mundo. Por outra parte, a cultura moderna, especialmente
consciêilcia depois d a crítica adversária. a idealista, não consegue elaborar uma cultura popular, não consegue
O outro aspecto da questão é ainda mais interessante. Por que tam- dar um conteúdo moral e científico aos próprios programas educacio-
bém os chamados ortodoxos "combinaram" a filosofia d a práxis com nais, que permanecem como esquemas abstratos e teóricos; ela conti-
outras filosofias e, predominantemente, com uma em vez de outras? nua a ser a cultura de uma aristocracia intelectual restrita, que as vezes
Com efeito, a combinação que conta é aquela com o materialismo t r rem influência sobre a juventude, mas apenas ao se tornar política ime-
dicionat ;a combinasão com o kantismo s ó teve u m sucesso limitado diata e ocasional.
apenas entre grupos intelectuais restritos. Sobre a questão, deve-se ve Deve-se ver se este modo d e "alinhamento" cultural não é uma
o ensaio de Rosa, "Esragtiação e progresso no desenvolvimento d a fi necessidade histórica e se n a história passada não se encontram alinha-
losofia da pràxis", que observa como as partes constitutivas desta filo- mentos análogos, levando em conta as circunstâncias de tempo e de
sofia se desenvolveram em medida diversa, mas sempre de acordo com lugar. O exemplo clássico e anterior 5 modernidade é, indubitavelmente,
as necessidades da atividade prática 1211. Isto é, o s fundadores d a filo- o do Renascimento na Itália e o da Reforma nos países protestantes.
sofia nova teriam se antecipado e m muito às necessidades d e seu tem- No volume Storia dell'eta barroca in Italia, n a p. 11, Croce escreve:
%
po e mesmo às d o tempo subseqüente, teriam criado um arsenal com "O movimento d o Renascimento permanece aristocrático, típico d e
armas que ainda nZio serviam por serem anacranicas e q u e s 6 com O ;[ círculos eleitos, e n a própria Itália, q u e foi sua mãe e nutriz, náo sai
Tempo seriam aperfeiçoadas. A explicação é um pouco capciosa, na 3
ig
dos círculos de corte, não penetra n o povo, não se torna costume ou
medida em que, em grande parte, apenas d á como explica~áo,d e for- ;$ cprec~nceito',o u seja, persuasão e f é coletivas. A Reforma, a o contra-
ma abstrata, o próprio fato a ser explicado, mas nela existe algo de :g rio, teve certamente esta eficácia de penetração popular, mas pagou-a
verdade que se pode aprofundar. Uma das razões históricas parece que E:
.*
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com um atraso de seu desenvolvimento intrínseco, com o amadureci-
g
-E.
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CADERNOS DO CÁRCERE

menro lento e várias vezes interrompido d e seu germe vitaI." E n a p. 8: imediato d e alta cultura, a não ser na ciência política na forma de ciên-
c( E Lutero, como aqueles humanistas, desaprova a tristeza e celebra a cia positiva d o direito. (Cf. O paralelo feito por Hegel entre as formas
condena o ócio e prescreve o trabalho; mas, por outro lado, particulares assumidas pela mesma cultura na França e na
demonstra descorifiança e hostilidade contra as letras e os estudos, d e demanha n o período da Revolução Francesa; concepçáo hegeliana que,
modo que Erasmo pôde dizer: ubicumque regnnt Iuthernnismus, ibi através de uma cadeia mais ou menos longa, levou a o famoso verso
liternrrdÍnesc interitr~s;e certamente, ainda q u e não apenas por efeito ~arducciano:"reunidos na mesma fé, / Emmanuel Kant decapitou Deus,
daquela averszo q u e tomou conta d e seu fundador, o protestantismo / ~ a x i r n i l i e nRobespierre, o Rei [22]".)
alemão foi por alguns s é c ~ l o quase
s estéril nos estudos, na crítica, n a Uma concepção d a filosofia da práxis como reforma popular mo-
fiIosofia. Ao contrário, os reformadores italianos, notadamente aque- derna (uma vez q u e cultuam abstrações os que esperam uma reforma
les d o círculo de Juan d e Valdés e seus amigos, reuniram sem esforço o reIigiosa na Itália, uma nova edição italiana d o calvinismo, como
fiumaniçmo a o misticismo, O culto dos estudos à austeridade moral. ~ i s s i r o l i& Cia.) talvez tenha sido entrevista por Georges Sorel, um
Tampouco o calvinismo, com sua dura concepção da graça e a dura pouco (ou muito) dispersamente, de um modo intelectualista, por uma
disciplina, favoreceu a livre investigação e o culto da beleza, mas cou- espécie de furor jansenista contra as baixezas d o parlamentarismo e
be-lhe, interpretando, desenvolvendo e adaptando o conceito d a graça dos partidos políticos. Sorel buscou em Renan o conceito d a necessi-
e o d a vocaç50, promover energicamente a vida econômica, a produ- dade de uma reforma intelectual e moral, afirmou (numa carta a
são e o aumento d a riqueza." A reforma luterana e o calvinismo, onde ~ i s s i r o l i )que, muitas vezes, grandes movimentos históricos não são
se difundiram, suscitaram um amplo movimento popular-nacional, e representados por uma cultura moderna, etc. C231 E me parece que uma
s6 em sucessivos uma cultura superior; os reformadores ita- tal concepção está implícita em Sorel quando se serve d o cristianismo
lianos não geraram grandes acontecimentos históricos. É verdade que primitivo como termo d e comparação, com muita literatura, é verda-
também a Reforma em sua fase superior assume necessariamente os de, mas com mais d e um grão de verdade, com referências mecânicas
modos d o Renascimento e, como tal, se difunde mesmo nos paises não- e frequentemente artificiosas, mas com alguns lampejos de intuiçáo
protestantes, onde não houvera a incubação popular; mas a fase d e profunda. A filosofia d a práxis pressupõe t o d o este passado cultural, o
desenvolvimento popular permitiu aos países protestantes resistir te- Renascimento e a Reforma, a filosofia alemã e a Revolução Francesa,
naz e vitoriosamente à cruzada dos exércitos católicos e assim nasceu a o calvinismo e a economia clássica inglesa, o liberalismo laico e o
nação alemã como uma das mais vigorosas d a Europa moderna. AFran- historicismo, q u e está na base d e toda a concepção moderna da vida. A
ça foi dilacerada pelas guerras d e religiiio, com a vitória aparente d o filosofia da práxis é o coroamento de todo este movimento de reforma
catolicismo, mas teve uma grande reforma popular n o século XVIII, intelectual e moral, dialetizado n o contraste entre cultura popular e
com o Iluminismo, o voltairianismo, a Enciclopédia, que precedeu e alta cultura. Corresponde a o nexo Reforma Protestante + Revolução
acompanhou a Revolução d e 1789; tratou-se realmente d e uma gran- Francesa: é uma filosofia que é também uma ~ o l í t i c ae uma política
de reforma intelectual e moral d o povo francês, mais completa d o que que é também uma filosofia. Ainda atravessa sua fase popular: suscitar
a luterana alemã, porque alcançou mesmo as grandes massas campo- um grupo d e intelectuais independentes não é coisa fácil, requer um
nesas, porque teve um fundo laico acentuado e tentou substituir a reli- longo processo, com ações e reações, com adesões e dissoluções e no-
gião Por uma ideologia completamente laica representada pelo vínculo vas formações muito numerosas e complexas: é a concepção de um
nacional e patriótico; mas nem mesmo ela conheceu um florescimento grupo social subalterno, sem iniciativa histórica, que se amplia conti-
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nuamente, mas d e modo inorgânico, e sem poder ultrapassar u m certo da ~ r á x i com


s a do cato1icismo. Enquanto aquela mantém um contato
grau qualitativo que está sempre aquém d a posse d o Estado, d o exercí- dinâmico e tende a erguer continuamente novos estratos de massa a
cio real da hegemonia sobre toda a sociedade, que, só ele, permite u m uma vida cultural superior, este último tende a manter um contato
certo orgânico n o desenvolvimento do grupo intelectual. A puramente mecânico, uma uni dade exterior, baseada especialmente na
filosofia da práxiç também se tornou "preconceito" e "superstição"; liturgia e n o culto mais aparatosamente sugestivo sobre as grandes
tal como 6 , constitui o aspecto popular d o historicismo moderno, mas Muitas tentativas heréticas foram manifestações de forças
contém em si um princípio de superação deste historicismo. N a histó- populares para reformar a Igreja e aproximá-la do povo, elevando o
ria da cultura, que é muito mais ampla d o que a história d a filosofia, povo. A Igreja reagiu muitas vezes d e forma violentíssima, criou a
sempre que a cultura popular aflorou, porque se atravessava uma fase Companhia d e Jesus, escudou-se nas decisões d o Concílio de Trento,
de transformações e d a ganga popular se selecionava o metal d e uma embora tenha organizado um maravilhoso mecanismo de religião "'de-
nova registrou-se um florescimento d e ccmaterialismo"; inver- mocrática" d e seus intelectuais, mas como indivíduos particulares, nso
samente, n o mesmo momento, as classes tradicionais se apegavam a o como expressão representativa de grupos populares. N a história dos
espiritualism~.Hegel, situado entre a Revolução Francesa e a Restau- desenvolvimentos culturais, é preciso levar especificamente em conta
ray;áo, dialetizou os dois momentos da vida d o pensamento, materia- a organização d a cultura e d o pessoal em q u e tal organização assume
lismo e espiritualismo, mas a síntese foi "um homem q u e caminha de forma concreta. N o livro d e G. De Ruggiero, Rinascimento eRiform0,
cabeça para baixo". O s continuadores de Hegel destruiram esta unida- pode-se ver qual foi o comportamento d e muitíssimos intelectuais,
de, e se voltou aos sistemas materialistas, por um lado, e aos espi- Erasmo à frente: eles se dobraram ante as perseguições e as fogueiras.
ritualistas, por outro. A filosofia da práxis, em seu fundador, reviveu O portador d a Reforma, por isto, foi exatamente o povo alemão em
toda esta experiência, de hegelianisrno, feuerbachianismo, rnaterialis- seu conjunto, como povo indi ferenciado, n5o os intelectuais. E preci-
m o francês - para reconstruir a síntese da unidade dialética: "o ho- samente esta deserção dos intelectuais ante o inimigo que explica a
mem qiie caminha sobre as próprias pernas". O dilaceramento ocorrido "esterilidade" d a Reforma na esfera imediata d a alta cultura, até que
com o hegelianismo se repetiu com a filosofia da práxis, isto é, d a uni- da massa popular, que permanece fiel, se selecione lentamente um nova
dade dialética se voltou a o materialismo filosófico, a o passo q u e a alta grupo de intelectuais que culmina na filosofia cliissica. Algo análogo
cultura moderna idealista tentou incorporar da filosofia da práxis aquilo ocorreu até agora com a filosofia da práxis; o s grandes intelectuais que
que I he era indispensável para encontrar algum novo eIixir. "Politica- se formaram em seu terreno, além d e pouco numerosos, náo eram li-
mente", a concepç5o materialista está próxima d o povo, d o senso co- gados a o povo, não saíram d o povo, mas foram a expressão de classes
mum; ela está estreitamente ligada a muitas crenças e preconceitos, a intermediiirias tradicionais, às quais retornaram nas grandes "viradas"
quase todas as superstições populares (feitiçarias, espíritos, etc.). Isto históricas; outros permaneceram, mas para submeter a nova concep-
se v ê n o catolicismo popular e, especialmente, na ortodoxia bizantina. ção a uma revisão sistemática, n8o para patrocinar seu desenvolvimento
A religiáo popular é crassamente materialista, mas a religião oficial dos autônomo. A afirmação de que a filosofia d a práxis é uma concepçáo
intelectuais tenta impedir q u e se formem duas religiões distintas, dois nova, independente, original, mesmo sendo um momento d o desen-
estratos separados, para não se separar das massas, para não se tornar volvimento histórico mundial, é a afirmação d a independência e origi-
oficialmente, como o é realmente, uma ideologia d e grupos restritos. nalidade d e uma nova cultura em preparação, que se desenvolverá com
Mas, deste poilto d e vista, não se deve confundir a atitude d a filosofia o desenvolvimento das relações sociais. O q u e existe em cada momen-
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p~~ Vossische Zeitr~ngde 18 d e junho d e 1929, o ministro das Fí- d e um Estado estrangeiro justifica e reivindica determinados
nanças prussiano, Hoepker-Aschoff, formulava assim a mesma ques- direitos e poderes d e jurisdição (ainda que d e uma determinada juris-
táo: "Igualmente, não é possível desconhecer O fundamento da tese d e especial). Que poderes obteve o Reich sobre a Cidade do Vaticano
Roma, que, na presença de tantas mudanças políticas e territoriais ocor- em virtude da recente concordata? Além disto, a fundação da Cidade
ridas, requeria que se adaptassem OS acordos àç novas circunstâncias." d o Viticano confere uma aparência de legitimidade 2 ficção jurídica
NO mesmo artigo, ~ f o e ~ k e r - A s c h o recorda
ff q u e "O Estado prussiano a qual a concordata é um tratado internacional bilateral ,-o-
sempre sustentara que os acordos d e 1 8 2 1 ainda estavam em vigor". mum. Mas se estipulavam concordatas mesmo antes que a Cidade do
Para o Vaticano, parece, a guerra de 1870 com suas mudanças territoriais Vaticano existisse, o que significa que o território não é essencial para
e políticas (expansão d a Prússia, constituição d o Império germânico a autoridade pontifícia (pelo menos deste ponto d e vista). Uma apa-
sob a hegemonia prussiana) e O período d a Kultidrkampf não eram rência, uma vez que, enquanto a concordata limita a autoridade estatal
"mudanças" capazes de constituir "novas circunstâncias", a o passo q u e de uma parte contratante, em seu próprio território, influencia e de-
seriam as mudanças acontecidas após a grande guerra [27]. termina sua legislação e sua administração, nenhuma limitação i men-
Modificou-se, evidentemente, o pensamento jurídico d o Vaticano e cionada para o território da outra parte: se limitação existe para esta
poderia se modificar d e novo, segundo as conveniências políticas. outra parte, ela se refere ?I atividade desenvolvida n o território d o pri-
"Em 1918 se registrava uma importantíssima inovação em nosso meiro Estado, seja por parte dos cidadãos d a Cidade d o Vaticano, seja
dil eito, inovação que estranhamente (mas crn 1918 havia censura à dos cidadaos d o outro Estado que se fazem representar pela Cidade d o
imprensa!) passava em meio à desatençáo geral: o Estado recomeçava Vaticano. A concordata, portanto, é o reconhecimento explícito de uma
a subsidiar o culto católico, abandonando depois d e sessenta e três anos dupla soberania num mesmo território estatal. N ã o mais se trata, cer-
o princípio cavouriano posto como fundamento da lei sarda de 29 de tamente, da mesma forma de soberania supranacional (suzeraineté), tal
maio de 1855: o Estado n ã o deve subsidiar tienl2um culto." A. C. como formalmente reconhecida a o Papa na Idade Media, até as mo-
Jernolo, n o artigo "Religione de110 Stato e confessioni ammesse", nos narquias absoiutistas e, sob outra forma, mesmo depois, até 1848, mas
Nuovi Studi di Diritto, Economin, Polifica, ano 1930, p. 30 [28]. A é uma necessária derivação de compromisso. D e resto, mesmo nos
inovação foi introduzida com os Decretos-Leis 11.396,de 17 d e março períodos mais esplêndidos d o Papado e d e seu poder supranacional,
de 1918, e 11. 655, de 9 d e maio de 1918. A propbsito, jemolo remete nem sempre as coisas se passaram sem atritos: a supremacia papal, ainda
à n o t a de D. Schiappoli, " I recenti provvedirnenti e c o ~ ~ o m iacvantaggio
i que reconhecida juridicamente, era de fato combatida de um modo
de1 clero", Nápoles, 1922, separata d o vol. XLVIII dos Atti delln R. militas vezes duro e, na hipótese mais otimista, reduzia-se aos privilé-
Accadenzin di scienze morali e poliriche, de Nápoles. gios politi cos, econômicos e fiscais d o episcopado d e cada país.
(Co~xorclninse trcrtizdos internnciomis). A capitulação d o Estado As concordatas ferem de modo essencial o caráter de autonomia
moderno que se verifica em razão das concordatas é mascarada identi- da soberania d o Estado moderno. O Estado obtém alguma contrapar-
fi cando-se verbal mente concordatas e tratados internacionais. Mas uma tida? Certamente, mas a obtém em seu próprio território, no tocante a
concordata não é um tratado internacional comum: na concordara, seus próprios cidadãos. O Estado consegue (e neste caso seria preciso
realiza-sede fato uma interferência de soberania num só território es- dizer mais precisamente: o governo) que a Igreja não dificulte o exer-
tatal, urna vez que todos os artigos de uma concordata se referem aos cício d o poder, mas antes o favoreça e o sustente, assim como uma
ckifldãos de unz só dos Estados contratantes, sobre o s quais o poder muleta ampara um inválido. O u wja, a Igreja se compromete perante
CADERNO 16

J
) uma determinada forma de governo (que é determinada de fora, como leis como eficientes e buscam sordidamente esvziá-ias (ou pelo me-
I
documentaa própria concordata) em promover aquele consenso de nos limitá-las em suas apiicaçóes) de conteúdo ético. Trata-se de um
uma parte dos governados q u e o Estado explicitamente reconhece não maquiaveIi~mode pequenos politiqueiros; os filósofos do idealismo
3 poder obter com meios próprios: eis em que consiste a capituiaçáo d o atual, especialmente o grupo de papagaios amestrados dos Nuovi Str*di,
) Estado, porque, de fato, este aceita a tutela de uma soberania exterior podem ser considerados como as vítimas mais ilustres d o maquia-
) cuja praticamente reconhece. A própria palavra "con- velism~.É útil estudar a divisáo de trnbalho que se tenta estabelecer
3 cordara" e sintomática 0 s artigos publicados nos iúuoui Studi sobre a entre a casta e os intelectuais laicos: A primeira se deixa a formação
> Concordata estão entre os mais interessantes e se prestam mais facil-
mente à refutação. (Recordar O "tratado" imposto 5 República Demo-
intelectual e moral dos muito jovens (escola elementar e média), aos
outros o desenvolvimento subseqüente dos jovens na universidade. Mas
crática da Geórgia depois da derrota d o General Denikin [29].) a escola universitária não está submetida a o mesmo regime de mono-
> Mas, também n o mundo moderno, o q u e significa praticamente a pólio a que, a o contrário, se submete a escola elementar e média. Exis-
situaçáo criada num Estado p d a s cláusulas d e uma concordata? Signi- te a ~ n i v e r s i d a d de o Sagrado Coração e poderá0 ser organizadas outras
J fica o reconhecimento público de determinados privilégios políticos universidades católicas equiparadas em t u d o as universidades públicas
para uma casta d e cidadáos do próprio Estado. A forma não é mais a 1301. As conseqüências são óbvias: a escola elementar e média é a eç-
) medieval, mas a substância 6 a mesma. N o desenvolvimento da histó- cola popular e d a pequena burguesia, estratos sociais que são monopo-
3 ria moderna, aquela casta vira ser atacado e destruido um monopólio lizados educacionalmente pela casta, uma vez que a maioria de seus
) de função sociaI que explicava e justificava sua existência, o monopó- elementos não chegam 2 universidade, ou seja, não conhecerão a edu-
3 lio da cultura e da educação. A concordata reconhece novamente este cação moderna em sua fase superior crítico-histórica, mas só conhece-

' monopó1io, ainda que atenuado e controlado, urna vez que assegura à
casta posiçóes e condiçóes preliminares q u e esta, unicamente com suas
) forças, com a adeâáo intrinseca de sua concepção d e mundo à realida-
ráo a educação dogn~ática.A universidade é a escola da classe (e d o
pessoal) dirigente propriamente dito, é o mecanismo através d o qual
ocorre a seleção dos indivíduos das outras classes a serem incorpora-
de efetiva, não poderia obter e manter. dos ao pessoal governativo, administrativo, dirigente. Mas com a exis-
) Compreende-se, assim, a luta surda e sórdida dos intelectuais laicos tência, em igualdade de condiçóes, d e universidades católicas, também
e laicistas conrra os intelectuais d e casta para salvar sua autonomia e a formação deste pessoal não será mais unitária e homogênea. N5o só:
1 sua função. Mas é inegável sua intrínseca capitulação e seu afastamen-
a casta, em suas próprias universidades, realizará uma concentração
) t o d o Estado. O caráter ético d e u m Estado concreto, de um deterrni- de cultura laico-religiosa como há décadas não se via mais e se encon-
) nado Estado, é definido por sua legisl as50 em ato e não pelas polêmicas trará de fato em condiç6es muito melhores d o que a concentraç50 laico-
)1 dos franco-atiradores d a cuItura. Se estes afirmam: "o Estado somos estatal. Com efeito, nem mesmo de longe se pode comparar a eficiência
nós", afirmam somente que o chamado Estado unitário é apenas, exa- da Igreja, que se põe como um bloco em apoio à própria universidade,

'tamente, "chamado", porque d e fato em seu interior existe uma cisão


muito grave, tanto mais grave por ser afirmada implicitamente pelas
próprios legisladores e governantes, o s quais, com efeito, dizem q u e o
com a eficiência organizativa da cultura laica. Se o Estado (mesmo n o
sentido mais amplo de sociedade civil) não se expressa numa organiza-
çáo cultural segundo um plano centralizado e não ~ o d sequer e fazê-lo,
) Estado é duas coisas ao mesmo tempo: aquele das leis escritas e aplica- porque sua legislação em matéria religiosa é o que é e porque seu c d -
) das e aquele das consciências q u e intimamente náo reconhecem tais ter equívoco não ~ o d deixar e de ser favorável à Igreja, dada a maciça
CADERNOS DO CÁRCERE CADERNO 16

estrutura desta e o peso relativo e absoluto que deriva d e tal estrutura, em que operava a concorrência das profissões ligadas ao desenvolvi-
e se se equipara o estatuto dos dois tipos de universidade, é evidente mento d a indústria e da organização privada capitalista em geral (jor-
que se formará a tendência n o sentido de que as universidades católi- nalismo, por exemplo, que absorve muitos professores, etc.). Já havia
caç sejam o seletivo dos elementos mais inteligentes e ca- a invasão das escolas preparatórias para o magistério ou das
pazes das classes inferiores a inserir n o pessoal dirigente. Favorecerão universidades por parte das mulheres e, com as mulheres, o s padres,
esta teildência: o fato de que não há descontinuidade educativa entre aos quais a Cúria (depois da Lei Credaro) náo podia proibir que bus-
as escolas médias e a universidade católica, a o passo q u e tal des- cassem um diploma que Ihes permitisse concorrer também a empregos
continuidade existe para as universidades laico-estatais; o fato de q u e pfiblicos e aumentar assim a "renda" individual 13 11. Muitos destes
a Igreja, em roda a sua estrutura, já está aparelhada para este trabalho padres, logo depois de obterem o diploma, abandonaram a Igreja (du-
de elaboração e seleção d e baixo para cima. Deste ponto de vista, a rante a guerra, em virtude d a mobilização e d o contato com ambientes
Igreja é um organismo perfeitamente democrático (em sentido pater- de vida menos sufocantes e estreitos d o que o s eclesiásticos, este fenô-
lialista): o filho de um camponês ou de um artesão, se inteligente e meno adquiriu uma certa amplitude). A organização eclesiástica, pois,
capaz, e se suficientemente rnaleável para se deixar assimilar pela es- sofria urna crise constitutiva que podia ser fatal para seu poder, se o
trutura eclesiástica e para sentir seu particular espíriro de corpo e d e tado do tivesse mantido íntegra sua posição d e laicidade, até sem a ne-
conservaçá~e a validade dos interesses presentes e futuros, pode, teo- cessidade de uma luta ativa. Na luta entre as formas de vida, a Igreja
ricamente, tornar-se cardeal e papa. Se na alta hierarquia eclesiástica a estava por perecer automaticamente, por esgotamento próprio. O Es-
origem democrática é menos frequente d o que poderia ser, isto ocorre rado salvou a Igreja. As condições econômicas d o clero foram melho-
por razões complexas, em que só parcialmente itlcide a pressão das radas em varias oportunidades, enquanto piorava o padrão de vida geral,
grandes famílias aristocráticas católicas ou a razão de Esrado (interna- mas especialmente o das camadas médias. A melhoria foi tal que as
cional): uma razão rnuito forte é que muitos seminários sáo muito rn'al -- "vocações" se multiplicaram surpreendeiltemente, impressionando -o
equipados e não podem educar complerarnente o jovem inreligente d e próprio pontífice, que as explicava justamente com a nova situaçáo
origem popiilar, a o passo que o jovem aristocrata recebe de seu pró- F econômica [32]. Ampliou-se, pois, a base d e seleção das vocações a o
prio ambiente familiar, sem esforço de aprendizagem, uma série d e sacerdócio, permitindo mais rigor e maiores exigências culturais.
comportamentos e de qualidades que são de primeira ordem para a í. M a s a carreira eclesiástica, embora seja o fundamento mais sóli-
carreira eclesiástica: a tranquiIa segurança d a própria dignidade e au- L do do poder vaticano, n5o esgota suas possibilidades. A nova estru-
toridade, bem como a arte de tratar e governar os outros. tura educacional permite a inserção n o pessoal dirigente laico d e
Uma razáo de fraqueza da Igreja n o passado consistia n o fato d e células católicas que se reforçará0 cada vez mais, de elementos q u e
que a religião dava poucas possibilidades de carreira fora d a carreira dever20 sua posição apenas à Igreja. Deve-se pensar que a infiltração
eclesi6stica: o próprio clero era deteriorado qualitativamente pela "es- clerical n a formação d o Estado está prestes a aumentar progressiva-
cassez de vocações" ou pela vocação unicamente dos elementos inte- mente, porque, na arte d e selecionar os indivíduos e de mantê-los per-
lectualmente subalternos. Esta crise já era muito visível antes d a guerra: manentemente ligados a si, a Igreja é quase imbatível. Controlando
era um aspecto d a crise geral das carreiras com rendimentos fixos e os liceus e as outras escolas médias, através d e seus quadros d e con-
estruturas lentas e pesadas, isto é, da inquietude social d o estrato inte- fiança, ela rastreará, com a tenacidade q u e lhe é característica, OS
lectual subalterno (professores d o nível elementar e médio, padres, etc), jovens mais valorosos das classes pobres e o s ajudará a prosseguir 0s
CADERNO 16

estudos nas universidades católicas. Bolsas d e estudo, reforçadas por pode-se prever que as conseqüências de uma tal situação de fato,
internatos organizados com a máxima economia junto à s universida- inalterado o quadro geral das circunstâncias, podem ser d a
des, permitirão esta ação. A Igreja, em sua fase atual, com o impulso importância A Igreja é um Shylock ainda mais implacável d o
d a d o pelo atual pontífice 2 Ação Católica, não pode se contentar que o ~ h y l o c k
shakespeariano: ela há de querer sua libra d e carne mes-
apenas em formar padres; ela quer permear o Estado (recordar a teoria mo à custa de dessangrar sua vítima e, com tenacidade, mudando con-
do governo indireto eIaborada por Bellarmíno) e, para tanto, são tinuamente seus métodos, tenderá a alcançar seu programa máximo.
necessários o s laicos, é necessária uma concentração d e cultura cató- segundo a expressão d e Disraeli, os cristãos são o s judeus mais inteli-
lica representada por laicos [333. Muitas personalidades podem se gentes, que ~ ~ r n p r e m d e r aomque era preciso fazer para conquistar o
tornar auxiliares d a Igreja mais preciosos como professores universi- mundo 1361. A Igreja não pode ser reduzida a sua força "normal" com
tários, como altos funcionários d a administração, etc., d o q u e como a refutação em termos filosóficos de seus postulados teóricos e com as
cardeais ou bispos. afirmações platônicas de uma autonomia estatal (que não seja militan-
Ampliada a base d e seleção das "vocações", uma tal atividade te): mas s ó com a ação prática cotidiana, com a exaltação das forças
laico-cul rural tem grandes possibilidades de se estender. A Universi- humanas criadoras em toda a área social.
d a d e d o Sagrado Coração e o centro neo-escolástico são apenas as Um aspecto d a questão que é preciso avaliar bem é o das possibili-
primeiras célufas deste trabalho 1341. De fato, foi sintomático o Con- dades financeiras d o centro vaticano. A organização d o catolicismo nos
gresso filosófico d e 1929: nele se defrontaram idealistas atuais e neo- Estados Unidos, cada vez mais em desenvolvimento, d a a possibilidade
escolásticos, e estes participaram d o Congresso animados d o espírito de recolher recursos muito apreciáveis, além das rendas normais já
guerreiro d e conquista 1351. O grupo neo-escolástico, após a Con- asseguradas (que, no entanto, a partir de 1937, diminuirão em 15 mi-
cordata, queria justamente parecer combativo, seguro de si, para atrair lhões ao ano em razáo da conversáo da dívida pública d e 5% para 3,5%)
os jovens. E preciso levar em conta q u e uma das forças dos católicos e do óbolo de São Pedro [37]. Com o Estado subsidiando permanente-
consiste n o fato de q u e náo fazem nenhum caso das "refutações pe- mente a Igreja, poderiam nascer questões internacionais a propósito
remptórias" d e seus adversários náo-católicos: eles retomam a tese da intervençáo da Igreja nos assuntos internos de cada pais? A questão
refutada, irnperturbáveis, como se de nada se tratasse. N ã o com- é instigante, como se diz.
preendem o "desinteresse" inrelectual, a Iealdade e a honestidade cien- A questiio financeira torna muito interessante o problema d o cha-
tífica, o u os compreendem como fraqueza e ingenuidade dos outros. mado nexo indissofúvel entre Tratado e Concordata proclamado pelo
Contam com o poderio d e sua organização mundial, q u e se impõe pontífice. Admitindo-se que o papa se encontrasse n a necessidade de
c o m o se fosse uma prova de verdade, e com o fato d e q u e a grande recorrer a este meio político d e pressão sobre o Estado, não se apre-
maioria da população ainda não é "moderna", ainda é ptolomaica sentaria imediatamente o problema da restituição das somas recebidas
corno concepção d o mundo e da ciência. (que se ligam precisamente a o Tratado e não à Concordata)? Mas se
Se o Estado renuncia a ser centro ativo e permanentemente ativo trata de quantias imensas e se pode pensar que foram gastas em grande
d e uma cultura própria, autônoma, a Igreja não pode deixar d e triun- parte nos primeiros anos, d e modo que se pode considerar sua restitui-
far substancialmente. Mas o Estado não só não intervém como centro ç5o praticamente impossível. Nenhum Estado poderia fazer um em-
autônomo, mas destrói t o d o opositor d a Igreja que tenha a capacidade préstimo tão grande a o pontífice para tirá-lo de dificuldades e menos
d e limitar-lhe o domínio espiritual sobre as multidões. ainda um particular ou um banco. A denúncia d o Tratado desencadea-
CADERNOS L30 C Á R C E R E CADERNO 16

,i
ria uma tal crise na organização prática da Igreja q u e sua solvência, +
É desde logo estabelecer que não se pode falar de "naturezam
mesmo a longo prazo, seria aniquilada. Portanto, o acordo financeiro
anexado a o Tratado deve ser considerado como a parte essencial d o 1 corno algo fixo, imutável e objetivo. Percebe-se que quase sempre <'na-
rural" significa "justo e normal" segundo nossa consciência histórica
próprio Tratado, como a garantia de uma quase impossibilidade de atual; mas a maioria náo tem consciência desta atualidade determina-
denúncia d o Tratado, apresentada por razões poiêmicas e d e pressão da historicamente e considera seu modo d e pensar eterno e imutável.
pofítica [38]. Observa-se em alguns grupos fanáticos pela "naturalidade" esta
Trecho d e carta de Leão XIII a Francisco José (com data, parece, ações que em nossa consciência parecem "contra a natureza"
de junho de 1892, reproduzida na p. 244 e ss. d o livro: Francesco Salata, para eles são "naturais" porque realizadas pelos animais; e não serão
Per la storin diplomnticn della Questione Romana, I, Treves, 1929):"E 0s animais "os seres mais naturais d o mundo"? Frequentemente se ouve
não calaremos que, em meio a tais dificuldades, falta-nos também o em certos ambientes esta opinião, sobretudo a propósito d e questões
modo d e prover com recursos próprios às incessantes e múltiplas exi- atinentes às relações sexuais. Por exemplo: por que o incesto seria "con-
gências materiais, inerentes a o governo d a Igreja. É verdade q u e nos tra a natureza", se ele está difundido na "natureza"? N o entanto, mes-
socorrem as ofertas espontâncas d a caridade; mas sempre se nos asso- mo estas afirmações sobre os animais nem sempre são exatas, porque
ma c o m pesar n preocupaçiio de que elas constituem um ônus para nos- as observações são feitas sobre animais domesticados pelo homem para
sos filhos; e por outra parte náo se deve pretender que inesgotável seja seu benefício e obrigados a uma forma de vida que, para o s próprios
a caridade púbI ica." "Com recursos prdprios" significa "arrecadação animais, náo é "natural", mas sim conforme aos fins d o homem. Mas,
de impostos" dos cidadãos de um Estado pontifício, por cujos sacrifí- ainda que fosse verdade que certos atos se verificam entre os a~iimaiç,
cios náo se experimenta pesar, a o que parece: parece natural que as que significado isto teria para o homem? Por que deveria derivar daí
populaç6es italianas paguem as despesas d a Igreja universal. uma norma de conduta? A "natureza" d o homem é o conjunto das re-
No conflito entre Bisrnarck e a Santa Sé se podem encontrar os laç6es sociais, que determina uma consciência historicamente defini-
motivos de uma série de questões que poderiam ser levantadas pelo da; só esta consciência pode indicar o que é "natural" ou "contra a
fato de q u e o Vaticano rem sede na Itália e tem dererminadas relações natureza". Além disso: o conjunto das relações sociais é contraditório
com o Estado italiano: Bismarck "fez seus juristas lançarem (escreve a cada momento e esrh em contínuo desenvolvimento, de modo q u e a
Salata, vol. cir., p. 271) a teoria d a responsabilidade d o Estado italiano "natureza" d o homem não é algo homogêneo para todos os homens
pelas açóes políticas d o Papa, que a Itglia havia posto em tal condição G! em todos o s tempos.
de invulnerabilidade e irresponsabilidade por danos e ofensas causa- .i Muitas vezes se ouve dizer que um certo hábito se tornou uma "se-
dos a outros Estados". 11 gunda natureza"; mas a "primeira natureza" terá sido exatamente a
"primeira"? Neste modo de expressáo d o senso comum, não está im-
§ 12. Natural, contra a ~zaturezn,artificial, etc. O que significa dizer
--[ plícita a referência à historicidade d a "natureza humana" [39]?
que uma certa ação, um certo modo d e viver, um certo comportamen- Constatado que, sendo contraditório o conjunto das relações sociais,
to OU costume são "naturais7' o u q u e eles, a o contrário, são "contra a não pode deixar de ser contraditória a consciência dos homens, p oe-se
"
naturezay'? Cada qual, e m seu íntimo, acredita saber exatamente o que O problema de como se manifesta tal contradição e de como se pode
isto significa; mas, quando se pede uma resposta explícita e argumen- obter progressivamente a unificação: manifesta-se em todo o corpo so-
tada, vê-se q u e a coisa afinal não é assim t ã o fácil como pode parecer. cial, com a existência de consciências históricas d e grupo (com a exis-
h
CADERNOS DO CARCERE CADERNO 16

rente, educadores d a sociedade, etc. O ambiente, pois, não justifica,


vezes certos grupos de intelectuais são mais avançados e civilizados d o
mas só "explica" O comportamento dos indivíduos, e especialmente
q u e seu ambiente.
Portanto, o argumento d o perigo de relativismo e ceticismo não é daqueles historicamente mais passivos. A "explicaçáo" servirá às vezes
válido. O problema a ser posto é outro: uma dada concepção moral pari levar à indulgência em relação aos indivíduos e dará material para
tem em si as de uma certa permanência? O u pode mu- a educação, mas não deve nunca se tornar "justificaçáo" sem conduzir
dar todo dia e leva, n o mesmo grupo, à formação d a teoria d a dupla necessariamente a uma das formas mais hipócritas e revoltantes d e
verdade? Mais: com base nela pode se constituir uma elite que guie as conservadorismo e d e "reacionarismo".
multidóes, as eduque e seja c a p a de ser "exemplar"? Resolvidos estes Ao conceito de "natural" se contrapõe o de "artificial", de "con-
:.
i~

pontos afirmativamente, a concepçiio é justificada e válida. vencional". Mas o que significa "artificial" e "convencional" quando
referido aos fenômenos d e massa? Significa simplesmente "histórico",
Mas haverá u m período de relaxamento e até d e libertinagem e
através d o desenvolvimento histórico, e inutilmente se tenta
(i:
d e dissoluç50 moral. Isto está longe d e se excluir, mas também não I
constitui argumento válido. Períodos d e dissolução moral muitas ve- dar um sentido pejorativo à coisa, porque ela penetrou inclusive na 3
zes se verificaram na história, ainda q u e a mesma concepção moral consciência comum com a expressão "segunda natureza". Assim se -I
geral mantivesse seu domínio, e originaram-se de causas reais con- p d e r á falar de artifício e d e convencionalismo com referência a
cretas, não de concepções morais: eles muitas vezes indicam q u e uma idiossincrasias pessoais, não a fenômenos de massa já em ato. Viajar d e i
(-.I
concepção envelheceu, desagregou-se, tornou-se pura hipocrisia trem é uartificial'7, mas certamente não como usar cosméricos. 1
formalista, mas tenta se manter em p6 coercivamente, forçando a Segundo as referências feitas nos parágrafos anteriores, apresenta- 1ij
sociedade a uma vida dupla; precisamente à hipocrisia e h duplicidade se como posirividade o problema d e quem deverá decidir q u e uma 3
reagem, de forma exagerada, os períodos de libertinagem e dissolu- determinada conduta moral é a mais adequada a uma determinada etapa
I'
3
çáo, que anunciam quase sempre que uma nova conccpç7lo estã se de desenvolvimento das forças produtivas [40]. Certamente, não w pode ')
formando. falar em criar um "papa" especial ou um competente departamento. ;!I.)
O perigo de desfibrarnento moral, a o contrário, é representado pela As forras dirigentes nascerão pelo fato mesmo de que o modo d e pen- i
sar será orientado neste sentido realista e nascerão d o próprio choque
teoria fatalista daqueles grupos que compartilham a cotlcepção d a "na-
turalidade" segundo a "natureza" dos animais e para o s quais tudo é dos pontos de vista discrepantes, sem "convencionalisrnos" e "artifí-
cios", mas "naturalmente".
I,-I
justificado pelo ambiente social. Embota-se, assim, t o d o sentido de 3
I
responsabilidade individual e se dilui toda responsabilidade individual 1
numa respoi~sabilidadesocial abstrata e inalcançável. Se este conceito 5 13. Origem popular do "sr*per-homem".Sempre que encontra-
mos algum admirador de Nietzsche, é oportuno perguntar e averiguar ('-1
I
fosse verdadeiro, o mundo e a história seriam sempre imutáveis. Com
efeito, se o indivíduo, para mudar, tem necessidade de que toda a socie- se suas concepções "super-humanas", contra a moral convencional, e t c , )
/I
dade mude antes dele, mecanicamente, por meio de sabe-se lá qual força etc., sáo de genuína origem nietzschiana, vale dizer, são o produto de
il
>
extra-humana, nenhuma mudança jamais aconteceria. Ao contrário, a uma elaboração de pensamento que se deve pôr na esfera da "alta cul- 1
tura", ou têm origens muito mais modestas, são, por exemplo, vincu- 1
história é uma contínua luta de indivíduos e de grupos para mudar
ladas à literatura de folhetim. (E o próprio Nietzsche não terá sido d e i )
aquilo que existe em cada momento dado; mas, para que a luta seja B
eficaz, estes indivíduos e grupos deverão se sentir superiores ao exis- algum modo influenciado pelos romances d e folhetim franceses? É 0
Ii
I1
>
1
I!
")
CADERNO 16

preciso recordar que esta literatura, hoje relegada a portarias e desváos, Pode-se observar como cerros países permaneceram provincianos
esteve muito difundida entre os intelectuais, pelo menos até 1870, tal e atrasados também nesta esfera, em comparação com outros; enquanto
como hoje o chamado romance "policial".) De qualquer modo, parece sherlock Holmes já se tornou anacrônico em muitas partes da Europa,
que se pode afirmar que muito da suposta "super-humanidade" nietzs- em alguns países ainda se está em Monte Cristo e em Fenimore Cooper
&iana tem como origem e modelo doutrinário não Zaratustra, mas O (=f. OS c C ~ e I ~ a g e "malha
n ~ " , de ferro", etc.).
CoTzdede Monte Cristo, de A. Dumas. 0 tipo que Dumas representou Cf. o livro de Mario Praz: Ln carne, ln morte e i1 dinvolo nelln
completamente no Monte Cristo encontra inúmeras réplicas em letterntura romantica (Edizione della Cultura): a o lado da investiga-
outros romances d o mesmo autor: ele deve ser identificado, por exem- çgo de Praz, deve-se fazer esta outra: sobre o "super-homem" na li-
plo, no Athos, de O s Três Mosqueteiros, no joseph Balsamo e talvez teratura popular e sua influência navida real e nos costumes (a pequena
ainda em outros personagens. burguesia e os pequenos intelectuais são particularmente influencia-
DOmesmo modo, quando se lê que alguém é admirador de Balzac, dos por tais imagens romanescas, que são como seu "ópio", seu "paraíso
é preciso estar atento: também em Balzac há muito d o romance d e artificial", em contraste com a mesquinhez e a estreiteza de sua vida
folhetim. A seu modo, Vautrin também é um super-homem, e o discur- real imediata): daí o sucesso de alguns ditos, como: "é melhor viver
so que faz a Rastignac no Pai Goriot tem muito de... nietzschiano em um dia como leão do que cem anos como ovelha", sucesso particular-
sentido o mesmo deve ser dito d e Rastignac e d e Rubempré. mente intenso junto aquem é precisa e irremediavelmente uma ovelha
(Vincenzo More110 se tornou "Rastignac" através de uma tal. fifiação... [+I]. Quantas destaF"ove1has" dizem: "Quem me dera ter o poder,
popular e defendeu "Corrado Brando" [41].) mesmo que por só um dia", etc.; ser um Ccjusticeirom impiac6veI é a
A fortuna de Nietzsche foi muito desigual: suas obras completas aspiração de quem sente a influência de Monte Cristo.
foram publicadas pelo editor Monanni, e se conhecem as origens ideo- Adolfo Omodeo observou que existe uma espécie de "mão-mor-
lógico-culturais d e Monanni e de sua clientela mais fiel [42]. ta" cultural, constituída pela literatura religiosa, da qual parece que
Vautrin e "o amigo de Vautrin" deixaram ampla marca na literatu- ninguém quer se ocupar, como se não tivesse importância e função na
ra d e Paolo Valera e de sua Folla (lembrar o "amigo de Vautrin" vida nacional e popular. A parte o epigrama da "mão-morta" e a satis-
turinense da Folla) 1431. Amplo favor popular obteve a ideologia do fação do clero com o fato de que sua literatura particular não seja sub-
ccrnosqueteiro'', tomada do romance de Dumas. metida a um exame crítico, existe uma outra área da vida cultural
Compreende-se facilmente que se tenha um certo pudor em justi- nacional e popular de que ninguém se ocupa e se preocupa criticamen-
ficar mentalmente as próprias concepções com os romances de Dumas te, e é justamente a literatura de folhetim propriamente dita e também
e de Bafzac: por isto, justificam-se tais concepções com Nietzsche e se em sentido amplo (neste sentido, nela cabem Victor Hugo e Balzac).
admira Bajzac como artista e não como criador d e figuras romanescas N o Monte Cristo existem dois capítulos em que se disserta expli-
d o tipo folhetim. Mas, culturalmente, o nexo real parece certo. citamente sobre o "super-homem" de folhetim: o que se chama "Ideo-
O tipo d o "super-homem" é Monte Cristo, livre daquela aura par- logia", quando Monte Cristo se encontra com o procurador Villefort,
ticular de "fatalismo" que é própria d o baixo romantismo e que é ain- e o que descreve a refeição com o Visconde de Morcerf, na primeira
da mais acentuada em Athos e em J. Balsamo. Por certo, Monte Cristo viagem de Monte Cristo a Paris. Deve-se ver se em outros romances
levado à política é muito pitoresco: a luta contra os "inimigos pesso- de Dumas existem rnotivos "ideológicos" deste gênero. Em Os Três
ais7'd e Monte Cristo, e t c Mosqueteiros, Athos assemelha-se ao genérico homem fatal do baixo
:::'

L."

CADERNOS DO CARCERE CADERNO 16

8mbito estatal um direito a ele estranho. Assim, OS católicos, com base se referem 2 Itália OU consideram problemas italianos. Mas uma cole-
num direito estranho a o Estado, podem ter o matrimônio anulado, à tânea que se limitasse a esta seleção não seria orgânica e completa.
diferença dos náo-cató]ico~,quando, a o contrário, '?ser OU não ser cató- Existem escritos dos dois autores que, mesmo não se referindo especi-
lico deveria ser irrelevante para efeitos civis"; 2) segundo O art. 5, $3, ficamente 5 Itália, têm um significado para a Itália, e um signiiicado
alguns cargos pfiblicos são interditados a sacerdotes apóstatas ou sub- não genérico, naturalmente, porque senão se poderia dizer que todas
metidos a censura, isto é, aplica-se uma "pena" d o Código Penal a pes- aç obras dos dois escritores se referem à Itália. O plano da coletânea
soas que, perante o Estado, não cometeram nenhuma ação delituosa; e poderia ser elaborado segundo estes critérios: 1)escritos que especifi-
o art. l0 d o Código dispõe q u e nenhum cidadzo pode ser punido se- camente se referem à Itália; 2) escritos que dizem respeito a temas
n s o por u m fato expressamente previsto pela lei penal como crime; 3) ccespecífic~~yJ de critica histórica e política, os quais, apesar de não se
para Morello, não se vê por que cálculo o Estado fez rabula rasa das referirem B Itilia, têm relação com problemas italianos. Exemplos: o
leis de subversão, reconhecendo às entidades eclesiásticas e ordens reli- artigo sobre a Constituição espanhola d e 18 12 tem relação com a Itá-
giosas a existência jurídica, a faculdade de possuir e administrar os lia, em virtude da função política que tal Constituição teve nos movi-
próprios bens; 4) ensino; exclusão total e inequívoca do Estado das mentos italianos até 1848 [48]. D o mesmo modo, tem relação com a
escolas religiosas, e não s ó das q u e preparam tecnicamente o s sacerdo- Itilia a crítica da Miséria dn filosofia contra a falsificação da dialética
tes (ou seja, exclusão de controle estatal sobre o ensino da teologia, hegeliana feita por Proudhon, que tem reflexos em movimentos inre-
erc.), mas das q u e se dedicam a o ensino geral. Com efeito, o art. 39 d a lecruais italianos correspondentes (Gioberti; o hegelianismo dos
Concordata se refere também às escolas elementares e médias mantidas moderridos; conceito de revolução passiva; dialética de revolução-res-
pelo clero em muitos seminArios, inrernatos e conventos, das quais o tauração). O mesmo se diga d o texto d e Engels sobre os movimentos
clero se serve para atrair meninos e rapazes para o sacerdócio e a vida libertarias espanhóis de 1873 (depois da abdicação d e Amedeo de
monástica, mas que em si ainda não são especializadas. Estes alunos
Savóia)>que se relaciona com a Itália, etc. 1491
deveriam ter direito 2 proteção do Estado. Parece que, em outras Talvez não seja preciso reunir esta segunda série de escritos, mas
concordatas, foram levadas em conta certas garantias para o Estado a seja. suficiente uma exposição critico-analítica. Talvez o plano mais
fim de q u e também o clero não seja formado d e modo contrário às Ieis orgânico pudesse ser em três partes: I) introduç50 histórico-critica; 2 )
e à ordem nacional, estabelecendo-se precisamente que, para ocupar escritos sobre a Itália; 3) análise dos escritos referentes indiretamente
muitos cargos eclesiásticos, é necessário um diploma público (o q u e dá h Itilia, isto é, que se propõem resolver questões que s5io essenciais e
acesso às universidades). específicas também para a Itália.
g 15. Origem popular d o szdper-homem. (Cf., supra, g 13.) Sobre
5 17. A tendência a diminuir o ndverstírio: por si mesma, é um
este tema s e deve ver a obra d e Farinelli, IZ rornanticismo nel mondo
documento da inferioridade d e quem se deixa possuir por ela. Com
latino (3 vols., Bocca, Turim). No vol. 2", um capítulo em que se fala
efeito, tende-se a diminuir raivosamente o adversário para crer que se
do tema do "homem fatal" e d o "gênio incompreendido" l473.
pode vencê-lo seguramente. Por isto, nesta tendência, é inerente de
modo obscuro um juizo sobre a própria incapacidade e fraqueza (que
$ 16. O s fundadores da filosofia d a prhxis e a Itália. Uma coletâ-
se quer passar por coragem), e nela também se poderia reconhecer um
nea sistemática d e todos o s escritos (inclusive a correspondência) q u e
início de autocrítica (que se envergonha de si mesma, que tem medo
CADERNOS DO CÁRCERE CADERNO 16

de se rr.anifestar explicitamente e com coerência sistemática). Crê-se e ter-lhe feiro confessar que a minha Cassildéia é mais formosa
na "vontade de crer" como condição da vitória, o que niio seria errado do que a sua Dulcinéia, e s ó nesta vitória faço de conta que venci todos
se náo fosse concebido mecanicamente e não se tornasse auto-engano 0s cavaleiros d o mundo, porque o tal D. Quixote os venceu a todos, e,
(quando contém uma confusão indevida entre massa e líderes e reduz eu vencido a ele, a sua glória, a sua fama e a sua honra se trans-
a função d o líder até o nível do seguidor mais atrasado e confuso: n o feriram e se passaram para a minha pessoa.
momento da ação, o líder pode buscar infundir nos seguidores a con-
vicçáo de que o adversário será certamente vencido, mas ele próprio E o vencedor é tanto mais honrado
deve fazer um juizo exato e calcular todas as possibilidades, até as mais quanto mais o vencido é reputado;
pessimistas). Um elemento desta tendência é de natureza opiácea: com
efeiro, é próprio dos fracos abandonarem-se às quimeras, sonhar de de forma que já correm por minha conta e são minhas as façanhas inu-
olhos abertos que o s próprios desejos são a reaIidade, que t u d o se de- rnerãveis d o referido D. Quixote [Sol."
senrola segundo os desejos. Por isto se vê, por urna parte, a incapacida-
de, a estupidez, a barbárie, a ~usilanimidade,etc., e, por outra, os mais 8 "%ridade e pnrithrio". O significado de "paridade" e "pari-
altos dotes de crirátcr e de inteligência: a luta não cornporta hesiíaçáo rário" é dos mais interessantes e "significativos". Significa que um mi-
e já parece quase vitoriosa, mas permanece sonhada e vencida em so- 1háo tem os mesmos direitos de dez mil e, às vezes, que um tem o s
nho. Um outro aspecto desta tendência é ver as coisas como numa mesmos direitos de cinquenta mil. O que significa paritário nas fábri-
oleogrrifia, nos momentos culminantes de alto car5ter épico. N a reali- cas Schneider de Le Creusot [51]? O que significa no conselho nacio-
dade, seja onde for que se comecc a operar, logo surgem, graves, as nal para a indústria das minas de carvão, na Inglaterra? O que significa
dificuldades, porqiic 1350 se havia nunca pensado concretamente ne- no conselho diretor da OIT, d e Genebra, etc.? Entre quem se estabele-
las; e, como é preciso sempre comesar de pequenas coisas (em geral as ce uma paridade? O ci~riosoé que sáo os católicos os mais denodados
grandes coisas são u m conjunto de pequenas coisas), a "pequena coi- defensores d a paridade; para eles, uma pessoa humana (uma alma) deve
sa" é desprezada; é melhor conrinuat- a sonhar e adiar a açáo para o ser igual a outra, etc.; mas jA Rosmini queria que o poder representati-
momento da "grande coisa". A f u n ~ a ode sentinela é dura, aborrecida, vo fosse estabelecido não segundo a "alma imortal", cara a Deus em
cansativa; por que "desperdiçar" assim a personalidade humana e não condições de igualdade, mas segundo a propriedade [52].Nada de
conservá-la para a grande hora d o heroísmo? E assim por diante. espiri tualismo!
N ã o se reflete que, se o adversário o domina e você o diminui, você
reconhece ser dominado por alguém q u e considera inferior; mas, en- g 19. O médico católico e o doente (moribundo) acatblico. Cf. na
tão, como é que este alguém conseguiu dornins-lo? Por que o venceu e Civilth Cnttolica de 19 de novembro d e 1932, p. 381, o comentário
lhe foi superior justamente naquele instanre decisivo que devia dar a sobre o livro de Luigi Scremin, Appunti d i m o r d e professionale per i
medida da inferioridade dele e de sua superioridade? Por certo, acon- rnedici (Roma, Ed. "Studium", 1932, in-12OY118 p., 5 liras): "[ ...I as-
teceu uma "circunstancia imprevista". Pois bem, aprenda a ter a seu sim, na p. 95, mesmo citando Prummer, está incorreto dizer que 'no
favor a circunstância imprevista. caso de um acatólico que deseje e exija um ministro d e sua religião, é
Uma alusao literária: n o capitulo XIV d a segunda parte de Dom licito a o médico, na falta d e outros, dar a conhecer a o próprio minis-
Quixote, o Cavaleiro dos Espelhos sustenta ter vencido Dom Quixote: tro o desejo d o doente, e s ó está mesmo obrigado (sic) a fazê-lo quan-
CADERNOS DO CARCERE CADERNO 76

d o considere ~rejudiciala o doente não satisfazer este desejo'. A sen- construir a "personalidade" objetiva dos acontecimentos históricos e
tença d o moralista é bem diferente; de fato, Prummer (I, 526) nos diz de seu desenvolvimento, e se já foi examinado o movimento para a
q u e m'o se deve chamar um ministro acatólico, o qual niío tem nenhu- d o direito processual como um elemento "sugestivo" para
m a faczddnde de rninistrnr os sacramentos: mas, d e preferência, ajudar a renovaçáo d o estudo da história: Sorel poderia ter feito a observa-
o doente a fazer um ato d e contrição. Que, se o doente exige absoluta- çáo, bem d e acordo com seu estilo.
mente q u e se chame o ministro acatólico e da recusa decorram graves Deve-se observar que o renovamento d o direito processual, que
danos, pode-se (e náo deve-se) dar a conhecer a tal ministro o desejo também teve uma importância não secundária na esfera política, de-
d o doente. E se deveria discriminar mais - quando o doente estiver terminando um reforço d a tendência à divisão dos poderes e à inde-
d e boa-fé e pertencer a um rito acatólico n o qual os ministros tiverem pendência d a magistratura (logo, à reorganização geral da estrutura d o
as insignias d e uma verdadeira ordem sagrada, como entre o s gregos aparelho governamental), enfraqueceu-se em muitos países, trazendo
separados 1.531.'' A passagem é significativa. de volta em muitos casos os velhos métodos d e instrução e até a tortu-
ra: os métodos d a polícia americana, com o s interrogatórios em que se
20. As inovações n o direito processual e a filosofia da prdxis. A admite a coação física, são bastante conhecidos. Assim, perdeu muito
expressão contida n o prefácio à Critica da economia politica (1859): de suas características a figura do promotor, que deveria representar
" E d o mesmo modo q u e não podemos julgar um indivíduo pelo que objetivamente os interesses da lei e da sociedade legal, os quais são
ele pensa d e si mesmo" pode ser relacionada à transformação acontecida atingidos não s6 quando um culpado permanece sem puniçáo, mas
n o direito processual e 2s discussões teóricas a este propósito, que em também, e especialmente, quando um inocente é condenado. Parece,
L859 eram relativamente recentes [54j.O velho procedimento, com ao contrário, ter se formado a convicção de que o promotor é um ad-
efeito, exigia a confissão d o acusado (especialmente n o caso dos cri- vogado d o diabo que, para zombar de Deus, deseja ver no inferno es-
mes capitais) para emitir a sentença de condenação: o habemus confi- pecialmente os inocentes e, por isto, deve sempre querer sentenças d e
ze~zternreunz parecia a culminaç?io de qualquer procedimento judiciário, condenação.
e dai as induções, a s pressões morais e o s vários graus de tortura (não
como pena, mas como meio de instrução). No procedimento renova- $21. Oratória, conversaçho, cultura. Macaulay, em seu ensaio sobre
do, o interrogatório d o acusado se torna s ó um elemento, às vezes "Oratori attici" (confirmar a citação), atribui a facilidade com que até
negligenciável, em t o d o caso íitil apenas para dirigir as investigações os gregos mais cultos se deixavam confundir por sofismas quase pueris
complementares d a instrução e d o processo, tanto que o acusado não ao predorninio que na educação e na vida grega tinha o discurso vivo e
presta juramento e lhe é reconhecido o direito d e não responder, de falado [55].O hábito da conversação e d a oratória gera uma certa ca-
ser reticente e até de mentir, ao mesmo tempo que se d á o peso máxi- pacidade de encontrar com grande rapidez argumentos com uma certa
m o às provas materiais objetivas e aos testemunhos desinteressados aparência brilhante, que calam momentaneamente a boca d o adversá-
(tanto que o s funcionários d o Estado não devem ser considerados tes- rio e deixam atordoado o ouvinte. Esta observação também se pode
temunhas, mas apenas informantes d o Ministério Público). transportar a alguns fenômenos d a vida moderna e à instabilidade d a
Deve-se investigar se já foi feita uma tal aproximação entre o mé- base cultural d e alguns grupos sociais, como os operários urbanos. Ela
todo d e instrução para reconstruir a responsabilidade penal de cada explica em parte a desconfiança dos camponeses contra os intelectuais
indivíduo e o método critico, próprio da filosofia d a práxis, para re- nos comícios: o s camponeses, que remoem por longo tempo as afir-
CADERNO 16

mações que ouviram declamar e por cujo brilho foram momentanea- E certo que o processo de civilização intelectual se desenrolou por
rnanse surpreendidos, terminam, com o bom senso-que volta a predo- um longuíssimo especialmente sob a forma oratória e retóri-
minar depois da ernoçáo suscitada peias palavras arrebatadoras, por ca, ou seja, com nenhum ou muito pouco auxílio de textos: a memória
encontrar neIas deficiências e superficialidades e, portanto, se tornam das noções ouvidas de viva voz era a base de qualquer instrução (e as-
sistematicamente desconfiados. sim ainda permanece em alguns países, por exemplo, na Abissínia). Uma
Deve-se considerar uma outra observação de Macaulay: ele cita uma nova tradição começa com o Humanismo, que introduz o "dever por
sentença de Eugenio d e Savóia, o qual dizia que tiveram maior êxito nas escolas e n o ensino: mas se pode dizer que já na Idade
como generais aqueles que foram p o ~ o subitamente
s à frente d o exér- Média, com a escolástica, critica-se implicitamente a tradição da peda-
cito e se viram, pois, forçados a pensar nas manobras amplas e de con- gogia baseada na oratória e se busca dar à capacidade mnemônica um
junto. O u seja, quem por profissão se torna escravo das rninúcias se esqueleto mais sólido e permanente. Observando-se bem, pode-se ver
burocratiza: vê a árvore e não mais a floresta, o regulamento e não o que a importância dada pela escolástica ao estudo da lógica formal é,
plano estratégico. Todavia, os grandes capitães sabiam ajustar uma coisa de fato, uma reação contra as "fraquezas" demonstrativas dos velhos
e outra: o controle d o rancho dos soldados e a grande manobra, etc. de cultura. O s erros de lógica formal são especialmente co-
Pode-se ainda acrescentar q u e o jornal se aproxima muito da ora- muns na argumentação falada.
tória e da conversação. 0 s artigos de jornal são ordinariamente apres- A arte d a imprensa, em seguida, revolucionou todo o mundo cul-
sados, improvisados, semelhantes, em grande parte, pela rapidez do tural, dando à memória um subsídio de valor inestimável e permitindo
esboço e da argumentação, aos discursos de comício. São poucos os uma extensão inaudita d a atividade educacional. Nesta investigação,
jornais que têm redatores especializados e, de resto, mesmo a ativida- portanto, está implicita outra, a das modificações qualitativas, além das
d e destes é em grande parte imp rovisada: a especialização serve para quantitativas (extensão d e massa), trazidas ao modo de pensar pelo
improvisar melhor e mais rapidamente. Faltam, especialmente nos jor- desenvolvimento técnico e instrumental d a organização cultural.
nais italianos, as análises periódicas mais elaboradas e ponderadas (para Também hoje a comunicação falada é um meio de difusão ideoló-
O teatro, para a economia, etc.); os colaboradores suprem-nas apenas gica que tem Lima rapidez, uma área de ação e uma simultaneidade
em parte e, não tendo uma orientação unitária, deixam poucas mar- emotiva enormemente mais amplas d o que a comunicação escrita (o
cas. Por isto, a solidez de uma cultura pode ser medida em trEs níveis teatro, o cinema e o radio, com a difusão de alto-falantes nas praças,
principais: a) o dos leitores unicamente de jornais; b) o d e quem lê superam todas as formas de comunicaçáo escrita, desde o livro até a
revistas além das de variedades; c) o dos leitores de livros, sem consi- revista, o jornal, o jornal mural), mas na superfície, não em profundi-
derar uma grande massa (a maioria) que niio lê sequer os jornais e for- dade.
ma algumas opiniões assistindo As reuniões periódicas e dos periodos As academias e as universidades como organizações de cultura e
eleitorais, realizadas por oradores de níveis variadíssimos. Observação meios para difundi-la. Nas universidades, a exposição oral e os traba-
feita no cárcere de Milão, onde se vendiaíl Sole: a maioria dos presos, lhos de seminário e de laboratório experimental, a função d o grande
inclusive políticos, lia Ln Gazzettn de110 Sport. Entre cerca de 2.500 professor e a d o assistente. A função do assistente profissional e a dos
prisioneiros se vendiam no máximo 80 exemplares do Sole; depois da "veteranos de Santa Zita" da escola de Basilio Puoti, de que fala De
Gazzettn de110 Sport, as publicações mais lidas eram a Domeniçn de1 Sanctis, ou seja, a formação na própria classe de assistentes c'voluntários"
Corriere e o Corriere dei Piccoli. -através de seleção espontânea por parte dos próprios alunos -, que
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ajudam o professor e continuam suas aulas, ensinando praticamente a bem 0s alunos provenientes d o ginásio-liceu em compara-
estudar (561. com aqueles dos institutos técnicos. Esta melhor preparação é dada
Algumas das observações precedentes foram sugeridas pela leitura cornpiexo ensino "humanista" (história, literatura, filosofia), como
d o M a n ~ ~popular
al de sociologia, que se ressente justamente d e todas se demonstrou mais amplamente em outras notas (a série sobre o s "in-
as deficiências d a conversação, das fraquezas argumentativas d a orató- telectuais" e o problema escolar) 1591. Por que a matemática (o estudo
ria, d a frágil estrutura d a lógica formal 1.571. Seria curioso fazer a par- da matemática) não pode dar os mesmos resultados, se a matemática
tir deste livro uma exemplificaçáo de todos os erros lógicos indicados está tão próxima da lógica formal a ponto d e se confundir com ela?
pelos escolásticos, recordando a justíssima observação d e que também sob o critério d o fato pedagógico, embora haja semelhança, há tam-
o s modos d e pensar são elementos adquiridos e não inatos, cujo em- bém uma enorme diferença. A matemática se baseia essencialmente na
prego justo (depois d a aquisição) cor responde a uma qualificação pro- série numérica, o u seja, numa infinita série d e igualdades ( 1 = I), que
fissional [58].N ã o possuí-los, não se dar conta d e não possui-los, não podem ser combinadas de modos infinitos. A lógica formal tende a fazer
se pôr o ~ r o b l e r n ad e adquiri-los através de um "aprendizado", tudo o mesmo, mas s ó até certo ponto: seu caráter abstrato só se mantém
isto equivale à pretensáo de construir um automóvel empregando e no início d a aprendizagem, na imediata formulação nua e crua d e seus
tendo à disposição a oficina e o s instrumentos d e um ferreiro d e al- ~rincípios,mas se efetiva concretamente n o próprio discurso em que
deia. O estudo d a "velha lógica formal" já caiu em descrédito e, em se faz a formrilaçáo abstrata. O s exercícios d e língua que se fazem n o
parte, com razáo. Mas o problema de promover o aprendizado da 1ó- ginásio-liceu demonstram depois de um certo tempo que, nas tradu-
gica formal como controle das fraquezas demonstrativas da oratória se ções latino-italianas, greco-italianas, não há jamais identidade nos ter-
reapresenta tão logo se formula o problema fundamental de criar uma mos das Iinguas confrontadas ou, pelo menos, que tal identidade, que
nova cultura a partir de uma base social nova q u e não tem tradições, parece existir n o início do estudo (rosa italiano = rosa latino), vai se
como a velha classe dos intelectuais. Um "bloco intelectual tradicio- cornpiicando cada vez mais com o progresso d o "aprendizado", ou seja,
nal", com a complexidade e a capilaridade de suas articulações, conse- vai se afastando d o esquema matemático até chegar a um juizo históri-
g u e assimilar n o desenvolvimento orgânico d e cada componente co e de gosto, em que as nuanças, a expressividade '"nica e individua-
particular o elemento "aprendizado da iógica", mesmo sem a necessi- lizada" predominam. E isto acontece não s ó na comparação entre duas
dade de uma priltica distinta e ii~dividualizada(assim como os rapazes línguas, mas acontece n o estudo d a história d e uma mesma "língua",
de famílias cultas aprendem a falar "de acordo com a gramática", isto que revela como varia semanticamente o mesmo som-palavra através
é, aprendem o tipo de língua das pessoas cuItas, mesmo sem a necessi- d o tempo e como varia sua função n o período (mudanças morfológicas,
dade de estudos gramaticais cansativos e específicos, ii diferença dos sintáticas, semânticas, além d e fonéticas).
rapazes de famílias em q u e se fala um dialeto e uma língua dialetizada). Nota. Urna experiência feita para demonstrar quanto é frágil a apren-
M a s nem mesmo isto acontece sem dificuldades, atritos e perdas de dizagem feita por via "oratória": doze pessoas de um certo grau elevado
energia. de cultura repetem-se umas às outras um fato complexo e depois cada
O desenvoívimento das escolas técnico-profissionais em todos o s uma escreve o que recorda d o fato ouvido: as doze versões diferem da
graus pós-elementares reapresentou o problema sob outras formas. narração original (escrita para controle), muitas vezes de modo assom-
Deve-se lembrar a afirmação d o professor G. Peano segundo a quaf até broso. Esta experiência, repetida, ~ o d servir
e para mostrar como é pre-
n o Politécnico e nas escolas superiores de matemática se mostram mais ciso desconfiar d a memória não educada com métodos apropriados.
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5 22. Sentime~itoreligioso e intelectrrois do século X7X (até n guer- no Vilianova d'Ardenghi (Bruno Brunelli), publicista, Paolo CaIvilio,
ntlirrdia/).
Em 1921,o editor Bocca, de Turim, recolheu em três alen- evangélico, Prof. Giuseppe Lipparini, Prof. Oreste Ferrini, Prof.
tados volumes, com prefácio de D. Parodi, urna série d e Confessioni e Rossi Casè, Prof. Antioco Zucca, Vittoria Fabrizi de' Biani, Prof.
pro/essjo>Lj di fede d i Lettern~i,FFilo~~fi,
uomini politici, ecc., aparecidas &ido FaIorsi, Prof. Benedetto D e Luca, publicista, Giacomo Levi
anteriormente na revista Coenobizdnz, publicada e m Lugano por Big- h4inzi, bibliófilo (!) d a Biblioteca d e Sáo Marcos, Prof. AIessandro
Iiami, como respostas a um questionário sobre o sentimento religioso Arrò, Bice Sacchi, Prof. Ferdinando Belloni-Filippi, Nella Doria-
e suas relaçóes. A coletânea pode ser interessante para quem Cambon, Prof. Romeo Manzoni.
quiser estudar as correntes de opinião n o final do século passado e no No 3 O volume: Romolo Murri, Giovanni Vidari, professor uni-
principio d o atual, especialmente entre o s intelectuais "democráticos", versitário, Luigi Ambrosi, professor universitário, Salvatore Farina,
ainda que seja falha sob muitos aspectos. N o lovolurne estão incluídas Angelo Flavio Guidi, publicista, Conde Alessandro d'Aquino, Ba1-
as respostas dos seguintes literatos, etc., italianos: Angiolo Silvio dassarre Labanca, prof. universitário d e História d o Cristianismo,
Novaro, Prof. Alfredo Poggi, Prof. Enrico Cate11ani, Raffaele Ottolenghi, Giannino Antona-Traversi, autor dramático, Prof. Mario Pilo, Ales-
prof. Bemardino Varisco, Augusto Agabiti, Prof. A. Renda, Vittore s a n d r ~Sacchi, prof. universitário, Angelo De Gubernatis, prof. uni-
Marchi, diretor d o jornal Dio e Popolo, Ugo Janni, pastor valdense, A. versitário, Giuseppe Sergi, prof. universitário, Adolfo Zerboglio, prof.
Paulo Nunzi o, Pietro Ridolfi Bolognesi, Nicola Toscano Stanziale, di- universitário, Vittorio Benini, prof. universitário, Paolo Arcari, Andrca
retor d a Rnssegna critica, Dr. Giuseppe Gasco, Luigi Di Macia, Ugo LO Forte Randi, Arnaldo Cervesato, Giuseppe Cimbali, prof. univer-
Perucci, professor primário, Prof. Casimiro Tosini, diretor de Escola sitário, Alfredo Melani, arquiteto, Silvio Adrasto Barbi, professor, Prof.
Normal, Adolfo Artioli, Prof. Giuseppe Morando, diretor da Rivista Massimo 13ontempelli, Achille Monti, prof. universitario, Velleda
Ros~~ri~rinm, diretor d o Liceu Ginásio de Voghera, Prof Alberto Friscia, Benerti, estudante, Achille Loria, Prof. Francesco Pietropaolo, Prof.
Virtorio Nardi, Luigi Marrocco, publicista, G B. Pei-ine, Guido Piccardi, Ainilcare Lauria, Eugenio Bermani, escritor, Ugo Forrini dcl Giglio,
Renato Bruni, Prof. Giuseppe Rensi. Luigi Puccio, advogado, Maria Nono-Villari, escritora, Gian Pietro
N o S0 volume: Francesco Dei Greco, prof. diretor d e manicômio, Lucini, Angelo Valdarmini, prof. universitário, Tcresina Bontempi,
Alessandro Bonucci, prof. universitário, Francesco Cosentini, prof. inspetora d e escolas maternais n o Cantáo Ticino, Luigi Antonio Villãri,
universitário, Luigi Pera, médico, Filippo Abignente, diretor do Guido Podrecca, Alfredo Panzini, Amedeo Massari, advogado, Prof.
Cnrnitere, Giampiero Turati, Briino Franclii, redator-chefe d a Scuoln Giuseppe Barone, Giulio Caprin, Gàbriele Morelli, advogado, Ric-
Positiva di Diritto Criminnle, Manfredi Siotto-Pintor, prof. universi- cardo Gradassi Luzi, Torquato Zucchelli, tenente-coronel honorário
tário, Prof. Enrico Caporali, Giovanni Lanzalone, diretor d a revista (sic), Ricciotto Canudo, Prof. Felice Momigliano, Attilio Begey,
Arte e Morale, Leonardo Gatto-Roissard, tenente das tropas alpinas, Antonino Anile, prof. universitário, Enrico Morselli, prof. universi-
Pietro Raveggi, publicista, Widar Cesarini-Sforza, L e o p o l d o De tário, Francesco Di Gennaro, Ezio Maria Gray, Roberto Ardigò, Arturo
Angelis, Prof. Giovanni Predieri, Orazio Bacci, Giuseppe Benetti, Graf, Pio Viazzi, Innocenzo Cappa, Duque Colonna Di Cesarò,
publicista, Prof. G. Capra-Cordova, Costanza Pafazzo, Pietro Romano, PasquaIe Villari, Antonio Cippico, Alessandro Groppali, prof. univer-
GiuIio Carvaglio, Leone Luzzatto, Adolfo Faggi, prof. universitário, sitário, Angelo Marzorati, Italo Pizzi, Angelo Crespi, E. A. Marescotti,
Ercole Quadrelli, Carlo Francesco Gabba, senador, prof. universitário, F. BeI Ioni-Filippi, prof. universitário, Francesco Porro, astrônomo,
dr- Ernesto Lattes, publicista, Settimio Corti, prof. d e Filosofia, Bru- Prof. Fortunato Rizzi.
CADERNOS 00 C A R C E R E CADERNO 16

Um critério d e método a ter presente n o exame d a atitude dos in- ficar a s açóes "individualistas". Mas as mesmas justificações sáo váli-
telectuais italianos em relação à rei igião (antes d a Concordata) é dado daç para todos, para 0s guardas, para os juizes, para os jurados, para o
pelo fato de que na Itália as relaçSes entre Estado e Igreja eram muito t o d o indivíduo está encerrado numa rede determinista d e
mais complexas d o que nos outros países: ser patriota significou ser como um porco aprisionado num tonel, e daí não pode es-
anticIerical ainda que se fosse católico, sentir "nacionalmente" signífi- capar: o individualista joga a bomba, o guarda prende, o juiz condena,
cava desconfiar d o Vaticano e d e suas reivindicações territoriais e po- o verdugo corta a cabeça e ninguém pode deixar de agir assim. N ã o há
líticas. Lembrar q u e o Corriere della Sera, numa eleição parcial em não pode haver ponto d e resolução. Trata-se de um libertarismo
Milão, antes de 1914, combateu a candidatura do Marquês Cornaggia, e individualismo que, para justificar moralmente a si mesmo, se nega
adepto d a restauração d o poder temporal do papa, preferindo q u e se de modo piedosamente cômico. A análise da declaração d e Etievant
elegesse o candidato socialista [60]. mostra como a onda de açóes individualistas que se abateu sobre a
França num certo período era a conseqüência episódica d o desconcer-
$ 23. Cnu&?iros (ou principes) encantados, vespas e baratas ester- t o moral e intelectual que corroeu a sociedade francesa desde 1871 até
corhrjas. Luigi Galieani, por voIta de 1910, reuniu um calhamaço o dreyfusismo, n o qual encontrou um desafogo coletivo.
desconchavado, intitulado Faccia a faccia c01 nemico (editado por 3) A propósito de Henry, transcreve-se n o volume a carta d e um
Cromche sowwsive nosEstados Unidos, em Chicago ou em Piasburgh), certo Galtey (a verificar) a Le Fignro. Parece que Henry amava a rnu-
em que recolheu de diferentes jornais, sem metodo e crítica, o sumário Iher de Galtey, reprimindo "no próprio peito" este amor. A mulher,
d o s processos d e uma série d e chamados libertários individua!istas t o ~ n a n d oconhecimento de que Henry se apaixonara por ela (parece
(Ravachol, Menry, etc.) [61]. Deve-se considerar a coietânea com mui- que nzo se dera conta), declarou a um jornalista que, se soubesse, tai-
ta cautela, mas algumas sugestões curiosas podem ser dela tiradas. vez tivesse se entregado. Galtey, na carta, frisa nada ter a objetar h
1) O Deputado Abbo, em seu discurso d e Livorno e m janeiro de mulher e argumenta: se um homem não consegue encarnar a fantasia
1921, repetiu literalmente a dectaraçáo d e "princípios" do individua- romhntica de sua mulher sobre o cavaleiro (ou príncipe) encantado,
lista Etievant, reproduzida em apêndice a o livro de Galleani; mesmo a pior para ele: deve admitir que outro o substitua. Esta mistura de prin-
frase sobre "lingüística", que suscitou hílaridade geral, é repetida Iite- cipes encantados, de racionalismo materialista vulgar e de roubo de
ralrnente. Certamente, o Deputado Abbo sabia de memória o trecho e tiirnulos 2 Ravachol, é típica e deve ser destacada.
isto pode servir para indicar qual fosse a cultura de tipos como Abbo e 4) Em sua declaração no processo de Lyon, em 1894 (a verificar),
como tal literatura fosse difundida e popular [62]. o Príncipe Kropotkin anuncia, com um tom de segurança assombroso,
2) Das declarações dos acusados se infere que um d o s motivos que nos dez anos subsequentes aconteceria a sublevaçiio final.
fundamentais das ações "individualistas" era o "direito a o bem-estar"
concebido como um direito natural (para os franceses, naturalmente, $24. Apólogo d o Cádi, d o pequeno saco perdido n o mercado, dos
que ocupam a maior parte do livro). VArios acusados repetem a frase: dois "fiéisy', dos cinco caroços d e azeitona. Refazer a breve narrativa
L<
uma orgia de senhores consome o q u e seria suficiente para mil famí- das Mil e uma noites [63].
lias operhrias"; falta qualquer referência à produção e às relações de
produção. A declaração de Etievant, transcrita integralmente, é típica, g 25. O mal menor ou o menos ruim (a ser associado com a outra
porque nela se busca construir um sistema ingênuo e pueril para justi- fórmula insensata d o "quanto pior, melhor"). Poderia ser tratado sob
CADERNO 1 6

a forma de apólogo (lembrar o dito popular segundo o qual "o pior $-es dadas). Mas, analisando mais a fundo, vê-se que em Bernstein e
não morre nunca"). O conceito de "mal menor" ou de "menos ruim" seus adeptos não se exclui de todo a intervenção humana, pelo menos
é dos mais relativos. Um mal é sempre menor do que um maior que inlplicitamente (o que seria estúpido demais), mas se admite só d e modo
/he sucede, e um perigo é sempre menor d o que um possível outro, uniIa~eral,porque se admite como "tese" mas se exclui como "antíte-
que se siga. Todo mal se torna menor em comparação com ou- sem;ela, considerada eficiente como tese, ou seja, n o momento d a re-
tro que se apresenta como maior, e assim a o infinito. Portanto, a fór- sistência e d a conservação, é rejeitada como antítese, ou seja, como
mula do mal menor, d o menos ruim, é tão-somente a forma que assume iniciativa e impulso progressivo antagonista. Podem existir "fins" para
o processo de adaptação a um movimento historicamente regressivo, a resistência e a conservação (as próprias "resistência e conservação"
movimento cujo sentido é dirigido por uma força corajosamente efi- são fins q u e requerem uma específica organização civil e militar, o
ciente, enquanto as forças antagônicas (ou melhor, os dirigentes des- controle ativo d o adversário, a intervenção tempestiva para impedir
tas) decidiram capitular progressivamente, por pequenas etapas, e não que o adversário se reforce muito, etc.), não para o progresso e a inicia-
de um só golpe (o que teria um significado inteiramente diverso em tiva inovadora. Trata-se tão-somente d e uma teorizaçáo sofística d a
rãzao d o efeito psicológico condensado e poderia gerar uma força ati- pssividade, d e um modo "astuto" (no sentido das "astúcias d a provi-
va cot-icorrente daquela que passivamente se adapta 2 "fatalidade", ou dência" d e Vico) pelo qual a tese intervém para enfraquecer a "antite-
reforçá-la, se já existe). Uma vez que é justo o princípio de método se", porque precisãmentz a antítese (que pressupõe o despertar de forças
segundo o qual os países mais avançados (no movimento de progresso latentes e adormecidas a serem estimuladas com ousadia) tem necessi-
ou de regresso) são a imagem antecipada dos outros países onde o dade de se propor fins, imediatos e mcdiatos, para reforçar seu movi-
mesmo movimenro esc8 n o início, a comparação é correta neste cam- mento de superaçáo. Sem a perspectiva de fins co~~cretos, não pode d e
po, n o que servir ( e servirá sempre do ponto de vista educativo) [64]. modo algum haver movimento.

$ 26. O nzovinze~ztoe o objetivo final. possivel manter vivo e $ 2 7 . Mcrx Nordau. Grande difusão dos livros de Max Nordau,
eficiente um movimento sem a perspectiva de fins imediatos e mediatos? na Itália, nos estratos mais ciiltos d o povo e da pequena burguesia
A afirmação de Bernstein segundo a qual o movimento é tudo e o obje- urbana [66]. Menziras conve~zcionnisda civilizaçgo e Degenertzçiio ha-
tivo final não é nada, sob a aparência de u m a interpretaçao "ortodo- viam chegado (em 1921-1923), respectivamente, à oitava e ri quinta
xa" da bialética, oculta uma concepção rnecanicista d a vida e do ediçso, n a publicação regular dos Fratelli Bocca, d e Turim; mas estes
movimento histórico: as forças humanas são consideradas como passi- livros passaram n o pós-guerra 2s mãos de editores como Madella e
vas e não conscientes, como um elemento não distinto das coisas ma- Barion e foram difundidos por vendedores ambulantes a preços
teriais, e o conceito d e evolução vulgar, n o sentido naturalista, substitui baixíssimos e em grande quantidade. Contribuíram assim para intro-
o conceito dc processo e desenvolvimento [ 6 5 ] . Isto é ainda mais dig- duzir na ideof ogia popular (senso comum) uma determinada série de
no de nota na medida em que Bernstein buscou suas armas no arsenal crenças e d e "cânones críticos" o u de preconceitos que parecem a ex-
do revisionismo idealista (esquecendo as teses sobre Feuerbach), que pressão mais perfeita d a intelectualidade refinada e da alta cultura,
deveria tê-lo levado, a o contrário, a valorizar a intervenção dos ho- tal como as concebe o povo, para o qual Max Nordau é um grande
rnens Iativos, logo capazes de perseguir certos fins imediatos e mediatos) pensador e cientista.
corno decisiva n o desenrolar da história (naturalmente, sob as condi-
.*.. .
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CADERNO 16

5 28. xngh&". O termo é ainda empregado n a Sicilia para indi- § 29. Discussões prolixas, perder-se em rninúcias excessivas, etc.
car certos serviços obrigatórios aos quais esta submetido o trabalhador & pose d e intelectual enveredar cansativamente por discussões ex-
agrícola e m suas relações contratuais com O proprietário, arrendatkio cessivamente longas, q u e se perdem analiticamente nas particulari-
ou subarrendatári~,d o qual obteve um pedaço d e terra n o regime cha- dades mais ínfimas e náo dão sinal d e terminar a não ser quando
mado de rneaçáo (e q u e é táo-somente um contrato d e participação o u entre o s litigantes se chegou a um acordo perfeito em t o d o o terre-
de simples arrendamento com pagamento in natural fixado na metade no d e atrito OU, pelo menos, as opiniões em contraste se confronta-
mais d a metade d a colheita, além dos serviços especiais ou ram totalmente. O intelectual profissional considera suficiente u m
afgh&e). O termo é ainda aquele dos tempos feudais, do qual derivou sumário sobre o s princípios gerais, sobre as diretrizes fun-
n a linguagem comum O significado pejoratim d e "vexação", mas que damentais, porque pressupõe q u e o trabalho individual d e reflexáo
parece ainda não existir n a Sicília, o n d e se considera como costume levará necessariamente a o acordo sobre as "minúcias"; por isto, nas
normal. discussõe~e n t r e intelectuais, procede-se muitas vezes por rápidas
NOque se refere à Toscana, berço d a meação (cf, os estudos recen- referências: sonda-se, por assim dizer, a formação cultural reciprc-
tes a feitos sob estímulo d a Accademia dei Georgofili), deve- ca, a "Iinguagem" reciproca e, feita a constatação d e que se está num
se citar o trecho de um artigo de F. Guicciardini (naNuovaAntoIogia de terreno comum, com uma linguagem comum, com modos comuns
16 de abril d e 1907, "Le recenti agitazioni agrarie in Toscana e i doveri de raciocinar, segue-se adiante com rapidez. M a s a questzo essen-
&]Ia proprietà"): "Entre o s pactos acessbrios do pacto d o colono, não cial consiste justamente n o fato d e que as discussões não acontecem
menciono os que chamarei d e 'angáricos', na medida em que constituem entre intelectuais profissionais e, aliás, é preciso criar previamente
ônus do meeiro e não correspoildem a vantagem especial alguma: tais um terreno cultiiral comum, uma linguagem comum, modos comuns
seriam a lavagem gratuita d a roupa, a busca da água, o corte d a lenha e de raciocínio entre pessoas que não são intelecruais profissionais,
das achas para as estufas d o dono, a contribuição em alimentos em favor que ainda nao adquiriram o hábito e a disciplina mental necçssários
do vigia, o fornecimento de palha e feno para a estrebaria d a proprieda- para relacionar rapidamente conceitos aparentemente díspares, as-
de e, em geral, todos os serviços gratuitos em favor d o dono. Não pode: sim como, inversamente, para analisar rapidamente, decompor,
ria afirmar se estes pactos são os últimos residuos do regime feudal que intuir, descobrir diferenças essenciais entre conceitos aparentemente
sobreviveram 2 destruiçgo dos castelos e à libertaçáo dos colonos, ou se semelhantes.
são incrustações que se formaram n o tronco genuíno d o contrato por Já foram mencionadas noutro parágrafo as fraquezas íntimas d a
abuso dos proprietários e apatia dos colonos, em tempos mais próximos formação oral da cultura e os inconvenientes da conversação ou diálo-
de nós" Segundo Guicciardini, estas obrigações desapareceram quase go, em relação a o texto: n o entanto, aquelas observações, em si justas,
por toda parte (em 19071, o que é duvidoso até n o caso d a Toscana. Mas, devem ser cornplemenradas por estas acima expostas, isto é, com a cons-
além destas angberie, é preciso recordar outras, como o direito d o pro- ciência da necessidade, para difundir organicamente uma nova forma
prietário de fechar os colonos em casa numa certa hora d a noite, a cultural, da palavra falada, d a discussáokinuciosa e "pedante" [67].
obrigação de pedir permissão para o noivado e as relações sexuais, etc., Justa combinação d a palavra falada e da escrita. E observe-se tudo isto
que parecem ter se restabelecido em muitas regiões (Toscana, Úrnbria), nas relações entre intelectuais profissionais e não-intelectuais forma-
depois de abolidas com os movimentos agrários d a primeira década d o dos, que afinal é o caso d e qualquer nível de ensino, d o elementar a o
século, movimentos dirigidos por sindicalistas universitário.
sobre os livros, tropeça em dificuldades que o paraIisam e muitasvezes
o impedem d e ir adiante, porque ele é incapaz d e resolvê-ias imediata-
mente, o que, a o contrário, é imediatamente possível nas discussões
de viva voz. À parte a má-fé, observe-se como se prolongam as discus-
sões por escrito por esta razáo normal: uma incornpreensáo requer
elucidaçóes e, n o curso d a polêmica, multiplicam-se as dificuldades de
compreender e de explicar.
Caderno 26 (1935):
$ 30. Tempo. Em muitas línguas estrangeiras a palavra "tempo", Temas de cultura. 2 O
trazida d o italiano através d a linguagem musical, assumiu um signifi-
cado próprio, geral, mas nem por isto menos determinado, que a pala-
vra italiana "tempo", por seu carhter genérico, não pode expressar (nem
se dizer "tempo em sentido musical ou como se entende na
linguagem musical", porque implicaria equívocos). E preciso, pois, tra-
duzir em italiano a palavra italiana "tempo": "velocidade d o ritmo"
parece a traduçRo mais exata e que, de resto, corresponde a o significa-
d o que a palavra tem na música, e somente "ritmo", quando a
"tempo'' for adjetivada: "ritmo acelerado" (ou tempo acelerado), "rit-
mo moderado", etc. Outras vezes, usa-se ccvelocidadedo ritmo", em
sentido eliptico, em lugar de "medida da velocidade do ritmo".
§ 1. Indicações bibliográficas. 1) O Catalogo dei cataloghi de1 libro ita-
liano, editado pela "Società generale delle Messagerie italiane", de
~ o l o n h a ,em 1926 (publicaram-se suplementos em seguida), é uma
a ser levada em conta para as pesquisas bibliográficas. Este
contém OS dados de 65.000 volumes (menos a indicação do
editor) ctassificados em 18 categorias, dois índices alfabéticos, um por
autores, organizadores e tradutores, e outro por temas, com as respec-
tivas referências à categoria e ao número de ordem.
2) Outra pubIicaç20 a considerar é o Catalogo metodico ciegli scritti
con~enmtinelle pubblicnzioni periodiche italiane e straniue, editado pela
Câmara dos Deputados.

5 2. A ccequaq-ãopessoal"- Os c&lcilloçdos movimentos das estre-


[asszo pelo que os cientistas chamam de "equação pessoal",
de modo que são necessários controles e retificações. Ver exatamente
como se identifica esta causa de erro, com quais critérios e como se
procede à retificação. De qualquer maneira, a noção de "equação pes-
soal" também pode ser empregada utilmente em outros campos além
da astronomia

g 3. O m r i z de Cleópatra. Buscar o sentido exato que Pascal dava


a esta sua expressão que se tornou tão famosa (contida nos Pensamen-
tos) e sua relação com as opiniões gerais d o escritor. (Frivolidade da
CADERNO 26

$ 4 - Sobre raciocinar segundo médias estntísticns. Sobre racioci nai ou o outro (fala-se de épocas de critica, d e Cpocas de açáo, etc.). Mas
e especialmente c c p e n ~ a rsegundo
n médias estatísticas. Neste caso, é útil parece que nem Croce analisou a fundo o problema nos escritos em
recordar a anedota segundo a qual, se Fulano faz duas refeições po que pretende determinar o conceito "política = paixáo": se o a t o con-
dia e Belrrano nenhuma, "estatisticamente" Fulano e Beltrano faze creto político, como diz Croce, se realiza na pessoa d o líder político,
"em média", cada qual, uma refeição por dia. A deformação d e pens deve-se observar que a característica d o Iíder como tal não é certamente
mente originada pela estatística é muito mais difundida d o que se acre- passionalidade, mas o cálculo frio, preciso, objetivamente quase im-
dita. Generalização abstrata, sem uma retomada contínua d e contato pessoal, das forças e m luta e d e suas relações (isto vale ainda mais se se
com a realidade concreta. Recordar que u m partido austríaco, que ti- trata de política em sua forma mais decisiva e determinante, a guerra
nha dois filiados num sindicato, escreveu que sua influência n o sindi- OU qualquer outra forma de luta armada) [4]. O Iíder suscita e dirige as

cato havia crescido e m 50% porque um terceiro filiado se somou ao pixões, mas ele próprio é "imune" a elas ou as domina para melhor
dois primeiros. (B) desencadeá-las, refreá-las n o momento dado, discipliná-las, etc.; deve
antes conhecê-las, como elemento objetivo d e fato, como força, d o que
$ 5 . "Contradi~ões"do historicismo e sidas expressões literárias (iro- cbsenti-las"imediatamente, deve conhecê-las e compreendê-las, ainda
sBrcn.smo).Ver a s publicações de Adriano Tilgher contra o histo-
7Zi4 que com "grande simpatia" (e então a paixão assume uma forma supe-
ricismo [lj. De um artigo de Bonaventura Tecchi ("I1 Demiurgo di rior, que é preciso analisar, na trilha da sugestão d e Burzio; a questão
Burzío", Itnlirz Leneraria, 20 de outubro d e 1929) se extraem algumas toda deve ser vista nos "textos" autênticos).
sugestões d e F. Burzio q u e parecem mostrar, em Burzio, uma certa Segundo o arrigo de Tecchi, parece quc Burzio alude muitas vezes
p o f u n d i d a d e (abstração feita da linguagem artificiosa e das constru- ao elemento "ironia" como característica (ou uma das características)
çóes d e viés litergrio-paradoxal) n o estudo das contradiçóes "psicoló da posição referida e condensada na afirmação: "estar acima das pai-
gica<' que nascem n o terreno d o historicismo idealista, mas també xões e dos sentimentos, mesmo experimentando-os". Parece evidente
n o d o historicismo integral [Z]. que o coinportamento "irônico" não pode ser o do líder político ou
Deve-se meditar sobre a afirmação: "estar acima das paixóes e do milirar em relaçáo 5s paixões e sentimentos dos seguidores e dirigidos.
sentimentos, mesmo experimentando-os", que poderia ser rica de con 'LIr~nia" pode ser justo corno comportamento de intelectuais particu-
sequências. De fato, o nó das questões que surgem a propósito d lares, individuais, isto é, sem responsabilidade imediata até mesmo na
historicisrno, e que Tilgher não consegue desatar, está justamente n construção de um mundo cultural, ou para indicar o distanciamento
constataçgo d e que "se pode ser crítico e homem d e ação a o mesm d o artista ante o conteúdo sentimental de sua criação (ele pode "sen-
tempo, de modo não só que um aspecto não enfraqueça o outro, ma tir" mas não "compartilhar", ou pode compartilhar mas numa forma
até o reforce" [3]. M u i t o superficialmente e mecanicamente, Tilghe intelectualmente mais refinada); mas, n o caso da ação histórica, o ele-
cinde os dois termos d a personalidade humana (dado que não exist mento "ironia" seria apenas literário ou intelectualista e indicaria uma
nem jamais existiu um homem inteiramente crítico e outro inteirament forma de distanciamento muito vinculada ao ceticismo mais ou menos
passional), quando, a o contrário, deve-se tentar determinar como e diletante devido à desiiusão, a o cansaço, a uma atitude de "super-ho-
diferentes períodos históricos os dois termos se combinam, seja no mem". Ao contrário, n o caso d a ação histórico-política, o elemento
indivíduos, seja nos estratos sociais (aspecto d a questão d a função so- estilístico adequado, a atitude característica d o distanciamento-com-
cial dos intelectuais), fazendo ~revalecer(aparentemente) um aspecto preensso é o "sarcasmo" e, ainda, numa forma determinada, o "sar-

82 83
C A D E R N O 26

cãçmo ripaixoilado". Nos fundadores da filosofia d a prkxis se encontra ante as dominantes e dirigentes, à espera d e que as novas concepções,
a e x p r e s s z ~mais alta, eticamente e esteticamente, d o sarcasmo apai- com a solidez adquirida através d o desenvolvimento histórico, domi-
xonado. Outras formas. Diante das crenças e ilusões populares (crença nem ate adquirir a força das "crenças populares". Estas novas concep-
na justiça, na igualdade, na fraternidade, isto é, nos elementos ideoló- çóes estão já solidamente implantadas em quem utiliza o sarcasmo, mas
gicos difundidos pelas tendências democrgticas herdeiras da Revolu- devem ser expressas e divulgadas em atitude "polêmica"; d e o u t r o
çlio Francesa), existe um sarcasmo apaixonadamente "positivo", criador, seriam uma "utopia", porque pareceriam "arbítrio" individual
progressista: naturalmente, não se quer ridicularizar o sentimento mais ou de gupelho: d e resto, por sua própria natureza, o "historicismo"
íntimo daquelas ilusões e crenças, mas sua forma imediata, vinculada a não pode se conceber a si mesmo como passível de expressão sob for-
um determinado mundo "perecível", o cheiro de cadáver que penetra ma apodítica o~ d e pregação, e deve criar u m gosto estilístico novo,
através d o perfume humanitário dos profissionais dos "imortais prin- até uma linguagem nova, como meios de luta intelectual. O "sarcas-
cipio~". Porque também existe um sarcasmo d e "direitay7,que raramente mo" (ta1 como, n o plano literário restrito d a educação de pequenos
é mas é sempre "negativo", cético e destruidor não só da grupos, a "ironia") aparece, portanto, como o componente literário
"forma" contingente, mas d o conteúdo "humano" daqueles sentimen- de uma série d e exigências teóricas e práticas que superficialmente
ros e crença. (E, a propósito d o atributo "humano", pode-se ver em podem parecer insanavelmente contraditórias; seu elemento essencial
alguns livros, mas especialmente na Sngrnda Fnmilin, qual significado é a upassionalidade", que se torna critério da força estilístíca indivídual
deve-se dar a ele [53.) Trata-se de dar a o núcleo vivo das aspirações (da sinceridade, d a profunda convicção, em oposição à imitação e a o
contidas naquelas crenças uma nova forma (portanto, de inovar, de- mecanicismo).
terminar melhor aquelas aspirações), não d e destrui-las. O sarcasmo Deste ponto d e vista é preciso examinar as últimas observações de
de direita, a o contrário, tenta destruir justamente o conteúdo das aspi- Croce n o prefácio de 1917 a o volume sobre o Materialismo storico,
rações (não, naturalmente, nas massas populares, uma vez que então no qual se fala d a "maga Alcinan, e algumas observações sobre o estilo
se destruiria também o cristianismo popular, mas nos intelectuais), e de Loria [6]. D o mesmo modo, deve-se ver o ensaio de Mehring sobre
por isto o ataque à "forma" é tao-somente u m expediente "didático". a "alegoria" n o texto alemão, etc. 171.
C o m o sempre ocorre, as primeiras e originais manifestações d o
sarcasmo tiveram imitadores e papagaios; o estilo se tornou uma $6. O Estado "'ueilleur d e nuif". N a polêmica (de resto, superficial)
"estilística", se tornou uma especie de mecanismo, um código, um jar- sobre as funções d o Estado (e entenda-se Estado como organização
gão, que poderiam produzir observações picantes (por ex., quando a político-jurídica em sentido estrito), a expressão "Estado-veilleur de
palavra "civilizaçáo" se faz sempre acompanhar do adjetivo "suposta", nuit" ("Estado guarda-noturno") corresponde em italiano a Estado
é licito pensar q u e se crê na existência d e uma "civilização" exemplar, carabiniere e quer significar um Estado cujas funções se limitam à tutela
abstrata, ou pelo menos se comporta como se se acreditasse nisto, ou da ordem pública e d o respeito às leis. N ã o se insiste n o fato d e que
seja, da mentaIidade crítica e historicista se passa à mentalidade utópi- nesta forma d e regime (que, afinal, jamais existiu a não ser n o papel,
ca). N a forma original, deve-se considerar o sarcasmo como uma ex- como hipótese-limite) a direção d o desenvolvimento histórico cabe às
pressão q u e acentua a s contradições de um período d e transição; forças privadas, à sociedade civil, que também é "Estado", aliás, é o
tenta-se manter O contato com as expressões humanas subalternas das próprio Estado. Parece que a expressão veilleur de nuit, que teria um
velhas concepções e, ao mesmo tempo, acentua-se o dístanciamento valor mais sarcástico d o q u e "Estado carabiniere" ou "Estado gen-
CADERNO 2 6

darme", é de Lassalle [SI. Seu oposto seria O "Estado ético" OU O "Es- N o uso comum, a o contrário, postulado significa um m o d o d e ser
tado intervencionista" em geral, mas existem diferenças entre uma e de operar que se deseja realizar (ou conservar, se já realizado; ou,
o w r a expressão: o conceito de Estado ético é de origem filosófica e antes, que se quer, e em certos casos se deve, realizar ou conservar) ou
iIitelectual (própria dos intelectuais: Hegel) e, naverdade, poderia ser se afirma ser o resultado de uma investigação científica (história, eco-
ãssociado com o de "Estado-veilleur de nuit", uma vez que se refere nomia, fisiologia, etc.). Por isto, muitas vezes se faz confusão (ou se
sobretudo à atividade autônoma, educativa e moral d o Estado laico, produz interferência) entre o significado de "reivindicação", d e "pre-
em contraposição ao cosmopolitismo e 2 ingerência da organizaçã tensáo", de "exigência", com o de ccpostulado" e d e "princípio"; o s
ecl esi ásti co-rel igi osa como resíduo medieval; o conceito de Estado postulados de um partido político ou de um Estado seriam seus "prin-
intervencionista é de origem econômica e está ligado, por uma parte cípios" práticos, dos quais derivam imediatamente as reivindicações de
às correntes protecionistas ou de nacionalismo econômico e, por ou caráter mais concreto e particular (exemplo: a independência d a Bél-
tra, t, tentativa de fazer com que um pessoal estatal determinado, d gica é um postulado d a politica inglesa, etc.).
origem fundiária e feudal, assuma a "proteção" das classes trabalhado-
ras contra os excessos d o capitalismo (política d e Bismarck e d $8. Classe média. O significado da expressão ccclassemédia" muda
Diçraeli}. Estas diversas tendências podem se combinar de variados de país a país (como muda o d e "povo" ou de em relação à
modos e, de fato, se combinaram. Naturalmente, os liberais ("eco- presunção de certos estratos sociais) e, por isto, acarreta muitas vezes
~omicistizs")defendem o Estado-veilleur de n ~ i et prefeririam q u e a equívocos muito curiosos (lembrar que Frola, prefeito de Turim, assi-
~ n i c i a t ~ vhistórica
a fosse deixada 2 sociedade civrl e às diversas forças nou um manrfesto em inglês com o titulo de Lord Mnyor). O termo
que nela brotam, com O "Esrado" p a r d i i i o d a "lealdade d o jogo" e d veio da literatura poIitica inglesa e expressa a forma d o de-
siias lels: os intelectuais fazem distinções muiro importantes quando senvotvimento social inglês. Parece que na Ii~glatcrraa burguesia nun-
são liberais e também quando sso intervencionistas (podem ser libe- ca foi concebida como uma parte integrante d o povo, mas sempre como
rais n o campo ecot~ômicoe intervencionistas n o cultural, etc.). uma entidade separada deste: aliás, na história inglesa, não foi a bur-
Os católicos prefeririam o Estado intervencionisra completamente guesia quem guiou o povo e a ele recorreu para abater os privilégios
a seu favor; na farta disto, ou onde são minoria, querem o Estado "in- feudais, mas a nobreza (ou uma fração dela) quem formou, primeiro,
diferente", para que esre não sustente seus adversários. o bloco nacional-popular contra a Coroa e, depois, contra a burguesia
industrial. Tradição inglesa d e um torismo popular (Disraeli, etc.).
g 7. Postulado. N a s ciências matemáticas, especj almente, enten- Depois das grandes reformas liberais que moldaram o Estado segundo
de-se por "postulado" uma proposiçáo que, embora não tendo a evi- os interesses e as exigências da classe média, os dois partidos funda-
dência imediata e o cardter indemonstrável dos axiomas, nem podendo, mentais da vida política inglesa se diferenciaram em torno d e questões
por outra parte, ser suficientemente demonstrada como um teorema, internas relativas à mesma classe: a nobreza adquiriu cada vez mais um
possui, com base nos dados d a experiência, uma tal verossimilhança caráter particular de "aristocracia burguesa" ligada a certas funções da
que pode ser aceita ou admitida até pelo adversario, e posta, portanto, sociedade civil e da sociedade política (Estado) referentes à tradição, à
como base de algumas demonstrações. Neste sentido, assim, o postu- educação da camada dirigente, à conservação de uma dada mentalida-
lado é u m a proposiç50 exigida para fins de demonstraçáo e constru- de que previne transformações bruscas, etc., à consolidaçáo d a estru-
çao científ~ca. tura imperial, etc.
CADERNOS DO CARCERE

A esta série puramente italiana se podem ligar outras expressks


por exemplo, o termo, de origem francesa e indica-
dor d e um fato prevalentemente francês, "Restauração".
0 par "formar e reformar", porque, segundo o significado assu
d o historicamente pela palavra, uma coisa "formada" se pode continua-
mente "reformar" sem q u e entre a formação e a reforma esteja implícito
o conceito d e um parêntese carastrófico o u letárgico, coisa que, a
contrário, está implicita para "renascimento" e "restauração". Daí se
v ê que os católicos sustentam q u e a Igreja romana foi várias vezes re-
3. Dos cadernos miscelâneas
formada internamente, ao passo que n o conceito protestante d e "Refo
mamestá implícita a idéia de renascimento e restauração do cristianis
sufocado pefo romanismo. Na cultura laica, por isto, faia-s
de Reforma e Contra-Reforma, enquanto os católicos (e especialme
te os jesuítas, q u e são mais cuidadosos e conseqüentes jnclusive n a te
minologia) não querem admitir que o Concilio de Trento tenha apen
reagido ao luteranismo e a t o d o o conjunto das tendências protestan-; f
tes, mas sustentam q u e se tratou de lima "Reforma católica" autôno- -,; 1
ma, positiva, que se teria verificado em qualquer caso. A pesquisa
história destes termos tem um significado cultural não desprezível.
CADERNO 1 (1 929-1 930)

56. Apólogo do tronco e dos ramos secos. O s ramos secos são indis-
pensáveis para atear fogo ao tronco, não em si e por si. S ó o tronco,
queimando, modifica o ambiente de frio para quente. Arditi -artilha-
ria e infantaria [I]. Estas permanecem sempre decisivas.

70. "Impressões d o cárcere", de Jacques Rivière, artigo publicado


naNor~velleR e m e Fraqaise, no terceiro aniversário da morte d o autor
(LnFiern Letferaria de l0 de abril dc 1928 publica alguns trechos do
artigo) [2]. Depois de uma revista na cela: tomaram-lhe fósforos, folhas
de papel e hrn livro: as conversações de Goethe com Eckerinann, c pro-
visões de alimento nao permitidas. "Penso em tudo quc me roubaram:
estou humilhado, tomado de vergonha, horrivelmente esbulhado. Con-
t o os dias que me cabe 'arrastar' e, embora toda a minha vontade esteja
mobilizada neste sentido, não mais estou tão seguro de chegar ate o fim.
Esta miséria lenta desgasta mais d o que as grandes provações. [,..I Te-
nho a impresszo de que podem se atirar sobre mim de todos os lados,
entrar nespa cela, entrar em mim, a qualquer momento, arrancar-me
aquilo que ainda me resta e deixar-me num canto, uma vez mais, como
urna coisa que não mais serve, arruinada, violada. Não conheço nada
mais deprimente d o que esta expectativa d o mal que se pode sofrer, li-
gada & total impotência de evita-lo. [...] Com gradaçóes e nuanças todos
conhecem este aperto n o coraçáo, esta ~ r o f u n d afalta de segurança inte-
rior, este sentimento de estar incessantemente exposto, sem defesa, a
todos os acidentes, d o pequeno aborrecimento de alguns dias de prisão
até a morte. Não h&refúgio: nem salvação nem, sobretudo, trégua. N ã o
resta nada senão dobrar-se, apequenar-se o mais possível. [...j Uma ver- matar um outro homem que quisesse d e alguma maneira tirar-lhe a vida.
dadeira timidez geral tomara conta de mim, minha imaginação não mais Estou seguro de que dessa feira todos os socialistas me responderiam
me apresentava o possível com aquela vivacidade que lhe confere ante- afirmativamente." Mas o que significava na época esta palavra? N~
cipadamente o aspecto de realidade: em mim ressecara a iniciativa. Acre- Diciorrhrio politico de Maurice Block, se me recordo bem, a palavra
d i t o que teria estado diante das mais belas oporrunidades de fuga, sem soçinlisme aparece em época mais tardia, por volta de 1830.
saber aproveith-Ias; teria me faltado aquela coisa indefinível que ajuda a
preencher o espaço entre o que se vê e o que se quer fazer, entre as cir- $ 145. O talento. Hofmannsthal dirigiu a Strauss estas palavras, a
cunstâncias e o ato que nos torna donos delas; não mais teria tido fé em dos detratores d o musicista: "Temos boa vontade, serieda-
minha boa sorte: o medo me deteria." de, coerência, o que vale mais d o que o malfadado talento, que qual-
O choro n o cárcere: o s outros percebem se o choro é "mecânico" quer patife tem." (Recordado por L. Beltrami, num artigo sobre o
o u "angustiado". Reação diferente quando alguém grita: "Quero mor- escultor Quadrelli noMnrzocco d e 2 d e março d e 1930 1.51.)
rer." Raiva e desprezo o u simples vozerio. Sente-se que todos se an-
gustiam quando o choro é sincero. Choro dos mais jovens. A idéia d a $ 147. "Em mil circunstâncias d e minha vida fiz saber q u e era
morte se apresenta pela primeira vez (envelhece-se d e uma vez só). verdadeiratnente o prior da Irmandade d e São Simplício." V Morzti 161.

$ 104. Jeaít Barois 131. Recebe os sacramentos religiosos antes de $ 156. Passado e presente. De que modo o presente é uma crítica
morrer, Depois, a mulher encontra entre seus papéis o testamento, redigi- d o passado, além de (e porque) uma "superação" dele. Mas, por isto,
do nos anos da mataridade intelectual. Nele se lê: "Por ternor de que a deve-se jogar fora o passado? Deve-se jogar fora aquilo que o presente
velhice e as doenças mc enfraqueçam a ponto de fazer-me temer a morte criticou "intrinsecarne~~te"e aquela parte de nós mesmos que a isto
e induzir-me a buscar o consoIo da religião, redijo hoje, na plenitude de corresponde. O q u e significa isto? Quc nós devemos tcr consciência
minhas faculdades c de meu equilibrio intelectual, meu testamento. Não exata desta crítica real e dar-lhe uma expressão não só teórica, mas
creio na alma substancial e imortal. Sei que minha personalidade é u n ~ política. O u seja, devemos ser mais presos a o presente, q u e n ó s mes-
o s desagregação implica a morte total. Creio no
aglomerado de ~ ~ o r ncuja mos contribuímos para criar, tendo consciência d o passado e d e sua
determinismo universal..." O testamento foi lançado no fogo. Pesquisar. continuação (e de seu reviver).

$112. Padre Facchiriei. NaRivista d'Itcília de 15 de janeiro de 1927,


foi publicado um artigo de Adolfo Zerboglio inrirulado "I1 ritorno di
padre Facchinei", autor d e um libelo contra Cesare Beccaria, N o t e ed CADERNO 2 (I 929-7 933)
osservnzioni sul libro intitolato "Dei íielitti e delle pene", publicado
por volta de 1 7 6 1 [4]. Dos trechos transcritos por Zerboglio (p. 27 da S 8. U m juz'xo de Manzoni sobre Victor Hugo. "Manzoni me dizia que
revista), revela-se que Facchinei já conhecia a palavra "socialistas": Victor Hugo, com aquele seu livro sobre Napoleão, parecia alguém que
<C
Pergunto aos socialistas mais intransigentes se um homem, encontran- se julga um grande organista e se põe-a tocar, mas falta quem faça fun-
do-se em sua primitiva liberdade, e antes de ingressar em qualquer cionar o fole para ele." R. Bonghi, "I fatti miei e i miei pensieri", Nuova
sociedade, pergunto - repito- se um homem livre tem o direito de Antologia, 1 6 de abril de 1927 [7].
005 CADERNOS MISCELÂNEOS

$ 9 . Os filósofos e a Revol1q5o Francesa. Nas mesmas memórias, d o couro.) Muitas sugestões, explicação da moda em termos de desen-
Bonghi escreve ter Iido u m artigo d e Charles Louandre na Revue volvimento econômico (luxo náo é moda, a moda nasce com o grande
des deux tnondes em q u e se fala d e um jornal (diário) d e Barbier desenvolvimento industrial) ; explicação d a hegemonia francesa na
publicado naquela época, q u e trata d a sociedade francesa d e 1718 moda feminina e inglesa na masculina; situaçio atual de iuta para con-
a 1762. Bonghi tira daí a concIusão d e q u e a sociedade francesa d e verter estas hegemonias num "condomínio": ação da América e da
Luís XV era pior, sob todos 0s aspectos, d o q u e aquela q u e se se- Alemanha neste sentido. Conseqüências econômicas especialmente para
guiu 2 Revoluçáo. Superstição religiosa em forma patológica, en- a França, etc.
quanto a incredulidade crescia na sombra. Louandre demonstra q u e
os "filósofos" deram a teoria d e uma prática já realizada, não a rea- g 86. Giuseppe Tucci, "La religiosità nell'India7', Nuova Antolo-
lizaram. @a, 16 de setembro de 1928 [9]. Artigo interessante. Critica todos os
lugares-comuns que se repetem habitualmente sobre a Índia e sobre a
$ 10. Um gondoleiro venezíano fazia grandes barretadas a um "alma" indiana, sobre o misticismo, etc. A India atravessa uma crise
patrício e breves saudações às igrejas. Um patrícío lhe perguntou por espiritual; o novo (espirito crítico) náo está ainda suficientemente di-
que fazia assim, e o gondoleiro: "Porque com os santos não se brinca." fundido para formar uma "opinião pública'' que se contraponha a o
(30nghi, ibidem 181.1 velho: superstições nas classes populares, hipocrisias, falta de caráter
nas classes superiores chamadas cultas. N a realidade, também na Índia
$ 11. M w ~ z o nei Rosmini sobre Napole6o I I . "Para e1e (Man zoni), as questões e os interesses práticos absorvem a atenção pública. (É
este Luís Napoleão não é um milagre e a presente crise d a França é evidente q u e na índia, dados o secular entorpecimento social e as
táo-somente uma interrupção na RevoIução da França. Rosmini, a o estratificaçáes ossi ficadas d a sociedade, e dada também, como ocorre
con trhrio, faz dele um braGod a Providência, um enviado de Deus -o nos g a n d e s países agrários, a grande quantidade de intelectuais médios,
que é um reconhecimento de sua moraliclade e ReligiZo; e espera mui- especialmente eclesiásticos, a crise durara por um longo tcmpo e será
to, muito. Eu estou do lado de Manzorii." (Bonghi, ibidem.) necessgria uma grande revolução para que se tenha o iriicio de uma
çolu~ão.)Muitas observações feitas por Tucci a propósito da Índia
$15. O s albaneses da Itália. Quando Scutari foi ocupada, depois poderiam valer também para muitos outros países e religiões. Ter isso
das guerras balcânicas, a Itália mandou para lá um batalhá0 e nele se presente.
incorporou um certo número de soldados albaneses d a Itália. C o m o
falavam albanês, só com uma pronúncia um pouco diferente, foram $ 92. "I problemi dell'automobilismo a1 Congresso mondiale di
acolhidos cordialmente. (De u m artigo muito tolo d e Vico Man- Roma", d e Ugo Ancona, na Nuova Antologia de l0de novembro de
tegazza, "Sulle vie dell'Oriente7', naNrmva Antologia de lo de maio 1928. (Contém algumas indicações interessantes sobre a febre das auto-
de 1927.) estradas dispendiosíssimas destes anos e sobre o puricellismo; podem
servir para Passado e presente: seria preciso estabelecer quanto, nas
S 58. Sobre n moda. Um artigo muito interessante e inteligente n a despesas públicas centrais e locais, foi para estradas indispensáveis e
Nuova Antologia de 16 de março d e 1928: Bruno D e rol, "Formazione quanto para estradas d e luxo [10].)
e organizzazione della moda". (Creio que De Pof é um industrial milanês

96
CADERNOS DO C Á R C E R E DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

5 133. Lenda albanesrr das 'Zanus" e as "Zanns" sardas. N o artigo sem chamas, perpetrado por uma Inquisição sem juiz nem sentenla..."
"Antichi monasteri benedittini in AIbania - NelLa tradizione e ne]le [12]. Eugène DYOrs,Ln vie d e Goyn, Ed. Gallimard, p. 41. Noutra pas-
leggende popolari", d o padre jesuíta Fulvio Cordignano, publicado na sagem, ele a chama d e "Inquisição difusa".
Civiltà Cnttolica de 7 de dezembro de 1929, lê-se: "Na concepção do
povo, o v a k ~ i - -
f ou seja, ruína d e igreja ou bem q u e lhe pertence 52. O peloctritzho da virtude. Poderia tornar-se o título de uma
tem em si mesmo uma força misteriosa, quase mágica. Ai d e quem toca beiíssjma seção d o noticiário (ou mesmo d a parte cultural), se feita com
naquela planta ou leva e n t r e aquelas ruínas o rebanho, a s cabras graça, inteligência e sutileza. Relacioná-la às doutrinas "criminaiistasX
devoradoras de toda folha: será subitamente colhido por u m mal; fica- expostas por Eugène Sue nos Mistérios d e Paris, para quem à justiça
rá estropiado, paralítico, mentecapto, como se tivesse topado, em meio punitiva e a todas as suas expressões concretas se contrapõe, para
aoç &ores meridianos o u durante a noite escura e cheia d e perigos, completá-la, uma justiça que recompensa. "Logo em frente ao cadafal-
com aquelas Oras, OU Z a m s , fadas invisíveis e em perfeito silêncio so se ergue um pedestal em que sobe o grande homem de bem. E o
sentadas a o redor de uma mesa redonda à beira d o caminho o u n o meio p e l o u r i n h ~da virtude [13]." (Cf. A Sagrnda Fnnzílin.)
d a trilha." Existem ainda outras referências no corpo d o artigo.
5 60. Passado e presente. O s mortos de fome e a crimi~znlidadepro-
fissional. Bohènze, scrrpiglint~~rn,frivolidade, etc. 1141. N o livro L0
s c ~ z p i g l i ~ ~ nzilrrnese
ura (Milao, Ed. "Famigli a Meneghinam, 1930, 16O,
CADERNO 3 (1 930) 267 p., 15 liras), Pietro Madini centa uma reconstrução d o ambiente
geral deste movimento literário (antecedentes e desdobramentos), in-
S 19. O problenza dos joveirs. "Os fascistas viveram t a n t o a história cluindo os representantes das scnpigli~turepopulares, como a coltt-
contemporanea que nHo têm a obrigação de conhecer a passada com pczg~~ia delln tepprr (por volta de 1817), considerada uma ramificação
perfeição." Mussolini, prefácio a Gli Accordi deE Lnterano. Discorsi nl um pouco corrompida d o Carbonarismo e dissolvida pela Áustria quail-
Parlamento, Libreria de1 Littotio, Rorna, 1929. do esta começou a temer a açao patriótica d o Bichinkowzmer. A tepprz
se tornou hoje sinônimo de criminalidade, aliás, de uma criminalidade
S 20. D o c ~ ~ m e n t do os tempo. Um documento m u i t o importan- específica, mas este desdobramento 1150 é destituído de significado para
te e interessante é o relatório d a comissáo d e inquérito sobre a ex- compreender o comportamento da velha "companhia".
pedição polar da aeronave "Italia", impresso por ordem d o Ministério O que Victor Hugo, em L'homrne qui rit, diz sobre as transgressões
d a Marinha em 1930, e m Roma, pela Rivista M a r i t t i m a . ("Ca- cometidas pelos jovens aristocratas ingleses era uma forma de teppn;
poretto" [l l].) ela deixa marcas por toda parte num certo ~ e r í o d o histórico (dandismo,
Santa Vehme, etc.), mas se conservou por mais tempo na ItAlia [15].
S 32. Tornar n vida impossível. " H á duas maneiras d e matar: uma, Recordar o episódio de Terlizzi reproduzido pelo jornal de Rerum
que se designa abertamente com o verbo marar; outra, aquela q u e fica Scriptor em 1912 ou 1913 [16j. Também as chamadas "burlas", que
subentendida habitualmente sob este eufemismo delicado: 'tornar avida tanta matéria propiciam aos narradores dos séculos XIV-XVI, cabem
impossível'. É a modalidade d e assassinato lento e obscuro, q u e requer neste quadro: o s jovens de uma classe desocupada economicamente e
u m a multidão de cúmplices invisíveis. É um auto-da-fé sem coroza e politicamente se tornam teppistns.
-l 1 14. Passado e presente. "Quando os velhacos ricos têm necessi-
dade dos velhacos pobres, estes podem impor aos primeiros o maior 5 65. ~nsscldoe presente. Artigo d e Salvatore Di Giacomo sobre a
) preço que quiserem." S hakespeare ( n o Tímon de Atemzs) (?). ccimpraticabilidadeY'das ruas populares de Nápoles para o s "sonhado-
res" e o s "poetas"; das janelas caíam vasos d e flores que esmagavam o s
$ 139. Passado e presente. Para reunir as notas desta rubrica, chapéu^-^^^^ e o s palhetas dos senhores, e até o s respectivos crânios
er antes 0 s Ricordi politici e ciuili, d e Francesco Guicciardini 11171.
(artigo n o Giornale d31tulia d e 1920). Episódio dos tomates que cus-
São riquissi mos de indicações morais sarcásticas, mas apropriadas. tam dinheiro e das pedras que não custam. Sensação d e distanciamento,
Ex. : "Roguem a Deus q u e sempre se encontrem d a parte vencedo-
de diferenciação, num ambiente primitivo, "quente", que acredita es-
ra, po<que Ihes será dado louvor mesmo por coisas em q u e não ti-
tar a impunidade ao alcance d a mão e se revela abertamente. Este
T7erai-n parte, assim como, a o contrário, quem se encontra d a parte
mesmo ambiente primitivo, em tempos "normais", é dissimuladamente
perdedora ser2 acusado de infinitas coisas pelas quais n á o tem a
adulador e servil. Episódio d o homem d o povo veneziano, narrado por
menor culpa."
Manzoni a Bonghi: desfazia-se em reverências e barretadas ante o s
Recordar uma afirmaçáo de Arturo Labriola (ait Intro ...) sobre como
inclinava-se sobriamente ante as igrejas; interrogado sobre este
é moralnlente revoltante ver as massas censuradas por seus antigos Ií-
aparente menor respeito pelas coisas sacras, respondeu numa piscade-
deres, que mudaram de lado, a o fazer aquilo que estes mesmos lideres
la: "Com os santos não se brinca." Como se manifestava a diferencia-
haviam ordenado que fizessem [Ia].
ção numa cidade moderna? Exemplos e episódios.
Quanto aos Ricordi, de Guicciardini, ver a edição "Rinascimento
de1 libro", 1929, com prefácio de Pietro Pancrazi.

3 § 166. Passado e presente. Para a ordenação exata das notas desta


CADERNO 5 (1 930-1932)
) rubrica, para ter sugestóes e auxiliar a memória, será preciso examinar
cuidadosarnentc algumas colcçóes de revistas: por exemplo, d a Italin
che scriue, de Formiggini, que em determinadas seções d á um quadro
5 29. Oriente-Ocidente. N u m a conferência pubficada n o voliirne
L'enérgie spirituelle (Paris, 1920), Bergson busca resolver o problema:
d o movimento pratico d a vida inrelectual - fundas50 de novas revis-
) tas, concursos, associações culturais, erc. (Coluna das coIunas) -; d a a que teria acontecido se a humanidade tivesse voltado o próprio inte-
resse e a própria investigaçáo mais para os problemas da vida interior
) CiviltCr Crrttolicn, para compreender certas posições suas e para as ini- do que para os d o mundo material? O reino d o mistério teria sido a
1 ciativas e afirmações de entidades religiosas (por exemplo, em 1920, O
episcopado lombardo se pronunciou sobre as crises econ6micas, afir- matéria e não mais o espírito, diz ele.
mando qiie os capitalistas e náo os operários devem ser os primeiros a Será preciso ler esta conferência. N a realidade, "humanidade" sig-
) sofrer suas conseqüências). A CiviltCr Cattolicn publica alguns artigos nifica Ocidente, porque o Oriente se deteve na fase da investigaçáo
voltada apenas para o mundo interior. Com base n o estudo da confe-
) sobre o marxismo muito interessantes e sintomáticos. rência de Bergson, a questão a ser formulada seria esta: se não terá
sido exatamente o estudo da matéria - isto é, o grande desenvolvi-
mento das ciências, entendidas como teoria e como aplicação industrial
DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

-que fez nascer o ponto d e vista segundo o qual o espírito é um "mis- 5 110. França e Itblia. N a Histoire d ú n çrinze, V H u g o escreve:
<'Todo homem de sensibilidade tem duas pátrias neste século. A Roma
tério", na medida em que imprimiu a o pensamento uni ritmo acelera-
d o de movimento, fazendo pensar n o que poderá ser "o futuro do do passado e a Paris de hoje." Esta pátria d e outrora associada à d e hoje
que a França seja a herdeira d e Roma: eis uma afirmação
espírito" (problema q u e náo se apresenra quando a história está esrag-
que náo se fazia, e particularmente não se faz, sem desagradar a muitos.
nada) e, portanto, fazendo ver o espírito como uma entidade misterio-
sa q u e se revela um pouco caprichosamente, etc.
S 148. Passado e presente. Pesquisas sobre os jovens. A pesquisa
"sobre a nova publicada na Fiera Letteraria entre 2 de de-
$ 89. Cabriele Gabrielli, "India ribelle", n a N u o v a Antologia de
zembro d e 1928 e 17 de fevereiro d e 1929. N ã o muito interessante.
l0de agosto d e 1929. (Este senhor G. G. se especializou em escrever
0 s professores d a Lniversidade conhecem pouco o s jovens estudan-
notas e artigos na Ntcova Antologia e, provavelmente, em alguns jor-
tes. O refrão mais frequente é este: o s jovens não mais se dedicam às
nais diários, contra a atividade d o Ispolcom [19]. Serve-se do mate-
investigações e aos estudos desinteressados, mas tendem a o proveito
rial que a Entente contre la T. I. publica em Genebra, especialmente imediato. Agostino Lanzillo responde: "Hoje, especialmente, nós não
em seu boletim mensal, e tem simpatias genéricas pelo movimento conhecemos a alma dos jovens e seus sentimentos. É difícil conquis-
em defesa d o Ocidente d e Henri Massis: simpatias genéricas porque, tar sua alma: eles se calam de muito bom grado sobre o s problemas
enquanto para Massis a força hegemônica d a união latino-católica s ó culturais, sociais e morais. Será desconfiança ou desinteresse?" (Fiera
pode ser a França, para Gabrielli deve ser a Itália; a propósito de Letternria, 9 d e dezembro d e 1928.) (A única observação realista da
Massis e d a defesa do Ocidente, deve-se recordar q u e o Padre Rosa, pesquisa é esta d e Lanzillo.) N o t a ainda Lanzillo: "[ ...I há uma disci-
na resposta a Ugo Ojetti, refere-se a ele de modo muito ríspido; Rosa plina fkrrea e uma situaçáo d e paz externa e interna, que se desen-
vE aí um perigo de desvio o u um desvio p u r o e simplcs d a ortodoxia volve n o trabalho concreto e produrivo, mas q u e não permite a
romana [20]-) liberação de concepçóes políticas ou morais opostas. Aos jovens falta
4.675.000 km2,3 19 milhões de l-iabitanres, 247 milhões de habi- o ambiente para se agitarem, para rnanifesrar formas exuberantes d e
tantes nas quinze enormes províncias administradas diretamente pelo paixão o u de tendências. Dai nasce e decorre uma atitude fria e si-
Governo ingIês, que ocupam metade d o território; a outra metade se lenciosa q u e é uma promessa, mas que também contém inçógt~itns."
reparte entre cerca de 7 0 0 estados tributários. Cinco religiões princi- No mesmo número da Fiera Letterarin a resposta d e Giuseppe Lom-
pais, uma infinidade d e seitas, 150 línguas e dialetos; castas; analfabe- bardo-Radice: "Existe hoje entre os jovens escassa paçiê~zçiapelos
ti srno dominante; 80% d a populaçáo, camponeses; escravidáo d a estudos científicos e históricos; pouquissimos enfrentam u m traba-
mulher, pauperismo, carestias endêmicas. Durante a guerra, 985.000 l h o q u e requeira longa preparação e ofereça dificuldades d e pesqui-
indianos mobi1izados. sa. Em geral, querem desernbaraçnr-se dos estudos; tendem sobretudo
Relações entre Gandhi e Tolstoi no período 1908-1910 (cf. Romain a buscar um emprego rapidamente e afastam o espírito das investiga-
Rolland, "Tolstoi et Gandhi", na revista Europe, 1928, n o número es- ções desinteressadas, aspirando agnnhar e demonstrando aversão às
pecial sobre Tolstoi). O artigo t o d o é interessante, na falta d e outras carreiras q u e Ihes pareçam excessivamente lentas. Malgrado tanta
i nformações. 'filosofia' em circulaç50, é pobre seu interesse especulativo; sua cul-
tura se compõe de fragmentos; pouco discutem, pouco se dividem
em grupos e cenáculos cujo emblema seja uma idéia filosófica ou re-
s 30. Noções enciclopédicas. A afirmação segundo a qual
pode destruir sem criar" é muito difundida. Já antes de 1914 eu a ti-
ligiosa. O t o m diante d o s grandes problemas é d e ceticismo, o u de
nha lido na Ideu Nazionale, q u e não passava de um bricabraque de ba-
respeito inteiramente exterior por aqueles q u e o s consideram a sé-
nalidade~e lugares-comuns. Todo grupo OU grupelho que se acredita
rio, ou de adoçiio passiva de u m 'verbo' doutrimírio." "Em geral, 0 s
d e novidades históricas (e se trata de velharias encanecidas)
mais bem-dispostos espiritualmente são o s estudantes universitários
se afirma, cheio d e dignidade, destruidor-criador. É preciso eliminar a
mais pobres" e "os mais ricos, em sua maioria, são inquietos, impacien-
banalidade d a afirmação que se tornou banal. N ã o é verdade que basta
tes ante a disciplina dos estudos, apressados. Destes não virá uma classe
espiritualmente capaz d e dirigir nosso país." . querer para "destruir". Destruir é muito difícil, exatamente tão difícil
q~anto.criar.Porque não se trata de destruir coisas materiais, trata-se
Estas observações d e Lanzillo e de Lombardo-Radice são a única
de destruir "relações" invisíveis, impalpáveis, ainda que se escondam
coisa séria de toda a pesquisa, d a qual participaram, aliás, quase exclu-
nas coisas materiais. É destruidor-criador quem destrói o velho para
sivamente professores d e Letras 1211. A maioria respondeu com "atos
d e fé", não com constataçóes objetivas, o u confessou não poder res- trazer à luz, fazer aflorar o novo que se tornou "necessário" e urge
implacavelmente n o limiar d a história. Por isto, pode-se dizer que se
ponder.
destrói na medida em que se cria. Muitos pretensos destruidores nada
são além de "promotores d e abortos", passíveis de sansáo pelo código
3
penal da história.
> CADERNO 6 (1 930-1 932)
1 $ 154. Os snint-simonianos. A força expansiva dos saint-simo-
$ 15. Noções enciclopédicas. "Muitas vezes o q u e as pessoas chamam nianos. Recordar a observação de Goethe nas Memórias (cf.), escritas
de inteligência é apenas a faculdade de entender as verdades secundá- em 1828: "Estes senhores d o Gloòe [...I estão imbuídos de um mesmo
rias, em detrimento das verdades fundamentais." "O que, em maior espíritoi N a AIemanha, um jornal assim seria impossível. Nós somos
medida, nos pode fazer desesperar dos Ilomens é a frivolidade." (Dois apenas indivíduos privados; não se pode pensar num acordo; cada um
aforismos de Ugo Bernasconi n o Pègaso de agosto de 1930: "Parole tem a opiniso de sua província, d e sua cidade, de seu próprio eu indi-
alla buona gente7' [Z2].) vidual, e será necessário muito tempo antes que se criem sentimentos
Esta inteligência também é chamada, genericamente, d e "talento" comuns*
e se evidencia naqueIa forma de polêmica superficial ditada pela vai-
dade de parecer independente e d e não aceitar a autoridade de nin- 5 256. Sobre o cnpitalismo antigo, ou melhor, sobre o indus-
guém, de modo que se tenta contrapor a uma verdade fundamental, trialismo antigo, deve-se ler o artigo d e G. C. Speziale, "Delle navi di
como objeções, toda uma série d e verdades parciais e secundárias. Nerni e dell'archeologia navale", na Nt.novnAntologia de l0 de novem-
Deve-se ver muitas vezes "frivolidade" na tolice pretensamente bro de 1930 (polêmica com o Prof. Giuseppe Lugli, que escreveu n o
séria: aliás, chama-se "frivolidade" em certos intelectuais e nas mulheres Pègaso; artigos em jornais da mesma época). O artigo de Speziale é
aquilo que na política, por exemplo, é justamente tolice e provin- muito interessante, mas parece que ele exagera na importância dada
cianismo mesquinho. às possibilidades industriais na antiguidade (cf. a questão sobre o capi-
talismo antigo discutida na Ni,tovn Rivista Storicn). Falta a Speziale, me
CADERNOS DO CARCERE

parece, a noçáo exata d o q u e era a Lcmáquina"n o mundo clássico e do picaz, aliás, o antigo diretor d o Hibbert Jouruml Uacks, "The Universe
que é hoje (esta observação vale especialmente para Barbagallo & Cia.). as philosopher", Hibbert Journal, outubro d e 1927, p. 26), narrava ter
As "novidades" nas quais insiste Speziale não saem ainda d a definisão a uma conferência em que se extraía a prova da existência de
que Vitrúvio dava da máquina, ou seja, engenhos capazes de facilitar o Deus da necessidade d e postular um proprietário ou possuidor do
movimento e o transporte de corpos pesados (ver com exatidão a de- C o m o é que se pode acreditar que uma propriedade tão vasta,
finição de Vitrúvio) e, por isto, são apenas novidades relativas. A má- tão privilegiada e frutífera não pertença a alguém? Em substância, é a
quina moderna é coisa inteiramente diferente: ela não só "ajuda7' o mesma pergunta que faz, falando a si mesmo em sublime monólogo, o
trabalhador, mas o "substitui": pode ser, e não surpreende, que mes- Pastor e m n t e na Ásia, d e Leopardi. Pode persistir a dúvida se houve,
m o as "máquinas" d e Vitrúvio continuem a existir ao lado das "mo- ou não, uma causa primeira d o mundo. Mas a necessidade d e um pri-
dernas" e que naquela direção os romanos pudessem ter a l c a n ~ a d ouma meiro possuidor deve-se mostrar evidente e indiscu$vel." Chiappelli
certa perfeiçáo, ainda ignorada, mas nisto nada há d e "moderno" no esquece que também n o Credo se diz que Deus é "criador e senhor
sentido próprio da palavra, q u e foi estabelecido pela revoluçáo indus- (dominus: dono, proprietário) d o céu e d a terra".
trial, isto é, pela invenção e difusão de máquinas que "substituem" o
trabalho humano precedente. g 191. América e maçonaria. Cf. o estudo "La Massoneria ameri-
cana e Ia riorganizzazione della Massoneria in Europa", publicado na
$ 167. Nogões enciclopéliicas. Bog e bogati. Observou-se em a1- Civiltà Cattolica d e l0d e novembro d e 1930 e 3 de janeiro de 1931.
g ~ lugar
m que as relações entre Bog e bogati são uma coincidência for- O estudo é muito interessante e parece bastante objetivo. A atual situa-
rui t a do desenvolvimento linguístico de uma determinada cultura çiio internacional da maçonaria, com suas lutas internas herdadas da
naci on (2.31. Mas o fato não é exato. N as línguas neolatinas apareceu guerra (França contra Alemanha), revela-se claramente. Depois da guer-
o vociíbulo germâriico "rico" para obscurecer a relação q u e em latim ra, foi fundada a Association Maçonnique Ir~ternationale,com sede cm
existia entre deus, d i v a e diuítes, divitine (abundância, abundantc, e t c ) Genebra, sob o estímulo da maçonaria franco-belga, cujo objetivo era
[24]. N u m artigo de Alessandro ChiappelIi, "Come s'i nquadra i I reorganizar as forças. O primeiro problema era o de reconduzir as
pensiero filosofico nell'economia de1 mondo" (Ntsova Antologia de 1" maçonarias alemá e anglo-saxõnica à liderança da maçonaria franco-
d e abril d e 1931), podem-se buscar elementos para mostrar q u e em belga, sob o patrocinio da maçonaria americana. O Padre Pirri (que é
t o d o o mundo ocidental, à diferença d o asiático (índia), a concepção o especialista em questões maçônicas da Civiltir Cattolicn) publicou
d e D e u s liga-se estreitamente à concepção de propriedade e proprietcí- um opúsculo sobre a AMI formado por separatas da revista. Parece que
"r
rio: ...I (o) conceito de propriedade é não só o centro de gravidade e a AMI fracassou completamente e que o s americanos retiraram seu
a raiz de t o d o o nosso sistema jurídico, como também a trama d e toda apoio 2 França. 0 s alemães responderam a essa iniciativa ampliando
a nossa estrutura civil e moral. Até nosso conceito teológico fre- as bases d e uma Espermzto Framasom, que já existia antes d a guerra e
quentemente se forjou com base neste modelo e, às vezes, representa- foi reorganizada como Universala Framasom Ligo (Allgemeine Frei-
se Deus como o grande proprietário d o mundo. A rebelião contra Deus maurerliga), a qual, com base na difusão d o esperanto, pretendeu criar
n o Paraíso perdido de Milton, como antes n o poema d e Dante, é figu- um novo tipo de maçonaria agnóstica nas questões de religião e d e
rada c o m o a temerária tentativa de Satanás ou Lúcifer para desapossar política (a maçonaria francesa é iluminista e democrática). Parece que
o Onipotente e depô-lo de seu altíssimo trono. Um colaborador pers- a maçonaria americana ajuda agora os maçons alemães (da Alemanha
DOS CADERNOS M I S C E L Â N E O S

7
) e da Áustria) contra o Grande Oriente Francês. Ossian Lang, maçom
rem o grande artista algum conceito / que O bloco só em si
,-ir-
americano, viaja continuamente à Europa para este trabalho d e reor- cunscreva / com seu excesso, e s ó a ele chega / a mão que obedece a*
J ganização. (Recordar q u e a maçonaria americana é muito rica e pode
intelecto." Retirar o excesso de mármore que esconde a figura con-
) finimciar estas iniciativas.) A Ligo está se difundindo em toda a &ro-
cebida pelo artista, a golpes vigorosos d e martelo sobre o bloco,
) pa; ela parece mostrar-se mais conciliadora e tolerante em relação a o corresponde à operaçáo d a parteira que traz à luz a criança, rasgando
d o q u e a velha maçonaria d e t i p o francês. A CiviZtà o ventre materno.
Cattolica trata amplamente desta atitude, que deu lugar a u m encon-
t r o de três representantes daligo com o jesuitaPadre Gruber, estudio- 5 59. O saint-simonismo na Itdlia. Estudar a difusão do saint-
s o de questões maçônicas; deve-se recordar este fato, já que tem um simonism~:existem algumas publicações na Itália. Seria possível pen-
) certo valor para a história da cultura. Rito simbóiico e rito .escocês:

'
sar que as idéias d o saint-simonismo vulgar foram divulgadas através
arece que o rito simbólico é mais forte nos países latinos e o rito esco-
de Sue.
Eês nos países anglo-sax6nicos; portanto, toda essa atividade america-
n a poderia reforçar a maçonaria d e rito escocês. § 76. Noções enciclopédicas. Bibliografict. Recolher os dados bi-
3 b]iográficos das publicações enciclopédicas especial izadas em política,
g 198. Passado e presente. "Forq-ar os textos". Vale dizer, fazer com
sociologia, fiIosofia, economia. Pode-se começar com o Diçionhrio fi-
que os textos digam, por amor à tese, mais d o que realmente dizem. Este
losófico de Voltaire, em que "filosófico" significa precisamente "enci-
erro de método filológico também se verifica fora d a filologia, em todas
clopédico", nos termos da ideologia d o enciclopcdismo ou iluminisn~o.
as andises e exames das manifestaçGes de vida. Corresponde, n o direito
~ e c o r d a ro Diciondrio politico de Maurice Block, quc é o "'dicionário
penal, a vender com peso menor e qualidade diferente daqueles estipu-
filos6fic0" d o liberalismo francês. O Dictionnnire politique et critiq~de
lados, mas não é considerado crime a não ser que seja evidente avonta-
de CharI es Maurras (segundo a Nómvelles Littkrnires de 14 de novem-
de de enganar: mas a negligência e a incompetência não merecem
bro de 1931,parece q u e deste trabalho de Maurras jii saíram 20 fascí-
punição, pelo menos uma punição intelectual e moral, se nêo judiciária?
culos de 96 p. cada um; cada fascículo custa 10 francos; Ed. "La Cité
des Livres").
$ 204. Passado e presente. U m dito popular: O amor à dúvida.
Recordar também o provérbio inglês: "Com cem Iebres não se faz um
$ 8i6. Noções ar~iclopéclicas.Bibliogrnfius. N a bibliografia de um
cavalo, com cem suspeitas não se faz uma prova 1251."
dicioniirio político e crítico, é preciso considerar: 1)os dicionsrios c as
enciclopédias gerais, na medjda em que dão as explicações mais co-
muns e vulgares (difundidas) da terminologia - das ciências morais e
CADERNO 7 (1 930-1 931) políticas; 2) a s enciclopédias especiais, ou seja, as enciclopédias
publicadas pelas várias correntes intelectuais e políticas, como os cató-
5 7. A metdfora da parteira e a de Michelangelo. A metáfora d a par- licos, etc.; 3) o s dicionários políticos, filosóficos, econômicos, etc.,
teira que ajuda, com seus instrumentos, a criança a nascer do ventre existentes nos vários países; 4) os dicionários etimológicos gerais e
materno e o princípio expresso por Michelangelo nos versos: "Não especiais, por exemplo, o de Guarnerio, para os termos derivados d o
grego, publicado por Vallardi (me parece) [26].
V' )

,I!
DOS CADERNOS MISCELANEOS
3
$3
C o m o a terminologia adquire diversos conteúdos segundo as 5 17. Passado e presente. Pode-se julgar uma geração segundo o
mesmo juizo que dá da geração anterior, um periodo histórico segun-
'b 1
épocas e segundo as diversas correntes ciilturais, intelecruais e polf-
ticaç, a bibliografia geral teoricamente é indefinivel, porque abran- do seu próprio modo de considerar o periodo pelo qual foi precedido. \
,.{i!
>
ge toda a literatura geral. Trata-se d e limites a serem postos: um Uma geração q u e menospreza a geração anterior, que não consegue
ai
dicionario político e crítico limitado a um certo nível cultural e de ver-lhe a grandeza e o significado necessário, s ó pode ser mesquillha e
sem confiança em si mesma, ainda que assuma pose de gladiador e
'
ii
>
carater elementar, q u e deveria se apresentar como uma experiência í,
mania d e grandeza. É a habitual relaçáo entre o grande homem e o 11
parcial.

1:
d e quarto. Destruir tudo para emergir e destacar-se. Ao contrá-
Entre os livros gerais, recordar O de Mario Govi, Fondazione de&
rio, uma geração vital e forte, q u e se propõe trabalhar e afirmar-se,
metodologin. Logicn ed epistemologin, Bocca, Turim, 1929, 579 p., para -I
tende a superestimar a geração anterior porque sua energia lhe d á a s

as i l o ~ ó e históricas
s sobre a classificação das ciências e outros proble-
segurança de que irá além; vegetar, simplesmente, já é superação da- iI
mas de método, etc. [27].
quilo que é pintado como morto.
1i 7
'I)
Censura-se a o passado não ter realizado a tarefa d o presente: \

fj 106. N o ~ ó e erz~iclopddicas.
s Bibliografia. A Londorz BibEiogrnpky
como seria mais cômodo se o s genitores já tivessem feito o trabalho ji)
o f t h e socinl science. Conzp. u~aderthe direction of 3.M. Henciicnr nnd $1
dos filhos. N a desvalorizaçáo d o passado está implícita uma justifi-
C. .Fl~ller,.with niz introduction by S. Webb. Saiu o 3 O v01 ume, de P a Z, caça0 d a nulidade d o presente: quem sabe o q u e faríamos, se nos- I
3
iil-8", XI-2.232 p. Será em 4 vols., Londres, Scbool of Eco~~ornics nnd sos genitores tivessem feito isto e aquilo... mas eles náo o fizeram e, ,-I
Political Science. portanto, nós não fizemos mais nada. Um sótão sobre um andar-
I
térreo será menos sótao d o q u e o u t r o sobre o décimo ou o trigési-
m o andar? Uma geração q u e s ó sabe fazer sótaos lamenta que o s )'I
CADERNO 8 (1 93 1-1 932)
antecessores já não tenham construido edifícios de dez ou trinta
andares. Diz ser capaz de construir catedrais, mas só é capaz d e
li)
.I)
construir sótáos.
$ 13. Passada e presente. Mnnzoni dialktico. Cap. VI11 d e Os ~ioivos,
Diferença em relação ao Maí~ifesto,que exalta a grandeza da clas- ' i'*)
episódio d a tentativa de Renzo e Lucia para surpreender Dom Abbondio
e se casarem em casa: "Renzo, que fazia estrépito à noire em casa al heia,
se que agoniza.
5
ii
n a qual se introduzira às escondidas, e mantinha o próprio dono sitia-
34. Pnssiido e presente. Bibliografin. Provedoria Geral d o Esta- li
>
do num aposento, tem toda a aparência de opressor; n o entanto, afi- do. PubIicaçóes editadas pelo Estado ou com seu apoio: Spoglio dei
4i
>
nal de contas, era o oprimido. Dom Abbondio, surpreendido, posto periodici e cielle opere collettiue 1926-1930 (primeira parte: Escritos
e m fuga, atemorizado, enquanto cuidava tranqüilamente d e seus as-
1
biográficos e críticos; segunda parte: Divisão por assunto), Ed. Libreria ii
suntos, pareceria a vítima; n o entanto, na realidade, era ele quem co- dello Stato, Roma.
Z
metia um abuso. Assim acontece muitas vezes n o mundo ... querq dizer, )
assim acontecia no século XVII."
B
50. N o ~ ó e enciclopédicas.
s Epígonos e dibdoços. H á quem em- )
pregue o termo 'cepigono'' d e modo bastante curioso e elabore em 3
SISBI / UFU )
di
1000312809 t )
1
A )
)torno dele t o d a uma teoria sociológica bastante bizarra e inconclu- S 116. Passado e presente. Phlipot. A farsa dos Eois Galants et
Mente. Por q u e os epígonos deveriam ser inferiores aos fundadores? phlipot, contida em Recuei1 de farces, etc., organizada por Le Roux
e
)Por q u e o conceito de degenerado deveria ser ligado a o de epígono? de Lincy e F- Michel (Paris, Techener, 1837, em 4 volumes) (no 4 O
;
S.]a tragédia grega, os "epigonos" realmente levam a cabo a tarefa que voI., n. 12). Phlipot, quando escuta o "Qui vive?", responde imedia- f

os "Sete em Tebas" não conseguiram cumprir. O conceito de degene- tamente: "Je me rends!", e grita em seguida: "Vive France! Vive i
Jraçao, a o contrario, est8 ligado aos diádocos, o s sucessores de Ale- Angleterre! Vive Bourgogne!"; até que, ameaçado d e todas as partes i
3andre. e não sabendo onde se meter, grita: "Viva os mais fortes!" Farsa fran- I
i
cesa d o século XV-XVI.
> 65. Noções enciclopédicas. Bibliografia. Um Dizionario di so-
.I
'ciologin de Fausto Squillace foi publicado pelo ed. Remo Sandron, de 5 125. Noções enciclopédicas e temas de cultura. Pode ser este -
> ~ a l e r m o ,e o livro teve uma segunda edição inteiramente revista (12 o titulo geral d a rubrica na qual recolher todas as sugestões e moti-
Jliras). Squillace é um escritor de tendência sindicalista, muito superfi- vos até agora anotados, às vezes sob variados títulos. Sugestões para
>cial, que nunca conseguiu sobressair entre seus pares. um dicionário d e política e critica, noções enciclopédicas propria-
mente ditas, motivos de vida moral, temas d e cultura, apólogos fi-
3 5 71. Passado e presente. Qr~sstõese polêmicas pessoais. A quem ~osóficos,etc.
)servem? Aqueles que pretendem reduzir as questões gerais e d e princí- 1) Ultras. Diferentes nomes dados na França e na Alemanha aos i
-)pio a escaramuças e caprichos pessoais, a casos d e ambição individual, católicos, favorhveis a uma influência d o papado em seus respectivos I

!
/
'apassatempos literários e artísticos (quando são literários e artísticos). países, o que afinal significa, em grande medida, que lutavani para J
:
' O interesse d o público é desviado: de parte em causa, o piíblico se tor- aumentar sua força d e partido com a ajuda d e uma potência estrangei- : i
)na mero "espectadora' de urna luta de gladiadores, que aguarda os "be- ra (não só "espiritual e cultural", mas também temporal - e como! - '1

)los golpes" em si e por si: a política, a literatura, a ciéncia são degradadas porque iria pretender arrecadar impostos, dizirnos, etc., e dirigir a
7 competiçáo 'esportiva". Por isto, é preciso conduzir as polêmicas política internacional). Era uma forma, em determinados momentos,
pessoais neste sentido, ou seja, é preciso levar o público a perceber q u e de "partido d o estrangeiro" (oposto a "galicano", na França).
)de te fnbirlo narratur. 2) Artesiio. Artesar~to.De um artigo de Ugo Ojetti ("Arti e artigiani
i d'lralia", n o Corriere de 10 de abril de 1932) extraio algumas suges-
) S 103. Sobre a Chi~za.M . T. 2. Tyan, Two years of nntionalist tões: segundo a lei italiana, é artesão quem não emprega mais de cinco
Chiraa, KelIy and Walsh, Xangai (de 1930 ou 1931).Obra documen- trabalhadores se exerce um ofício artesanal, mais d e três se exerce um
1taI (cerca de 500 páginas), que parece ser muito interessante e bem- ofício comum. Definição imprecisa. "A caracrerística d o artesão é tra-
)feita. História de dois anos. Kuomintang, organizaçáo d o Governo balhar ele mesmo com suas mãos em sua arte ou ofício. O fato de de-
) nacionalista, estatísticas sobre a vida chinesa, apêndice d e docurnen- penderem dele cinco ou dez pessoas náo muda seu caráter d e artesão,
)tos. O autor, um dos jornalistas políticos chineses mais capazes e pre- aquilo que o distingue imediatamente d o industrial." Mas também esta
parados, é diretor d o jornal The Peking Leader e d a Chinese Social definição é imprecisa, porque o artesáo pode não trabalhar mas dirigir
)and Pditiçnl Reuiew. o trabalho de uma oficina: a definição deve ser buscada n o modo d e
1 produção e d e trabalho.
N a Alemanha existe o registro de ofício, que, como O oficio, tem 5 148. Noções enciclopédicns. Bibliografia. Robert MiclielS, haro-
três graus: o aprendiz, "que chamaríamos mais adequadamente de dr&one alia storia delle dottrirre economiche e politiche, in-lóO, ~111-
garíone ou tiovizio7', o "companheiro", q u e completou o treinamento 3 1 0 p., Bolonha, 1932, 15 liras.
de aprendiz, e o "mestre7'. Dicioruírios: de Guil laumi n, Dictionnaire de Z'économie politique,
Ojetti emprega a palavra "companheiro" para indicar o trabalha- publicado pela "Librairie de Guillaumin & C.", Paris (4' ed. de 1873),
dor artesão já formado profissionaImente, mas como se justifica esta de Palgrave.
palavra? N á o historicamente, porque n o italiano não permaneceu o Cossa, Introdtdzione allo strndio delle dottrine e c ~ n o m i c h Ricca-
~;
uso, corno n o francês e n o alemão, d e uma palavra que antigamente Salerno, Storia delle dottrine finanzinrie.
tinha um significado jurídico preciso e hoje não tem significado "pro-
fissional", mas só de posição "econômicay'. Profissionalmente, o "com- 5 149. Temas de cultura. Uma série d e "temas" pode ser oferecida
é um "mestre", mas náo tem a propriedade d e uma oficina pela descrição crítica d e alguns grandes empreendimentos editoriais
e deve trabalhar para o outro, que é justamente o proprietário. de cultura, como a Coleção dos Economistas Italianos (50 volumes) d e
Custodi, a Biblioteca dos Economistas (80 volumes) d e Ferrara-Boccar-
$ 138. Noções enciclopédicas e temas de cultura. Toda nação tem do, a Coleção d e História Econômica (8 volumes) d e Pareto-Ciccotti,
seu poeta ou escritor n o qual sintetiza a glória intelectual da nação e a nova coleçiio projetada por Bottai (a coleção de escritores políticos
da raça. Homero para a Grécia, Dante para a Itália, Cervantes para a de Attilio Brunialti).
Eçpanha, Carnóes para Portugal, Shakespeare para a Inglaterra, Goerhe
para a Alemanha. Deve-se observar que a França não tem nenhuma 5 150. N o ~ õ e senciclopédicas. Demiurgo. D o significado origi na1
grande figura que seja indiscutivelmente represenrativa, assim como de "trabalhador para o povo, para a comunidade" (artesao) até os sig-
náo a têm os Estadas Unidos. Para a Rússia se poderia falar de Tolstoi? nificados atuais de "criador", erc. (Cf. os escritos de Filippo Burzio [29].)
Para a China, de Confúcio?
O caso francês é notiivel porque a França tradicionalmente é país 5 154. Passado e presenle. Franz Weiss, articulista dos L3robZen~ide1
unitário por excelência (Victor Hugo?), inclusive n o campo d a cultu- lauoro, poderia ser cl-iarnado o novo "ruminador de frases feitas" e a
ra, aliás, especialmente neste. A data em que estas figuras apareceram coletânea de seus textos, o novo livro das Sete Trombetas [30].
na história de cada nação é elemento interessante para fixar a contri- Um outro articulista, o do Lavoro (a estrelinha de Weiss tem seis
buição de cáda povo 2 civilização comum e também sua "atualidade pontas, a de Ansaldo cinco pontas: Ansaldo também é identificado como
cultural". C o m o "elemento ideológico" atualmente operante, a gran- "estrela negra" d o Lnvoro), é mais "aristocrático7', quer no estilo, quer
deza de Homero projeta glória sobre a Grécia? O s a d ~ ~ i r a d o r edes no conteúdo dos argumentos [3 11, A "popularidade" d o estilo de Weiss
Homero se habituaram a distinguir a Grécia antiga d a ~ r é ; i amoderna. consiste especialmente n o fato de que seus artigos borbulham de pro-
vérbios e ditos populares (mais sentencioso do que Sancho Pança: se-
§ 144. Noções enciclopédicas. Bibliografia. Rezasco, Dizionario de1 ria possível fazer uma coletânea de "frases profundas"): "tantas vezes
linguaggio italiano storico e nrnrnir~istrativo,Florença, 1881. (Náo o vai o cântaro à fonte, velha bandeira de luta, galinha velha, julgar é
conheço. Ver como está organizado, de que tendência política, e t c ; facil, dois pesos e duas medidas", etc.; ver também a familiaridade "fal-
elogiado por Einaudi i281.) sa" e a jovialidade d e cocotte cansada [32]. Tem-se a impressão d e que
005 CADERNOS MISCELANEOS

CADERNO 9 (1 932)
we;sçpossui um estoque d e provkrbios e ditados para pôr em circula-
ção, assim como o caixeiro viajante tem seu estoque de anedotas: quan- § 14. Passado e presente. Franz Weiss e seus provérbios. Ver Dom
do quer escrever um artigo, não Ihe importa O conteúdo d o artigo, mas Quixote, segunda parte, cap. XXXIV: "Maldito sejas, por Deus e por
a quantidade de provérbios a empregar. O desenvolvimento literario é todos o s santos, Sancho amaldiçoado - acudiu D. Quixote -, quan-
ditado niio pela necessidade intima da demonstração, mas pela neces- do virá o dia, como já por muitas vezes tenho dito, em que eu te ouça
sidade de enxertar as preciosas gemas d a sabedoria dos povos. Com- expender, sem provérbios, razões correntes e concertadas?" (cf., su-
paração com Corso Bovio, que, em lugar dos provérbios, adorna os pra, caderno 8, 5 154) [34]. Nos conselhos q u e Dom Quixote dá a
artigos com g a n d e s nomes; toda colunazinha d e jornal é um passeio Sancho antes d e se tornar governador d a ilha, um parágrafo está dedi-
panteâo da Sociedade das Nações: é preciso q u e apareçam, por cado a o excesso d e provérbios: "- Também, Sancho, não metas a cada
coluna, menos cinqüenta nomes, de PitAgoras a Paneroni, d o instante nas tuas falas uma caterva de rifões, como costumas, que, ai*-
Eclesiastes a Tom Pouce {33]. C o m o exempio de degradaçáo literária da que os rifões sejam sentenças breves, muitas vezes os trazes tanto
se poderia analisar um artigo de Weiss e outro de Corso Bovio. '(Mas
hd um pouco de Bovio em Weiss e um pouco de Weiss em Bovio, e
pelos cabelos, que mais parecem disparates d o que sentenças. - A isso
é que s 6 Deus pode dar remédio - respondeu Sancho - porque sei
ambos contribuem para q u e permaneça na ignorgncia o leitor opera- mais rifões do que um livro, e acodem-me à boca juntos tantos quando
rio a quem se dirigem.) falo, que bulham uns com os outros para sair, e a língua vai deitando
para fora os primeiros que encontra, ainda que não venham muito a
§ 157. Temas de cultmrn. U m a frase d o General Gazzera n o dis-
N o mesmo capitulo XLIII: "Maldito sejas, Sancho -acudiu D.
curso ao Parlamento como ministro da Guerra (22 de abril d e 1932;
Quixote -, sessenta mil Satanases te levem a ti e aos teus rifões [...I
cf. jornais d o dia 2 3 ) : "A audácia nasce da paixão, a sagacidade d o in-
Eu te asseguro que esses rifões ainda te hão de levar 5 forca.." E Sancho:
telecto, o equilíbrio do s~ber."Seria possivel comentar, buscando ver
"Quem diabo se aflige por eu me servir dos meus cabedais, que não
-o que é patticuiarmente interessante -como a audácia, a sagacida-
tenho o ~ t r oselzno
s rifóes e mais rifões?" [35]. No capitulo L, o pároco
d e e o equilíbrio, através da organizaçgo d o exército, transformam-se
do pueblo de Dom Quixore diz: "Na verdade, creio que esta linhagem
de dotes pessoais em qualidades coletivas de u m conjunto orgânico e
dos Panças nasceu roda com um costa1 de rifões metidos n o corpo, e
articulado de oficiais, suboficiais, cabos e soldados, uma vez q u e na
que os entorna a todas as horas e em todos os lugares", depois de ouvir
ãgão todas as quatro gradações têm intensa vida própria e a o mesmo
que também Sanchica, filha de Sancho, desfia provérbios sem parar.
tempo formam uma coletividade orgânica.
Pode-se argumentar, portanto, que Franz Weiss descende da costela dos
"Panças" e que, quando quiser latinizar todo o seu nome, deverá mu-
S 164. No~óeseeizciclopéclicas.Bibliografia.
- . S. Exa., o General CarIo
Porro, Terminologia geografica, coletânea de vocábulos de geografia e dar o "Franz" mas sem acrescentar "Bianco" e, sim, Pança, ou Pancia,
ciências afins, para uso nos estudos de geografia geral e militar, in-8", mais ? italiana
i [36].
X-794p., Utet, Turim, 1902, 7,50 liras.
L'nvvocato di tutti. Picçolrz emiciopedin iegale, in-8", VIII-1.250 p., $ 18. Passado e presente. Santi Sparacio. N o capítulo XXII da se-
12 liras, Utet, Turim. gunda parte de Dom Q ~ i x o t e :"o humanista" que acompanha Dom
Quixote e Sancho à "cueva d e Montesinos". "De caminho perguntou
DOS CADERNOS MISÇELÁNEOS

D. Quixote a o Primo quais eram a sua profissão e estudos; a o que ele tipo mental, em comparaçáo com aqueles atormentados, por exelllplo,
respondeu q u e sua profissáo era a d e literato, os seus estudos com- ~ r o b l e m ado moi0 perpétuo, é POUCO conhecido e muitíssimo
por livros para dar à estampa, todos de grande proveito e não mellor pouco ridicularizado, porque em cerras regiões é um verdadeiro flagelo.
um intitulava-se DOS?kzjt?s, em que pintava setecen- NO cárcere de Palermo, em dezembro de 1926, vi uma dúzia de volu-
tos e tantos trajes, com r-ts suas cores, divisas e motes, onde podiam 0s mes escritos por sicilianos e impressos na própria Sicília, mas alguns
cavaleiros cortesáos, em tempo d e festa, procurar os que Ihes agradas- na América por emigrados (certamente doados ao cárcere ou ao cape-
sem, sem 0 s andar pedindo a ninguém, nem quebrar a cabeça para 0s lão). O mais típico deles era um volume de um certo Santi Sparacio,
arranjar conformes com OS seus desejos e intenções. -Porque dou a o empregado na Casa FIorio, o qual parecia autor também de outras
olvidado, a o amante, a o zeloso, a o desdenhado, os trajes q u e mais Ihes pubiicaçóes. ~ á meo lembro d o título principal d o livro; mas nos sub-
convêm. Tenho outro livro também, q u e hei d e chamar Metamorfoses, títulos se afirmava que se queria demonstrar: I) a existência de Deus;
o u Ovídio Espn~zhol,de invenção nova e rara, porque nele, parodian- 11) a divindade d e Jesus Cristo; 111) a imortalidade da alma. Nenhuma
do Ovídio, pinto quem foram a Giraldade Sevitha e o anjo da Madalena, destas questões era realmente tratada; a o contrário, as cerca d e trezen-
o cano de Vecinguerra em Córdoba, os touros de Guisando, a Serra tas páginas d o volume continham as questões mais disparatadas sobre
Morena, as fontes de Leganitos e de Lãvapés em Madri, sem esquecer todo o conhecimento humano: por exemplo, tratava-se d e como fazer
a d o Piolho, a do Cano Dourado, a d a Prioresa; isto com as suas alego- para impedir a masturbaçãa nos rapazes, como evitar os choqiies de
rias, met6forr-i~e translações, d e modo q u e alegram, suspendem e ensi- bondes, como evitar que nas casas se quebrem tantas vidraças de jane-
nam a o mesmo tempo. Tenho outro livro, que chamo S~~plernento a [a, etc. O problema da "quebra das vidraças" era tratado assim: que-
Virgílio Polidoro, que trata d a invenção das coisas, e q u e é d e grande bram-se tantas vidraças porque se põem as cadeiras com as costas perto
erudiçáo e estudo, porque as que deixou d e dizer Polidoro, averiguo- dcmais das vidraças c, quando alguém se senta, o espaldar cede e o
as eu e declaro-as em gracioso estilo- Esqueceu-se Virgílio d e 110s dizer vidro quebra. Logo, 6 preciso ter cuidado, etc. ; isto, por pAgiiias e pá-
quem foi a primeira pessoa q u e teve catarro no miindo; e o primeiro ginas. Pelo tom d o livro se deduzia q u e Sparacio era coilsiderado em
q u e tomou as unções para livrar-se do mal gálico; declaro-o eu a o pé seu ambiente urn grande sábio e conhecedor c que muitos a ele recor-
da letra, e fundamento-o com mais de vinte e cinco autores: veja Vossa riam para conselhos, etc.
Mercê se trabalhei o u não trabalhei para ser útil a toda a gente."
Sancho se interessa, como é natural, especialmente por este último $24. I-'nssadoepresente. Episódio inserido em OI~z.da
d e D e Amicis
livro, faz perguntas ao "hurnanista": "[.-.I quem foi o primeiro homem 1371. Um general espanhol mostra a um carnponCs holandês uma la-
que coçou a cabeça? [...I quem foi o primeiro volteador d o mundo?", ranja: "Meu país produz esta fruta duas vezes por ano." O camponês
e responde, ele próprio, que o primeiro foi Adão, o qual, tendo cabeça mostra a o general uma barra d e manteiga: "E meu país produz duas
e cabelos, certamente, às vezes, tinha d e coçar a cabeça; e o seguixdo, vezes por dia esta outra fruta."
Lúcifer, que, expulso d o céu, caiu "às voltas e reviravoltas" até os abis-
mos d o inferno. $51. Passado e presente. Num artigo de Mario Bonfantini, "L'arte
0 tipo mental do humanista retratado por Cervantes se conservou di CarIo Bini", naItalinLetternrin d e 2 2 de maio de 1932, foram cita-
até hoje, assim como se conservaram n o povo as "curiosidades" de dos estes dois versos (ou quase): "A prisão é uma lima tão sutil, / que,
Sancho, e isto, precisamente, muitasvezes é chamado de "ciência". Este temperando o pensamento, faz dele um punhal" [381. Quem escreveu
CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

J isto? O próprio Bini? Mas Bini esteve de fato n a prisão (talvez não muito 5 54. Noç8es enciclopédicas. Bibliografia. Société fmnçaise de
phijosophie. Vocnbukzire techniqrie et critique de Ia philosophie, ptrblié
> A prisáo é uma lima t ã o sutil que destrói completamente o

' pensamento; ou, então, faz como aquele mestre artesão a o qual fora
entregue uma bela peça d e madeira amadurecida para fazer uma esta-
) u a de São Pedro, e corta daqui, tira de lá, corrige, esboça, terminou
t
pnrA. Lnlnrde, IVaédition, aí~gmerrtée,Paris, Alcan, 1932, in-8O, 3 vols.,
180 francos-

p o r tirar da madeira um cabo de sovela. $ 57. A cultura como expressiio da sociedade. Uma afirmação de
)
Baldensperger, segundo a qual o s grupos humanos "criam as glórias
g 53. Passndo e presente. U m diálogo. Alguma coisa mudou fun- segundo as necessidades e não segundo os méritos", é justa e deve ser
damentalmente. E se pode ver. Mas que coisa? Antes, todos queriam objeto de meditação. Ela pode se estender inclusive além d o campo
lavrar a história, desempenhar papéis ativos, cada qual desempenhar literário [40].
Um ativo. Ninguém queria ser O "adubo" d a história. Mas pode-
se lavrar sem primeiro adubar a terra? N a verdade, deve haver o la- S 78. Bibliogrnfas. Michel Mitzakis, Les Grnnds problèmes i t n l i e ~ ~ ,
vrador e o "adubo". Abstratamente todos o admitiam. E praticamente? 193 1, 80 francos; Gustave Le Bon, Bases scieíztifiques d'une philosophie
LLAdUbo" por "adubo", era melhor recuar, voltar à obscuridade, a o de l'histoire (15 francos). ( O chefe d e Governo é um grande admira-
indistinto. Alguma coisa mudou, porque existe quem se adapta "filo- dor de Le Bon; cf. a entrevista de Le Bon a I=. Lefèvre nas Nouvelles
soficamente" a ser adubo, quem sabe que deve sê-10, e se adapta. Littéraira [417.)
C o m o se diz, é como a questão d o homem à beira d a morte. M a s
existe uma grande diferença, porque ã beira d a morte s e está num 5 80. Passado epresenle. Quando se publicou a primeira ediç20 de
a t o decisivo q u e dura urna fração; tio conrrário, na questão d o adubo Chi è?, dicionário biográfico italiano d o editor Formiggini, o chefe de
a questão dura muito teinpo e se reapresenta a cada momento. C o m o Governo observou que faltava um verbete sobre o General Badoglio.
se diz, vive-se s ó uma vez; a própria personalidade é insubstituiveI, Esta meticulosidade d o chefe d e Governo foi mencionada por For-
Para pô-la em jogo, não se apresenta uma escolha espasrníidica, de rniggini na ItaEia che scrive da época c é um traço psicológico de gran-
um instante, em q u e todos os valores são avaliados fulminantemente de relevo [42].
e se deve decidir sem adiamento. Aqui o adiamento é de cada instan-
t e e a decisão deve se repetir a cada instante, Por isto se diz que algu- g 85. Passado e presente. Tendência à intriga, à maledicência, às
ma coisa mudou. N ã o é sequer a questão de viver u m dia como 1e50 insinuações pérfidas e caluniosas, em contraposição ii possibilidade d e
ou cem anos como ovelha [ 3 9 ] . Não se vive como leão nem por um discussão livre, etc. A "farmácia d o interior" como instituiçáo que tem
minuto, a o contrário: vive-se como subovelha por anos e anos e sabe- uma concepção d e mundo própria em torno d o eixo basico segundo o
se ter de viver assim. A imagem de Prometeu que, em vez d e ser agre- qual, se as coisas vão mal, isto se deve às artes d o diabo, e os aconteci-
dido pela águia, é devorado pelos parasitas. Os judeus puderam mentos são julgados a partir dos homens, que são todos patifes, ladrões,
imaginar Jó: Prometeu, s ó podiam imaginá-lo os gregos; mas o s ju- etc. E afinal, quando se descobre que um político é corno, tudo fica
deus foram mais realistas, mais impiedosos e até deram uma evidên- claro.
cia maior a seu herói. Recordar o costume do chamado "freio d a comadre", que era um
modo d e expor a o ridículo as mulheres intrigantes, fofoqueiras e
CADERNOS DO CAUCERE DOS C A D E R N O S MISCELÂNEOS

briguentas. Aplicava-se à mulher um mecanismo, que, fixado na cabe- vimento histórico passado, é dos mais curiosos e interessantes para
ça e n o pescoço, impunha-lhe na língua uma plaqueta de metal que a compreender o presente, seu vazio, sua ociosidade intelectual e moral.
impedia d e falar [431. Trata-se de uma forma de "juizo retrospectivo" das mais espantosas.
p ~ realidade,
a com todas as profissões de fé espiritualistas e ~ ~ l u n t a ~ i ~ ~ ~ ~
§ 121. Te17xn.s de crnlt~~ra.
O s g r a d e s gê~ziosnaciomis. Mencionei hiçtoricistas e dialéticas, etc., o pensamento que domina é o evolu-
noutra parte a importância cultural que em cada país tiveram o s gran- cionista vulgar, fatalista, positivista. Seria possível formular assim a
des gênios (como Shakespeare para a Inglaterra, Dante para a Itália, toda "glande" pode pensar em se tornar carvalho. Se as glandes
Goethe para a Alemanha) 1441. Entre eles, ativos até hoje ou até antes tivessem urna ideologia, esta seria justamente a d e se sentirem "grávi-
da guerra, s ó dois: Shakespeare e Goethe, especialmente este último, das" de carvalhos. Mas, na realidade, d e cada mil glandes, 999 servem
em razáo da singularidade d e sua figura. Afirmou-se que a missão des- de pasto aos porcos e, n o máximo, contribuem para criar chouriços e
tas gralides figuras é ensinar, como filósofos, aquilo em que devemos mortadelas.
crer; como poetas, aquilo q u e devemos intuir (sentir); como homens,
aquilo que devemos fazer. M a s quantos podem caber nesra definição?
N ã o Dante, em razão de sua distância n o tempo e d o período que ex-
pressa, a passagem da Idade Média à Idade Moderna. Só Goethe é sem- CADERNO 14 (1932-1935)
pre de iImzi certa atualidade, porque expressa sob forma serena e clássica
aquilo que em Leopardi, por exemplo, é ainda conturbado romantis- 5 6. Passado e presente. Frndices. Uma oitava de Luigi Pulci (Morgnrzte,
mo: a confiança i-ia atividade criadora d o homem, numa natureza vista XXVIII, 42; é preciso conferir): "Sempre os justos vêm primeiro mas-
n2o como inimiga e antagonista, mas como uma força a ser conhecida sacrados. / Eu náo falo mais de coisas pias, / Senão termino na boca
e dominada, com o abandono sem melancolia e desespero das "fábulas destes frades / Em que também acabam as iguarias; / e certos man-
antigas", cujo perfume d e poesia, q u e se conserva, rorna-as ainda mais driões de sacristia / futricam: 'fulano assim, beltrano assado'. / Dai
mortas como crença e fé. (Deve-se ver o livro d e Emerson, Homens parece haver tanto alvoroço, / se bem que em meio 5 escuridão de
rqresentatiuos, c I-Xeróis, d e Carlyle.) um poço [453."
Hoje, na boca de tais frades há menos iguaria d o que o prosaico
$ 13 1. Passado e presente. A geração atual tem uma estranha for- macarriio, mas os "frades" continiiam os mesmos, e mesmo hoje, como
ma d e autoconsciência e exerce sobre si uma estranha forma de n o tempo de Pascal, é mais facil topar com "frades" d o que com boas
autocritica. Tem a consciência de ser urna geraçáo d e transição OU, razões.
melhor ainda, acredita ser como uma mulher grávida: acredita estar
por dar à luz e espera nascer um grande filho. Muitas vezes se lê que S 25. Passado e presente. A lógico de Dom Ferrante. Pode-se asso-
c'estarnos na expectativa de um Cristóvão Colombo, que descobrirá uma ciar a forma mental d e Dom Ferrarite à que está contida nas chamadas
nova América da arte, d a civilização, d o costume". Também se lê que "tesesyyde Roma (recordar a discussão sobre o "golpe de Estado", etc.)
vivemos numa época pré-Dante: espera-se o novo Dante que sintetize 1461. Era exatamente como a negaçáo da "peste" e d o "contágio" por
poderosamente o velho e o novo e dê a o novo o impulso vital. Este parte de D o m Ferrante, para assim morrer "estoicamente" (se é que
modo de pensar, recorrendo a imagens míticas tomadas d o desenvol- não se deve usar um advérbio mais apropriado). Mas em Dom Ferrante,
DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

na realjdade, havia menos mais razáo "formal", isto é, ele refletia educativo na medida em que pode servir para "abrir os olhos
o de pensar de sua época (que Manzoni satiriza, personificando-o dos ingênuos" e até persuadir
O "prejulgador", se está de boa-fé e erra

em D o m Ferrante), a o passo que n o caso mais moderno se tratava d e por 'cignorância", etc.
anacronismo, como se Dom Ferrante tivesse ressuscitado com toda a
sua mentalidade em pleno século XX. $ 36. Critérios metodológicos. Uma manifestação típica do &Ie-
tantismo intelectual (e da atividade intelectual dos diletantes) é esta: ao
$ 29. Temas de cultura. O ossinho de Cuvier 1471. O princípio de tratar uma questão, tende-se a expor tudo aquilo que se sabe e não ape-
Cuvier, da correlaçáo entre as partes orgânicas d e u m corpo, d e modo nas o que, nela, é necessário e importante. Aproveita-se qualquer oca-
que d e uma pequena parte dele (desde q u e íntegra) se pode recons- siso para ostentar a lição mal aprendida, todos os trapos e farrapos do
truir todo o corpo (mas é preciso rever bem a doutrina d e Cuvier para próprio repertiirio; um fato mínimo qualquer é elevado a momento
expor com exatidão seu pensamento), certamente deve ser inserido na mundial para poder dar curso à própria concepção mundial, etc. E ain-
tradi$o d o pensamento francês, n a "lógica" francesa, e relacionado da sucede que, como se quer ser original e náo repetir as coisas já ditas,
com o princípio d o animal-máquina. Não importa ver se na biologia de cada vez se deve sustentar uma grande mudança nos "fatores" funda-
ainda se pode considerar o princípio inteiramente válido; isto não pa- mentais d o quadro e, assim, se incorre em tolices de todo gênero.
rece possível (por exemplo, deve-se lembrar o ornitorrinco, em cuja
estrutura não há "lógica", etc.); deve-se examinar se o princípio da 43. N o ~ õ e enciclopédicas.
s 'iCiscoss~"[48]. Deve ser de origem
correlação é fitil, exato e fecundo na sociologia, além da metáfora. militar e francesa. O grito de batalha d o exército de Carlos VI11 em
Pdrece q u e se pode responder claramente "sim". Mas é preciso q u e se Fornovo era justamente: "Montoison a Ia recousse!" N a linguagetn
entenda: para a história passada, o princípio d a correlação (como o da militar francesa, recousse ou rescotrsse indicava um novo ataque; e se
ai~alogia)não pode substituir o documento, isto é, só pode levar a uma gritava: "A Ia rescousse! ", em batalha, para pedir socorro.
hist6ria hipotética, verossímil mas hipotética. Mas diferente é o caso
d a açáo política e d o princípio de correlaç50 (como o da analogia) 5 58. Passado e presente. Por que os homens são irrequietos? D o
aplicado ao previsívef, à construção de hipóteses possíveis e de pers- que provém a irrequietude? Porque a ação é "cega", porque se faz por
pectiva. Estamos precisamente n o canipo d a I-iipCitese e se trata d e ver fazer. Mas não é verdade que irrequietos sejam só os cegamente "ati-
que hipótese 6 mais verossímil e mais fecunda em termos de convic- vos": sucede que a irrequietude leva à imobilidade: quando os estirnu-
ções e de educação. E certo que, quando se aplica o princípio de corre- !os para a açáo sáo muitos e contrastantes, a irrequietude, justamente,
IaçZo aos atos de um indivíduo o u mesmo de um grupo, existe sempre se faz "imobilidade". Pode-se dizer que a irrequietude é devida ao fato
o risco de cair n o arbítrio: os indivíduos e também o s grupos não ope- de que não existe identidade entre teoria e prática, o que significa ain-
ram sempre "logicamente", "coerentemente", conseqüentemente, etc.; da que existe uma dupla hipocrisia: ou seja, age-se, mas, na a@o, há
mas é sempre útil partir d a premissa de que assim operem. Posta a pre- uma teoria o u justifica~áoimplícita que não se quer confessar, e "con-
missa da "irracionalidade" dos motivos da ação, ela não serve para nada; fessa-se", o u seja, afirma-se uma teoria que não tem uma correspon-
só pode ter um alcance polêmico para que se possa dizer, como os dência na prática. Este contraste entre o que se faz e o que se diz produz
escolhstico~:ex nbsldrdo sequitidr quodlibet. Ao contriirio, a premissa irrequietude, isto é, descontentamento, insatisfação. Mas existe uma
da racionalidade e, portanto, da "correlação" o u d a analogia tem um terceira hipocrisia: para a irrequietude se busca uma causa fictícia, que,
DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

g a f i a substitui O "ensaio politi CO" OU "filosófico": descreve-se em ato


não justificando e tiao explicando, n;io permite ver quando a própria
q u i l o que de outro modo se deduz logicamente. É certo que a autobio-
irrequierude terminar& Mas a questáo assim posta está simplificada.
grafia tem um grande valor histórico, na medida em que mostra a vida
N a realidade, as coisas são mais complexas. Desde logo, é preciso le-
em ato e não só como deve ser segundo as leis escritas ou os princípios
var em conta que na realidade os homens de ação náo coincidem com
morais dominantes.
0 s intelectuais e, além disto, q u e existem as relações entre gerações
velhas e jovens. As responsabilidades maiores nesta situação cabem aos
5 63. Temas de czrlturn. Como estudar n história? Li a observaçso
intelectuais e aos intelectuais mais veIhos. A hipocrisia maior é dos inte-
d o historiador inglês Seeley, o qual observava que em sua época a bis-
lectuais e dos velhos intelectuais. N a luta dos jovens contra os velhos,
tória da independência americana atraiu menos atenção d o que a bota-
mesmo que sob as formas caóticas d o acaso, existe o reflexo deste juizo
lha de Trafalgar, os amores de Nelson, os episódios da vida de Napoleáo,
de condenaçáo, que só é injusto na forma. N a realidade, os velhos
etc. 1491. N o entanto, daquele fato decorreriam conseqüências de gran-
"dirigemm a vida, mas fingem n h dirigir, fingem deixar aos jovens a
de alcance para a história mundial: a existência dos Estados Unidos
dire@o, mas também O "fingimento" tem importância nestas coisas.
não é, certamente, coisa insignificante n o desenrolar dos acontecimentos
0 s jovens vêem que os resultados de suas ações são contrários a suas
dos últimos anos. Como fazer, pois, para estudar a história? Devemos
expectativas, acreditam "dirigir" (ou fingem acreditar) e se tornam
nos limitar aos fatos que são fecundos em termos de conseqüências?
ainda mais irrequietos e descontentes. O que agrava a situação é que se
Mas, no momento em que tais fatos nascem, como se faz para saber
trata de uma crise cujos elementos de resolução sáo irnpcdidos de se
sua fecundidade futura? A questão é realmente insolíivel. Na afirma-
desenvolverem com a celeridade necessária; quem domina não pode
ção de Seeley se encontra implícita a reivindicação de uma história
resolver a crise, mas tem o poder de impedir que outros a resolvam,
objetiva, em que a objetividade é concebida como nexo de causa e efeito.
isto é, tem s ó o poder d e prolongar a prspria crise. Talvez Cândido
Mas quantos fatos, que são objetivamente importantes, não só esca-
pudesse dizer q u e isto é precisamente necessário para que os elemen-
pam mas sgo negligenciados pelos historiadores e pelo interesse dos
tos reais da solução se preparem c se desenvolvam, dado que a crise é
leitores? A leitura dos livros de Wclls sobre a história mundial remete
d e tal modo grave e requer meios táo excepcionais quc só qucni viu o
a esta negligência e esquecimento [ S O ] . Na realidade, até agora nos in-
inferno pode decidir-se a empregá-los sem tremer c hesitar.
teressou a história européia, e chamamos de "mundial" a história eu-
5 59. Jldstificnç~iodas nutobiogr~fias.Urna das justificações pode ropéia com seus apêndices não-europeus. Porque a história nos interessa
ser esta: ajudar outros a se desenvolverem segundo certos modos e em por razões "políticas", não objetivas, ainda que no sentido de científicas.
determinadas direçóes. Muitas vezes, as autobiografias são um ato de Hoje talvez estes interesses se tornem mais amplos com a filosofia da
orgiilho: acredita-se que a pr6pria vida é digna de ser narrada porque práxis, na medida em que nos convencemos d e que só O conhecimento
"original", diferente das outras, porque a própria personalidade é ori- de todo um processo histórico pode dar conta d o presente e dar uma
ginal, diferente das outras, etc. A autobiografia pode ser concebida certa verossimilhança de que nossas previsões políticas são concretas.
"politicamente". Sabe-se que a própria vida é semelhante a mil outras Mas náo se devem ter ilusões nem mesmo sobre este tema. Se na Rússia
vidas, mas que por "acaso" ela tomou uma direção que as outras mil há muito interesse pelas questões orientais, este interesse nasce da
náo podiam tomar e de fato náo tomaram. Narrando, cria-se esta pos- posição geopolitica da Rússia e náo de influências culturais mais uni-
sibilidade, sugere-se o processo, indica-se a direção. Assim, a autobio- versais e cieritificas. Devo dizer a verdade: tanta gente náo conhece a
DOS CADERNOS MISCELANEOS

história d a TtAlia, mesmo na medida em que ela explica o presente, que 2 queda o coice, isto é, a demonstração teórica de que, se náo se ins-
me parece necessário torná-la conhecida antes de qualquer outra. Mas truem, a culpa é deles, porque etc., erc. Admitamos, pois, que, salvo
uma associação de política internacional que estudasse a fundo as ques- n o caso d e poucos heróis d a cultura (e nenhuma política pode se ba-
tões até d a Cochinchina e do Aname não me desagradaria intelectual- sear no heroísmo), para instruir-se e educar-se é necessário um apare-
mente: mas quantos teriam interesse nisto? lho de cultura através d o qual a geração velha transmite à geração nova
toda a experiência d o passado (de todas as velhas gerações passadas),
$ 64. JzdstificaçZo da nutobiogrnf;~~. A importância das particulari- faz com que adquira determinadas inclinações e hábitos (até físicos e
dades ser- tanto maior quanto mais num país a realidade efetiva for técnicos, que se assimilam com a repetição) e transmite, enriquecido,
diferente das aparências, OS fatos das palavras, o povo que faz dos in- o patr'imônio d o passado. Mas não queremos falar disto. Queremos
telectuais que interpretam estes fatos. Observaçáo já feita a respeito de exatamente falar dos autodidatas em sentido estrito, isto é, aqueles que
como em certos países as constituições sáo modificadas pelas leis, as sacrificam uma parte o u todo o tempo que o s outros de sua mesma
leis pelos regulamentos e o texto dos regulamentos por sua apiicação dedicam aos divertimentos ou a outras ocupações, para se ins-
L5 13. Quem executa a "lei" ( o regulamento) é recrutado num certo es- truírem e educarem, e responder 2 pergunta: além das instituições ofi-
trato social, de um certo nível d e cultura, selecionado através de um ciais, existem atividades que satisfazem as necessidades que nascem
certo salário, etc. A lei é este executor, é o modo como se executa, destas inclinações e como as satisfazem? E mais: as instituições politi-
especialniente porque nZo existem 6rgáos de controle e d e puniçáo, I cas existentes se propõem, tanto como deveriam, esta tarefa de satisfa-
Ora, só através da autobiografia se v ê o mecanismo em ação, em sua 1 zer tais necessidades? Parece-me que este é um critério de crítica que
função efetiva que muitas vezes não corresponde absolutamente à lei 1 não se deve jogar fora nem de modo algum negligenciar. Pode-se ob-
escrito. No entanto, a histeria, em suas linhas gerais, se faz com base servar que o s aurodidatas em sentido estrito surgem mais em certos
na lei escrita: quando, enfim, nascem fatos ~ i o v o que
s alteram a situa- estratos sociais d o que em outros, e se compreendc. Falamos daqueles
çáo, apresentam-se qucstões vás ou, pelo menos, falta o documento que têm h disposição só boa vontade, mas disponibilidades financeiras
sobre corno se preparou "molecularmente" a mudança, até ela explo- lirnitadíssimas, possibilidades d e gastar muito pequenas ou quase nu-
dir. Certos países são especialmente "hipdcritas", isto é, em certos países las. Devem ser desprezados? N ã o parece, na medida exatamente e m
aquilo q u e se vê e aquilo q u e não se vê (porque não se quer ver e por- que parecem nascer partidos dedicados a estes elementos, os quais,
que, em cada circunstância, aquilo q u e se vê parece exceção ou "pito- justamente, partem da idéia de estabelecer relações com rais elemen-
resco") estão num contraste especial: justamente nestes países não tos. Pois bem: se estes elementos sociais existem, não existem as forças
abundam os memorialistas o u as autobiografias são "estilizadas", es- que buscam satisfazer suas necessidades, elaborar este material. O u
tritamente pessoais e individuais. melhor: tais forças existem em tese, mas não praticamente, como afir-
maçáo mas náo como atuação. Por outra parte, não é verdade que não
5 69. Temas de cultura. O autodidata. Náo se quer repetir o surra- existam forças sociais genéricas que se ocupam de tais necessidades e
do lugar-comum de que todos os sábios são autodidatas, na medida em até fazem delas seu único trabalho, sua atividade precípua, com este
que a educação é autonomia e não impulso vindo de fora. Lugar-co- resultado: elas terminam por contar mais d o que deveriam, por ter uma
mum tendencioso que leva a não organizar nenhum aparelho d e cultu- influência maior d o que "mereceriam" e, muitas vezes, até por "espe-
r a e a negar aos pobres o tempo a ser dedicado aos estudos, juntando cular" financeiramente com estas necessidades, porque os autodida-
CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

I,
tas, eni seu impulso, embora gastem pouco individualmente, terminam
por gasrar consideravelmente como conjunto (consideravelmente, n o
5 79. Passado e presente. Observou-se que é preferível o canalha
a o tolo, porque com o canalha se fazem acordos e até se pode levá-lo t:
4
selltido de que com seu gasto sustentam muitas pessoas). 0 movimen- a agir honestamente por conveniência, mas o tolo ... ~ e q ~ < i t u r q i i ~ d l i b ~ r . i: 7
Tambkm é verdade que o canalha é preferível a o semicanallla. N a ,ea. 1
to de que se fala (ou se falava) é o libertário, e seu anti-historicismo,
lidade, navida não se encontram nunca canalhas declarados, inteir-ços, I,
seu caráter retrógrado se inferem d o caráter d o autodidatismo, forman-
I:
do pessoas "anacrônicas" que pensam com modos antiquados e supera-
dos e os transmitem "viscosamente". Por conseguinte: 1)um movimento
de cargter, por assim dizer, mas s ó semicanalhas, nem lá nem cá, de
ações ambíguas que conseguiriam sempre justificar, arrancando aplau- i:,)

superado, n a medida em que satisfaz certas necessidades


prementes, termina por ter uma influência maior d o que historicamente
SOS.Pode-se pensar que o canalha seja uma invençáo romântica ou então
só seja canalha quando se encontra com a estupidez (mas neste caso é
pouco perigoso, porque se revela por si mesmo). Pode-se observar que
I?
i')
lhe caberia; 2) este movimento, pelas mesmas razóes, mantém atrasa-
d o o mundo cuitural, etc. Deve-se ver toda a série d e razóes q u e na o canalha verdadeiro é superior a o homem probo; com efeito: o cana- -)
Itália, por tanto tempo, permitiram que um movimento atrasado, su- lha pode ser também "homem probo" (isto é, pode "passar por" ho-
perado, ocupasse um campo maior d o que lhe caberia, provocando mem de bem), a o passo que o probo não comete canalhices em nenhum i 'i
Imuitas vezes confusões e mesmo cãt5strofes. Por outra parte, é preciso caso e por isto, justamente, é um "homem probo". Estúpido, efetiva- 3
energicamente q u e ria It5lia o movimento para a cultura foi mente, quem espera encontrar canalhas declarados, patentes, indiscu-
gralide, provocou sacrifícios, o u seja, que as condi çóes objetivas eram tíveis: a o contrário, muito frequentemente nos vemos 5s voltas com os
111iiitofavoriiveis. Em nenhum lugar é tão verdadeiro como na Itália o semicanal has, que, portanto, são.. . os verdadeiros e únicos canallias,
princípio segu~idoo qual uma força náo vale tanto por sua própria "for- aqueles d a realidade cotidiana. A propósito da relação "tolo-canallia",
ça intrínseca" quanto pela fraqueza dos adversários e das forças entre deve-se recordar a relaçáo "'tol0-inte1igente", n o sentido de que o inte-
as quais se acha inserida. ligente pode se fingir de tolo e conseguir passar por tal, mas o tolo não
Um o u t r o elemento d a f o r p relativa dos libert5rios é este: eles p d e se fingir de inceligentc e passar por tal a náo ser que encontre
têm mais espírito de iniciativa individual, inais atividade pessoal. Isto gente mais tola d o que ele, o q u e não é difícil.
acontece e m decorrência d e causas complexas: 1)eles obtêm maior
satisfaçáo pessoal em seu trabalho; 2) eles são menos embaraçados
por obstáculos burocráticos, os quais náo deveriam existir nas outras
CADERNO 15 (1 933)
orgailizaçóes: por que a organização destinada a fortalecer a iniciati-
va individual se deveria transformar em burocracia, o u seja, em obs-
táculo às forças individuais?; 3 ) (e talvez mais importante) u m certo S 9. Notas autobiogucíficrrs. Como comecei a julgar com maior indul-
número de pessoas vivem d o movimento, mas dele vivem livremen- gência as catastrofes d o caráter. Por experiência d o processo através
te, ou seja, não em função d e postos ocupados por n o m e a ~ ã o mas
, na d o qual tais cathstrofes acontecem. Nenhuma indulgência para quem
imdida em q u e sua atividade as torna dignas deles: para manter este realiza um ato contrário a seus princípios "repentinamente", e enten-
Posto, ou seja, para manter seu ganho, fazem esforços q u e de outro d o "repentinamente" neste sentido: por não haver pensado que man-
modo nzo fariam. ter certos princípios teria trazido sofrimentos e por não havê-los
previsto. Quem, encontrando-se subitamente diante d o sofrimento,
antes ainda de sofrê-10 ou no i~iiciod o sofrimento, muda d e compor- Digo que é "moralmente" mais justificável quem se modifica
tamento, n&omerece indulgência. Mas O caso se põe sob formas com- cularrne~ite"(por força maior, claro) d o que quem se modifica repen-
plexas. É q u e habirualmente haja menos indulgência com as tinamente, embora por hábito se pense de modo diverso. Ouve-se dizer:
mudãnçãs "mo1eculares" d o que com as repentinas. Ora, o rnovimen- "Resistiu por cinco anos, por que não por seis? Podia resistir mais um
t o 'Cmolecular" é o mais.perigoso, uma vez que, enquanto mostra no ano e triunfar." Mas neste caso se trata de um juizo retrospectivo, por-
sujeito a vontade de resistir, "deixa entrever" (a quem reflete) uma que no quinto ano o sujeito não sabia que "só" mais um ano de Sofri-
mudança progressiva d a personalidade moral, q u e num certo ponto mento o esperava. Mas & parte isto: a verdade é que o homem d o quinto
passa de quantitativa a qualitativa: ou seja, não se trata mais, na verda- ano não é o d o quarto, d o terceiro, d o segundo, d o primeiro, etc.; é
de, da mesma pessoa, mas d e duas. (Naturalmente, "indulgência" sig- uma nova personalidade, completamente nova, n a qual o s anos trans-
nifica tao-somente ausência de estreiteza moral, e não que não se leve corridos demoliram precisamente os freios morais, as forças de resis-
em conta a mudança e não se puna; a falta de punição significaria "glo- tência q u e caracterizavam o homem d o primeiro ano. Um exemplo
rificação" ou pelo menos "indiferença" ante o fato, e isto não permiti- típico é o d o canibalismo. Pode-se dizer que, n o nível atual da civiliza-
ria distinguir a necessidade e a não-necessidade, a força maior e a ção, o.caniba1ismo repugna de tal modo que se deve crer numa pessoa
covardia.) Formou-se O princípio de que um capitão deve ser o último comum quando diz: "Ante a alternativa d e ser canibal, eu me mataria."
a abandonar o navio naufragado, depois q u e todos se salvaram; aliás, Na realidade, aquela mesma pessoa, se se visse diante da alternativa:
alguns chegam a afirmar que, em tais casos, o capitão "deve" se sacri- "ser canibal ou matar-se", não mais raciocinaria assim, porque teriam
ficar. Estas afirmações são menos irracionais d o q u e podem parecer. acontecido tais modificações em seli eu que "'matar-se" não sc apre-
Certamente, náo se exclui que não haja nada errado n o fato de urn sentaria mais como alternativa necessaria: ela se tornaria canibal sem
capitao se salvar em primeiro lugar. Mas, se esta constataçáo se tornas- pensar absolutamente em suicidar-se. Se Fulano, na plenitude de suas
se um princípio, que garantia haveria de que o capitão fez de tudo: 1) forças físicas e morais, for posto na encruzilhada, haverá uma possibili-
para que O naufrágio não acontecesse; 2) para que, acontecido, tudo dade de que se mate (depois de se convencer d e que não se trata de
tenha sido feito para reduzir a o mínimo o dano As pessoas e 2s coisas? uma coi-ilédia, mas de coisa real, d e alternativa seria); mas esta possi bi-
(Dano As coisas significa, afinal, dano futuro às pessoas.) S ó o princí- lidade não existe mais (ou pelo menos diminui muito) se Fulano se vir
pio, tornado "absoluto", d e que o capitão, em caso d e naufrágio, aban- na encruzilhada depois d e sofrer um processo rnolecular em que suas
dona o navio em último lugar e até soçobra com ele, d á esta garantia, forças físicas e morais tiverem sido destruídas, e t c
sem a qual a vida coletiva é impossíveI, ou seja, ninguém contrairia Assim, vemos homens normalmente pacíficos incorrer em explo-
compromissos e agiria, abandonando a outros a própria segurança sões repentinas d e ira e ferocidade. N a realidade, não h á nada repen-
pessoal. A vida moderna é feita em grande parte destes estados de es- tino: houve um processo "invisível" e molecular em que as forçzs morais
pírito ou "crenças", tão fortes quanto os fatos materiais. que tornavam aquele homem se dissolveram. Este fato, pró-
A punição destas mudanças, para voltar ii questão, é um fato polí- prio d o indivíduo, pode ser considerado coletivo (fala-se então da "gota
tico, não moral, decorre não d e um juízo moral, mas de um juízo d e que fez transbordar o copo", etci). O drama d e tais pessoas consiste
C<
necessidade" para o futuro, n o sentido d e que, se não se fizesse assim, nisto: Fulano prevê o processo de dissoluçáo, isto é, prevê que se ter-
danos maiores poderiam advir: em política, é justa uma "injustiça" nará ... canibal, e pensa: se isto acontecer, num certo ponto d o proces-
Pequena para evitar urna outra maior, etc. so me mato. Mas qual será este "ponto"? N a realidade, cada qual confia
Q-

DOS C A D E R N O S MISCEL8NE05

em suas farsas e espera novos fatos que O livrem d a situação dada. E priar-se d e um modo d e viver e d e pensar não mais regional e 'cparo-
assim sucede q u e (sztlvo exceções) a maior parte se encontra em pleno quial", mas nacional, e ranto mais nacional (aliás, justamente por isto
processo de transformação além daquele ponto em que suas forças ainda nacional) n a medida em que buscava se inserir em modos de viver c de
eram capazes d e reagir, mesmo que segundo a alternativa d o suicídio. pensar europeus ou, pelo menos, comparava o modo nacional com 0s
Deve-se estudar este fato em suas manifestações atuais. N ã o que o europeus, as necessidades culturais italianas com as necessida-
fato não tenha acontecido n o passado, mas é certo q u e n o presente des culturais e as correntes européias (do modo pelo qual isto era pos-
assumiu uma forma especial e. .. voluntária. Vale dizer, hoje se sabe que sível e factível nas condições pessoais dadas, é verdade, mas pelo menos
ele acontece e o evento é preparado sistematicamente, o q u e não ocor- exigências e demandas fortemente vividas neste sentido). Se é
ria n o (mas sistematicamente quer dizer "em massa", sem ex- verdade q u e uma das necessidades mais fortes d a cultura italiana era
uir a Yatençáo'yparticular aos indivíduos). É certo que desprovincianizar-se até mesmo nos centros urbanos mais avançados e
hoje se infiltrou um elemento "terrorista" que não existia n o passado, modernos, tanto mais evidente deveria se revelar o processo a o ser
de terrorismo material e mesmo moral, que náo é desprezível. Isto por um "provinciano a o quadrado e ao cubo", como
agrava a responsabilidade daqueles que, podendo, não impediram, por decerto era um jovem sardo d o princípio d o século.
imperícia, negligência o u até vontade perversa, que se tivesse de paç-
sar por certas provas [52].Contra este modo de ver antimoralista exis- 5 21. Passado e presente. Se se pedir a Fulano, que jamais estudou
te a concepçgo falsamente heróica, retórica, fraseológica, contra a qual o chinês e só conhece bem o dialeto d e sua província, que traduza um
todo esforço d e luta é poilco. trecho de chinês, ele muiro razoavelmente se espantará, tomará o pe-
dido como brincadeira; se se insistir, acreditará tratar-se de zombaria,
5 12. Passado e presente. A sabedoria dos zulus elaborou esta má- se ofei-iderA e partirá para as vias de fato. N o entanto, o mesmo Fula-
xima citada por uma revista inglesa: "É melhor avançar e morrer do no, sem que sequer lhe peçam, se acreditará autorizado a falar d e toda
que parar e morrer [53]." uma série d e questões que conhece tanto quanto o chinês, das quais
ignora a linguagem técnica, a posição histórica, a conexão com outras
19. Possado e presente. Extrair desta rubrica uma série de notas questões, 5s vezes os próprios elementos fundamentais distintivos. D o
que sejam como os Ricordi politici e civili de Gui cciardini (respeitadas chinÊs, pelo menos, sabe qrie é uma língua de um determinado povo
as devidas proporções). Os Riçordi são memórias na medida em q u e que habira um determinado ponto d o globo: dessas questões, ignora a
recapitulam não tanto acontecimentos autobiográficos em sentido es- topografia ideal e as linhas que as limitam.
trito (se bem que estes também não faltem) quanto "experiEncias" ci-
vis e morais (morais mais n o sentido ético-político) estreitamente Iigadas S 23. Noções etzciclopédicas. Sobre as expressões Zunftburger e
à própria vida e a seus acontecimentos, consideradas em seu valor uni- Pfnhlbiirger o u Pfahlbiirgerschaft, empregadas n o Manifesto, e os ter-
versal ou nacional. Sob muitos aspectos, uma ta1 forma de escrita pode mos italianos correspondentes, deve-se ver o livro de Arrigo Solmi,
ser mais útil que as autobiografias em sentido estrito, especialmente se dez regno itnlico nell 'alto Medioevo, Pavia,
Earnrninistrmione fi~1cz'tz~inria
ela se refere a processos vitais q u e são caracterizados pela permanente 1932, XV-288 p., 20 liras (cf. comentário analítico de Piero Pieri na
tentativa d e superar um modo atrasado de viver e d e pensar, como Nuovn Italia de 20 de janeiro de 1933) [54]. Em Pavia existiam antes
aquele que era próprio de um sardo d o princípio d o século, para apro- do ano Mil "algumas artes ou ofícios, mantidos quase em regime de
DOS CADERNOS MISCELÃNEOS

@sas são necessariamente unilaterais, truncadas, tendenciosas, e como


monopólio, sob o controle da Câmara ou d o Palácio Real de Pavia." habitualmente dão razso a o modo de pensar d e quem as promoveu. É
Eles aparecem constituídos em torno d e pessoas com maior experiên- ter tanto mais cuidado quanto mais atualmente parece difícil
cia e responsabilidade, chamadas rnngistri: estes são de nomeação ré-
conhecer o que pensam e querem as novas gerações. Segundo a C i v j l t ~
gia, controlam a administração interna d a "Arte e respondem por ela
cattolicn, eis a substância da pesquisa: 'Wrtanto, a nova geraçlo se-
ante o Estado, mas também cuidam de defender os privilégios d o ofi-
ria: sem moral e sem princípios imutáveis d e moralidade, sem religio-
cio e valorizar seus produtos. Nenhum artesão pode exercer a arte se
sidade OU atéia, com poucas idéias e com muito instinto." "A geração
não for inscrito na organização e todos estão submetidos a tributos de ré-guerra acreditava e se deixava dominar pelas idéias de justiça, de
caráter geral e especial em relação à Câmara Régia" (Câmara: o "mi. bem, d e desinteresse e de religião; a moderna espiritualidade se de-
nistério das Finanças" d e então). sembaraçou de tais idéias, as quais na prática são imorais. O s peque-
nos fatos da vida requerem elasticidade e maleabilidade moral, que se
5 49. Passado e presente. D e um artigo d e Manlio Pompei na Cri
começa a obter com a falta de preconceitos da nova geração. Na nova
tica Fascista d e 1°.de maio de 1933: "Na genérica afirmação d e uma
g e r a ç á ~perdem valor todos aqueles princípios morais que se impuse-
recuperação moraI, muitas vezes ouvimos falar d a família
ram como axiomas às consciências individuais. A moral se tornou abso-
como instituto em torno d o qual se deve articular esta recuperaçao
lutamente pragmatista: ela surge da vida prática, das diversas situações
inderrogável. Neste ponto náo faltam opiniões discrepantes: uma re-
nas quais o homem se vê. A nova geração não é espiritualista, positivista
cente polêmica sobre a literatura infantil e sobre a educação de nossos
ou materialista: ela tende a superar racionalmente tanto as atitudes
rapazes fez aflorar o conceito de que o víncuio familiar, os afetos q u e
espiritualistas quanto as obsoletas posições positivistas e materialistas.
ligam os membros d e uma mesma família podem num certo ponto
Sua principal característica é a falta de qualquer forma de reverência
constituir um empecilho para aquela educação guerreira e viril que está
por tudo aquilo que encarna o velho mundo. Na massa dos jovens se
entre as finalidades d o fascismo. A nosso ver, a familia é, e deve per-
enfraqueceram o sentimento religioso bem como todos os diferentes
manecer, a célula-mãe d a sociedade fascista." O artigo todo é interes-
imperativos morais abstratos, que se tornaram inadequados à vida de
sante, mesmo que a questão não seja formulada com rigor. Pompei
hoje. Os muito jovens têm menos idéias e mais vida, alcançaram natu-
descreve a crise d a família em todos os estratos sociais e, na verdade,
ralidade e confiança no ato sexual, de modo que o amor não mais é
niio indica nem como tal crise possa ser contida ou conduzida a uma
considerado como um pecado, uma transgressão, uma coisa proibida.
solução racional, nem como o Estado possa intervir para construir ou
O s jovens, voltados ativamente para a direção que a vida moderna in-
estimular a construção d e um novo tipo d e família. Pompei, aliás, afir-
dica, se mostram imunes a qualquer possível retorno a uma religiosidade
ma que a crise é necessiiria, ligada como está a todo um processo d e
dogrn6tica em disso1ução."
renovação social e cultural, e por isto é ainda mais marcante a efetiva
Parece que esta série de afirmações é apenas o próprio programa
desorientação, apesar das afirmações genéricas construtivas,
do Saggirrtore, e isto parece mais uma curiosidade d o que uma coisa
S 51. Passado e presente. N a Civilt~?Cnttotica de 20 de maio d e séria. N o fundo, é umaversão ~ o p u l a dr o "super-homemn, nascida das
1933 se publica um breve resumo das "Conclusioni all'inchiesta sulla experiências mais recentes d a vida nacional, um c'super-homem"
m o v a generazione". (Separata d o níimero 28 d o Snggiatore, Roma, Arti ultraprovinciano, à maneira d e um círculo dos senhores e de um
grafiche Zamperiní, 1933, in-80, 3 2 p. E.551.) Sabe-se como tais pes- bricabraque filosófico. Examinando-se bem, significa que a nova gera-
CADERNOS DO C ~ R C E R E

se deixou tomar, sob o aspecto de um voluntarismo extremo, pela de Giorgio Granata (no Saggintore, referido na Critica Fascista de 10
abulia N á o 6 verdade que não tenha ideais: apenas, estes es- de maio d e 1933) existem muitas sugestões de tal filosofia: para
táo todos capitulados n o código penal, que se supõe feito d e uma vez Grãnata, a concepçáo d e "partido político", com seu "programan
para sempre em seu conjunto. Significa também que falta n o pais qual- tópico, "como m u n d o d o dever-ser (!) diante d o mundo d o ser, da
quer direção cultural além d a católica, O que faria supor que pelo menos realidade", não mais tem validade, e por isto a França seria "inatualm:
a hipocrisia religiosa deva acabar aumentando. Mas seria interessante corno se justamente a França não tivesse sempre dado, n o século XIX,
saber de qual nova geração o Saggiatore pretende falar. o exemplo d o oportunismo político mais vulgar, ou seja, d o servilis-
Parece que a "originalidade" d o Saggiatore consiste em transpor- mo ante o que existe, ante a realidade; noutras palavras, ante os "pro-
tar para a "vida" o conceito d e "experiência" próprio não d a ciência, gamas" e m a t o d e forças bem determinadas e identific8veis. E ser
mas d o operador típico d e laboratório científico. As conseqüências servil aos fatos deliberados e realizados pelos outros é o verdadeiro
desta trançposição mecânica são pouco brilhantes: elas correspondem ponto d e vista d o Saggintore, vale dizer, indiferença e abulia sob o
a o que era bastante conhecido com o nome d e "oportunismo" o u d e disfarce de grande atividade à moda das formigas: a filosofia d o ho-
falta de princípios (recordar certas interpretações jornalísticas d o mem de Guicciardini, que sempre reaparece em ccrtos períodos da
rclativismo de Einstein, quando, em 1921, esta teoria caiu na mão vida italiana [56]. Que, para tudo isto, se aludisse a Galileu e reto-
dos jornalistas). O sofisma consiste nisto: quando o operador típico masse o título de Snggintore é apenas uma total impudêi-icia, c pode-
d e laboratório "experimenta e reexperi menta", sua experiência tem se apostar quc o s senhores Granata & Cia. não terão d e terner novas
conseqüências limitadas a o espaço das provetas e retortas: ele "ex- fogueiras e inquisições [ 5 7 ] . (A concepção d o "partido político" que
perimenta" fora d e si, sem dar de si mesmo 5 experiência nada além Granata expressa coincide, d e resto, com aquela expressa por Croce
de ritençso física e intelectual. Mas, nas relações entre os homens, as n o capítulo "I1 partito come giudizio e come pregiudizio", d o volu-
coisas se passam muito diversamente e as conseqüências são de al- me Culturrr e vila morale, e com o programa da Ur~iz& florentina, pro-
cance iiiteiramente diferente. O homem transforma o real e não se blernista, etc. [58]).)
limita a examiná-lo experimentalmente in viLro para reconhecer suas Mas este g r u p o d o SnggiczLore merece ser estudado e analisado:
leis de regularidade abstrata. N ã o se declara uma guerra por "experi- 1) porque ele tenta expressar, ainda que grosseiramente, tendências
mento" nem se subverte a economia d e um país, etc., para encontrar que sáo difundidas e vagamente concebidas pela maioria; 2) por-
as leis d o melhor arranjo social possível. O fato d e que, a o construir que ele é independente de qualquer "grande filósofo" tradicional e
os próprios planos de transformaçáo d a vida, seja preciso basear-se até se opõe a toda tradiçiio cristalizada; 3) porque muitas afirmações
na experiência, o u seja, na delimitação exata das reIaçóes sociais exis- d o g r u p o são indiscutivelmente repetições apressadas de posiçóes
tentes e não e m vagas ideologias ou generalidades racionais, não filosóficas d a fiIosofia da práxis entradas na cultura geral, etc. (Re-
implica que não se devem ter princípios, que são apenas a experiên- cordar o "experimentar e experimentar de novo" d o Deputado
cia posta na forma d e conceitos ou de normas imperativas. Mas a fi- Giuseppe Canepa, como comissário para o abastecimento durante
losofia d o Saggiatore, além d e uma reação plausível à embriaguez a guerra: este Galiieu da ciência administrativa tinha necessidade
atualista e religiosa, relaciona-se essencialmente com tendências con- de uma experiência com mortos e feridos para saber que, onde fal-
servadoras e passivas e, na realidade, contém a "reverência" mais alta t a pão, corre sangue [59].)
ante o existente, vale dizer, ante o passado cristalizado. N u m artigo
DOS C A D E R N O S MISCELANEOS

g 66. Passado e presente. Na seqüência das gerações (e na me- 5 25. Temas de cultzrra. Obras de consulta. I. E. Würzburger e E.
dida em q u e cada geração expressa a mentalidade d e uma época Roesner, Hiibners Geogmphisch-Stati~ticheTabelle?~,L.W Seidel und
histórica), pode acontecer q u e se tenha uma geragão adulta d e idéias Sohn, Viena, 1932, in-8OY564 p. A edição d e 1932 é a 714 Indispensa-
e uma nova geração de idéias infantis, o u seja, q u e falte o vel náo só para os geógrafos e os cultores de estatística, mas para qual-
elo histórico intermediário, a geração capaz d e educar os jovens. quer um que queira ser informado das condições políticas, econômicas,
Naturalmente, tudo isto é relativo.Este elo intermediário jamais falta sociais, financeiras, comerciais, demográficas, etc., de todos os países
inteiramente, mas pode ser muito fraco "quantitativamente" e, portan- do globo. Na 71" edição se anexou um apêndice sobre os partidos
to,i n c a p z materialmente d e cumprir sua tarefa. Mais ainda: isto pode poIiticos de cada Estado, além de elaborações mais completas dos da-
acontecer com um grupo social e não com outro. Nos grupos subalter- dos econômicos, industriais, etc.
nos o fenômeno se verifica mais frequentemente e de modo mais grave, a. A. Kriszties, Bibliographie des sciences sociales. Em 1933 saiu o
em razão da dificuldade, inerente à kÓndiçáo "subalterna", de uma con- volume IV (1927), Paris, Giard, in-SO, 1.269 p., 170 francos.
tinuidade orgânica das camadas intelectuais dirigentes e d o fato de que,
para os poucos elementos que pode haver à altura da época histórica, é
§ 35. Passado e presente. "Os lugares-comuns pelo avesso. Para
difícil organizar aquilo que os americanos chamam trust de cérebros. muitos, ser "original" significa apenas inverter os lugares-comuns do-
minantes numa certa época: para muitos, este exercício é o máximo
$ 69. Passado e presente. Num texto político-jurídico juvenil de da elegância e d o esnobismo intelectual e moral. Mas o lugar-comiirn
Daniele Manin (cf.o artigo de A. Levi, "Politica di Daniele Maniri", na invertido permanece sempre um lugar-comum, uma banalidade. O lu-
N t ~ o v nRivistn Storicn de maio-agosto d e 2933), usa-se a expressão gar-comum invertido talvez seja ainda mais banal d o que o simples lugar-
"louco por decreto". Tommaseo, comentando o escrito de Manin, Iem- comum. O bohémien é mais filisteu d o que o comerciante interiorano.
bra q u e se dizia de uma senhora, admirada publicamente por Napoleáo, Daí aquele sentimento de tédio quc advém da freqüência de certos cír-
ser "bela por decreto". Por decreto é possível tornar-se muitas coisas, c~ilosque se acreditam de exceção, que se apresentam como iima aris-
e o epigrama está sempre vivo [603. tocracia disranciada da vida ordinária. O democrata 6 maçanre, mas
muito mais o é o autoproclamado reacionario quc exalra o carrasco e,
quem sabe, as fogueiras. Na ordem intelectual, Giovanni Papini é um
grande fabricante de lugares-comuns invertidos: na ordem política o
CADERNO 17 (1933-1 935)
eram os nacionalistas d o velho estilo, como Coppola, Forges Davanzati,
Maraviglia e, especialmente, Giulio De Frenzi [62]. Na mesma série
5 2. Passado e presente. Urna definição inglesa de civilização: 'A civiliza- intelectual deve-se inserir Farinelli com seu lirismo e patetismo, que
ç50 foi definida como u m sistema de controle e de direçáo que desen-
são mais aborrecidamente ~ e d a n t e ds o que os escritos de Zumbini [63].
volve d o modo mais vigorosamente econômico a máxima potên-
(A expressão c'Iugar-comum pelo avesso" é empregada por Turgueniev
cialidade de um povo [6 I]." A traduçáo não parece exata: o que signi-
em Pais e filhos. Bazarov enuncia seu princípio assim: "É um lugar-
fica c'~igorosarnenteeconômico"? A definição em seu todo diz POUCO,
comum dizer que a instrução pública é útil, é um lugar-comum elo
porque é excessivamente genérica. "Civilização" pode ser substituida
avesso dizer que a instrução pública é danosay', etc.1
por "regime políticoy', "governo", com um significado mais preciso.
11. Ação Católica
1. Caderno 20 (1934-1935):
Ação Católica - Católicos .

integristas -jesuitas -
moder~istas
1. A Açáo Católica. A Ação Católica nascida especificamente depois
de 1848 era muito diferente d a atual, reorganizada por Pio XI 111. A
posição originária da Ação Católica depois d e 1848 (e, em parte, tam-
bém n o período d e incubação que vai d e 1789 a 1848, quando surgem
e se desenvolvem o fato e o conceito d e nação e de pátria, que se ter-
nam o elemento ordenador - intelectual e moralmente - das gran-
des massas populares, em concorrência vitoriosa com a Igreja e a religião
católica) pode ser caracterizada estendendo-se religião católica a
observação que um historiador francês (conferir) fez a propósito da
monarquia "legitimista" e de Luis XVIII: parece que Luís XVIII não
conseguia se convencer d e que na França, depois de 1815, a monar-
quia necessitava de um parrido político específico para se sustentar.
Todos os raciocinios feitos pelos historiadores católicos (e as afirma-
ções apodíticas dos poíirífices nas Encícljcas) para explicar o nascimento
da Arão Católica e para viricular esta nova formaçáo a moviinentos e
atividades que "sempre existiram", desde Cristo, são extremamente
falaciosos. Depois d e 1848, em toda a Europa (na Itália a crise assume
a forma especifica e direta d o anticlericalisrno e da luta, inclusive mili-
tar, contra a Igreja), a crise histórico-político-intelectual é superada com
a nítida vitória d o liberalismo (entendido como concepção d o mundo
e não s ó como corrente ~ o l i t i c aarticular) sobre a concepção cosmo-
polita e "papalina" d o catolicismo. Antes de 1848, formavam-se parti-
dos mais ou menos efêmeros e personalidades individuais insurgiam-se
contra o catolicismo; depois de 1848, o catolicismo e a Igreja "devem"
ter um p r t i d o próprio para se defender e recuar o menos ~ossível;
não podem mais falar (extra-oficialmente, já que a Igreja jamais con-
CADERNO 20

rnunik em sentido depreciativo). Talvez também se ligue a essa coli-


fessará a irrevocabilidade d e tal estado de coisas) como se acreditas-
c e p ~ oá fato
~ d e que, em alguns países onde o s judeus não são conhe-
sem ser a premissa necessária e universal d e todo modo d e pensar e de
cido~,acredita-se ou acreditava-se que eles têm cauda e orelhas de porco
agir. Muitos já não conseguem hoje nem mesmo se convencer d e que
ou outro atributo animalesco [4].
um dia tenha sido assim. Para dar uma idéia deste fato, pode-se ofere-
O exame histórico crítico d o movimento d a Ação Católica pode
cer o seguinte modelo: hoje ninguém pode pensar seriamente em fun-
dar lugar, analiticamente, a diversas séries de pesquisas e de estudos.
dar uma associação contra O suicídio (é possivel que em algum lugar
0 s Congressos nacionais. C o m o são preparados pela imprensa
exista uma sociedade deste tipo, mas trata-se de outra coisa), já que
central e 1ocaI. O material oficia1 preparatório: relatórios oficiais e de
não existe nenhuma corrente d e opinião que procure convencer os
homens (e tenha êxito, ainda que s ó parcialmente) de que é necessário oposição-
suicidar-se em massa (embora tenham existido indivíduos, e até mes- A Afio Católica sempre foi um organismo complexo, mesmo an-
tes da criação d a Confederação branca d o Trabalho e d o Partido Popu-
mo pequenos grupos, que defenderam essas formas d e niilismo radi-
lar [53. A Confederação d o Trabalho era considerada organicamente
cal, ao que parece na Espanha): a "vida", evidentemente, é a premissa
parte integrante d a Ação Católica; o Partido Popular, ao contrário, não,
necessAria para qualquer manifestação de vi da. O catolicismo teve uma
mas o era d e fato. Além de outras razões, a criação d o Partido Popular
tal funçáo e disso se conservam inúmeros traços na linguagem e no modo
foi determinada pela convicção d e que, n o após-guerra, seria inevitá-
de pensar, sobretudo dos camponeses: cristáo e homem são sinônimos,
vel um avanço democrático, a o qual seria preciso dar um órgão e um
o u inelhor, sgo sinônimos cristão e "homem civilizado" ("Não sou cris-
freio, sem pôr em risco a estrutura autoritária d a Ação Católica, que
tão!"- "E entáo o que você é, um animal?"). O s criminosos ainda
oficialmente é dirigida pessoalmente pelo Papa e pelos bispos. Sem o
dizem: "cristãos e criminosos" (em Ústica, primeiras surpresas quan-
do, h chegada d o vapor, ouvíamos o s criminosos dizerem: "Sáo todos Partido Popular e sem as inovações em sentido democrático introduzidas
cristãos, só há cristaos, náu há sequer um cristão.") [2]. Quanto aos na Confederação Sindical, o impulso popular teria subvertido toda a
prisioneiros, a o contrário, é mais comum que digam: "cidadáos e pre- estrutura da Ação CatóIica, pondo em questão a autoridade absoluta
sos'>, OU, ironicamente, "cidadáos e soldadosy', embora os sulistas rtam- das hierarquias eclesiásticas. A mesma cotnplexidade verificava-se e se
bém digam "cristãos e presos". Seria assim interessante estudar toda a verifica ainda n o campo internacional; embora o Papa represente um
série d e evoluçóes histórico-semânticas através das quais, em francês, centro internacional por excelência, existem d e fato alguns organis-
de "cristão" se chegou a crétin (de onde vem o italiano "cretino") e até mos que funcionam para coordenar e dirigir o movimento político e
mesmo a grédin; o fenômeno deve ser semelhante àquele pelo qual sindical católico em todos os países, como o Centro de Malines, que
''vilão'', de "homem d o campo", terminou por significar "mal-educa- ,
redigiu o Código Social, e o Centro d e Friburgo para a ação sindical
do" e até "estúpido e patife"; o u seja, a palavra "cristão", empregada (deve-se verificar a funcionaiidade destes centros depois das mudan-
pelos camponeses (parece que pelos camponeses d e algumas regiões ças ocorridas não apenas na Itália, mas nos países alemães, n o campo
alpinas) para indicar a si mesmos como "homens", separou-se, em a1- da organização política e sindical católica) [6].
guns casos de dialeto Iocal, de seu significado religioso e teve o mesmo Realização dos Congressos. Temas colocados na ordem d o dia e
destino de rnanant [3]. Talvez também o russo krestianin = "campo- temas omitidos para evitar conflitos radicais. A ordem d o dia deveria
nês" tenha tido a mesma origem, a o passo que "cristáo" em sentido resuItar dos problemas concretos que chamaram a atenção no lapso de
religioso, forma mais culta, manteve a aspiração d o "x" grego (dizia-se tempo entre um Congresso e outro e das perspectivas futuras, e não só
CADERNOS D O CÁRCERE CADERNO 20

dos pontos doutrinários em torno d o s qnais se formam as correntes parlamento (e um senador n o Senado), podem existir três ou mais ver-
de opinião e se agrupam as frações. sões d e seu discurso: 1) a versão oficial das atas purlurnentnres, que
n base e com que critérios são escolhidas o u renovadas as
~ r que habitualmente é revista e corrigida e muitas vezes suavizada post festulil;
direções? Com base numa tendência doutrinária genérica, dando à nova 2 ) a versiio dos jornais oficiais d o movimento a o qual o deputado per-
direção uma confiança genérica, ou só depois q u e O Congresso fixou tence oficialmente: ela é combinada pelo deputado com o jorIlalista
uma concreta e precisa de ação? A democracia interna de que cobre o parlamento, de modo a não chocar certas suscetibilidadeS,
um movimento (isto é, o grau maior ou menor de democracia interna, ou da maioria oficial d o partido OU dos leitores locais, e a não criar
ou seja, de dos elementos de base na decisão e na fixação obstáculos prematuros a certas combinações em andamento ou deseja-
da linha de asao) pode ser medida e julgada, também e talvez sobretudo, das; 3) aversão dos jornais de outros partidos ou dos chamados órgãos
por este critério. da opiniáo pública (jornais de grande difusão), que é feita pelo deputa-
Outro elemento importante é a composição social dos Congres- d o de acordo com os respectivos jornalistas credenciados, de modo a
sos, d o grupo dos oradores e da direção eleita, em relação com a com- favorecer determinadas combinações em curso: tais jornais podem mu-
posiçgo social d o movimento em seu conjunto. dar de um período para outro, de acordo com as mudanças ocorridas
Relnção entre as gerações adultas e as juvenis. O s Congressos ocu- nas respectivas direções políticas e nos governos. O mesmo critério pode
pain-se diretamente do movimento juvenil, que deveria ser a principal ser estendido a o campo sindical, a propósito da interpreta<;ãoa ser
fonte para o recruramento e a melhor escola para O movimento, ou a determinados acontecimentos ou também 2 orientação geral de de-
deixa os joveris cntregues a si mesmos? terminada organização sindical. Por exemplo: La Stnmpn, IZ Resto de1
Que i i i f l uência têm (tinham), nos Congressos, as orgaiiizaçóes su- Cnrlino e 11 Te??zpo(de Naldi) foram, em determinados anos, caixas de
bordinadas e subsidiárias (ou que seriam tais), o grupo parlamentar, os ressonancia e instrumentos de combinaçóes políticas tanto dos catbli-
organizadores sindicais, etc. ? E dada aos deputados e aos dirigentes cos quanto dos socialistas [7]. Um discurso parlamentar (ou uma gre-
sindicr-tts,nos Congressos, uma posição especial, de modo oficial e or- ve, ou certa declaração de um dirigente sindical), socialista ou popular,
gânico, ou, pelo menos, somente de fato? era apresentado sob um determinado ângulo por estes jornais a seu
Além de ver como isso ocorre nas discussóes dos Congressos, é público, enquanto os órgãos católicos ou socialistas apresentavam-no
necessdrio estabelecer o desenvolvimento q u e tiveram, n o t e m p o e no sob outro ângiilo. O s jornais populares e socialistas até mesmo silen-
espaço, os problemas concretos mais importantes: a questão sindical, ciavam a seu público certas afirmações d e deputados dos respectivos
a relaçso entre o centro político e o s sindicatos, a questão agrária, as q u e tendiam a tornar possível uma combinação arl lamentar-
quest6es de organização interna, em todas as esferas. Cada questão governamental das duas tendências, etc. Também é indispensável le-
apresenta dois aspectos: como foi tratada teórica e tecnicamenre e como var em conta as entrevistas concedidas pelos deputados a outros jornais
foi enfrentada na prática. e o s artigos publicados em outros jornais. A homogeneidade doutriná-
Ourra questão é a da imprensa, em seus diversos aspectos: diária, ria e política de um partido também ~ o d ser e medida com este crité-
periódica, opúsculos, livros, centralizãç50 ou autonomia da imprensa, etc. rio: q u e diretrizes são privilegiadas pelos elementos desse art tido
A fração parlamentar: a o tratar de toda atividade parlamentar de- quando colaboram em jornais de outras tendências ou nos chamados
terminada, é preciso levar em conta alguns critérios de pesquisa e de jornais de opinião pública: em alguns casos, as divergências internas
julgamento. Quando o deputado de um movimento popular fala no só se manifestam assim, ou seja, os dissidentes escrevem em outros
CADERNOS DO CARCERE CADERNO 20

jornais artigos assinados o u náo, d ã o entrevistas, sugerem assuntos e das iniciativas, não 6 mais uma força ideológica
polêmicos, deixam-se provocar para serem "obrigados" a responder, mas apenas uma força subalterna.
não desmentem certas opiniões que lhes são atribuidas, etc. '

5 3. Sobre a pobreza, o catolicismo e n hierarquia eclesidsticn. N u m


5 2. Católica e os ferci6rios franciscanos [a]. É possível fazer livrinho sobre Ouvriers e t pntrons (dissenação premiada em 1906 pela
uma qualquer entre a Ação Católica e instituições como Academia d e Ciências Morais e Políticas de Paris), menciona-se a res-
os terciarios franciscanos? Certamente não, embora seja válido refe- posta dada por um operário católico francês a o autor da objeção que ]he
rir-se inicialmente, para melhor definir as características e OS limites fora apresentada, segundo a qual, d e acordo com as palavras de Jesus
d a própria Ação Cató! ica, não si> aos terciários, mas também a o fenô- de um Evangelho, devem existir sempre ricos e pobres: "Pois
meno mais d o aparecimento das ordens religiosas n o desenvolvi- bem, deixaremos pelo menos dois pobres para que não digam que Jesus
mento histórico d a Igreja. A criação dos terciários é um fato muito erroli [10]." A resposta é epigramática, mas à altura da objeção. A partir
interessante de origem e tendência democrático-Popular, que ilumina do momento em que a questão adquiriu uma importância histórica para
o caráter d o franciscanismo como retorno tendencial aos mo- a Igreja, ou seja, desde que a Igreja teve de enfrentar o problema de con-
dos de vida e de crença d o cristianismo primitivo, comunidade d e fiéis ter a chamada "apostasia" das massas, criando um sindicalismo católico
e não apenas do clero, como cada vez mais vinha ocorrendo. Por isso, (operário, porque jamais foi imposto aos empresários dar um caráter
seria litil estudar adequadamente o êxito desta iniciativa, q u e náo foi confessional a suas organizações sindicais), as opinióes mais difut~didas
muito g a n d e , já que o franciscanismo náo se tornou toda a religião, sobre a questão da "pobreza", tal como resultam das encíclicas e d e ou-
corno era a intenção de Francisco, mas reduziu-se a uma das muitas tros documentos autorizados, podem ser resumidas nos seguintes pon-
ordens religiosas existenres 193. A Ação Católica assinala o início de tos: 1) A propriedade privada, sobretudo a fundiária, é um "direito
urna época nova na história d a religião católica: de uma época em que natural", que não pode ser violado nem mesmo através de altos irnpos-
ela, de concepção totalitária (no duplo sentido: de que era uma con- tos (derivaram deste principio os programas políticos das tendêticias
cepçáo total do mundo d e uma sociedade em sua totalidade), torna-se democrata-cristãs, n o sentido da disrribuiçáo da terra aos camponeses
parcial (também n o duplo sentido) e deve dispor de um partido pr6- mediante indenização, bem como suas doutrinas financeiras); 2 ) Os
prio. As diversas ordens religiosas representam a reação d a Igreja (co- pobres devem contentar-se com sua sorte, já que as diferenças de classe
munidade dos fieis ou comunidade d o clero), a partir d o alto o u a partir e a distribuição da riqueza sáo disposições de deus e seria ímpio tentar
de baixo, contra as desagregações parciais d a concepção d o mundo eliminá-las; 3) A esmola é um dever cristão e implica a existência da
(heresias, cismas, etc., e também degenerescência das hierarquias); a pobreza; 4) A questão social é antes de mais nada moral e religiosa, nãc
Açáo Católica representa a reação contra a intensa aposrasia de am- econômica, devendo ser resolvida através da caridade cristã e dos dita-
plas massas, isto é, contra a superação de massa da concepção religiosa mes d a moral e d o juízo da religião. (Cf. o Cddigo Socinl de Malines, em
d o mundo. Não é mais a Igreja que estabelece o terreno e o s meios da suas sucessivas elaborações.)
luta; ao contrário, ela deve aceitar o terreno que lhe é imposto pelos
adversários o u pela indiferença e servir-se de armas tomadas d e em- $ 4. Católicos integristas, jesuítas, modernistas. O s "católicos
préstimo a o arsenal de seus adversários (a organização política de integristas" tiveram muito êxito durante o papado de Pio X; represen-
massa). A Igreja, portanto, está na defensiva, perdeu a autonomia dos taram uma tendência européia d o catolicismo, politicamente de extre-
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mr-i..direita, mas naturalmente eram mais fortes em determinados pai- encontraram-se objetivamente n o mesmo campo e cola-
seç, como a Itália, a França, a Bélgica, onde, sob diferentes formas, as boraram entre si (Buonaiuti teria escrito na revista de Benigni) [15].
tendênciaç de esquerda em política e n o campo intelectual manifesta- O q u e resta hoje dos modernistas e dos integrisras? É difícil iden-
vam-se com mais força na organização católica [ll]. N a Bélgica, du- tificar e calcular a força objetiva de que eles dispõem na organizaçgo
rante a guerra, o s alemães confiscaram uma grande quantidade de eclesiástica, sobretudo a dos modernistas (OS integristas mantiveram
documentos reservados e secretos dos "integristas", publicados em suas forças quase intact* mesmo depois da campanha contra aActioit
seguida, com o q u e se teve a mais ampla prova de q u e o s "integristas" Frmzçaise): d e qualquer modo, eles sempre permanecem como "fer-
haviam constituído uma verdadeira associação secreta para controlar, mentos" q u e continuam a atuar, na medida em que representam a luta
dirigir, "expurgarn o movimento católico em todos OS seus níveis hie- contra os jesuítas e seu superpoder, luta travada ainda hoje por ele-
rárqui cos, com códigos cifrados, agentes de confiança, correspondên- mentos d e direita e de esquerda, em meio à aparente indiferença da
cias clai~destinas,espiões, etc. O líder dos integristas era o Monsenhor massa d o clero e com resultados não desprezíveis na massa dos fiéis,
Umberto Benigni e uma parte d a organização era constituída pelo que ignora estas lutas e seu significado, mas q u e precisamente por isto
Sodalitium Pia?zurn (Pianuín, derivado d e Pio V). Monsenhor Benigni, náo pode alcançar uma mentalidade unitária e homogênea de base.
lnorto &n 1934, era u m homem d e grande capacidade teórica e práti- Para estas forças internas, antagonistas e clandestinas, ou qiiase,
ca e de uma incrível atividade: escreveu, entre outras, uma obra de da Igreja (para o modernismo, a clandestinidade é indispensável), é
gr:inde fô1ego, La storia s o c i ~ ~della
l e Chiesçr, da qual foram publicados conveniente ter "centros" externos públicos, oii com eficilcia direta
4 volumes de mais de 600 p8ginas cada um, e m grande formato, pela sobre o público, através de pcriódicos ou d e edições d e o p ú s c ~ ~ l oe s
Editora Hoepli 1121. C o m o se depreende da CiííiltA Cattolicn, Benigni livros. Entre o s centros clandestinos e os públicos, existem ligações
jamais interrompeu sua ação conspirativa nu interior d a Igreja, apesar clandestinas q u e se tornam o canal dos ódios, das vinganças, das dc-
das dificuldades com que se defrontaram os integristas em decorrência núncias, das insinuações pérfidas, dos disse-me-disse que mantêm sem-
da adotada por Pio XI, hesitante, titubeante, tímida, mas com pre viva a luta contra os jesuítas (que também possilcm uma organizaçao
orientaçao popular dernocrhtica em função da necessidade d e criar não oficial ou mesmo clandestina, para a qual devem contribiiir os
fortes massas de A ~ ã o Católica. N a França, os integristas apoiavam o chamados "jesuítas laicos", ci~riosainstituiçáo talvez copiada dos
movimento da Actio~zFmrgaise, foram contra o Sillon: em todos os terciários franciscanos e que parece representar numericamente cerca
lugares sáo contra qualquer modernismo político e religioso [13]. de 1/4 de todas as forças jesuítas: essa organização dos "jesuítas laicos"
Diante dos jesuítas, assumiam uma atitude quase jansenista, o u seja, merece ser estudada com atenção). Tudo isto demonstra que a força
de grande rigor moral e reiigioso, contra toda forma d e relaxamer-ito, coesiva d a Igreja é muito menor d o que se pensa, não só porque a cres-
de oportunismo, de cenrrismo [14]. O s jesuítas, naturalmente, acusam cente indiferença d a massa dos fiéis pelas questões p u r a i ~ ~ e nreligio-
te
os "integristas" de jansenismo (de hipocrisia jansenista) e, mais ainda, sas e eclesiásticas d á um valor muito relativo à superficial e aparente
de fazerem o jogo dos modernistas (teologizantes): 1) por sua lura contra homogeneidade ideológica, mas pelo fato bem mais grave d e que o
OS jesuítas; 2) porque ampliavam de tal modo a noção d e modernismo centro eclesiástico é impotente para aniquilar as forças organizadas que
e, por conseguinte, ampliavam de tal modo o alvo a atingir q u e ofere- lutam conscientemente n o seio d a Igreja. Em articular, a luta contra O
ciam aos modernistas um campo de manobra bastante cômodo. Com modernismo desmoralizou o jovem clero, que 1120 hesita em pronun-
efeito, ocorreu que, em sua luta comum contra o s jesuítas, integristas e ciar o juramento antimodernista mesmo conservando suas opiniões.
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(Recordar o s ambientes turinenses dos jovens ec~esiásticos,iiiclusive explícito em seu livro, mas que se pode deduzir como verossímil, dada
dominicanos, antes d a guerra, bem como seus desvios, que iam até o a rortuosidade destes escritores). Benigni organizou o serviso de im-
ãcolhirriento benevolente das tendências modernizantes do islamismo prensa contra o modernismo n o período da encíclica Pascendi [ 171.
e do budismo e a conceber a religião como um sincretismo mundial de suas Ricerche religiose (julho de 1928, p. 335), Buonaiuti narra u m
todas as religióes superiores: deus é como o sol, do qual todas as reli- característico (relatado pelo Padre Rosa em tom de censura,
giões são 0 s raios e cada raio leva a o único sol, etc.) etc). Em 1909, o modernista Prof. Antonino D e Stefano (um padre
De um artigo do Padre Rosa ("Risposta a d Una polemica sewa que deixou a batina e é hoje professor de História na Universidade)
onesta e senza legge", n a Civz'ltà Cattolica de 21 de julho d e 1928), são devia ~ u b l i c a rem Genebra uma Revue Moderniste Inter~zntionnl~:
extraídas aç seguintes indica~ões:Monsenhor Benigni continua (em Buonaiuti escreveu-ihe uma carta. Poucas semanas depois, é chamado
1928) a dispor d e uma notável organizaçgo: uma coleção intitulada ao Santo Oficio. O responsável da época, o dominicano PasquaIigo,
VéTitésé publicada em Paris e nela aparecem as assinaturas Rècalde, refutou palavra por palavra sua carta a D e Stefano. A carta fora furta-
~ u ~erus,
c Simon; Luc Verus é o pseudônimo coletivo dos "integristas". da e m Genebra; um emissário romano "penetrara" na casa d e D e
Rosa cita o opúsculo Les d6couvertes duJésaite Rosa, saccesseur de uon Stefano, etc. (Naturalmente, para Buonaiuti, Benigni fora iim instru-
Gerlach, Paris, Linotypie G. Dosne, Rue Turgot 20, 1928, que ele atri- mento e um cúmplice dos jesuítas, mas parece que, em 1904, Buonaiuti
bui a Benigni pelo menos n o q u e se refere a o material. Os jesuítas são c0)aborou na Miscellanea de Benigni.)
acusados de ser "amigos dos maçons e dos judeus" (o que faz lembrar Sobre este tema, Cacdlicos integristns -jesuítas - modernistas,
a "doutrina" d e Ludendorff sobre a "internacional rnasônico-judaico- que representam as três tendências "orgânicas" d o catolicismo, ou seja,
jesuitica"), são chamados de "demagogos e revolucionários", etc. C161 são as forças que disputam a hegemonia na Igreja romana, e preciso
Em Roma, Benigni serve-se da agência Urbs o u Romana e assina suas coletar todo o material útil e elaborar uma bibliografia. (A colcçao de
publjcaçóes coin o nome de seu sobrinho, Mataloni. O boletim roma- Civiltn Cattolica, das Ricerche religiosa d e Buonai uti, da Miscslln?zea
no de Benigni intitulava-se Veritas (ainda circula ou até quando circu- de Benigni, as coleç6es de opúsculos polêmicos das três correntes, etc.)
lou?). Benigni (em 1928 o u antes?) publicou um opúsculo, Di fronte D o que se dcpreende da Ciuil~riCattolica, parece que Fede e Rctgiojze
nlla ccrlunni'a, d e poucas páginas, com documentos que se referem a o é hoje a revista mais importante dos católicos "integristas". Ver quais
Sodalitium Pianum, opúsculo q u e foi reproduzido parcialmente e de- siio seus principais colaboradores e em que pontos ela se coloca em
fendido por dois periódicos católicos: Fede e Ragione (de Florença) e contradição com os jesuítas: se em pontos referentes A fé, 2 moral, 2
Ligurin del Popolo (de Gênova). Benigni dirigiu o periódico Miscellanea política, etc. 0 s ''integristas" sgo fortes n o conjunto de algumas ordens
di storia ecclesiclstica. religiosas rivais dos jesuítas (dominicanos, franciscanos): deve-se re-
O opúsculo Una polemica senza onestà e senza legge, contra o Pa- cordar que nem mesmo os jesuitas são perfeitamente homogêneos. O
d r e Rosa, é do Prof. E. Buonaiuti. Rosa fala do livro d e Buonaiuti, Le Cardeal Billot, integrista intransigente a ponto de abandonar o car-
modernisme catholique (publicado na coleção dirigida por E L. Cou- dinalato, era jesuíta; e jesuitas foram alguns destacados modernistas,
chaud, editada por Rieder), e observa que o autor finalmente admite como Tyrrell.
uma série de fatos que sempre tecia negado durante a polêmica mo-
dernista (por exemplo, q u e Buonaiuti foi o autor d a campanha moder- O artigo "L'equilibrio della verità fra gli estremi dell'errore", na
nista do Giornale d'ltalia, o q u e Buonaiuti realmente não diz de modo Ciuiltri Cattolica de 3 de novembro de 1928, parte da publicaçáo de
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Nicolas Fontaine, S~i;rztSiège, "Action Frnnçnise", eli " ' C ~ ~ t h ~ E i ~ z ~ e ~ integristas, e não 0s jesuítas, são Yantidemocráticos", que os jesuítas,
ilZtérairzw, Paris, Gamber, 1928, sobre O qual, e m nota, é dado o se- na realidade, ajudam a democracia, etc.; quem é Fontaine? É um espe-
p i n t e juizo: "0autor é dominado por preconceitos políticos e libe- nalista em estudos sobre política religiosa? N ã o poderia ser inspirado
rais, quando vê política na condenação da Action Frnnçaise; próprios jesuitas?).
mas 0s fatos e 0s documentos que ele arrola sobre o famoso 'Sodalicio' Este artigo d a Civiltà Cottolicn, certamente escrito pelo Padre R ~ ~ ~ ,
jamais foram desmentidos." Ora, Fontaine não publicou nada comple- é muito cauteloso no USO dos documentos republicados por Fontaine,
tamente inédito (os documentos d e Fontaine sobre os "integristas" evita analisar aqueies que não só desacreditam o s integristas, mas Ian-
haviam sido publicados, em abril de 1924, por Moz~uement).Por qze, çam uma sombra d e comicidade e d e descrédito sobre toda a Igreja (os
então, 0s jesuítas náo se serviram deles mais cedo? A questão é impor- integristas haviam organizado uma verdadeira sociedade secreta com
tante e, a o que parece, pode ser resolvida nos seguintes termos: a ação códigos, nos quais o Papa é chamado d e "Baronesa MichelinaV e ou-
pontifjcia contra a Actio~zFranpPse é O aspecto mais evidente e tras personalidades recebem nomes igualmente romanescos, o q u e
resolutivõ de uma ação mais ampla com O objetivo d e liquidar uma mostra a mentalidade de Benigni diante d e seus "superioresn).
série de conseqüências d a política de Pio X (na França, mas indireta- Sobre a questão "de mérito" d a política d e Pio XI, as conclusóes
mente também em outros países) 1181. O u seja: Pio XI pretende lirni- não são fáceis, como o demonstra o próprio curso desta política, um
tar a importância dos católicos integristas, abertamente reacionários e curso incerto, tímido, hesitante, em função das imensas dificuldades
que tornam quase impossível a organizaçáo na França d e uma podero- contra as quais tem d e se chocar continuamente. Afirmou-se muitas
sa Ação Católica e de u m partido democrático-popular que possa con- vezes que a Igreja Cardlica possui virtudes inesgotáveis d e adaptaçáo
corres com os radicais, mas sem ataca-los d e frente. A luta contra o e desenvolvimento. Isto náo é muito exato. N a vida d a Igreja, podem
modernismo desequilibrara excessivamente à direita o catolicisrno; ser fixados alguns pontos decisivos. O primeiro é o que se identifica
portanto, 6 preciso novamente "centralizá-lo" nos jesuítas, isto é, dar- com o cisma entre Oriente e Ocidente, d e caráter territorial, entre
lhe de novo uma forma política dútil, sem enrijecimentos doutrinhrios, duas civilizaçóes llistóricas contrastantes, com escassos elementos
coim uma grande liberdade de manobra, etc.; Pio XI é realmente o papa ideológicos e culturais, que tem início com o advento d o Império de
dos jesuítas.
Mas lutar contra os católicos integristas numa frente orgânica é
muito mais dificil d o que lutar contra os modernistas. A luta contra a
I1 Carlos Magno, isto é, com uma renovada tentativa de hegcrnonia
politica e cultural d o Ocidente sobre o Oriente; o cisma surge num
período em que as forças eclesi6sricas estão pouco organizadas, e tal
Acrion Française oferece um ótimo terreno; os integristas são comba- cisma se a ~ r o f u n d acada vez mais, automaticamente, pcln própria
tidos não como tais, mas como partidários de Maurras, ou seja, a luta força das coisas, irnpossíveis de controlar, como ocorre com duas
é travada em ordem dispersa contra indivíduos que não obedecem ao pessoas q u e durante décadas não têm contato e se afastam uma d a
papa, q u e lhe dificultam a defesa da fé e d a moral contra u m ateu e um outra até falarem duas linguas diferentes. O segundo é O da Refor-
paga0 confesso, enquanto o conjunto da tendência é oficialmente ig- ma, q u e se verifica em condições bem diversas e que, se tem como
norado. E essa a importância capital d o livro de Fontaine, que mostra resultado uma separação territorial, tem sobretudo um caráter cultu-
a ligaçao orgânica entre Maurras e o "integrismo" e ajuda fortemente ral e determina a Contra-Reforma e as decisóes d o Concílio de Trento,
a ação d o papa e dos jesuitas (deve-se notar que Fontaine insiste mui- que limitam bastante as possibiI idades de adaptação d a Igreja Católi-
tas vezes, junto aos "laicistas" franceses, sobre o f a t o d e q u e os ca. O terceiro é o d a Revolução Francesa (Reforma liberal-democrá-
CADERNOS DO C Á R C E R E CADERNO 20

tica), que obriga ainda mais a Igreja a enrijecer-se e mumificar-se num e n c í ~ I i Pnscendi
a e que renunciou a o cardinalato, coisa raríssima na
organismo e formalista, cujo chefe nominal é o papa, com história d a Igreja, o que demonstra a obstinada teimosia de Billot e a
poderes teoricamente "autocráticos", mas na verdade muito escas- resolutavontade d o papa de superar qualquer obstáculo na luta contra
sos, ja que todo o sistema s ó se sustenta por causa de seu enrijechento Maurras).
típico de um Toda a sociedade na qual a Igreja se movi- A R e m e Internationde des Sociétés Secrètes, dirigida pelo Abade
menta e pode evoluir tende a se enrijecer, deixando à Igreja escassas ~ o u l i n ,é "integrista" e ferozmente antijesuíta; Boulin está ligado a
possibilidades de adaptaçáo, já escassas p o r causa d a natureza atual ~enigni-Matalonie utiliza pseudônimos (Roger Duguet). A Actiolz
da própria Igreja. A irrupção d e novas formas d e nacionalismo, q u e Frnnçaise e o s integristas agarram-se desesperadamente a Pio X e pre-
sáo de resto o termo final do processo histórico iniciado com Carlos tendem manter-se fiéis a seus ensinamentos (o que, n o desenvolvimen-
Magno, ou seja, com o primeiro Renascimento, torna não só a adap- t o da Igreja, seria um belo precedente, já que todo papa, morto, poderia
tação impoçsível, mas a existência difícil, como se vê n a Alemanha oferecer o terreno para organizar uma seita ligada a uma sua particu-
hitteriana. Por o u t r o lado, O papa n ã o pode "excomungar" a Alema- lar atitude; os "integristas" pretendem reconduzir a primeiro plano o
nha hitleriana; deve até mesmo, por vezes, apoiar-se nela, o q u e tor- Sillrrbo d e Pio I X : na proposta da Action Fmnçnise de ter um eclesiás-
n a impossível qualquer política religiosa retilínea, positiva, com tico para a cátedra do Sillnbo em suas escolas, estava contida uma há-
alguma força. Diante d e fenômenos como o hitierismo, até mesmo bil provocação, mas Pio XI náo só não quer dar atualidade a o Sillnbo,
amplas concessões a o modernismo náo teriam mais nenhum signifi- mas busca até mesmo atenuar e edulcorar a ei-iciclicaPnsçendi) [I 91.
cado, mas só aumentariam a confusão e o embaraço. N e m se pode O artigo da Civilt2 Cnttolicn é realmente importante e deve ser
-
/

dizer que as coisas na França sejam mais risonhas, ja q u e exatamente revisto n o caso d e um aprofundamento d a questão. Será necessririo
na França foi criada a teoria q u e consiste em contrapor a "religião da examinar todos os diferentes matizes a propósito da maçonaria, d o
pátria" à "religião romana", o que permite supor um aumento d o anti-semirismo, do nacionalismo, da democracia, etc. Tambérn em
nacionalismo patriótico e não d o cusrnopolitismo romano. relação aos modernistas faz-se distinçáo entre iludidos, etc., e toma-
As observaçóes seguintes sáo extraídas do artigo da Ciuilt2 Cattolice se posição contra o antimodernismo de Benigiii, etc.: "Tanto mais que
de 3 de novembro de 1928. Afirma-se que, também n a Itália, Maiirras se devia temer, e não deixamos d e fazê-lo notar desde aqueles anos a
encontrou defensores entre os cat6licos: fala-se de "imitadores ou par- quem d e díreito, que tais métodos fariam o jogo dos verdadeiros
ti dários, ostensivos ou ocultos, mas q u e se demi axn igualmente d a pf e- modernistas, preparando graves danos para a Igreja no futuro. O que
nitude d a fé e d a moral católicas, n a teoria ou n a prática, mesmo se verificou depois, e ainda se verifica n o presente, no mau espírito
proclamando e até iludindo-se de querê-las defender integrnlrnente e de reação, não apenas d o velho modernismo e d o liberalismo, mas
melhor do que o s outros". A Action Françnise "lançou contra quem também d o novo e d o pr6prio integrismo. Este se revelava entáo dis-
escreve estas linhas (Padre Rosa) um amontoado d e infâmias e d e calú- posto a se opor a toda forma ou aparência de modernismo; aliás,
nias incríveis (sic), até as repetidas insinuações d e ussassinatos e de presumia-se, como se costuma dizer, mais papal d o que o papa; mas
impiedosns execuções de confrades" (deve-se ver como e quando estas hoje, a o contrário, com grande escândalo, ou resiste hipocritamente
acusações foram lançadas contra o Padre Rosa; entre os jesuítas, havia a o papa, o u o combate abertamente, como ocorre entre 0 s barulhen-
uma ala integrista e favorável a Maurras, com figuras d e primeiro pla- tos defensores d a Action Française na França e entre seus silenciosos
no, como o Cardeal BilIot, q u e foi u m dos principais redatores da cúmplices na Itália."
'I
h.,
CADERNOS DO CÁRCERE CADERNO 20 P
13
osintegrisras chamam o s jesuítas de "rnodernizantes" e a tcnden-
que eles expressam de "modernizantismo": dividiram OS católicos
"também este (periódico) nada católico e moral, mas respeitado por
nele colaborar Urnberto Benigni, cujo nome é registrado na bela com-
I?)
'I I
-l

e m integristaç e náo integristas, isto é, "papais" e "episcopais" (ao que panhia daqueles jovens mais OU menos dissolutos". "O mesmo
parece, a enciclica Ad bentissimi, de Bento XY observou, para condenb d e difamaçáo, que prossegue sob O atual pontificado, n o seio das pró- Ji7
prias fileiras dos cató~icos,dos religiosos e d o clero, tem provocado
Ia, esta tendéncia a introduzir tais distinções entre o s católicos, que
um indizível mal às consciências, um grande escândalo e alienação de
li)
prejudicariam a caridade e a unidade dos fiéis) [20]. 11,
A k p i ~ ~ j è(de
r e S.E, iniciais d o ccSodalíciode Pio") era a sociedade almas, sobretudo na F r a n p . Com efeito, na França a paixão política
induzia a crer mais facilmente nas calúnias, frequentemente enviadas 'I3
secreta que se escondia sob o véu d o "Sodalicio d e Pio" e q u e organi- \/I

zou a luta contra os jesuítas modernizantes, "em t u d o d e modo contrA- de Roma, sobretudo depois que o rico Simon e outros cúmplices, de \\ 3
espírito galicano e jornalístico (sic), financiaram seus autores e propor- 13
rio 5 primeira idéia e a o programa oficial proposto a o Santo Pontífice 3
cionaram a difusso gratuita de seus libelos, notadamente os antijesuíticos ll
Pio X, depois aprovado pelo Secretário d o Consistório, não certamen-
te para que servisse h expressão de paixões privadas, à denuncia e difa- acima mencionados, nos seminários, nas residências dos phrocos, nas !'

']i
>
maçso de integríssimas e até mesmo eminentes personagens, d e bispos cúriàs eclesiásticas, onde quer que houvesse alguma probabilidade ou -I
e de inteiras ordens religiosas, sobretudo da nossa, q u e jamais até en- verossimilhança d e que a calúnia pudesse vingar; e também entre os ;í)
táo se vira envolvida em semelhantes calúnias, nem mesmo na época leigos, sobretudo jovens, e nas próprias escolas públicas, com uma pro- I
digalidade sem par." O s autores jA suspeitos valem-se d o ai-ionimato
3
de siia supressZio. Finalmente, mais tarde, terminada a guerra, e depois i
ou d c pseudônimos. "[...] É notório, particularmente entre os jornalis- J
ainda, com a dissalução d o Sodalicio de Pio -decretada pela Sagrada I
Congregação d o Concilio, não cerramente a título d e louvor, mas de tas, quão poucos títulos de honra mereça semelhante grupo, com seu :
proibiçao e censura -, promoveu-se, inteiramente /i cusm de um co- principal inspirador, o mais astuto em dissimular-se, porem o mais
culpado e o mais interessado na intriga" (a mençso é a Benigni ou a
:
1
>
tihecido e riqi.dssilno finn~tcistn,Simon, de Paris, e de sua numerosa '-l
camarilha, a publicação e ampla difusão gratuita d o s mais ignominio- algum outro figura0 d o Vaticano?).
sos e insensatos libelos contra a Companhia de Jesus, seus santos, seus Segundo o Padre Rosa, inicialmente não havia acordo entre a Açtiorz 'I)

doi~torese mestres, suas obras e suas constituições, ainda q u e tenham Frrrriçnise e o s "integristas", mas ele se foi formando a partir de 1926; I\ " )
sido solenemente aprovadas pela Igreja. E a conhecida coleção dos esta afir1naç80, porém, tem certamente o objetivo explícito de excluir r')
chamados Récnkie, que já cresceu para mais de uma dúzia d e libelos, qualquer motivação política (luta contra os ultra-reacionários) da luta
alguns com mais de um volume, nos quais se reconhece exageradamente contra aAc~ioízFríznçnise, bem como d e diminuir as responsabilidadss
e se retribui em não menor medida o papel dos cúmplices romanos. de Pio X. Na última nota d o artigo, afirma-se: "Todavia, n5o se deve "1
Ela agora é reforçada pela publicação irmã de folhetos difamatórios, confundir um partido com o outro, como já se fez; por exemplo, Nicolas
Fontaine, na citada obra Snint-Siège, "Action Fraiqnise" et "Cntholiques
5 /I/

os mais desatinados, sob o título geral e enganoso de Vkrités, êmulos


das publicações gêmeas d a Agência Urbs ou Romana, cujos artigos são
transcritos, quase literalmente, em outras publicações 'periódicas"'.
intégrgrn~d"' Este autor, como assinalamos, é mais d o que liberal, mas
irifelizmetzte (sic) é iizformadíssirno sobre os casos nada edificantes da
5
:i
O s integristas espalharam "as piores calunias" contra Bento X y mencionada sociedade clandestina, dita Snpinière, e de seus defenso- 1
como se pode ver no artigo publicado, por ocasião da morte deste papa,
na Vieille Frnnce (de Urbain Gohier) e na Ro~zrin(fevereiro de 1922),
res franceses e italianos, e por isso é ridículo reprovar seu liberalismo:
o q u e se deve fazer é desmentir os fatos, sobre 0s quais voltaremos a
5, i1

I
I/

1
11'
r )
CADERNO 20

falar n o devido tempo." N a realidade, Fontaine mostra exrtustivamen- O caso do Abade Turmel de Rennes. N a coletânea de escritos so-
te o entre "integristas" e Action Fratzçaise (embora se possa bre L'Emiclica Pascendi e i! modernismo (o livro 6 de 1908-1909), o
dizer q u e são dois partidos distintos, cada um buscando servir-se d o padre Rosa dedica algumas páginas "saborosissimas" (não pelo
e mofira como este vinculo remonta a Pio X. É curioso aquele e virtudes estilisticas d o autor, que é um escritor muito
"j71fèliz17zentei nforrnadíssimo", já que Fontaine se valeu de material cre, muito mais medíocre, sem graça e vulgar d o q u e seu antagonista
de domínio piiblico, assim como é "curioso" que Padre Rosa, n a CiviZtà Buonaiuti, q u e também náo brinca em serviço) a o cce~traordinário"
Crztto/icn,não tenha mais "v01 tado a falar" da Sizpinière (até a morte caso do Abade Turmel, modernista, que escrevia sob vários pseu&-
de Monsenhor Benigni, que não foi lembrado; e é difíciI pensar que nimos livros modernistas e até d e caráter inteiramente ateu e depois
volte a falar, a não ser q u e alguma outra forte ~ersonalidadesuceda 0s refutava com seu verdadeiro nome. D e 1908 a 1929, Turmel con-
Benigni na direção dos integristas): este silêncio tem seu significado. O tinuou a jogar com seus pseudônimos, até que, por acaso, a autorida-
artigo colic1ui: "Mas a verdade não tem nada a temer: e, d e nossa par- de eclesiástica obteve provas evidentes dessa duplicidade; mas essas
te, estamos decididos a defendê-la sem medo nem vacilação o u hesita- provas não foram imediatamente exibidas para liquidar o abade: antes
ção, ate mesmo contra os inimigos internos, a i d a que sejam eclesidsticos disso, o Prof. L. Saltet, d o Instituto Católico d e Toulouse, foi encar-
e poderosos, que tenham desviado os leigos para pô-los a serviço regado de fazer uma ampla demonstração filológico-crítico-teológica
de seus desígnios e interesses." (no Bulletin de Littérature Ecclésiastique d e Toulouse) da paternidade
Recorda uma viagem d e Benigni à América (da qual fala a Civiltn turmeliana d e toda uma série d e escritos publicados com nada menos
Cnttolicn, 1927, p. 3 09) para distribuir libelos antijesuíticos; em de 14 pseud6nimos, e s6 depois é q u e Turmel foi expulso d a Igreja.
Rorna, haveria um depósito com varias dezenas de milhares d e exem- (Sobre este tema, cf., infra, caderno 6 , $ 195.) (A questão d o anoni-
plares destes libelos. mato e dos pseudônimos aos quais recorriam os modernistas para
escapar das medidas imediatas d e repressão é tratada por Buoiiaiuti
A Actiorr Frnrzçaise tinha u m redator em Roma, Havard de la em seu livro sobre o Modernismo cattolico, d e 1927, com alguns so-
Montagne, que dirigia um semanário ern língua francesa, Rowte, desti- fismas e com uma certa reticência cmbaraçada. É verdade que esta
nado sobretudo aos catóIicos franceses, religiosos ou leigos, residentes tática d e "politiqueiron prejudicou muito particularmente Buonaiuri,
o u de passagem por Roma: era o porta-voz d o s integristas e dos que foi apresentado pelos "idealistas" d a Voce como uma personali-
maurrasianos, o centro d e suas reuriiões e d o serviço de informações dade quase desprezível. A figura de Buonaiuti, apesar de tudo, não
da Actiort Frar~gnisejunto ao Vaticano, não só para as questões religio- perde uma certa aura de grandeza moral e d e severidade d e caráter,
sas, mas sobretudo para as questões políticas francesas e internacio- quando se pensa q u e ele é o único que, há mais de trinta anos, man-
nais de caráter reservado. N ã o se deve esquecer que o Vaticano dispõe teve-se em sua posição contra a Cúria e os jesuítas, abandonado por
de um serviço de informações que, por vezes e para certos assuntos, é defensores e p o r amigos, os quais o u retornaram a o rebanho, ou pas-
mais preciso, mais amplo e mais rico d o que o de qualquer o u t r o go- saram decididamente para o campo laico. Nem sua atividade é sem
verno. Poder servir-se desça fonte era, para a Action Française, um dos conseqüências para a Igreja Católica, se levarmos em conta a difusão
não menores motivos de alguns de seus sucessos jornalísticos e d e muitas de seus Iivros e o fato d e q u e a Igreja já lhe propôs acordos repetidas
de suas campanhas pessoais e sensacionalistas. Ao que parece, após a vezes)
ruptura de 1926 Rome entrou em decadência e desapareceu depois.
CADERNOS DO CARCERE CADERNO 2 0

cf. o artigo "La lunga crisi dell'Action Frangaise", n a Ciuiltà Áustria, mas a pedido d e Zanardelli; sobre Rampolla e sua posiç-o em
Cnrtolicn de 7 de setembro d e 1929. Elogia-se O livro L n trop long~Ae a o Estado italiano, Salata oferece novos elementos n o 10volu-
crise de J x c t i o n Frn~z~nise,
de Mons. Sagot du Vauroux, bispo de Agen, me, o iinico publicado, d e seus Documenti diplomntici sulla pistjone
paris, ~ dB . I ~ 1929, ~ ~obra
, que "é d e grande utilidade também para rornona) t221.
os que não conseguem compreender as origens e muito Um elemento ideológico muito significativo d o trabalho que os
menos a persistência, ligada a tanta obstinação, dos aderentes católi- jesuitas realizam na França para criar uma ampla base popular para o
cos, q u e os cega a ponto d e fazê-los viver e morrer sem sacramentos movimento católico-democriitico é o seguinte juizo histórico-po~~tico~
para não terem d e renunciar às odiosas exorbitâncias d e seu partido Quem é responsável pela "apostasia" d o povo francês? Somente os in-
e de seus dirigentes incrédulos". A Civiltb Cattolicn busca justificar- telectuais democrático-revolucionários que se inspiravam em Rousseau?
çe fato .de não se ocupar com mais freqüência d a polêmica da Não. O s maiores responsáveis são o s aristocratas e a grande burguesia
Action Frnnçnise, afirmando entre outras coisas: "AIém d o mais, a que flertavam com Voltaire: "[ ...I as reivindicações tradicionais (dos
pro]ongada crise n á o atinge a Itália a n ã o ser p o r reflexo, ou seja, por monarquistas) de retorno a o antigo são certamente respeitáveis, em-
uma longínqua (?) concomitância e analogia q u e ela poderia (!) ter bora irrealizáveis nas atuais condições. São irrealizáveis sobrerudo por
com as tendências gerais paganizantes d a idade moderna. " (Este culpa d e grande parte d a aristocracia e da burguesia francesas, já que
ma{thusianisrno polêmico constitui precisamente a fraqueza princi- da corrupçáo e da apostasia desta classe dirigente até o século XVIII
pal da posiç"O jesuíta contra aAction Frízr~gnisee C a causa maior d a originaram-se a corrupçZo e a apostasia d a massa popular na França,
furor fanàtico de Maurras e de seus seguidores: estes estão convenci- comprovando-se tambkm naquela época que regis ad exclrzpIr.ot~t o t ~ s
dos, nao sem razão, de q u e o Vaticano faz com eles uma experiência componitur orbis. Voltaire era o ídolo daquela parte da aristocracia
in corpore vili, que eles desempenham a funçáo d o jovem que, anti- corrompida e corruptora de sei1 povo, a qual, introduzindo escandalo-
gamente, acompanhava o principe herdeiro inglês e t o m w a uma sur- sas seduções cm sua fé e em seus costuines, cavava seu próprio túmulo.
ra n o lugar do patráo real; daí a q u e o s adeptos de Maurras se E, embora depois d o stirgimento de Rousseau, com siia democracia
convençam d e q u e o ataque q u e sofrem é meramente político, j5 q u e subversiva em oposição h aristocracia voltairiana, tenham entrado em
s6 é universdl e católico e m falra pouco [SI].N a verdade, o oposição teórica as duas correnres de apostasia -tal como os dois tristcs
Papa evitou cotn competência, do mesmo modo como o fez a Civiltíi corifeus -, que pareciam se mover a partir dc erros contrários, eiiis
Cattolicn, identificar e "punir" com as mesmas sanções, nos outros confluíran~para uma mesma conclusáo prática e funesta: OU seja, en-
países, o s indivíduos ou grupos que têm abertamente a s mesmas po- grossar a torrente revoliicionária, etc., etc."
sições de Maurras e nZio as escondem.) O mesmo hoje: Maurras & Cia. são adversários da democracia de
Outras indicações d e "cãtólicos integristas": o Bloc nntirévo- tipo rousseauniano e dos "exageros democráticos" ("exageros", note-
lz~tionnniredeFé1ix Làcointe, "drgno amigo d o citado Boulin e de seus se bem, s ó "exageros") d o Sillon, mas sáo discípulos e admiradores de
sócios7' (BouIin dirige a Revide I?zternationale des Sociétés seçrètes). Voltaire Uacques Bainville organizou uma ediçáo de luxo dos escritos
Lacointe teria publicado que o Cardeal Rampolla estava inscrito na d e Voltaire, fato que os jesuítas não esquecem). Sobre este nexo histó-
maçonaria ou algo semelhante (Rampolla é criricado pela política d o rico-crítico relativo às origens da "apostasia" popular na França, a
rallieme?zt realizada por Leão XIII; lembrar sobre Rampolla q u e o veto Civilth Cnttolicn cita um artigo da Croix, de 15-16 de agosto de 1929,
no conclave contra sua eleição para o pontificado foi apresentado pela Lapostasie
CS > navrante de ia masse populaire en France", que se refere
CADERNO 20

só por combaterem violentamente o liberalismo e outras formas de er-


a o livro pOUrfnk13awnír, d o Padre Croizier, d a Action populaire,
ros modernos, sem advertir que eles se colocavam em extremos opos-
em 1929 pela Editora Spes, d e Paris.
tos, igualmente errôneos e perniciosos, etc." "Vimos assim, também na
Entre os seguidores d e Maurras & Cict., além dos comeruadores e
~táiia,algumas de suas publicações mal mencionarem, e só de passagem,
moruirquistas, a Civiltn Cattolica (na trilha d o bispo d e Agen) destaca
a condenação daAction Françnise, mas publicando seus do,'umentos e
outros quatro grupos: I) os esnobes (atraídos pelos dotes literários,
explicando-lhes o sentido e a razão, a o mesmo tempo em que se com-
sobretudo de Maurras) ; 2) OS adoradores da violência e do uso da força,
~ r a z i a mem republicar e comentar a condenação d o Sillon, quase como
0 s exageros da autoridade, levada a o despotismo, sob O pretexto
se os dois movimentos, opostos entre si mas igualmente contrários à
de resistência a o espírito de insubordinaçáo OU subversão social, pró-
prio da época contemporânean; 3) OS "falsos místicos", "crédulos diante doutrina católica, não pudessem ser e não fossem igualmente condená-
veis. Isto é digno de nota porque, enquanto em quase todos os números
dos vaticínios de extraordinárias restaurações, d e conversões maravi-
lhosas ou de missões providenciais7', atribuídas precisamente a Maurras de tais publicações não faltam acusações ou excessos contra autores ca-
tólicos, parece não existir nem espaço nem ânimo para uma franca é
& Cia. Estes, desde o tempo de Pio X, "imperturbáveis", perdoam a
enérgica condenação dos representantes da Action F r a ~ ~ a i saliás,
e ; re-
incredulidade de Maurras, atribuindo-a a o "déficit d a graçan, "quase
petem-se com freqüência as calúnias, como a de uma suposta virada à
como se não fosse dada a todos a graça suficiente para a conversão,
esquerda, ou seja, n o sentido d o liberalismo, d o popularismo, da falsa
nem fosse imputável a quem a ela resiste a queda ou a persistência n a
democracia, contra os que não seguiam seu modo de proceder."
culpa" (estes seriam, portanto, serni-heréticos, já que, para justificar
(Na corrente dos "cat6licos integristas", é necessário incluir tam-
Maurras, repetem as posições jansenistas ou calvinistas. Sobre i s o , cabe
explicar a obstinaçáo d e Maurras em não querer "se converter", fato bém I-Ienri Massis e o grupo dos "defensores d o Ocidente": recordar
d o Padre Rosa contra Massis na resposta h carta aberta de
q u e náo pode ser atribuído apenas à "integridade e IeaIdade ética e
intelectual", e que precisamente por isso faz tremer os jesuítas: eles Ugo Ojetti.) .
compreendem que, se o grupo Maurras tomasse o poder d e Estado, a
situaçáo d e fato d o catolicismo na França seria mais difícil d o q u e é
hoje. Por isso, é surpreendente a atitude d o Vaticano em relação a o
hitlerismo, embora Rosenberg tivesse escrito seu Mito antes da toma-
da d o poder: é verdade q u e Rosenberg não tem a estatura intelectual
de Maurras, mas todo o movimento hitieriano 6 intelectualmente bai-
x o e vulgar e era previsível t u d o o que aconteceu depois em relação ao
catolicismo e a o cristianismo) [23].
O quarto grupo (o mais perigoso para Civiltà Cattolica) seria com-
posto pelos "integristas". Civilti? Cattolicn observa que o bispo d e Agen
chama-os também de "integraIistasy', "mas é notório que eles não de-
vem ser confundidoscom o partido político, chamado dos 'integralistas',
na Espanha"). Estes "integristas", escreve a Civilta, "também na Itália
não deixaram de favorecer os positivistaç e incrédulos da Action Frampise
2. Dos cadernos miscelâneos
CADERNO I (1929-1 930)

$ 51. Clero como intelectuais. Pesquisa sobre as diversas atitudes d o


clero n o Risorgime7zt0, em função das novas correntes eclesiástico-re-
ligiosas. Giobertisrno, rosminianismo [l].Episódio mais característico
d o jansenismo. A propósito da doutrina d a graça e de sua conversão
em motivo d e energia industrial, e da objeçzo de Jemolo à tese justa de
Anzilotti (de onde Anzilotti a teria tomado?), ver Kurt Kaser, Ri[ori?~a
e Con~roriformn,sobre a doutrina d a graça n o calvinismo, bem como
o livro de Philip, onde são citados d o c u m e ~ ~ t atuais
os sobre esta con-
v e r s a ~[2]. Nestes fatos está contida a documentação d o processo de
dissoluçáo da religiosidade americana: o calvinisrno torna-se lima reli-
gião laica, a do Rotary Club, d o mesmo modo como o teísmo dos iluini-
aistas era a religião da maçonaria europeia, mas sem o aparato siii~bóiico
e cômico da maçonaria e com a diferença de qiie a religiáo do Rotary
não pode tornar-se universal: ela é própria de uma aristocracia eleita
(povo eleito, classe eleita) que teve e continua a ter êxitos; um princí-
pio de selesão, não de generalização, de um misticismo ingênuo e pri-
mitivo, próprio de quem n5o pensa, mas atua, como é O caso dos
industriais americanos, princípio que pode ter em si os germes de iiina
dissolução até mesmo muito rápida (a história da doutrina da graça
pode ser interessante para ver o diferente modo de acomodação d o
catolicismo e d o crisrianismo às diferentes épocas históricas e aos dife-
rentes países).
Fatos americanos relacionados por Philip, dos quais se infere que o
clero de todas as Igrejas, em determinadas ocasiões, funcionou como opi-
nião pública, na ausência de um partido e de uma imprensa de tal partido.
5 5 2 Orige,ii social d o clero. A origem social d o clero é importante 5 67. Sobre o casanzento religioso C O Y ~validade civil, é interessante
sua iilfluência política: no Norte, O clero é de origem popu- notar que, d e algumas passagens da revista acima mencionada, parece-
para
lar (arteráos e camponeses); n o Sul, está mais ligado aos "senhores" e 2 me decorrer que o direito canônico e o Tribunal da Rota Romana coI1ce-
,.-Iasse altti. N o Sul e 11%içlh~s,O clero, O U i~~dividualmente ou como re- dem a dissoluçáo d o casamento (se não houver filhos) com bastante
preselitaiite da Igreja, possui muitas propriedades fundiárias e pratica a liberalidade, desde que haja amigos complacentes que testemunhem e
agiotagem. 0 camponês O vê,com frequência, ngo só como guia espiri- que os dois cônjuges estejam de acordo (além de terem dinheiro para
tu;il, mas como proprietArio que impõe pesados arrendamentos ("os ju- gastar) [4]. Disto resultará uma situação que favorece os católicos.
roç da Igreja'') e como usurário que tem à sua disposição, além das armas
espirituais, tarnbéin as temporais Por isso, os camponeses meridionais 5 68. A questíío sexual e a Igreja Católica. Elementos dol{triirhrjos.
preferem padres de suas vilas (porque sáo conhecidos, menos severos, e O cânon: 1013 diz: "A primeira finalidade d o matrimônio é a procria-
porque a família deles, sendo vulnerável, entra como elemento de con- ção e a educaçáo da prole; a segunda é a ajuda mútua e o remédio para
ciliaçáo) e, em alguns casos, reivindicam os direitos eleitorais dos pa- a concupiscência." 0 s juristas discutem sobre a "essência" d o casamen-
roquiai~os.Manifestações na Sardenha de tais reivindicações. (Recordar t o católico, distinguindo entre finalidade primária e objeto (primário?):
o artigo de Gennaro Avolio n o número especial da Voce sobre o clero finalidade é a procriação, objeto é a cópula. O casamento torna a cópula
meridional, onde sc menciona o fato de que os padres meridionais têm "moral" através d o consentimento mútuo dos cônjuges; consentimento
vida conjugal aberta e reivindicaram o direito de se casar.) A distribui- mútuo expresso sem condições limitativas. A coi-nparaçáo com outros
çao rerritorial do Partido Popular mostra a maior ou menor influêiicia contratos (por exemplo, de compra e venda) não se sustenta, jj. que a
do clero, bem corno sua atividade social. No Sul (deve-sc também ter finalidade d o casamento reside n o próprio casamento: a comparaçao só
presente o peso das diversas partes: no sul de Nápoles, etc.), predorni- f teria sentido se o marido ou a mulher adquirissem direitos de escravidáo
nava a direita, ou seja, o velho clericalis~noconservador. Recordar o I sobre o outro, ou seja, se pudessem dispor d o outro como de um bern (o
epis6dio das elcíçóes em Oristano, em 19 13 [ 3 ] . que ocorre, em parte, por causa d o não-reconhecimento dn igualdr-lde
jurídica entre o homein e a mulher; de qualquer modo, isso não se apli-
$ 66. Colônias i.talintins. N o Diritto Ec~lesinstico,revista editada ca ii pessoa física). O cânone 1015 indica o que "consuma" o contrato
entre outros pelo Prof. Cesarc Badii, da Universidade de Roma, e por matrimonial: é o ato "pelo qual os cônjuges se fundem numa só carne":
Arnedeo Giannini, conselheiro d e Estado, ~ublica-se,n o número de "O rnrirriinônio válido dos batizados é considerado ratificodo clliando
março-abril de 1929, um artigo d o advogado Prof. Arnaldo Cicchitti, não houver consumação plena; é ratificado e consumado se, entre os
"La S. Sede nelle colonie italiane dopo i1 Concordato con ii Regno", cônjuges, houver o ato conjugal, para o qual, por natureza, é ordenado
no qual duas vezes, nas p. 13 8 e 139, põe-se a Albânia entre as colônias o contrato matrimonial e pelo qual os conjuges formam urna só carne."
italianas. O autor remete (sobre a questão se é o u não aplicável à reli- O significado de "uma só carne" deriva de uma frase de Cristo, que a
gião católica apostólica romana o tratamento concedido nas colônias repetiu d o Gênese: "Vocês nunca leram que o Criador, desde o início, os
aos outros cultos) a seus estudos publicados na Rivista d i Diritto fez homem e mulher? E que ele disse: 'Por isso, o homem deixará seu
P~dbblico,1928 (p. 126-13 1) e 1929 (p. 141-157), e n a Rivista delEe pai e sua máe, e se unirá a sua mulher, e os dois serão uma só carne?'
Colonie Itnlinne, 1929: seria interessante ver se também nesses artigos Portanto, eles já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus
a Aibania é considerada corno colônia. uniu, o homem não deve separar" (Mateus, XIX, 4-7). O Useja, trata-se
CADERNOS DO CÁRCfRE

- f DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

da e não d o filho (que náo pode ser separado, já que material- 5 77. Clero e intelectuais. Número de Vitn e Pensiero comemorati -
mente é um). Q Gênese (H, 21-24) diz: "Disse Adão: ela será chamada vo d o 250 aniversário da morte de Leáo XIII. Útil o artigo de Padre
mulher, porque foi tirada d o homem. Por isso, um homem deixa seu pai ~ e m e l l sobre
i "Leone XIII e i1 movimento intellettuale" [6]. O papa
e sua rnáe, e se une a sua muIher, e eles dois se tornam uma só carne." Leão vir-icula-se, no campo intelectual, à renovação da filosofia cristã
- -.-
(Deve-se ver se estes elementos podem ser interpretados como justifica- à orientação para os estudos sociais, a o impulso dado aos estudos bí-
ção da indisçolubilidade do casamento, o que os fez serem usados como blicos. Tomista, a idéia inspiradora de Leão XIII foi a seguinte: "recon-
d a religião crisrã 2 introdução d a monogarnia; ou se não duzir o mundo a uma doutrina fundamental graças à qual a inteligência
signjficavam originariamente apenas a união sexual, isto é, algo que se torne-se novamente capaz de indicar a o homem a verdade que ele deve
contrapunha às tendências "pessimistas" à "pureza", até mesmo com a reconhecer, e isso não só preparando o caminho para a fé, mas dando
abstenGão.sexual-Em suma, remeteriam apenas aos sexos em geral, que ao homem o meio d e orienta;-se d e modo seguro sobre todos os pro-
são indissolúveis, e não a Pedro, Paulo, Joáo, unidos a Catarina, Maria, blemas d a vida. Desse modo, Leáo XIII apresentava a o povo cristão
Serafina.) Cânone 1081, 2.0: "O consenso matrimonial é um ato de urna filosofia, a doutrina escolástica, não como um quadro d o saber,
vontade pelo qual cada uma das partes cede e aceita o direito sobre o 'estreito, imóvel e exclusivo, mas como um organismo de pensamento
corpo, perpétuo e exclusivo, em vista d o ato que os habilita à procriação vivo, suscetível de enriquecer-se com o pensamento de todos os Dou-
da prole." O 5 1.0 d o mesmo cdnone diz: "Para que possa haver consen- tores e d e todos os Pais, capaz de harmonizar a especulação da teolo-
so matrimonial, é necessário que os contraentes possam pelo menos não gia racional com os dados da ciência positiva, condição para estimular
ignorar que o matrimônio é uma sociedade permanente entre o homem e harmonizar a razáo e a fé, a ciência profana e a sagrada, a filosofia e
e a mtilher para procriar filhos" (deveria justificar e até mesmo impor a a teologia, o real e o ideal, o passado e as descobertas d o fiituro, a ora-
educação sexual, j6 que presumir que se aprende na prstica significa ção e a açgo, a vida interior e a vida social, os deveres d o indivíduo e
apenas a certeza de que o ambiente fornece esva educação: ou seja, é d a sociedade, os deveres para com Deus e para com o homem."
uma simples hipocrisia e se tcrmina por preferir as noções casuais e "doen- Leáo XIII renovou completamente a Ação Católica. Recordar que
tias" hs noções "metódicas" e cducativas). Em alguns lugares existe (exis- a encíciica Rerum Novarum 6 quase simultânea a o Congresso de Gê-
tia) a convivência sexual experimental e s ó depois da fecundação ocorre nova, isto é, à passagem d o movimento operário italiano d o pri-
(ocorria) o casamento (por exemplo, em pequenas vilas como Zuri, Soddí, mitivismo a uma fase realista e concreta, embora ainda confusa e incerta.
etc., da antiga provincia de Oristano): era um costume considerado como A neo-escolástica permitiu a aliança d o catolicismo com o positivismo
moralissirno e que não despertava objeções, nem por parte das famílias (Comte, donde Maurras). N a Ação Católica, saiu-se d o puro absten-
nem d o clero, já que não produzira abusos. Em tais lugares, há cãsamen- cionismo mecânico d o período posterior a 1870 e deu-se início a uma
tos muito precoces, fato ligado ao regime da propriedade muito dividida, atividade efetiva, que levou à dissolução de 1898 [7].
que exige mais de um trabalhador, mas náo permite trabalho assalaria-
) do. Cânone 1013, $2.0: 'As propriedades essenciais d o matrimônio são
S 107. Filippo Meda, Stntisti cnttolici, Alberto Morano, Nápoles.
a unidade e a indissolubilidade, as quais, no matrimônio cristáo, ganham
São seis biografias: de Daniel O'Connell, García Moreno, Ludwig
firmeza por causa d o sacramento." G&zese (I, 27-28): "E Deus criou
) Windthorst, Augusto Bernaert, Giorgio Hertling, Antonio Maura [8].
homem e mulher. E Deus os abençou e Ihes disse: sejam fecundos, mul-
Expoentes d o conservadorismo clerical (clérico-moderados italianos),
) tipliquem-se, encham e submetam a terra" [SI.
ou seja, da pré-história d o popularismo católico moderno. É indispen-
1
DOS CADERNOS MISCELÃNEQS

s ~ v e para
] reconstruir o desenvolvimento histórico da Ação Católica. da comunidade dos fiéis contra O clero, ordem feudal aliada a o rei e
aos nobres: por isso, muitos católicos consideram a Revolução France-
A biografia de Garcla Moreno (venezuelano, me parece) também é
interessanre para compreender alguns aspectos das lutas ideológicas na sa um cisma e uma heresia, isto é, uma ruptura entre pastor e rebanho,
ex-América espanhola e portuguesa, onde ainda se atravessa um período d o mesmo tipo que a Reforma, porém historicamente mais madura por
d e ~ ~ < l t ~ < ~ kPrimitivo,
a r > i p f n o qual O Estado moderno ainda deve lutar ter ocorrido n o terreno d ~ ~ l a i c i s m o
não
: padres contra padres, mas
contra o clerical e feudal [9].É interessante notar esta contra- fiéis-infiéis contra padres- (O verdadeiro ponto de ruptura entre de-
diç" que existe na América d o Sul entre O mundo moderno das gran- rnocracia e Igreja, porém, deve ser situado na Contra-Reforma, quan-
des cidades comerciais da costa e o primitivismo d o interior, contradição d o a Igreja necessitou, em grande estilo, . d o braço secular contra os
q u e se amplia em funçgo da existência de grandes massas de indigenas, luteranos e abdicou d e sua função democrática.)
por um lado, e de imigrantes europeus, por outro, cuja assimilação é
mais dificil d o que na América d o Norte: O jesuitisrno é um progresso
em relaçgo 2 idolatria, mas é um estorvo para o desenvolvimento da
CADERNO 2 (1 929-1933)
civilizaçáo moderna, representada pelas grandes cidades costeiras: ele
serve corno meio de governo para manter n o poder as pequenas oli-
garquias tradicionais, que, por isso, travam apenas uma luta branda e 5 35. Francesco Orestano, "La Chiesa cattolica nello Srato italiano e
débil. A maçonaria e a Igreja positivista são as ideologias e as religiões nel mondo7', NiiouaAnlologia, 16 de julho de 1927. Artigo importan-
laicas da pequena burguesia urbana, 2s quais adere em grande parte o te n o período das negociações para a Concordata. (Confrontar com
sindicalisnlo anarquista, q u e faz d o cientificismo anticlerical seu ali- polêmicas entre l'opolo d'ItaIia, Gentile, Osservntore Romnno, repro-
mento intelectual. (Problema d o despertar para a vida politica e na- duzidas em opí~sculopela Civíltd Cattolicn [ll].) (A Lei das Garantias,
cional das massas nativas: ocorreu algo similar no México, em função na medicia em que possuía valor estatutário, ab-rogava o artigo l0 d o
da influência de Obregon e Calles CIO]?) Estatuto [12]?)
O artigo de Orestano parece escrito por um jesuíta. E favorAvel à
$ 128. Religilio como principio e clero como clrisse-ordem fein&l. concessáo d e um território a o Papa dentro dos limites d o plebiscito de
Quando se exalta a funçao que teve a Igreja na Idade Média em favor 2 de outubro de 1870 (isto é, toda a cidade leonina, que me parece
das classes inferiores, esquece-se simplesmente uma coisa: que esta precisamente ter sido excluída d o plebiscito oficial) [13]. (Orestano
função náo estava ligadri à Igreja como expoente d e um princípio reli- escreveu, em 1924, um estudo, Lo Stato e Ia Chiesn in Italilr, Roma,
gioso-moral, mas 2 Igreja como organização d e interesses econômicos CasaEditrice Optima, c, em 1915, umaQuistioneRonla?~n,republicada
bastante concretos, que devia lutar contra outras ordens que preten- em Verso Ia nuova Europa, Casa Edi trice Optima, 1917.)
diam diminuir sua importância. Portanto, esta função foi subordinada
e incidental: mas os camponeses náo eram menos extorquidos pela Igre- S 62. Joseph De Maistre. Em 1927, foi publicado em Florença, pela
ja do que pelos senhores feudais. Talvez se possa dizer o seguinte: que Libreria Editrice Fiorentina, o livro de De Maistre sobre o papa (I1Papa,
a "Igreja" como comunidade dos fiéis conservou e desenvolveu deter- tradução de Tito Casini). Num artigo da Nznoua Antologia de 1 6 de
minados princípios político-morais em oposiçáo à Igreja como organi- abril d e 1928 (ccGuelfismoe nazionalismo di Giuseppe de Maistre"),
zação clerical, até a Revolução Francesa, cujos princípios são próprios Niccolò Rodolico recorda como De Maistre, em 1820, numa época d e
DOS C A D E R N O S MISCELANEOS

a Cátedra d o SilZabo criada pelos monarquistas franceses em suas es-


antigas monarquias resrauradas e d e renovada autoridade d a Santa Sé, de partido. (Esse rema d e De Maistre, Solaro, Sillnbo, etc., deve
amargurou-se em seu último a n o de vida por causa dos obstáculos e ser levado em conta para um parágrafo da rubrica "Passado e presenten.)
das dificuldades que se opuseram à dedicatória e ZI publicaçáo da se- O artigo de Rodolico é interessante pelo que diz sobre as opiniões
gunda ediçiI~deste livro (que foi publicada postumamente em Lyon, anriaustríacas de D e Maistre, sobre sua convicção de que o Piemonte
em 1822) [14]. De Maistre desejava dedicar o livro a Pio VII, que ti- deveria desenvolver uma polirica nacional e não estreitamente pie-
nha p o r ele !grande estima, e queria publicg-10 n o Piemonte, a cujo rei montem, e t c D o andamento d o artigo infere-se que não se permitiu
servira fielmente durante a revoluçáo, mas não O conseguiu. Segundo que o livro sobre o papa fosse editado n o Piemonte porque estavam no
Rodolico, a conduta destes catolicíssirnos governantes se explica pela governo o s "piernontistas" absolutistas e De Maistre expõe em seu li-
situaçáo d o espírito público em 18 19 e 1820 na Europa, quando libe- vro opiniões sobre a função nacional italiana d o Papado, que seriam
rais, jansenistas e sectários anticlericais se agitavam, e pelo temor d e depois retomadas por Gioberti n o Primizto [16].
provocar novas e mais intensas polêmicas. "Depois d e mais d e um sé- Sobre D e Maistre, livro d e Mandoul, Joseph d e Maistre et Ia
culo - acrescenta Rodolico -, aparece na Itália, e senz provocar po- politique de Ia Maison d e Sizvoie, Paris, Alcan. (Essa oposição a De
l.&nicns, uma boa tradução d o livro Du Pnpe, q u e pode agora ser Maiçtre, u m homem moderadíssimo, deve ser estudada em seu con-
examinado serenamente sob um aspecto político, ligando-o a outras texto político, para q u e se possa compreender exatamente o s nexos
manifesta~óesd o pensamento político da epoca." históricos d o período 1848-49 e para explicar Novara: rever esse ar-
O problema, contudo, é que esra publicação, como outras do gê- tigo d e Rodolico, se for o caso, e procurar novos materiais documen-
nero, não foi feita "serenamente", para dar aos estudiosos um docu- tais 1171.)
menta, mas foi feita como "polêmica atual". Trata-se de um sinal dos
tempos. A mesma Libreria Editricc Fiorentina priblica uma inteira co-
S 73. A Acliion F r a q n i s e e o Vizticano. Bibliografia d o Mercmre cle
leçzo desse tipo, na qual apareceu o Sillnbo e outros fósseis d o gênero,
Frame de 10d e maio d e 1928:
precedidos de introduções "atuais" escritas por neocatólicos d o tioo
F. Gay, Cornment j'ai défend14 le Pnpe, "La Vie Catholiquen,
Papirií, Manacorda, etc.
(Reproduç50 dos artigos contra a Action Fwnçizise publicados na
Deve-se ao mesmo clima de exaltação a reediçáo doMernoranctmrn Vie Cntholique, d e 6 de novembro de 1926 a 13 de agosto de 1927.)
d e Solaro della Margarit-a, lançado n o comércio como "atualidade".
Mermeix, Le Ralliement et E'Action Friz~aise,A. Fayard.
(Sobre isso, é preciso recordar a discussão n o Senado entre Ruffini e o
(História minuciosíssima e documentadissima, mas bastante ten-
chefe do Governo a respeito d o Estatuto e a espirituosíssima compara-
denciosa, d a adesão dos católiccis à República e das vicissitudes da
ção de Ruffini com Solaro della Margarita [15j.)
Action Fru?qizise, 1871-1927.)
Tomar nota dessas publicações, q u e são típicas, embora sua impor-
A. Lugan, LAction Française, de son origine à nos jours ("Études
tância seja ou possa ser negligenciável, distinguindo-as daquelas pura-
sur les doctrines de 1'Action Française", n. 4).
mente "clericais". Mas se põe u m problema: por q u e o s próprios
(Critica aAction F r a ~ ç a i s epor ter perseguido com seu ódio e suas
clericais náo as publicaram antes e preferiram eles mesmos que não se
injúrias Pion e a Action liberizle, Marc Sangnier e o Sillon, e por ter se
falasse delas? É interessante verificar quantas reedições teve o Sillabo
associado a todos aqueles que, com meios por vezes muito pouco ho-
nos últimos tempos: creio que o próprio Vaticano preferiria deixá-lo
nestos, como a delação, iam à caça d o modernismo e d o radicalismo
cair no ostracismo e que, depois de Pio X, sentia-se "incomodado" com
DOS CADERNOS MISCELÂNEOS
CADERNOS DO CÁRCERE

com os outros tipos d e reforma agrária, como, por exem-


até entre o s cardeais e os papas. Entre estes ateus e seus aliados, a po-
plo, a romena, e para extrair algumas indicaçóes gerais de método.
lítica contava mais d o que a preocupação com a integridade doutrinária;
Questões de programa.)
pede q u e a religião seja separada de certas aventuras que a comprome-
teram até demasiadamente; é uma notável exposição histórica)
S 128. Açno Católica. Sindicnlismo católico. Cf., na Civiltn
L'Équiuoql*e du lai'cisme et les élections d e 1928, par un Poly-
Cnttolica d e 6 d e julho d e 1 9 2 9 , o artigo "La d o t t r i n a sociaIp
technicien, Librairie du Petit Démocrate. --
cristiana e l'organizzazione internazionale de1 lavoro" ( d o padre
(Pede a formação d e um grande partido q u e englobe o s "clericai~'~
Brucculeri). Trata d a parte relativa a o pensamento social d a Igreja
e uma fraçáo d o velho partido radical. O s catóilicos repudiaram defini-
n o relatório apresentado por AIbert Thomas à XII Sessão d a C o n -
tivamente t o d o espírito de predomínio e pedem apenas o direito de se
ferência Internacional d o Trabalho, publicado em Genebra em 1929.
sacrificarem, como o fizeram durante a guerra; para tal fim, é preciso
O Padre Brucculeri está extremamente satisfeito com Thornas e re-
fazer certas distinções entre as chamadas "leis laicas".)
sume seus trechos mais importantes, reexpondo assirn o programa
5 ) Paul Rémond (Bispo de Clisma), Kbeure d'obéir, "La Vie Ca-
social católico 1191.
thoIique7'.
("A Santa Sé pedia aos católicos q u e se colocassem n o quadro da
Constituição, para melhor realizarem a unanimidade n o terreno pura-
5 13 1. Açáo Cat6licn. O conpito e m Lille. A Civiltà Cattolicn de 7
mente católico. [...] A Action Frnnçnise declara que, neste terreno, não dc setembro de 1929 publica o texto integral d o juizo pronunciado p d a
Sagrada Congregação d o Concilio sobre o conflito entre industriais e
pode receber ordens de Roma...")
operários católicos d a região Roubaix-Tourcoing. O parecer está con-
§ 119. A tentntiv~zde reforvrlr religiosa frnmiscnna. Quanto tenha
tido numa carta, datada d e 5 de junho de 1929, enviada pelo Cardeal
decaído rapidamente o espírito de São Francisco é algo revelado pela Sbarretti, prefeito da Congregação d o Concílio, a Monsenhor Aquiles
Cromcn de Frei Salimbene d a Parma. Cf. Nuovrz Antologia d e 1 6 d e Liénart, Bispo d e Lille.
fevereiro de 1919: Vittario Marvasi, "Frate Salimbene d a Parma e Ia O documento é importante, já qrie em parte complementa e em
s u a Cronaca". A Cronaca foi traduzida, em 1928, por F- Bernini e edi- parte amplia o quadro d o Código Social, como, por exemplo, quando
tada por um certo Carabba di Lanciano. Ver em que medida a tentati- reconhece aos operários e aos sindicatos católicos o direito de formar
va "laica" de Fredcrico II coincidiu com o franciscanismo: certamente uma frente única também com o s operários e os sindicatos soci a 1'istas
existiram relações e o próprio Salirnbene é admirador de Frederico, rias questões econômicas. Deve-se levar em conta que, se o Código Social
embora excomungado 1181. é um texto católico, é, porém, privado ou somente oficioso e poderia
ser total ou parcialmente desautorizado pelo Vaticano. Este documen-
5 123. "La riforma fondiaria cecoslovacca", d o Padre Veriano to, a o contrário, é oficial.
Ovecka, na Civiltn Cnttolica de 16 d e fevereiro e 16 de março de 1929, Tal documento está certamente ligado a o empenho d o Vaticano para
logo depois publicado em separata. É um estudo muito cuidadoso e criar na França uma democracia política católica; e a admissão d a "fren-
bem-feito d o ponto de vista dos interesses da Igreja. A reforma é aceita t e única", ainda que passível de interpretações capciosas e restritivas, é
e justificada como devida a força maior. (Numa pesquisa geral sobre a um "desafio" à Action Fraqnise e um sinal de détente com os radicais
questão agrária, este opúsculo sintético deve ser examinado para fazer socialistas e a CGT.
DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

NO mesmo número da Civil82 Cattolica, há um longo e interes-


% 135. Pnncristinnisino e propaganda do protestaiztismo im Ariréri-
a do Sul. Cf. o artigo "11 protestantesimo negli Stati Uniti e nell7i\merica
sante comentário sobre O parecer d o Vaticano. Este parecer tem duas
latina", n a Civiltd Cattolica de 1.0de março, 15 de março e 5 de abril
partes orgânicas: na primeira, composta por sete breves teses, cada uma
de 1930. Estudo muito interessante sobre as tendências expansio~iistas
das quais acompanhada por amplas citações extraídas d e documentos
dos protestantes norte-americanos, sobre os métodos de organização
ponrificios, sobretudo de Leão XIII, dá-se um claro resumo d a doutri-
n a sindical católica; na segunda, trata-se d o conflito específico em exa- desta expansão e sobre a reação católica.
me, isto é, as teses são interpretadas e aplicadas aos fatos reais. E interessante notar que os caiólicos têm nos protestantes ameri-
canos seus Únicos concorrentes, frequentemente vitoriosos, n o campo
5 132. A Action Fraqaise e o Vaticano. Cf. "La Crisi detl'Action da propaganda mundial, embora a religiosidade seja muito escassa 110s
Frnngaise e gli scritti de1 suo 'maestro"',~na CiviZt2 Cattalica d e 21 de Estados Unidos (a maioria dos recenseados afirma não ter religião): as
setembro de 1929. (É um artigo d e Padre Rosa contra Maurras e sua Igrejas protestantes européias não têm poder d e expansáo, ou apenas
ccfilosofia'y.) mínimo. Outro fato a destacar é o seguinte: depois que as Igrejas pro-
testantes se fragmentaram, assiste-se agora a tentativas de unificação
5 134. Católicos, neornalthusianismo, eugenia. Ao que parece, n o seio d o movimento pancristão. (Não esquecer, porém, o Exército
já na0 existe concordância sobre o problema d o neornalthusianisrno da Salvação, de origem e organização inglesas.}
e d a eugenia nem mesmo entre os cat0licos. Da Civiltà Cattolica de
21 de dezembro d e 1929 ("I1 pensiero sociale cristiano. La decirna
sessione dell'Unione di Malines"), ficamos sabendo que, e m final d e
CADERNO 3 (1 930)
çetetnbro de 1929, teve lugar a assembléia anual d a "União Interna-
cional de Estudos Sociais", sediada em Malines, cujo trabalho con-
centrou-se sobretudo nestas três questoes: o Est-ado e as famílias 5 25. A fir%ão dos cat6licos na Ithlia (Ação CatÓliL-a).Na Nuova Atzto-
numerosas; o problema da população; o trabalho forçado. Sobre o logia d e Iodenovembro de 1927, G. Suardi publica uma nota, "Quando
problema demográfico, manifestaram-se fortes diferenças: o advo- e come i cattolici poterono partecipare alle elezioni politiche", muito
gado Cretinon, "embora seguindo uma política populacional q u e res- interessante e q u e deve ser lembrada como documento da atividade e da
peita a Providência, sublinha não ser necessário apresentar a eugenia funçzo da Ação Católica na Itália N o fina1 de setembro de 1904, depois
como simplesmente materialista, já que tem objetivos também inte- da greve geral, Suardi foi chamado por telegrama a Milão por lòmmaso
lectuais, estéticos e morais". As conclusões adotadas foram negocia- Xttoni, ministro d o Exterior d o Gabinete Giolitti (Tittoni enconrrava-
das, não sem dificuldades, pelo Padre Desbuquois e pelo Prof. Aznar: se em sua vila d e Désio no momento da greve e, a o que parece, dado o
o s dois redatores tinham profundas divergências. "Enquanto o pri- perigo de Milão ficar isolada pela falta de comunicações, ele tinha de
meiro defendia o progresso demográfico, o outro se inclinava sobre- assumir responsabilidades pessoais e específicas; esta observação de
t u d o no sentido d e aconselhar a continência, temeroso d e q u e as Suardi leva-me a crer que os reacionários locais já haviam pensado em
fãmilias católicas se condenassem à decadência econômica por causa alguma iniciativa em acordo com Tittoni) [20]. Tittoni comunicou-lhe
d a prole excessiva." que o Conselho de Ministros decidira convocar eleições imediatas e que
era necessário unir todas as forças liberais e conservadoras n o esforço
DOS CADERNOS MISCEL8NEOS

de impedir o avanço dos partidos extremistas. Suardi, um expoente li- Para Suardi, este acontecimento assinala o fim d o i l o , ~e v e d j t e
beral de Béigamo, conseguira nesta cidade fazer um acordo com OS ca- representa a conquista da unidade moral da Itália: mas ele exagera um
tólicos rendo em vista as administrações locais: era preciso conseguir o pouco, embora o fato em si seja importante [23].
mesmo para as eleições políticas, convencendo os católicos de que o non
de nada serve a o partido deles, prejudica a religião e causa grave $ 50. Concordata. O Padre L. Taparelli, em seu livro EsnlTLecriti-
dano 5 pátria, deixando o caminho livre para o socialismo [21]. Suardi co degli ordini rappresentativi ~zellasocietd rnoderlzn, assim define as
aceitou tarefa. Em Bérgamo, falou sobre O assunto com O advogado concordaras: "[ ...I si50 convenções entre duas autoridades que gover-
pãolo Bonomi e conseguiu convencê-lo a ir a Roma, apresentar-se a o nam uma mesma nação católica." Quando se estabelece uma col1ven-
Papa e acrescentar o apelo dos católicos de Bérgamo a o d e Bonornelli e ~ á oas
, interpretações que cada uma das partes dá à própria convençáo
de outras prestigiosàs persoilalidades no sentido de cancelar o non expedir têm, pelo menos, igual importância jurídica.
(221. Inicialmente, Pio X recusou-se a cancelar o non expedit, mas, ater-
rorizado por Bonomi, que lhe traçou um quadro catastrófico das conse- $ 77. O clero, a propriedade eclesihstica e as for~iznsafirrsde pro-
clüências que teria em Bérgamo o rompimento entre católicos e o grupo priedade fi~ndiririaou nzobilihria. O clero como tipo de estratificasáo
Suar&, "exclamou com voz lenta e grave: 'Façam, façam aquilo que lhes social deve sempre ser levado em conta quando se analisa a composi-
dita sua consciência.' (Bonomi:) 'Compreendemos bem, Santidade? Po- çáo das classes possuidoras e dirigentes. Numa sErie de países, o libe-
demos interpret-ar que é um sirn?' (Papa:) 'Façam aquilo que Ihes dita ralismo nacional destruiu a propriedade eclesiástica, mas foi ii~lpotei~te
sua consciência, repito."' Imediatamente depois, Siiardi teve uma con- para impedir que se reformassem tipos afins e ainda mais parasitarios,
versa com o Cardeal Agliardi (de tendências liberais), que o colocou a já que seus representantes não desempenhavam nern desempeiiham
par d o que ocorrera no Vaticano depois da audiência concedida pelo Papa sequer aquelas funçóes sociais q u e o clero desempenhava: beneficên-
a Bonorni. (AgIiardi estava de acordo com Bonornelli no sentido de que cia, cultura popular, assistência pública, etc. O custo desses servisos
o nwi expedir fosse cancelado.) N o dia seguinte a esta audiência, um jornai era certamente enorme, mas eles não eram totalmente passivos. As
oficioso do Vaticano publica um artigo desmentindo os rumores que novas estratificaçóes s5o ainda mais passivas, já que não se pode dizer
corriam em torno da audiência e d a novidade sobre o nori expedi& afir- que seja normal uma funçgo desse gênero: para efetuar uma poupança
mando categoricamente q u e nada mudara a este respeito. Agliardi ime- anual de 1.000 liras, uma família de "produtores de poupança" conso-
diatamente solicitou uma audiência e, diante de suas perguntas, o papa me 10.000, forçando à desnutrição uma dezena de famílias campone-
repetiu sua fórmula: "Eu disse (aos bergarnascos) que fizessem o que Ihes sas, das quais extorque a renda fundiária e outros lucros decorrentes
ditava sua consciência." Agliardi fez publicar um artigo num jornal ro- d a usura. E preciso ver se estas 11.000 Iiras, se investidas na terra, nao
mano, onde se afirmava que, nas próximas eleições políticas, o s depo- permitiriam uma acumulaçáo maior de poupança, além de um elevado
sitarios d o pensamento d o papa eram o advogado Bonomi e o Prof. nível de vida dos camponeses e, em conseqüência, um seu desenvolvi-
Rezzara, e que era a eles que as organizações católicas deveriam dirigi r- mento intelectual e técnico-produtivo.
se- Foi assim que se apresentaram candidaturas católicas (Cornaggia em Em q u e medida está se formando nos ~ s t a d ounidos
s uma proprie-
Milão, Cameroni em Treviglio, etc.); e, em Bérgamo, apareceram, em dade eclesiástica propriamente dita, além da formação de proprieda-
apoio a candidaturas nas eleições políticas, manifestos assinados por ci- des d o tipo eclesiástico? E isso apesar das novas formas de poupança e
dadãos até entáo abstencionistas. de acumulação possibilitadas pela nova estrutura industrial.
DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

s 97. A co>xor<lata-Anexado à Lei das Garantias, havia um dis- 5 164. Notas sobre O mouimento religioso. A rednGdoda <Ciuilm
positivo n o se estabelecia que, se nos primeiros cinco anos poste- carrolicn". O s artigos da CiuiItò Ca~tolicasão todos escritos por pa-
riores 5 d a própria lei, O Vaticano se recusasse a aceitar a dres d a Companhia de Jesus e normalmente não são assiniidos. E,
indenizaçáo estabeiecida, O direito d e indenização caducaria 1241. Q alguns casos, pode-se saber quem são os autores, já que seus nomes
q u e se constata, a o contrário, é que nos orçamentos até 1928 sempre aparecem nas separatas (mas nem sempre). Assim, por exemplo, a
esteve presente a rubrica d a indenização a o Papa. C o m o 6 possível? rubrica sobre as questões operárias é redigida pelo Padre Angelo
Será que foi modificado O dispositivo d e 1871 anexado às Garantias? ~ r u c c u l e r i ,que deve ser também O representante italiano n o Centro
Quando e por quê? A questão é muito importante. Internacional de Malines, que redigiu o Codice Sociale.
Seria necessário obter O catálogo das publicações postas venda
$ 140. Cntoíicisrno e Inicismo. Religino e ciênclia, etc. Ler o livrinho por Civiítò Catolica para saber d e que questões tratam as separaias
de Edmondo Cione, 11 drnrnnzn reíigioso delEo spirito moderno e Ia disponíveis: é um indicador da importância dada às próprias qiiestoes.
Rimsce~m,Nápoles, Mazzoni, 1929, 132 p. C251 Desenvolve o seguinte Recordar que, em 1929 (OU no início d e 1930), o Amico delleFnnzi@ie
conceito: "Algreja, com a força de sua autoridade, mas privada de ciência noticiou que o Padre Rosa deixara a direção da Civiltci Cnttolicn e tara
e filosofia, sentia o vazio pairar sobre sua cabeça; o Pensamento, com a enviado pelo papa a uma missão na Espanlla, depois de lhe ter sido
força de seu poder, mas ansiando ein vão por popularidade e pela autori- concedida uma medalha de ouro em reconliecimento pelos serviços
dade da tradi @o." Por que "em vão"? De resto, não é exam a contraposição a o Vaticano. O Amico delle Frzrniglie é um semanário catóii-
entre Igreja e Pensamento; ou, pelo menos, na imprecisão da linguagem, co de Gênova e deve ter reproduzido a noticia a partir da imprcnsii
oculta-se todo um modo errado de pensar e, sobretudo, de agir. O Pensa- diária católica e não católica. Por quê? Com efeito, o Padre Rosa foi à
mento pode ser coiltrapoao à Religião, cuja organização militante é a Igreja Espanha e recebeu a medalha, mas continuou a dirigir a Ciuiltli
Nossos idealistas, Iaicistas, imanentistas, etc. fizeram d o Pensamento uma Cnttolicn. E evidente que havia quem desejasse o afastamento d o Pa-
piira abstraçzo, que a Igreja tranqüilamente ignorou, assegurando para si dre Rosa, por causa da atitude que ele tomou a respeito da aplicasão
as leis do Estado e o controle da educaç7io. Para que o "Pensamento" seja da Concordata, por vezes bastante áspera: mas o papa não deu ouvi-
uma forgã (e s6 assim poderh criar para si uma tradição), deve criar uma dos a esse piedoso desejo porque a linha d o Padre Rosa era a linha d o
organização, que náo pode ser o Estado, já que o Estado renunciou de um Vaticano e o papa fazia questão de deixar isto claro [27].
modo OU de outro a esta funçgo ética, embora a proclame em altíssima A Civiltci Cottolicn ~ u b l i c ade vez em quando índices analíticos de
voz; por isso, essa organização deve nascer na sociedade civil. Esta gente, seus números ano a ano: O último refere-se aos anos de 1911 a 1925,
que foi ãntimaçônica, terminara por reconhecer a necessidade da maço- compilado peIo Cav. Giuseppe De1 Chiaro, secretário de redação. É
naria. Problema "Reforma e Renascimento", já mencionado outras vezes preciso examinar este índice para rodas as questões irnportantcs, já que
1261. Posição de Croce (Cione é um crociano), que náo sabe (e ngo pode) as publicações e os comentários dos jesuítas têm certa importância e
popularizar-se; isto é, "novo Renascimento", etc. podem fornecer temas para a pesquisa: em articular sobre as ques-
> 5 161. ~ e ã ~711.
o Sobre sua bastante limitada e
tões de história d o Risorgimento. Recordar a questão dos depoimentos
de Federico Confalonieri. O mesmo vale para a questão d o banditismo
mesquinha, cf. Piero Misciatelli, "Un libro di ricordi e di preghiere dei entre 1860 e 1870: recordar a questáo dos irmãos La Gala embarca-
) papa Leone XIII", Nrdovrz Antologia, l0 d e março de 1929. dos em Civitavecchia num navio francês e aprisionados em Gênova
1
T)
B.?)
DOS CADERNOS MISCELÂNEOS
CADERNOS DO CÁRCERE

pelos piemonteses, com conseqüente protesto diplomático d o papa e renas e felizes! ... E, de resto, será mesmo tão necessaria a cultura inte-
da Françii, rrstitui~;iodos La Gala e sua extradição, etc. [28] Sáo im- lectual e científica para OS cidadãos? Para alguns, para vários, sim...
Para todos? Não"'. "Na p- 135, lê-se que 'a sociologia crist-5 é hostil a
portantes os artigos históricos d a Ciuilth Cotiolicn sobre o s movimen-
tos católico-iiberais e o ódio dos jesuítas contra Gioberti, que ainda qualquer forma de participaçzo da mulher na vida pública'." A ciuilt6
hoje é viilgarmente atacado em qualquer ocasião. ~ n t t a i i c anega esta afirmaçzo peremptória e lembra que "uma das e=-
Movinzsl~tosparzcristíios. Nathan Soderblom, arcebispo luterano colas mais renomadas da sociologia cristá na atualidade (as Semanas
de Upsals, lia Suécia, prega um cntolicismo evangélico, que consiste Sociais francesas) náo é de nenhum modo hostil à participacão que tanto
numa adesão direta a Cristo (Prof. Frederico Heiler, ex-catóIico rorna- horroriza nosso autor" [321. Cita também o Précis de Ia doctritze sociale
no, autor do livro Der Kiztholizismus, seine Idee r ~ n d s e h e Erscheirru~z~, catholiqae (Editions Spes, p. 129) d o jesuíta Ferdinando Cavallera,
Muiiiclue, 1923, da mesma tendência, o que significa que os pancristáos
p-ofessor d o Instituto de Toulouse, onde está escrito: 'A participaçáo
tiveram algum sucesso) .[29]. da mulher na vida pública não desperta nenhuma objeção d o Donto de
.-
Cçitolicisr~zoní~h d i n . Upadhyaya Brãh rnabandhav, célebre Sanr~ynsi vista cãtóiico." A CiuiltLi Cnttolicn critica Mioni por ter ignorado em
(?) católico, que pretendia converter a India a o catolicismo arravés dos seu tratado a vida internacional, que "tem hoje tão decisiva importan-
próprios Iiindus, crisrianiziiiido as partes d o hinduísrno passíveis de ser tia também nas questões sociais7', e por n5o ter feito nenhuma men-
absorvidas; foi desaprovado pelo Vaicano por excessos de nacionalis- çgo, a o falar d o tráfico d e mulheres, a o que se fez recentemente em
mo. (Quando ocorreu essa pregaçáo de Upadhyaya? Parece-me que hoje Genebra numa comissão especial da Sociedade das NaçOes.
o Vaticano seria mais tolerante.) Para a questão d o cristianisino na h - portanto, a oposição ao tratado de Mioni é radical. Este tratado de
o Sadi-iu Suii-dar Sing: cf. Civiltc? Cottolicn, 7 e
dia, ver o f e ~ ~ ô r n e ndo Mioni pode ser considerado como um dos mais importai-ites documen-
2 1 de jiilho de 1928 [30'j. tos ideológicos d o catolicismo integrista e ultra-reacionário.

CADERNO 4 (1 930-1 932) CADERNO 5 (1 930-1 932)

$ 90. Cntólicos iiztegrlstns, jesuítas, moderízistns. Monsenhor Ugo 5 3 . Owe~z,Saint-Sirno~ze es escolas irtfBntis de Ferrnnte Aporti [33].
h4ioni, escritor de novelões de aventura em série para jovenzinhos, foi O artigo "La quistione delle scuole infantili e dell'abate Aporti secondo
jesuita durante algum tempo e hoje náo é rnais. Agora certamente faz nuovi documenti" (Civilth Cnttolicn de 4 de agosto de 1928) mostra il

parte dos "integristas", como se pode ver na resenha, publicada na que os jesuítas e o Vaticano, em 1836, eram contrários 2 abertiira, em IR
1
Civiltii Cattolica de 20 de agosto de 1932, sobre seu Mnnunle di socio- Bolonha, d e escolas maternais d o tipo defendido por F. Aporti porque,
r1
i
logia (Turim, Marietti, 1932, in-l6O, 392 p., 12 liras) [3 I]. Na resenha entre os defensores, havia um "certo Dr. Rossi", "conhecido como
se observa que, n o Mnrzuale, "transparece aqui e ali uma forte descon- adepto d o saint-simonismo, então muito rumoroso na França e bas- #i
fiança em face do novo, real o u presumido. Na p. 121, invectiva con-
tra a difusáo da cultura: 'Por que não poderiam existir analfabetos?
tante temido também na Itália, talvez até mais d o que merecesse" (p.
221). O Arcebispo de Bolonha, chamando a atenção d a Santa Sé para *I
ira
Existiram muitíssimos nos séculos passados: e viveram tranqüilos, se- a propaganda e distribuiçáo de opúsculos em favor dessas escolas, es- 1
P)
bi )
1
I DOS CADERNOS MISCELANEOS

=revia: si mesma, a obra poderia ser boa, mas causa bastante te- s 7. Sobre o ^pen~amentosocial" dos católicos, parece-me possí-
mor a presença de certas pessoas à frente do empreendimento e o grande fazer a seguinte observaçáo crítica preliminar: não se trata de um
empenho que demonstram [..-I O criador destas escolas é um tal Robert programa político obrigatório para todos os católicos, para cuja reali-
Owen,protestante, conforme está mencionado na Guida dell'educatore e a ç á ~estejam voltadas as forças organizadas que os católicos possuem,
mas se trava pura e simplesmente de um "conjunto de argumentações
d o Prof. Lambruschini, que se publica em Florença, n o no 2, fevereiro
poiêmicas'' positivas e negativas, sem caráter político concreto. Isso deve
de 1836, p. 66" (p. 224).
O consultor d o Santo Ofício, Padre Cornelio Everboeck, jesuíta, ser dito sem entrar nas questões d e mérito, ou seja, n o exame d o valor
deu, em fevereiro d e 1837, seu parecer sobre as escolas a o assessor d o intrínseco das medidas d e caráter econômico-social que os católicos
Santo Ofício, Monsenhor Cattani: é u m estudo de 48 grandes e densas na base de tais argumentações.
páginas, que começa examinando a doutrina e o método d o s saint- N a realidade, a Igreja náo quer comprometer-se na vida prática
simonianos e concIui que O método das novas escolas está infectado - econômica e não se empenha a fundo, nem para aplicar os princípios
ou, pelo menos, há grandes suspeitas d e que o esteja - pela doutrina sociais q u e defende e que não sáo aplicados, nem para defender, man-
e pelos princípios d o panteismo e d o saint-simonisrno, aconselhando ter ou restaurar aquelas situações nas quais uma parte desses princípios
sua condenação e propondo a publicação de uma encíclica contra a já fora aplicada e que foram destruídas. Para compreender bem a posi-
seita e a doutrina dos saint-simonianos (p. 227). O articulista da CiviEt6 ção d a Igreja na sociedade moderna, é preciso compreender que ela
Cnttolicn reconhece que, enquanto a primeira parte d o parecer, con- está disposta a lutar apenas para defender suas particulares liberdades
tra o saint-simonismo em geral como doutrina, mostra "o estudo e a corporativas (de Igreja como Igreja, organizaçáo eclesiástica), ou seja,
erudição d o consultor", a segunda parte, a o contr5ri0, que deveria os privilégios que proclama ligados 2 própria essência divina: para tal
demoilstrar a infiltração d o saint-simonismo na nova forma de escola, defesa, a Igreja náo exclui nenhum meio, nem a insurreição armada,
é muito mais breve e mais fraca, "manifestamente inspirada e e m parte nem o atentado individual, nem o apelo 2 invasáo estrangeira. Todo o
deturpada pela informação e pela persuasão" dos informantes d e Bo- resto pode ser relativamente negligenciado, a não ser que esteja ligado
lonha, que haviam visto e denunciado nesta nova forma de escola os a siias pr8prias condições de existência. A Igreja entende por "despe-
métodos, o espírito e o perigo d o sainc-simonismo francês. A Congre- tismo" a intervenção da autoridade estatal laica no sentido de limitar
gaçáo d o Santo Ofício não insistiu n o perigo d o saint-simonisrno, mas o u suprimir seus privilégios, não muito mais: ela reconhece todo po-
proibiu os opúsculos e as escolas com aquele método. Outros quatro der de fato e, desde que este &o toqiie em seus privilégios, legitima-o.
consultores aconselharam a enciclica contra o saint-simonismo. Se, além disso, tal poder ampliar os priviICgios da Igreja, ela o excilta e
o proclama como providencial.
5. Açno social cat6lica. N o relatório apresentado por AIbert Dadas estas premissas, o "pensamento social" católico tem um puro
Thomas 2 Conferência Internacional do Trabalho (a décima primeira) valor acadêmico: é preciso estudá-lo e analisá-lo como elemento de
de 1928, está contida uma exposição das manifestações d o episcopado e ópio ideológico, tendente a conservar certos estados de espírito de
d e outras autoridades católicas sobre a questão operária Deve ser inte- expectativa passiva de tipo religioso, mas não como elemento direta-
ressante como breve sumário histórico desta específica atividade católi- mente ativo de vida política e histórica. Decerto, ele é um elemento
ca. A CiuiltLi Cattolica (4 de agosto de 1928), n o artigo "La conferenza político e histórico, mas de caráter absolutamente particular: é um ele-
internacionale de1 lavoro" (de Brucculeri), é entusiasta de Thomaç. mento d e reserva, não de primeira linha, e por isso ~ o d ser
e a qualquer
DOS CADERNOS MISCELÂNEOs

T ~ de uma~ ofensiva
~ ~ - contra
protestante ~ o cato~icismo,
~ que B pessoa. Mas Napoleão III foi chamado d e homem providencial de-
apreseilta dois momentos essenciais: 1) as Igrejas protestantes tendem P ois d o golpe d e Estado d e 2 de dezembro, o que significa que o vota-
desagregador em suas fileiras (que dá lugar con- bulário político dos católicos é diferente do comum.
a frear o
tinuamente a novas seitas); 2) aliam-se entre si e, obtendo um certo $ 19. AgLia Católica italiana. Para a história d a Ação Católica
consenso por parte dos ortodoxos, pressionam o catolicismo para leva- italiana, 6 indispensável o artigo "Precisazioni", publicado pelo Osserua-
lo a a seu primado e buscam apresentar n a luta uma impo-
tore Romano d e 17 d e novembro de 1928 e resumido pela Ciujlt<i
nente frenteúnica protestante, n o Lugar de uma multidão de Igrejas,
~ a t r o l i c ade lo d e dezembro seguinte, na p. 468.
seitas, tendências de importância diversa, as quais, isoladamente, teriam
menores de resistir ã tenaz e unificada iniciativa mis-
$22.
i Açáo Católica na Alemanha. Die Katholische Aktion. Mate-
sionár-a católica. A questão d a unidade das Igrejas cristãs é um formi-
r i ~ l e nund Akten, von Dr. Erhard Schlund, O-EM. -Verlag Josef Kosel
dável fenômeno d o após-guerra e é digna d a máxima atenção e de um
& Friedrich Pustet, Munique, 1928.
cuidadoso estudo. Trata-se d e uma resenha d a Ação Católica nos principais países
e uma exposição das doutrinas papais a respeito. N a Alemanha, não
g 18. O pensamento social dos católicos. Um artigo a ser lembra- existe a Ação Católica d o tipo comum, mas é considerado como tal
d o paria compreender a atitude d a Igreja diante dos diferentes regimes
o conjunto da organização católica. (Isto significa que, na Alema-
polírico-estatais é "Autorità e 'oportunísmo politico'", na Civilt2
nha, o cato~icismoé dominado pelo protestantismo e não ousa atacá-
Cattoíicn de l0d e dezembro de 1928. Deve ser confrontado com os
lo com uma propaganda intensa.) Com base nisso, dever-se-ia estudar
pontos correspondentes d o Código Social.
como se explica a base política d o 'Centro" [35]. (Cf. também o
A questão se apresentou na época d e Leáo XIII e d o rullievnent de
livro de Monsenhor Kal Ier, Unser Laienaposiolnt p o s s o apostolado
urna parte dos católicos à república francesa, e foi resolvida pelo papa
com os seguintes pontos essenciais: 1) aceitação, o u seja, reconheci- leigo], ed., vol. I, 320 p., Leusterdorf am Rhein, Verlag des
Johannesbund, 1927.)
mento d o ~ o d e constituído;
r 2) respeito a o mesmo como à represen-
O livro d e Schlund visa a introduzir e popularizar a Ação Católica
ração de uma autoridade oriunda de Deus; 3) obediência a todas as
de tipo italiano na Alemanha, uma orientaçso que deve certarnenre ser
leis justas promulgadas por tal autoridade, mas resistência 2s leis injus-
estirn~iladapor Pio XI (mas talvez com cautela, já que uma atividade
tas, com o esforço consensual n o sentido de emendar a legistação e
intensa ~ o d e r i aredespertar velhos rancores e velhas lutas).
cristianizar a sociedade.
Para a CiviEtiz Cattolica, isto não seria "oportunismo", já que este
$47. Ação Católica. Gianforte Suardi, n a Nuova Antologia d e l0
seria apenas a atitude servil e laudatória, e m bloco, diante d e autorida-
de maio de 1929 ("Costantino Nigra e i120 settembre de1 1870n), acres-
des que são tais de fato e não de direito (a expressão "direito" tem um
valor especial para os católicos). centa um detalhe a sua narrativa d e l0de novembro de 1 9 2 7 sobre a
participação dos católicos nas eleições de 1904 com o consentimento
0 s católicos devem distingui r entre "função da autoridade", que é
de Pio X, detalhe que omitira por discrição antes da Conciliação. Pio
direito inaliensvel da sociedade, a qual não pode viver sem uma or-
dem, e "pessoa" que exerce tal função e que pode ser um tirano, um X, saudando os bergamascos (Paolo Bonomi, etc.), teria aduzido: "Di-
gam aRezzara- (que não havia d a audiência e que, como
déspota, um usurpador, etc. O s católicos submetem-se à "função", não
CADERNOS DO CARCERE DOS CADERNOS MISCELÁNEOS

s e sabe, era um dos mais prestigiosos lideres d a organização católica) $ 5 8 . A Ação Católica. Uma das medidas mais importantes imagi-
- qual foi a resposta que dei aos senhores e digam-lhe que O Papa sj- nadas pela Igreja para reforçar suas fileiras nos tempos modernos é a
l s r r c i n d n 1361. O trecho sublinhado é precisamente O detalhe antes obrigagZo imposta às famílias de promover a primeira comunhão aos
Uma belíssima coisa, como se pode ver, e d e altissimo alcance sete anos. Compreende-se o efeito psicológico q u e deve ter sobre
moral ! crianças d e sete anos o aparato cerimonial da primeira comunhão, seja
como evento familiar individual, seja como evento coletivo: e q u e fon-
$ 56. ~ q r i oCatólica. "La pace industriaIen (de A. Brucculeri), na t e de terror isso se torne e, portanto, de apego à Igreja. Trata-se d e
Cattoljcn de 5 de janeiro de 1929. (Registra as tentativas feitas "comprometer" o espírito infantil tão logo ele começa a refletir. Com-
na IIlglaterra para a paz industrial, as tendências colaboracionistas da preende-se por isso a resistência que a medida suscitou entre as famí-
Organização Internacional d o Trabalho, o s comitês paritários de &ri- lias, preocupadas com OS efeitos deletérios sobre o espírito infantil desse
ca, a legislaçáo trabalhista, o s altos salários na América, etc.) Esta série misticismo precoce, bem como a luta da Igreja para vencer essa oposi-
de artigos d e Brucculeri sobre as questões industriais foi depois reuni- ção. (Recordar, n o Piçcob Mo7zdo Antico de Fogazzaro, a disputa en-
da em volume. Brucculeri faz parte (ou já fez) d o Centro d e MaIines, tre Franco Maironi e sua mulher quando se trata de levar a filhinha n o
quc redigiu o Código Social. barco, numa noite tempestuosa, para assistir A missa d e Natal: Franco
Maironi quer criar na criança "recordações" inesquecíveis, "impres-
$ 57. A Açáo Católica nos Estados Unidos. Artigo d a Civiltfi sóes7' decisivas; a mulher não quer perturbar o desenvolvin~entonor-
Cnttolicn, de 3 de janeiro de 1929, sobre "La campagna e1ettorale degli mal d o espírito da filha, etc. E381) A medida foi decretada por Pio X
Stati Uniti e le sue Iczioni". Trata da candidatura Srnith à presidência em 1910. Em 1928, o editor Pustet, de Roma, republicoii este decreto
da República. com iim prefácio d o Cardeal Gasparri e um comentário de Mons. Jorio,
A C i v i l ~ àCnt~olicaregistra a ferrenha resistência das Igrejas pro- dando lugar a uma nova campanha de imprensa.
testantes contra Smirh e fala dc "guerra d e religião". N ã o há referêii-
cia à posiçáo assumida por Smith em relação ao papa em sua famosa g 59. A Açno Católica nnAle17ziz1~hn.
Por iniciativa d o episcopado,
carta (cf. o livro de Fotitairie sobre a Santo Sé, etc.), que é um elemento os católicos alemães fundaram, já em 1919, uma "Liga de Paz dos Ca-
d e "ameri canismo" cat6lico. (Posição d o s cathli cos contra o proi- tólicos Alemães". Sobre esta Liga, sobre as posteriores iniciativas para
bicionisnlo e a favor dos far~ners(371.)Pode-se vcr que qualquer ação ampliá-la e sobre seu programa, cf. a Civiltir Cattolica de .19 d e janeiro
concentrada dos católicos provoca uma tal reaçgo que os resultados d e 1929.
são inferiores à força que os católicos dizem possuir; portanto, perigos Neste mesmo número, ver a carta de Pio XI a o Cardeal Bertram,
de ação em escala nacional concentrada. Foi um erro para os católicos Arcebispo d e Breslau, sobre a Açáo Católica na Alemanha, e que deve
se basearem num partido tradicional como o Partido Democrata? Fa- ser considerada como uma intervenção pessoal d o Papa para dar um
zer aparecer a religião como ligada a um determinado partido? D e res- maior impulso a o movimento d a Ação Católica, o qual, na Alemanha,
to, poderiam, n o atual sistema americano, fundar um partido próprio? não parece encontrar calorosos organizadores; a carta d o Papa é um
A América é um terreno interessante para estudar a fase atual d o cato- verdadeiro programa teórico-prático e é interessante em geral, náo só
licismo, seja como elemento cultural, seja como elemento político. para a Alemanha. A Civiltii Cattolica comenta longamente a carta e
compreende-se que o comentário sirva também para outros países.
DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

5 62. Redn@o da "Civilt2 Cattolicn". Os artigos sobre a maço- guerra da ~ í b i ea n o fato de que, em todo período de guerra, o Estado
naria s~~ pelo Padre Pietro Pirri (é provável q u e Pirri tenha tem necessidade da maior paz e unidade moral e civil possíveis.
escrito também os artigos sobre O Rotary). 0 s artigos sobre arte são Neste artigo, são transcritos trechos de artigos de ocasião
do Padre Carlo ~ r i c a r e l l i(que normalmente OS assina). 0 s artigos dos n o momenro d a Conciliação. Assim, o Senador PetrilIo (no popopo~o
sobre a unidade das Igrejas são d o Padre Celi; sobre a ciência natural d'~tnliad e 17 d e fevereiro de 1929) recorda o que ocorreu nos círcu-
(questóes do evolucionismo e d o transformismo), d o Padre Gaya; so- 10s governamentais e parlamentares italianos quando da morte de Bento
b r e literatura (especialmente sobre Dante), d e Busnelli, etc. O Padre XV (O Governo Bonomi queria evitar uma sessão em homenagem a
Brucculeri escreve sobre as questões econômicas e industriais. Sob o Bento XV n o Parlamento, o que teria obrigado o governo a intervir, e
título Problenzi odierni de1 Inuoro, ele reuniu (num livro d e 1 4 5 p., este não queria fazer nenhuma manifestação política, nem iium nem
jn-gO, 8 liras) os seguintes artigos já publicados anonimamente na noutro sentido. Bonomi era apoiado pelo Partido Popular e tinha mi-
Civi[t& Cattolica: I) CLCorganizzazioneinternazionale"; 2) 'CCor- nistros deste partido em seu Gabinete. Recordo-me que estava em Roma
ganizzazione scientifica"; 3) "L'organizzazione professionale"; 4) naqueles dias e, junto com Bombacci, procurei Bevione -subsecreta-
'bVerço la pace industriale"; 5) "La schiavitù de1 lavoro indigeno". D o rio d o primeiro-ministro - para conseguir um passaporte: Bevione
padre Brucculeri, a editora d a Civilth Cntrolica já publicara os seguin- estava impaciente e queria assegurar-se de que nenhum grupo tomaria
tes trabalhos (certamente separatas d a revista): 1)Salnrinto e conzpnr- urna iniciativa que pudesse arrastar outros grupos e colocar o governo
tecjpaziotze, in-16*, 70 p., 2 , S O liras; 2) I1 problema delln terra, 2.° diante d a necessidade de intervir. N a realidade, ninguém falou, mas
cd., in-l6', 162 p., 3,50 liras; 3) Lo sciopero nelln storin, nelln morale, PetrilIo evita explicar por que ninguém, precisamente ninguém falou.
nell'econonzin, 2."ed., in-lGU, 1 3 6 p., 5 liras; 4) Ln limifnzione della Teria sido bom, d e certo ponto d e vista, pode-se até admitir, que
giornntn [li Inuoro e i1 principio delle otto ore, 2.- ed., in-lGO,50 p., 5 Salandra tivesse falado. Mas por que, tendo Salandra se recusado a falar,
liras; 5) $141 problema di Malthus. Rilievi, 7,50 liras. mais falou? E por que só Salandra deve ser recriminado [401?)

$ 64. Igrejn e Estado na Ithlia antes cln Concilingiio 13 91. Deve-se 5 67. Açn'o Católica. Recordar, para um estudo da estrutura mun-
rever, sobre isso, o artigo "La Conciliazione fra 10 Stato italiano e Ia dial do ciicolicismo, o Annunrio Pontifiçio, publicado em grossos volu-
Chiesa (Cenni cronistorici)", na Civilti?Cattolica de 2 de março de 1929 mes com cerca de 1.000 páginas, em Roma, pela Tipografia Poliglota
(a rubrica cbnririua nos números seguintes e deve ser consultada), por Vati cana.
algumas referências interessantes (interessantes também porque a re- Para a Aqáo Católica italiana em sentido estrito (laico), ver os
ferência a determinados faros indica que, quando estes se verificaram, Alrnanaques Católicos publicados atualmente por "Vita e Pensicro": o
dava-se a eles uma cerra importância). E assim que se faz uma mençao mais interessante e de maior valor histórico é o Almanaque Católico
especial à "Semana Social" de Veneza de 1912, presidida pelo Marquês de 1922, que registra a situação católica n o primeiro período d o após-
SassoIi de Bianchi, e à "Semana Social" de Miláo de 1913, que tratou guerra.
das "liberdades civis dos católicos". Por que precisamente em 1 9 1 2 e
1913 os criltólicos como organização d e massa trataram da Questão 5 70. Estado éIgrejn. Em seu livrinho Stato fnscista, Chiesn e Scuola
Romana e determinaram quais seriam o s pontos fundamentais a ser (Libreria de1 Littorio, Roma, 1929), ccIgnotus" insiste numa circular
superados para que se chegasse a uma sua solução? Basta pensar na ministerial, dizendo que "muitos niio a julgam um monumento de pru-
DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

na medida em que se expressaria com excessivo zelo, g i i i ~católica, base d a unidade intelectual e moral do nosso povo, fosse
dêiicia
com aquele zelo que Napoleáo (talvez queira dizer Talleyrand) não ensinada n ã o somente nas escolas para crianças, mas também naque-
desejava de modo algum, com um zelo que poderia parecer excessivo, las para o s jovens."
mesmo se o documento, em vez de ser da responsabilidade de um mi- Os católicos, naturalmente, relacionam tudo isto com o artigo 10
nistério civil, rivesse origem na própria administração eclesiástica". Esta do Estatuto, reconfirmado n o artigo l0 d o Tratado com a Santa sé,
circular esta assinada ministro Belluzzo e foi enviada em 28 de interpretando que O Estado, como tal, professa a reli@o çarólicn, e
março de 1929 aos administradores escolares locais (Circular no 54, náo apenas que o Estado, na medida em que tem necessidade de ceri-
publicada 110 Bolletino Ufficinle d o Ministério d a Educasão Nacional mônias religiosas em sua atividade, estabelece que elas devem ser Kca-
em 16 de abril de 1929, transcrita na íntegra na CiviEtà Cnttoliça de tólicas". Sobre o ponto d e vista católico a respeito da escola pública,
18 de d o mesmo ano). Segundo "Ignotusy', esta circular teria cf. o artigo ( d o Padre M. Barbera) "Religione e filosofia nelIe scuole
facilitado aos católicos uma interpretação ampla d o artigo 36 d a medie", n a Civiltà Cattolica d e l0 d e junho d e 1929.
Concordata Mas será verdade? "Ignotus" escreve que a Itslia, com o
artigo 36 da Concordata, não recorihecerin, mas quando muito (?!) 5 71. Nati*rezn das concordatas. Em sua carta a o Cardeal Gasparri,
c~;tsi&ynria"fut~damentoe coroamento d a instrução pública o ensino d e 30 de maio d e 1929, Pio XI escreve: "Também na Concordata es-
da doutrina cristã de acordo com a forma recebida da tradiç;io católi- tão presentes, se não dois Estados, certissimamente duas soberanias
cai>. Mas será lógica esta restriçáo de "Ignotus" e esta iriterpretação o u seja, plenamente perfeitas, cada uma em sua esfcra, esfera
caviloça d o verbo '"considerar"? A questão é certamente grave e, pro- necessariamente determinada pelo respectivo fim, onde cabe apenas
vavelmente, os redatores dos documentos náo pcnsararn a tempo 170 aduzir q u e a objetiva dignidade dos fins determina, dc modo não me-
alcance de suas concess6cs, daí este brusco recuo. (Pode-se pensar que nos objetivo e necessário, a absoluta superioridade da Igreja."
a mildança de nome d o ministério, de "Instruçao Pública" para "Edu- Este é o terreno da Igreja: tendo aceito dois instrurnenros distintos
caçáo Naci onaI", está ligada a esta necessidade d e i nterpretação para estabelecer as relaçóes e n t r e Estado e Igreja, o TTratado c a
restritiva do artigo 36 d a Concordara, com a intenção de afirmar que Concordata, aceitou-se necessariamente este terreno: o Tratado detcr-
uma c ~ i s i él Ccinstruç50",momento C'informativo", ainda elementar e mina esta relação entre dois Estados, enquanto a Concordara deteriiii-
preparatório, e outra é "educação", momento "formativo", coroamento na as relações entre duas soberanias n o "mesmo Estado", ou seja,
d o processo educativo, de acordo com a pedagogia de Gentile [41].) admite-se que, n o mesmo Estado, existem duas soberanias iguais, já
As palavras "fundamento e coroamento" presentes na Concordáta que elas negociam em igualdade d e condições (cada uma em sua esfe-
repetem a expressao d o Decreto Real no 2185, de í 0 de outubro de ra). Naturalmente, também a Igreja afirma que não h 6 confusão de so-
1923, sobre o "Ordenamento dos graus escolares e d o s programas beranias, mas porque afirma que a o Estado não compete soberania no
didsticos da instrução elementar": "Como fundamento e coroamento terreno d o "espiritualn e, se o Estado se arroga tal soberania, comete
da instrução elementar em todos o s seus graus, fica estabelecido o usurpaçáo. Além disso, a Igreja também afirma que náo pode haver
ensino da doutrina cristã, d e acordo com a forma recebida d a tradi- dupla soberania na mesma esfera de objetivos, mas precisamente por-
ção católica." Em 21 d e março d e 1929, a pibuna, num artigo que afirma a distinção dos fins e declara-se a única soberana n o terre-
intitulado "L'insegnamento religioso neIle scuole medie", considera- no d o espiritual.
d o de carater oficioso, escreve: "O Estado fascista decidiu que a reli-
CADERNOS DO cARCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

5 72. possodo e presente. Artigo d o Osservíztore Romano de 11-12 S 129. Pcrssndo e prese~te.OS católicos e o ~ s t a dVerificar
~. o ar-
de março, transcrito (alguns trechos) pelaciurltà Cnrtolicn de 6 de abril tigo muito significativo, "Tra 'ratifiche' e 'rettifiche7" (do Padre
de 1929: "De modo análogo, a palavra 'revolu@o' não mais desperta na Civiltn Cnttolicn de 20 de julho de 1929, relativo também ao pie-
a impressáo funesra, que parece induzir em outros, quando ela quer biscito d e 1929. Sobre este artigo, verificar também o número seguinte
indicar um programa e um movimento que se processam n o âmbito da mesma Civilrri Crittolim (de 3 de agosto). A propósito da Con-
das instituições fundamentais d o Estado, deixando em seu posto o cordota, deve-se observar que o art. l0diz textualmente: "A Itália,
monarca e a monarquia, o u seja, o s expoentes maiores e mais si ntéti- nos termos d o art. 1' d o Tratado, assegura à Igreja Católica o livre
cos d a autoridade politica d o país; isto é, sem sedição nem insurreição, exercício d o poder espiritual", etc. Por que se fala de poder,'que tem
das quais, até agora, pareciam não poder prescindir o sentido e os meios um preciso significado jurídico, e não, por exemplo, d e "atividadev
d e uma revolução." ou outro termo menos facilmente inte>pretável em sentido polirico?
Seria útil fazer .uma pesquisa, inclusive d e nomenclatura, nas outras
5 120. Nacionalismo cultural católico. É a tendência q u e mais concordatas estipuladas pela Igreja e na literatura de hermenêutica
causa espanto quando se lê, p o r exemplo, a Civiltà Cattolicn: por- das concordatas feita pelos agentes d o Vaticano.
que, se ela realmente se convertesse numa regra d e conduta, o pró-
prio catolicismo se tornaria impossível. O incitamento aos filósofos $ 132. Passado e presente. N a Civiltci Cattolica de 20 de julho de
italianos para q u e adotem o tornismo, porque Santo Tomás nasceu 1929 aparece o notici5rio da primeira audiência, para a apresentaç50
na Itália e náo porque nele se pode encontrar u m caminho melhor de credenciais, concedida por Pio XI a De Vecchi, embaixador n a Ci-
para chegar à verdade, c o m o isso poderia servir aos franceses o u dade d o Vaticano. N o segundo ~ a r á g r a f odas palavras dirigidas por Pio
a o s alernaes? Isso n ã o p o d e r á se transformar, a o contrário, por XI a De Vecchi, diz-se: "Ao discorrer sobre as novas relações trCIO afor-
consequêricia Iogica, num incitamento a q u e cada naçáo busque, em tunadamente iniciadas, nós o fazemos, Sr. Conde, com parricular res-
sua própria tradição, um arquétipo intelectual, um "mestre" d e fi- peito a sua pessoa, felizes de que estas novas coisas se iniciem e tomem
losofia religiosa nacional, o u seja, num incitamento a desagregar o rumo a partir daquilo que T! &a. representa, pessoalmentç e por obras,
catolicismo em várias Igrejas nacionais? Aceito O princípio, por que a partir daquilo que V Exa. j6 tem feito elo bem não só d o pais, mas
e n t á o estabelecer S a n t o Tomás corno expressão nacional e n ã o também d e nossas Missóes."
Gioberti e Socini, erc.?
O fato de que os católicos, ou melhor, os jesuítas da Cim+ltriCnttolica S 133. Açno CntÓIicc~.Os "Retiros oper&rios". Cf. a Civiltd Cnttolicn
tenham sido e sejam obrigados a recorrer a tal propaganda E um sinal de 20 de julho de 1929: "Come il popolo torna a Dio. L'opera de1 'Ritiri
dos tempos. Houve um tempo e m que Cario Pisacane (mais ainda do op erai'."
que Giuseppe Mazzini) era proclamado, nos altares, como o elemento Os "Retiros" ou "Exercícios Espirituais fechados" foram fundados
nacional a ser contraposto aos nebulosos filósofos alemães. Na filoso- por Santo Inácio de Loyola (cuja obra mais difundida sao os Esercizi
fia d o atualismo, reivindica-se Gioberti como oHegel italiano, ou quase. Spiritr~ali,editada em 1929 por G. Papini); daí derivam os "retiros
O catolicismo religioso incira (ou deu o exemplo para?) o s catolicis- operários" iniciados em 1882 n o Norte da França. A Obra dos Retiros
mos filosófico e político-social 1421. Operarios iniciou sua atividade na Itália em 1907, com o primeiro re-
tiro para operários realizado em Chieri (cf. Civiltci Ccrttolicn, 1908,
D O S C A D E R N O S M I S C E L A N E O S
.CADERNOS DO C Á R C E R E

'Ritiri Operai' in Italia"). Em 1929, foi publicado o através da uniáo, uma f o r ~ de a proselirismo; 2) entre as Igrejas protes-
vol. p. 61:
tantes, s ó as americanas e, em menor medida, as inglesas tinham uma
livro Come il popolo ritornn a Dio, 1909-1929. L'Opern dei Ritiri e Ze
força expansiva d e proselitismo: esta força passa para o moviniento
n anni d i vita, in-li0, 1 3 6 p., com
di ~ ~ ~ ~ e vi ne Rro nm a~ i n~ 20
p a n c r i ~ t ã embora
~, ele seja dirigido por elementos europeus continen-
ijustrações, 10 liras. (É vendido em benefício d a Obra, na Direzione
tais, sobretudo noruegueses e alemães; 3 ) a uniáo pode paralisar a ten-
dei Ritiri Operni, Roma, Via degli Astalli, 16-17.) O Iivro diz que, de
dência das Igrejas protestantes a se dividirem cada vez mais; 4) as Igrejas
1 9 0 9 a 1929, a Obra recolheu nas Ligas de Perseverança de Roma e do
Lácio mais de 20.000 operários, muitos dos quais recém-convertidos. participam, como centros dirigentes com liderança própria,
~~s anos 1928-1929, obteve-se n o Lácio e nas províncias vizinhas um d o movimento pancristáo.
sucesso maior do que o ocorrido em Roma nos dezoito anos anteriores. Este movimento perturbou muito a Igreja Católica. Sua organiza-
Foram realizados até agora, em Roma, 115 Retiros fechados, com çPo de massa e sua centralização e unicidade de comando punham-na
de cerca d e 2.200 operários. "Em cada retiro- escreve em condições d e vantagem n a obra lenta mas segura de absorçáo de
a
a Civilth Cattolica -, há sempre um núcleo de bons operários, que heréticos e cisrnáticos. A união pancristã abala o monopólio e põe Roma
serve d e fermento e de exemplo; os outros são recolhidos de diferen- diante d e uma frente única. D e resto, a Igreja romana náo pode aceitar
tes formas entre gente d o povo, ou fria ou indiferente, e até mesmo ingressar n o movimento como igual As outras Igrejas e isso favorece a
hostil, que adere em parte por curiosidade e em parte para atender a o propaganda pancristã, q u e pode assim criticar Roma por náo querer a
convite de amigos, e náo raramente também para desfrutar a comodi- união de todos os cristãos por causa d e seus interesses particulares, etc.
dade de três dias de repouso e de bom tratamento gratiiito."
O artigo dá outros detalhes sobre vários municípios do Lácio: a $ 138. O culto dos Imperadores. N a Civiltà Cattolicn de 17 de
Liga de Perseverança d e Roma tem 8.000 inscritos, com 34 centros; agosto e 21 d e setembro d e 1929, publica-se iim artigo d o padre jesuí-
n o Lácio, hA 25 seções d a Liga, com 12.000 inscritos. (Comunhão ta G. Messina, "L'apoteosi dell'uoino vivente e i1 cristia~iesimo", Na
mensal, enquanto a Igreja se contenta com uma comunhâo por ano.) A primeira parte, Messina examina a origem d o culto d o imperador até
Obra é dirigida pelos jesuítas. (Poder-se-ia fazer um parágrafo para a Alexandre d a Macedônia; na segunda parte, examina a introdiiç-ao em
rubrica "Passado e presente".) Rorna d o culto imperial e a resistência dos primeiros cristáos até o Edito
As Ligas de l'erseverança tendem a manter os resultados obtidos de Constantino.
nos retiros e a ampliá-los entre as massas. Elas criam uma "opinião Escreve Messina: "Na primavera d e 3 2 3 , foram enviados (de Ate-
pública" ativa em favor da prática religiosa, invertendo a situação an- nas e Esparta) delegados a Alexandre, na Babilônia, e estes se apre-
rerior, na qual a opinigo pública era negativa, ou, pelo menos, passiva, sentaram diante dele coroados com grinaldas, como era costume
cética e indiferente. apresentar-se diante dos deuses, reconhecendo-o assim como deus. A
ambição d e Alexandre estava satisfeita: era ele o único d o n o d o mun-
5 134. Movimentos religiosos. Deve-se estudar o rnovinzento d o e deus; sua vontade era a única lei. ~ e n d oart tido como represen-
pnncristRo e a organização q u e dele depende, ou seja, a "Aliança mun- tante dos gregos em sua campanha contra os persas, sentia agora que
dial para promover a amizade internacional por meio das Igrejas". O sua missáo fora cumprida: náo era mais representante d e ninguém:
movimento pancriscão é significativo pelas seguintes razões: 1)porque diante de sua pessoa elevada h divindade, gregos e macedônios, persas
as Igrejas protestantes visam náo só a se unir entre si, mas a adquirir, e egípcios eram igualmente súditos e dependentes. Diferenças de nacio-
DOS CADERNOS MISCELÃNEOS

CADERNO 6 (1 930-1932)
e de h&itos, preconceitos de casta, tradições particulares
)deviam desaparecer, e todos OS POVOS deviam ser levados a se sentir S 23. Passado e presente. Os católicos depois da Concordota. É muito
> u m a só coisa na obediência a um SÓ monarca e n o culto a sua pessoa." imporrante a resposta d o papa aos votos de feliz Natal do S. Colégio
)ouseja: o culto d o imperador liga-se a o império universal e a o cosmo- dos Cardeais, publicada na CiMlt2 Cattolica de 4 d e janeiro d e 1930.
politismo, cuja expressão necessária é O império. N a Civiltd Cattolica de 18 d e janeiro, publica-se a encíclica papal
3 Seria illteressante ver se se tentou encontrar um vínculo entre o Quinqrrngesirno ante anno (pelos cinqüenta anos d e sacerdócio de Pio
) culto d o imperador e a.posiÇáo d o papa corno vigário de Deus n a ter- XI), onde se repete que Tratado e Concordata são incindíveis e inse-
> ra. Decerto, tributam-se honrarias divinas a o papa e ele é chamado de ~aráveis,"ou todos os dois se mantêm, ou ambos são necessariamente
' "pai c ~ r r ~ u m "como
, Deus. O papado teria feito uma rnisrura entre os
atributos d o Sumo Pontífice e os d o Imperador divinizado (arributos
3 que, para as populações d o primeiro período, náo deviam ser sentidos
cancelados". Essa afirmação, reiterada pelo papa, tem um g a n d e va-
lor: talvez ela seja feita e reafirmada náo apenas diante d o Governo
italiano com o qual os dois atos foram estabelecidos, mas sobretudo
) corno distintos nos próprios imperadores). Assim, através d o papado, como salvaguarda em caso de mudança de governo. A dificuldade está
3 deve rer nascido também o direito divino das monarquias, reflexo d o
no fato de que, se o Tratado cair, o papa deveria restituir a soma que,
culto imperial. A mesma necessidade levou n o Japáo a o culto do Micndo,
nesse meio tempo, foi transferida pelo Estado italiano em funçáo d o
) q u e se transformou depois em solenidade civil e náo mais religiosa.
~ r a t a d o :nem reria valor o possível sofisma com base na Lei das Ga-
9 Teria se verificado no cristianismo o q u e se verifica nos períodos ranrias. Será preciso examinar de que modo era incluída no orçamen-
) d e restaura~áoem relaçáo aos períodos revolucionários: a aceitasão
to d o Estado a soma alocada para o Vaticano depois das Garantias, jA
'> mitigada e camuflada dos princípios contra o s quais se lutara.
que existia uma cláusula segundo a qual essa obrigaçáo desapareceria
se, cinco anos depois da lei, o Vaticano se recusasse a recebê-la.
g 145. Passado e presente. Crisrinnismo primitiuo e Nío prirnin'uo.
) Na CiviltG CaLtdicn de 21 de dezembro de 1929, cf. o artigo "I novelli
3 B.B. Martiri Inglesi difensori dei primato romano". Durante a perse- $ 41. Religião. "Viajando, poderás encontrar cidades sem mil-

' g u i @ ~de Henrique VIII, "o bem-aventurado Fischer foi o líder d a


resistência, embora mais tarde o clero, em sua maioria, tivesse demons-
.) trado uma recrirninável e ilegítima subrniçsáo, prometendo num ato,
ros e sem inscriçócs, sem rei e sem casas (!), sem riquezas e sem o
uso d a moeda, privadas d e teatros e ginásios (palestras). Mas uma
cidade sem templos e sem deuses, que náo pratique nem orações,
nem juramentos, nem profecias, nem os sacrifícios para atrair o bem
) conhecido como a 'rendição do clero', submeter a o rei a aprovação de
1qualquer Lei eclesiástica" (15 d e maio de 1532). e afastar o mal, ninguém jamais a viu nem jamais a verá." Plutarco,
'
Quando Ffenríque imp6s o "juramento de fidelidade" e quis ser adv. Col., 3 1.
reconhecido como chefe d a Igreja, LLmuitos
membros d o clero, &ante Defi niçáo d a religião em Turchi (Manuale d i storia delle religioni,
1 da ameaça da perda dos bens e d a vida, infelizmente cederam, pelo Bocca, 1922): "A palavra religião, em seu significado mais amplo,
) menos aparentemente, mas com grave escândalo dos fiéis". denota um vínculo d e dependência que religa o homem a uma ou
mais potências superiores, das quais ele se sente dependente e às
quais tributa atos d e culto, o r a individuais, o r a coletivos." N o con-
ceito d e religiáo, portanto, estáo pressupostos o s seguintes elemen-
CADERNOS DO cÁRCERE DOS CADERNOS MISCELANEOS
D;
tos: 10) a crença d e q u e existam uma OUmais divindades pessoais S 151. A ~ d católica.
o Santi ficaçáo de Roberto Bellarmino, sinal dos
que transcendem as colidições terrestres temporais; ZO)o sentimento tempos e d o suposto impulso de nova potência da Igreja Católica; for-
dos homens d e q u e dependem destes seres superiores q u e governam talecimento dos jesuítas, etc. Bellarmino dirigiu o processo contra
totalmente a d o cosmo; 3O) a existência d e u m sistema d e rela- Gaiileu e redigiu os oito motivos que levaram Giordano Bruno à fo-
ções (culto) entre o s homens e os deuses. Salomão Reinach, n o gueira. Santificado em 2 9 d e junho de 1930; mas tem importância não
Orpheiis, define a religiáo sem pressupor a crença em poderes su- esta data, e sim a data em que foi iniciado o processo d e santificafio.
periores: "Um conjunto d e escr0pulos (tabus) q u e obstaculizam o Cf. a ViLn d i Gnlileo, d e Banfi (Ed. La Cultura), e a resenha de G. De
livre exercício d e nossas faculdades." Esta definição é excessivamen- ,
Ruggiero na Critica, onde estão documentadas as armadilhas que os
t e ampla e pode compreender não só as religiões, mas também qual- jesuítas armaram e nas quais caiu Galileu. Bellarmino é autor da fór-
quer ideologia social q u e vise a tornar possível a convivência e, por mula d o poder indireto da Igreja sobre todas as soberanias civis. A festa
isso, obstaculize (através d e escrúpulos) o livre (ou arbitrário) exer- de Cristo Rei {instituída em 1925 ou em 1926?), para o último domin-
cicio de nossas faculdades. g o d e outubro de todos os anos.
Caberia também examinar se é possivel chamar de "religião" uma
fé que náo tenha por objeto um deus pessoal, mas s ó forças impessoais S 163. Passado e presente. As encíclicns papais. Um exame crítico-
e ir~deterrninadas.N o mundo moderno, abusa-se das palavras "religião", literário das encíclicas papais. Elas sáo, em 90%, uma co1ch.a de reta-
e "religioso", atribuindo-as a sentimentos que nada têm a ver com as lhos de citações genéricas e vagas, cuja finalidade parece ser a de k-ifirmar,
religiões positivas. Também o puro "teísmo" não deve ser considerado em qualquer ocasião, a continuidade da doutrina eclesiiística, dos Eva1-i-
como uma religiao; falta-lhe o culto, isto é, uma relação determinada gelhos até hoje. N o Vaticano, devem ter um formidiivel fichário de ci-
entre o homem e a divindade. tações para. qualquer assunto: quando é preciso redigir uma encíclica,
começa-se por estabelecer previamente ris fichas q u e contêrn a dose
r; 140. Passado e presertte. O cat-olicismo italiano. Sobre a questáo necessária de citagões: tantas d o Evangelho, tantas dos pais da Igreja,
de uma possível reforma protestante na Itália, deve-se notar a "desco- tantas das anteriores encíclicas, A impressão que resulta é de grande
berta", feita em julho-agosto d e 1931 (depois da enciclica sobre a Ação frieza. Fala-se d a caridade náo porque exista um tal sentimento em face
Católica), d o que é realmente o carolicismo por parte de algumas re- dos homens reais, mas porque assim disse Mateus, e Agostinho, e "nosso
vistas italianas (particularmerite notável é o editorial d e Critica fascis- predecessor d e feliz memória", etc. S ó quando o papa escreve (OUf2ilii)
ta sobre a enciclica) 1431. Esses católicos descobriram, com grande sobre ~ o l í t i c aimediata é que se sente um certo calor.
espanto e sentimento de escândalo, que catolicismo é igual a "papisrno".
Essa descoberta não deve ter agradado muito a o Vaticano: ela é um S 164. Católicos integristns, jmuitns, rrzoderiristrrs. Ver o efeito que,
protestantismo potencial e, como tal, é a aversão a qualquer ingerên- n o equilíbrio das forças católicas, teve a crise religiosa Iia Espaiiha. N a
cia d o papa na vida interna nacional e a consideraçao e a proclamaç50 Espanha, a luta anticlerical teve como alvo principal os jesuítas, mas
d o papado como u m "poder estrangeiro". Essas conseqüências da me parece que, precisamente na Espanha, os integristas seriam fortes e
Concordata devem ter sido surpreendentes para os "grandes" políti- OS jesuítas deviam ser u m contrapeso a essa força: a tentativa de acor-
cos d o Vaticano. do entre o Vaticano e Alcalà Zamora, impedida pela Constituinte, de-
via precisamente visar a valorizar a política dos jesuítas, eliminando
DOS CADERNOS MISCELÃNEOS

4 178. Noções enciclopédicas. Teopanismo. Termo usado pelos


ou sacrificando os integristas (Segura, etc.) [44]. Mas a situação espa-
jesuítas, por exemplo, para indicar uma característica da religião
nhola complicava-se pelo fato de que OS jesuítas desempenhavam uma
hinduísta (mas teopanismo não significa panteísmo? O u é emprega-
significativa atividade capitalista: eles dominavam algumas importan-
do para indicar uma particular concepção religioso-mitológi ca, para
tes empresas de transporte urbano e de outro tipo (verificar a exatidão
distingui-la d o "panteísmo" filosófico-superior?). Cf. Civilt<i Catto-
dessas referências). N a Espanha, OS jesuítas tinham uma tradição
[ k a , 5 d e julho d e 1930 (artigo "CInduismo", p. 17-18): "Para o
particular, ou seja, a luta que travaram contra a Inquisiçáo e o s domi-
hinduísmo, n ã o h á diferença substancial entre Deus, homem, animal
nicanos (ver que significado teve esta luta; cf. o livro de Lea sobre a
e planta: t u d o é Deus, náo s ó na crença das classes inferiores, entre
Inquisição na Espanhã) [45].
as quais esse panteísmo é concebido d e modo animista, mas também
5 173. Apío Católica. Cf. a Civiltà Gittolica de 1 9 de abril de 1930: entre as classes altas e as pessoas cultas, em cuja maneira de pensar a
essência divina se revela, em sentido teopanístico, como mundo das
" m i o n e Cattolica e associazioni religi ose". Transcreve uma carta d o
almas e das coisas visíveis. Embora se trate substancialmente d o mes-
Cardeal PaceiIi e O resumo de um discurso d o papa. Em março d o
mo erro, pelo menos na maneira d e concebê-lo e expressá-lo há uma
mesmo ano, o secretário d o Partido Nacional Fascista havia divulgado
uma circular sobre a não-incompatibilidade da participaçáo sirnultâ- distinç50 enrre o panteísmo (que imagina o mundo como um ser ab-
soluto, objeto de culto religioso: 'o todo é Deus7)e o teoponimo (que
nea na Ação Carólica e n o PNF.
concebe Deus como a realidade espiritual-real, da qual emanam to-
5 174. Igreja católica. Atlas Hiemrchicus. Descriptio geogrnphica das as coisas: 'Deus torna-se tudo', necessariamente, incessantemen-
te, sem princípio nem fim). Ao lado de poucos sistemas dualistas, o
et statistica S n z t o e Roma~zne,Ecclesine turn Orientis, t u m Occidentis
jrdxta strrtram praese~ztem.Co?zsilioet hortatu ~nnctcreSedis Apostalicne,
teopanismo é a maneira mais comum d a filosofia hinduísta conceber
elaúoravit I? Cnrzdr~sStreit, Paderbornae, 1929 (Ed. S. Bonifacio, Deus e o mundo."
Paderborn). Sobre a segunda ediçgo, cf. Ciuiltci Cczttulica, 7 de junl-io
de 1930; sobre a primeira, Civiltn Cnttolica, 1914, vol. 311, p. 69. Con- $ 181. Igreja católica. Santos e beatos. A Congregação dos Ritos
tém todos os dados sobre a estrutura mundial da Igreja Católica. Entre publicou (cf. o Corriere delln Sera de 2 d e dezembro d e 193 1) o catá-
a primeira e a segunda ediçgo, podem ser interessantes as variações logo oficial dos processos d e beatificação e canonização atualmente
provocadas pela guerra n o número dos clérigos. (Na Espanha, por e m curso. O catálogo anterior foi publicado há dez anos e continha
exemplo, o número de padres aumentou nesse período; na Itália, ao 328 processos; o atual registra 551. N o elenco, a Itália figura com
contrario, parece q u e diminuiu, para voltar a crescer provavelmente 2 7 1 processos, a França com 116, etc. Seria interessante examinar,
depois da Concordata e dos aumentos das prebendas, etc.) tendo em vista uma estatística político-social, os catálogos d e um
período razoavelmente longo e distribuir os processos por nações, por
S 175. Apio Católica. Para a atividade na França, cf. Les nouvelles condições sociais, etc. Caberia levar em conta várias condições: quem
çonditions de Ia vie industrielle, Semaines Sociales d e France, XXI propõe o s processos, como, etc. Seria assim possível deduzir os crité-
Session, 1929, Paris, 1930, 574 p. Seria interessante ver que as- rios da política que o Vaticano utiliza nestas questões e as mudanças
suntos foram tratados pelas Semanas Sociais nos vários países e por que ta1 política sofreu a o longo d o tempo.
que certas questões jamais foram tratadas em certos países, etc.
0 0 5 CADERNOS MISCELÃNEOS

5 182. cntóJiC0s integristas, jesuítas e modernistas. Giovanni Abade Pio Brunone Lanteri" [471. O u seja: Crispolti reconhece que a
pap+,j. Daresenha d o livro SnritJAgostinode Giovarini Papini, publicada A,-~OCatólica é uma inova~20,e não, como dizem as enciclicas papais,
na ~ ~ ~ jCnttolica
[ l n de 19 de julho de 1930 (p. 155), deduz-se que os uma atividade que sempre existiu desde 0s Apóstolos. É uma atividade
ca;ólicos i n t e g r i ~ r a sa1inharam-se contra Papini: 'As invectivas de ligada, como reação, ao Iluminismo francês, a o libera-
de resto, eram superadas pelas de um escritor anônimo e de lismo, etc., à atividade dos Estados modernos n o sentido de separar-se
uma notória 'Agência' clandestina, que as fornecia aos jornais d e várias da Igreja, isto é, à reforma intelectual e moral laica bem mais radical
tendências, como sabemos: e, embora se cobrisse com o manto de ca- (para as classes dirigentes) do que a Reforma protestante; atividade
tolicismo 'integrista', ela certamente não tinha nem a fé nem o interes- que se configura sobretudo depois d e 1848, ou seja, com o f i m
se das almas entre suas primeiras preocupações; muito menos podia da Restauração e d a Santa Aliança.
ou pode representar, com aqueles seus métodos d e critica, uma parte- O movimento em favor da imprensa católica do qual fala a Cjvjltd
lã .qiialquer dos verdadeiros eget~uínoscatólicos. Com o fervor daque- cattolica, ligado a o nome de Cesare d7Azeglio, é interessante também
le zelo crítico e com a sinceridade de tais invectivas, portanto, as pessoas por causa d a atitude de Manzoni a respeito: pode-se dizer que Manzoni
sábias náo tinham por que se ocupar; e muito menos havia algo com compreendeu o caráter reacionário da iniciativa de d'Azeglio e recusou-
que se edificar. E Papini fez muito bem em não lhes prestar atenção; e se elegantemente a colaborar, frustrando as expectativas de d ' h c g l i o
também seus amigos em não lhes dar importância" [46]. com o envio da famosa carta sobre o Romnntismo, a qual, escreve a
A resenha deve ser d o Padre Rosa, como se revela pela gramática Civiltà Cattolica, "dado o motivo que a provocou, pode ser conside-
um tanto ou quanto contorcida e por preciosidades como a d e uma rada como uma declaração de princípios. Evidentemente, a bandeira
"Agência" que é notória mas tumb5m clandestina. Papini, defendido literária não passava dc um véu para encobrir outras ideias, oiitros scn-
assim pelos jesuítas e atacado pelos integristas, e não sendo rnodernis- timentos que o s dividiam", o u seja, a diversa posi<;ãod e ambos em face
ta, deve ser indiscutivelrnente catalogado entre o s jesuitas. d o problema d a defesa da religiáo 1481.
O artigo d a Ciuiltà Cattolica é essencial para o estudo da prcpara-
$ 183. Açno CntOlica. Para a pre-história d a Ação Católica, c£., na ção d a Ação Católica.
Ci,viltli Cnttolicn de 2 d e agosto de 1930, o artigo "Cesare d7Azeglioe
gli albori della starnpa càttolica in Italia". Por "imprel-isa católica", $ 186. Ação Católica. Na Espanha. Cf. M. De Eiirgos y Mazo, El
entende-se "imprensa dos católicos militantes" entre o laicato, diversa problema social y la denzocrncia crisliaíuz. Em 1929, foi publicada a
da "imprensa" católica em sentido estrito, ou seja, expressão da or- Primeira Parte, Tomo V (?), com 790 p., em Barcelona, Ed. L. Gili.
ganização ec1esirristica. Deve ser uma obra ~nastodôntica.Este Tomo V da Primeira Parte custa
No Corriere d'itnlin de 8 de julho de 1926, foi publicada uma car- 18,70 pesetas.
ta de Filippo Crispolti, que deve ser muito interessante, n o sentido de 1
que Crispolti "observou que quem quisesse localizar o s primeiros im- 187. A ~ ã oCatólica. Estados Unidos. É interessante o noticiário
pulsos daquele movimento de onde surgiu, também na Itália, o agru- sobre o s Estados Unidos publicado na Civiltn Cnttolicn de 20 d e se-
pamento dos catóiicos militantes, isto é, a i~zovnçGoque em nosso campo tembro de 1930. O s católicos frequentemente recorrem a o exemplo
produziu todas as outras, deveria partir daquelas singulares sociedades das Estados Unidos para recordar sua solidez e seu fervor religioso em
piemontesas, denominadas 'Amizades', fundadas o u animadas pelo contraste com 0 s protestantes, divididos entre muitas seitas e continua-
DOS CADERNOS MISCELÀNEOS
CADERNOS DO CARCERE

Revela-se assim que o número dos católicos nos Estados Unidos é


mente desgastados pela tendência a cair n o indiferentismo o u na
só um número estatístico, de recenseamento, o u seja, é mais difícil que
irreligiosidade, do que resulta O grande número de cidadãos que, nos
uma pessoa d e origem católica declare não ter religião, em compara-
censos, declaram não ter religião. Mas, por esse noticiário, parece que
çáo com as d e origem protestante. Em suma, mais hipocrisia. Disto se
também entre 0s católicos o indiferentismo não é tão escasso. Citam-
se os dados numa série de artigos da "renomada" Emlesiastiçal ~ o d julgar
e a exatidáo e a sinceridade das estatísticas nos países d e
maioria católica.
Reviav de Filadélfia, publicados nos meses anteriores: um pároco afir-
ma que 44% de seus fiéis permaneceram, por muitíssimos anos, intei-
ramente desconhecidos, apesar d o s repetidos esforços feitos, por ele e
5 188. A ç ~ oCatólica. Sobre as origens d a Ação Católica, cf. o ar-
tigo "La fortuna de1 La Mennais e le prime manifestazioni d ' h i o n e
por seus assistentes eclesiásticos, para chegar a u m censo exato. Com
Cattolica in Italia" (Civiltà Cattolicn d e 4 de outubro de 1930: é a
toda a sinceridade, ele admite q u e cerca de metade do rebanho perma-
~rirneiraparte d o artigo; a continuação aparece muito mais tarde, como
neceu inteiramente alheio a seus cuidados, não tendo outro contato
além daquele proporcionado por uma frequência irregular à missa e se observará), o qual remete a o artigo anterior sobre Cesare d'Azeglio,
etc. [49] A CiviZt2 Cc~ttoZi~o fala 'daquele amplo movimento de ação e
aos sacramentos. São fatos, n o dizer dos próprios párocos, que têm lugar
em quase todas as paróquias dos Estados Unidos. de idéias que se manifestou, tanto na Itália como nos outros países
O s católicos mantêm, a suas expensas, 7.664 escolas paroquiais, catóiicos da Europa, durante o período situado entre a primeira e a
freqüentadas por 2.201.942 alunos, sob a direção d e religiosos d e segunda revolução (1821-183 I), quando foram semeados alguns da-
ambos o s sexos. Restam o u t r o s 2.750.000 alunos (isto é, mais de queles germes (n50 diremos se eram bons ou maus) que dariam seus
50%) que, "ou por desidia dos pais o u p o r residirem em locais dis- frutos mais tarde, em tempos mais maduros". Isto significa q u e o pri-
tantes, são obrigados a frequentar as escolas do govert-io, arrel igio- meiro movimento d e Ação Católica surgiu por ter sido i ~ n ~ o s s i vque
el
sas, onde jamais sc ouve uma palavra sobre Deus, sobre o s deveres a Restauraçáo fosse realmente tal, ou seja, por ter sido impossível re-
em face do Criador nem sequer sobre a existência de uma alma por as coisas nos quadros d o Ancief~Régime. Tanto o legitimismo quanto
imortal*. o catolicismo se tornaram, depois d e ocuparem posições globais e to-
Um elemento de indiferentismo é dado pelos casamentos mistos: talitárias n o campo da cultura e da política, partidos em oposiçáo a
"20% das famílias legitimamente unidas em matrimônio misro não vão outros partidos e, mais que isso, partidos em p o s i ~ á odefensiva e con-
à missa, se o pai não professar a fé católica; mas, quando a mãe não é servadora, obrigados assim a fazer muiras concess6es aos adversrírios
católica, a estatística registra 40%. Além d o mais, estes genitores ne- para melhor se defenderem. D e resto, é este o significado dc toda a
gligenciam totalmente a educação cristã d a prole." Tentou-se restringir Restauração como fenômeno global europeu e nisto consiste seu cará-
estes casarne~-itosmistos e até proibi-los; mas as condições "pioraram", ter fundamentalmente "liberal". O artigo da Civillc? Cattolicn coloca
já que, nestes casos, os "recalcitrantes" abandonaram a Igreja (junto um problema essencial: se Lamennais está na origem d a Ação Católi-
com a prole), contraindo uniões "iIegítimas"; tais casos são de 61% se ca, será q u e esta origem não contém o germe d o posterior catolicismo
o pai é "herege", e d e 94% se a "herege" for a mãe. Por isso, houve liberal, o germe que, desenvolvendo-se em seguida, dará lugar a o
uma liberalização: negando-se a autorizaçáo de casamento misto a Lamennais d e novo tipo? Deve-se notar que todas as inovações n o seio
mulheres católicas, tem-se uma perda d e 58%; se a autorizaçáo for d a Igreja, quando não são devidas à iniciativa d o centro, têm em si algo
concedida, a perda é s ó de 16%. de herético e terminam por assumir explicitamente este caráter, até que
CADERNOS DO CARCERE

energicamente, desbaratando as forças inovadoras, tificaçã~de Turmel e seus pseudônimos tein também algo de romanes-
o centro
reabsorvendo 0 s vacilantes e excluindo OS refratários. É significarivo co: indubitavelmente, o centro jesuíta estendera em torno dele uma vaq.
q u e a Igreja jamais tenha desenvolvido amplamente O sentido da ta rede, que foi progressivamente se e s t r e i t a ~ ~ até
d o aprision&-lo. pare,,
--v

autocrítica como função central, apesar d e sua tão elogiada adesão às que ~ u r m e tinha
l protetores nas Congregações romanas, o que demons-
grandes massas de fiéis. Por isso, as inovações sempre foram impostas tra que o s modernistas não foram todos identificados, apesar do jura-
e náo propostas, e acolhidas somente obtorto collo. O desenvolvimen- mento, mas ainda continuam a atuar secretamente. Turmel escreveu livros
e artigos com quinze pseudônimos: Louis Colange, H e ~ i r iDelafosse,
t o histórico d a Igreja ocorreu por fracionamento (as diversas compa-
nhias são, na realidade, frações absorvidas e disciplinadas ~rrnand Dulac, Antoine Dupin, Hippolyte Gallerand, Guillaume I-Jerzog,
como "ordens religiosas"). O u t r o fato d a Restauração: o s governos h d r é Lagard, Robert Lawson, Denys Lenain, Paul Letourneur, GoulveIl
fazem concessóes às correntes liberais à custa d a Igreja e d e seus privi- Lézurec, AIphonse Michel, Edmond Perrin, Alexis Vanbeck, Siouville.
légios, e este é um elemento q u e cria a necessidade de um partido da Era frequente que Turmel, com um determinado pseudônimo, refutasse
Igreja, ou seja, a Aç2o Cardica. ou elogiasse artigos e livros escritos com outro pseudônimo, etc. Cola-
O estudo das origens d a Ação Católica leva assim a um estudo do borava na Revue d'histaire des religions e na coleção Christiai~isri~e,
lamennaisismo e de sua diferente fortuna e difusão. dirigida por Couchaud para O editor Ricder.
Deve-se também levar em conta outro artigo publicado n a Civilch
$ 193. Açao Cntólicn. Espalrha. Cf. N. Noguer S. J., La acción CattoIica de 20 d e dezembro de 1930: "Lo spirito dell'Acti~rzFr~z~~;~~i~~
çntdlic;a e,z ks teoria y en Ia prríctica en E.yar7n y en e1 extranjeru, Ma- a proposito di 'inteIljgenza' e di cmistica"', onde se fala do livro deJean
dri, "Razón y Fe", in-l6O, 240-272 p., 8 peseras. Héritier, InteEIigerzce et Mystique (Paris, Librairie de Frailce, 1930, in-
fio,23 0 P.), n a coleção Les Cahiers d ' o c c i d ~ n que
~ , se propõe difundir
$ 195. Católicos integfistas, jesuíras, modernistas. O caso Turnrel' os princípios d a defesn do Ocidente segundo o espírito d o conhecido
Cf. o artigo "La catastrofe de1 caso Turmel e i metodi de1 modernismo livro de Henri Massis. Para os jesuítas, Massis e suas teorias sáo suspci-
critico", na Civiltc? Cnttoli~ride 6 de dezembro de 1930. O escrito é muito tos; de resto, é bem conhecido o contato entre Massis e Maurras. O
importante e o caso Turmel 6 de sumo interesse para a questão. Este movimento d e Massis deve ser incluído entre o s do "catolicismo
Tiirmel, mesmo continuando a ser padre, cscreveii, durante mais d e vin- integrista" o u d o reacionarismo católico. (Também o movimenro da
te anos, sob os mais diversos pseudônimos, artigos e livros de caráter Action Friinçnise deve ser incluído entre os movimentos apoiados pelo
heterodoxo, até chegar abertamente a o ateismo [50]. Em 1930, os jesu- integrismo.) Na França, o nascimento d o integrismo deve ser vi ncillado
ítas conseguiram desrnascará-10 e excomungá-lo como execr ável : o de- ao movimenro d o Rnlliernent defendido por Leão XIII: si50 integrisras
creto d o Santo Ofício contém a lista d e suas publicações e d e seus os que desobedecem a Leão XIII e sabotam sua iniciativa. A luta de Pio
pseudônimos. Sua atividade tem algo de romanesco. Resulta assim que, X contra o "combismo" parece dar-lhes razão: e Pio X é seu papa, as-
depois d a crise modernista, constituíram-se na organizaçgo eclesiástica sim como é o papa de Maurras [SI]. Em apêndice a o livro de Héritier,
formações secretas: além daquela dos jesuítas (que, de resto, não são são publicados artigos d e outros escritores que tratam d o ~nllieme/zt e
holnogêneos e coesos, mas tiveram uma ala modernista - Tyrrell era defendem, até mesmo n o terreno da história religiosa, a tese de Maiirras
jesuíta- e uma integrista- o Cardeal Billot era integrista), existiam e sobre o anarquismo dissolutor do cristianismo judaico e sobre a ro-
existem ainda uma formação secreta integrista e uma modernista. A iden- manizaçáo do cristianismo.
DOS CADERNOS MISCELÃNEOS

1 96. politica do Vaticano. Malta. Cf., na Civiltà Cattolica d e 20 5 73. A Ç ~ ío~itblica-


O Além d o Annrdnrio pontificio, que tem carg-
ter oficial, e de outras publicações de Almanaques, etc., cf. a priblica-
de dezembro de 1930, "Na]decimo anno della diarchia maltese". A
Civilth C a ~ o l i c achama de diarquia ou duplo governo a situação poli- @o Annnli M ' l r n l i n Cattolicn, que, em 1930, foi editada por "Pro
tica criada em Malta em 1921, com a concessão de uma Constituição ~amilia",Milão (in-l6.O, 416 p., 8 liras).
pela qual, mesmo a soberania com a Inglaterra, o go-
verno era confiado aos cidadãos. Interpretação evidentemente tenden- $74. Passado e presente. OS industriais e as missões cató/icns. Sabe-
ciosa, mas útil a o s católicos para propor suas agitações contra a se que OS industriais italianos formaram um organismo para ajudar
Inglaterra protestante e impedir que os cat6licos percam a supremacia diretamente e d e modo orgânico as missões católicas em sua obra de
em Malta. ~ e n e t r a ç á ocultural e econômica nos países atrasados. Publica-se um
boletim especial para essa atividade, Bollettino ufficinie dèl Con7itato
5 202. A Concordata. Quando começaram as negociações para a nrizionnle ind~dstrialie commercinnti per [e Missione Cnttoliche, Roma,
Concordata? O discurso de 1 . O de janeiro de 1926 referia-se à Con- in-8.O. Contribuirão industriais e comerciantes, até mesmo judeus e
cordata [52]? As negociaçóes devem ter tido várias fases, de caráter descrentes, naturalmente, bem como a Fiat, que, nos anos d o pós-guer-
mais o u menos oficioso, antes de entrar na fase oficial, diplomática: ra, ajudava a YMCA e os metodistas em Turim [S4].
por isso, o início das negociações pode ser situado em qualquer rno-
mcnto, sendo natural a tendência a aproximá-lo n o tempo para fazer 78. Ação Católica. Sobre as medidas adotadas em 1931contra a
parecer que seu decurso foi mais rápido. N a Civiltd Cattolica d e 19 de Aç50 Católica italiana, é interessante o artigo "Una gravc questione di
dezembro de 193 1,na p. 548 (nota bibliográfica sobre o livro de Wilfred educazione cristiana. A proposito de1 Primo Congresso Iritrrnazionale
Parsons, The Pope and Italy, Washington, T h e America Presç, 1929, in- dell'Jnsegnamento medio libero di Bruxclles (28-31 luglio 1930)",
lGO,134 p.: Parsons é diretor da revista America), afirma-se: "no final, publicado na Civiltci Cat~oliçade 20 de setembro de 1930.
rememora fielmente a história das negociações, que se prolongaram O Código Social de Malines, como se sabe, n.50 cxclrii a possi bilida-
de 1926 a 1929". de de insurreição armada por parte dos católicos: restringe, natiiralmente,
os casos ern que isso é possivel, mas deixa num terreno vago e incerto as
condições positivas para essa possibilidade, as quais, porém, supõe-se
que se refiram a certos casos extremos d e supressáo e limitação dos pri-
CADERNO 7 (1 930-1931) vilégios ecIesi5sticos e d o Vaticano. Neste arrigo da Civilt2 Ccrt~olicn,
precisamente na primeira página e sem nenhuma outra observaçáo, é
69. Católica. Para o significado real e de política imediata e reproduzido um trecho d o livro de Ch. Terlinden, G r d i l l a ~ ~I,i ~roi
e des
rnediata da encíclica Quadragesimo anno, de Pio 2U (comemorativa do Pdys Bns, et l'Église catholique en Belgiqtre (1 814-1830), Bruxelas, Dewi t,
40.O aniversário d a encíclica Rerum Novarum), n o q u e se refere às re- 1906, tomo 2, p. 545:"Se Guilherme I não tivesse violado as liberdades
l a ~ õ e entre
s catolicismo e social-democracia, deve-se levar em conta a e os direitos dos catóIicos, estes, fiéis a uma religião que determina o
atitude d o cardeal inglêsBourne e seu discurso em Edimburgo (na pri- respeito 2 autoridade, jamais teriam pensado em sublevar-se nem em unir-
rneira quinzena de junho de 1931) sobre o Partido Trabalhista. Cf. 0s se com os liberais, seus irreconciliáveis inimigos. Nem os liberais, que
jornais católicos ingleses d a época 1-31. então eram poucos e tinham uma pequena influência sobre o povo, te-
DOS CADERNOS M I S C E L Á N E O S

O s jesuítas vêem hoje na santificação e n o "doutoradoy7 uma dcs-


riiim l>odido sozinli~slibertar-se d o jugo estrangeiro. Sem o concurso
dos a revolii~Sobelga teria sido um levante estéril, sem êxito." forra (embora o último ato papal coincida c o ~ na supressão dos jesuí-
A citaçQo toda 6 impressionaiite, em cada uma de suas três pequenas fia- tas na Espanha), mas são cautelosos: "Decerto, ninguém pretelide
, , .,im como é interessaiire todo O pequeno artigo, n o qual a Bélgica exagerar este acontecimento além da conta, OU ampliar deniasiadanlente
represelita uma referência polêmica de atualidade. sua importância, seu significado, suaoportunidade ou 'atualidiide', com
relaçeo à hora presente, e muito menos com relação à insólita teinpes:
5 g 8. CLltó]içosii~tegistns,jes~ítns,modnnistns. Roberto Bellarmino. tade q u e devia ser não s ó imprevista, mas imprevisível, quando foi
pio XI, em 13 de maio d e 1923, concedeu a Bellarmino O titulo de Be- deliberado e depois discutido, etc-, o decreto sobre a contes-
ato; lnais tarde (no 50° aniversário de seu sacerdócio e, portanto, numa sso d o titulo de Doutor."
data especialmente significativa), inscreveu-o n o elenco dos Santos, jun-
tamente com os jesuítas missionários mortos na América d o Norte; em g 94. Ea6nlhisvzo inglês. O Arcebispo de Canter6r<ry,P,+>iinzd([
setembro de 1931, finalmente, declarou-o Doutor d a Igreja Universal. IgrejnAnglicamz, e o trnbalhismo. Durante as eleições inglesas de 1931,
Estas concedidas à máxima autoridade dos jesuítas o candidato trabalhista W T. Collyer afirmou numa reuniáo qiie o
depois de Inlicio de Loyola permitem dizer que Pio XI, que foi chamado Arcebispo d e Canterbury era um dos contribuintes para o fundo d o
de pipa das Missões e papa d a Aç3o Carólica, deve ser cliamado sobre- Lnbour Pnrty. Perguntou-se a o Arcebispo se a afirmação era exata e s e ~ í
tudo de papa dos jesuítas (de resto, as Missões e a Açáo Católica são as secretário respondeu: "O Arcebispo me encarrega de dizer que ele foi
duas n~eninasdos olhos da Compaiil-iia dc Jesus). Deve-se observar que, meinùro contribuiiitc d o Lnbor~rPnrty de 1919 até 1925 o u 1926,.
na carta apostólica (traduzida) que declara Bellarmino Doutor (cf. Ciuiltd ¶uando julgou que um crescente mal-estar com o movimento e com o
Crrttolica de 7 de novembro de 193 I), falando-se da Companhia em geral, espirito e o ânimo d o partido tornava impossível a continuidade de uma
Bellarmiilo é chamado de "verdadeiro companheiro d e Jesus": por que tal filiaçáo (menzbership)." (Cf. o Mnnc!~esterGunrdian Weekly de 3 0
"conipanheiro" e nso "soldado", como se deveria dizer mais precisa- de outubro d e 193 1, p. 357.)
mente? O nome "Comparil-iiãy' é apenas a traduçgo de Socie~nsou tem
um significado militar? A palavra Iatina Societ~zsnão pode ter sígnifica- S 98. Asão C c ~ ~ ó l i cCf.,
n . num outro caderno, o comentário de dois
do militar (pelo menos me parece), mas qual foi a intenção d e Ingcio de estudos publicados na Civiltci Cnttolica de agosto de 1930 sobre "Cesare
Loyota? (Recordar a ligaçáo de Bellarmino com o processo contra d ' h e g l i o e gli albori della stampa cattolica in Italia" e "La fortlina de1
Galileu.) N o comentário da Civiltd Cnttolicn 2 Carta apostólica, menci- ba Mennais e le prime manifestazioni di Azione Cattolica in Italii17' [ 5 5 ] .
ona-se o fato de que o "processo" (de beatificação e d e santifi cação) de Estes estudos se referem particularmente ao florescimento de periódi-
Bellarmino foi paralisado pelas "manobras e pelas ameaças (!) dos polí- cos católicos em várias cidades italianas durante a Restauração, que
ticos irrefletidos e adversários d o pontificado, uns amigos d o absolutismo visavam a combater as idéias d a Enciclopédia e da Revolução Francesa
real ('os integristas'), outros da subversão demagógica ('os modernistas')." que ainda perduravam, etc. Nesse movimento intelectual-político, si-
A Civiltn Cnttojicn refere-se a fatos d o século XmT, mas fala depois de tua-se o início d o neoguelfismo italiano, que não pode, portanto, ser
'C
seus infelizes sucessores e imitadores hodiernos". (Parece que a beatifi- separado da Sociedade dos Sanfedistas @ars nzngrza destas revistas foi
c a @ de~ Bellarmino, n o século XVIII, foi um dos elementos da luta que o Príncipe de Canossa, que residia em Módena, onde era publicada
levou 2 supressão da Companhia por imposição dos Bourbons.) uma das mais importantes revistas d o grupo) [56].Havia n o catolicis-
DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

CADERNO 8 (1931-1932)
m o italiano duastend2ncias principais: 1) a nitidamente pró-Áustria,
que via a salvaçáo do Papado e da religiáo n o gendarme imperial que
o statfrsp o polirico italiano; 2) a sanfedista e m sentido estri- 5 8. Ação Católica. Publicações periódicas católicas. (Cifrai exrraidas
to, que afirmava a supremacia político-religiosa d o Papa antes d e mais dos Amoli deliy1talia Cnttolica d e 1926 e que se referem à
nada na Itália e que, por isso, era adversária dissimulada d a hegemonia existente até setembro de 1925.) OS católicos publicavam 6 2 7 perió-
na Itália e favorável a um certo movimento d e independên- dico% assim classificados pelos Annali: 1) 18 dihrios, dos quais 13 na
cia *aciona! (se for falar de nacional neste caso). É a esse mo- Itália Setentrional, 3 na Central, 1 em Nápoles e 1 na Sardenlla; 2)
vimento que se refere a Civilta Cnnoiica quando polerniza com os 1 2 1 periódicos de formaçiio e propaganda católica, dos quais 83 no
liberais do Risorgimento e defende O "patriotismo (e unitarismo)" dos Norte, 22 n o Centro, 12 n o Sul, 1 na Sardenha, 4 na Sicília; 3) 17
católicos da época: mas qual foi a atitude dos jesuitas? Parece q u e eles boletins oficiais daAg20 iíoatólica (Junta Central e Organizações Nacio-
forãm mais pró-austríacos d o q u e sanfedistas "independentistas". nais), dos quais 1 e m Bolonha, 5 em Milão, 11em Roma; 4) 71 pidbli-
pode-se dizer, por isso, q u e este período preparatório d a Ação cnções da A ~ 2 oCatólica nas dioceses, das quais 46 n o Norte, 15 no
Católica teve sua mhxima expressão n o neoguelfisrno, isto é, num Centro, 5 n o Sul, 1na Sardenha e 3 na Sicília; 5 ) 42 periódicos oficiais
movimento de retorno totalitário à posição política d a Igreja n a Idade de obras e orgc~niznçõesdiversas, dos quais 26 n o Norte, 15 n o Centro
Média, ã supremacia papal, etc. A catástrofe d o neogueifisrno em 1848 (todos em Roma), 1 no Sul; 6) 1 3 4 boletins diocesnrios, dos quais 44
reduz a Aç" Católica 2 função q u e será doravante sua n o mundo no Norte, 33 n o Centro, 43 n o Sul, 2 na Sardenha, 9 na Sicília; 7) 177
moderno: funç5o essencialmente defensiva, apesar d a s profecias periódicos religiososy dos quais 89 n o Norte, 53 no Centro, 25 no Sul,
apocalípticas dos católicos sobre a cathstrofe d o liberalismo e o retor- 3 na Sardenha, 6 na Sicília; 8) 4 1 periódicos de c u l ~ ~ (arte,
~ r n ciêricias e
n o triunfal d o domínio da Igreja por sobre as ruínas do Estado liberal letras), dos quais 17 no Norte, 16 n o Centro, 5 n o Sul, 3 na Sicília; 9)
e de seu antagonista histórico, o socialismo (portanto, abstencionismo 16 periódicos juvenis, dos quais 10 n o Norte, 2 no Centro, 2 n o Sul, 2
clerical e criação do exército de reserva católico). na Sicilia.
Neste p e r i o d ~da Restauração, o catolicismo militante se cornpor- Das 627 publicações, 328 saem n o Norte, 161 no Centro, 94 no
ta de modo diverso segundo os Estados: a posiçáo mais interessante é Sul, 8 na Sardenha e 27 na Sicília. São essas as cifras estatísticas, mas,
a dos sanfedistas piemonteses (De Maistre, etc.), q u e defendem a levando-se em conta a importância de cada publicação, o peso d o Norte
hegemonia do Piemonte e a função italiana da monarquia e d a dinastia aumenta e muito. Para 1925, devem-se calcular cerca de 280 dioceses
dos SavBia. e 220 juntas diocesanas da Ação Católica. Seria preciso fazer uma com-
paraçáo com o período 1919-1920 e com o periodo posterior à
$ 107. Católicos integristas, jesidítns, nzorlernistns. Em outra nota, ci ta- Concordata. A composiçáo dos ~ e r i ó d i c o sdeve ter mud, d O muito:
se o periódico Fede e Rngione como sendo de caráter "integrista" (a Civiltri diários e periódicos d e formação e propaganda em número muito
Cflttolica cita-o precisamente numasuã polêmica com os integrisras) [57]. menor, já que mais estreitamente ligados à sorte do Partido Popular e
Fede e Ragio~zeé um semanário católico publicado em Fíésole, há cerca de ri atividade ~ o l i t i c aRecordar
. episódios como o da proibição, em algu-
1 4 anos. É dirigido pelo sacerdote Paolo De Toth (pelo menos era dirigido mas províncias, de que semanários publicassem anúncios e horários de
por De Toth em 1925) e, em 1925, sua assinatura custava 15 liras, o que bondes e trens, etc.
significa que deve se tratar de uma semi-revista.
DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

g 14. Temas de cultura. I) Sobre o pregador católico. A Contra- 5 15. T ~ S ~ ~ T Tcatólicos.


Z U F Z "Corrompe-se
~OS e subverte-se lentamen-
Reforma elaborou u m t i p o d e pregador que 6 descrito n o De fie- te a unidade religiosa da @fria; ensina-se a rebelião contra a Igreja,
como simples sociedade humana, que se arrogaria di.
dicntore VerbiDei, Paris, 15 8S . Alguns cânones: 1°) a pregação deve
ser adequada a o portanto, deve ser diferente para u m pG- reitos q u e nZo tem, e, de modo indireto, golpeia-se também a socieda-
blico de camponeses o u d e citadinos, para nobres o u plebeus, etc.; de civil, reparando-se os homens para a intolerância com qualquer
jugo. Pois, abalado o jugo de Deus e da Igreja, que outro existirá que
20)o pregador n ã o deve entregar-se à eloqüência exterior, ao ex-
cessivo formal, etc.; 3 9 não deve entrar e m questões possa deter o homem e obrigá-lo a o duro dever d a vida cotidiana?":
muito sutis e não deve fazer ostentação de doutrina; 4 O ) n ã o deve CjviZtA Cattolicn, 2 de janeiro d e 1932, último trecho d o artigo "11
Regno di Dio secondo alcuni filosofi moderni". Expressões deste tipo
se referir a o s argumentos d o s heréticos diante d a m u l t i d ã o de-
tornaram-se cada vez mais frequentes na Civiltà Cattolica (ao lado das
sinformada, etc. O tipo de pregador elaborado pela Contra-Refor-
expressões q u e propõem a filosofia d e Santo Tomás como "filosofia
ma pode ser encontrado modernamente n o jornalista católico, já que
nacional" italiana, como "produto nacional" que deve ser preferido aos
0 s jornalistas, n a realidade, são uma variedade cultural d o prega-
estrangeiros); e isto é pelo menos estranho, já q u e constitui a
dor e do orador. O p o n t o 4* é particularmente interessante e serve
teorizaçáo explícita da religião como instrumento de ação política.
para compreender p o r que, na maioria d o s casos, a s polêmicas com
jornais católicos t ê m resultados estéreis: eles não só n ã o apresen-
$ 63. Açiio Católicn. Sobre os literatos católicos, cf. I1 Ragg~~aglio
tam os "argumentos d o s heréticos", mas também, ao combatê-los
crdlturale e lerteraria dei cattolici in Itnlia. 1932, Florença,
<lell'n~ività
indiretamente, os distorcern e desfiguram, já q u e n ã o querem q u e
Ed. "Ragguaglio", 1932,490 p., 1 0 liras. Sai desde 1930. (Prefhcio de
os leitores desinformados consigam reconstruí-10s a partir d a pr6-
G. Papini.)
pria polêmica. E frequente até que a "heresia" n ã o seja objetada,
pois se coi-isidera u m mal menor deixá-la circular num d a d o ambien- 5 95. Cat61icos integrlstrrs -jesztítas -modernistas. Nas memó-
te, em vez d e combatê-la e, desse modo, torná-la conhecida em
rias de Alfrcd Loisy, podem ser encontrados elementos para esta riibri-
ambienres ainda n ã o contaminados.
ca: AI fred Loisy, Mémoires pour seruir d l'histoire ecclésias~iquede notre
11) Apóstatas e seus sistemas desleais de polêmica. Os católicos temps, publicado em 1930 ou 1931(cerca d e 2.000 p., in-8O) [58].
frequentemente s e lamentam, e com razão, de q u e o s apóstatas d o
catolicismo se servem d o s argumentos d o s heréticos ocultando as $ 97. Passado epresenle. Uma reflexão que se lê frequentemente é
refutações q u e tais argumentos sofreram, apresentando-os assim aos a de q u e o cristianismo se difundiu n o mundo sem necessidade d a aju-
desinformados c o m o novidades originais n ã o refutadas. N o s se- da das armas. N ã o me parece justo. Pode-se dizer isso até o momento
minsrios, esses argumentos são expostos, analisados, refutados nos em q u e o cristianismo se t o r n o u religião d e Estado (ou seja, até
cursos de apologética: o padre q u e abandonou a batina, com enor- Constantino); mas, a partir d o momento em que se tornou o modo
me deslealdade intelectual, reapresenta a o público esses argumen- exterior d e pensar de um grupo dominante, sua fortuna e sua difusão
tos como se fossem u m a sua criação original, como irrefutados e não se podem distinguir d a história geral e, portanto, das guerras; toda
irrefutáveis, etc. guerra foi também, sempre, guerra de religião.
DOS CADERNOS MISCELÂNEOS
CADERNOS DO C A R C E R E

5 11 1. Rc?ljgiao. A contradiçèo criada pelos intelectuais q u e náo


5 1.55.Passado e presente. Apólogo~.Observações sobre a religino.
A opiniáo corrente é a seguinte: não se deve destruir a religião se não
crêem, que chegaram a o ateísmo e a "viver sem religião" através da
se tem algo com que substituí-Ia na alma dos homens [60].Mas como
ciência ou d a filosofia, mas q u e afirmam ser a religião necessária para
a organizaçáo social: a ciência seria contra avida, haveria contradição
se faz para saber quando uma substituição ocorreu e o velho pode ser
entre ciência e vida. Mas como pode O POVO amar estes intelectuais, destruído?
considerá-loç elementos d a própria personaIidade nacional? O u t r o modo d e pensar ligado a o primeiro: a religiãó é necessária
A situaçzo se reproduz em Croce, embora de modo menos escanda- para o povo, o u melhor, como se diz nesses casos, para o "vulgon.
loso do que ocorre com alguns intelectuais franceses (nisso, Taine é clás- Naturalmente, cada u m acredita que não é mais "vulgo", mas que vul-
sico e criou os Maurras d o nacionalismo integral). Parece-me q u e Croce g o são todos o s seus próximos; e, por isso, diz q u e também para ele
se refira com desprezo, em algum lugar, a o Disciple d e Bourget; mas é necessário fingir que é religioso, a fim d e não perturbar o espírito
não será exatamente este O assunto tratado por Bourget, embora com dos outros e lançá-los n a dúvida. Ocorre, assim, que são muitos os
aquele "dedutivismo" racionalista que é próprio da cultura francesa [59]? que n ã o mais crêem, cada qual convencido d e que é superior aos
Posiçáo de Kant, entre a Crítica da razzo pz.tra e a Crítica da rnziío outros porque não tem necessidade d e superstições para ser honesto,
prhtica, no que se refere a Deus e à religião. mas convencido também d e q u e deve mostrar que "crê" por respeito
aos outros.
$129. Açzo Católica. A debilidade de toda organização nacional da
Açtelo Cazólica consiste n o fato d e que sua riçáo é limitada e continua-
mente perturbada pelas necessidades de política internacional e interna
da Santa S é em cada Estado. A medida q u e cada Açáo Católica nacional CADERNO 9 (I 932)
se amplia e se transforma em organismo de massa, tende a se tornar um

'2
r
verdadeiro partido, cujas diretrizes são impostas pelas necessidades in-
ternas da organizaçáo; mas este processo jamais pode se tornar orgâni-
co, precisamente por causa d a intervençso da Santa Sé. Talvez se deva
$29. Ação Cntblicrl. França. N o s volumes que reúnem as atas das vá-
rias sessões das Sernanas Sociais, publica-se o índice alfabgrico e analí-
tico das matérias tratadas em todas as Semanas Sociais precedentes. A
buscar neste fato a razão pela ¶ual a Açáo Católica jamais foi bem aceita XXIII sessão, de 1931, realizada em Mulhouse, tratou de La M o r d e
)
> n a Alemanha: o Centro já evoluíra de tal modo como força político-
parlamentar, empenhada nas lutas inrernas alemãs, que qualquer forma-
Chrétienne e t les Affaires (Lyon, J. Gabalda, 1931, in-SO, 610 p., 3 0
francos). Este volume não contém os índices mencionados, que são
) ampla da Ação Católica, controlada rigorosamente pelo episcopado, publicados à parte.
comprometeria o poder efetivo e as possibilidades de desenvolvimento
desse partido. Deve-se recordar o conflito ocorrido entre o Centro e o
) $30. Católicos integristas, jesuítns, modernistas. Em 6 d e abril de
Vâticano, quando o Vaticano quis que o Centro aprovasse as leis milita-
? res de Bisrnarck, ês quais o Centro se opusera vigorosamente. 1932, foi inscrita no índice a obra de Felix Sartiaux, Joseph Turmel,
> Desenvolvimento semelhante na Áustria, onde o clericalismo sem-
pre foi forte politicamente como art tido e não ilecessitava d e uma ampla
prêtre, historien des dogmes, Paris, Ed. Rieder. Trata-se de uma defesa
de Turmel, depois dos últimos mirabolantes episódios ocorridos com
'i organizaqão permanente como a d a Ação Católica, mas s ó de rebanhos esse excepcional exemplar d o mundo clerical francês.
1) eleitorais inorglnicos, sob o tradicional controle dos párocos.
1
DOS CADERNOS MISCELÀNEOS

CADERNO 14 ( 1 932-1 935)


5 3 1. ~ , - ã oCatólica. Luta em torno da filosofia neo-escolústica.
Polêmicas recentes de católicos como Gorgerino e Siro Contri (são 5 20. Católicos integristns, jesuítas, nzoder?zistns. A primeira encíc]i
a mesma contra O Padre Gemelli 1611. GemetIi escreveu, papal contra as manifestações políticas e filosóficas da época rnoder-
em 1932, 11mio c o n t r i b u t ~alku filosofia neoscolnstica, Miláo, Vita na (liberalismo, etc.) teria sido d e 1832, a Mirari Vos de Gregório
e pensiero, in-go, 106 p., 5 liras. Siro Contri escreve q u e a fi 10sofia XVI, à qual se teria seguido a encíclica Q,rn?ztn o < r n de Pio IX, de 8
da universidade Católica deve ser doravante chamada d e "arqueo- d e setembro d e 1864, acompanhada d o Sillnbo; a terceira seria a
escolásticr-iM,pois parece que - depois das tentativas de conciliar o encíclica Pnscendi de Pio X, contra o modernismo. Estas sáo as três
tomismo; primeiro com O positivismo, depois com o idealismo, a encíclicas -orgâiiicas" contra o pensamento moderlio, mas na0 me
f i m de pôr o pensamento católico em sintonia com a s exigências da parece q u e sejam o s únicos documentos d o gênero. Para o período
vida moderna - Gemelli (ajudado pelos jesuítas, q u e o defende- anterior a 1864, pode-se encontrar n o Sillabo o elei~codas ourraç
ram na Ciuiltiz CnttoEica contra OS ataques d e Gorgerino) quer encíclicas e d o s diversos documentos papais contra o pensamento
r-tornar a o "tomismo" p u r o das origens. Deve-se ver se esta "con- moderno. Para o período d e 1864 a 1907 (8 de setembro, como n o
v e r s á ~ "d e GemelIi 1150 está ligada à Concordata e à excepcional caso d o Sillabo), não me lembro se existem referências na encíclica
posiçso d e monopólio q u e o s cat6licos, dadas suas possibilidades Pasundi, a qual, de resto, tem um caráter particular, nSo tanto por-
de das forças intelectuais, podem conquistar n o miin- q u e combate o pensamento moderno como tal, mas pelo fato de ter
do da alta cuitura oficial e educacional italiana. Para isto, é certa- co~lseguidopenetrar na organizaçáo eclesiástica e na atividade cien-
*>ente necessario romper todos os laços e renunciar a todas as formas t i f i m propriamente católica. Mas, na literatura polêmica, não ser4
de combinaç20 corn filosofias acarólicas ( a o contrririo do q u e antes difícil encontrar as indicaçóes bibliográficas (na Ciuiltri Ca~tolicn,
e r a preciso fazer) e apresentar-se como filosofia intransigente e podem-se encontrar as manifestações posteriores a 1908, q u e sáo
exclusivista. Das publicações d e Contri deduz-se q u e Gemelli, n o ainda mais interessantes na medida em q u e se referem a atividades
fundo, náo tem o menor interesse por nenhuma filosofia: para ele, estatais). D e qualquer modo, estas três encíclicas de 1832, 1864 e 1907
a filosofia é uma "mentira". Seus interesses sáo puramente práti- são as mais orgânicas e compreensivas teoricamente; é a elas quc se
cos, d c conquista do mercado cultural por parte d o catolicismo; e deve recorrer para fixar as lutas internas entre integristas, jesuítas e
sua atividade tem como objetivo assegurar a o Vaticano aquele po- modernistas.
der irrdtreto sobre a sociedade e sobre o Estado q u e é o objetivo Além dessas, não se podem ignorar as outras encíclicas "cons~ruti-
estratégico esseticiaf d o s jesuítas e q u e foi teorizado por Roberto vas", das quais são típicas a Rertlm Novarum e a Qunc(rngesirno ~ 7 7 ~ 1 ~ 0 ,
BeIlàrmino, seu arual santo. q u e complementam as grandes enciclicas teóricas contra o pensarrien-
(Contri iniciou, ou está para iniciar, a publicação de uma nova re- t o moderno e buscam resolver a seu modo alguns dos problemas liga-
vistq Criterion, d e "verdadeira" neo-escolástica, e publicou uma Piccola dos e correlatos a tal pensamento. (Não se deve esquecer que algiimas
E~lciclopedinfilosoficn, Ed. GaIleri, Bolonha, 12 liras.) pesquisas para esta rubrica estão ligadas àquelas para a rubrica sobre a
"História d a Ação Católica"; ou seja, os dois estudos são inseparaveis,
em certo sentido, e assim devem ser elaborados [62].)
DOS CADERNOS M I S C E L Â N E D S
CADERNOS DO CÁRCERE

o que náo impediu que OS católicos integristas apoiassem um


g 52. católicos int@stos, jesuitas, modernistas. N a Cultura de
ateu declarado como Maurras e que, para Maurras, a qiiestão n á o pu-
outubro-dezembr~de 1932 (p. 846 e S.), Luigi Salvatorelli escreve desse deixar de ser tão-somente política e social. Para os jesuítas, Tilrme]
sobre ~~~~~hTurme],resenhando estes dois livros: 1) Félix Sartiaux, era e é um modernista n o sentido "científico" (embora Turmel seja
joseph Zdrnzel,prêtre historien des dogmes, Paris, Rieder, 1931, 295 ateu, ou seja, alguém que se situa 110plano da consciência
p.; 2 ) J. T ~ ~Hisfoire ~ ~ des] dogmes.
, I. Le péché originel - La completamente fora d o campo religioso, ainda que continue a ser
rédemptjon, Paris, Rieder, 1931. O livro d e Sartiaux é indispensável dre" por motivos subalternos, o que parece ser um caso bastante CO-
para a avaljaçá~d o caso Turmel. Segundo Salvatorelli, Turmel jamais
mum entre o clero, como se depreende d o livro de Sartiaux ou das
teria sido um modernista, na medida em que nunca "concebeu a idéia
Memórias d e Loisy). O que importa observar aqui é que modernismo,
de uma tranSformaçáo d a Igreja e d o dogma". E aqui se coloca o pro- jesuitismo e integrismo, todos eles têm significados mais amplos d o que
blema, para a exata r e d a ~ á odesta rubrica, d o q u e se deve entender
0s e ~ r i t a m e n t ereligiosos: são "partidos" n o "império absoluto inter-
por Umodernista". É evidente que não existe um modelo fixo e facil-
nacional" q u e é a Igreja romana. E não podem deixar de pôr sob for-
mente identificável d o "modernista" e d o "modernismo", assim como ma religiosa problemas que muitas vezes são puramente mundanos, de
não existe modelo para qualquer "-ista" e "-ismo". Tratou-se d e um
"domínio".
movimento complexo e múltiplo, com várias acepçóes: 1)a que os
modernistas davam d e si mesmos; 2) a que os adversários davam d o
$ 5 5 . AÇZOCatólica. Dom Ernesto Vercesi iniciou a publicas~ode
modernismo. E as duas certamente não coincidiam. Pode-se dizer que
uma obra, I Papi de1 secolo XIX, d a qual saiu o primeiro volumc sobre
existiam diversas manifestações d o modernismo: 1) a política-social,
Pio VII (340 p., Turim, Società Editrice Internazionale, 12 liras). Para
q u e tendia a reaproximar a Igreja das classes populares e, portanto,
um estudo da Açáo Católica, é preciso estudar a história geral d o papado
era favorável ao socialismo reformista e à democracia (esta rnanifesta-
e de sua influência na vida política e cultural d o século XIX (t. 1vez at6
çzo talvez seja a que mais contribuiu para provocar a luta dos católicos
mesmo a partir d a época das monarquias esclarecidas, d o "josefismon,
integristas, estreitamente ligados 5s classes mais reacionárias e, sobre-
etc., que é o "pref&cio" para a limitação da Igreja na sociedade civil e
tudo, & nobreza rural e aos latifundiários em geral, como o demons-
política) [63].O livro de Vercesi é também escrito contra Cr0cc.e sua
tram o exemplo francês da Action Frnngaise e o exemplo italiano do
Storio &Europa. O essencial d o livro de Vercesi parece estar sinretiza-
"Centro catóiico"), ou seja, era genericamente favorável às correntes
do nas seguintes palavras: "O século XIX atacou o cristianismo ein seus
liberais; 2) a cccientífico-religiosa",o u seja, que defende uma nova ati-
mais diferentes aspectos, nos terrenos político, religioso, social, cultural,
tude diante do "dogma" e da "crítica histórica" da tradição eclesiásti-
histórico, filosófico, etc. O resultado definitivo foi que, n o crepúsculo
ca,e, portanto, tende a uma reforma intelectual dalgreja. Neste terreno,
d o sécuio XIX, o cristianismo em geral, especialmente O catolicismo
a luta entre modernistas e católicos integristas foi menos áspera; aliás,
romano, era mais forte, mais robusto d o que no alvorecer desse mes-
segundo os jesuítas, houve muitas vezes aliança e convergência entre
m o século. Este é um fato que não ~ o d ser
e contestado pelos historia-
as duas forças, isto é, as revistas católicas integristas publicaram escritos
dores imparciais.'' Até mesmo um único fato demonstra que isso pode
dos modernistas (segundo a Civilta Cattolica, a revista de Monsenhor
ser "contestado", ou seja, o d e que o catolicismo tornou-se um art tido
Benigni frequentemente publicou trabalhos d e Buonaiuti contra os je-
suítas). Isto, naturalmente, nos bastidores, já que, em cena aberta, a entre os outros, passou d o gozo incontestado de certos direitos à defe-
luta devia se apresentar d e modo especial, aliás d e modo único, como sa dos mesmos e A reivindicação deles como direitos perdidos. Decer-
i I
resto, foi constituída a Union Cntholique d'Etrddes Inte~~~ntionnles,entre
to, é incontesthvel que, sob determinados aspectos, a Igreja reforçou ,
tornou-se mais cor.centrada, estreitou cujas iniciativas está a realizaçáo de uma especial Semana Católica I ~ -
algumas de suas ?
suas fileiras, fixou melhor determinados princípios e certas diretrizes; ternncioísnl. Enquanto se reúne a Assembléia anual da Sociedade das
mas isto sigilifica precisamente uma sua menor influência na socieda- Nações, personalidades católicas d e cada pais se reúnem na França 'i
durante uma semana e discutem os problemas internacionais, contri- ,-I
de e, portanto, a necessidade d a luta e de uma mais intensa militância.
buindo para criar uma unidade concreta d e pensamento entre o s cató-
Também é verdade que rnuiros Estados não lutam mais contra a Igreja, 'i
mas isto porque querem se servir deia e subordiná-la a seus próprios da
licos d e t o d o o mundo. Sob o véu cultura, trata-se evidentemente
\
de uma Internacional laica católica, distinta d o Vaticano e alinhada com
fins. Seria possivel fazer uma relaçáo de atividades específicas nas quais
a atividade política parlamentar dos partidos populares. N a Civiltn 0
a Igreja conta muito POUCO e se refugiou em posições secundárias; de
resto, sob alguns aspectos, OU seja, d o ponto d e vista d a crença religio- Cnttolicn d e 6 de maio d e 1933, resenha-se o volume que recolhe as 1 1
conferências pronunciadas na terceira destas Semanas Internacionais
sa, é que o catolicismo reduziu-se em grande parte a uma su- 3
perstiçlo de camponeses, d e doentes, de velhos e d e mulheres. N a (Les grandes activités de la Société des Nations devnnt ln pensée
filosofia, que influência tem hoje a Igreja? Em que Estado o tomismo é chrétienne. Confé~encesde Ia troisienze Selnai~lecntholique inter- 59
m t i o m l e 14-20 septembre 1931, Éditions Spes, Paris, 1932, in-lbO, 7
fiiosofis predominante entre os intelectuais? E, socialmente, onde é L

267 p., 15 francos). Merece referência a resposta que dá a essa per- .I


que a Igreja dirige e modela com sua autoridade as atividades sociais?
gunta, em sua conferência, o Prof. Halecki, da Universidade dc Varsó-
Precisamente o impulso cadavez maior dado à Açáo Católica demons- 3
t r a q u e a Igreja perde terreno, embora ocorra que, a o recuar, ela se via: "Por que a Igreja, depois de dois mil anos de propagação da paz,
concentre e oponha maior resistência, "parecendo" assim (relativarnen-
ainda n ã o nos pôde proporcioná-la?" A resposta é a seguinte: "O )
ensinamento de Cristo e de sua Igreja dirige-se individualmente B pes- ')I
te) mais forte.
soa humana, a cada alma em particular. E esta verdade que nos explica
por que o cristianismo só pode atuar muito lentamente sobre as insri-
3
tuições e sobre as atividades prAticas coletivas, tendo de conquistar uma ' J
I
CADERNO 1 5 (1 933) alma após a outra e de recomeçar este esforço a cada nova geração." 'I \
Para a Civilt2 Cnttolicn, trata-se de uma "boa resposta, que pode ser i )
5 40. reforçada com a consideração bastante simples de que a ação pacifica-
Agao Crziólicn. Importância especial d a Açáo Católica francesa.
dora da Igreja é contrastada e continuamente suprimida por aquele
4
I
É evidente que, na Fransa, a A ~ á o Católica dispóe d e um pessoal rnui-
to mais selecionado e preparado d o que nos outros países. As Semanas resíduo irredutível (sic)de paganismo que sobrevive até hoje e inflama
sociais trazem ii discussão temas de interesse mais amplo e atual que as paixões d a violência. A Igreja é um bom médico e oferece remédios >
nos outros países. Seria interessante uma comparação entre as Sema- salutares 2 sociedade enferma; mas esta última recusa total ou parcial- )
Í I C Z S francesas e as italianas. Além disso, os católicos exercem uma in- mente tais remédios". Resposta muito sofística e de fácil refutação: de
'l
fluência intelectual na França que não exercem em outros locais, e esta resto, ela entra em contradição com outras pretensões clericais. Quan-
influência é mais bem centralizada e organizada (isto para o setor ca- d o convém, o s clericais pretendem que um país é 99% católico, para - 'i
tólico, entenda-se, que na França, e m alguns aspectos, é limitado pela deduzir disso uma particular posição d e direito da Igreja em relaçáo ao 1:)

exisrência d e uma forte centralização da cultura laica). N a França, de Estado, etc. Quando convém, tornam-se muitíssimo pequenos, etc- Se ;,
1

i ?
235 I
* 'i
I
i j
CADERNOS DO C A R C E R E
-l
?
-l.fosse verdade o que diz o Prof. Halccki, a atividade d a Igreja em dois
\
mil anos teria sido um trabalho de Sísifo e assim deveria continuar a
ser. Mas que valor se deveria dar a uma instituição q u e jamais tons-
truiu algo capaz d e se prolongar de geração em geração por força pró-
pria, q u e e m nada modifica a cultura e a concepção d o mundo de
nenhuma geração, tanto q u e 6 sempre necessário recomeçar t u d o do
-, início? O sofisma é claro: quando convém, a Igreja identifica-se com a
própria sociedade (ou pelo menos com 99% dela); quando não c
vem, a Igreja é apenas a organização eclesiástica o u até mesmo a p 111. Americanismo e fordismo
soa do Papa Nesse caso, a Igreja é u m "médico" q u e prescreve os
remédios à sociedade, e t c Assim, é muito curioso que os jesuítas falem
d e "resíduo irredutíveln d e paganismo: se é irredutivel, não desapare-
cerá jamais, a Igreja jamais triunfará, etc.

CADERNO 17 (1 933-1935)

$ 26. A A ~ â oCatólica. N o outono d e 1892, realizou-se em Gênova


um Congresso católico italiano dos estudiosos das ciências sociais; nele
se observou que "a necessidade d o momento presente, não certamente
a única necessidade, mas tão urgente como outra qualquer, é a reivin-
dicação científica da idéia cristã. A ciência não pode dar a fé, mas pode
impor o respeito aos adversários e pode ievar as inteligências a reco-
nhecer a necessidade social e o dever individual (!) d a fé". Em 1893,
sob o impulso deste Congresso, patrocinado por Leão XIII (a encíclica
Rmum Nouczr~mzé de 18911, foi criada ai2iz/Ista i?ztermzio~znZedi scielzze
socinli e discipline ausilirrrie, q u e ainda se publica. N o número da re-
vista de janeiro de 1903, são resumidas as atividades da década.
A atividade dessa revista, q u e nunca foi muito "barulhenta", deve
ser estudada também e m relação com a d a Critica Sociale, d a qual de-
veria ser o conrraponto 1641.
Caderno 22 (1934):
Arnericartisnzo e fordismo
1. Série de problemas que devem ser examinados nesta geral
um pouco convencional, "Americanismo e fordisrnom, depois de ter
sido levado em conta O fato fundamental de que as soluções dos mes-
mos são necessariamente formuladas e tentadas nas condiçóes contra-
ditórias d a sociedade moderna, o que determina complicações, posisões
absurdas, crises econômicas e morais de tendência freqüentemente
catastrófica, etc. Pode-se dizer, de modo genérico, que o americanismo
e o fordismo resultam d a necessidade imanente de chegar h organiza-
ção de uma economia programatica e que os diversos problemas exa-
minados deveriam ser os elos da cadeia que marcam precisamente a
paçsagern d o velho individualisnio econômico para a economia progra-
mática: estes problemas nascem das várias formas de resistência que o
processo de desenvoIvimento encontra em sua evoluç80, formas que
provêm das dificuldades presentes n a societns rerunz e tia societns
horninum [I]. Q u e uma tentativa progressista seja iniciada por uma oii
por outra força social não é algo sem conseqüências fundamentais: as
forças subalternas, que teriam de ser "manipuladas" e racionalizadas
de acordo com as novas metas, necessariamente resistem. Mas resis-
tem rambém alguns setores das forças dominantes, ou, pelo menos,
aliados das forçãs dominantes. O proibi~io;ismo,que era nos Estados
Unidos uma condição necessária para desenvolver o novo tipo de traba-
lhador adequado a uma indústria "fordizada", foi derrubado ela oposi-
ção de forças marginais, ainda atrasadas, e não certamente pela oposição
dos industriais ou dos operários. Etc. [Z]
Registro de alguns dos problemas mais importantes ou interessan-
tes n o essencial, embora à primeira vista pareçam não ser de primeiro
CADERNOS DO CÁRCERE CADERNO 2 2

q u e o fordisrno produz n o poder d e concorrência, mas conservan-


plano: 1) substituiçáo da atual camada plutocriitica por um novo me-
d o seu exército de parasitas que, a o devorar enormes quantidades
canismo de acumulagá~e distribuis" d o capital financeiro, baseado
imediatamente na p r o d u ~ industrial;
á~ 2) questáo sexual; 3) questáo
de mais-valia, agrava os custos iniciais e debilita o poder d e concor-
de saber se o americanismo pode constituir uma "época" histórica, ou rência n o mercado internacional. Portanto, a reaçáo européia a o
americanismo deve ser examinada com atenção: dessa análise re-
seja, se pode determinar um desenvolvimento gradual d o tipo (exami-
nado em outros locais) das "revoluçóes passivasy' próprias do século sultariio vários elementos necessários para compreender a atual situa-
çáo de uma série de Estados d o velho Continente e os acontecimentos
passado, ou se, ao conrrário, represencd apenas a acurnuiaçiio moiecular
de elementos destinados a produzir uma "exp~osáo", OU seja, uma re- d o após-guerra.
v o l u s ~ ode tipo francês [ 3 ] ;4) questão d a "racionalização" d a compo- O americanismo, em sua forma mais completa, exige uma condi-
siç;io demográfica européia; 5 ) questáo d e saber se o desenvolvimento çáo preliminar, d a qual náo se ocuparam o s americanos que trataram
destes problemas, já q u e na América ela existe "naturalmerite": esta
deve ter seu ponto de partida n o interior d o mundo industrial e produ-
tivo ou se pode ocorrer a partir de fora, através da construção cautelo- condiçáo pode ser chamada de "unia cornposiçáo demográfica racio-
sa e macisa d e uma estrutura jurídica formal que guie a partir de fora nal", q u e consiste no fato d c que náo existem classes numerosas sem
os desenvolvimentos necessários d o aparelho produtivo; 6) questão dos uma funçáo essencial n o mundo produtivo, isto é, classes absoluta-
charnadoç 'kitos saláriosy' pagos pela indústria "fordizaday' e racional i- mente parasitarias. A '"tradiçáo", a "civilizaçáoy" européia, a o contrá-
zada; 7) o fordismo como ponto extremo d o processo de sucessivas rio, caracteriza-se pela existência de tais classes, criadas pela "riqueza"
tentativas da indústria n o sentido d e superar a lei tendencial d a queda e pela "complexidade" d a história passada, que deixou um grande
da taxa d e lucro; 8) a psicanálise (sua enorme difusão. n o após-guerra) número d e sedimentações passivas através dos fenômenos de satura-
corno expressão d o aumento d a coerçião moral exercida pelo aparelho çso e fossilização do pessoal estatal e dos intelectuais, d o clero e da
estatal e social sobre os indivíduos e das crises mórbidas que esta coer- fundiiria, d o comércio de rapina e d o exército, o qual
ção determina; 9) o Rotary Club e a Maçonaria; 10) (...) [4]. {B) foi inicialmente profissional e depois passou a bascar-se n o recruta-
mento, mas é ainda profissional n o nível d o oficialato. Aliás, pode-se
$ 2. Racionnliza~ííoda ~orraposiçáodernogrrifi'icn européia. dizer que, quanto mais antiga é a história d e um país, tanto mais n u -
Europa, as diversas tentativas de introduzir alguns aspectos d o ame merosas e gravosas sáo estas sedimentaçoes de massas ociosas e inú-
canismo e do fordismo são devidas à velha camada plutocrática, q teis q u e vivem d o "patrimônio" dos "avós", destes pensionistas da
gostaria d e conciliar o que, até prova em contrário, parece inconci- história econômica. Uma estatística desses elementos economicamente
liiível: a velha e anacr6nica estrutura social-demográfica européia passivos (em sentido social) é dificílima, já que é impossível encon-
com uma forma modernissima de produção e d e m o d o d e trabalhar, trar a "rubrica" capaz d e defini-los tendo em vista uma pesquisa di-
corno aquela oferecida pelo tipo americano mais aperfeiçoado, a reta; indicações esclarecedoras ~ o d e r nser obtidas indiretamente,
indústria d e Henry Ford 151. É por isso que a introdução d o fordisrno como, por exemplo, pela existência de determinadas formas de vida
encontra tantas resistências "intelectuaism e "moraisn e ocorre so nacional.
formas particularmente brutais e insidiosas, através da mais extre- O número relevante de grandes e médios (e também pequenos)
mada coerção. Para dizê-lo em palavras pobres, a Europa quer fa- aglomerados de tipo urbano sem indústria (fábricas) é um destes indí-
zer a omelete sem quebrar o s ovos, o u seja, q u e r todos o s benefícios cios, e dos mais significativos.
operhrio só pode desfrutar de uma aposentadoria depois d e 65 anos Esta situaçáo não se verifica apenas na Itália; em maior ou mellor
e um c-mponês não tem limite de idade para O trabalho (por isso, o escala, existe em todos 0 s países d a velha Europa e, de modo ainda
italiano médio se surpreende quando ouve dizer q u e u m americano pior, existe na índia e n a China, O que explica a estrigniiçao da histó-
multjmilionário continua ativo até O último dia de sua vida conscien- ria nestes paises e Sua impotêl-iciii político-militar ( N o exame deste
te). se n u m a família um padre se torna cônego, imediatamente o "tra- não está imediatamente em questão a forma d e orgalliza.
balho manual" se torna "uma vergonha" para t o d a a parentela; no ção economico-social, mas a racionalidade das proporções entre os
diversos setores da população n o sistema social existente: cada siste-
r n k i m 0 , 6 possível dedicar-se a o comércio.
italiana já se tornara "malsã" por cau- ma tem uma sua lei das proporções definidas na composição demo-
A composiç50 d a
a longo prazo e d a escassa ocupaçáo das mulheres gráfica, um seu equilíbrio "ótimo7' e desequilibrios que, se não forem
sa da
que produzem novos bens; a relação entre população corrigidos através d a legislação, podem se tornar em
nos
c~potencialmente"ativa e população passiva era uma das mais desfa- si mesmos catastróficos, já q u e fazem secar as fontes d a vida econô-
voráveis da Europa (cf. as pesquisas sobre isso d o Prof. Mortara, por nacional, para não falar d e todos OS outros elementos d e disso-
exemplo, nas Prospettiue economiche de 1922). Tal relaçáo é ainda lução Elo]-)
mais desfavorável se se leva em conta: 1) as doensas endêmicas (ma- A América não tem grandes "tradições históricas e culturaisv, mas
lária, etc.), que diminuem a média individual d o potencial d e força tampouco está sufocada por esta camada de chumbo: é esta uma das
d o trabalho; 2) o estado crônico de desnutrição de muitos estratos principais razões - certamente mais importante d o que a ad ~iri-
inferiores d o campesinato (como se .depreende das pesquisas cio Prof. queza natural -de sua formid5vel acumulação de capitais, nlr-ilgradoo
Mgrio Camis, publicadas na Rijòrmn Socínle d e 1926, cujas médias nível de vida de suas classes populares ser superior ao ciiropeu. A inexis-
nacionais deveriam ser desagregadas por médias de classe: se a mé- tgncia dessas sedimentações viscosamente parasitárias, legadas fa-
dia nacional mal alcanra o padrão fixado pela ciência como indis- ses históricas passadas, permitiu uma base sadia para a indústria e, em
pensável, é óbvio concluir pela desnutriç50 crônica d e um estrato não especial, para o comércio, possibilitando a reduçzo cada vcz rriaior da
indiferente d a população. Quando foi discutida n o Senado a propos- funçáo econônlica representada pelos transportes e pelo comércio a iiina
ta orçarneiltária para o ano 1929-1930, o Deputado Mussolini afir- real atividade subordinada à produção, ou melhor, a tentativa de incor-
rnou que, em algumas regiões, durante períodos inteiros, vive-se porar estas atividades 2 própria atividade produtiva (cf. os experimen-
apenas d e hortaliças: cf. as Atas parla~nentaresd a sessão, bem como tos feitos por Ford e as economias obtidas por sua fãbrica através da gestao
a discurso do Senador 13go Ai-icona, cujas veleidades reacion5rias direta d o transporte e d o comércio d a mercadoria ~roduzida,econon~ias
foram prontamente rebatidas pelo chefe d o Governo) [9]; 3 ) o de- q u e influíram sobre os custos de produçáo, ou seja, q u e permitiram
semprego endêmico existente em algumas regiões agrícolas, q u e não melhores salários e menores preços d e venda). Dado que existiam essas
aparece nas pesquisas oficiais; 4) a massa d e população absoiutamente condições preliminares, já racionalizadas pelo desenvolvimento históri-
parasitiiria, que é enorme e põe a seu serviço o trabalho d e outra co, foi relativamente fácil racionalizar a produção e O trabalho, combi-
enorme massa indiretamente parasitária, bem c o m o a "semipara- nando habilmente a força (destruição do sindicalismo operário de base
sitaria", que é tal porque multiplica de modo anormal e malsão ativi- terr-torial) com a persuasáo (altos salários, diversos benefícios sociais,
dades econômicas subordinadas, como o comércio e as atividades habilíssima propaganda ideológica e política) e conseguindo centrar toda
intermediárias em geral. a vida do país na produção. A hegemonia nasce da fábrica e necessita
CADERNOS DO CÁRCERE CADERNO 22

de uma quantidade mínima de intermediários Verificou-se na Itália um início d e fanfarra fordista (exaltação da
apenas, para ser grande cidade, planos urbanísticos para a grande Milão, etc., a afirma-
profissionais da poI itica e da ideologia.
ção de q u e o capitalismo ainda está em seus inícios e que é preciso
O fenômeno das "massas", que tanto impressionou Romier, não é
mais do q u e a forma desse tipo de sociedade "racionalizada", na qual preparar-lhe 0s quadros d e um grandioso desenvolvimento, etc. : so-
bre isto, c€. alguns artigos de Schiavi na Rifornza Sociale); depois, teve
a domina mais imediatamente as superestruturas e estas são
lugar a conversão a o ruralismo e A desvalorização iluminista da cida-
uracionr-i~izãdas"(simplificadas e reduzidas e m número).
de, a exaltaçáo d o artesanato e d o patriarcalismo idílico, menções aos
Rotary Club e Maçonaria (O Rotary é uma maçonaria sem o s pe-
"direitos profissionais" e a uma luta contra a liberdade industrial [12].
quenos burgueses e sem a mentalidade pequeno-burguesa). A América
Todavia, embora o desenvolvimento seja lento e pleno de compreensí-
tem o Rotary e aYMCA; a Europa tem a maçonaria e o s jesuítas. Ten-
veis cautelas, não se pode dizer que a parte conservadora, a parte que
tativas de introduzir a YMCA n a Itália; ajuda d a indústria italiana a
essas tentativas (financiamento de Agnelli e reação violenta d o s catbli- representa a velha cultura européia com todas as suas seqüelas parasi-
tárias, não tenha antagonistas (deste ponto de vista, é interessante a
COS). Tentativas de Agnelli para absorver o grupo d e COrdine Nuovo,
tendência representada por Nuovi Studi, pela Critica Fascista e pelo
que defendia uma forma própria d e "americanismo" aceitável pelas
centro intelectual d e estudos corporativos organizados na Universida-
massas operárias [ílj.
Na América, a racionalizaçáo determinou a necessidade d e elaborar de de Pisa) [13f-
um novo tipo humano, adequado a o novo tipo de rrabalho e de proces- Também o livro de De Man é, a seu modo, uma expressão destes
so produtivo: esta eiaboraçáo está até agora na fase inicial e, por isso, ~ r o b l e m a que
s abalam a velha ossatura européia, urna expressa0 sem
(aparentemente) idílica. É ainda a fase da adaptação psicofisica h nova g a n d e z a e sem adesão a nenhuma das principais forças históricas que
estrutura industrial, buscada através dos altos salários; ainda não se ve- disputam entre si o mundo [14].
rificou (antes da crise de 19291, salvo talvez de modo esporiidico, ne-
nhum florescimenro "superestrutural", ou seja, ainda náo foi posta a $ 3 . Alguns aspec2os da questzo sexual. Obsessão pela quest5o se-
questáo fundamental da hegemonia. A luta se dá com armas tomadas d o xual e perigos de uma tal obsessão. Todos os "projetistas" colocam em
velho arsenal europeu e ainda abastardadas, que são portanto "anacro- primeiro plano a questão sexual e a resolvem "candidamente". Deve-
nicas" em relação a o desenvo1vimento das "coisas". A Iuta que se desen- se observar como, nas "utopiasy', a questão sexual tenha um arnplíssimo
volve n a América (descrita por Philip) é ainda pelos direitos profissionais, papel, muitas vezes predominante (a observação de Croce segundo a
contra a "liberdade industrial", isto é, uma luta semelhante àquela q u e qual as soluções de Campanella na Cidade d o Sol náo podem ser
se travou na Europa n o século XVIII, embora em outras condições: o explicadas através das necessidades sexuais dos camponeses da Calhbria
sindicato operário americano é mais a expressão corporativa dos direi- é inepta) [15].Foram os instintos sexuais os que sofreram a maior re-
tos das profissões qualificadas d o que outra coisa e, por isso, sua destrui- pressão por parte da sociedade em desenvolvimento; a "regulamenta-
@o, exigida pelos industriais, tem um aspecto "progressista". A ausência ção" dos mesmos, pelas contradições que gera e pelas perversões que
da fase histórica européia assinalada, também no campo econômico, pela lhe são atribuídas, parece a mais "contraria 2 natureza" e, portanto,
Revolução Francesa deixou as massas populares americanas e m estado são mais frequentes neste campo os apelos à "natureza". Também a
bruto: a isso cabe acrescentar a ausência de hornogeneidade nacional, a literatura "psicanalítica" é um modo d e criticar a regulamentaçao dos
mistura das culturas-raças, a questão dos negros. instintos sexuais de forma por vezes "iluminista", com a criação de um
CADERNO 22

d a questão econhmica, aspecto capaz de colocar, por seu


O. aumento da
turno, coinplexos problemas d o tipo " ~ p e r e s r r u r u r a i ~
pais e filhos). média na França, juntamente com O baixo índice de natalidade e
ScDaracáo, neste terreno, entre cidade e campo, mas não num sen-
L -.
com as necessidades d e pôr em funcionamento um apare1110 de produ-
tido idílico favorAvel a o campo, onde ocorrem OS crimes sexuais mais
$50 muito rico e complexo, apresentam já hoje alguns problemas liga-
monstruosos e numerosos, onde s50 muito difundidos O bestialismo e
dos ao problema nacional: as velhas gerações vão estabeleceiido uma
a pederastia No inquérito parlarnenfar d e 1911 sobre O Sul, afirma-se
cada vez mais anormal com as jovens gerações da mesma ~ u l -
que em Abruzo e naBasilicata (onde O fanatismo religioso e o patriar-
tura nacional, e as massas trabalhadoras inflam-se com imigrantes es-
ca\ismo sgo maiores e é menor a influência das idéias urbanas, tanto
trangeiros que modificam a base: já se verifica, como na América, uma
qiie n o 1919-1920, segundo Serpieri, não teve lugar nenhuma
certa divisão d o trabalho (profissões qualificadas para os nativos, além
agitaçáo camponesa) ocorre O incesto em 30% das familias e náo pare-
das funções de direção e organização; profissões não qualificadas para
ce que a s~tuaçáotenha se modificado até recentemente.
os imigrados).
A sexlialidade como função reprodutora e como "esporte": o idea
Uma relação semelhante, mas com conseqüências a1itieconÔmicas
"estético" da mulher oscila entre a concepção d e "reprodutora" e de
"bri~i~uedo". Mas nao é só na cidade que a sexualidade tornoii-se
-. um de maior relevo, tem lugar, em toda uma série de Estados, elitre as çi-
dades industriais de baixa natalidade e o campo prolífico: a vida i-ia
"esporte"; provérbios populares como "o homem caça, a mulher pro-
voca" , "quem náo tem coisa melhor vai pura ri cama com a esposa", indústria exige iim aprendizado geral, um processo de iidai>tação
~sicofísicaa determinadas condições d e trabalho, de nutrição, de lia-
etc., mostram a difusáo d a concepçao esportiva também n o campo e
bitação, de costumes, etc., que não é algo inato, "natiiral", mas exige
113srelações sexuais entre elementos d a mesma classe.
A funçjo economica da reproduçio: ela não é apenas um fato ge- ser adquirido, a o passo que as características urbanas adquiridas são
ral, que interessa à sociediide em seu conjui~to,para a qual é necessii- transferidas por herança ou absorvidas n o decorrer da infgncja e da
ria uma determinada proporção entre as diversas idades.tendo em adolescência. Assirn, a baixa natalidade urbana exige um contínuo e
vista a produçáo e a manutençao da parte passiva d a população (pa relevante gasto com o aprendizado dos novos urbanizados e traz con-
siva e m sentido normal, por idade, por invaf idez, etc.), mas é também sigo uma permanente modificação d a composição sociopolitica da
urn fato "molecular", interior aos menores aglomerados econômicos, cidade, colocando continuamente em novas bases o problema d a
como a família. A expressão "arrimo d a velhice" mostra a corisciên- hegemonia.
cia instintiva da necessidade ecanôinica de q u e exista rima certa rela A mais importante questão ético-civil ligada à questão sexual 6 a
Ç" entre jovens e velhos em toda a área social. A perccpçáo d e como d a formação de uma nova ~ersonalidadefeminina: enquanto a mulher
são maItratados, nas aldeias, os velhos e velhas sem prole leva os ca- nSo tiver alcançado não apenas uma real independencia em face d o
sais a desejar filhos ( o provérbio "uma mãe cria cem filhos e cem fi- homem, mas também um novo modo de conceber a si mesma e a seu
Ihos nao sustentam uma m5e" mostra um o u t r o aspecta d a questáo): papel nas relações sexuais, a questão sexual continuará repleta de as-
OS velhos das classes populares que não têm filhos são tratados como
pectos mórbidos e ser5 preciso ter cautela em qualquer inovação
OS "b astardoç". legislativa. Toda crise de coerção unilateral n o campo sexual traz con-
0 s progressos d a higiene, que eievaram a v i d a humana média, co- sigo um desregramento "romântico", que pode ser agravado pela
locam cada vez mais a questão sexual como um aspecto fundamental e abolição da prostituição legal e organizada. Todos estes elementos com-
CADERNO 22

plicam e tornam dificílima qualquer regulamentação d o fato sexual e


próprias, isto é, fundamento católico, sentido igioso
qualquer tentativa de criar uma nova ética sexual adequada aos novos do mundo, simplicidade e sobriedade fundamentais, aderêilcia h reali-
de produ@o e de trabalho. Por outro lado, é necessário enca- dade, domínio da fantasia, equilíbrio entre espírito e matéria." (cabe
minhar esta ; e g u l a m e n t a ~ ãe~ a criação de uma nova ética. Devese ~bservar:como teria podido existir a Itália de hoje, a n a g o italiana, se
observar como 0 s industriais (especiahente Ford) se interessaram pe- se houvessem formado e desenvolvido as cidades e sem o influxo
las ações sexuais de seus empregados e, em geral, pela organizasg0 unificador das cidades? "Super-regionalismo': n o passado, teria signi-
de suas famílias; a aparência de "puritanismo" assumida por este inte- ficado - como significou - municipalismo, desagregaçZo popular e
resse (como no caso d o proibicionismo) não deve levar a avaliaçóes domínio estrangeiro. E o próprio catolicismo teria se desenvolvido se
erradas; a verdade é que não se pode desenvolver o novo tipo de ho- o papa, em vez de residir em Roma, residisse n o cafundó-de-judas?)
mem exigido pela racionalizaçáo da produção e d o trabalho enquanto E a seguinte opiniáo de Francesco Meriano (publicada n o Assalto,
o instinto sexual não for adequadamente regulamentado, não for tam- de Bolonha): "Mas, n o campo filosófico, penso encontrar uma verda-
bém ele racionalizado. deiraantítese: a antítese, mais d o que centenária e sempre revestida de
novos aspectos, entre o voluntarismo, o pragmatismo, o ativismo
5 4- Algumas afirmações sobre a questúo d o c'super-regionn~ismo identificáveis n o supercosmopolitismo, por um lado, e, por outro, o
e sttpercosmopolitism~" [16].Trechos citados pela Fiara Letteraria de
iluminismo, o racionalismo, o historicismo identificáveis n o super-re-
15 de janeiro de 1928. D e Giovanni Papini: "A cidade não cria, mas gionalisrno." (Ou seja: os princípios imortais teriain se refugiado n o
consome. Já q u e é o empório para onde afluem o s bens arrancados super-regionalismo.) De qualquer modo, deve-se notar como a polê-
d o s campos e das minas, para ela acorrem .os espíritos mais vivos da mica "literária" entre super-regionalismo e supercosmopolitismo foi
provincia e as idéias dos grandes solitários. A cidade é como uma
tão-somente um indício fugaz da polêmica entre o conscrvadorismo
fogueira q u e ilumina porque queima o que foi criado longe dela e parasitário e as tendências inovadoras da sociedade italiana.
por vezes contra ela. Todas as cidades sZo estéreis. Nelas nasce pro-
Na Stanzpn de 4 de maio de 1929, Mino Maccari escreve: "Qiian-
porcionalmente pouca gente e quase nunca alguém d e gênio. Nas ci- d o o super-regionalismo se opõe 5s importações modernistas, sua opo-
dades, goza-se, mas não se cria; ama-se, mas não se gera; consome-se,
siçgo quer salvar o direito d e selecionh-Ias a fiin de impedir que o s
mas náo se produz." (A parte a s inúmeras tolices "absolutasy', deve-
contatos nocivos, confundindo-se com os que podem ser benéficos,
se observar como Papini tem diante d e si o modelo "relativo" d a ci-
corrompam a integridade d a natureza e d o caráter próprios da civiliza-
dade não-cidade, da cidade Coblença d o s consumidores d e renda
ção italia~la,depurada ao longo dos séculos e hoje ansiosa (!) por urna
agrária e das casas de tolerância [17].)
sintese unificadora.?' (Já "depurada", mas não "sintetizada" e "uni-
N o mesmo número da Fiera Letteraria, Iê-se o seguinte trecho:
ficada" [18]!!)
"Nosso assado super-regionãlista apresenta-se com as seguintes carac-
terísticas: aversão decidida a todas as formas d e civilização que não
$ 5. Ez~genioGiova?znetti escreveu, n o Pègaso de maio de 1929,
sejam adequadas à nossa o u que arruínem, por não serem digeríveis,
um artigo sobre "Federico Taylor e I'americanismo", n o qual afirma:
o s dotes clássicos dos italianos; além disso, defesa d o sentido universal c<
da.aldeia, que é, para dizê-lo em poucas palavras, a relação natural e suma, a energia literária, abstrata, nutrida de retórica generalizante,
já não é mais hoje capaz de compreender a energia técnica, cada vez
imanente entre o individuo e sua terra; finalmente, a exaltação de nossas
mais individual e aguda, tecido originalíssimo de vontade singular e de
CADERNO 22

e menciona um outro texto d o mesmo Fovel, Rendita e snlnrio nello


educaçso especializnda. A literatura enérgica estA ainda na fase d o Pro-
tato s i d a c a l e (Roma, 19281, mas 1150 percebe, ou não destaca ex.
meteu sem cadeias, uma imagem demasiadamente cômoda. O herói
pressamente, que Fovel, em seus escritos, concebe o ' c ~ ~ r p o r a t i v i s m o ~
da civilizar~o técnica riso é um ser sem cadeias: é um ser silencioso
como a premissa para a introduçáo na Itália dos mais avançados siste-
que sabe levar suas cadeias de ferro até OS céus. N á o é um ignorante
mas americanos d o modo d e pr0duzi.r e d e trabalhar r201.
ocioso: é u m n o mais belo sentido clássico, já que stirdir<m 4
Seria interessante saber se Fovel "tira da própria cabeçan o que
L

significava 4 a p l i c a @ zelosa'.
~ Enquanto a civilizaçáo técnica OU mecá-
creve o u se tem atrás de si (praticamente e não apenas "em geraln) de-
ni% como queiram chamá-la, elabora em silêncio este seu tipo d e herói
terminada~forças econômicas que o sustentam e o estimulam. Fove]
afirmativo, o culto literário da energia cria apenas um nefelibata relapso,
jamais foi um "cientista" puro, que expresse determinadas tendências
.sonhador excitado."
da mesma forma que os intelectuais, também "puros", sempre expres-
Deve-se observar como náo se tentou aplicar a o americanisrno a
sam. Sob muitos aspectos, ele se integra galeria de tipos como Ciccotti,
pequena fórmula de Gentile sobre a Yfilosofiaque não se enuncia atra-
~ a l d i Bazzi,
, Preziosi, etc., porém 6 mais complexo, e m fiinç20 de seu
vés de fórmulasJ mas se afi rrna na açáo"; trata-se de algo significativo
inegAvel valor intelectual. Fovel sempre teve a aspiraçao de se torilar um
e instrutivo porque, se a fórmula tem algum valor, é precisamente o
grande líder ~ o l í t i c o ,mas não conseguiu porque lhe faltam algumas
americanismo que pode reivindicá-lo [19]. Ao contrário, quando se fala
fundamentais: a força de vontade dirigida a um único obieti-
d o arnericanismo, considera-se que ele é "mecanicista", grosseiro, bru- , --
L< vo e a não-volubilidade intelectual à maneira de Missiroli; de resto, ele
tal, isto é, pura açáu", contrapondo-se a ele a tradição, e t c Mas esta
frequentemente se vinculou abertamente a pequenos interesses inesqui-
tradiçáo, etc., por que 1150 é assumida também como base filosófica,
nhos. Começou como "jovem radical", antes da guerra: pretendia fcuer
como a filosofia enunciada em fórmulas daqueles movirne~~tos para os
rejiivenesccr, dando-lhe um conteúdo mais concreto e moderno, o mo-
quais, a o conrrário, a "filosofia se afirma na açáo"? Esta contradição
vimento dernocrhtico tradicional, flertaiido um poiico com os r ~ p u b l i -
pode explicar muitas coisas: por exemploJ a diferença entre a açáo real,
canos, sobretudo os federalistas e regionalistas (CritiaPolitÍcn de Olivicro
q u e modifica essencialmente tanto o homem como a realidade exte-
Zuccarini). Durante a guerra, defendeu o ncutralismo de Giolitti. Em
rior (isto é, a cultura real), que é o americanismo, e o ridículo espírito
1919, ingressou n o Partido Socialista em Bolonha, mas jamais escreveu
de gladiador que se autoprocIama ação e que só modifica as palavras e
no Auanli! Antes d o armisticio, deu algumas escapadas em Turim. Os
náo as coisas, o gesto exterior e não o interior do homem. A primeira
está criando um futuro que é intrinseco 5 sua atividade objetiva e so- industriais turinenses haviam comprado a velha e mal-afamada Gozzeta
bre o qual se prefere não falar. O segundo cria apenas fanroches aper- di Torino para transformá-la e dela fazer um seu órgão direto. Fovel ti-
feiçoados, recortados segundo um figurino retoricamente prefixado, e nha a intenção de tornar-se o diretor da nova publicaç50 e certíimente
que se reduzirá0 a p ó quando forem cortados o s fios externos que lhe estava em contato com os ambientes industriais. Mas foi escolhido como
dão a aparência d e movimento e d e vida. diretor Tommaso Borelli, "jovem liberal", logo depois substituído por
Italo Minunni daIciea Nnzionnle (mas a G a z e t a di Torim, mesmo sob o
5 6. Ardtnrquia financeira da indhstrin. Um notável artigo de Carlo título Pnese e apesar d o investimento feito para que se desenvolvesse,
Pagni, 'A proposito di u n tentativa di teoria pura dei corporativismo" não vingou e foi fechada por seus patrocinadores). Uma "curiosa" carta
(na Rifornza SociaIe, setembro-outubro d e 1929), examina o livro de de Fovel em 1 9 19: ele escreve dizendo que "sente o dever" d e colaborar
N. Massimo Fovel, Economia e corporativismo (Ferrara, S . A.T.E., 1929) com L'Ordine Nuovo semanal; houve uma resposta na qual eram fixa-
f
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1
*:
li
1

mínima e
de fazer da fábrica u m centro de organização sindical ambiente, uma determinada estrutura social (ou a decidida
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dos comissários de empresa) foi vigorosamente de e um determinado tipo de Estado. O Estado .g o Estado libe-
(recordar a questáo
derrotada [ 2 3 ] - Uma cuidadosa da ral, O'' n o sentido d o livre-cambismo ou da efetiva liberdade poljtica,
combatida e
e mesmo antes de 1926, que se deixe mas no sentido mais fundamental da [ivre iniciativa e do individualis-
história italiana de 1922 f
exteriores, mas saiba captar Os mo- rno que chega com meios próprios, como "sociedade ci- ---
levar pelas estrepitosas
tivos profundos do movimento
operário, deve levar 2 c o n ~ j u s á oobje- através d o próprio d e ~ e n v o i v i m e histórico,
i~~ a o regime d a ,1
'ir 1
tiva de que precisamente os operários foram 0 s portadoresdas novas e industrial e d o monopólio. 0 desaparecimento d o tipo
modernasexigências industriais e que, a seu modo, defenderam- semifeudal d o rentista 6, na Itália, uma das principais condiçóes para a
implacavelmente; pode-se mesmo dizer que alguns industriais com industrial (é, em parte, essa própria transformação),
Ii )
nas
este movimento e procuraram se apropriar dele (é desse 7
preenhiim
modo que se pode explicar a tenrativa feita por Agnell i para absorve
c ~ ~~~~~~o d ie sua~ escola
~ ~no complexo d a Fiar, bem como de jns
uma conseqüência- A política econ(jmico-financeira do ~~~~d~é o ins-
rrumento desse desaparecitTlento: amortizaçáo da dívida p,jb]ica,
los maior Peso da taxação direta sobre a indireta na formaçáo
; 3
j?
assim uma escola de oper&riose técnicos especializados tendo em da receita orçamentária- N ã o parece que esta seja ou esteja para se , j)
vista uma radical mudança industrial e do trabalho através de sistemas tornar a orientação da política financeira. A~ contrário. O ~~~~d~cria
.raciona~izadosm: a YMCA tentou criar cursos de "americanismo" abs- rentistas~ou seja, promove as velhas formas de acumulaçáo pa- '1-1
trato, mas, apaar das importantes somas investidas, 0 s cursos fracas- rasitária da Poupança e tende a criar quadros sociais fechados. N~ rea- '5
sara in) . lidade, até agora, a orientaçáo corporativa funCioliou para defender
b 'I
destas considerações, apresenta-se uma outra série de ques- ~ o s i ~ á ameaçadas
es d e classes médias, não para eliminá-las, e está se
o movimento corporativo existe e, sob alguns aspectos, as toriiandO cada vez mais, em funÇá0 dos iilteresses conairuidos que '"
i:
1
zaçóes jurídicas já ocorridas criaram tis condições formais nas quais a surgem sobre a velha base, uma máquina d e conservaçao do que existe o',
transformaçáo récnico-econômica pode se verificar em larga escala, tal como miste e não urna mola propulsora. Por quê? porque a orien-
'!I
>
que os operários não podem se opor a tal transformação nem podem taÇ20 corporativa depende também d o deremprego: defende para os
h, 1
1 para se tornarem eles mesmos seus porra-bandeiras. A organiza- que estão empregados um certo nível mínimo de vida que, se houvesse
rnrporativa pode se tornar a forma dessa transformaçgo, mas pod livre concorrência, entraria também em colapso, provocando graves ")
2

se teremos ocasiâo d e ver uma daquelas "astúcias convulsóes sociais; e cria empregos de novo tipo, organirativo e riso '
I/
>
provid~ncjd' mencionadas por Vico, que fazem com que Os hOme produtivo, Para 0s desempregados das classes médias. Continua sem- 1
sem propô-lo ou desejá-lo, obedeçam aos imperativos d a história? Pre a existir uma saída: a orientação corporativa, que se origina de uma S
enquanto, remos razão para duvidar. O elemento negativo d a "poli situação tão delicada, cujo equilíbrio social é preciso manter a todo
1
1;
econômicam até agora sobre O elemento positivo da e custo Para evitar uma enorme catástrofe, poderia avançar através de
gênc-a de uma nova econômica q u e renove, modernizando lentíssimas etapas, quase imperceptíveis, que modifiquem a estrutura
a estrutura econômico-social da nação, mesmo nos quadros d o vel social sem abalos repentinos: até mesmo a criança melhor e mais soli-
damente enfaixada se desenvolve, apesar disso, e cresce. E é por isso
única nem mesmo a mais importante: é apenas a mais impor que seria interessante saber se Fovel é a voz de si mesmo ou se é o ex-
tante das condiçóes imediatas. A americanização exige um determina Poente d e forças econômicas que buscam, a todo custo, seu próprio
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res da classe consumidora d e objetos "diferentes", que náo é tradicio-


caminho. De modo, O processo seria tão longo e encontraria
nalista por ser d e nova formação. Tais observações são válidas se se
t?lntasdificuldades que, nesse meio tempo, novos interesses podem se aceita o critério d a "qualidade" tal como é comumente apresentado e
constituir e fazer u m a nova oposiçáo tenaz a o desenvolvimento de tal que não é um critério racional: na realidade, pode-se falar d e "quali-
processo a ponto de truncá-lo. dade" 56 para as obras de arte individuais e não reprodutíveis; t u d o o
que é reprodutível entra n o domínio d a "quantidade7' e pode ser fabri-
g 7. Mirzo Mnccnri e o nmericnnismo. D o Trnstullo di Strapaew, de cado em série.
Mino Maccari (Florença, Vallecchi, 1928) : Por outro lado, pode-se observar o seguinte: se uma naçáo se espe-
íCpor falso brilhante / Teu país não vás trocar: / O estran- cializa na produção ccqualitativa", que indústria fornecerá os objetos
geiro é um tratante, / Quem vai nele confiar? / O l h o vivo, bem matrei- de consumo das classes pobres? Será criada uma situação d e divisão
ro, /Toda mistura te arrasa. 1 A ganância d o estrangeiro / Quer roubar internacional d o trabalho? Trata-se apenas d e uma fórmula típica d e
a tua casa. / Do teu paroco o arroto / Vence a América em glória:/ 0 literatos desocupados e de políticos cuja demagogia consiste em cons-
italiano mais roto / Traz mil anos de história. L.. ] Charleston é uma truir castelos n o ar. A qualidade deveria ser atribuída aos homens e
esprrela, / Te faz girar feito tolo; / Volta então à tarantel a, / Foge logo não as coisas: e a qualidade humana eleva-se e se refina na medida em
desse logro. / Fica quieto em teu rincáo, / Nada de modas d a França. / que o homem satisfaz um número maior de necessidades e, portanto,
Carne só cebola e pão / E ter& bem cheia a pança." torna-se independente delas. O alto preço d o pão, devido ao fato d e se
Maccari, porém, foi ser redator-chefe d o Stnmpn de Turim e comer pretender manter um número maior de pessoas ligado a uma determi-
cebola e pão no centro mais supercosmopolita e industrial d a Itália. nada atividade, leva P desnutrição. A política da qu a 1.d
i ad e determina
quase sempre seu oposto: uma quantidade desqualificada.
$ 8. Qunnriíhde e qfalidczde. N o mundo da produção, significa
apenas "barat.~"e "caro", o u seja, satisfaçi30 ou n b das necessidades $9- Lê-se na resenha q u e A. D e Pietri Tonelli publicou, na RiMsta
elementares das classes populares e tendência a elevar ou baixar seu di Politica Economica (fevereiro de 1930), sobre o livro d e Anthony
nivel de vida: tudo o mais não passa de romance ideológico de folhe- M. Ludovici, W o m a n A vindicniion (2.. ed., 1929, Londres), o seguin-
tim, cujo primeiro capítulo GuglieIrno Ferrero escreveu [24]. Numa te: "Quando as coisas vão mal n a estrutura social d e uma naçáo, por
empresa-naçáo, que dispõe de muita máo-de-obra e d e pouca matéria- causa da decadência d a capacidade fundamental d e seus homens -
prima ( o que í. discutível, pois cada nação-empresa "cria" sua própria afirma Ludovici -, duas tendências distintas parecem sempre tornar-
matéria-prima), o mote "qualidade!" significa apenas a vontade de se evidentes: a primeira é a d e interpretar mudanças, que são pura e
empregar muito trabalho em pouca materia, aperfeiçoando o produto simplesmente sinais d a decadência e d a ruína de velhas e sadias (!)
a o extremo, ou seja, a vontade de especializar-se para um mercado de instituições, como sintomas d e progresso; a segunda, resultante da
1 ~ x 0Mas
. será isto possível para uma nação inteira com grande popu- justificada perda d e confiança na classe dirigente, é a d e dar a cada um,
lação?
tenha o u não as devidas qualidades, a segurança de ser indicado para
Onde existe muita matéria-prima, são possíveis as duas orientações,
fazer um esforço n o sentido d e ajustar as coisas." (A tradução é eviden-
qualitativa e quantitativa, mas o mesmo não se aplica aos chamados
temente duvidosa e inexata.) O autor faz d o feminismo uma expressão
países pobres. A produção quantitativa também pode ser qualitativa,
desta segunda tendência e pede um renascimento d o 'cmachismo".
isto é, fazer concorrência à indústria puramente qualitativa entre seto-
CADERNOS DO CARCERE CADERNO 22

outra consideração de mérito -difícil de ser e de trabalho, ocorreu com o emprego de inauditas brutali-
Para além de dades, lançando n o inferno das subcJasses os débeis e o s refratários,
feita porque o texto de De Pietri Tonelli é duvidoso -, deve-
anti feminista e Ymachisra". Deve-se estudar a inteiramente. Em todo advento de novos tipos de ,-ivi-
se destacar a
Iização, OU n o decurso d o processo de desenvolvimento, houve crises.
origem da legisla@o anglo-sa~ã,muito favorável AS mulheres em toda
Mas quem foi envolvido nestas crises? Não as massas trabalhadoras,
uma série de "sentimentais" OU pseudo-sentimentai S. Trata-se
mas as classes médias e uma parte d a própria classe dominante, que
de uma tentativa de regulamentar a questáo sexual, d e transformá-la em
também sentiram a pressáo coercitiva, exercida necessariamente sobre
coisa séria, mas não parece ter alcançado sua finalidade: deu lugar a
toda a área social. As crises de libertinismo foram numerosas: toda
desvios "feministas" n o sentido pejorativo da palavra, e criou
época histórica teve a sua. Quando a pressão coercitiva é exercida so-
para a mulher (das classes altas) uma posição social paradoxal.
bre todo o complexo social (e isso ocorre sobretudo depois da queda
da escravidão e d o advento d o cristianismo), desenvolvem-se ideologias
g 10. '~~rirnnlirlode"
e iruius~inlismo.A história d o industriaiisrn
puritanas, que dá6 a forma exterior da persuasão e d o consenso ao uso
foi sempre (e se torna hoje de modo ainda mais acentuado e rigoroso
intrínseco d a força: mas, uma vez obtido O resultado, pelo menos em
uma luta contínua contra o elemento "animalidade" d o homem, u
certa medida, a pressão se quebra (essa fratura se apresenta historica-
proceso ininterrupto, frequentemente doloroso e sangrento, de sujeiçá
mente de diferentíssimos modos, como é natural, já que a prcssso sem-
dos instintos (naturais, isto 6, anirnalescos e primitivos) a normas e lia-
bicos de ordem, de exatidão, de precisão sempre novos, mais complexos pre assumiu formas originais, frequentemente pessoais; identificou-se
e rígidos, que tornam possiveis as formas cada vez mais complexas de com um movimento religioso, criou um aparelho próprio clue foi per-
vida coletiva, q u e sRo a consequência necessária d o desenvolvimento sonificado em determinadas camadas ou castas, adorou o nome de
d o industrialismo. Esta luta é imposta a partir de fora e o s resultados Cromweil ou de Luís X v etc.) e surge a crise de l i b e r t i i ~ i s m(a~ crise
obtidos até agora, embora de grande valor prático imediato, são em francesa depois da morte de Luís X v por exemplo, não pode ser com-
grande parte puramente mecânicos, não se transformaram numa "se- arada com a crise americana depois d o advento de Roosevelt, nem o
gunda natureiay'. Mas t o d o novo modo de viver, n o período em q u e se proibicionisino, com seu cortejo de banditismo, tem um correspondente
impõe a luta contra o veIho, não foi sempre, durante um cerro tempo, em épocas precedentes, etc.), a qual, porém, só atinge superfiçia1mei1-
o resultado de uma coerção mecânica? Até mesmo os instintos q u e haje te as massas trabalhadoras, o u as atinge indireramente, jii. que deprava
devem ser superados como ainda demasiadamente "animalescosyyfo- suas mulheres: com efeito, estas massas trabalhadoras ou já adqiiiri-
ram, na realidade, um notAvel progresso em relação aos anteriores, ram os hábitos e costumes riecess&riosaos novos sistemas de vida e d e
ainda mais primitivos: quem poderia descrever o "custo", em vidas trabalho, ou continuam a sentir a pressão coercitiva sobre as necessi-
humanas e em dolorosas repressões dos instintos, d a passagem do dades elementares de sua existência (também o antiproibicionismo náo
nomãdismo à vida sedentária e agrícola? Aqui se inserem as primeiras foi desejado pelos operários, e a corrupçáo que o contrabando e o
formas de servidão da gleba e das profissões, etc. Até agora, todas as banditismo trouxeram consigo era difundida nas classes superiores).
mudanças d o modo de ser e viver tiveram lugar através d a coerção N o após-guerra, teve lugar uma crise dos costumes d e extensa0 e
brutal, ou seja, através d o domínio de um grupo social sobre todas as profundidade inauditas, mas teve lugar contra uma forma de coerção
forgds produtivas d a sociedade: a seleção ou "educação" d o homem que não fora imposta para criar os hábitos adequados a uma nova for-
adequado aos novos tipos de civilização, isto é, às novas formas de ma de trabalho, mas por causa das necessidades, então concebidas como
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rransitórias, da vida na guerra e na trincheira. Esta pressão reprimiu a


i
parricularmenre os instintos sexuais, até mesmo 0s normais, em gran- cada vez
em hábitos permanentes ou quase, isto 6, com oscilações
A* contrário, n o caso em que não exista a pressáo
i
1
des massas de jovens, e a crise q u e se desencadeou n o n-iomento d o coercitiva d e uma classe superior, a "virtude.' 6 afirmada de modo ge-
vida normal tornou-se ainda mais violenta por causa d o de- néricO mas não observada, nem por convicçgo
sapareçimento de muitos homens e d e um desequilíbrio Permanente Portanto* por coerçBo,
a absorção das aptidões psicofisicas necessárias
na
numérica entre 0s indivíduos dos dois sexos. As instituições aos novos métodos d e trabalho. A crise pode se tornar xpermanente,,, 1

ligadas à vida sexual sofreram um forte abalo e se desenvolveram, na ou seja, d e Perspectiva catastrófica, já que só a coerçg+o poderá defini-
sexual, novas formas de utopia ilumioista. A crise foi (e ainda 1% uma d e novo tipo, na medida em que .caxeicida pela elite de
é) mais vi ter atingido todas as camadas d a ~ o ~ u l a ç eã Por
o uma classe sobre a própria classe; s ó pode ser uma autocoerçáo, ou
ter entrado em com as necessidades dos novos métodos de seja, uma autodisciplina. (Alfieri que se faz amarrar na cadeira [251.)
trabalho que foram se impondo nesse meio tempo (taylorismo eracio- De qualquer modo, o que se pode opor a esta função das elites é a
nalizaçáo em geral). Estes novos métodos exigem uma rígida discipli- mentalidade iluminista e libertária na esfera das re]aç=jes
na dos i,., sti *tos semais (do sistema nervoso), ou seja, um fortalecimento de
resto, lutar contra esta concepção significa precisamente criar as el ires
da 'ifamília= em sentidu amplo (riso desta OU daquela forma do siste- necessárias à tarefa histórica, OU, pelo menos, desenvolvê-las para que
ma familiar), da regulanent.a~Soe da estabilidade das relações sexuais. a função delas se estenda a todas as esferas da atividade humaria.
É preciso insisti r n o fato de que, no terreno sexual. o fator ideoló-
gico mais depravante e é a concepção ifuminisia e libertária 5 11. R a c i o m h @ o da pr~duçiioe do t r r i ~ B ~ ~ otendgncia
.
de
própriadai não ligadas estritamente ao trabalho produtivo, Leão Davidovi estava estreitamente ligada a esta série de problemas> o
concep $50 que, a partir dessas classes, contagia as classes trabalhado- que não me parece ter sido devidamente esclarecido. seucontc-jdo
&te torna-se ainda mais grave Se, num determinado Es- esse11cia1, deste ponto de vista, consistia na vontade udemasiadamcrl-"
as massas trabalhadoras 1120 mais sofrerem a pressão coercitiva te" resoluta (portam0 não racionalizada) de dar supremacia, na ,,ida
de u m a asse superior, se 0s novos hábitos e aptidões psi cofisicos liga- nacional, & indústria e BOS métodos industriais, de com meios
dos aoç novos métodos de p r o d u ç á ~e de trabalho tiverem de ser coercitivos externos, a disciplina e a ordem na produçáo, de adequar
absorvido^ via da persuasão reciproca OU da convicção individual- 0s costumes às necessidades do trabalho. Dada a formulaçáo geral de
mente proposta e aceita Pode-se ir criando uma situação de duplicidade, todos 0s problemas ligados à tendência, esta devia desembocar ileces-
u m conflito íntimo entre a ideologia "verbal", que reconhece as novas sariamente numa forma de bonapartismo, d o que resulta, port;inro, a
e a prática real "anirnalesca", que impede aos corpos fí- necessidade inexorável d e derrotá-la. Suas preocupações eram justas,
çicos a absorção efetiva das novas aptidões. Forma-se neste caso 0 que mas as soluções praticas eram profundamente erradas; neste dese-
pode ser chamado de uma situação d e hipocrisia social totalitária. Por quilíbrio entre teoria e prática consistia o perigo, o qual, d e resto, ja se
que totalitária? Nas outras situa@es, as camadas populares são obriga- manifestara anteriormente, em 1921. O princípio da coerçáo, direta e
das a obseni.ar a "virtude"; o s que a pregam não a observam, mesmo indireta, n a organização d a produção e d o trabalho é justo (cf. o dis-
prestandó-lhe homenagem verbal, e, portanto, a hipocrisia é d e deter- curso pronunciado contra Martov e incluído n o volume sobre o Terro-
minadas camadas, não total; isto certamente não pode durar e levará a rismo), mas a forma que ele assumiu era errada: o modelo militar
uma crise de libertinismo, mas quando as massas já tiverem assimilado tornara-se um preconceito funesto e os exércitos d o trabalho fracassa-
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ram. Interesse de Leão Davidovi pelo ameri canismo; seus artigos, suas É deste p o n t o de vista que se devem estudar as iniciativas "pu-
pesquisas sobre o byj e sobre a literatura, tais atividades estavam me- ritanas" dos industriais americarios d o ripo Ford. É certo q u e eles
nos desconectads entre si d o que poderia parecer, já que OS novos mé não s e preocupam com a "humanidade", com a "espiritualidade"
rodos de triiba]ho são indissociáveis de u m determinado modo de viver, d o trabalhador, que, n o nível imediato, são esmagadas. Esta "hu-
de pensar e de sentir a vida; não é possível obter êxito num campo se manidade e espiritualidade" só pode se realizar n o m u n d o d a pro-
obter tangíveis n o outro [261- duçáo e do trabalho, n a " c r i a ~ á o ' ~
produtiva; ela era máxima n o
N a América, a raciona1izaçáo do trabalho e o proibicionismo artesão, n o "demiurgo", quando a ~ e r s o n a l i d a d ed o trabalhador se
tzo indubitavelmente ligados: as investigações dos industriais sobre refletia inteiramente n o objeto criado, q u a n d o era ainda muito for-
vida intima dos operários, OS serviços de inspeção criados por algum te a ligaçáo entre arte e trabalho. Mas é precisamente contra este
empresas para controlar a Lrnoralidade" dos operários são necessida- "humanismo" q u e luta O novo industrialismo. As iniciativas "puri-
des d o novo método d e trabalho. Quem ironizasse estas iniciativ tanas" têm apenas o objetivo de conservar, fora d o trabalho, um certo
(mesmo fracassadas) e visse nelas apenas uma manifestação hipócrit equilíbrio psicofísico, capaz d e impedi r o colapso fisiológico d o tra-
de estaria se negando qualquer possibilidade de co balhador, coagido pelo novo método de produçáo. Este equilíbrio
precnder a importância, o significado e O nlcame objetiuo d o fenôm só pode ser puramente externo e mecânico, mas poderá se tornar
n o americano, q u e é também o maior esforço coletivo até ago interno se f o r proposto pelo próprio trabalhador e não imposto de
realizado para criar, com rapidez inaudita e com uma consciência fora, p o r uma nova forma de sociedade, com meios apropriados e
objetivo jamais vista na Iiistiiria, um tipo novo de trabalhador e originais. O industrial americano se preocupa em manter a conti-
homem. A expressão "consciêilcia d o objetivo" pode parecer p nuidade d a eficiência física d o trabalhador, d e sua eficiência mus-
menos espirituosa a quem recordar a frase de Taylor sobre o " g o cular-nervosa: é de seu interesse ter um quadro estável de trabalhadores
amestrado". Com efeito, Taylor expressa com brutal cinismo o objeti- qualificados, um conjrinto permanentemeiite harmonizado, j5 q u e
v o da sociedade americana: descnvoIver em seu grau máximo, n o tra- também o complexo humano (o trabalhador coletivo) d e uma em-
balhador, os comportamentos maquinais e automáticos, quebrar avelh presa é uma ~ n á q u i n aque não deve ser excessivamente desmontada
conexao psicofísica d o trabalho profissional qualificado, que exigia u m cotn freqüência o u ter suas peças individuais renovadas constante-
certa participaçzo ativa da inteligência, d a fantasia, da iniciativa d mente sem que isso provoque grandes perdas. O chamado alto salário
trabalhador, e reduzir as operagõcs produtivas apenas a o aspecto fisi- é u m elemerito dependente desta necessidade: trata-se d o i n s -
co maquinal. Mas, na realidade, não se trata d e novidades originais: trumento para selecionar os trabalhadores qualificados adaptados
trata-se apenas d a fase mais recente de um longo processo que come ao sistema d e produção e d e rrabalho e para mantê-los d e modo
çou com o próprio nascimenro do industrialismo, uma fase que é ape estável. Mas o alto salário é uma arma de dois gumes: é preciso que
nas mais intensa d o que as anteriores e se manifesta sob formas mai o trabalhador gaste "racionalmente" o maximo de dinheiro para
brutais, mas q u e também será superada através d a criação de um nov conservar, renovar e, se possível, aumentar sua eficiência muscular-
nexo psicofisico de um tipo diferente dos anteriores e, certamente, nervosa, e não para destrui-la o u danificá-la. E é p o r isso q u e a luta
um tipo superior. Ocorrerá inelutavelmente uma seleção forçada: um contra o álcool, o mais perigoso agente d e destruição das forças de
parte da velha classe trabalhadora será impiedosamente eliminada d trabalho, torna-se função d o Estado. É possível q u e também outras
mundo d o trabalho e talvez do mundo tout court. lutas "puritanasm se tornem funções d o Estado, caso a iniciativa
C A D E R N O S 136 C A R C E R E CADERNO 2 2

privada dos industriais se revele insuficiente OU caso se desencadeie suída [271- Aparentemente, isso faz com que a funsáo sexual se ter-
uma crise de moralidade excessivamente profunda o u extensa en- ne mecânica; mas, n a realidade, trata-se de uma nova forma de u n i áo
O q u e poderia ocorrer em consequên- Sexual, sem as cores "fascinantes" d a fantasia romântica própria do
t r e as massas
=ia d e u m a longa e ampla crise d e desemprego. Uma questáo ligada p e q u e n o - b ~ r g ~ êe sd o boêmio vadio. Revela-se claramelite <lue o
aquela do ~ ~ c o oé la questáo sexual: o abuso e a irregularidade das novo industrialismo quer a monogamia, quer que o honiem-traba-
funções sexuais são, depois d o alcoolismo, OS inimigos mais perigo- lhador não desperdice suas energias nervosas na busca desordenada
sos das energias nervosas e é observação comum q u e O trabalho e excitante d a satisfação sexual ocasional: O operário q u e vai para o
obsessivo" depravação alcoólica e sexual. As tentativas depois d e uma noite d e "orgias" não é um bom trabalha-
feitas por Ford para intervir, com u m corpo d e inspetores, n a vida dor; a exaltaçáo passional 1-150 pode se adequar aos movimentos
privada de seus empregados e para controlar c o m o eles gastava c r o n o m e t r a d ~ sd o s gestos produtivos ligados aos mais perfeitos
os salários e como viviam sáo um indicio destas tendências ainda automatismos. Este conjunto d e constrangimentos e coerções dire-
"privadas" o u latentes, q u e podem se tornar, n u m certo ponto, ideo- tos e indiretos exercidos sobre a massa produzirá certamente resiil-
logia estatal, articulando-se com o puritanismo tradicional, ou seja, tados; e surgirá assim uma nova forma d e união sexual, cujo traço
como u m renascimento d a moral dos pioneiros, d o e fundamental parece dever ser a monogamia e a
americanismo, etc. O falo mais notável do fenomeno tabilidade relativa. Seria interessante conhecer o s resultados esta-
americano com relação a estas manifestações é a separação q u e se cisticos dos fenômenos d e desvio dos costumes sexuais oficialinente
formou, e q u e se acentuará cada vez mais, entre a moralidade-cos- propagandeados nos Estados Unidos, analisados por grupos sociais:
,
t u m e dos trabalhadores e aquela d e outras camadas d a população. de niodo geral, será possível verificar que os divórcios são particu- 1'

O proibicionismo jA forneceu um exemplo desta separação. Q u e m larmentc numerosos nas classes supcriores. :C
consumia o álcool introduzido de contrabando nos Estados Unidos? Esta defasagem d e moralidade, nos Estados Unidos, entre as ,nus- i'

O iíicool tornara-se uma mercadoria d e grande luxo e nem mesmo sas trabalhadoras e elementos cada vez mais numerosos das classes di- (V

os mais altos saliírios podiam permitir q u e fosse consumido pelos rigentes parece ser um dos fenômenos mais interesst~ntese ricos de
mais amplos estratos d a s massas trabalhadoras: quem trabalha por consequências. Até pouco lempo atrás O povo americano era um povo
saiario, com um horãrio fixo, não t e m tempo para dedicar à procu- de trabalhadores: a "vocaç50 laboriosa" ngo era iim traço inerente
ra d o álcool, náo terri t e m p o para dedicar a o esporte d e eludir as apenas às classes operárias, mas era uma qualidade específica também
leis. A mesma observaçáo pode ser feita para a sexualidade. A "caça das classes dirigentes. O faro de que um milionârio continue a ser ati-
à mulher" exige bastante "ócio"; n o operário d e tipo novo se repe- vo até que a doença ou a velhice o obriguem ao repouso e de que sua
tir$ sob outras formas, o q u e ocorre nas aldeias camponesas. A re- atividade ocupe uma parte bastante significativa de sua jornada: eis um
lativa solidez das uniões sexuais camponesas liga-se estreitamente dos fenômenos tipicamente americanos, um dos traços americanos que
ao sistema de trabalho rural. O camponês que volta para casa à noite, mais surpreendem o europeu médio. Observamos anteriormente que
depois de uma f onga jornada d e trabalho, deseja a Venerem facilem esta diferença entre americanos e europeus é dada pela falta de "tradi-
pnrnbilemque de Horácio: não t e m o hâbito d e correr atrás d e pros- Ç ~ O " nos Estados Unidos, na medida em que tradiçiio significa também
titutas; ama sua mulher, segura, sempre presente, que não fará dengo resíduo passivo de todas as formas sociais legadas pela história: nos
nem pretenderá a comédia d a sedução e do estupro para ser pos- Estados Unidos, a o contrário, ainda é recente a "tradiçáo" dos pionei-
CADERNO 22

resposta conclusiva- A pesquisa é difícil, mas as próprias causas dessa força d e trabalho- Parece ser possivel responder que o método Ford é
dificuldade sgo uma resposta indireta. A resposta é dificil porque o "racional", isto é, deve se generalizar; mas, para isso, é n e ~ e s s 5 t -ui m
~
quadro de operários 4~a!ificadosd a Ford é muito instável e, por isso, longo processo, n o qual ocorra uma mudança das condições sociais e
esriibelecer uma média "racional" de demissbes entre os dos costumes e hábitos individuais, o que náo pode ocorrer apenas
áo é
operários da For- para comparar com a média das outras indústrias. através d a "coerçáo", mas somente por meio de uma combinaçáo en-
M~~por que esta instabilidade? Como é possivel que um operário poss tre coação (autodisciplina) e persuasão, sob a forma também de,altos
preferir u m salário "mais baixo" àquele pago pela Ford? N á o signifi salários, isto é, d a possibilidade de um melhor padráo de vida, ou tal-
cará isto que 0s chamados Yaltossalários" são menos convenientes par vez, mais exatamente, da possibilidade de o padrão de vida
reconstituir a força de trabal h 0 consumi da d o que OS salários mais bai adequado aos novos modos d e produçáo e de trabalho, que exigem
xos das outras empresas? A instabilidade d o quadro de trabalhadore um t articular dispêndio de energias muscuIares e nervosas.
demonstra que as condições normais de concorrência en Em medida limitada, mas ainda assim relevante, verificavam-se e ve-
(diferença d e salário) s ó atuam, no que se refere à in rificam-se fenômenos semelhantes àqueles determinados em larga escala
tre 0s
dústrici ~ o r ddentro
, d e certos limites: não atua O diferente nível entre pelo fordismo em certos ramos da indústria ou em estabelecimentos não
salariais e não atua a pressão do exército de reserva dos de- "fordizados". Constituir um quadro orgânico e bem articulado de operá-
sempregado~. Isto significa que se deve procurar, na indústria Ford, rios fabris qualificados OU uma equipe de trabalho especializada jamais foi
algum elemento novo, que será a origem real tanto dos ''altos salários" tarefa simples: ora, uma vez constituídos esse quadro e essa equipe, seus
como dos outros fenômenos referidos (instabilidade, etç). &te elernen- componentes, o u parte deles, acabam por vezes não só se beneficiando
to s ó pode ser buscado nisto: q u e a indústria Ford exige uma especia- com um salário de monopólio, mas também não são demitidos no caso de
liziiçáo, uma qualificação para seus operários que as outras indústrias uma reduçáo temporária da produção; seria antieconômico dispersar os
ainda não exigem, ou seja, uma qualificação de novo tipo, uma forma elementos de um rodo orgânico constituído com esforço, já que seria qua-
de consumo da força de trabalho e uma quantidade d e força consumida se impossivel voltar a agrupa-los, na medida em que a reconstrução deste
no mesmo tempo médio que são mais gravosas e extenuantes d o que todo com elementos novos, aleatórios, custaria tentativas e gastos nho
em outros locais, forma e quantidade que o salário não consegue corn- indiferentes. É este um limite posto à lei da concorrência gerada elo exer-
pensar eein todos os C~SOS, não consegue reconstituir nas condições dada cito de reserva e pelo desemprego, limite que sempre esteve na origem da
pela sociedade tal como é. Postas estas questões, apresenta-se o seguint f o r m a ~ 2 0de aristocracias privilegiadas. Dado que jamais funcionou e náo
problema: se o tipo d e indústria e de organização d o trabalho e da funciona uma lei de equiparação perfeita dos sistemas e dos métodos de
produção próprio da Ford é "racional", isto é, se pode e deve genera- e trabalho para todas as empresas de um determinado ramo da
lizar-se, ou se, a o contrário, trata-se de um fenômeno mórbido a ser indústria, disso resulta que toda empresa, numa determinada medida mais
combatido com a força dos sindicatos e com a iegislaçáo. O u seja: se é ou menos ampla, é "Unica", formando para si um quadro de trabalhado-
possível, com a pressão material e moral d a sociedade e d o Estado, fazer res qualificados com competências adequadas a essa particular empresa:
com q u e os operários como massa sofram todo o processo d e transfor- pequenos "segredos" de fabricaçáo e de trabalho, "truques" que em si
mação psicofísica capaz de transformar o tipo médio d o operário Ford parecem negligenciaveis, mas que, repetidos infinitas vezes, podem ad-
n o tipo médio do operário moderno, ou se isto é impossível, já que quirir uma grande importância econômica. Um caso particular pode ser
levaria à degenerqtçao física e à deterioração da espécie, destruindo toda estudado na organização d o trabalho nos portos, particularmente naque-
cara, j6 q u e obtida 2 custa de um nível de vida
Se o Estado se propusesse impor uma direção econômica por mei
dos trabalhadores industriais e, sobretudo, agrícolas. Se a 1iov.1 cstru-baixo
da qual a produ@o da poupança, d e "funçáo" de uma classe para
tura d o crédito consolidasse esta situa90, ocorreria na realidade uma
tária, passasse a ser funçáo d o próprio organismo produtivo, estes
deterioração: se a poupança Parasitária, graças à garantia estatal, "áo
senvolvimentos hipotéticos seriam progressistas, poderiam fazer pa
tivesse nem mesmo d e passar pelos caminhos gerais d o mercado no,-
de um vasto d e racionaliza@o integral: para isso, seria nec
a p o p r i e d a d e agrícola parasit5ria se refor~aria,por iim Iado, e,
sário promover uma reforma agrária (com a abolição d a renda d a te
por outro, as obrigações indusrriais que geram dividelidos legais certa-
como renda de uma classe n ã o trabalhadora e sua incorporação
mente pesariam sobre o trabalho de modo ainda mais esmagador.
organismo produtivo, como poupança coletiva destinada à recon
tru- e a ulteriores progressos) e uma reforma industrial q u e fizes
todas as rendas decorrerem de necessidades funcionais técnico-ind
5 15. Civi~inçfio nrnericnm e eldropéin. Numa entreviste Corredo
Alvaro (L'ltnlin Letternrin, 14 de abril de 1929), Luigi Piraildello afir-
trlais e não mais serem conseqiiências jurídicas d o p u r o direito
ma: "O americanismo nos arrasta. Creio que lá se acendeu Lim ~i~~~
propriedade.
farol d e civilizaç50." "O dinheiro que corre o mundo é americalio (!?);
Deste conjunto d e exigências, nem sempre confessadas, nas
e, por trás d o dinheiro, corre o modo de vida e a cultura (isto é verda-
ju~tificaçáohistórica das chamadas tendências corporativas, qu
de apenas para a escória da sociedade, e parece que Pir:llidello, e conl
manifestam predominantemente como exaltação d o Estado em ge
como algo absoluto, e como desconfiança e aversão em ta ele muitos ourros, acredita que o 'inulido' inteiro é constituído por estki
escória). A América tem uma cultura? (seria preciso dizer: tctn irr ri li
das formas tradicionais d o capitalismo. Daí se segue que, teoricame
cultura unirhria e centralizada, ou seja, a América é Lima n a ~ á o
do tipo
te, o Estado parece ter sua base politico-social na "gente miiida" e n #E')
francês, alem50 ou inglês?) Tem livros e costunies. 0 s costiirnes s#o
itltelectuais; mas, na realidade, sua estrutura permanece plutocrátic ..
sua nova literatura, aquela que penetra atraves das portas mais t.>rotc-
B
torna-se impossível romper as ligaçóes com o grande capital financ
ro: de resto, 6 o prbprio Estado s e toriia o maior organir @dase defendidas. Em Berlim, não se sentc a diferença entre a e
plutocrático, a hoolding das grandes massas d e poupança dos peque a nova Europa porque a própria estrutura da cidtide não oferece rcsis-
capitalistas. (O Estado jesuíta d o Paraguai poderia ser iitilrneiite me tências (Piriindello hoje não poderia dizer o mesmo e, portanto, deve-
cionada como modelo de muitas tendências contemporâneas [30].) se entendcr que ele se referia à Berlim dos cafés noturnos). Etii P,iris,
Q u e possa existir um Estado que se baseie politicamente, a o me onde existe uma estrutura histórica e artística, ande os testemiinlios
mo tempo, na plutocracia e na gente mi0da iiáo é, de resto, algo inte de uma civilização a~it6ctoneestgo presentes, o americanismo desafi-
ramente contraditório, como o demonstra um pais exempiar, a Fran na tanto como a maquiagem n o velho rosto de uma mundana [ 3 I]."
onde precisamente não se compreenderia o dominio d o capital fina Mas O problema não é saber se na América existe uma nova civili-
ceiro sem a base política de uma democracia de pequenos-burguese zação, uma nova cultura, mesmo que ainda no estado de "f:irol", e se
de camponeses q u e vivem de renda. A França, contudo, por motiv elas estáo invadindo o u já invadiram a Europa: se o problema tivesse
complexos, tem ainda uma composição social bastante sadia, j6 q de ser posto assim, a resposta seria fácil: náo, não existe, etc., e, de
nela existe uma ampla base de pequei-ia e média propriedade agríc resto, o que se faz na América é apenas remoer a velha cultura euro-
Em outros países, a o contrário, os poupadores se separaram d o péia. O problema é este: se a América, com o peso implacável de siia
do da produção e d o trabalho; neles, a poupança é "sociaímente" muit produção econômica (isto é, indiretamente), obrigará ou esta obrigan-

278
CADERNOS 00 CARCERE CADERNO 22

radical de sua estrutura econornico- média, não desejam tomar posição, mas se mantêm LLte~ricamenre
do a Europa a uma resolvendo 0s problemas práticos com o tradicional mérodo
social demasiadamente antiquada, O q u e ocorreria de qualquer modo,
do empirismo e d o oportunismo (cf. as diversas interpretações do
ainda que com ritmo lento, mas que, a o contrário, se apresenta desde
ruralism~,desde a de U- Spirito, que pretende "urbanizar" o cnmpo,
já como uma conseqüência imediata d a "prepotência" americana; ou
até as que tocam a flauta d e Pá) [32].
seja, se está uma transformaçáo das bases materi ais d a civi-
Q u e não se trate, n o caso d o americanismo (entendido não só como
lizaçáo européia, o que a l o n g o prazo (e n ã o muito longo, já que
ida de bar, mas também como ideologia d o Rotary Club), de u m novo
atualmente tudo é mais rápido d o q u e n o passado) levará a uma trans-
tipo de civilização, é algo que pode ser deduzido d o fato de que nada
da forma d e civilização existente e a o nascimento forçado
n o caráter e nas relações dos grupos fundamentais: trata-se de
d e uma nova civi~ização.
d e "nova cultura" e d e "novo modo de vida" que um orgânico e d e uma inten~ifica~lio da ~ i ~ i I i ~ ~
os européia, q u e apenas assumiu uma nova epiderme n o clima america-
hoje se difundem sob a etiqueta americana não passam das primeiras
no. A obsewaçáa de Pirandello sobre a oposição que o .,ericanismo
tentativas feitas As cegas, devidas não tanto a uma "ordem" q u e nasce
encontra em Paris (mas n o Creusot?) e sobre a acolhida imediata que
de uma nova estrutura, que ainda-não se formou, mas 2 iniciativa su-
teria tido em Berlim prova, d e qualquer modo, a diferença riso de lia-
perficial e macaqueadora dos elementos que cornegam a se sentir social-
tureza, mas apenas de grau, em relação a o "europeísmo7'. Em Berlim,
mente deslocados pela ação (ainda destrutiva e dissolutora) d a nova
estrutura em formação. O que hoje é chamado d e "americanismo" é as c1asses médias já haviam sido arruinadas pela guerra e pela inflq50,
e a indóstria berlinense, em seu conjunto, tem características difereli-
em grande parte a critica antecipada feita pelas velhas camadas que
tes da parisiense: as classes médias francesas náo sofreram as crises
serão esmagadas pela possível nova ordem e que já são vitimas d e uma
- onda d e pânico social, de dissolução, de desespero; é uma tentativa de ocasionais, como a inflação aleniá, nem a crise orgânica de 1929 e ss.,
reação inconsciente de quem é impotente para reconstruir e toma como com o mesmo ritmo acelerado registrado na Alemanha. Por isso, ê
ponto de apoio o s aspectos negativos d a transformação. Não 15 d o verdade q u e em Paris o americanismo aparece como um cosmético,
grupos sociais "condenados" pela nova ordem que se pode esperar como irma superficial moda estrangeira.
reconstruçáo, mas sim daqueles que estão criando, por imposição
através do próprio sofrimento, as bases materiais desta nova orde $16. Variedades. Devem ser lembrados alguns livros de Giiglielmo
estes últimos "devem" encontrar o sistema d e vida "original" e não Ferrero sobre a América: quantos dos lugares-comuns criados por
marca americana, a fim d e transformarem em "liberdade" o q u e hoje Ferrero entraram em circulação e continuam a ser usados sem que se
ccnecessidade". leve em conta sua origem? (Quantidade contra qualidade, por cxem-
Este critério - o de que tanto as reações intelectuais e morais a pio, é d e origem ferreriana, que é, portanto, o pai espiritual de toda a
estabelecimento de um novo método produtivo quanto as exaltações tola ideologia sobre o retorno a o artesanato, etc. O livro de Ferrero
superficiais d o americanismo se devem aos detritos das velhas cama- Fra i due mondi deve ser revisto como a bíblia de uma série de banali-
das em decomposição e não aos grupos cujo destino está ligado a um dades das mais gastas e vulgares.)
ulterior desenvolvimento do novo método -é extremamente impor- Sobre O americanismo, deve-se ver o artigo "L'America nella
tante e explica por que alguns elementos responsáveis d a política mo- ietter-atura francese de1 1 9 2 7 , de Étienne Fournol, na Nldovc~A i ~ ~ o l o -
derna, que baseiam sua sorte na organização d o conjunto d a camada gicr d e l0 de abril d e 1928, útil como repertório das banalidades mais
extravagalite= sobre cliiestáo- Fala d o livro de Siegfried e daquele de
~~~i~~ (etil sera le riinifre?); menciona um livro de André Tardieu
(Devailtl.oúsmcbi I'Ai~zériql~e ef sous, Paris, Li brairie Emil Paul) e dois
\ivros de tuc Durtain, um romance, HollylLJ00d dé#fZSsé, e Uma coletâ-
nen de i~ovelcts, Qirarmtièrne étnge, ambos editados pela N.R.F. e que
parecem interessantes 133l.
Sobre o pr-f. Çiegfrred, deve-se notar a seguinte contradição: na p.
35 0 de seu 1 ivro Les Stccts-uni* d>arnjourdh ~ iele , reconhece, n a vida
americana, "o aspecto de uma sociedade realmente (!) coletivista, d
sejado pelas dasses eleitas e aceito alegremente (sic) pela muitidão"
ma,, depois, Siegfried escreve o prefácio para o livro de Philip sobre
movimeiito operário americanoe o elogia, embora tal livro náo de
trc precisamente nem essa "alegria" nem a inexistência d a luta d e
ses na América, mas, a o contrário, dernonsrre a existência d a
descnfrcada e feroz luta d e uma parte contra a outra. A mesma comp
raçáo poderia ser feita entre o livro de Romier e o de Philip. Deve
sublinhar como na Europa foi aceito com muita facilidade (e difun
do com muita habilidade) o róseo quadro de uma América sem fut
internas (atualmente as coisas se esciareceram), etc., etc. Foi assim que
a o mesmo tempo, combateu-se o arnericanismo como subversor d
esragnada sociedade européia, mas apresentou-se a América com
exemplo de homogeneidade social para fins de propaganda e co
premissa ~deoiógi ca para leis de exceção.
CADERNO 1 (1929-1930)

5 98. Lello Cangemi, fl problema della durata de/ /avoro, FlorenSa,


~allecchi,1929, 25 liras. (Da breve resenha de Luigi perla ria 1lnlia
Lettermia de 18 d e agosto de 1929, deduz-se: O problema da joriiada de
trabalho, deslocado para segundo plano depois d o mellioramento d,
condiçóes econômicas que se seguiu ao período de d e p r e s s ~iniciado
~
em 1921, voltou agora B discussão, por causa da crise econômica atliii].
Exame da legislação vigente sobre o assunto nos vários países, trazendo
à luz a dificuldade d e uma regulamentação uniforme. O problema e a
convenção de Washington. D o ponto de vista da organiza( ao científica
do trabalho- As pretens6es teóricas e sociais, que dominaram o proble-
ma, mostraram-se inaplicáveis na ação legislativa prgtica. Contra as ideo-
logias q u e pretenderiam abolir as injustiças sociais e terminam sempre, ao
contrário, por multiplicá-las e torná-las mais perigosas, a prática confir-
mou que a simples redução da jornada de trabalho não pode, por si só (!),
aiwnçar O objetivo de uma maior produtividade e de maiores vantagens
(!) para o rrabalhador. Em vez disso, foi demonstrada a utilidade de r r
tabelecer um limite para o esforço laborativo; este limite náo deve ---
- - qpr

imposto com base em ideologias abstratas, mas deve resultar da coordc-


- - - -

nação racional de conceitos (!) fisiológicos, econômicos e éticos.)

S 105. A filosofia americana. Estudar a posição de Josiah Royce


no quadro da concepção americana da vida. Que importância e que
funçáo teve o hegelianismo nesta concepção? Pode o pensamento
moderno difundir-se na América, superando o empirismo-pragmatismo,
sem uma fase hegeliana [I]?
CADERNOS DO CÁRCERE

CADERNO 2 (1 929-1933) to os países berberes; ela permal-ieceu anárquica por toda a Idade Média
e sua própria civilização morreu quando os espanhóis lhe impuseram
4 45. ~ ~e Ellropn.
~ Madison
é ~
Grant i
(cientista e~ escritor
~ muito seu regime administrativo; os piemoriteses completaram a obra nefas-
famoso), d a Sociedade Biológica de Nova York, escreveu ta dos espanhóis. O único país de língua latina que pode reivindicar a
um livro, uPjm gmii& rnGn e m perigo, n o qual "denuncia" o perigo de herança romana é a França, onde a monarquia esforçou-se por manter
uma invasáo e moral" da América pelos europeus, mas restrin- o poder imperial. Quanto à capacidade de assimilaçáo dos romanos,
ge tal perigo 5 invasão d o s Ymedirerrâneos", OU seja, d o s POVOS que trata-se de uma piada. O s romanos destruíram a nacionalidade a o su-
habitam os mediterrsneos. Madison Grant afirma que, desde o rim ir as aristocracias." Todas essas questões são absurdas, se se pre-
tempo de Arenas e de Roma, a aristocracia grega e romana era forma- tende fazer delas elementos de uma ciência e de uma sociologia política.
da por homeils que vinham d o Norte e somente as classes plebéias eram Resta apenas o material para observações de caráter secundário, que
formadas mediterrâneos. Portanto, O progresso moral e intelectu explica fenômenos d e segundo plano [2].
da humanidade deveu-se aos "nórdicos". Para Grant, os "mediterrã
neos" sao uma raça inferior e sua imigração é um perigo; ela é pior d o 5 57. Te~dêncinscontra as cidades. Recordar no livro de Gerbi sobre
que uma conquista armada e está transformando Nova Iorque e gran- a Politicn del 700 a referência h opiniões de Engels sobre a nova dis-
de parte dos EstadosUnidos numa çloncn geritirm. Esse modo de pen- ~ o s i ç ã oq u e deve ser dada aos aglomerados urbanos 'industriais, mal
çar náo é individual: reflete uma notável e predominanre corrente de interpretadas por Gerbi (que também interpreta mal as opiniões de
opiniáo pública norte-americana, a qual pensa que a influência cxercida Ford). Estes modos de ver náo devem ser confundidos com as tendên-
pelo novo ambiente sobre a massa dos ernigranres é sempre menos cias "iluministas" contra a cidade. Cf. as opiniões de Spengler sobre as
importante do que a influência que a massa dos emigrantes exerce so- grandes cidades, definidas como "monstruosos cremat6rios d a força
bre o nova ambiente, bem como q u e o caráter essencial da "rnistu do povo, cujas mell~oresenergias absorvem e destroem". Ruralismo,
das raças" é, nas primeiras gerações, uma perda d e harmonia (unid etc. [3]
de) fisica e moral nos povos, e, rias gerações seguintes, um lento mas
fatal retorno a o tipo dos variados ancestrais. $, 84. G. E. di Palma Caçriglione, "Corganizzazione internazionale
Sobre essa questão das "raças" e das "estirpes" e d e sua presunção, de1 lavoro e Ia XI sessione della Conferenza internazionale de1 lavoro",
alguns povos europeus s5o tratados na medida de suas próprias pre Ntdovrz A~itologiclde 16 de agosto de 1928.
tensões. Se fosse verdade que existem raças biologicamente superiores,
O raciocínio de Madison Grant seria bastante Historimen- 5 93. Sobre o nmericni~isrno.Roberto Michels, "Cenni sulla vita
te, dada a separação de classe-casta, quantos romanos-arianos sobrevi- universitaria negii Stati Uniti', Nlnovrr Arrtologin, l0de novembro de
veram às guerras e às invasões? Recordar a carta de Sorel a Michels, 1928. Algumas observações interessantes.
N U O VStudi
~ di Diritto, Economia e Politicn, setembro-outubro d e 1929:
"Recebi seu artigo sobre a 'esfera histórica de Roma', cujas teses sáo S 105. "Mente et Mczlleo. " Órgão oficial d o Instituto "M. Fossati",
quase todas contrárias a o q u e longos estudos me mostraram ser a ver- publicado pela Associazione Nazionale Esperti nell'ordinamento della
dade mais provável. N ã o existe país menos romano d o que a Itélia; a Produzione, Turim, Via Rossini, 18, ano I, no 1, 1 0 de abril d e 1929,
Itália foi conquistada pelos romanos porque ela era tão anárquica quan- in-4O, 44-XVI p.
C A DO c Á R~C E R E ~ ~ ~ ~ ~ C A D E R N ~M~I S C E L A N E O S

Boletim técnico quinzenal, propõe-se contribuir para a organiza- É justa a observação de De Michelis de que a agricultura náo so-
ção científica do trabalho OU ordenação racional d a produção em qual- freu com o êxodo: 1) Porque a populaçáo agrãria, em escala intenzricio-
quer campo da indústria, da agricultura, d o comércio. ,uI, não diminuiu; 2) porque a produçáo náo diminuiu, mas, a o
contrário, há superprodu~ão,como o demonstra a crise dos preços dos
5 127. Alfoiiso de Pietri-Tonelli, "Wall Street", Nuoun Antolo* agrícolas. ( N a crise passada, ou seja, eles corres-
p n d i a m a fases d e prosperidade industrial, isso era verdade; mas hoje,
de l0 de dezembro de 1929 (comenta, em termos muito gerais, a crise
a crise agrária acompanha a crise industrial, não se pode falar
da bolsa americana d o final de 1929: será preciso revê-lo para estud
a organizaçá0 financeira americana). de superprodução, mas d e subconsumo.) N o artigo, são citadas esta-
tísticas que demonstram a progressiva extensão da superfície usada para
g 136. Aç6o Católica.Cf o artigo "La durata de1 lavoro", na Civilte o cultivo d e cereais e, mais ainda, daquela usada para o cultivo de pro-
Crzttoficnde 15 de março d e 1930 (do Padre Brucculeri). Defende dutos para as indústrias (cânhamo, algodão, etc.), bem como o aumei~to
princípio e a legislação internacional sobre as oito horas contra Lello da produção. O problema é observado de um ponto de vista interna-
Cangemi e seu livro II problema delln durata del lavoro, Vallecchi, Fl cional (para um grupo de 21 países), OU seja, de divisão internacional
renga, 526 p. O artigo é interessante; o livro de Cangemi é muito be do trabaIho. (Do ponto de vista d e cada nação em particular, o problc-
criticado. É interessante q u e um jesuíta seja mais "progressista" d o que ma pode mudar e consisre nisto a crise atual: ela é uma resistência re-
Cangemi, que é bastante conhecido na política econômica italiana atuaf acionária às novas relaçóes mundiais, à inrensificaçao d a importgnciii
como discípulo de De Stefani e de sua particular tendência n o campo do mercado mundial.)
da política econômica 141. O artigo cita algumas fontes bibliogrsficas: seria necessário reve-
Io. Termina com um erro colossal: segundo De Michelis, "a formaç50
$ 137. Cidade e campo. Giuseppe D e Michelis, "Premesse e das cidades nos tempos remotos consistiu tão-somente na lenta e pro-
contributo a110 studio dell'esodo rurale", Nzkova Antalagin, 1 6 d e ja- gressiva separaçáo entre o artesanato e a atividade agrícola, com a qual
neiro d e 1930. Artigo interessante de muitos pontos d e vista. D e era iniciarmente confundido, para depois tornar-se uma atividade dis-
Michelis formula o probleina de modo muito realista [5]. O q u e é O tinta. O progresso das próximas decadas consistira, graças sobretudo
êxodo rural? Fala-se dele h á duzentos anos e a questão jamais foi for- ao incremento da força elétrica, em trazer de volta o artesanato para o
miilada em termos econ6micos precisos. campo a fim de reconectá-10, com formas modificadas e com procedi-
(Também D e MicheIis esquece dois elementos fundamentais da ques- mentos aperfeiçoados, ao trabalho propriamente agrícola. Nesta obra
táo: 1)as lamentaçóes em face d o êxodo rural têm uma de suas razões nos redentora do artesanato rural, a Itália se prepara para ser, mais uma
interesses dos proprictirios, que vêem os salarios se elevarem por causa vez, precursora e mestray'. D e Michelis confunde muitas coisas: 1) a
da concorrência das indústriris urban.as e por causa da vida mais "legal", rearticulação d a cidade com o campo não pode ocorrer com base no
menos exposta aos arbítrios e abusos que sáo a trama cotidiana da vida artesanato, mas somente com base na grande indústria racionalizada e
rural; 2) para a ItAlia, não menciona a ernigraçáo dos camponeses, que é a estandardizada. A utopia "artesanal" baseou-se na indústria têxtil: su-
forma internacional d o êxodo rural para países industriais e é uma crítica punha-se que, com a possibilidade (que se verificou) de distribuir energia
real d o regime agrário italiano, na medida em que o camponês vai ser elétrica à distância, tornar-se-ia possível dar à família camponesa o tear
camponês em outro lugar, melhorando seu próprio padrão de vida.) mecânico moderno movido eletricamente; mas hoje um único operá-
DO5 CADERNOS MISCELÂNEOS

rio, ao que parem, é c a p a de pôr em movimento 24 teares, O que colo na racionalização e n o taylorismo criou uma nova e original qualifica-
novos problemas de concorrEncia e a necessidade d e grandes capitais çáo psicotécnica e q u e os operários que possuem esta qualificaçáo náo
bem como de o r g a n i z a ~ ágeral, ~ que a família Camponesa não pod apenas são poucos, mas estão ainda em formaçáo, motivo pelo qual os
resolver; 2) a utilizaçá~industrial d o tempo q u e O camponês deve pe "mais preparados" são disputados com a oferta de altos salários; isto
manecer desocupado (este é O problema fundamental d a agricultura confirma a lei d a "oferta e d a procura" n o terreno salarial. Se a afirma-
çáo de Lanino fosse verdadeira, seria impossível explicar o elevado grau
moderna, que coloca O camponês em condições de inferioridade ec
áo cidade, q u e "pode7' trabalhar o ano inteiro) de turnover d o pessoal empregado, ou seja, o fato de que muitos ope-
nômica em
rários renunciam aos altos salários d e certas empresas por salários
pode ocorrer numa economia planificada, muito desenvolvida, cap
menores de outras. Isto é: não só os industriais renunciariam à lei d a
de se libertar das flutuaçóes remporais d a venda, que já se verificam
que levam também a indústria a conhecer períodos de ociosidade; 3) oferta e d a procura, mas também os operários, o s quais, por vezes,
permanecem desempregados, renunciando aos altos salários. Enigma
grande concentração d a indústria e a produção em série d e peça
intercambiáveis permitem transportar partes d a fábrica para o camp a o qual Lanino evitou cuidadosamente dar uma resposta. Todo o arti-
d e s c ~ n ~ e s t i o n a n daogrande cidade e tornando a vida industrial rn go se baseia nesta incompreensão preliminar. N ã o é de surpreender o
higiênica. Não é o artes50 q u e voltara para o campo, mas, a&ontr fato d e q u e o s industriais americanos, a começar por Ford, tenham
rio, o operário mais moderim e estandardizado. afirmar que se trata d e uma nova forma de relações: eles
buscam obter, além dos efeitos econômicos dos altos salários, também
5 138. América. No número de 1 6 d e fevereiro de 1930 d a N u o efeitos sociais d e hegemonia espiritual, o que é normal.
Antologia, são publicados dois artigos: "Punti di vista sull'hmerica:
Çpirito e tradizione americana", d o Prof. J. E Rice (Rice, em 1930, 5 139. Mario Gianturco, "La rerza sessione marittima della Con-
designado pela Italy-Americn Soçiety de Nova Iorque para pronunci ferenza Internazionale de1 Lavoro", Nldovr~Anrologin, 16 d e março de
o ci CIO anual de conferências criado ela F u d ~ ç ã oWesringhouse co 1930. (Resume também o s pontos das reuniões anteriores dos maríti-
o objetivo de intensificar as relaç6es entre a América e a Itália), u mos; interessante e útil.)
artigo d e pouco valor; e "La rivoluzione industriale degli Stari Uni
d o engenheiro Pietro Lanino, interessante d o seguinte ponto d e vis S 143. Maria Pasolini Ponti, "Intorno all'artc industriale", N ~ o v n 3
'I
por mostrar que um conceituado publicista e teórico d a indústria i Antologia, 1"de julho d e 1930. 4
'I
liana nada compreendeu d o sistema industrial capitalista americano 1
(Em 1930, Lanino escreveu também uma série d e artigos sobre a i I
dústria americana na Rivista d i Politica Econornica, publicada pelas so
J
I
cicdades anônimas.) Desde o primeiro parágrafo, Lanino afirma qu CADERNO 3 (1930) 1
i-.
na América ocorreu "uma inversão completa dos que até agora havi
am sido os critérios econômicos fundamentais da produção industria S S. América. São latinas a América Central e d o Sul? E em que consis-
Abandonou-se a lei d a oferta e d a procura na fixação dos salários. te esta Iatinidade? Grande fracionamento, que não é casual. O s Esta-
custo de produção foi reduzido, apesar d o aumento dos salários". N a dos Unidos - que são concentrados e que buscam, através da política
foi abandonado: Lanino não compreendeu que a nova técnica basead de imigração, não s ó manter mas ampliar esta concentraçáo (que é uma
ea
? necessidade econemica
e politica, como o demonstrou a luta interna
Os
e tendem a criar um nacionalismo e uma cultura própri-
Influência italiana, marcada pelo caráter social da emigração itali-
> elitre as várias
para influir sobre a direggo d o governo
o demonstra a influência d o eltmento na- por Outro ladO~ em nenhum país americano 0s italianos são a raça
) n a pol irica da guerra, como hegemônica.
e politica dos operários, etc.1 - exer-
ciona] na organizaçáo
) cem u m grande peso n o sentido de manter esta desagregação, 2 qual Um artigo de Lamberti Sorrentino, "Latinit& dellYAmerica", na ltafia
buscam sobrepor uma rede de organizações e movi mentes guiados Por Lerferoria de 22 de de2embro d e 1929. ' A repúblicas
~ sul-americanas
são latinas por causa d e três fatores principais: a língua espanhola, a
3 eles: Unigo pan-Americma (política estatal); 2) ~ o v i m e n t omissio- predominantemente francesa, a contribuição étnica predomi-
) nário para substituir o catolicismo pelo protestantismo; 3) o ~ o s i ç á o5 nantemente (!) italiana. Este último é, dos três, o fator mais profundo
) Federiiç;io d o ?iabnlho de Amsterdá e tenrativa de criar uma união Pari-
do trabalho (ver se existem também outros movimentos e e precisamente porque confere a nova raça que se forma o
3 iniciativas desse tipo); 4) organizaçSo bancòria, industrial e d e crédit caráter latino (!)i e, na aparência (!), 6 o mais fugaz porque, já na pri-
1 que se estende por toda a América (Este é O primeiro elemento-) meira gerasá0, perdendo 0 que tem de original e próprio (nada disso
A América do Sul e Central são caracterizadas: 1)por um númer faz sentido!), a~limata-seespontaneamente ao novo ambiente geogra-
3 ficoe =cjal." Segundo Sorrentino, espanhóis, franceses e italianos têm
apreci;ivel de índios que, embora passivamente, exercem uma i n f l u h -
) sobre o Estado: seria Útil obter informaçóes sobre a posiçao social um interesse em conservar (!) a língua espanhola, instrumento
J destes índios, sobre sua import5ncia econômica, sobre sua participa- Para a f o r m a ~ á od e uma profunda consciência latina, capaz de resistir
aos desvios (!) que arrastam 0s sul-americanos para a confusáo (!) e o
) G-o ila agrhria e na industrial; 2) as raças bran-
dominam na América Central c d o sul náo podem sc vincular caos- O diretor d e um periódico literário ultranacionalista da ~ ~ ~ ~
que na (0 país mais europeu e latino da América) afirmou que o homem
a européias que tenham uma grande função econômicaehistó-
) . - ~ ~ ~ ô ~ i ~O~
argentino 'fixará seu ripo I a t i n ~ / a n ~ l ~predominante79.
rlC23. - portugal, Espanha (ItAlia) -, comparável àquela dos Estados
) Uiiidos; em muitos Estados, elas representam uma fase semifcudal mesmo escriror, que se autodefine Uargentino cem por centoyj, dine
ainda mais explicitamente: =Quanto aos norte-americanos, cujo país
) jesuítica, pelo que se pode dizer que todos OS Esrados d a América Ce
cial e do sul (com exceçáo talvez d a Argentina) têm de atravessar nos deu a base const~zucionafe educuciorzal, deve-se dizer daramente
) que nós nos sentimos mais próximos deles (pela educaçgo, pelos gos-
fase da K,~Z~itr&mpf c d o advento do Estado l a i a moderno (a luta
1 México coiltra o clericalismo é u m exemplo desta fase)- A difusão tos, pela maneira de viver) d o que dos europeus e dos espanhõis
) cultura francesa liga-se a esta fase: trata-se da cuttura rnaçenic europeus, como gostam de se definir estes últimos; e jamais tememos
o chicote dos Estados Unidos." (Refere-se 5 tendência espanhola a
participam até mesmo muiros operáriosJ que, apesar disso, definem-se considerar 0s Pireneus como uma barreira cultural entre a Europa e o
como anarcossindica1istas. Contribuiçáo das varias culturas: PortugaL mundo ibérico: Espan ha, Portugal, América Central e d o Sul e Marro-
Franga, Espanha, Itália. Questáo d o nome: América Latina, ibérica ou COS. Teoria d o iberismo - ibero-americanismo, aperfeiçoamento do

) hispânica? Franceses e italianos usam "latina"; portugueses, "ibéricd'; his~anismo- hispano-americanismo.) O iberismo é antilatino: as re-
espanhóis, "hispânica". De fato, a maior influência é exercida pel públicas americanas deveriam voltar-se somente para a Espanha e Por-
) tugal. (Puros exercícios de intelectuais e de grandes decadentes que não
Frãnga; as outras três naçóes latinas têm escassa influência, apesar d
) língua, já que essas nações americanas surgiram em oposição 2 ~ s p a n h querem se convencer de que hoje contam muito pouco.) A Espanha
1
CADERNOS 00 C Á R C E R E DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

de poeta o u um grande pintor an~ericano.A mentalidade americana é


faz grandesesfoiSOs para reconquistar a América d o Sul em todos o
campos: çultiiral, comercial, industrial, artístico. (Mas com q u e resul- essencialmente prática e técnica: disso resulta uma sensibili-
dade para a quantidade, o u seja, para as cifras. D o mesmo modo como
tados,) A hegemoiiin cultural da França está ameaçada pelos anglo
o poeta é sensível às imagens e o músico aos sons, o americano é sen-
saxres: existem um Instituto Argentino de Cultura Inglesa e um Institut
sível aos números. - Esta tendência a conceber a vida como fato téc-
Argentino de Cultura Norte-Americaiia, organizações riquissimas e
nico explica a própria filosofia americana. O pragmatismo deriva
atuantes: ensinam a lingua inglesacom grandes facilidades para os a1
precisamente dessa mentalidade que não valoriza nem capta o abstra-
nos, cujo número é cada vez maior, e com programas muito eficie
to. James e, mais ainda, Dewey sáo os mais genuínos produtos desta
de intercâmbio universitário e científico. A emigração italiana e es
inconsciente necessidade de tecnicismo, que faz com que a filosofia seja
nhola errA estagnada; cresce a emigração polonesa e eslava. Sorrent
subsrituida pela educação e que uma idéia abstrata náo tenha valor em
desejaria uma frente única franco-ítalo-ibérica para manter a cult
si mesma, mas somente na medida em que possa se traduzir em ação.
latina.
('A pobreza de imaginação d o povo romano levou-o a conceber a di-
5 26. Anzéric~e Europn. Em 1927, a Organização Internacion vindade como umãenergia abstrata que só se manifesta através da ação';
cf. Romrr capta.) E, por isso, a América é a terra típica das igrejas e das
do Trabalho, de Genebra, publicou o s resultados de uma pesquisa
escolas, onde a teoria se insere na vida."
bre as relações entre patrões e operários nos Estados Unidos: L
rélcttions indt~striellmnlAx É t n t s - ~ n i s Segundo
. Gornpers, os objetivo Parece-me q u e a tese de Macchioro é um chapéu que cabe em to-
finais do sindicnlismo americano consisti ri arn na instituição progressi das as cabeças.
va de um controle paritário, que se estendesse de cada fábrica a o co
junto d a indústria e q u e culminasse numa espécie d e parlamen
organico. (Ver a forma que assume, nas palavras de Gornpers & Cia
CADERNO 5 (1 930-1 932)
a tendência dos operários 2 autonomia industrial [ 6 ] . )
$ 2 . l<otrrry Chb. Acitude contraria, ainda que com algumas cautelas,
dos jesuítas d a Civilta CattoEica. A Igreja como tal ainda não tomou
CADERNO 4 (1930-1932) uma posição sobre o Kotary Club. O s jesuítas criticam o Kotary por
suas ligações com o protestantismo e a maçonaria: vêem nele um ins-
$ 7 6 . Vittorio Macchioro e n América. Vittorio Macchioro escreveu u trumento d o americanismo e, portanto, n o mínimo, d e uma rnentali-
livro: Rorna capa. Saggio irrtorno nlla religione romann, E d G. Princíp dade antieatólica. O Rotary, contudo, não quer ser nem confessional
Messinà, cuja construção é inteiramente baseada na "pobreza d e ima nem maçônico: todos podem ingressar em suas fileiras, sejam maçons,
naç" d o povo romano". Viajou para a América em 1930 e enviou a1 protestantes ou católicos (em alguns lugares, houve adesões até dos
mas reportagens para o Mattirzo d e Nhpoles; a primeira delas (de arcebispos católicos). Parece que seu programa essencial é a difusão d e
março) tem o seguinte tema (cf. ItnEia Letteraria d e 16 de março um novo espírito capitalista, ou seja, a idéia de que a indústria e o co-
1930): "O americano não tem fantasia, não sabe criar imagens. mércio, antes de serem um negócio, são um serviço social, ou, mais pre-
creio que, fora da influência européia (!), possa surgir jamais um gra cisamente, d e que são e podem ser um negócio na medida em que são
7 .PADERNOS DO CÁRCERE 'os CADERNOS M I S C E L Ã N E O ~

J
O Rotary gostaria que fosse superado de servir a o prÓximo. Esta filosofia é a filosofia do serviGo:
J um YserviçO,,.Em outras
7 o ucapitalismo selvagem* e que se instaurasse um novo costume, mais dor de si antes de Pemar em si, baseada n o seguinte principio moral:
favorável ao desenvolvimento das forças econômicas. A exigência ex- quem serve mezborgflflba ní!tZis." O mesmo congresso decidiu que to-
) manifestou-se recentemente, na América, de ~ o d o dos Os do RotarY devem aceitar, '<semjuramento secreto, sem
pressa pelo
bastante intenso; na ~ n ~ l a t e r rcontudo,
a, ela já havia sido superada, atra- dOgma nem fé, mas cada um a seu modo, esta filosofia rotariana do
) vés da cria@o de uma certa média de "honestidade" e "lealdade" nos servi~Oy" A Civiztà cattoljcn transcreve o seguinte trecho do comen-
negócios Por que foi precisamente O Rotary que se difundiu fora da dador MercuriO, um rotariano, publicada em I I R ~ p.~ 97-98, ~ ~ ~mas ,
América? por que isso não ocorreu com uma das outras tantas formas de a referência é precisa (não sei se Mercurio é italiano e se 11 R~~~~
associaçgo que lá existem e que constituem uma superação das velhas 6 uma ~ u b l i c a ~ áitaliana,
o como o é Realtà, dirigida por Bevione):
> formas religiosas positivas? A causa deve ser buscada n a própria Ameri- por assim dizer, a honestidade num in-
e se
3 ca: talvez isso tenha ocorrido porque o R o t a r ~organizou a Campanha aquela nova figura d o homem de negócios que sabe
open sbop e, portanto, pela racionalizaçso [A.
3 peloExtraio associar, em todas as atividades profissionais, industriais e comerciais,
algumas informações do artigo "Rotary Club e massoneria" seu interesse pessoal com o interesse geral, o qual é, n o fundo, o ver-
3 (Ciuijt&Cnttolicn d e 21 de julho d e 1928): dadeirO e grande objetivo de toda atividade, já que cada homem que
3 O Rotary, criado como associação nacional em 1 910, constituiu-se atua 'Om honestidade, mesmo que O faça inconscientemente, serve
) como internacional mediante uma dotação de capital sobretudo a o bem-estar geral.'>
fundo perdido, feita de acordo com as leis do estado deIilinois+O Pre- O caráter predominante dado pelo Rotary 3 atividade
sideilce do Rotary Iriternacionai é Mister H a r r Rogers. O presidente vela-se em outras citações truncadas e alusivas da c j d t 2 ~ i ~ N~ ~ ~ l j ~ ~
3 dos italianos é Felice Seghezzã. 0 Osser~afore Romano e a Ki- Programa do R o h r y : "f- --I Um Rotary club 6 um grupo de homens de
) buna aventaram o problema dc saber se O Rotary e uma organiza~ão negócio e de profissionais liberais, a s quais, sem juramentos secretos
liem d"gmas ou credos, --]aceitam a filosofia do serviço." Publica-se
) maçônica. Seghezza enviou uma carta (Tribuna, 16 de fevereiro de 192
[a

protestando e declarando infundada qualquer suspeita; a p i b u r ~c, um ~nnzdflrioitaliano d o Rotary, em Milão, pela soe. h.coop. ~~11
) Rotar~"-Saiu, pelo menos, O Annuario de 1927-1928-
rnentando a carta, escreveu, entre outras coisas: "Sáo [.-"Ias incertez
3 de todas as organizações internacionais, as quais frequentemente Filippo Tajani, n o C0mk-z delln Sera d e 22 de junho de 1928, es-
uma aparência perfeitamente inócua e legítima, mas podem t creveu que o Rotary está entre "as instituições internacionais que vi-
> assumir substâncias bem diferentes. A seção italiana d o Rotar
inteiramente isenta d e maçonaria e de pleno acordo COm
sam, ainda que pela via da negociaçgo, à soluGáo dos problemas
econômicos e industriais comuns". Dos 2.639 clubes rotarianos exis-
Regime; maç isto não significa que, em outros lugares, o Rotary ná tentes (no n-m-nento da publicação d o artigo), 2.088 estavam nos &ta-
) seja diferente. E se é, e outros o afirmam, não podemos nem devem Unido5254 na Inglaterra, 8 5 n o Canadá, 18 na Itália, 13 na França,
ignord-10." 1 na Alemanha, 13 n a Espanha, 1 0 na Suíça, 2 0 em Cuba, 1 9 n o Mé-
O "rCódigomoral rotariano". N o congresso geral realizado em St xico, 15 na Austrália e muito menos em outros países. (O Rotary Clu-
1 Louis, em 1928, foi aprovado o seguinte princípio: "O Rotary é fu be não pode ser confundido com a maçonaria tradicional, sobretudo
3 damentalmente uma filosofia davida que busca conciIiar o eterno c0 com a dos países latinos. Trata-se de uma superaçáo orgânica da maço-
) flito existente entre o desejo d o ganho ~ e s s o ael o dever e o conseqüente naria e representa interesses mais concretos e precisos. Característica
\
DOS CADERNOS MISCELÂNEOS
CADERNOS DO CÁRCERE 3
benefícios com isso, tornando-se intermediária d o comCrcio ameri-
fundamental da maçonaria é a democracia pequeno-burguesa, o lai- c a n o - a s i á t i ~ ~etc.
, FriseliaVella está convencido d a fatal Iiegemonia 7
,-ismo, o anticlericslismoy etc- O Rotary é organização das classes alras mundial d a América, etc. -?
e só se dirige ao povo indiretamente. E um tipo de organizar? essen-
cialmente moderna. Que existam interferências entre a ~ ~ ç o n a rei Oa
9 60. "La sdiiavitù de1 lavoro indigeiio" (de A. BruccuJeri), na
~~t~~~ é possível e provável, mas não é essencial: O Rotary, a o se de- civiltii Cnttolica de 2 de fevereiro de 1929. Resume as quesróes rela-
senvolver, tentara dominar todas as outras organizaçóes, até mesmo a Uvas a o estado de escravidão ainda existente em vários países (Abissinia
Igreja Católica do mesmo modo como, na América, domina certamente Nepal, Tibete, Hedjaz, etc.); 2 condição escrava das rnulileres nos
todas as igrejas protestantes. É claro q u e a Igreja Católica não poder ses onde existe poligamia; a o fyflbnlho forçado a que sáo submetidos
ver ~ ~ ~ f i ~ i ~ lO~Rotary
e n t ecom
" bons olhos, mas parece dificil qu
os nativos em muitas colônias (por exemplo, na África Central frsnce-
assuma diante dele uma atitude semelhanre à adotada contra a maço às formas d e escravidão ou servidão da gleba determinadas em
naria: deveria e n t h posicionar-se contra o capitalismo, etc. O dese paises pelas dívidas e pela usura (a "peonagem" na América;
volvimento d o Rotary é interessante sob muit0.s aspectos: ideológic América Central e d o Sul; India). (Este fato ocorria, e talvez ainda
práticos, organizativos, e t c Mas é preciso ver se a depressão econbm ocorra, com o s emigrantes italianos para a América d o Sul: para ter a
americana e mundial náo dará um golpe n o presrigio d o arnericanismo viagem paga, umas poucas centenas de liras, o emigrado trsb.illia de
e, por conseguinte, do Rotary. graça durante um certo tempo.) NOS casos de usura premeditada, a
divida não se extingue nunca e a servidso passa tambem de gcra<;;io
5 4. Siiirrt-simonismo, moçonaria, Rotilry Cliib. Seria interessant em geraçSo. Trabalho das crianças e das mulheres nas fhbricas cliiiie-
uma pesquisa sobre os seguintes nexos ideológicos: as doutrinas
sas. N o artigo, há uma certa bibliografia, particularmente sobre a es-
americanismo e o saint-simonismo rêm, indubitavelmente, muitos po
cravidão.
tos de contato; mas, a o contrário, parece-me que o saint-simonis
influiu pouco sobre a m q o t ~ a r i a ,pelo menos n o que se refere a o n
$ 61. Rotary Clrnb. Cf., na Civiltn Ciiltoliçrr d e 16 de fevereiro
cleo mais importante d e suas concepçóes: já que O positivismo deri
de 1929, o artigo "Ancora Rotary Club e Massoneria". O s argiimen-
do saint-simoiiismo e o positivismo foi um momento do espírito ma
tos dos jesuítas para advertir contra o cardter maçônico d o Rotary
çônico, haveria um contato indireto. O rotarianismo seria u m moder
sáo esgotados lieste artigo. A "suspeita" é de dois graus: 1) que o
n o saint-sirnonismo de direita.
Rorary seja uma autêntica emanaçáo da maçonaria tradicional; 2)
5 8 . A América e o Mediterrdneo. Livro d o Professor G. Fri que o Rotary seja um novo tipo de maçonaria. A estes dois motivos
Vella, I I traffico fra America e I'Oriente nttraverso il Mediterra ligam-se outros d e carater subordinado: 1)que, de qualquer modo,
Sandron, Palermo, 1928, XV-215 p., 15 liras. O p o n t o d e parti a maçonaria tradicional serve-se astuciosamente d o Rotary, apro-
de Frisella Vella é "siciliano". Já q u e a Ásia é o terreno mais a d veitando-se d a ingenuidade e d o agnosticismo dos rotarianos; 2) O
q u a d o para a expansão econômica americana e a América se c o caráter ccagnóstico", d e indiferença ou d e tolerância religiosa d o
nica com a Ásia através do pacífico e d o Mediterrâneo, a Eur Rotary é, para o s jesuítas, um defeito tão grave que os induz a de-
não deve opor resistência a q u e o Mediterrâneo se transforme nu monstrar hostilidade e a tomar atitudes d e suspeira e d e ~ o l ê m i c a
grande artéria do comércio América-Ásia. A S icília obteria gran (esthgio preparatório q u e poderia terminar com a condenaçao d o
1
7
C A D E R N ~D ~O CÁRCERE
3 C A D E R N M
~ I~ S C E L Ã N E Q ~

> Este segundo motivo ainda não deu l%ar a uma


) Rotari pela náo navega em nosso mesmo barco..;
prelúdio de u m a ccexcomunháo", Porque 0 s jesuf- R o t a r ~Possivel na Itália";
R~~~~~deles C o Iinico
campanha im pouco diferente, mais u m
? tas sao obrigados a distinguir e n t r e países de maioria católica e pa- P , ~ q u ~e u m "suas atividades sáo atualmente dirigidas
3 .Ises de maioria náo católica Nestes últimos, eles pedem a tolerância 'Om propósitos m u i t o
(eh, eh! -
exclama o articulisrn da
sem a qual não poderiam se difundir: sua posição "ofen- Ciuilfíi Cdltolica), mas seu objetivo é igual ao nosso...m; .cen,bOra
de instituições amorfas nas quais possa parecer insólito e diferente, há sempre uma boa raz;io para
) siva,, aliás, requer a
possam se inserir a fim d e conquistá-las. Ao contrário, nos países que ele seja assim". "De qualquer modo, o S , L~~~~~~~tem a im-
católicos, a posição "defensiva" exige a luta sem tréguas contra as pressso de q u e 0s rotarianos itaiianos", apesar de etc., etc., 'cs.ío os
) instituiç6es amorfas, q u e oferecem terreno favorável aos n ã o cat6- homens q u e estão construindo a It&fiamoderna.,y
em geral. A fase atual d a atitude dianre d o Rotary é: d e o f e
3 li
siva ideológica sem sanções práticas de caráter universai (excomunh 5 105. Americariisnzo. Cf. CarIo ~ i n a t i u, ~ a b b i t t i l mon-
) ou outra forma atenuada de proibiçáo) nem mesmo nacional, mas do", naN[*oun Anrologia de 16 de outubro de 1929. ~~~i~~
3 sb de caráter (em algumas dioceses - c o m o numa ~ S P mas precisamente por imo significativo como expressáode
opi-
) nho,a, por exemplo - o bispo tornou posição contra 0 R o t a r ~ ) niáo média. Pode servir exatamente para determinar o
pensam
A ofensiva ideológica baseia-se nos seguintes pontos: 1) 0 Rota sobre 0 americanisrno OS pequenos-burgueses mais inteligentes. O :Ir-
7 2) em muitos paises rem ótimas relações com
) rem tigo é uma variação do livro de Edgard Anse] Mowrer, ~ ~ i
a maçonaria; 3) em alguns lugares adotou urna posição abertamen- W0rldJque Linati julga "verdadeiramente agudo, rico de ideias e
3 te hostil a o catolicismo; 4) a moral rotariana não passa de um dis- t0 com uma agradável concisáo, entre o clássico c o briital, por
) farte d a moral laica maçônica. pensador a0 qual náo faltam nem o espírito de observaçáo, nei,l o se,,-
O problema da dos jesultas diante d o Rotary complica- tido dos matizes históricos, nem a variedade dc
3 se por causa das condiç(jes italianas: O Rotary 6 permitido na Itália*
M~~~~~re-
constrói a história cultural dos EstadoçUnidos ate a ruptura do cordao
? enquanto a maçonaria é ilegal; afirmar de m o d o taxativo q u e o umbilical com a Europa e O advento d o americanismo.
Rotary 6 um disfarce o u u m instrumento da maçonaria levaria a c Seria interessante analisar os motivos d o grande sucesso obtido por
) seqaSnciaç de caráter judicial. De resto, OS rotarianos iniciaram Bflbbilt na Europa [9]. Não se trata de um grande livro: e construído
vida italiana sob o patrocínio de eminentes pe~sonalidades:um de modo esquernático e seu mecanismo 6 excessivamente óbvio. Tem
primeiros rotarianos foi o principe herdeiro, conhecido por suas uma importância mais cultural d o q u e artística: a crítica dos costumes
1 tendências católicas e devotas. Ademais, por reconhecimento dos predomina sobre a arte. Q u e na América exista uma corrente litcrãria
) rotarianos estrangeiros, o ~ o t - a r italiano
y tem de qual quer modo um realista que parte da crítica dos costumes E um fato cultiir~lmuito
carater particular, ligado 5 situação local. A Ciuilth Cnrtolico trans- importante: significa que a autocrítica se difunde, ou seja, que nasce
)
creve alguns trechos de um relatório de Stanley Leverton, ~ u b l i c a uma nova civiIizaçáo americana consciente de suas forças e de suas fra-
1 - depois de uma visita aos cIubes d a Itália, patrocinada elo Rotar quezas: os intelectuais se afastam da classe dominante para unirem-se
Internacional - em The Rotnry Wbeel, órgão oficial do Rotary br ela de modo mais íntimo, para serem uma verdadeira superestrutura
) tânico, e transcrita n o niímero de agosto de 1928, p. 3 17, do órgáo não apenas um elemento inorgânico e indi ferenciado da estrutura-
italiano I1 Rotnry: "tem-se a impressão de que, na Itália, o Rotar
)
1 300
> 301

1
osiiirelectuais europeus já perderam em parte esta funç50: não
representam mais a autoconsciência cultural, a autocritica d a classe do- § 49. Arnericnnismo. Ajrda hbbitt. 0 pegiieno-burguês europcii de
minante; voltaram a ser agentes imediatos da classe dominante ou, Babbitt e, portanto, ri da América, que seria hiibitsda por 120 iiiilliões
entáo, afastaram-se inteiramente dela, formando uma casta em si, sem de Babbitts- O pequeno-burguês náo pode sair de si mesmo, conl-
na vi da nacional popular. Eles riem d e Babbitt, divertem-se com preender a si mesmo, assim como O imbecil ngo pode compreender
sua mediocridade, com sua ingênua estupidez, com seu modo d e pen- que é imbecil (o q u e demonstraria que é um llomem inteligeiite); por
sar destituído de originalidade, com sua mentalidade estandardizada. isso, sáo imbecis OS q u e náo sabem que o slo, e s:io pcqiieIios-biirgiie-
Nem sequer colocam o problema d e saber se existem Babbirts na Eu- ses os filisteus que náo sabem que 0 sáo. O pequeno-burguês europeu
ropa. A quesráo é que na Europa o pequeno-burguês estandardizado ri d a peculiar vulgaridade americana, mas náo se dá collta de sila pró-
mas sua estandardizaçáo, e m vez de ser nacional (e d e uma gran- pria vulgaridade; não sabe que é o Babbitt eiiropeu, iiiferior ao Eabbitt
de corno os Estados Unidos), é regional, local. O s Babbitts eu- d o romance d e Lewis na medida em que este procure escapar, deixar
ropeus sho de um nível histórico inferior a o d o Babbitt americano: são de ser Babbitt. O Babbitt europeu náo luta contra sua própria vulgdri-
uma fraqueza nacional, a o passo que O americano é uma força nacio- dadç, mas nela se sublima; e crê que seu verso, seu coax;tr de s.ipo
nal; são mais pirorescos, porém mais estúpidos e mais ridiculos; o seu atolado 110pântano é um canto de rouxiliol. Apçsar de tiido, B;ibbitt i-
conformismo gira em t o r n o de uma superstiçáo apodrecida e debili o filisteu de um país em movimento; o pequeno-burgilês eiiropeu 6 o
tadora, enquanto o conformismo de Babbirt é ingênuo e espontâneo filisteü de países conservadores, que npodrecem n o prinrnno do 1iig.ir-
gira em torno de uma siiperstiçáo dinâmica e progressista. Para Linati comiim d a grande tradiçáo e da grande cultura. O filisteu eiiropeii ci cre-
Babbitt é "o protótipo d o industrial americano moderno"; mas, n
dita ter descoberto a América com Cristóvão Colombo e quc Babbitt é
verdade, Babbitt é um peq~ieno-burguês,c sua mania mais tipica é a d
um boneco para seu divertimento de homem marcado por milEiiios de
w tomar amigo dos "industriais modernos", d e ser igual n eles, de os
história Contudo, nenhum escritor europeu conseguiu representar o
tenrnr sua "superioridade7' moral e social. O industrial moderno é
Babbitt europeu, isto 6, revelar-se capaz de autocritica: vrecisan~eiirr-
modelo a ser atingido, o tipo social que deve ser imitado, enquan . --
por isto, é jmbecil e fiIisteu, só que não sabe que o é.
para o Babbitt europeu o modelo e o tipo são dados pelo cônego
Catedral, pelo nobrezinlio de província, pelo chefe de seçáo d o Minis
tério. Deve-se notar esta falta de crítica dos intelectuais europeus S 123. Passado e presenfe. Observaçóes sobre a. crise de 1929-193O-?.
Verificar o número de Economia de março de 193 1 dedic'1 d o ;i "dc-
Siegfried, n o prefácio d e seu livro sobre o s Estados Unidos, contrapó
pressáo econômica mundial": os dois artigos de I?Jannaccone e de Giiio
ao operário tiylorizado smcricano o artesão d a indústria d e lux
parisiense, como se este último fosse o tipo generalizado d o trabalh Arias [IO]. Jannaccone observa que "a causa primeira" (sic!)d,i crise
64é um excesso, nZo uma insuficiência de consumo", ou seja, que estamos

dor; os intelectuais europeus, em geral, pensam que Babbitt é um tip


puramente americano e regozijam-se com a velha Europa. O anti- diante de uma profunda e, muito provavelmente, n l o passageira per-
arnericanismo, mais d o q u e estúpido, é cômico. turbasão d o equilíbrio &dmico entre a parcela consumida e a parcelG
poupada da renda nacional e o ritmo da produçáo necessário para con-
servar num determinado padrão de vida, constante ou em ascensao,
uma população que aumenta numa determinada taxa de incremento
CADERNOS DO CARCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

liquido. A rupmra de tal equilíbrio pode se verificar de vários m o d o s o centavo. Ao coiirrário, 6 difícil identificar a renda absorvida pelos
e x p a I i ~ da
o de renda consumida em detrimento daquela pou- náo-assalariados que não têm uma função necessária e indispensável
pada e reinvestida P a r d a p r ~ d ~ futura;
ç 5 ~ diminuiçáo da taxa de pro- no comércio ou na indústria. Uma relação entre os operários
dutividade dos capitais, aumento da taxa de incremento líquido da dosv e o resto da população daria a imagem d o peso '<parasitárionque
população- ouseja: num certo ponto, a renda média individual trans- pesa sobre a produção. Desemprego de não-assalariados: eles n s o são,
forma-se de em constante e de constante em progressivamente de estatística, já que."vivem" de algum modo com meios pr6-
decrescente: em tal ponto, eclodem as crises, a dirninuiçáo da renda p r i o ~ etc.
, N o após-guerra, a categoria dos improdutivos parasitárioç
média leva a uma contraçáo também absoIuta d o consumo e, por re- cresceu enormemente, em sentido absoluto e relativo, e é tal categoria
flexo, a r e d u ç ó e ~adicionais da produção, etc. Assim, a crise mundial que devora a poupança. Nos países europeus, ela é ainda maior d o que'
seria crise de poupo>rça, e "O remédio soberano para detê-la, sem que na América, etc. Portanto, as causas da crise não são "morais7' (fruições,
se reduzaa t u a de incremento (líquido) d a populasáo, reside no au- etc.) nem políticas, mas ec0nÔmico-sociais, isto é, têm a mesma natu-
mento da parcela de renda destinada à poupança e à formação de no reza da própria crise: a sociedade cria seus próprios venenos, deve sus-
vos capltkiis. Esta é a advertência d e alto valor moral que brota d tentar massas (não só de assalariados desempregados) de populaç80 que
argumeiltos da ci&nciaeconômica". impedem a poupança e rompem assim O equilíbrio dinâmico.
As d e Jannaccone sgo indiscutivelmente penetrantes:
Arias, n o entanto, extrai delas conclusões puramente tendenciosas e 5 127. Q ~ ~ e s t õindustriais.
es N a Reme d e s ' ~ e u Moldes
x de 15 de
em parte imbecis. Admitida a tese de Jannaccone, cabe perguntar: a n~vernbrode 1930, foi publicada a conferêiicia lida na Academia de
que çc deve atribuir o excesso de consumo? Pode-se provar que as Ciências Morais e Políticas de Paris por Eugêne Schneidcr, o dor10 da
massas trabalhadoras aumentaram seu nível de vida em tal p r o p o r P o companhia d o Creusot, sobre "Les rélations entre patrons cr oiivriers.
que isso represente um excesso de consumo? O u seja, a relaçzo entre Les dél6gués de corporation". A conferência é muito importante, sobre-
salários e lucros tornou-se catastrófica para os lucros? Urna estatística tudo para meu tema. Como em Turim, Sclineider (para fins diversos, de
n20 poderia denionstrar isto nem sequer para a América. Arias "negli- desagregação) organizou as delegações como "delegados profissionais"
gencia" um elemento "histórico" de certa importiincia: n a distribuição (corporntior~)).Mas os delegados não formam um corpo deliberativo e
d a renda nacional, através especiaImence do comércio e d a bolsa, náo náo têm um comitê de direção, etc Mas a tentativa de Schncider é de
se terá introduzido na após-guerra (ou aumentado em comparação com primeira ordem, etc. Analisá-la. Buscar outras publicaç6es a propósito.
O período anterior) uma categoria de "apropriadores7' que não repre-
senta nenhuma função produtiva necessária e indispensável, mas que $ 135. Przsssrcio e preserrte. O fordisnzo. À parte o fato de qiie os
absorve uma parte substantiva d a renda? N á o se considera que o "salá- altos slilários não representam na prática industrial de Ford aquilo que
rio" sempre está ligado necessariamente a um trabalho (mas seria pre- Ford teoricamente quer que signifiquem (cf. notas sobre o significado
ciso distinguir o salário ou a retribuição absorvidos pela categoria de essencial dos altos salários como meio para selecionar uma mão-de:
trabalhadores dedicada ao serviço das categorias sociais improdutivas obra adequada a o fordismo, seja como método de produçio e d e tra-
e absolutamente parasitárias, e, além disto, existem trabalhadores doen- balho, seja como sistema comercial e financeiro: necessidade de não
tes o u desempregados que vivem da caridade pública o u de subsídios), ter interrupções n o trabalho, logo open shop, etc.), deve-se notar: em
nem q u e a renda absorvida pelos asalariados é identificdvel quase até certos países d e capitalismo atrasado e de composição econômica em
CADERNO 7 (I 930-1931)
a g a n d e indústria moderna, o artesanato, a peque-
q u e se
e o iatifundismo, as massas operárias e csm-
na e média culrura 5 9 1. Passado e presente. Te>zdêincinsrn o r g n r i i ~ @ oexterna dos fato-
poiiesas sgO consideradas como um "mercado". O mercado para a res humnnos p r o d ~ ~ c i unoo~após-giderrn. Parece-me que todo o conjunto
indústria é como estando situado n o exterior, e em países atrasa- dessas tendências deva fazer pensar n o movimento católico econômi-
dos do exterior, nos quais haja maior possibilidade d e penetraçáo po- c o d a Contra-Reforma, que teve sua expressão prática n o Estado jesuíta
lítica para a de colônias e de zonas de influência A indústria, d o Paraguai. Todas as tendências orgânicas d o moderno capitalismo
com o protecionism~interno e OS baixos salários, busca mercados ex- d e Estado deveriam ser relacionadas a essa experiência jesuíta. N o após-
ternos através de um verdadeiro dwnping permanente. guerra, houve um movimento intelectualista e racionalista que corres-
Paiser onde existe nacionalismo, mas n á o uma siruação c'nacionai- pende a o florescimento das utopias na Contra-Reforma: tal movimento
popularm, ou seja, onde as grandes massas populares são consideradas ligou-se a o velho protecionismo, mas dele se diferencia e o supera,
como A permanência de uma camada artesanal industrial tão con- desembocando em várias tentativas d e economias "orgânicas" e d e
siderável em alguns países não estará ligada precisamente a o fato de que Estados orgânicos. Poder-se-ia aplicar a eles o juizo de Croce sobre o
as grandes massas camponesas não são consideradas como um mercado Estado d o Paraguai: ou seja, que se trata d e um modo para uma sábia
para n grande indfistria, que tem predominantemente um mercado exploração capitalista nas novas condições que tornam impossível (pelo
terno? E o chamado renascimento ou defesa do artesanato não expr menos em todos os seus desdobramentos e exteiisáo) a política econô-
sará precisamente a vontade de conservar esra situaçzo em detrimento mica liberal [12].
dos càmvoneses mais pobres, aos quais se impede qualquer progresso? " +

5 165. ~~~ó~~ ~ i ê m i oe científico Dubreuil, n 4 96- N o m e ~ z c l a ~poliric~.


f ~ r ~ Artesanato, pequena, média, grLinlk
liuro S t n h r d s , observa com justeza q u e 0 adjetivo "cientifi ~ n d ~ ~ sCoiiceif0~
~ r i ~ - quantitativos e conceitos D~
para acompanhar as "direção científica d o trabal de vista quantitativo9 parte-se d o número de trabalhadores emprega-
~ o r g a n i z a ç ~ o cjentifica7', etc., não tem O significado pedante = dos em cada empresa, estabeIeceiido-se cifras médias para cada cate-
gador que muitos lhe atribuem, mas não explica exatamente 'Orno aria: de 1a 5, arteSanar0; d e 5 a 50, pequena indústria; de 50 a 100,
ser entendido1111.N a realidade, -científicon significa "racionar indfistria; a partir de 100, grande indústria; trata-se de catego-
precisamente, ''racionalrnente conforme a o fim" aser alcan~ad rias Ou generalizações muito relativas e que podem mudar de para
isto é, produzir o com o mínimo de esforça, obter 0 máxi país- O conceito qualitativo seria mais científico e exato, mas é muito
de eficiência econômica, etc., escolhendo e determinando racionalrne mais complexo e apresenta muitas dificuldades. Qualitativamente, as
te todas as operações e OS atos que conchzem a o fim. categorias deveriam ser fixadasTPelacombinação de variados
O adjetivo "científico" é hoje amplamente usado, mas sempre tos: náo só pelo r h n e r o de operários, mas também pelo tipo das má-
pode reduzir seu significado àquele de "conforme a o fim", na medi quinas e Pela coordenasáo entre máquina e máquina, pelo grau de
em que tal "conformidade" seja racionalmente (metodicamente) bu divisão d o trabalho, pela relaçáo entre diversos tipos de trabalhadores
-da depois de uma anál ise minuciosíssirna d e todos 0s elementos ( (manuais, manuais especializados ou operadores de máquinas, operá-
a idade) constitutivas e necessariamente constitutivos (inclui rios qualificados, especializados) e pelo grau d e racionalização (além
n o cálcufo a eliminação dos elementos emotivos). de industrialização) d o conjunto d o aparelho produtivo e administra-
DOS CADERNOS MISCELÂNEOS
CADERNOS DO CARCERE

o-estratégicas dos Estados Unidos n o Caribe: pedido d e cessão das


tivo. umaempresa racionalizada tem menos trabalhadores d o que uma possessões européias nas Antilhas e também d e colônias africanas. O
empresa ngo racionalirada; e, portanto, com 5 0 trabalhadores, pode
economista s t e ~ h e nLeacock publicou n o Heral<iWbune um artigo n o
ser mais -grande indfistria" d o que uma com 2 0 0 trabalhadores (isto
qual escreve que a cessão d o Congo seria suficiente para pagar toda a
acontece quando certas empresa, para certas partes de sua produçáo, dívida de guerra: "Um grande sonho se tornaria realidade. Há seis ge- ,
servem-se de uma empresa externa, que é Com0 q u e a seção especia- raçóes, os nativos d o Congo foram transportados para a América como .
lizada de todo um grupo de empresas não organicamente ligadas, etc.).
escravos. Passaram-se seis gerações de história, de trabalho, d e
Cada um destes tem peso relativo diferente, de acordo com
mas, e agora milhões de trabalhadores educados nas artes e nas ciências
o ramo industrial: n a construção civil, O maquinismo jamais se desen-
d o h ~ m e mbranco poderiam voltar à terra da qual seus antepassados
volverh como na indústria mecânica. O tipo de máquina têxtil se de-
partiram como escravos e poderiam voltar a elas como homens livres e
seIlvolve de diverso daquele d a indústria mecânica, etc.
civilizados. Tudo isto requer apenas um novo arranjo das reparações
A este conceito de dimensão d a indústria está ligado o conceito de
de guerra e das dívidas com base em compensa~õesterritoriais [131."
",áquinan. E também está ligada a iioçáo de "fábrica disseminaday',
que é um aspecto d o artesanato, d o trabalho a domicílio e d a pequena 5 90. N o ~ õ e senciclopédicus. A &quina. &-tigo de Metron, "La
indústria. Mas até mesmo uma grande empresa da construção civil não di ffusione della rnacchina", n o Corriere dello Seru de 15 d e marso d e
poderá, num certo sentido, ser considerada 'como uma fábrica disse- 1932. Significado mais amplo d o conceito de máquina: n o Oriente, é
t~iinada?E a de bondes e a ferroviária? (Do ponto de vista d a organiza- máquina tanto o aparelho d e barbear quanto o automóvel. N o Oci-
ção territorial, o u seja, d a concentração técnica, estas empresas são dente, cliama-se de máquina tanto o "instrumento" para comirar e para
disserninadas c isto tem importância para a psicologia dos trabalhado- escrever quanto o motor elétrico c a máquina a vapor. Para Metron,
res. Um guarda-linhas ferroviario jamais terá a mesma psicologia do são coisas diferentes: para ele, a verdadeira máquina é a 'que permite .
operiirio mailual de uma grande fábrica, e t c ) a utilização das energias naturais" (fórmula equívoca, já que também o
O u t r o elemento importante é a f o r p motriz utilizada: um artesgo aparelho d e barbear e a alavanca de Arquimedes permitem utilizar
que se serve da enetgia elétrica será um artesáo n o sentido tradicio~lal? energias naturais antes não utilizadas); as outras szo, para falar com
O fato moderno d a facilidade de distribuiçzo d a força motriz elétrica, exatidáo, apenas "utensílios OU transmissõesy'. '"As máquinas-utensílios
até para pequenas unidades, transforma e renova todos o s ripos de in- melfioram, aperfeiçoam o trabalho humano; as máquinas-motrizes
dústria e de empresa. substituem-no inteiramente. A verdadeira revolução no mundo se deve
não às máquinas que, como a de escrever ou costurar, necessitam sem-
pre d o motor homem, mas àquelas que eliminam inteiramente o esfor-
CADERNO 8 (1 931 -1 932) ço m ~ s c u l a r . ' ~
Observa Metron: "Segundo os cálculos contidos num estudo PU-
blicado por ocasião da conferência mundial da energia realizada em
5 47. Os negras da América. Correspondência enviada d e Nova Iorque
por Beniamino D e Ritis, publicada n o Corriere delia Sera de 18 de fe- 1930, em Berlim, a energia mecânica de qualquer origem (carvão,
óleos minerais, quedas-d'água, etc.) consumida n o curso d e um a n o
vereiro de 1932 ("Colonie a contanti?"). Tendências americanas de
por toda a hUmariidade pode ser avaliada em cerca de 1 trilhão 7 0 0
associar O problema das dívidas européias com as necessidades políti-
CADERNOS DO CÂRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

pulaçáo com relação às "mercadorias" e com relação aos ccserviços"? i


bilhões de q u i l o w a i t ~ - h ~OU r ~seja, 900 quilowatts-hora por pessoa. (E entende-se "mercadorias" n o sentido restrito de ''mercadorias" ma- 1")

O r a , 900 quilowatts-hora representam quase 10 vezes O trabalho que


u m homem robusto pode fazer num ano. Em suma, para cada ho-
reriais, de bens fisicamente ~ ~ n s u m í v ecomo
is "espaço e volume".) É \ >
mem de carne e osso e e m seu benefício trabalharam dez outros ho-
certo que, quanto mais for extensa a parte "serviços", tanto mais uma -i
!
sociedade é mal organizada. Uma das finalidades da "racionalização" .J
mens de metal. Se este processo continuar, só poder5 levar a uma
forma ideal de ócio, não 0 Ócio que embrutece, mas aquele q u e ele-
é certamente a d e restringir ao mínimo
a esfera dos servi-
50s. É articularm mente nessa esfera que se desenvolve o parasitismo. O "') >
va: o u seja, a força muscular deixada completamente à disposição do
homem, q u e deveria trabalhar somente com o cérebro, isto é, na for-
comércio e a distribuigo em geral pertencem a essa esfera. O desem- ib, 7
prego "produtivo" determina ccinflaçãoyJ de serviços (multiplicação d o I )
ma mais nobre e mais ambicionada." Isto foi escrito em 1932, o u seja,
pequeno comércio).
n o momento em que, precisamente nos países em q u e "os homens de ' 3
metal" trabalham para OS outros homens em proporção grandement
5 117. Amaicanisnzo. A crinzinnlidnde. O crescimento da delinqüên- ,I
superior à média mundial, existe a mais terrível crise d e ócio forçad
cia organizada em grande estilo nos Estados Unidos é habitualmente 3
e de miséria degradante. ~ a r n b é misto é um ópio d a miséria!
explicado como uma decorrência d o proibicionismo e d o contrabando 3
N a realidade, a distinção feita por Metron entre máquinas-motri- ! por ele gerado. A vida dos contrabandistas, suas lutiis, etc., criaram um
zes e m á q u i n a s - u t e ~ i s í l i ~com
~ , a predominância revolucionária das 13
primeiras, não é exata: as máquinas-motrizes L'ampliararn7yO campo clima de romantismo que se espalha por toda a sociedade e determina
imitações, .ímpetos aventureiros, etc. E verdade. Mas um outro fator deve 13
d o trabalho e da produçáo, possibilitaram coisas que antes d e sua des
ser buscado nos métodos extremamente brutais da polícia americana: o ")
cobcrta eram impossíveis ou quase. M a s as máquinas-urensilios si30 I
que realmente substituiram o trabalho humano e revoliicionararn to
ccpolicialismo"sempre cria o "bandirisma". Este fator é muito mais efi- :1
a organizaçáo humana da produçáo. Observaçáo justa: a de que, a pa
tir de 1919, a inovação de maior alcance foi o introduçáo nas fiibriw
caz d o que parece para levar à crirninalidade profissioiial muitos indiví-
duos que, se não fosse isso, continuariam em sua atividade norrnal de
:')
li)
d o transporte mecânico d o material e dos homens. trabalho. Também a brutalidade dos interrogatórios em que se admire 9

Iji

De resto, a cjuestão da predominância das maquinas-motrizes o coação física serve para ocultar a corrupção da própria polícia, êtc. A II ,
das máquinas-utensílios é ociosa para além de certos limites; é impo ilegalidade dos organismos de ação, transformada em sistema, deterrni-
na uina luta feroz dos que sI?o apanhados, etc. I
tante para estabelecer a distância entre a anriguidade e a modernidade. >

Por o u t r o Iado, também nas máquinas-utensílios há diferenciações, erc. l


1
i
$ 108. A burocracia. Parece-me que, d o ponto de vista econô ti
CADERNO 9 (1 932)
co-social, o problema da burocracia e dos funcionários deva ser consi- 'l
derado num quadro bem mais amplo: n o quadro d a 'cpassividad 1,
social", passividade relativa, e entendida d o ponto de vista d a ativida- $61. Passado e presente. Inglaterra e Alemanha. Uma comparação entre
de produtiva de bens materiais. O u seja: do ponto de vista daquele o s dois países quanto a seu comportamento diante da crise d e depres-
bens ou valores particulares que os economistas liberais chamam d são de 1929 e dos anos seguintes. Desta análise deveria surgir a real
"serviços7'. Numa determinada sociedade, qual é a distribuição da po- estrutura de um e d e outro país e a respectiva posição funcional n o
DOS CADERNOS MISCELANEOS

elemento da estrutura que, via de re- desvalorizada at6 parecer facilmente substituível a qualquer instante;
comp~exoeconomico
gra, não é observado com atenção. Pode-se iniciar a análise a partir d o que, a o mesmo tempo, o trabalho combinado e bem ordenado dê uma
maior produtividade "social" e que o conjunto dos trabalhadores da
fenomenodo desemprego. AS massas de desempregados na Inglaterra fábrica deva ser concebido como um "trabalhador coletivo" - eis os
e na *lemanha têm O mesmo significado? O teorema das " p r ~ p o r ç õ e s
pressupostos d o movimento de fábrica, que tende a fazer com que se
definidas" na divisgo d o trabalho interno apresenta-se d o mesmo modo
torne 'csubjetivo" o que está dado aobjetivamente'y. De resto, o que
nos dois países [14]?Pode-se dizer que o desemprego inglês, mesmo
quer dizer "objetivo" neste caso? Para o trabalhador individual, "obje-
sendo numericamente inferior ao alemão, indica que O coeficiente "crise
tivo" é o encontro das exigências d o desenvolvimento técnico com os
orgânicam é maior na Inglaterra d o que na Alemanha, onde, a o contrá-
rio, o coeficiente 'crise ciclicayyé mais importante. O u seja: n a hipóte- interesses da classe dominante. Mas este encontro, esta unidade entre
desenvolvimento técnico e interesses da classe dominante é só uma fase
se de uma retomada "cíclica", a absorção d o desemprego seria mais
fácil na Alemanha d o que na Inglaterra. D e que elemento d a estrutura histórica d o desenvolvimento industrial, deve ser concebido como tran-
decorreesta diferença? Da maior importância que tem na Inglaterra o sitório. A conexão pode se dissolver; a exigência técnica pode ser con-
comércio em relação à produção industrial, ou seja, da existência na cretamente concebida não só como algo separado dos interesses da
classe dominante, mas como algo unido aos interesses da classe ainda
Inglaterra de uma massa de "proletários" ligados à função comercial
subalterna. Que uma tal "cisão" e nova síntese esteja historicamente
superior àquela que existe na Alemanha, onde, a o contrário, é maior a
madura é algo demonstrado peremptoriamente pelo fato mesmo de
massa industrial. Composição da população ativa e sua distribuição i ~ a s
que um tal processo é compreeiidido pela classe subalterna, que, pre-
diversas atividades. Muitos comerciantes (banqueiros, agentes de câm-
bio, representantes, etc.) empregam numeroso pessoal em seus servi- cisamente por isto, náo mais é subalterna, ou seja, demonstra quc ten-
ços cotidianos: aristocracia mais rica e poderosa d o que na Alemanha. de a sair d e sua condição subordinada. O "trabalhador colctivo"
Mais numerosa a quantidade de "parasitas rituais", o u seja, de elementos compreende essa sua c o n d i ç ~ oe, não só em cada fábrica tomada isola-
sociais empregados não na produção direta, mas na distribuiçáo e nos damente, mas em esferas mais amplas da divisáo d o trabalho nacional
serviços pessoais das c1asses possuidoras. e internacional; e esta consciência adquirida tem uma manifestaçáo
externa, política, precisamente nos organismos que representam a fs-
$67. Passado e presente. N a exposição critica dos acontecimentos brica como de objetos reais e náo de lucro.
subseqüentes à guerra e das tentativas constitucionais (orgânicas) para
sair do estado d e desordem e de dispersáo de forças, mostrar como o S; 7 1. Passado e preserrte. (Cf., infra, neste caderno, § 73.). Um as-
movimento para valorizar a fábrica, em contraste com a (ou melhor, pecto essencial da estrutura do país é a importância que tem a burocracia
autonomamente em relação 5) organização profissionaI, correspondesse em sua composição. Quantos S ~ O os funcionários da administraçao
perfeitamente à análise que, d o desenvolvimento d o sistema de fábri- estatal e local? E que fração da populaçgo vive com os proventos dos
ca, é feita n o Livro 1 d a Crítica da econo~nicrpolítico [15].Q u e uma empregos estatais e locais? Deve-se ver o livro d o Dr. Renato Spaventa,
divisáo d o trabalho cada vez mais perfeita reduza objetivamente a po- Brírocrazia, ordi~zarnentinrnmi~~istrativi e fascismo, 1928, Ed. Treves.
siçao d o trabalhador na fábrica a movimentos de detaIhe cada vez mais Ete reproduz a opinião de um "ilustre economista", que, dezessete anos
"analíticosn, de modo que escapa a cada indivíduo a complexidade da antes, ou seja, quando a população girava em torno de 35 milhões,
obra comum e, mesmo em sua consciência, a própria contribuição seja calculava que "os que ganham seu sustento com um emprego público
CADERNOS DO CARCERE

oscilam em de dois d e pessoas"- Parece que, entre Evidencia-se que alguns elementos sáo semelhantes, ainda que rnen-
áo eram incluídos os f u n c j o n á r i ~das
~ instáncias locais, enquanto, cionados separadamente, como causas especfficas. Outros não sáo
também ao que parece, eram incluído^ 0s empregados das ferrovias e mencionados: Por exemplo, as proibições à emigração. Parece-me que,
das in dústri as monapol i z a d a ~que
, náo podem ser contados como em- numa dever-se-ia começar por mencionar os o b s t ~ c u ~ opos- s
pregados adminiarativos, mas devem ser considerados 2 parte# dad pelas políticas nacionais (ou nacionalistas) à circulaçáo: 1) das
que, bem ou mal,. produzem bens controláveis e são admitidos p" )' dos 3 ) dos homens (trabalhadores e fundado-
necesidades industriais control~veiscom exatidão- A c o m ~ a r a ç á o res de novas
e novas empresas comerciais). O fato de que os
os Estadospode ser feita para OS funcionários das administra- liberais r~~~falem dos obstácuios postos à circulagáo dos homens 6 siri-
os
e locais e para a parte do orçamento que consomem (e a tomárico, uma vez que, n o regime liberal, tudo se relaciona e um obs-
çóes tácu'o cria lima
fraGáode populaFá~q u e represenfam), não para Os empregados das de outros. Se se considera que os obstáculos à
indústriase dos serviços estatizados, que não são semelhantes e 'Orn0- circula~áod o s homens são "normaism, ou seja, justificáveis, devidos a
gêneos de ~~~~d~para Estado. Por esta mesma razão7 náo podem ser "força maior", isso dgnifica que toda a crise deve a força
entre os estatais OS professores primários, é d e conjuntura, e só pode ser construindo
devemser considerados 2 parte, efc. E preciso isolar e comparar aq uma nova estrutura, q u e leve em conta as tendências inerentes 2
les elementos de emprego estatal e local que existem em Esta estrutLira e as domine com novas premissas. A premissa maior, neste
moderno, mesmo n o mais "liberista", e considerar 2 Parte a é o nacionalismo, que não consiste somente na tentativa de pro-
outras formas de emprego, etc. duzirno próprio território t u d o aquilo que nele se consome (o que sig-
nifica que todas as forças ~ 5 orientadas
0 segundo a p r e v l s ~ odo estado
g 73. passado e presente. A burocracia ( ~ 6 supra,
, 5 71)- Estud de guerra), o que se expressa n o protecionismo tradicional, mas tam-
anaiirico de E A. Rèpaci, "I\ coso della burocrazia de110 smro"s n bem na tentativa de fixar as principais correntes de comércio com de-
~jf,,,,,, de maio-junho de 193 2 [16I- ~ n d ip s ~ ~ terminados
~ ~ ~ países,
~ ou~ porque
~ aliados (e, portanto, quer-se sustent;i-los
sprofundar o tema. Elabora o material complexo dos volumes esta e moldá-los de um modo mais adequado ao estado de guerra) ou por-
ricos sobre a burocracia publicados pelo Estado- que se quer arruiná-los já antes da guerra militar (e este novo tipo de
polirica econômica C O das "quotas de importaçáo e euportaçáom, que
Parte d o absurdo d e que entre dois países deve haver "balança q u i l i -
brada" nas trocas, e não q u e cada país só pode obter o equilíbrio co-
CADERNO 14 (1 932-1935) merciando com todos OS outros países indistintamente). Entre 0s
elementos de crise apontados pela Riforrna Sociale, nem todos são
g 57. possado e preseiffe. Elementos da crise econômica. Na P b l i c i d aceltaveis sem crítica; por exemplo... "os altos impostos". Estes são da-
da &forrnn Sociale, as causas "mais características e graves" d a crise s nosos quando se destinam a manter um contingente d e população des-
cia] listadas como se segue: 1)altos impostos; 2) consórcios proporcional iis necessidades administrativas, não quando servem para
triais; 3 ) oper6rios; 4) operações de socorro; 5 ) obrigações antecipar capitais que s ó o Estado pode antecipar, mesmo que estes
6 ) batalhas pelo produto nacional; 7) quotas de importação e expor capitais não sejam imediatamente produtivos (e não se alude à defesa
$0; 8) &vidas entre o s aliados; 9) armamentos; 10) protecionismo l1 militar). A chamada política d e "obras públicas" não é criticável em si,
mas s6 em determinadas condig6es: o u seja, S ~ O criticáveis as obras táo está ligada à primeira. Tratando-se de um desenvolvimento e 1150
inúteis ou mesmo suntuosas, não aquelas que criam as condi- de um evento, a questáo é importante. Pode-se dizer que a crise como
)
,-eespara U m incremento futuro das trocas OU evitam males certos (inun- tal náo tem data de início, mas só algumas de suas "manifestações" mais
dações, por exemplo) e evitkeis, sem que individualmente ninguém clamorosas, que sáo identificadas com a crise, de modo errôneo e ten-
) ser induzido (medianre o lucro) a substituir o Esrado nesta ativi- dencioso- O outono de 1929, com o c r n d da bolsa de Nova Iorque, é
> dade. O mesmo se diga dos c'consórcios industriaisy': são criticáveis os para alguns 0 início da crise; e, como era de supor, para os que preteri-
consórcios~artificiai$', n a OS que nascem pela f o r p das coisas; se todo dem ver n o "americanismo" a origem e a causa da crise. Mas 0s eventos
consi>rcion for condenável, entáo o sistema é condenável, porque o do outono de 1929 na América são exatamente uma das manifesta-
>
<c

sistema, mesmo sem incentivos artificiais, isto é, sem lucros produzi- ~ õ e clamorosas
s d o desenvolvimento da crise, e nada mais. ~~d~ o após-
1 dos pela lei, induz a que se criem consórcios, isto é, a diminuir as des- guerra é crise, com tentativas de remediá-la que às vezes têm sucesso
pesas gerais. neste ou naquele país, e nada mais. Para alguns (e talvez não sem ra-
E o mesmo vale para os "sindicatos operários7', q u e não nasce záo), a própria guerra é uma manifestação da crise, ou melhor, a pri- 1

artificialmente, mas, a o contrário, nascem o u nasceram apesar de to meira manifesta~ã0;a guerra foi precisamente a resposta
e
daç as adversidades e os obstãculos d a lei (e não só d a lei, mas da ativi organizativa dos responsaveis. (Isto mostraria que é difícil separar nos
dade criminosa privada niio punida pela lei). O s itens listados pe1 fatos a crise econômica das crises politica$ idco]ógicas, etc., embora
Rifórnm Soçiczle mostram assim a debilidade dos economistas liberais isto seja possível cientificamente, ou seja, mediante um trabalho d e
diante da crise: 1) eles oimitem alguns elementos; 2) misturam arbitra- abstraçáo.) 3 ) A crise tem origem nas relaGõestécnicas, isto é, nas res- .
riamente os elementos considerados, niio distinguindo entre os que são pectivas posiç6es de classe, ou cm outros fatos, coino legislações, de-
c<
necessBri~s'~ e os outros, etc. h sorde~is,etc.? Decerto, parece dcrnonstr~velque a crise tem origens
Li tecnicas", ou seja, nas respectivas relações de classe, mas que, em seus
r

'
inícios, as primeiras nioni fesrações OU previsões deram lugar a confli-
tos de varios tipos e a interveiições legislativas, qiie jogaram mais luz
CADERNO 1 5 (1933) sobre a própria "crise", náo a determinaram, ou acentuaram alguns de
1 seus fatores. Estes três pontos - 1)que a crise é um processo compie-
) g 5. Passado e prese~zte.A crise. O estudo dos acontecirnenros q u e as- xo; 2) que se inicia pelo menos com a guerra, ainda que esta não seja
sumein o nome d e crise e que se prolongam de forma catastrófica de sua primeira rnanifestaçao; 3) que a crise tem origens internas, nos
)
1929 ate hoje deverá atrair atenção especial. 1)Ser2 preciso combater modos de produção e, portanto, de troca, e não em fatos e
) todos os que pretendam dar destes acontecimentos uma definiçáo úni jurídicos - parecem ser os três primeiros a ser esclarecidos com exa-
) ca ou, o q u e é o mesmo, encontrar uma causa ou urna origem única. tidão.
) Trata-se de um processo que tem muitas manifestaçíies e no qual causas O u t r o ponto é que se esquecem os fatos simples, isto é, as contra-
e efeitos se interligam e se sobrepõem- Sirnplifiar significa desnatur dições fundamentais da sociedade atual, em favor de fatos aparente-
1 e falsear. Portanto: processo complexo, como em muitos outros fen mente (mas seria melhor dizer "artificiosos"). Uma das
) menos, e n20 "fato" único que se repete sob varias formas e m razzo fundamentais é esta: que, enquanto a vida econômica tem
) uma causa e uma origem únicas. 2) Quando começou a crise? A ques- como premissa necesçar-a o internacionalismo, O U melhor, o cosmo-
1
C A D E R N ~ D~O CARCERE aos CADERNOS MISCELÂNEOS

estatal se desenvolveu cada vez mais n o sentido d o "crises". (Sobre todos estes temiis, deve-se ver a literatura d a Socieda-
politismo, a d e das Nações, d e seus especialistas e de sua comissão financeira, que
(c nacionali
smo,y, da ~ ~ ~ ~ ~ ~ - ~ u f i cetc.
i ê nUma
c i a das
" , características mais
é, apenas, a exasperação d o elemento naciona- servirá pelo menos para que se possa dispor de todo o niaterial sobre a
d a ucrise
q ~ e s t z obem
, como as publicações das mais importantes revistas inter-
lista (estatal-nacionnlista) n a economia: quotas de importação e d e
a o comércio d e divisas, comércio equi- nacionais e das Câmaras de Deputados.)
exportaç~o,clennq,
librado apenas entre dois Estados, etc. Então se poderia dizer, O que A nzoeda e o ouro. A base áurea da moeda se toriiou necessária em
razão d o comércio internacional e d o fato de que existem e operam as
seria o mais exato, que a "crise" é tão-somente a intensificação quan-
divisões nacionais (o que leva a fatos técnicos particulares deste cam-
titativa de certos elementos, nem novos nem originais, mas sobretudo
a intensificação de certos fenômenos, enquanto outros, que antes apa-
po, dos quais não se pode prescindir: entre 0s fatos, está a rapidez da
circulação, que não é um fato econômico menor). Dado que as merca-
reciam e operavam simulraneamente com os primeiros, neutralizan-
dorias se trocam por mercadorias, em todos os campos, a questão é
do-os, tornaram-se inoperantes ou desapareceram inteiramente. Em
saber se este fato, inegável, ocorre num tempo curto ou longo e se esta
suma, o desenvolvimento d o capitalismo foi uma "crise contínua", se
diferença de tempo tem importância. Dado que as mercadorias se tro-
assim se pode dizer, ou seja, um rapidíssimo movimento de elementos
cam por mercadorias (compreendidas, entre as mercadorias, os servi-
que se equilibravam e neutralizavam. N u m certo ponto, neste movi-
~ o s )é, evidente a importância d o "crédito", ou seja, o fato d e que uma
mento, alguns elementos predominaram, a o passo que outros desapa-
massa de mercadorias ou serviços fundamentais, isto é, que indicam
receram ou se tornaram inativos n o quadro geral. Então surgiram
um completo ciclo corncrcial, produzem títulos comerciais e que tais
acontecimentos aos quais se dB o nome específico de "crises", que
títulos deveriam se manter constantes a cada niomeilto (coin igual poder
mais oii menos grwes precisamente n a medida ern que tenham lu
eicrne~itosmaiores ou menores de equilíbrio. Dado este quadro geral,
de rroca), sob pena da paralisa~ãodas trocas. É vcrdade que as rnerca- ;>
dorias sc trocam por mercadorias, mas "abstratamente", ou seja, os 'I3
pode-se estudar o fenômeno em seus diversos planos e aspectos: m
atores da troca são diferentes (ou seja, não cxiste L'escambo" individual, i)
nethrio, financeiro, produtivo, d e comércio interno, d e comércio e
e isto exatamente acelera o movimento). Por isto, se E necessario que 1)
terior, etc.; e niio sc pode excluir q u e cada u m destes aspectos, em i

n o interior de um Estado a moeda seja estável, tanto mais necessária se I


conseqüência da divisão internacional do trabalho e das funç6es pos-
sa ter aparecido, nos diferentes países, como predominante o u como
mostra a estabilidade d a moeda que serve às trocas internacionais, nas 3
máxima manifestãç80. M a s o problema fundamental. é o produtivo; e,
quais "os atores reais" desaparecem por trás d o fenômeno. Quando
num Estado a moeda varia (por inflação ou deflação), ocorre uma nova
i
I
na produção, o desequilibrio entre indústrias dinâmicas (nas quais o 3
capital constante aumenta) e indústrias estacionárias (nas quais conta estratificação de classes n o próprio país; mas, quando varia uma moe- *I
da internacional (por exemplo, a libra esterlina e, em menor medida, -l
muito a mão-de-obra imediata). Compreende-se que, dado q u e tam-
bém n o campo internacional ocorre uma estrati ficação entre indústrias o dólar, etc.), ocorre uma nova hierarquia entre os ~ s t a d o s o , que é '1
1

dinâmicas e estacionárias, foram mais atingidos pela crise os países nos mais complexo e leva a interrupção n o comércio (e com freqüência a 'l
quais as indústrias dinâmicas existem em abundância, etc. Disso resul- guerras), ou seja, há transferência "gratuita" de mercadorias e serviços
.$li)
tam variadas ilusões, decorrentes d a incompreens50 de que o mundo é entre um país e outro, e não só entre uma classe e Outra da população. tE
A d a moeda, internamente, é uma reivindicação d e algu- $1
uma unidade, queira-se ou não, e de que todos o s países, se se manti-
verem em determinadas condições de estrutura, passarão por certas
mas classes e, externamente (para as moedas internacionais, nas quais i',
I11
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1
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*JL 1
CADERNO^ DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELANEOS

se assumiram os c o m p r o m i ~ ~d~e ~
todos
) , 0s q u e comerciam- Mas Por das forças negativas é aquele que menos satisfaz, e com razão, porque
razões s;i0 muitas, certamente: 1)porque OEstado pressupõe de pe7 si e a existência de forças positivas e nunca se quer
que elas
gasta demais, oii seja, náo quer que suas despesas sejam pagas direta- 'Onfessar que estas ~ 5 - desconhecidas.
o N~ questão da formulasão bis-
menre por
classes, mas por outras, indiretamente, e, se ~ossível, tórica da queda d o Império Romano, também entram em jogo
por paises estraiigeiros; 2) porque n5o se quer diminuir um custo "di- tos de vaidade, que esfgo longe de ser desprezíveis.
retamente,, (por
o salário), mas s ó indiretamente e num pra-
zo prolongado, atritos perigosos, etc. D e qualquer modo, 5 30- Americnnismo-Duharnel expressou a idéia de que um país
também os ekitos se devem à oposição dos grupos sociais, e a'ta civiliza~áodeve também florescer artisticamente [18]. rsto foi
que nem sempre se deve entender n o senrido d o próprio país em que o 0 em relação aos Estados Unidos, e o conceito é exato; mas será
fato ocorre, mas n o de um país antagonista. em qualquer momento d o desenvolvimento de um país? Re-
E~~~6 u m princípio pouco aprofundado, mas que é decisivo para a r a teoria americana d e que, em cada período de c i v i l i z a ~ o ,os
compreens~oda história: que u m país seja destruído pelas invasões es homens expressam a atividade fundamenlal da época, que 6,
c<estraiigeir;iin ou bárbaras náo quer dizer que a história desse país náo mbém ela, unilateral. Parece-me que as duas ideias podem conver-
esteja iilclu{da na luta de grupos sociais. Por que aconteceu a invasáo? gir na distinção entre fase ~ ~ ~ n Ô m ide cum o~~~~d~ - ~e fase ~ ~ ~ ~
por q u e se deu determinado movimento de população, etc-? Do mes- ético-política- O florescimento artistico dos ~~d~~ unidos pode ser
mo modo como, em certo sentido, num determinado Estado, a histó- concebido como selido 0 europeu, dada a homogeneidade existente
Liã é a história das classes dirigentes, assim também, 110 mundo, a nas formas de vida civil; assim, em determillado Período, a rtá1ia pro-
história é a história dos Estados hegemonicos. A história dos Estados duzia artistas para toda a cosmópole européia, efc. os paises entáo
subalternos se explica arravés d a história dos Estados h e g e m ~ n i ~As - "tributários" d a Itália ~ceconomicamente~ e este de-
qiicda do Império Romano se explica através d o desenvolvimento da ser-~volvimentofoi sucedido por um florescimento artístico próprio,
vida do próprio Império Romano, mas isto sugere q u e "faltam" cerras ao passo que a Itália decaiu: foi o que ocorreu, depois do Renas-
forças, ou seja, é uma história negativa C, por isto, insatisfatória. A cimento, em reIaç5o à França, à Alemanha e 5 Inglaterra. uni ele-
história da queda do Império Romano deve ser buscada n o desen- mente histórico muito importante n o estudo dos uflorescimentos
volvimento das populaç6es "barbaras" e até mais alem, porque 0s mo- artísticos" é Q fato da continuidade dos grupos intelectuais, ou seja,
vimentos das bárbaras eram frequentemente conseqüências da existência d e uma grande tradição cultural, precisamente o que
LLmeCâniCaS" (isto é, pouco conhecidas) de outro movimento inteira- faltou na América. O u t r o elemento negativo, deste ponto d e vista, é
mente desconhecido. Eis por que a queda d o Império Romano gera certamente representado pelo fato dc que a população americana não
'L
peças de oratória" e se apresenta como um enigma: 1)porque não se se desenvolveu organicamente sobre uma base nacional, mas é pro-
quer reconhecer que as forças decisivas d a história mundial não esta- duto de uma contínua justaposiçáo de núcleos de emjgrantes, ainda
vam então no Império Romano (mesmo que fossem forças ~rimitivas); que sejam emigrantes de países angio-saxões.
2) porque não dispomos dos documentos históricos de tais forças. Se
h6 enigma, não se trata de coisas "incognoscíveis", mas simplesmente
<C
desconhecidas" por falta de documentos. Resta ver a parte negativa:
c<
por que O Império se deixou vencer?"; mas precisamente O estudo
Notas ao texto
1. CADERNO 16

1. Matilde Serao (1865-1927), jornalista e escritora radicada em Ná-


poles, escreve romances na linha d o "verismoyy(variante italiana d o
naturalismo), antes de enveredar, com menos êxito, pelo romance psi-
cológico e espiritualista sob influência de Paul Bourget. Pode-se tradu-
zir pnese di C r ~ c c o g r nome
~, d o romance analisado por Croce, como
"país da abundância" ou Eldorado.

2. Honoré de Balzac, "Um conchego de solteirão", in Id., A comé-


dia br~nzntm,Rio de Janeiro-Porto Alegre-São Paulo, Globo, 1955, vol.
VI, p. 56.

3. Publicadas originalmente em 1891na revista social-democrata


ue Zeit, as recordações pessoais de Paul Lafargue sobre Marx rea-
arecem em D. Riazanov (org.), Mrrrx: o homem, o pensndor, o revoliA-
&rio, Sáo Paulo, Global, 1984, p. 83-98, que Gramsci conhecia na
içio francesa d e 1928. Logo a seguir, no texto, Gramsci menciona a
carta de Friedrich Engels a Margaret Harkness, de abril de 1888. Em
sua carta, E Engels expõe a M. Harkness, então uma popular autora
e romances de inspiraçáo socialista, o método artístico de Balzac, capaz
de garantir, mesmo contra as convicgões conservadoras d o autor, uma
c ~ n f i g u r a ~ realista
áo da sociedade francesa anterior a 1848. Cf. K. Marx
e F. Engels, Sobre n Zi~eratzdrrre n arte, Lisboa, Estampa, 1971, p. 194.
CADERNOS DO CÁRCERE NOTAS AO TEXTO

9. O s parágrafos recolhidos sob o título "Tipos de revista" encon-


4. Em francês original. O trecho imediatamente sucessivo é uma tram-se na seção '30rnalismon, vol. 2, p. 193-251. Muito provavelmen-
livre traduçáo por Gramsci d o livro de G. Lanson.
te, "Dicionário critico" é uma v a r i a t e de ccNoçóesenciclopédicasyy,título
sob o qual se recolhem vários parágrafos dos Cadernos d o cc?rcere.
5- provhvel que Gramsci tenha tido um conhecimento apenas
indireto dos livros de Pietro P ~ o Trompeo,
~o Rilegature gianseniste. Saggi
10. Ezio Levi (1884-1941), além de estudar a influência árabe na
di storin letfernria, Milão-Roma, 1930; e Francesco Ruffini, La cultura espanhola e d o Ocidente em geral, escreve vários livros sobre a
reljgjosn d i A. Mnmoni, Bári, 193 1. poesia italiana e espanhola da Idade Média até o Renascimento. Gramsci
também o menciona n o vol. 2, p. 114-116; no vol. 3, p. 174; e n o...---
vol.
6. O juizo de G. Sorel, em carta a 3.Croce datada d e março d 5, caderno 5, S 123.
1912 e publicada na Critica em novembro de 1928, é particularrnent
duro: cabo de receber um enorme volume: II materialismo storic 11. Sobre Giuseppe Salvioli e seu Ilcnpitalisino antico ( l a ed. fran-
in Federico Engels, d o professor Rodolfo Mondo1fo, de Turim. Fique cesa, 1906; edição italiana, revista e atualizada, 1929), cf., vol. 2, p.
espantado ao ver que são necessárias tantas páginas para explicar 275 G. Salvioli representa, na historiogafia d e seu tempo, uma posi-
pensamento de um homem q u e pensava tão pouco, como Engels. ção próxima d o materialismo histórico, tal como definido pelo "revi-
Rodo1 fo Mondol fo (18 77- 1976) escreve vários textos de interpreta de Croce n o final d o século XIX.
çáo d o marxismo em chave humanista e antimaierialista, muitos do
qiiais reunidos em Estf~dossobreMarx (Sáo Paulo, Mestre Jou, 1966), 12. Sobre Corrado Barbagnllo, cf., infra, p. 105-106; c f , também,
mas se destaca, especialmente, por seus inúmeros estudos de filosofia vol. 1, p. 92-93; e vol. 2, p. 262.
grega. Exilado durante o fascismo, R. Mondolfo passa a ensinar e
Córdoba e Tucumán, na Argentina, ainda depois d e reaver a cáted 13. A "disputa entre os antigos e os modernos", que prenuncia o
universitária e m seu país, em 1945. debate entre clássicos e românticos, ocorre na França d e Luís XIV; na
segunda metade do século XVII.
7. Ernst Drahn assina a introdução d e uma antologia de texto
marxianos, publicada pela Ed. Reklam: Lohnnrbeit u d Knpilal, Z u 14. A polêmica entre C. Barbagaflo e 3. Croce transcorre na re-
Ji~denfrage11tda d e r e Schnfien aus dm Friihzeit, Leipzig, s.d. [Trabal vista dirigida d elo primeiro, a Nuova Rivista Storicn, entre 1928 e 1929.
assalariado e capital, Sobre a questão judaica e outros escritos de 1 Em 1917, em Milão, C. Barbagallo havia publicado um livro intitulado
ventude). Grarnsci, inclusive, traduz essa antologia quase integralme II materialismo storico.
t e no circere. N a introduçgo, E. Drahn menciona seu outro trabãIho
a Mnrx-Biblzogrnphie, de 1923. 15. Mario Borsa, Londra, Milão, 1929; Angelo Crespi, La funzioue
storiça dell'lrr~perobritmnico, Milão, 1 918; Guido D e Ruggiero,
IlIrnpero britnnnico dopo Ia guerra, Florença, 1921. Sobre G. D e
Ruggiero, cf. voI. 1, p. 485.
NOTAS AO TEXTO

i 16. Roberto Ardigò (1828-1920), influente positivista italiano, 21. Trata-se d o ensaio d e Rosa Luxemburg, "Stillstand und Forts-
chritt im Marxismus", publicado n o Vorwiirts, de Berlim, em 14 de
ensina na universidade de Pádua a partir de 188 1 e, com sua ênfase na
março de 1903, n o vigésimo aniversário da morte de Marx. Este en-
) realidade fenomênica, combate O idealismo filosófico d a é p o o t Suas
saio também está presente na coletânea organizada por David Riazanov,
\ obras cobrem um amplo espectro, d a psicologia &sociologia, d a moral
I cit. A idéia básica d e R. Luxemburg é que o Livro 111d o Capital- ao
2 ciência d a educaçáo.
\J sublinhar a lei decisiva da taxa de lucro, a repartiçá~da mais-valia em
17. A b e r t o Mario, adepto republicano d e Giuseppe Mazzini, é lucro, juro e renda fundiária, e as modificações trazidas pela concor-
3 rência nesta repartiçzo -, teoricametzte fundamental para a crítica d o

'
encarcerado em 1874 sob a acusaçáo d e conspiraçáo antimonárquica
capitalismo, não tem a mesma importância prhticn d o Livro I para a
-exatamente contra Vítor Emanue111 (1820-1878), rei d o Piemonte-
Çardenha e também, depois de 1861, d a Itália, mencionado pouco aci- luta operária. Ao conceituar a exploraçáo dos trabalhadores (com a
teoria d a mais-valia) e a tendência objetiva 5 socializaçno da produçao,
ma a propósito de urna peregrinação a seu túmulo.
o Livro I atende plenamente às necessidades do movimento socialista.
18. ~&reAchilleLoria- com uma descrição d o artigo "L'influenz A conclusão é que, só com o avanço da luta política e a decorrente

'
-l

)
sociale dell'aeroplano" -, d, particularmente, vol. 2, p. 257-262. Re-
ferências a A. Loria e a o lorianismo estão espalhadas em vários pontos.
Cf., inter alia, n o vof. I, p. 13 8-140, 157-159e 185-188.
proposição d e novas questões práticas, o Livro I11 deixaria de ser u m
capítulo basicamente "náo lido" pelos socialisras, entrc outros momen-
tos ainda não elaborados e valorizados da teoria de Marx. Gramsci se
.
1
refere a esta idéia de R. Luxemburg em outras ocasióes: cf., por exein-
pio, vol. 1, p. 209-2 10 e 223 -225.
> 19. Nas Qrkestóes frn~zrlnrne~ztaisdo marxismo,Georges Plekhanov
escreve: "Meu &igo Victor Adler observoii com muita justeza, n
) artigo q u e escreveu n o dia d o enterro de Engels, q u e o socialismo, ta 22. Sobre o paralelo hegeliano/rnarxiano cntre a filosofia clássica
) como Marx e Engels o compreendiam, é uma doutrina não só econô alemã e a polirica revolucion8ria francesa, com a mesma referência aos
mica, mas também universal. [...I Mas, quanto mais verdadeira é e versos d e Giosuè Carducci, cf. vol. 1, p. 188-190.
)
característica d o socialismo tal como o compreendiam Marx e Eng
3 Tanto mais estranha é a impressáo q u e se tem ao ver Victor Adler 23. Sobre a posiçáo d e Mario Missiroli a respeito de uma reforma
rnitir a possibilidade d e substituir a base materialista desta 'doutrina religiosa, cf. vol. 2, p. 182-185; sobre a carta de G. Sord a M. ~ i s s i r o l i ,
) tiniversal' por urna base kantiana. O que pensar de uma doutrina uni- na qual se menciona a discrepância entre grandes movirnentos históri-
versal, cuja base filosófica não tem nenhuma relaçáo com todo o seu cos e cultura moderna, cf., vol. 1, p. 391-392; e sobre o próprio
) Missiroli, cf. vol. 1, p. 481-482.
edifício?" Sobre este livro de G. Plekl-ianov, vol. 1,p. 463.
1
1 20. Francesco Olgiati, Cnrlo Marx, Za.ed., Milão 1920. Gramsc 24. A aproximação entre Proudhon, Gioberti e, entre os contem-
também menciona a relação deste Iivro com a visão c porâneos de Gramsci, "revisionistas" como Croce ou Bernstein apare-
)
n o vol. 1,p. 288-291 e 36 1-370. Monsenhor Frances ce em vários pontos dos Ccrder;ízos. Cf., infra, fjS 16 e 26, e também,
1 19621, além da livro sobre Marx, escreve extensamen i~zteralia, vol. 1, p. 279-293.
) ria da filosofia, particularmente Tomás d e Aquino e René Descartes.
)
1 328

1 -- -
NOTAS AO TEXTO

anteriores" meiicionados são textos d o tipo A Roma", na Rnssegnn settimnr~nled ~ l l nstnmpn estera, d e 27 d e dezem-
40. os bro d e 1932. No original d e Gramsci, a alusáo a 'calguns aspectos da
(caderno 3, 151, 153 e 1561, que, reunidos no 4 159 d o mesmo
vida moderna" associados a o baixo romantismo refere-se provavelmen-
caderno, compóem o presente texto C (OUseja, O 4 12 d o caderno 16). te a o fascismo.
41. Sobre Vincenzo Morello (OUseja, O jornalista "Rastignac7'), cf.,
vol. 2, p. 314. "Corrado Brando", protagonista d a tra- 47. Arturo Farinelli (1867- 1948),
em de literatura alemã em
l.amore d e D'Annunzo, é O protótipo d o super-homem Turim, é um dos ponros de referência dos estudos universitários de Gramsci
gédia più entre 1912 e 1913- Sobre A Farinelli, cf., também, infra, p. 141.
dannunziano.
48. Trata-se d o ensaio de Marx "A revoIuÇáoespanhola", de 1854,
42. Gjuseppe Monanni, jornalista e editor, é um dos mais impor
publicado n o oitavo volume da edição francesa de J. Molitor das obras
tantes divulgadores d o individualismo anarquista italiano na primeira
marxianas (Paris, 1927-193 1). Sobre Marx, a Constituição espanhola
metade d o século XX.
d e 1812 e a unidade italiana, cf., particularmente, caderno 6, 5 199,
43. Originalmente anarquista e, depois, partidário d o nascent
n o vol. 5.
movimento fascista em Turim, Mario Gioda (1883-1924) publica n
49. Trata-se d o texto de Engels, "Os bakuninistas em ~ÇGo", pu-
jornal La Folla textos sobre o submundo turinense, sob o pseudônim
blicado originalmente em DoVokstant, em outubro-novembro de 1873,
de inspiraçáo balzaquiana "O amigo de Vaurri n". Sobre Gioda e o sub-
a propósito d a revolta espanhola d o verão daquele mesmo ano.
romantismo na cultura italiana, c£. vol. 2, p. 3 11-3 12. Para outra refe-
rência de Gramsci a M. Gioda, cf. caderno 3, 5 53, n o VOI. 6.
50. Em espanhol n o original. (Ed. bras.: O engenhoso fidalgo D.
t e La Mnizcha, Rio de Janeiro, Aguilar, 1960, p. 601.)
Q ~ ~ i x ode
44. Lema de Mussolini e suas "tropas de assalto". O livro de M
rio Praz, citado acima, s6 é conhecido indiretamente por Gramsci
prop6sit0, cf. caderno 21, 5 14, n o vol. 6). Mario Praz (1896-1982 5 1. Sobre o industrial francês Eugène Schneider, cf., infra, p. 2 8 1
crítico literário e ensaista, além de notável estudioso d a literatura i e 305.
glesa, realiza em Ln carne, Ia morte e il diavolo nella lerter~zftr
romantica um estudo clássico das relaçóes entre literatura, artes figu- 52. Antonio Rosmini Serbati (1797-1855), padre, filósofo e teóri-
rativas, gosto e costume. co político, é também um personagem d o Risorgimento: em 1848,
aparece em missáo diplomática de Carlos Aiberto, rei d o Piemonte-
45. Sobre este mesmo tema, com nova alusão a o número da revi Sardenha, junto a Pio IX. Seus trabalhos, entre eles L a costituzione
ta Cultura dedicado a Dostoievski, em fevereiro de 1931, c€-cadern secondo Ia giustizia sociale, são postos em 1849 n o Índex dos livros
21, S 14, n o vol. 6 . proibidos, o que o faz retirar-se da vida pública. Politicamente, defen-
de um Estado Iimitado a o papel de fiador dos direitos individuais, re-
46- Escrito por ocasião dos dez anos d e fascismo n o poder, o art gulando as relaçóes entre as famílias e possibilitando a preservação e a
go de Louis GiIlet aparece quase integral mente, sob o título "La Nuov acumulação da propriedade.
NOTAS AO TEXTO

5 católico Luigi Scremin, Dominikus Priim-


i 60. Existem neste parágrafo algumas imprecisões. Nas eleições
53- citado pelo ti gerais d e 1913, o Corriere delln Sera apóia o liberal Iro Bonzi contra o
mer, 0. E, professor de Teologia na Universidade d e Friburgo, n a Suí- f católico Carlo Otravio Cornaggia, num distrito eleitoral milanês. Ele-
1 p, além de escrever iiiúrneros tratados sobre moral, é u m renornado 1 ge-se, n o entanto, um político radical, não um socialista. Sobre a fun-
J especialista em Tomds de Aquino- Várias vezes referida nos Cadernos, 1
,
i ção política d o Corriere delia Sem, cf., em prticular, vol. 2, p. 198-200
O ponto de vista dos jesuítas. O
1 a revista Civifin ~ a t t o l i ~expressa
,'
ii
o m e n t á r i o sobre o livro de L. Scremin não está assinado.

do mesmo modo que não podemos julgar um indivíduo pelo


i e 218-224.

61- O anarquistaLuigi Galleani (1861-193 1) publica em 1914,


54-
q u e ele pensa de si mesmo, não podemos tarnpouco julgar e a a s épocas de em Boston, Fficçia a faccia c01 nemico: Cro7mche gi~rdizi~r.ie
dez-
revoluç~opela sua consciência, mas, pelo contrário, é necessário explicar l'an~rchisnzomilitante, um volume de 5 0 6 páginas em q u e recolhe
,ta consciência pelas contradiçúes d a vida material, pelo conflito exis-, as colunas escritas com o mesmo nome em Crorrnca S o ~ ~ e r s j vse-
a,
tente entre forças produtivas sociais e as relações de produção." Sobre manário que ele próprio edita nos Estados Unidos entre 1903 e 1919.
o ùgnificado do "Prefácio" de 1859 à Contrib~di@o2 critica da eço>zomia O s quinze julgamentos selecionados por Gaiieani incluem os de Fran-
pol{tjm, cf., inter d i a , V O ~ .1, p. 140-144 e 157-159; e vol. 3, p. 36-46. çois Claudius Koenigstein (1859-1892), conhecido como Ravachol,
e ~ m i l Henry
e (1874-1894), ambos executados na guilliotina.
) I
55. Tliornas Babington Macaulay (1800-1859), historiador e po-
3 Iítico liberal, é o autor d e uma monumental Flistórin da Inglízterrn 62. Sobre este episódio - e a responsabilidade atribuída por
3 (1848-1861)- O ensaio cirado por Gramwi, "On the Ariienian Oratorç", Grarnsci ao Partido Socialista pelo clima cultural eln que eram cduca-
data d e 1824. dos Iiomens como Pietro Abbo -, cf. vol. 3, p. 189.

56. Gramsci também alude a estes peculiares "ancizes de Santa 63. Trata-se d o pequeno conto intitulndo "O saco prodigioso", in
) Zita" n o vol. 2, p. 36. Sobre F. De Sanctis, cf. vol. 1, p. 478. As mil e ~ r > nfzoites,
n Rio de Janeiro, Acigi, s/dJ p. 63. N o conto, Ali, o
-J narrador, descreve sua disputa com um ciirdo que, n o mercado, lhe
57. N o pefácio de seu A teoria d o rnnterinlismo histórico. Mcinlml roubara inesperadamente um pequeno saco. Na presença d o CBdi, ten-
) popirlm de socialagia mmonista, de 1921, N. Bukharin diz: "Este livro tam "provar" serem OS legírimos proprietários, indicando -num cres-
) nasceu das discussões travadas nas conferências de trabalhos praticas que cendo surrealisra - animais, pessoas, cidades e regiões inteiras que o
) o autor dirigia comJ I? Denikt" Cf., em particuiar, vol. 1,p. 121-124. saco supostamente conteria. Ao sugerir "refazer a narrativa", Gramsci
talvez tenha em mira a inutilidade de certas disputas verbais, que, afi-
58. Sobre esta afirmação de Engels (no Anti-Diihing), cf. vol. 1,
nal, se revelam pouco mais que nada ("cinco caroços d e azeitona"):
p. 179-183.
uma condenação, na forma de fhbula, da idéia de se fazer ~ o l í t i c ade
1 modo meramente abstrato, sem objetivos precisos e sem uma sólida
59. Trata-se dos parágrafos recolhidos no caderno 12, "Aponta-
mentos e notas dispersas para um grupo de ensaios sobre a história dos fundamentaçiio.
intelectuais", n o uol. 2, p. 13-53.
N O T A S AO T E X T O

64. ~~~~~~i retoma e amplia uma iddia do prefácio à primeira I 3. A primeira frase entre aspas, retirada d o artigo d e B. Tecchi, é
edjs.-o do ~ ~ ~ ci cr pais
~~ l : desenvolvido não £a-Lmais d o que re-
mais
presentar a imagem futura d o menos desenvolvido." (K. Marx, O Ca-
1 de F. Burzio; a segunda provavelmente é d o próprio Gramsci e deve
ser comparada com uma afirmação de Goethe em sentido oposto. Cf.
vol. I, p. 433.
pital. da ecoTmminpolítica, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira,
1998, Livro 1,vol- 1, P- 5)-
1
1 4. Sobre a relaçiio entre partido político e personalidade individual,
Croce afirma: "Os partidos políticos são modalidades que se oferecem 2s
6 5 . Eduard Bernstein (18.50-1932), teórico d a social-democracia
várias personalidades para forjar i n ~ r u m e n t o sde ação e afirmarem a si
alemá, n o final d o século X X uma '~revisáo" do marxismo.
mesmas e, com elas mesmas, aos próprios ideais éticos, bem como para
Em 1899, publ jca 0 s P~~SSMPOSIOS do so~ialismoe as tarefas d a social- realizar esforços para segui-los; daí a importância que têm nos partidos os
democracia, texto clássico d o reformismo soci al-democrata. (Ed. b r a s lideres e os condutores, e não só estes mas também os outros que parecem
parcial: Socinlism~evohcionário, Rio de Janeiro, Zahar, 1997). ocupar postos secundários e modestamente se retraem à sombra e, n o
entanto, movimentam o fio das ações. O que conta, pois, é o vigor da
66. Max Nordau (1849-1923), psiquiatra e escritor de origem ju
personalidade em que se recolhe e expressa o ideal ético; os partidos ( c o r
deu-húngara, além de ser um dos líderes do,movimento sionista, es tuma admitir-se) são aquilo que são os indivíduos que os compõem e os
creve em alemão ensaios de crítica da cultura, enfatizando a decadênci
personificam" (B. Croce, E t i ~ -e
r politia, Bári, Laterza, 1931, p. 237).
do pensamento e da arte na Europa.
5. Cf. vol. 1, p. 267-269.
67. Cf., supra, § 21.
6. N a passagem mencionada, Croce afirma: "Isto não deve impe-
dir q u e se admire sempre o velho pensador revolucionário [Marx] (sob
2. CADERNO 26 f muitos aspectos, bastante mais moderno d o que Mazzini, que entre nós
I se costuma contrapor a de): o socialista que entendeu como também
1. Adriano Tilgher (1887-1941),ensaista e filósofo, interessa-se pelas aquilo que se chama revoluçáo, para se tornar fato político e efetivo,
relações entre pragmatismo e idealismo, além d e escrever sobre teatro deve-se fundamentar na história, armando-se de força ou poder (rnen-
e esrética em geral. Opositor d o fascismo, Tilgher também edita vários tal, cuItura1, ético, econômico), e não confiar em sermões moralistas e
jornais, como II Mondo e I1 Popolo di Roma. Em 1928, A. Tilgher reú- ideologias e discursos ilurninistas. E, alem da admiração, a ele igual-
ne alguns artigos dispersos em jornal n o volume Storin e nntistoria, mente reservaremos - nós, que então éramos jovens, nós, por ele
mencionado criticamente no parágrafo. Sobre este mesmo livro, 6, educados - nossa gratidáo, por haver contribuído para nos tornar
também, vol. I, p. 230-23 1. insensíveis às seduções alcinescas (Alcina, a decrépita maga desdenta-
da, que simulava as feições d e jovem em flor) da Deusa Justiça e d a
2. Sobre Filippo Burzio e o tema do "derniurgo", c£.,particular Deusa Humanidade." Sobre o estilo d e A. Loria, ver neste mesmo li-
mente, vol. 3 , p. 120-122. Cf., ainda, infra, p. 115. vro de Croce o ensaio "Le teorie storiche de1 prof. Loria", in Id., Ma-
terialismo storico ed economia marxistica, 4.. ed., Bári, Laterza, 1921.
NOTAS AO TEXTO

3. DOS CADERNOS MISCE~ÂNEOS


7- ReferEnciaúfrada a Marx. O ensaio de Franz Mehring, de 1903,
~ ~ el a alegoria" e está presente na coletgnea de D.
se ,-harna c c ~ Marx 1. Sobre os termos nr&i e nrditisnzo, cf. vol. 3, p. 379-380.
Riazanov, ed. braç. cit., p. 49-52. Franz Mehring (1846-1919), diri-
gente e teórico d a esquerda social-democrata, é um dos fundadores - 2. O escritor Jocques Rivière (1886-1925), editor d a Norrvelle
com Rosa ~ ~ ~ ~e Karl u r g -d a Liga Espartaquista, que
~ bLiebknecht Reurte Frnrynise a parrir de 1919, fora prisioneiro dos alemães durante
depois se converte n o Partido Comunista d a Alemanha Além de .im- a Primeira Guerra Mundial.
portantes de sociologia d a literatura, deve-se a Mehring a
primeira grande biografia de Marx, publicada em 1918. 3. Jean Barois é personagem d o romance homônimo de Roger
Martin du Gard, publicado em 1913. Neste romance, Martiii du Gard
8. Sobre este mesmo tema, cf. vol. 3, p. 244-24.5; sobre Ferdinand (188 1-1958) retrata a crise social e intelectual da França durante o caso
Lassalle, cf. ibid., p- 389- Dreyfus. Escreve também o importante ciclo romanesco de O s Thibnrrh,
1 entre 1922 e 1940, e recebe o Prêmio Nobel de Literatura em 1937.
-) 9. O pubb1ico irfficnlle desempenha uma funçáo pública legislativa,
3 judici&ia ou administrativq mesmo sem estar enquadrado regularmente
n a administraçáo pública O segundo termo -ufficiale dello stato c.iMle 1i 4. Cesare Beccaria (1738-1794) escreve em 1764 D l d e l i u i e delle
pene, um dos livros básicos d o Iluminismo, dc amplo impacto nos pro-
- indica "oficial de registro". jetos de reforma pcnal; nele, Beccaria combate a pena de morte, a tortu-
3 ra e ar, injustiças d o sistema judicijrio. O teólogo Ferdinando Facchinci,
9 10. Mantivemos no original o termo ascaro ("soldado", em ára- um dos muitos opositores encarniçados que C. Beccaria encontrou jii
be), para indicar o nativo alistado especialmente nas tropas coloniais
em seu tempo, escreve seu livro em 1765 por encomenda das autori-
italianas na Eritréia, Somália c Libia. Por extensão - e com sentido
dades de Veneza.
pejorativo -, ascaro, num certo momento, passa a designar os depu-
tados disponíveis a colaborar com os grandes partidos e o governo, com
5. Sobre Luca Beltrami, cf. vol. 2, p. 110-111.
3 as características assinaladas por Grarnsci. A palavra crumiro significa
"fura-greves" n o vocabul~riosindical. O termo moro, d o qual provém
moretto, signifiqa -além de "rnouro" - morena escuro", "escuro", 6. O poeta Vincenzo Monti (1754-1828) celebra, em estilo neo-
r <<
negro".
cliissico, a R e v o l u ç ~ oFrancesa e Napoleáo, que tem um papel an-
tiaustríaco na Itiilia. Sua frase aqui transcrita deve ser entendida como
> 11. D e acordo com a sugestão gramsciana, mantivemos em italia- referência ironica à própria ingenuidade ou simplicidade.
1 n o alguns termos, entre os quais riscossa e riscatto, pertencentes prati-
1 camente a uma mesma área semântica (ccsublevaçáo", "redenção", 7. Ruggero Bonghi (1826-1895), político e as, par-
I "libertaçãon, "emancipação"). ticipa da rebetiáo napolitana de 1847-1848 co ns. Em
suas memórias, registra obras e opiniões de um seleto grupo d e in-
'I
12- Sobre a origem militar-francesa de riscossa, cf., infra, p. 125. telectuais reunidos no Piemonte, entre 1850 e 1855, em torno de
1 Alessandro Manzoni e Antonio Rosrnini Serbati. Gramsci critica dura-
1
NOTAS AO TEXTO

mente su>isopinibes moderadas por ocasião d o s movimentos de 1848- 1 14. O termo scopiglintura - "desregramento", "vida livre e licen-
ciosa" - designa um movimelito artístico de vanguarda originalmente
1849 em Florença- Cf. caderno 19, 5 18, n o vol. 5-
4 milanês, na segunda metade do século XIX. As influências mais sentidas
pelos s q i g l i n t i sáo Baudelaire e os simbolistas franceses, os românticos
8. Cf., infra, p- 101. alemses, Edgar Nlan Poe; seus alvos polêmicos, a mentalidade burguesa
e as tendências clássicas. Representam o movimento, entre outros, os
9. Giuseppe Tucci (1894-1984), professor de Filosofia Oriental na
romancistas Giuseppe Rovani (18 18-1874), Emilio Praga (1839-1875)
Uiiiversidade de Roma, passa viirios anos n o Extremo Oriente, traba-
indianas e realizando expedições cientificas e Iginio Ugo Tarchetti (1841-1869), o poeta e pintor Giovanni Camerana
lhando em (1845-1905), bem como Arrigo Boito (1842-1918), o libretista deVerdi.
no Tlbere, no paquistáo e n o Afeganistao. Em 1929, torna-se membro
da Academia da Itãíia.
15. Santa Vehrne, ou Vehmgericht, é uma espécie de tribunal se-
creto com grande poder na VestMIia, entre os séculos XII e XVI.
10. O termo pi~ricellismoderiva de Piero Puricelli, engenheir -

idealizador e construtor das modernas auto-estradas.


16. Gaetano Salvemini [Rerum Scriptor], "Per gli incidenti di
f
Terlizzi", L'Unizri, 2 6 de setembro de 1913. O artigo trata da utilização
11, No vergo de 1928, a aeronave "Italia" cai n o Ártico, causando
d e niarginiiis nas ekjçóes como política de governo. Sobre G. Salvemini,
a morte dc dezessete tripulantes mas saivando-se o comandante Um-
i cf. vol. 1, p. 459.

I
berro Nobile (1885-1978)c outros sete companheiros. h comissZo de
iiiquérito govername~itsl- com motivaç;io política, jii que Nobile náo
era adepto do fascismo - considera-o culpado e afasta-o d a força ié-
17. Sobre F. G u i ~ c i a ~ d i ncf.
i , vol. 3, p. 383.
rea. Dcpois de Segunda Guerra, o relarório cai em descrédito e Nobile,
reincorporndo, torna-se deputado constituinte pelo PCI. N o fim do 18. Sobre Arturo Labrioia, cf. vol. 2, p. 3 18-3 19.
pnriigrafo, Gramsci rneiicioiia "Caporetto", a dura derrote italiana na
Primeira Gucrra diante dos austríacos e alemses em 1917. Em italia-
no, a partir de cntBo, "Caporetto" passa a ter o significado geral de
i 19. "IspolcornX é a sigla d o comitê executivo da Terceira Interna-
cional. Logo a seguir, n o rexto, h& uma referência, também encontra-
' L ~ a l ~ m i d a d oe 'u' C C d e r r ~catnstrófi
ta ca". d a n o artigo de G. Gabbrielli, à organizaç8o genebrina anticomiinista
i Eyztenie contre Ir Troisièlne Internntionnle.
12. Em francês no origir-ial. 1 20. Em 1927, o católico conservador francês Henri Massis (1886-
13. Como Gramsci indica imediatamente a seguir, trata-se de uma 1970) publicaDéfevl.se de I'Oçcident, que Gramsci lê no cárcere de Milão.
, que existe uma ampIa crítica do
frase extraída de A Sngrnda F L i ~ f z í Z i ~em Novas referências a H. Massis encontram-se em infra, p. 1 6 9 e 218-219.
romance de E. Sue, publicado em folhetins em 1842-1843. Sobre E. Sue, A "carta aberta" de Ugo Ojetti e a resposta d o Padre Enrico Rosa
c€., também, infra, p. 109. Eugène Sue (1804-1857), romancista francês são retomadas n o caderno 5, 5 66, e no caderno 23, S 9, no vol- 6.
é autor de narrativas populares sobre a vida nos bairros misergveis e Sobre Ugo Ojetti, cf. vol. 2, p. 3 10. Sobre o Padre E. Rosa, cf., infra,
submundo parisiense, retratada segundo ideais humanitários e reformistas. p. 360.
NOTAS A O TEXTO

> ~ 0
21. ~ ~ b ~ ~ ~ ~ ~ cf.~V Oi~ .3,~ p.o367. a pedagogo
n ~ i Giuseppe
l l ~ ,
29. Cf., supra, p. 82-85.
) Lombardo-Radice (1879-1938). professor na Universidade de Catânia,
30- Em 1932, Franz Weiss reúiie artigos anteriormente publica-
defende as posi@es d o idealismo filosófico. N O primeiro Governo fas-
dos nos Problenri de1Louoro, de Mi150, no v01 ume N~douoRevisio~~isrno
) cista, Lombardo-~adicecolabora, como encarregado d a escola prim&
socialistn ~relIadottriiia e ,relln prnssi). A pretensa
(Snggi d i revisio~ris~izo
ria, com 9 reforma gentiliana da educaçdo, antes que divergências políticas
1 o 1evassem a abandonar O cargo-
'cprofundidade" de F. Weiss leva Gramsci a associá-lo, ironicamente. 5
> ,-.
figura de um profeta e até a evocar o "livro das Sere ~rom6etas",isto
.I 22. Sobre Ugo Bernasconi, cf. caderno 15, 5 54, n o vol. 6. é, o Apocalipse.

-J 3 1. Uma breve nota ou artigo de jornal podem estar localizados


23. ~ r russo,
n a palavra Bog ("Deus") tem a mesma raiz d e bogati
("rico"). Bukliarin chama a atençáo para este nexo em I g r e j a e escola entre dois asteriscos ou pequenas estrelas (stellete); por metonímia,
) na Repiiblica dos Sovietes", um capitulo d e seu livro O programa dos steneta ~ o d rarnbém
e designar o próprio autor da nota ou artigo.
ç o i j n r > ~ i ~Moscou,
t~s, 1918. Grarnsci tinha publicado o capítulo bukha- Gramsci emprega esta palavra tanto para Franz Wciss quanto para
)
Giovanni Ansaldo, O "Estrela Negray', famoso jornalista d o Lnuoro, de
> riniano n o Ordijze Nrdovo de 30 de agosto de 1919.
Gênova. Sobre a contraposiç50 entre F. Wciss e G. Ansaldo, cf., em
? 24. As palavras i talianas dovizia e dovizioso ("abundâncià7 e "abun- particular, caderno 23, 5 2 3 , n o vol. 6; sobre G. Aiisaldo, cf., irrter alio,
) dante") .guardam relaçiio imediata com as latinas divites e rliuitin. Em vol. 2, p. 18%.
porruguês, registra-se tanibém o arcaísmo "divícia" ("riqueza").
)
25. Grarnsci aqui menciona, prnv;ivelmente, a propensáo italiaii
) à duvida, ii suspcita e 5 insinuação, em detrimento d o caráter concret
) das provasvalorizado pela mentalidade inglesa.
1 26. A. Arnati e E E. Guarnerio, Dizionnrio etimologico cii 12 nzila 34. Todas as citações d o Donz Q~.~ixote,
neste parggrafo e no sub-
) uocnboli itnliafzi derivati da1 *eco, Milgo, Vilardi, 1901. sequente, estio em espanhol. Sempre nos valemos da edição brasileira
\
I citada em supra, p. 335.
1 27. Sobre Mario Govi, cf. vol. 1, p. 176-178.
35. Grifos de Gramsci.
28. A waiiaçho positiva de Luigi Einaudi sobre o Dizior~ariod
) Giulio Rezãsco está em "De1 m o d o di scrivere Ia storia de1 dogrna 36. O Weiss germânico equivale à forma
) econornico", Riforma Sociale, março-abril de 1932. O mesmo artigo
de L. Eii~audifornece as indicações bibliográficas anotadas n o § 148,
1 -
tnfra. Sobre L. Einaudi, cf. vol. 1, p. 467.
37. Sobre Edmondo De Amicis, cf. vol. 2, p. 315.
1
c**&RNOS DO CÁRCERE NOTAS AO TEXTO

i
livornense Carlo Bini (1806-18421, amigo de 43. Gramsci provavelmente tem em vista uma nota publicada n o
38. Q
f M~TZOCCO de 2 5 de outubro de 193 1, que reliita o uso, 110 passado, desta
Giuseppe Mazziiii, passa de fato um período d e três meses confinado i
peculiar "focinheira" hiimalia em alguiis países europeus.
lia lljia de Elba, em 1833, acusado de atividades em favor d a Jovenl i
Itdlin na regiáo toscana- Sobre C. Bini, cf., também, caderiio 19, 5 9, 1
f
44. Cf., supra, p. 114.
no voI. 5. 1

45. Luigi Pulci (1432-1484), poeta ligado a o círculo florentino da


39. Cf., supra, p- 57.
família Medici, notabiliza-se como autor de Morgnfzte, uma paródia
40. Gramsci extrai a opiniáo de F. Baldensperger de um artigo de renascentista dos poemas épico-cavaIeirescos.
Carlo Franelli, ''Biografia: sinceri tà e maturità", publicado na Critica
fascistnde julho de 1932. Fernand Baldensperger (1871-1958), histo- 46. Sobre as "Teses de Roma", cf. vol. 1, p. 255-256. Segundo a
riador francês d e literatura, é um dos pais da moderna literatura com- orientaçáo esquerdista impressa às "Teses", náo havia possibilidade de
um golpe d e Estádo militar ou fascista. Sobre o peculiar raciocínio de
Dom Ferrante, personagem de O s ~ ~ o i v construído
os como caricatura
41. Frédéric Lefèvre, "Une heure avec le Dr. Gustave Le Bon (La do erudito d o século XVIII, C€.vol. I, p. 179-183.
philosopliie scienti fique)", Les Norrvelles Littbrnires, 27 de setembro
de 1930. Nesta entrevista, Le Bon afirma: "Nunca estive com Mussolini, 47. Cf. vol. 2, p. 262.
mas me correspondo com ele; sua íiltima carta data de 22 de maio dc
1929 e é bastante interessante. Ei-ia: 'Meu querido mestre [...I Demo- 48. Cf., supra, p. 89-90.
cracia 6 o governo que dã o u tenta dar ao povo a ilusáo d e ser sobera-
no. Os instrumentos desta ilusão variaram segundo as épocas e o s povos, 49. O livro do historiador inglês John Robert Seeley (1834-1895),
11x3s nunca O conteúdo e o s objetivos..."' Gustave Le Bon (1841-193 I), Cespaizsione della Inghilterra, aparece na Itália em 1928 c dele Gramsci
sociólogo e psicólogo, autor de Psicologia d a s multidões (1895), de- parecc ter tido um conhecimeilto apenas indireto. Neste livro, R. Seeley
fende teorias marcadas pela preocupaçáo com características nacionais argiirnenta que "náo é tarefa d o historiador levar o leiror de volta a o
e superioridade racial- passado ou fazê-lo ver os acontecimentos tal como apareceram aos
contemporârieos. c...]
Em vez de nos fazer participar das paixões de
42. O artigo d o editor A. E. Formiggini aparece n a Itnlia che outros tempos, o historiador nos deve fazer notar q u e um aconteci-
**-.
scrive de dezembro d e 1928. AngeIo Fortunato Formiggi ni (1875- mento, apesar d e atrair toda a atençáo dos contemporâneos, foi na
1938), q u e lança a Italin che sçrive em 1918, também é o fundador realidade de pouca importância, enquanto um outro, quase ignorado
d o Instituto Leonardo, para a propagação d a cultura italiana. Pres- pelos contemporâneos, teve grandes conseqüências".
sionado pelas leis anti-semitas d o regime, A. Forrniggini viria a se
suicidar. 50. A referência é, mais precisamente, a H. G. Wells, Breve storia
Sobre Pietro Badoglio, cf. vol. 3, p. 386-387. de1 mondo, Bári, 1930, livro efetivamente lido n o cárcere. Sobre Wells
e sua Storia del rrrondo, cf., também, vol. 2, p. 114-116.
59. Sobre Giuseppe Canepa e os acontecimentos turinenses de
SI. Cf. vol. 3, p. 285-286-
7 1917, cf. vol. 2,p. 218-224; e caderno 8, $ 83, n o V O ~ .5-
t
> 52. par%rafo, cancelado na ediçzo temática dos Cadernos,
contém referências pessoais precisas Neste trecho, por exemplo,
!
i
i 60. Daniele Manin (1804-1857)) um dos personagens d o Risor-
1 alude a uma carta, assinada por 'cRuggiero" II girnento, lidera a rebelião antiaustriaca d e 1848 como presidente
Gramsci
7 (Ruggiero Grieco, dirigente comunista exilado na Uniáo Soviética), que 1 d a República d e Veneza, q u e resiste heroicamente a o cerco das tro-
) recebe n o chrcere de Miláo, em 1928. Sobre O episódio, cf. "Cronolo- i
I
pas dos Habsburgos até agosto de 1849. D. Manin morre exilado
f em Paris.
gia da vida de Antonio Gramsci", n o vol. 1,p. 66-67.
f Sobre Niccolò Tommaseo, cf., em particular, vol. 3, p. 208-209.
3 53. Originalmente publicado naEconomist d e 8 de abril d e 1933,
3 este dos zulus reaparece na Rnssegm settimannle ilelln stompn 61- Reproduzida pela Rassegna settimamle rlelln $tampa stern d e
) stern de 2.5 de abril de 1933. 1'd e agosto de 1933, esta definiçso de civilizaçáo aparece num edito-
rial d o Doily Mail que faz a apologia d o fascismo. passagem citada
54. mverdade, o Mnnifesto Conzuizista é um dos textos com os quais por Grarnsci Segue-se, por exemplo, o comentário: "Mussolini demons-
Gramsci se ocupa em seus "cadernos de tradução". NoMnnifesto, Zui?fi- trou a o mundo como esta forma de coiltrole ser exercida com o
biirger ilidi ca os membros das corporações medievais; já Pfahlbiirger e maior sucesso pelo Regime Fascista."
Pf<ihlbiirgersch~zfldesignam a pequena burguesia medieval, que vive fora
dos muros das cidades; precursora da burguesia moderna, ao lado do pe- 62. Sobre Francesco Coppola, cf- vol. 1,' p. 485; sobre Roberto
queno campesiiiato, esta pequena burguesia - segundo o Manifesto - Forges Davivanzati, cf. ibid., p. 484; sobre Maurizio Maraviglia, cf. vol.
tende a desaparecer na moderna sociedade burguesa e s ó vegeta como um 3, p. 414.
sinal do passado nos países de menor desenvolvimento industrial. Giulio De Frenzi é o pseudónimo dc Luigi Federzoni (1878-1967),
1
)
1
1
1
55. Há outras referências a esra sondagem d o Snggiutore n o vol.
1, p. 3 19-320 e 361-370.

56. Sobre o "homem de Guicciardini", cf vol. 1, p. 478.

57. Galileu Gãlilei publica I1 snggiatore (O Ensaiador), em 1623.


I
11
fnndador do Partido Nacionalista, em 1910, e d o jornal deste parti-
do, EIdecr Nnzionale, a o lado de F. Coppola, R. Forges Davanzati e
M. Maraviglia. L. Federzoni é um dos promotores da fusáo d o Parti-
d o N a c i o ~ ~ a l i scom
t a o Fascista, em 1923. Ministro mussoliniano d o
Interior e, em seguida, das Colônias, torna-se senador e presidente
d o Senado (de 1929 a 193 1).Editor da revista Nuova Antologia des-
de 193 1, L. Federzoni também preside a Academia da Itália a partir
1 de 1938.
1 58. Sobre o texto de B. Croce, cf., em articular, vol. 1, p. 420-422.
O termo "problemismo", aplicado revista Uyuta, deve ser entendido como 6 3 . O presente juízo negativo sobre A. Farinelli colide com o inte-
1 referência auma atirude filosófica que relativiza rodas as posições e conside- resse que sua obra havia despertado entre importantes colaboradores
ra a vida como busca contínua e sempre aberta à forrnulaçZo de novos pro- do Ordine Nlrovo, como Palmiro Togliatti e Piero Gobetti e até o pró-
) blemas. Sobre a Unita e seu diretor, Gaetano Salvernini, cf. vol. l, p. 459. prio Gramsci.
\
NOTAS A O TEXTO

i
4. Em duas cartas a Tania, de 28 d e setembro e 12 d e outubro -I
B~~~~~~~~~~ zumbini, morto em 1916, é catedrático de literatura
d e 1 9 3 1, Gramsci observa: "Muitos cossacos acreditavam, como
italiana na universidade de Nápoles. NO caso de B. Zumbini, o juizo "7
de ~~~~~~i pode ter sido influenciado por algumas críticas de Croce
artigo d e fé, que o s judeus tinham rabo r...].
Esses cossacos não ti-
$ nham judeus em seu território e os concebiam conforme a propa- l
7
a o professor napolitano. I
ganda oficial e clerical, ou seja, como seres monstruosos q u e haviam I

matado Deus" (A. Gramsci, Lettere da1 cnrcere, Palermo, Se11erio, , >
1996, p. 4 7 2 e 480).
'7
r i . AGÃO CATOLICA '?I
5. A Confederação Italiana dos Trabalhadores, criada em setem-
I . CADERNO 2 0 bro de 1918, reúne o s sindicatos católicos, chamados d e "brancos", >
I que se opõem 2s organizações operarias socialistas e laicas. Sobre o -l
1. pio XI (1857-1929), eleito papa em 1922, em plena ofensiva ias- Partido Popular, cf. vol. 1, p. 481. -I
.isrn, fa\~orecea tendência d o Vaticano a buscar uma aliança com o
If 6. A Uniáo Internacional de Friburgo (Suíp), clue funciona entre I)
fascismo, definitivamente ratificada com a assinatura, em 1929, da
1884 e 1894, reúne os "católicos sociais" de vjrios países. Caráter
chamada Concordata (cE, supra, p. 330, V. 26). Um dos primeiros atos i I/
d o seu é precisamente a reforma d a Ação Católica, con- 1 análogo tem a Uni30 Internacional de Estudos Sociais, fuiidada em 1920 -I
cluídn crn outubro de 1923, com a aprovação dos novos estatutos, que
fortalecem o caráter unitáirio da organização e acentuam sua subordi-
I em Malincs (Gélgica), responsável pela publicação, em 1927, d o Códi-
go Social, também coiihecido como Código de Mnlii~es,de carater ge-
')
n a ~ " 5 hierarquia eclesiástica. Tainbém se definem o s objetivos da i ~ é r i c oe conservador.
orgiinizagZio: a colaboraçáo d o laicato cztólico com o apostolado hierár- Qiiaiido se refere às mudanças ocorridas 110campo da organiza- li )
q u i c o da Igreja e a forrnaç50 dos quadros d o movimento catóólico em
colaboração com as escolas e universidades católicas.
if sindical, Gramsci est5 aludindo b criaçáo de sindicatos '"oficiais" e
compulsórios na ItAlia fascista e na Alemanha nazista, com a consc-
I)
'I
i ')
quente proibição de sindicatos livres e autônomos. li
2. Grarnsci se refere aqui, evidentemente, a sua chegada h ilha de 1
I'\
Ústica, onde fica confinado entre 7 de dezembro d e 1926 e 20 de ja- 7. FiIippo Naldi, diretor deZ I Resto del Cnrlino, órgão dos latifun-
neiro de 1927. di8rios da Emília, arregimenta o suporte financeiro para o lançamen-
to, em 19 14, de I1 Popolo d'ItoZin, o primeiro jornal dos fascisras. E
3 . A palavra francesa rnnnnnt significa originariamente habitante Naldi seria depois preso como um dos organizadores do atentado con-
d o burgo ou da aldeia (do verbo manoir, "habitar"); por extensão, tra o deputado socialista Giacomo Matteotti. Sobre este atentado, cf.
adquire o sentido de "rústico", "grosseiro", "mal-educado". D o mes- "Cronologia davida de Antonio Gramsci", vol. 1, p. 61. Sobre a ativi-
m o modo, a palavragréciirr, citada pouco acima, tem hoje o significado dade político-jornalística de F. Naldi, cf., também, vol. 2, p. 218-224,
de "patife". e caderno 19, S 5, no vol. 5.
NOTAS AO TEXTO

1 dos terciários franciscanos é a mais conhecida e im- Grémsci escreve: "O líder do movimento era Monsenhor Umberto
8. A
1 portant-e das terceiras ordens seculares. Fundada pelo prbprio Francis- 1 Benigni e uma parte da organizaç80 era constituída pelo 'Sodalitiilm
3 co, em 1221, difunde-se rapidamente por toda a Europa. 1 Pianum' -'Pianum' de Pio, que, de resto, ao que parece, nZo era nem
1
mesmo Pio X, mas um outro papa ainda mais intransigente." Nopre-
1 sente texro C, Gramsci especifica tratar-se de Pio y em cujo papado
9. Francisco de Assis (1182-1226) encarna um d o s mais fortes
-I (1566-15721, em pleiia Co~itra-Reforma,se publica o Catecismo d o
movimentos de massa de reaçáo Igreja, cuja primeira manifestaç50
3 data do início d o século XI. Francisco defende o ietorno à pureza do Concílio d e Trento.
) Evangelho, que se torna a regra fundamental d a ordem que cria em
1209; mas a livre e fraterna comunidade apostólica que surge d e sua 13- Chama-se Silloil o movimento cristáo social fundado por Marc

'
-J

)
pregaçáo 6 rapidamente canalizada e controlada pela hierarquia ecle-
siástica, que a transforma numa ordem religiosa posteriormente cleri-
calizada e politizada. Sobre este tema, cf. vol. 1, p. 93-114.
Sangnier em 1894. Condenado por Pio X como "modernista" e dissol-
vido em 1910, o movimento é co~isideradoinspirador da democracia
cristã.

10. Cf. Arthur Roguenanr, Patro?zset ouvriers (Orivrage couronné i 14. O jansenismo - d o nome do inspirador d o movimento, o
P par l'hcadémie des sciences morales et poliriques), Paris, J. Gabalda, 1 -
holandês CornElio Jansen (1585-1638) é um movimento filosófico-
) 1907, XXI-18 1 p. 1 religioso surgido em Flandres, que se afirma sobretildo n a França no
3
>
>
11. 0 integrismo católico - concepçao segundo a qual todos os
aspectos davidu política e social devem ser conformados com base nos
1
I
século XVIII. Propondo o retorno d o sentimento A pureza e
simplicidade evangélicas, logo assume um caráter político: opõe-se ao
domiilio temporal dos papas, combatendo a autoridade dos soberanos

)
princípios irnutiiveis d a doutrina catblica, o q u e implica a condeiiação
de toda s evoIuçáo da história moderna - surge inicialmente, no sé-
i
3
e a uiiificaçáo entre poder temporal e espiritual. Foi condenado pela
Igreja e duramente perseguido.
curo XIX, como reaçso a o iluminismo e a o racionalismo d o ç6culo i4 15. Ernesto Buonaiuti (188 1-1956), padre e professor, é um dos
) anterior. Tem seu máximo desenvolvimento sob o s de Leão
1 Iíderes d o modernismo italiano. Exco~nungadocm 1926, é demitido
I)
XIII (1878-1903) e de Pio X (1903-1914).
I em 193 1d o cargo de professor de história da religiáo na Universidade
I 12. Umberto Benigni (1862-1934) empenha-se na luta contra O de Roma por rer se recusado a prestar o juramento fascista.
"moder~iisino"católico (cf. vol. 1, p. 473-474, e, intra, p. 232-233) e
apóia os monarquistas e nacionalistas de ultradireita congregados na 16. Erich Ludendorff (1865- 1937), general prussiano, chefe dos
Açtion Frangnise (cf. vol. 2, p. 316). Funda, em 1909, o Sorlnlitiuvz grupos militaristas de extrema-direita depois da Primeira Guerra, fun-
Piarnrm, o u Sodalício de São Pio V (também conhecido como Sapinière, da um movimento violentamente anti-semita.
) das iniciais S e E'), uma organização cujas atividades secretas visavam a
17. Sobre o modernismo e a encíciica Pascendi donzinicigregis, cf-9

'
) combarer todos os que não eram considerados verdadeiros represen-
tantes da ortodoxia, incluindo teólogos e membros d a alta hierarquia por exemplo, voI. 1, p. 371-376, e, infra, p. 231-233-
da Igreja. N o texto A que dá origem a este parágrafo (caderno 5, S I),
1
NOTAS AO TEXTO

em relaçáo 2 A ÇFrancesa,
~ cf. ~ ~ 1 -i XX], um livro de o r i e n r a ç h neopagá, anticristg e anti-semira Entre -I
18. a pol iriça outras atividades, A- Rosenberg se torna ministro para os territórios
3, p. 381. I
7
19. Sobre o Sjllnbo, cf. vol. 1,p. 458-459, e, infra, F-231-
i
i
no Leste.
como criminoso Em Niiremberg, é julgado e condenado 2 morte
de guerra. 7

20. O de Bento XV (1914-1922), situado entre Pio X i


f
(1903-1914) e Pio XI (1922-1939), coincide com a Primeira Guerra i 2. DOS CADERNOS MISCELÂNEOS
Mundial, durante a qual adota uma política de neutralidade e promove !

várias iniciativas de paz. N a política italiana, Bento XV suspende O non


i
erpedit (cf.,infr+ p. 359, n. 21) e autoriza a f o r m a ç k d o Partido Popu- I! 1. Sobre K Gioberti, cf. vol. 2, p. 306-307. --
lar. A enciclica Ad B e n t i ~ ~ i A
m ip ~ s t ~ l ~ m m,
mencionada no texto, é um i 2. Sobre A- Anzilorti (1885-1924), c t vol. 2, p. 307. Grarnsci-lê
documento de novembro de 1914, logo n o início d o pontificado. f
na prisáo o livro d e Kurt Kaser, Riforma e controriforma (Florença,
i
1927), publicado na Alemanha em 1922.
21. Sobre o uso gramsciano d o termo c'(neo)malthusianismo", cf.
André Philip, viirias vezes mencionado (cf., sobretudo, infra, ca-
vol. 1, p. 478; evol. 3, p. 360. i derno 22), é o autor de Le problème ouwier a u x É t a t s - ~ n i sParis,
, 1927
*
-livro que Gramsci possui no cárcere e que lhe serve para obter varia-
22. Mariano Rampolla dei Tindaro (1843-19 131, nascido n a Sicilia, !i das informações sobre a condiçiio operlria na epoca do maqz.iinisrno,
torna-se cardeal e secretário de Estado d o Vaticano em 1887. Dura-
! da produção de massa e da transformação fordista da economia e da
mente criticado pelos ultraconservadores católicos, Rarnpolla desen- ? sociedade americana.
volve algumas políticas de "abertura", como, em particular, a tentativa
i
de aproximaçzo (Rnlliament) entre a Santa Sé e a restaurada Repúbli- I
I 3. Grarnsci segue d e perto o descnvolvimenro da campanha elei-
ca Francesa. Com isso, estimula a participago dos católicos na vida i
i toral na Sardenha, em 1913, em que se registra grande participa~áo
politica d a França, o que marginaliza os monarquistas e afasta a Igreja i das massas camponesas, ainda que sem inteira consciência de sua for-
dá Actiorz Frnqnise.
Giuseppe Zanardelli (1826-1903), politico com vhrias passagens I ça. Segundo muitas fontes, a experiência política fornecida por essas

ministeriais e primeiro-ministro entre 1 9 0 1 e 1903, é autor do veto à


candidatura d o Cardeal Rampol la à sucessáo de Leáo XIII, em 1903.
Ii eleições tem importante papel na formação socialista de Grarnsci.

4. Cf. "Gi urisprudenza dei tribunal i ecclesiastici", II Diritto Eccie-


i siatiço e Rnssegt~acii Diritto Mntrirno~zinle,ano XL, n. 3-4, março-abril
2 3 . Al fred Rosenberg (1893-1946), nascido na Estonia, foge para !
a Alemanha em 1 9 1 9 e se torna, talvez, o mais destacado antibol-
chevique no grupo dirigente nazista, além de um dos principais ela-
I de 1929, p. 176-185.

boradores da fundamentaçgo "científica" das políticas racistas. Edita o


jornal oficial d o Partido Nacional Socíalista, Vdkischer Beob~chter,e
1 5. Todas as citações contidas neste $68,
i tanto as d o direito canônico
quanto as da Bíblia, estáo em latim no original.
escreve, em 1930, Der Mythus des 20. ]nhrhunderts [O mito d o século
)
i
I
7 i
1
'I C A ~ ~ R N ODSo cÁRCERE i NOTAS AO TEXTO

1 J1
i
>
'
No
6. Cf- A. Gemeili, "11v e n t e c i n q u e ~ i mdeila
~ morte di un Papay', \ mencionado, sáo reproduzidos e comentados os
de uma polêmica entre o Osseruotore Romano, por um
Fier,q Letternyjn, 29 de Julho de 1928.
> 7. O Coligresso de Gênova, em 1892, marca a fundaçáo d o Parti-
I
i
lado, e Arnaldo Mussolini e Giovanni Gentile, por outro, ocorrida em
setembro-outubro de 1927. Neste período, as trarativas entre o gover-
do ~ ~ ~ ~ ~i l isob
~ ~ a~lliderança
l o i , ~d e F~~ ~ ~ Turati-
PPo i no fascista e oVaticano parecem paralisadas, com as duas partes mani-
> XIiI (18 10-1y03), sucessor de Pio DC em 1878, ~ u s c restau-a / festando certa rigidez em suas p o s i ç ~ r
da Igreja Católica, fazendo algumas concessões aos no-
rar o
reende uma politi ca de reaproxima~ãocom Bismarck,
I 12- Conhecem-se como "Esratuton as regras constitucionais do
)
)
vos rempos.
f i m aKllloriknn~pf,e estimula o s caróíicos franceses a aderirem II do Piemonte-Sardenha, promulgadas pelo Rei carlos,gberto em
.
sua fí~mosii encíclicalierirrn Nouflrzdm (18911, resPon- que dividem 0 poder entre O monarca e o parlamento e assegu-
a Repúbl ica- 18483

dendo ao avanço do socialismo, lança as bases d e wna nova doutrina j ram direitos civis d e matriz liberal. Embora defina o catolicismo como
) social católica. mesmo tempo, empenha-se enfaticamente Por fazer "a Única religião de Estado", o Estatuto expressa também to]er2nCia

)
do toin~rmoo fliildamento da filosofia católica, apresentando-o como / em face de Outras religiões- Em 1861, quando os italianos se
) a e única rcsposta católica a todos 0s demais pontos de vis- iI 'Orno sob a da casa real piemontesa, o Estatuto torna-se
p o ~ ~ t i c o - s o cconteiiiporâiieo~.
i~i~ Em conseqüência, combate dura- i a Constituição d o Reino da Itália, revogada somente em 1948, coin a
) mente rodas as formas de socialismo e de secularismo e reafirma a 'i ~ ~ ~ ~ de uuma~ Constituiçãog ~ ~ republicana.
á o A dúvida sobre a ab-
r o g a ~ ã od e uma parte d o Estatuto por um dispositivo da ~~i das G;~-
) colidcnasáo ao liberalismo feita por seus predecessores. O intransigente
ali~ilibersljsnio dos ativistiis, assim estimiiliido, leva a uma curta supres- i1 rantias (cf infra, p- 3-59, n. 24) é formulada
9

citado n o início deste parrigrafo.


E Orestario, no artigo
sso dasorgaliizaçóes católicas por parte do Governo italiano em 1898. 1

i
3
-
13- Diz-se "cidade leoiiina" a parte de Roma que compreende o
8. Fillppo Meda (1569-1939), político e jornalista, destacado li- i
der do grupo parlamentar católico do Partido Popular, ocupa o cargo i Varicali0 e suas adjacêiicias, entre o Tibre e as muralhas erigidas
)
de ministro d o Tesouro lium dos governos Giolitti- Papa Leão ZV (847-855), chamadas de muralhas leonjnas. ,

3 9. Gabriel García Moreno (1821-1875) é um importante político 14- Joseph D e Maistre (1753-1821), pensador político francês,
do Equador, náo dii Vcnezucla. Sobre a Kliltrrrhrnpf, inclusive na Ame- deixa a Savóia depois da invasio napole0nica e nunca mais regressa &
)
rica Latina, cf. vol. 2, p. 30-H. C€., rarnbérn, infra, p. 291-294. França. Passa 14 anos na Rússia como enviado d o rei d o Piemonte-
) Sardenha e, depois de seu retorno a Turim, torna-se ministro d o Rei-
1 10. Álvaro Obregón (18 80-19281, antecessor de I? Calles na pre- no. Ultraconservador extremado, De Maistre opõe-se a todas as crenças
sidência d o México, entre 1920 e 1924, empenha-se intensamente nas e filosofias liberais: para ele, somente a auroridade absoluta da monar-
reformas agrária e educacional, entrando frequentemente em conflito quia e d o ~ a ~ a poderia
d o manter a estabilidade política.
)
Niccolò Rodolico (1873-1969), importante historiador preocupa-
com a Igreja Católica. Reeleito em 1927, A. Obregón seria logo depois
d o com questões sociais, publica livros sobre as comunas medievais
assassinado por um fanAtico que se opunha & política anticlerical. SO-
italianas, o jansenismo e o Risol-gimento.
) bre I? Calles, cf. vol. 2, p. 292.
NOTAS AO TEXTO
CADERNOS DO CÁRCERE

3 2 . AS"Semanas Sociais francesas" s ~ encontros


o anuais, nos quais
25. ~ d Cione ~ (1908-1965),
~ fortemente
~ influenciado
d ~ por teólogos filósofos ,e cien.iistas sociais católicos buscavam difundir n o
Croce, escreve importantes obras sobre O Renascimento e a Reforma. seio d o iaicato as doutrinas da Rerlm2 Nounrrtirz. Elas se realizam a partir
NO inicio dos anos 40, rompe com Croce e - mesmo alegando não

ser fascista - aproxima-se d e Mussolini durante a cha-


de 1904 náo só na F r a n ~ a ,mas também na Itália e em outros países.

mada República de Salò, O período terminal d o fascismo. 33. Educador e teólogo, Ferrante Aporti (179 1-1858) é o respon-
siivel por algumas das primeiras escolas maternais italianas, voltadas
3 26. O tema da reIaç50,entre Reforma e Renascimento aparece vá- 1

I para as crianças pobres. Professor e administrador escolar em Cremona,


) rias vezes nos Cndersos. Cf-,itzter alia, vol. 1, p. 361-370.
i na Lombardia, transfere-se para o Piemonte em 1848, onde se torna
3 27. O jesuíta Enrico Rosa (1870-193 8) ingressa na redaçáo da
senador. Suas idéias liberais, tanto na política quanto lia pedagogia, têm
a influência de Rousseau e Pestalozzi. Sobre F. Aporti, cf., também,
) Cjviltd CotmljGoem 1905, tornando-se edi~or-chefeentre 1915 e 1935.
caderno 19, S 27, n o vol. 5.
3 Destaa-se corno firme defensor das posiçóes católicas oficiais contra
) o liberalismo e o modernismo. 34. O historiador Lucicn Romicr (1885- 1944) dedica sua atençso
3 2 8. Gramsci menciona episódios do Risorgiínento, difusamente tra- i maior, depois da Primeira Guerra Mundial, 2s questões econômicas e
sociais. Aceita colaborar em 1926 com Edouard Hrrriot, político redi-
) tados nos par?igraf~~dedicados a este tema, muitos dos quais reunidos
n o caderno 19. Sobre F. Confalonieri, cf., em particular, caderno 19,
i1 cal francês; mais tarde, porém, as posições reacio~láriasde L. Romier
) ! levam-no ii ser ministro no governo d o Mareciial Pétain, o qual, de-
$9 24, 42, 4 4 e 54, no vol. 5. Sobre 21 pris5o dos irmáos Cipriano e
3 Giona La ala, cf. caderno 5 , $ 43, também n o vol. 5.
I pois da ocupaçZo de Paris por Hitler em 1941, faz de Vichy a capital
> 4
I1 daFrança e colabora ativamente com os nazistas. Sobre L. Romier, &,
29. O sueco Nathan Soderblom (1866-193 I), pacifista e pioneiro também, infra, S 15, neste caderno.
'l 1
d o moviniento ecumênico, ganha o Prêmio Nobel da Paz em 1930. i
i 35. Sobre o Partido d o Centro (Zet~tr~wzpnrtei),
de inspiração ca-
1 30. Scrnltyasi, cujo sentido Gramsci parece desconhecer, é o hindu tÓIica, cf. vol. 3 , p. 378-379.
q u e renuncia a todos os bens materiais, torna-se mendigo e atinge as-
) sim o mais alto estágio d o ascetismo religioso. O sndhi~(santo) Sundar
Siiigh, objeto de duras criticas por parte dos católicos, é um antigo hindu
II 36. Cf., supra, p. 185-186.

convertido ao protestantismo. C 37. Alfred Smith (1873-1944), governador por quatro vezes d o es-
1 tado de Nova Iorque, é o primeiro candidato católico A Presidência
1 3 1. Ugo Mioni (1870-1935), além dos romances d e aventura para dos Estados Unidos, esmagadoramente derrotado, em 1928, pelo re-
jovens, é autor de inúmeros livros sobre temas religiosos, como liturgia publicano Herbert Hoover. A carta aberta de Smith, mencionada mais
)
e atividade missionária. Gramsci considera-o um "filhote do Padre adiante neste parrígrãfo, é reproduzida n o livro de Nicolas Fontaine,
I Bresciani", categoria em que reúne literatos reacionários e nostálgicos: que Gramsci possui na prisão (sobre este livro, cf., supra, caderno 20,
a propósito, cf. caderno 21, 54 5 e 9, n o vol. 6. § 4). Nesta carta, Smith diz que sua crença no catolicismo náo O impe-
1
a
C A D E D~O C
~ AR
~ C E~ R E
0 NOTAS AO TEXTO

1
i I
, 7
americana Contribui para a derrota de 42. Lelio Socini (1525- 1562), inicialmente luterano, desenvolve
de de ser leal à 1 depois teorias originais que póem em questão as doutrinas da Santíssima ' --I
Smirll, além do fatode ser católico, sua oposição a o "proibicionismo",
ou seja, 2 famosa <'lei seca", promulgada em 1 9 1 9 e revogadaem 1933,
Trindade, da predesrinaçáo, dos sacramentos, da graça, etc. ; essas teo- '3
que proibia a p r o d ~ e~Oáconsumo
~ d e bebidas alcoólicas em todo o
rias, conhecidas como "socinismo", foram coiisideradas heréticas tan- 1
! t o pelos católicos quanto pelos protestantes.
território americano. '7
I Carlo Pisacane, homem d e ação e teórico militar, e Giuseppe
3 8. Antonio Fogazzaro (1842-1911), poeta e romancista de orien- Mazzini, personagens d o Risorginzento, aparecem particularmente n o I
3
i
taçáo c,itólico-liberal, ocupa papel importante na literatura italiana das v01 5. ,--I
duas últimas décadas d o século XIX. Seus romances e poemas, que i i ')
i 43. Mesmo após a Conciliação, persistem discrepâncias entre o
tentam conciliar fé e ciência, foram proibidos pela Igreja Católica, acu- 3 Vaticano e o fascismo, uma das quais a existência da Ação Católica
,;'-)
'I
sãdos de "modernismo".
! como organismo desvinculado da autoridade estatal e com larga in- il
'3
39. Por "Conciliação", entendem-se aqui as negociações que le- fluência sobre jovens trabalhadores e estiidantes. A dissolução da A & ~ O -I
Carólica por ordem de Mussolini, Pio XI responde com a encíclica I
vam rios Tratados de Latráo entre o Estado italiano e o Vaticano, ou i 3
I Non nbbiomo bisogjzo, em 2 9 de junho de 193 1. N o ano seguinte, I
seja, 5 Concordata. 1 ['I
porém, Pio XI e Mussolini chegariam a novo acordo. Cf., infra, p. />
40. Antonio Salandra lidera o grupo de deputados da direita não-
$
; 221. , ,)
fascista, lia conjuntura de crise iminente do governo dirigido por Ivanoe i
i
Bonomi. Mesmo pressionado por Mussoiini, então líder parlamentar i 44. Niceto Alcalà Zarnora (1877-1949), advogado e político libe-
dos fascistas, Salandra recusa-se a prestar a homenagem a o pontífice ral espanhol, é ministro da Guerra no primeiro governo republicano,
rnorto em nome d o Parlamei~to.Em 1929, na v ~ s ã odo Senador Alfredo j derrubado em 1923 por Primo de Rivera. Depois da nova proclarna-
Petrillo, reproduzida no artigo citado da Ciuilth Cattolicn, "Salandra, çáo da RepUbIica Espanhola, em 193 1,torna-se seu primeiro presidente.
evidenternenre, olhava para o passado, i~iclusivepara o passado recen- 1 Morre n o exílio, em Bue~iosAires.
z
te; Mussolini já trabalhava para o fururo, ainda q u e fosse um futuro I
distante." Sobre A. Salaridra, cf. vol. 2, p. 312. Sobre I. Bonomi, cf. 45. Enrico Carlo Lea, Storin dell'Jt~qítisizioi~e.
Fondnzione e proce-
E dwn, Turim, 1910. ,i.)
vol* 1, p. 474.
I
41. Gramsci também se refere a "Ignotus" - e a seu folheto
sobre fascismo, escola e religião - n o vol. 7,p. 276. Sobre os prin-
c i p i o ~pedagógicos de G. Gentile, cf., supra, p. 33 1, n. 30. O Decre-
to Real d e 1923 sobre a educação elementar, mencionado e m seguida,
I 46. Sobre Giovanni Papini, cf. vol. 2, p. 294-295. G. Papini rea-
parece e m v5rios pontos destes Cadernos: cf., i7zter alia, caderno 2 3 ,
§$ 11, 1 6 e 37, e caderno 17, 5s 13, 1 6 e 24, n o vol. 6.

faz p a r t e d o arsenal legislativo d e implementaçáo d a Reforma 47. Fiiippo Crispolti (1845-1942), jornalista e ~ o l í t i c o é
, uma fi-
Gentile. gura representativa d o laicilto católico no primeiro pós-guerra: em par-
ticular, dirige vários periódicos catóI icos.
NOTAS AO TEXTO

> f 52. Trara-se, certamente, d o discurso de 1 4 de dezembro de 1925,


' As "Amizades ~ ~ r ó l i c a s a~sociações
em 1817, com o
", d o l a i a t o católico fundadas
de divulgar a "boa imprensa", sáo dissolvi-
) das em 1848 pelo governo d o Reino d o Piemonte-Sardenha.
1

i
n o qual Pio XI expressa sua gratidao a o Governo italiano pelo apoio
dado Os atividades d o ano saiito, mesmo que, em sua opiniáo, esse apoio
! fosse insuficiente para reparar os "erros" cometidos contra a Igreja e a
sua "carta sobre O Romantismo", datada d e 2 2 d e se- religiáo desde o Risorgi~rzento.D e todo modo, Pio XI elogia aberta-
48.
7 mente o Governo fascista pelo empenho em pôr fim aos "conflitos
cembro de 1823, dirigida ao conservador Cesare d'heglio, Alessandro
Manzolii busca dar a o movimento romântico italiano brn fundamen- I internos".
) t o católico-liberal, além de estritos limites confessionais: máxima ex- I1 53. É muito provável que Gramsci tenha tomado conhecimento
3 pressao narrativa das exigências éticas e artísticas d e Manzoni, 1
i deste discurso d o Cardeal Francis Bourne n ó Manchester Grdardian
3 expressas nesta "Carta", será o romance O s noivos, publicado pouco i Weekly, que ele lê regularmente n o cárcere. Neste discurso, o Cardeal
i
depois. i
-l i Bourne afirma: "A Igreja Católica, como ta], nada tem a ver com qual-
quer partido político. Ela jamais enunciou um modelo de organizaç50
> 49. A segunda parte d o artigo mencionado n o texto s ó será publi-
políticil. N o Evangelho, nada é dito aos crentes sobre o partido a que
) cada em 20 d e agosto de 1932, com o titulo "I1 movimento lamennai- t
2
i devem pertencer."
siano in Italia", mas Grarnsci dela não se ocupa. Sobre Cesare d'heglio, $
1
cf.,supre,$183. 1
54. A YMCA - isto é, Yordng Meli5 Christian Associatiori (Asso-
3 E'élicité-Robert d c La Mcrinais (ou Lamennais, 1782-18541, aba- s4
ciação Cristá de Moços) -, de origem protestante, surge em Londres,
de, periodi~tae fil6sofo francês, tem ate 1826 uma posição extrerna- i
) i em 1845, para responder à nova s i t u a g i provocada pela expaiis80
f
) mente coiiserviidora: defende a moliarqiiia e a completa subordiiiaçáo k
urbano-iiidustrial- Posteriormente, amplia seu-raio de açáo, passando
1
2 Igreja de Roma, sendo mesmo considerado o pai d o "integrismo". 2 a intervir em todos os aspectos da vida associativa.
Depois, torna-se republicano, combate o papado e funda o movimen- r
to social-católico na França. Gramsci refere-se a isso quando, mais L
i 55. Cf., supra, p. 214-215 e 217-218.
) adiante, fala do Larnrnenaiç "de novo tipo".
56. Sobre o neoguelfismo e o sanfedisrno, cf., respectivamente, vol.
50. Sobre o Abade Turmel, cf., neste volume, p. 165, 229 e 232- 2, p. 302 e 305-306.
233.
Antonio Capece Minutoio, Príncipe de Canossa (1768-1838), ex-
tremado defensor dos privilégios eclesiáticos e feudais e da monarquia
51. Sobre o Rnlliernent, cf., supra, p. 354, n 22. Por "combismo' absoluta, dirige a polícia dos Bourbons de Nápoles, depois da Restau-
deve-se entender a Iinha política de Émile Combes (1835-1921),pri- ração. Aplica uma politica táo repressiva que as próprias potências da
meiro-ministro da França entre 1902 e 1905. N a esteira d o caso Dreyfus, Santa Aliança se vêem obrigadas a solicitar seu afastamento d o Reino
E. Cornbes adota urna orientação abertamente anticlerical, abolindo O das Duas SicíIias.
ensino religioso e reafirmando a separação entre Estado e Igreja.
57. Cf., supra, p. 156-157.

3 64
NOTAS AO TEXTO

I I I . AMERICANISMO E FORDISMO

1. CADERNO 22
59. E ~ Pngitie
, sulia gaerrn (2' ed., Bhri, 1928), Croce define Le
J
disci*le, romance de I? Bourget, como "obra-prima pelo avessoy', J
1. Com a expressão "economia programática", Gramsci se refere pro-
<C
pastiche srendhalian~ [...] tornado to10 pela infus5o de tola tragicidade vavelmente a o planejamento socialista da economia, tal como vinha
~ ~ aPl Bourget,
f i l o s ~ f i ~ ~ - ~Sobre ". cf. vol. 3 , p. 400. sendo empreendido pela União Soviética. Para ele, t a n t o o "ame-
i ricanismo" quanto o fascismo -
considerados como formas d e "revo-
60. Gramsci se refere provavelmente a uma observaçao d e Croce, lução passiva" q u e respondem à Revolução d e 1 9 1 7 -acolhem
comentada mais extensamente no vol. I, p. 361-370. :
elementos d e programação econômica na tentativa de conservar o ca-
I pi talismo.
61. A fonte principal deste parágrafo 6 um artigo de Siro Contri,
"Filosofia e cãttolicesimo: neoscolastici e 'archeoscolastici'", publica- 2. Sobre o "proibicionismoy', cf., supra, p. 361-362, n. 37.
d o na ItnEia letternricz de 2 4 d e abril de 1932. N o início d o artigo, i

menciona-se uma polêmica contra a Universidade Católica levada a cabo 3. Gramsci expõe seu conceito de "revoluGão passiva'' em várias
por Giuseppe Gorgerino, sob o pseudônimo de "Asmodeo", também ! passagens: cf., em especial, vol. 1, p. 291-293, e vol. 5, pmim.
usado por S. Contri.
i 4. No manuscrito, a enumeração se interrompe aqui: o resto da
i
62. Com efeito, Grarnsci reúne estes dois tipos de notas nos tex- j página e as oito páginas seguintes foram deixadas em branco.
l

tos C q u e compõem o caderno 20, intitulado precisamente "Asão Ca- I

tólicri. Cat8licos integrais, jesuí.tas, modernistas". j 5. O industrial americano Henry Ford (1863-1947) funda em 1903
i a Ford Motor Company, que pouco tempo depois se tornaria a maior
63. "Josefiçrno7', do nome d o imperador austriaco José 11, de- fhbrica de automóveis d o mundo. O fordismo assinala uma etapa fun-
signa a qtic tem como objetivo limitar o s privilégios e a in-
fluência d o clero e r e f o r ~ a ra autoridade d o s reis. Afirma-se n a
1 damental ria organizaçiio d o processo produtivo industrial n o capita-
lisnio. Baseia-se na "organizaçao científica do trabalho na fiíbrica",
I
Eiiropa n a segunda metade do século XVIII, n o período das chrim:i- i teorizada por Frederick Winslow Taylor (1856-1915). O taylorismo
das "rnotiarqui as esc1arecidas", sendo também chamado d e "rega- i1
1
propõe o estabelecimento de um processo de traball
lisrno" e, na França, de c'galicat~ismo". Sobre o mesino tema, cf.vol. 2, i divisáo racional dos movimentos e n o acompanha
p. 149-150.
i dos tempos, visando assim a eliminar as peculia
S
i atingir uma estandardizaçgo d o desempenho.
64. Sobre a Critica soçiale, revista dos socialistas, cf. vol. I, p. 470.

I 6. Em 1 9 1 7 (náo em 1912, como aponta Gramsci), Giustino


Fortunato traduz e apresenta as partes referentes a Nápoles q u e apare-
cem em Italinnische Reise v i a g e m 2 Itália], de Goethe. Este volume
NOTAS AO TEXTO

1
7 volta a ser I ançado como ~g lettere da Napoli di Goethe, Rieri3 1928- Z R o t a r ~Ciub, associas50 de homens de negócios fundada pelo
) sobre G. Fortunato, cf-~ 02 s ~p' 308'
- i americano Harris, em 1905, tem como base uma ideologia
O çoment,rio de~ ~~i naudi
i chama-se
~ i =Goethe, Ia leggenda de1
) fiiantropista. Em 1912, adquirindo rapidamente dimensÃo internacio-
valere de1 lavoro", e está publicado naaf07ma
lazzarone nspoi etano e 1 ""'3 passa a se chamar c A ~ s ~ c i a Interiiacional
s~o de ~~t~~~ clubs,~.
de março-abril de 1918- i
> O termo lnzznrone -d o espanhol láurro, "pobre", "esfarrapado",
i
i
o R o t a r ~cf., particulnrmeiite, infra, p. 295.
d a Primeira Guerra, a Igrqa Católica opóe-se duramente
leproso d o Evangelho - denota o indivíduo das ao ingresso da YCMA (Associação Cristá de M
) tal como o ~ACM)~ na Itália;
~ ~ ,
> asses populares de
Nápoles desde o tempo d a dominação espanhola,
em alusáo depreciativa a seu aspecto miserável, que o tornava seme-
mas
possivel
foi
possível localizar O episódio, melicionado por G ~da ~ ~
de Giovanlli Agnelli (1866-1945), fuiidador e proprie-
lhante aos doentes de um eprosário. O s Inzzoroni não só se voltaram vario da Fiat, a essa organização.
) contra os espiinhóis, n o século XVII, como também contra liberais e No
do Par&Srafo, há uma provável alusão 5 proposta feita por
jacobinos por ocasigo d a tentativa republicana em Nápoles, em 1799. em 1920, após a ocupaçáo das f;ibricas - proposta recusada
hzzarone também significa "preguiçoso", "va-
Em senti do pelo grupo do Or'ine N'iovo -, de transformar a ~ inuma ~ coopera-
t
diov, ~ ~ ~~ o g ~ao seguir,
~ n o rexto,
b Gramsci
~ ~ emprega
~ 0 deri-
d ~ ~ tiva-
- Grzmsci fala sobre essa proposta em seu ensaio pré-carcerário de
'> vado irJzzaronism~,que manteremos n o origi na1- sobre a ¶uestáo meridional (A. Gramsci, A qitesteo meridioilnl,
3 São Paulo, Paz c Terra, 1987, p. 146 e ss.),
7. provável referência a o artigo d o historiador Niccolò Rodolicq Sobre o "an1eric~nisrnoy'd o grupo d o o7<ijyZe
-l NIdou0, cf- a série de
~ 1 retorno
1 Ala terra nella storia d'Italia7', Nuoun Axtologifl, 16 de fe- srrigos de Carlo Pctri, "I1 sistema Tayloi e i consigli
dei produtori,,, o-
) vereiro de 1934. Sobre N.Rodolico, cf-, silpra, P- 357, n. '4- 23-27 da revista, publicados eiitrc outubro e novembro de 1919.

3 8. Gramsci se vale aqui -assim Com0 e m infra, p. 3 13 - livro 12- De Aiessandro Scliiavi são os artigos "Iinpulsi, remore e soste
de Renato Spaventa, B,drocr~nn,ordiizame~itianimiriistrntiui e Fascis-
3 nell'attività dei comu~iiitaliaili" c "La rnunicipalizzazione dei servizi
mo,Treves, 1928, que e1e conhece indi tetamente, através d o artigo de ~ u b b l i c dell'ultimo
i decennio in Iralia", ambos pirblicados na Riforma
S. JJessi, " ~ n t a r n oall'ordinamento burocrati CO", Critica fascista, 15 S C J Cem~ 1929. ~ A. Schiavi é também o tradutor e apresentador iíalia-
) d e agosro de 1932. no de a sldPernWento de2 marxismo, de Henri De Man, citado logo a
1 seguir, no final d o parágrafo.
9. O Senador Ugo Ancona, numa sessão p a h m e n t a r de junho de
) 1929, denuncia a tendência ao gasto excessivo por parte d a população 13. As revistas Nuovi Studi d i Diritto, Ecoízonzia e Politicn e Cri-
) italiana, manifestando-se a favor d o rebaixamento d o nível d e vida- tica Fascista, dirigidas respectivamente por Ugo Spirito e Arnaldo
) Mussolini se opõe publicamente a esta opinião, numa intervenção em Volpicelli, defendem o corporativismo. Sobre o corporativismo, U.
que exprime os juízos recordados n o ~ a r á g r a f o . Spirito e A. Volpicelli, cf., ifster alia, vol. 1, p. 3 15-316.
1 O "centro intelectual" mencionado n o parágrafo é a Escola de
10. Sobre a "lei das proporç6e.s definidas", cf. VOI. 3, p. 83-85. Ciências Corporativas da Real Universidade de Pisa, fundada em 1928,
1 em cujo programa editorial figuram pelo menos dois livros lidos por
1
368 369
NOTAS AO TEXTO

22- A tese da "corporaçáo propriethria", formulada sobretudo por


Grrmsci em Fórmia L n crisi de2 cnpit~zlirrnoe L'econonlin p r o g r ~ m -
Ugo Spiriro, radicaliza o conceito fascista de corporativismo, propon-
ambos de 1933 -, com ensaios de intelectuais como G. Pirou,
fl,criicn, d o a superaçáo dos conflitos de classe num novo ordenamento social
sombart e J- A, HobsOn. situado para além d o capitalismo.
14.Sobre H. De Man e seu livro, Il srrpernmento de1 rnorxisrno, cf.,
vol. 1, p. 464; mas H. D e Man é criticado em muitas 23. Para obrer o monopólio da representaçáo dos trabalhadores
,,ticuiarmente, industriais, OS sindicalistas fascistas aceitam, em 1925, a slipressáo das
P do 1Ijintegralmente reproduzido n o mesmo vol. 1.
,açsage comissões d e fábrica Mais tarde, alguns setores do sindicalismo hs-
r
genedetto Crocel "Sulla storiografia socialistica. I1 comu- cisra lutam em vá0 pelo reconhecimento jurídico dos "comiss~rios de
15, fábrica", homens de confiança dos sindicatos n o interior das empre-
nismo di TommaSO Campanella", in Id., Materialismo storico ed eco-
sas. Tais c'c~mi~sários" continuam a existir em algumas indústrias, mas
nosia ,nnrxisti~ojcita, F- 189-
sempre com a hostilidade dos empres&ios que, desta forma, atacam
16, Sobre K ~ u p e ~ e g i o n a l i s m e
o "c ' s u p e r c o s m o p o ~ i t i s cf.
~, também a própria organização sindical.

2, P. 304.
24. s o b r e o livro d e Guglielmo Ferrero, Tln i &<erno~~ili (Mil;io,
17. Grumrci provmelmcnte se refere a o faro de Coblcnça ter sido 1913), cf., também, infra, 5 16, neste caderno. Em sua atividade jor-
um lugar de r e u n i á ~dos aristocratas franceses em 1792. nalísticn pré-carcergria, Grumsci j:i polemiza com G, Ferrero sobre a
¶umridade e a qualidade. Assim, noilun~~ti!, em 1 9 de julho de 1918,
18. sobre Mino Maccari, cf. VO!. 2, p. 307-308. Cf., ainda, iiifra, Gramsci afirma: ccGuglieln~o Ferrero deve estar contente: começa o
caderno. reino da qualidade que deve substituir o reino da aborrecida quanti-
iS 7,
dade. I...] O s bancos s ó daráo crédito aos aristocratas da produçáo
19. Esta 'pequena fórmula" de Gentiie aparece em outros trechos nacional. Todos hão d e ver a qualidade, os bclos objetos, as belas
doi cnnerizo~.Cf, por exemplo, ~ 0 13. , p. 109. máquinas, as belas estradas de ferro, o belo comércio; os consumido-
res pobres talvez preferissem ter mercadorias baratas e abundanres"
20. Em alguns artigos de L'Uy~itc?,em 1925, Grarnsci refere-se a (A Gramsci, Sarro In mole. 1916-1920,Turim, Einaudi, 1960, p. 420).
Msssinio Fovel, originaimeiite socialista, como expressáo d o "maui- Em 9 d e agosto d e 1918, retoma o mesmo argumento: "A democra-
malimo pequeno-burg~ês". Sobre M. Fovel, cE, também, vol. 3 , p. cia italiana é assim. GugIielmo Ferrero escreve um livro para defen-
336-239- der a qualidade contra a quantidade, ou seja, para defender a volta
a o artesanato contra a capitalista, à aristocracia fechada da
21. Em janeiro de 1921, em conseqüência da cisão do Partido So-
produçáo contra o regime da livre concorrência, que lança n o mer-
cialisrd, cria-se em Livorno o Partido Comunista d a Itália. O jornal cado montes d e mercadorias baratas para OS pobres" (ibid-, p- 43 1).
t r i e s r i n ~JL O (acima mencionado), até então órgão dos sacia- -.
I listas, passa para 0 controle d o PCI. Sobre G. Ferrero, cf. vol. 1, p. 484.
i

I
NOTAS AO TEXTO

-i i 29. AO que tudo indica, Gramsci cita de memória uma passagem


~ autobiografi;i, Vittorio Alfieri conta como se fazia amar-
25. E , sua
> rar liuma a fim de estar seguro de que dedicaria O tempo ne-
d e Ugo Spirito, em q u e o teórico d o corporativismo afirma: "O Esta-
do, com freqliência cada vez maior, deve intervir nos casos de falência
7 cessário a sua obra. Sobre V Alfieri, cf. V O ~ .3, 417. e salvar os interesses da coletividade, nacionalizando as perdas de em-
7, presas privadas, pelas quais náo são responsáveis os proprietários (acio-
26, wo
111Congresso Pan-RUSSO dos Sindicatos, em março de 1920, nistas). r...]
Desse modo, o Estado intervém na chamada economia
Trotski (Leáo ~ a v i d o ~defende
i) novos métodos para reorganizar a priva& somente para tornar pr2blicns suas perdas" (U. Spirito, Cnpita-
-lproduS" UniHo Soviética. N a s difíceis condições legadas pela Pri- lismo e çorporntiuisnzo, Floreiiça, 1933, p. 8-9).
meira Guerra e a guerra civil, Trotski julga que "O único meio de con-
seguirmos a m~o-de-obraindispensável para os trabalhos econômicos 30. Sobre o Estado jesuíta d o Paraguai, cf., infra, p. 307.
;~tuajsé implantagáo d o trabalho obrigatório", o que exigiria "a apli-
= l em certa medida dos métodos de militarizaç5o d o trabalho". Em
3 1. N a citaçáo da entrevista de L. Pirandello - publicada sob o
conseaiiência,
-- 1
Trotski chega a propor a rnilitarizaçáo dos próprios siri- título ccPirandelloparia deila Germania, de1 cinema sonoro e di altre
) dicatos. Inicialmente simpático 2 idéia, Lenin combate-a depois dura- cosen -, os comentirios de Grarnsci está0 entre parênteses.
mente, o que leva P rejeiçáo pelo comitê central d o partido bolchevique,

'
)
e m novembro de 1920. Esta intervençáo de Trotski está reproduzida
em scu 1ivro Terrorismo e comurrisnro. O n>l~i-Kal~tsby (Rio de J ~ n ero,
) Saga, 1969, p. 3 33-180). Quando fala nas pesquisas de Trotski sobre o
i
Archivio di
32. U. Spirito, "Ruralizzazione o industrializza~ione?'~,
sti*di çorporntivi, n. 1, 1930. A alusáo final A "flauta de PB.' deve ser
entendida no contexto da polêmica contra as implicações politico-ciil-
) byt (modo de vida), Grarnsci refere-se aos artigos escritos em 1923, turais d o super-regionalismo e correntes afins,
depois rcunidos ein livro, com o titulo Problemas da uidn çotzdiriiin; as
)
pesquisas sobre Ilieratura, também mencionadas, estáo ern Literat~drn
3 3 . O s dois livros que Gramsci conhece diretamente sáo o de André
e revolt<çba (ICo dc Janeiro, Zahar, 1970). Nestes trabalhos, o dirigen-
Sicgfried (L,ei É t n t s - ~ n i scl'ni<jo/4rdabidi, Paris, 1928) e o de Lucien
) 1c comunista demonstra ter compreendido a importância assumida pelos
Romier (Qui sera Ie Maore, Europe o~ Anzériq~de?,Paris, 1927).
) Estados Uiiidos na política mundial depois da Primeira Guerra e reve- André Siegfried (1875-1959), estudioso de questóes politico-eco-
la um particular interesse pelo fordismo e taylorismo.
3 nômiclis francesas e mundiais, é autor de inúmeros livros sobre o Ca-
3 nadá, a Inglaterra, a Nova Zelândia e, sobretudo, os Estados Unidos.
27 O verso de I-Iorácio (Srítiras, I, S ) , aqui ligeiramente modifica-
) do, fala em "amores fsceis e prontamente desfruráveís".
I

25. H. Ford, Ma vie et moPL oeuvre e Ardjo~rd'hidiet demain (am-


) bos publicados em Paris, em 1926); e A. Philip, Le problème ouurier 1
)
)
nux États-~.rzis,cit. Entre os livros d o carcere, figura ainda uma outra
obra d e H. Ford e Samuel Crowther, Perchk qr.testa crisi mondinie?,
Milão, 1931.
I 1. A informaçáo sobre J. Royce chega a
to, através d o artigo de Bruno Revel, "Cr
CADERNOS DO CARCERE NOTAS AO TEXTO

Manfredi Gravina, =Pro e coiitro 10 Stato unitario in Germania", Nuovo 'r


Lenernnn, 2 4 de fevereiro de 1929- Nesse artigo, B. Revel comenta
Aatologin, l0 de março de 1928.
um livro do filósofo americano, Outlines of P ~ y c h ~ Z o de
g ~ 1903,
, cuja
ediçgo italiana é de 1928-Josiah Royce (1855-1916) forma-se filosofi- 1
camente na Alemanha e adere a um programa idealista de tipo neo- 4. Alberto D e Stefani (1879-1969) adere a o Partido Fascista em
hegel iano. Para e1e, a real idade deve ser concebida como vida d o espírito 192 1, mesmo ano em que se elege deputado. Entre 1922 e 1925, ocu- >
absoluto, somente a partir da qual se torna possível o pensamento cien- pa O posto d e ministro das Finanças e d o Tesouro, implementando uma 7
tifico. A ordem natural é também a base da ordem moral, o que da política livre-cambista e privatista. Dessa forma, perde o apoio dos
setores industriais - como o da produção d e armas - para os quais
7
obrigaçao ética a forma de lealdade à comunidade de todos os indi-
víduos. era decisivo o apoio estatal. 7
'3 J
I
2. h/Iadison Grant (1865-193 7), em The Passing of Great Rnce or 5. Giuseppe D e Michelis (1875-1951) é autor de diversos livros
sobre economia, trabalho e imigração. Dirige o serviço italiano de
, >
the Rar:inl Bnsis of Europenrz History, d e 1917, pretende elucidar o i -I
sentido d a história com base n o q u e chama de "moderna antropolo- imigração de 1919 a 1927 e o Instituto Internacional d e Agricultura
aiam. Para ele, em razáo das sucessivas invasões, o s povos europeus, e m Roma, de 1925 a 1933, além de atuar n o serviço diplomático. '7
D
--i
aparentemente hornogê~ieosnacional e linguisricamente, na verdade
se dividem em camadas raciais que correspondem muita de perto às 6. AS teses da Samuel Gompers aparecem n o artigo "Gli albori
divisões de classe. di un nuovo spirito sociaie in America", assinado por "Munitor" e
A carta de G. Sorel enviada a R. Michels, citada n o texto, tem a ~ u b l i c a d ona Nuovn A~~tologin
de 16 de novembro d e 1927. Samuel
data de 28 de agosto de 1917. Sobre G. Sorel e R. Michels, cf., respec- Gompers (1850-1924), que emigra da Inglaterra para Nova Iorque
tivamente, vol. 1,p. 482, e vol. 3 , p. 376-377. em 1863, tem papel de destaque na organização sindical americana,
como fundador e presidente d a Federação Americana do Trabalho
3 . O historiador e escritor Antonello Gerbi (1909- 1976) escre- (AFL) entre 1886 e 1924.
v e La p o l i t i c ~del Settecenro. S~oriadi u r ~ ' i d e n(Bdri, 1928), quc
Gramsci Iê na prisão. N o livro, A. Gerbi refere-se a Ford como exem- 7. Sobre o significado d o open shop, é provável que Gramsci se
plo de "ideoIogia racionalisca, humanitária e dernocriitica, q u e pa- recordasse de um artigo enviado de Londres por Piero Sraffa e publi-
rece ser a 6nica acessível hs mentes pouco especulativas dos homens
cado n o Ordine N r ~ o v ode 5 de julho de 1921: "O opeíz shop certa-
de g o v e r i ~ oe de ação". Em nota, A. Gerbi remete a uma observação
mente quer dizer, segundo a maioria, que o s operários devem ser
de Croce e m L n rivoluzione ~znpoletn~in de1 1799 (Bári, 1926), na
admitidos iridependenternente d o fato de serem sindicalizados ou náo,
qual a posiçiio de Engels n o Anti-Diihriug a respeito d o contraste
mas, na realidade, quase nenhum industrial normalmente emprega um
entre cidade e campo é assimilada às opiniões de Vincenzo Russo
operário se sabe que ele esta inscrito num
(1770- 1799), que polemiza contra as grandes cidades fazendo o eío-
gio da vida rural.
A descriçao d o fiIósofo alem20 Oswald SpengIer (1880-1936) so- 8. O Arcebispo d e Toledo, Cardeal Pedr
bre as grandes cidades é citada por Gramsci a partir d e um artigo de na o Rotary numa carta pastoral de 23 de ja
NOTAS AO TEXTO
CADERNOS DO CÁRCERE

13. Stephen Leacock (1869-1944), economista canadense d e pro-


9. O romance Bobbitt, d o escritor norte-americano Sinclair Lewis jeçáo internacional n o início d o século XX, é autor d e muitos livros de
(1885-1951),aparece e m 1922. C o m o em outras obras d o autor, ex- história d o Canadá, de ensaios humorísticos e de ficçáo, além d e signi-
pressa-se neste romance O tratamento satírico que Lewis sempre pro- ficativa produção em sua própria Brea profissional.
curou dar 2 classe média americana Gramsci possui uma cópia da ediçgo
francesa, publicada em 1930.Neste mesmo ano, Lewis ganha o Prê- 14. Sobre n "lei das proporções definidasyy,cf. vol. 3, p. 83-85.
mio Nobel de Literatura-
15. Gramsci alude, inicialmente, ao movimento dos conselhos de
10. O artigo de Pnsquale Jannaccone, economista liberal ligado a o fábrica, promovido em Turim pelo grupo de L'Ordine Nuouo durante
grupo deLuigi ~ i n a u d i é, a resposta a um questionário publicado n o o "biênio vermelho", em 1919-1920. Logo a seguir, no texto, mencio-
citado ilúmero da revista Ecor~onzia.O artigo de Gino Arias, "La crisi na-se, em articular, K. Marx, O Cnpi~al,Livro I, cit., cap. XII, "Divi-
e i giudizi degli economisti", é um comentário 2s respostas dadas pelos são do trabalho e manufatura", p. 386 e ss.
eiltrevistados, entre os quais Albert Aftalion, Maurice Ansiaux, Charles
Gidc e F.lV Taussig. Sobre E Jannaccone, c€., por exemplo, vol. I, p. 16. Francesco Antonio Rèpaci é irmão de Leonida Rèpaci, várias
446-448.Sobre Gino Arias, cf. vol. 3, p. 283-284. vezes citado nestes Cadernos. Gramsci critica severamente os irmãos
Rèpaci n o caderno 2 3 , $ 2 6 , n o vol. 6.
11. Henri Dubreuil, Stnndards. .i1 Invoro nrnerica7zo visto da unz
operciio frnrrcese, Biiri, 1931.Na p. 93, H. Dubreuil afirma: ''Justamente 17. Esta lista aparece numa página publicitária dedicada à revista
por ccrtos abusos e equívocos, a expressas 'organi~açáocientífica d o liberal ~ i f o r m i ~ o c i n l edirigida
, por Luigi Eiiiaudi, e publicada no
trabalho' se tornou quase sinônimo de bsrbara exploração. Notemos Azmanucco letternrio 1933, Miláo, 1933.
logo q u e na América se faz um uso extremamente frequente da pala-
vra scientific num sentido que talvez náo seja exato traduzir por 'cien- 18. Esta idéia d o ensaista francês Georges Duhamel (1884-1966)
tífico', palavra que em francês rem um sentido certamente mais rigoroso aparece, de passagem, num artigo de Aldo Capasso ("Un libj-o de
e abstrato d o que a palavra inglesa correspondente na América. Aqui, Daniel Rops", Ln Nuoun Italia, 20 de fevereiro de 1933). A. Capasse
a express5o sciejziific -ínnnngerrzent expressa, antes, um conjunto de refere-se às críticas de ROPS"à escola de intelectuais americanos que
métodos com os quais se busca simplesmente introduzir o máximo nega quase em bloco a civilização de seu país: Hemingway, Mencken,
possível de born senso e Iógica natural, em contraposição ao 'deixa como e t c I...]; aos 'novos hurnanistas': Waldo Franck; e à profundissima
está' da routine tradicional, com a qual se seguem hábitos sem pergun- idéia de Duhamel segundo a qual um país de alta civilização deve ter
tar se não se poderia fazer melhor."
também um florescimento artístico".
12. Croce observa que "os jesuítas instruíam os selvagens para o
trabalho; seu pretenso comunismo campanelliano reduzia-se a uma
sábia expioração capitalista, q u e era para a Ordem fonte d e ricos
proventosy' (Mnterialimzo storico ed economin mnrxistica, cit., p. 21I).
Abbo, Pietro, 72, 3 3 7 Ansiaux, Maurice, 3 7 6
Abignente, FiIippo, 70 Antona-Traversi, Giannino, 71
Adler, M a , 32 Anziíotti, Antonio, 173, 3 5 5
AdIer, Victor, 328 Aporti, Ferrante, 191, 3 6 1
Adrasto Barbi, Silvio, 71 Arcari, Paolo, 71
Aftalion, Albert, 3 7 6 Ardigò, Roberto, 27-29, 3 1, 33,
Agabiti, Augusro, 70 71,328
Agliardi, Giuseppe, 1 8 6 Arias, Gino, 303, 304, 3 7 6
Agnelli, Giovanni, 248, 258, 369 Arrò, Alessandro, 7 1
Alcalii Zamora, Niceto, 2 1 1, 363 Artioli, Adolfo, 70
Alessi, Salvarore, 368 Avolio, Gennaro, 174
Alexandre, o Grande, rei d a Aznar, 184
Macedônia (336-323 a.C.),
112,207 Bacci, Orazio, 7 0
Alfieri, Virtorio, 265, 372 Badii, Cesare, 174
Alvaro, Corrado, 2 7 9 Badoglio, Pietro, 121, 3 4 6
Amati, A-, 3 4 4 Bainville, Jacques, 1 6 7
Ambrosi, Luigi, 71 Baldensperger, Fernand, 121,346
Amedeo d e Savóiii, d u q u e de Balzac, Honoré de, 15, 16, 18,56,
Aosta, rei de Espanha (1870- 57,58,325
1873), 6 1 Banfi, Antonio, 2 1 1
Ancona, Ugo, 97, 2 4 6 , 3 6 8 Baratono, Adelchi, 32
Anile, Antonino, 71 Barbagallo, Corrado, 25,26, 106,
Ansaldo, Giovanni, 115,345 327

3 8 1
~ N D I C EO N O M A S T I C O )
'j

Barbera, Mario, 203


Bini, CarIo, 119, 120, 3 4 6 Bukharin, Nikoiai Ivanovi tch, Carlos VI11 de Valois, rei da Pran- >
~ ~ ~~ db~ ~i ~ ~ d -~ ~ ~, ~ ~ - TBismarck-Sclionhausen,
rrinçois, Otro von, 336,344 ça (1483-1498), 125 I'>

50, 8 6 , 2 2 8 Buonãiuti, Ernesto, 155, 156,


n/
7O
157, 1 6 5 , 2 3 2 , 3.53
Carly ]e, Thomas, 1 2 2 I7
Block, Maurice, 95, 109 Carvaglio, Giulio, 70
Barone, Gi~iseppe,71
Bai~delaire,Charles, 18, 343
Boccardo, Gerolarno, 115 Burzio, Filippo, 82, 83, 115,338, Casini, Tito, 179 3
I3azzi, Carlo, 255
Boito, Arrigo, 343 339 Catellani, Enrico, 7 0 ?
Bombãcci, Nicoiri, 201 Busnelli, Giovanni, 200 Catrani, Monsenhor, 1 9 2
Beccariã, Cesare, 94, 3 4 1
Bonfailtini, Mario, 119 Buttigieg, Joseph A., 8 Cavallera, Ferdinando, 1 9 1
Begey, Attil io, 71
BelIarmino, Roberto, 48, 211, Bonghi, Ruggero, 95, 96, 101, Celi, Padre, 2 0 0
222, 23 O, 332 341 Calvino, Pao!o, 71 Cervantes Saavedra, Migiiel de,
Bell oni-Filippi, Ferdiniindo, 71 Boiiornelli, Geremia, 186, 3 5 9 CalIes, Plutarco Elias, 178, 356 114, 118
Belluzzo, Girlseppe, 202 Bonomi, Ivanoe, 2 0 1 , 3 6 2 Camerana, Giovanni, 343 Cervesato, Arnaldo, 71
Beltrcimi, Luca, 95, 3 4 1 Bonomi, Paolo, 186, 1 9 7 Cameroni, Agostino, 186 Cesarini-Sforza, Widar, 70
Bcnetti, Giuseppe, 70 Bontempelli, Massirno, 71 Can~is,Mário, 2 4 6 Chamberlain, Arthur Neville, 58
Benetti, Velleda, 7 1 Bontempi, Teresina, 71 Carnões, Luiz Vaz de, 1 1 4 Chiapelli, Alessandro, 106, 1 0 7
Beni g i ~ iUmberro,
, 154-157, 1-59, Bonucci, Alessandro, 70 Campanelia, Tommaso, 2 4 9 Cicchirti, Arnaldo, 174
161, 163, 164, 159, 232,353 Borelli, Tommaso, 2 5 5 Canepa, Giuseppe, 1 3 9 , 3 4 9 Ciccotti, Ettore, 115, 255
Uenini, Vittorio, 71 Borsa, Mario, 3 2 7 Cangemi, Lello, 2 8 5 , 2 8 8 , 3 6 5 Cirnbali, Giuseppe, 71
Beilto XV (Giacorno Della Chie- Bottài, Giuseppe, 115 Canossa (Antonio Capecc Minu- Cione, Edmondo, 188, 360
sa), papa (1914-1922), 162, Boulin, Duguet Roger, 161, 166 toIo), príncipe de, 223, 365 Cippico, Antonio, 71
20 1,354 Boiirget, Paul, 228, 325, 3 6 6 Cariudo, Ricciotto, 71 Clisrna, Bispo de (ver Rgrnond,
Bergsun, EIcnri, 32, 1 0 1 Bourne, Francis, 220, 3 6 5 Capasso, Aldo, 377
Berrniiili, Eugenio, 7 1 Rovio, Corso, 116, 345 CaporaIi, Enrico, 7 0
Bernaert, Augusto, 177 Brahmabandhav, Upadl-iyaya, 190 Cappa, Innocenzo, 71
Bernasconi, Ugo, 104, 344 Bricarelli, Carlo, 2 0 0 Capra-Cordova, G., 7 0
Beriiheim, E., 22, 23, 326 Brindisi, Giuseppe, 25 Caprin, Giulio, 71
Bernini, Ferdinando, 18 Brucculeri, Angelo, 183, 189, Carducci, Giosue, 3 2 9
Bernsteii~,Eduard, 74, 75, 329, 1 9 2 , 194, 1 9 8 , 200, 2 8 8 , Carlos Alberto de Savóia-Carig- Comte,
338 299 nano, rei d a Sardenha (183 1- Confalon
Bernstein, Henry, 59 Brunelli, Bruno, 71 1849),335,357,358
Bertram, Johannes AdoIf, 199 Bruni, Renato, 7 0 Carlos Magno, rei dos franco
Bevione, Giuseppe, 201, 2 9 7 Brunialti, Attilio, 115 (771) e imperador (800-8 13),
~illot,Louis, 157, 160, 161, 218 Bruno, Giordano, 2 1 1 159, 1 6 0

382
D e Burgos y Mazo, M., 215 Disraeli, Benjamin, 49, 86, 87,
Coppola, Francesco, 141, 3 4 9 Felice, Franco de, 8
Dc Frenzi, Giulio, 349 222
JJJ Ferrara, Francesco, 115
Cordignano, Fulvio, 9 8
D e Gnbernatis, Angelo, 71 Doria-Cambon, NelIa, 71
Cornaggia Medici Castiglione, Ferrero, Guglielmo, 26,260,28 1,
Carlo Ortavio, 72, 186, 3 3 7 De1 Chiaro, Giuseppe, 1 8 9 Dostoievski, Fiodor Mikhailo-
271
I
J ,
De1 Greco, Francesco, 7 0 vitch, 58, 3 3 4
Corti, Settimio, 7 0 Ferrini, Oreste, 71
D e Luca, Benedetto, 71 Drahn, Ernst, 22, 3 2 6
Cosentiiii, FrancesCO, 7 0 Feuerbach, Ludwig, 7 4
D e Maistre, Joseph, 1 7 9 - 1 8 1, Dreyfus, Alfred, 3 6 4
Cossa, Luigi, 115 Fischer, Louis, 208
cauchaud, paul-Lou~~, 156, 2 19 224 Dubreuil, Henri, 306, 3 7 6
Fogazzaro, Antonio, 1 9 4 , 3 6 2
Cousin, Victor, 16 D e Man, Henri, 2 4 9 , 3 6 9 , 3 7 0 Duguet, Reger, pseudônimo de
Fontaiiie, Nicolas, 158, 159, 163,
Credaro, Luigi, 47, 3 3 2 D e Michelis, Giuseppe, 288,289, Boulin (ver) 164, 1 9 8 , 3 6 1
Crespi, Aiigelo, 26, 71, 3 2 7 3 75 Duhamel, Georges, 321, 3 7 7
Ford, Henry, 242,247,252,267,
Crispolti, Filippo, 214, 215, 3 6 3 Denikin, Anton Ivanovitch, 44, Dumas, Alexandre, 5 6 - 268,272,273,275,291,305,
Croce, Benedetto, I 5 , 2 1 , 3 2 , 33, 331 Durtain, L u c (pseudônimo d e
3 6 7 , 3 72, 374
83, 139, 188, 228, 249, 307, D e Pier-ri Tonelli, Alfonso, 261, André Nepven), 282
h r g e s Davanzati, Roberto. 131.
325-327,329,33 O, 339,348, 262,288
350,340,366,3.70,374,376 D e Pol, Bruno, 96 Eckermann, Johann Peter, 93
Forrniggini, Angelo Fortunato,
Croizier, Padre, 168 De Ritis, Beniamino, 308 Einaudi, Luigi, 26, 114,244,344,
100, 1 2 1 , 3 4 6
Cromwell, Olivei, 263 Dc Ruggiero, Guido, 26, 39, 41, 366,371, 3 7 6 , 3 7 7 Fortini de1 Giglio, Ugo, 71
Crowther, Sarnuel, 3 7 2 211,327 Einstein, Albert, 138 Fortunato, Giustino, 244, 367,
Custodi, Pietro, 115 Emerson, Ralph Valdo, 122
De Sanctis, Francesco, 67, 3 3 6 3 68
Cuvier, Georges, 1 2 Engels, Friedrich, 16,21, 61, 325, Fournol, ktienrie, 281
Desbuquois, G., 1 8 4
326,328,335,336,374 Fovcl, Massima, 254-257, 259,
De Stefani, Alberto, 288, 3 7 5
D7Aqliino,Alessandro, 7 1 Erasmo d e Roterdã, 3 6 3 70
De Stefano, Antonino, 157 i
Danset, Padre, 194 Eugenio de Savóia, 6 6 Fraricisco de Assis, 152, 352
De Totli, I'aolo~ 2 2 4 1
~'A~~~ Cesarc,
l i o ,215,217, 3 6 4 Everboeck, Cornelio, 192 FranciscoJOSE I, imperador da Áus-
Dalite A1ighieri, 106, 114, 122, De Vecchi, Cesare Maria, conde
de Vai Cismon, 205 tria e rei da Hungria (1848-
qnn Fabrizi de' Briani, Vittoria, 71
LUV
Descartes, René, 3 2 8 ,
1
1916), 50
D'Ors, Eugène, 99 Facchinei, Ferdinando, 94, 3 4 1 Franck, Waldo, 377
Davanzati, Roberto Forges, 141, Dewey, John, 295 i Faggi, Adolfo, 70 Franchi, Bruno, 70
349 Diarnbríni Palazzi, Sandro, 3 3 FaIorsi, Guido, 71. Franeili, Carlo, 346
idovi, vi, Leso (ver Trotski) Di Gennaro, Francesco, 71 Farina, SaIvatore, 71 Frederico 11, imperador (1220-
De Amicis, Edrnondo, 119, 3 4 5 Di Giacomo, Salvatore, 1 01 sI
Farinelli, Arturo, 60, 335, 349
De Angelis, Leopoldo, 70 Di Mattia, Luigi, 70 1 Federzoni, Luigi, 349
1250), 1 8 2 , 3 5 8
Friscia, Alberto, 70
i
CADERNOS DO CÁRCERE OC
INDI NOM
E ASTICO
\
I
Giod% Mario, 334 Halecki, Oscar, 235, 236 Jemolo, Arturo Carlo, 42, 173, 3
Frisella Vclla, Giuseppe, 298,299 I
Giolitti, Giovani, 255, 356 Harkness, Margaret, 3 2 5 331 ">
Frola, Giuseppe, 87 Harris, Paul E, 369 I
Giovannetti, Eugenio, 253
Hegel, Georg Wilhelm Friedrich,
Jorio, Domenico, 1 9 9 7
Gobetti, Piero, 349 José 11, imperador d a Áustria
Gabba, Carlo Francesco, 70
GabrielIi, Gabrieie, 102, 343
Gobineau, Joseph-Arthur, conde 37, 38, 86, 204 (1765-1790), 3 6 6 I'-1
I

de, 58 Heiler, Friedrich, 190 7


Galilei, Galileu, 139, 211, 222, 1
Goethe, Johann Wolfgang von, Heine, Heinrich, 17 Kailer, Maximilian, 1 9 7 1
332,348 1
93, 105, 114, 122, 244, 339, Hemingway, Ernest, 3 7 7
Galleani, Luigi, 7 2 , 3 3 7
3 6 7 , 3 68 H e n r i q u e VIII Tudor, rei d a
Kant, Immanuel, 37, 53, 228
I
7
Galtey (Gauthey, Jules), 73 &ser, Kurt, 173, 3 5 5 7
Gohier, Urbain, 162 Inglaterra (1.509-1547), 208 Kriszties, A., 1 4 1 I
Gandhi, Mohandas Karamchand,
103 Gompers, Sarnuel, 294, 375 Henry, Emile, 3 3 7 Kropotkin, Piotr Alexeievitch, 73 i 3
LUA

García Moreno, Gabriel, 177, Gonzalez Palencia, Angel, 2 5 Héritier, Jean, 2 1 9 - 7


178,356 Gorgerino, Giuseppe, 230, 3 6 6 Herriot, Edouard, 195, 3 6 1 Labanca, Baldassarre, 71 ('3
Gardenghi, Pio, 256 Govi, Mario, 110, 3 4 4 Hertling, Giorgio, 177 Labriola, Antonio, 26, 3 1, 3 2 , 3 3 I
Graf, Arturo, 71 Hitler, Adolf, 3 6 1 I
7
Garin, Eugenio, 333 Labriola, Arturo, 100, 343
Gasco, Giiiseppe, 7 0 Gradassi Luzi, Ricccardo, 71 Hobsotl, John Atkinson, 3 70 Lacointe, Félix, 166 ,)
Gasparri, Pietro, 194, 199, 203 Granata, Giorgio, 139 Hoepker-Aschoff, 4 2 Lachelicr, Jules, 41, 3 3 0 '3
I
Gatto-Roissard, Leonardo, 70 Grant, Madison, 286, 374 Hofmannsthal, Hugo von, 95
Homero, 1 1 4
Lafargue, Paul, 16, 325 : 'l
Gay, Francisque, 1 8 1 Gravina, Manfredi, 375 La Gala, Cipriano, 189, 190, 360
Gaya, L., 200 Gray, Ezio Maria, 71 I-Ioover, Herbert, 3 6 1 La Gala, Giona, 189, 190, 360 i
Gregório XVI (Bartolumeo Al- Horácio, 28, 268, 372 Lambruschini, Raffaelo, 192
-l
Gazzera, Pietro, 116 i
Gemelli, Agostiilo, 177, 230, 33 1, berto Cappellati), papa (183 1- Hugo, Victor, 57, 95, 99, 103, Lamennais, Hughues-Félicitk- II
333,356 1846), 231 114 Robert de, 217, 364 :1
Gentile, Giovanni, 32, 254, 357,
362
Gri eco, Ruggiero, 348
Groppali, Alessandro, 71 In5cio de Loyola, 222
Lang, Ossinn, 108
Lanino, Pietro, 290, 2 9 1
:;
Gerbi, Antoncllo, 287, 3 7 4 Gruber, Hermann Joseph, 108 Lanson, Gustave, 16, 326, 333 I
Gerratana, VaIentino, 8 Guarnerio, Pier Enea, 107, 3 4 4 Jacks, L. E, 1 0 7 Lanteri, Pio Brunone, 215 I
1
Gi anni ni, Amedeo, 174 Guicciardini, Francesco, 76, 100, Jacuzio, Raffaele, 5 9 Lanzalone, Giovanni, 7 0
Gíanturco, Mario, 29 1 134, 1 3 9 , 3 4 3 James, William, 295 Lanzillo, Agostino, 103, 104,344
Gide, Charles, 3 7 6 Guidi, Angelo FIavio, 71 Jannaccone, Pàsquale, 303, 304, Lassalle, ~ e r d i n a n d 86,
, 340
Gillet, Louis, 59, 3 3 4 Guilherme I de Orange-Nãssau, 376 Lattes, Ernesto, 7 0
Gioberti, Vincenzo, 40, 61, 18 1, rei dos Países-Baixos (18 15- Janni, Ugo, 7 0 Lauria, Amilcare, 71
190, 2 0 4 , 3 2 9 , 3 5 5 , 3 5 8 18431,221 jansen, CornéIio, 353 Le Bon, Gustave, 12 1, 346
Lugan, Alphonse, 181 Marrocco, Luigi, 70
Lea, Henry-Charles, 212, 363 Michels, Robert, 115, 286, 287,
Lugli, Giuseppe, 105 Martelli, Diego, 256
Leacock, Stephen, 3 0 9 , 3 7 7 37 4
Luis X w rei d a França (1643- Martire, Egilberto, 59
Leão 11: papa (847-8551, 357 Milton, John, 106
1715), 3 2 7 Martin du Gard, Roger, 3 4 1
Lego XIII (Vjncenzo Gioacchino Minunni, Italo, 2 5 5
Luis XV, rei da França (1715- M a r t o v ( p s e u d ô n i m o d e Iuli
Pecci), papa (1878-1903), 50, Mioni, Ugo, 190, 191,360
17741, 263 Osipovitch Tchederbaum),
166, 177, 184, 188, 195, 196, Misciatelli, Piero, 188
Luís XVLII, rei d a França (18 14- 265
219,236,332,352,354, 356, Missiroli, Mario, 34, 37, 255,
1824), 1 4 7 Marvasi, Vittorio, 182
359 32 9
Lutero, Martinho, 3 6 Marx, Karl, 325, 328, 329, 335,
Lefèvre, Frédéric, 121, 3 4 6 Mitzakis, Michel, 121
Luxemburg, Rosa, 329, 3 4 0 . 338-340,377
Lenin, de Vladimir Molitor, Jean-Philippe, 335
Luzio, Alessandro, 2 9 Marzorati, Angelo, 71
Ilitch Ulianov, 3 7 2 Momigliano, Felice, 71
Luzzato, Leone, 70 Massari, Amedeo, 71 Monanni, Giuseppe, 5 6 , 3 3 4
Leopardi, Giacomo, 107, 1 2 2
Massis, Henri, 102, 169,2 19,343 Mondolfo, Rodolfo, 21, 22, 25,
Le Roux d e Lincy, 113
Macaulay, Thomas Babington, 65, Mataloni, G. M., 156, 161 33,326
Leverton, Stanley, 3 00, 3 0 1
66,336 Matteotti, Giacomo, 351 Montagne, Havard de Ia, 1 6 4
Levi, Alessandro, 1 4 0
Maccari, Mino, 253, 260, 3 7 0 Maura, Antonio 177 Monti, Achille, 71
Levi, Ezio, 24, 25, 3 2 7
Macchioro, Vittorio, 294, 295 Maurras, Charles, 109, 158, 160, Monti, Vincenzo, 95,341
Levi Minzi, Gíacomo, 71
Lewis, Sinclair, 303, 3 7 6 Madini, Pietro, 99 Morando, Giuseppe, 70
Liebknecht, Karl, 340 Maironi, Franco, 1 9 9 Moreau, Edouard de, 1 9 4
Manacorda, Guido, 1 8 0 Mazzini, Giuseppe, 204, 328, Morelli, Gabriele, 71
Liénart, Aquiles, bispo de LilIe,
183 Mandoul, J., 1 8 1 339,346 Morello, Vincenzo, 56, 58-60, i
Linati, Carlo, 3 0 1 Manin, Daniele, 140, 3 4 9 Meda, Filippo, 177, 356 334
Lipparini, Giuseppe, 71 Mantegazza, Vico, 96 Mehring, Franz, 85, 340 Morselli, Enrico, 71
Lo Forte Randi, Andreã, 71 Manzoni, Alessandro, 17, 95,96, Melani, Aifredo, 71 Mortara, Edgardo, 246
Loisy, Alfred, 227, 2 3 3 , 3 6 6 101,110,124,215,341,364 Mencken, Henry Louis, 3 77 Mowrer, Edgard Ansel, 303
Lombardo-Radice, Gi useppe, Manzoni, Romeo, 71 Mercurio, 2 9 7 Muller, Albert, 194
103, 1 0 4 , 3 4 4 Maquiavel, Nicolau, 3 4 Meriano, Francesco, 253 Murri, Romolo, 71
Loria, Achille, 29, 71, 85, 328, MaravigIia, Maurizio, 141, 3 4 9 Mermeix (pseudônimo de Gabriel Mussolini, Arnaldo, 357
33 9 Marchesini, Giovanni, 27 Terr.ail), 181 Mussolini, Benito, 98, 246, 334,
Messina, Giuseppe, 2 0 7 i
Louandre, Charles, 9 6 Mãrchi, Vittore, 70 349,358,360,362,363,368
Lucini, Gian Pietro, 71 Marescalchi, Arturo, 17 Metron, 309, 3 10 I

Ludendorff, Erich, 156, 353 Marescotti, Ercole Arturo, 71 Michel, Francisque, I13 Naldi, Filippo, 151, 2 5 5 , 3 5 1 i
Ludovici, Anthony M., 261 Mario, Aberto, 28, 328 Michelangelo Buonarotti, I08 Napoleão I, imperador dos fran-
11'

- -- -
Pancrazi, Pietro, 1 0 0 papa (1846-1878), 1 6 1 , 2 3 1, Prummer, Dominikus, 63, 64, 336
teses (1804- 18151, 5 8 , 127,
335,356 Puccio, Luigi, 71
140,202,341 Panzini, Alfredo, 71 P i o X (Giuseppe Melchiorre
Papini, Giovanni, 141, 180, 205, Pulci, Luigi, 123, 3 4 7
Napoleáo n1,imperadoi dos fran-
2 1 4 , 2 2 7 , 2 5 2 , 3 63 Sarto), papa (1903-1914),
ceses (1852-1870). 9-59 96, Puoti, Basilio, 6 7
Pareto, Vi1fredo, 115 153, 158, 161-164, 168, 180,
107
17/ Puricelli, Piero, 3 4 2
Parodi, Dominique, 70 186, 197, 199,219,23 1,352,
Nardi, Vittorio, 70
Parsons, Wil fred, 2 2 0 354,359 Quadrelli, Ercole, 7 0
Nelson, Horatio, 127
Pascal, Blaise, 16, 17, 41, 81, Pio XI (Ambrogio Ratti), papa
Nenni, Pietro, 256
123 (1922-19391, 147, 154, 158, Rampoila de1 Tindaro, Mariano,
Nietzsche, ~riedric1-iWiIhelm, 55,
Pasqual igo, padre, 157 159, 161, 194, 197, 199,203, 166, 1 6 7 , 3 5 4
56,58
Pasolini Ponti, Maria, 256, 2 9 1 205,222,330,332,350,354, Ravachol (pseudônimo d e Fran-
Nobile, Umberto, 342
Passigli, Giuseppe, 256 363,365 çois August Koenigstei n), 72,
Noguer, N., 218
Pcano, Camiilo, 6 8 Pirandello, Luigi, 279, 281, 373 73,337
N o n o Villãri, Maria, 71
Penne, Giovanni Bartista, 7 0 Pirou, Gaetan, 3 7 0 Raveggi, Pietro, 7 0
Nordau,
- Mw, 75, 338
Novaro, Arigioio Siivio, 7 0 Pera, Luigi, 7 0 Pirri, P ~ e t r o ,107, 200 Reinach, Salomão, 210
Noviis, aticulista de Critica fnscis- Perla, Luigi, 2 8 5 Pisacane, Carlo, 204, 363 Rémond, Paul, 182
ta, 59 Perucci, Ugo, 7 0 Pitágoras, 116 Renan, Ernest, 3 7
Nunzio, Paolo, 70 Pestalozzi, Johann Heinrich, 3 6 1 Pizzi, ItaXo, 71 Renda, Antonio, 7 0
Pétain, H e n r i - I h i l i p p e - m e 363. Plekhanov, Georgui Valentino- Relisi, Giuseppe, 70
Obregón, Alvaro, 178, 356 Petri, Carlo, 3 6 9 vitch, 3 1, 328 Rèpaci, Francesco Antonio, 3 14,
O'Conncll, Daniel, 177 Petrillo, Alfredo, 201, 362 Plutarco, 2 0 9 3 77
Ojetti, Ugo, 102, 113, 169, 343 Petrini, Domenico, 2 4 4 Podrecca, Guido, 71 Rèpaci, Leoriida, 3 77
Olgiati, Francesco, 3 3 , 328 PhiIip, André, 173,248,272,282, Poe, Edgard Ai1an, 343 Rerurn Scriptor, ver Salvernini,
Omodeo, Adotfo, 5 7 355,372 Poggi, Alfredo, 32, 7 0 Gaetario
Orestano, Frailcesco, 179, 357 Piccardi, Guido, 70 Pompei, Manlio, 1 3 6 Revel, Bruno, 373, 3 7 4
Ottolenghi, Raffaele, 70 Pieri, Piero, 135 Porro, Carlo, 116 Rezasco, Giulio, 3 4 4
Ovecka, Veriano, 182 Pietropaolo, Francesco, 71 Porro, Francesco, 71 Rezzara, Nicolò, 186, 1 9 7
Owen, Robert, 192 Pilo, Mario, 71 Praga, Emilio, 3 4 3 Riazanov, David Borisovitch, 16,
Pio V (Antonio Ghisfieri), papa Praz, Mario, 57, 3 3 4 329
Pacelli, Eugenio, 212 (1566-15721, 1 5 4 , 3 5 2 , 3 5 3 Predieri, Giovanni, 7 0 Ricca-Salerno, Paolo, 115
Pagni, Carlo, 254, 256, 2 5 7 Pio VI1 (Giorgio Chiararnonti), Preziosi, Giovanni, 2 5 5 Rice, J. E, 290
Palazzo, Costanza, 70 papa (1800-1823), 1 8 0 Proudhon, Pierre-Joseph, 40,61, Ridolfi Bolognesi, Pietro, 7 0
Palma Castigiione, G. E., 2 8 7 Pio IX (Giovanni Maria Ferretti), 329 Rivière, Jacques, 9 3 , 3 4 1
-JRizzi, Fortunato, 71 Sagot de Vauroux, Monsenhor, Solaro della Margarita, Clemen-
'3Robespierre, Mairnilien, 37
Rocco, Alfredo, 59
166,168
Salandra, Antonio, 2 0 1 , 3 6 2
te, 180, 18 1,338
Sol mi, Arrigo, 135
Tecchi, Bonaventura, 82, 8 3 , 3 3 9
Terlinden, Charles, 221
Thomas, Albert, 183, 192, 3 5 8
Salata, Francesco, 50, 167 Sornbart, Werner, 3 70
) Rodolico, Niccol ò, 179-18 1,2453 Tilgher, Adriano, 82,214, 3 3 8
Salimbene da Parma, 1 8 2 , 3 5 8 Sorel, Georges, 21, 32,33,37,65, Tittoni, Tommaso, 185, 3 5 9
357, 368
1Roesner,
' E., 1 4 1
Rogers, Harr, 296
3 Roguenant, Arthur, 352
Saltet, L., 165
Salvatorelli, Luigi, 232
Salvemini, Gaetano, 99, 343,
.
286,326,329,374
Sorrentino, Lamberti, 293, 294
Sparacio, Santi, 117, 119
Togliatti, Palmiro, 349
Tolstoi, Leáo Nikolaievitch, 102,
--.
114
348 Spaventa, Renato, 245, 313, 368 Tomás de Aquino, 204,227,328,
) Roiland, Rornain, 102
Salvioli, Giuseppe, 25, 327 Spengler, Õswald, 287, 374
) Romano, Pietro, 70 336
_ Romier, Lucien, 194, 195, 248,
Sangníer, Marc, 181, 3 5 3 Speziale, G. C., 1 0 5 Tommaseo, Niccolò, 140, 3 4 9
) 282,361,373 Sanna, Giovanni, 2 5 Spirito, Ugo, 2 8 1,33 1,369, 371, Toscano Stanzi a1e, Nicola, 7 0
) Rooseve]r, Frankiin D e l a n o , Sartiaux, Felíx, 229, 232, 233 3 73 Tosini, Casimiro, 7 0
) presidente dos ~stadosUnidos Sassoli de' Bianchi, Guido, 200 Squillace, Fausto, 112 Treitschke, Heinrich von, 5 8
(1932-1943,263 Sbarretti, Donato, 183 Sraffa, Piero, 375 Trompeo, Pietro Paolo, 17, 3 2 6
3 Rops, Daniel, 3 7 7 Schiãppoli, Domenico, 4 2 Stendhaf (pseudônimo de Henry Trotski (pseudônimo d e Leáo
) Rosa (ver Luxernburg, Rosa) Schiavi, Alcssandro, 2 4 9 , 3 6 9 Beyle), 5 8 Davidovi tch Bronstein), 265,
) Rosa, Enrico, 34, 102, 156, 157, Schlund, Erhard, 197 Strauss, Richard, 95 266,372 '
) 159, 160,163-165, 169,184, Schneider, Eugène, 63, 3 0 5 , 3 3 5 Suardi, Gianforte, 185, 186, 187, lkcci, Giuseppe, 97, 3 4 2
189,205, 214,343,360 Scremin, Luigi, 63, 3 3 6 197 Turati, Filippo, 356
3 Rosenberg,
' Alfred, 168,354,355
Rosmini Scrbrti, Antonio, 63, 96,
335,341
Seeley, John Robert, 127, 3 4 7
Segliezza, Felice, 296
Segura y Saenz, Pedro, 212, 375
Sue, Eugène, 58, 99,342

Taine, HippoIyte-Adolphe, 228


Turati, Giampiero, 70
Turchi, Nicola, 2 0 9
Turgueniev, Ivan Sergueievitch,
) Rossi Casè, Luigi, 71 Serao, Matilde, 15,325 Thjani, Filippo, 2 9 7 141
Rousseau, Jean-Jacques, 167,361 Sergi, Giuseppe, 71 Talleyrand-Périgord, CharIes- Turrnel, Joseph, 165, 218, 229,
-)
Rovani, Giuseppe, 343 Serpieri, Arrigo, 250 Maurice, 2 0 2 232, 2 3 3 , 3 6 4
Royce, Josiah, 285, 373, 374 Shakespeare, William, 100, 114, Thparelli d'Azeglio, Luigi, 187, Tyan, M.T.Z., 112
Ruffini, Francesco, 17, 180, 326, 122 332 Tyrrell, George, 157, 218
> 358 Siegfried, André, 282, 302, 3 7 3 Tarchetti, Iginio Ugo, 343
Ruggeri, Ruggero, 5 9 Siotto-Pintor, Manfredi, 70 Tardieu, André, 2 8 2 Valdarmini, Angelo, 71
1 Smith, Alfred E., 361, 362 Taussing, Frank Williarn, 376 Valdés, Juan de, 3 6
) Sacchi, Alessandro, 71 Socini, Lelio, 363 Taylor, Frederick Winslow, 266, Valera, Paolo, 56, 5 8
3 Sacchi, 13ice, 71 Soderblorn, Nathan, 1 9 0 , 3 6 0 36 7 Varisco, Bernardino, 70
1
1 392

.> -- -
CADERNOS DO CARCERE

Vecchi, Nicola, 256 Weiss, Franz, 115-117,345


Vercesi, Ernesto, 23 3 Wefls, I-Ierbert George, 127, 347
Verdi, Giuscppe, 343 Windthorst, Ludwig, 177
Viazzi, Pio, 71 Wurzburger, E., 141
Vico, Giambattista, 75, 258
Vidãri, Giovanni, 71 Zanardelli, Giuseppe, 167, 354
Villari, Luigi, 71 Zerboglio, AdoI fo, 71, 94
Villari, Pasquale, 71 Zucca, Antioco, 71
Vítor Emanuel fI, rei d a Sardenha Zuccarini, Oliviero, 255
(1849-1861) e da Itália (1861- Zucchelli, Torquato, 71
1878), 28, 328 Zumbini, Bonaventura, 141, 350
Volpicelli, Arnaldo, 33 1,369
Vol tãire (pseudônimo de Fran-
çois-Marie Arouet) 109, 167
O texto deste livrofoicomposto em Sabon,
desenho tipográfico delun Tschicholdde 1964,
baseado nos estudos de CZaude Garamond e
/acquesSabon no séculoXVI, em corpo 10/13,5.
Para títulos edestaques,foi utilizada a tipograja
Frutiger,desenhadaporddrian Frutigerern 1975.

A impressaose deu sobrepapel Offset 90g/m2


pelo Sistema Cameron da Divisáo Grdficu
da Dishbuidora Record.

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