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NelmaMedeiros ResenhaPaulaSibilia
NelmaMedeiros ResenhaPaulaSibilia
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Nelma Medeiros*
corpo humano” (p. 48), e não mais reconhecendo limites e fronteiras. Nesse
movimento as ciências da vida se encontram com a teleinformática,
desbancando as antigas dicotomias metafísicas – mente-corpo, espírito-
matéria, sujeito-objeto, natureza-artifício –, na busca pela superação da
“condição humana”, das “falências do corpo orgânico”, dos “limites
espaciais e temporais ligados à sua materialidade”. Pois “não basta
simplesmente melhorar suas condições de existência [do homem] e lutar
contra as forças hostis da natureza”, como sonhou a tradição prometéica.
Nosso momento é fáustico “pois o novo sonho aponta para bem mais
longe: visa à transcendência do ser humano” (p. 87).
Mas não estaríamos correndo certos riscos quando focamos nossa
análise partindo do homem e esperando encontrar aí sua solução? Alguns
autores atentam para isso, equacionando a questão de outro modo por
recusá-la nos termos humanistas. É o caso, por exemplo, de Peter
Sloderdijk (trabalhado inclusive por Paula Sibilia), que tem mostrado a
falência desse referencial, reclamando como necessária uma lógica que
possa reconciliar as opositividades tradicionais do pensamento ocidental,
neutralizando-as pelo raciocínio “trivalente”3. Segundo ele, a generalização
da idéia de informação faz exatamente isso, pois permite a passagem “entre
o pensamento e as coisas, como um terceiro valor entre o pólo da reflexão e
o pólo da coisa, entre o espírito e a matéria”, princípio que encontra
ressonância em trabalhos como os de Foucault (poder) e Deleuze
(multiplicidades).
Outros autores, como MD Magno, partem da lógica trivalente, que já
é característica da tradição psicanalítica, para mostrar, a partir desse campo
e corrigindo-lhe a rota, que a própria trivalência depende de uma razão que
sustente as operações de neutralização que ela torna possíveis. Esta razão,
que funda a trivalência, explicaria de maneira ainda mais abrangente e
abstrata a vocação artística que nos qualifica e que se mostra
NOVAmente Revista – março 2003 - http://www.novamente.org.br/magazine.shtml
Março 2003
Notas
1. FREUD, Sigmund. Conferências Introdutórias (Conferência XVIII-1916/17). In: Edição
Standard das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol.
XVI. O mesmo argumento aparece no artigo “Uma dificuldade no caminho da
psicanálise”, que o leitor encontra no vol. XVII da mesma Edição Standard.
2. Cf. MAZLISH, Bruce. The fourth discontinuity. The co-evolution of humans and machines.
New Have and London: Yale University, 1993.
3. SLODERDIJK, Peter. El hombre operable. Notas sobre el estado ético de la tecnología
génica. Trad. Fernando La Valle. In www.otrocampo.com/3/sloderdijk.html
4. MAGNO, MD. Psicanálise: Arreligião. Falatório 2002. Inédito, 2002.
______. Clínica da Razão Prática: Psicanálise, Política, Ética, Direito. Falatório 2001. Inédito,
2001.
______. Arte da Fuga [Assim se move o (in)consciente]. Falatório 2000. Inédito, 2000.
______. Comunicação e cultura na era global (Seminário 97). Texto inédito. Cf.
www.novamente.org.br.
______. “Psychopathia Sexualis” (Seminário 96). Santa Maria: Ed. UFSM, 2000.
______. Arte e Psicanálise: Estética e Clínica Geral (Seminário 95). Rio de Janeiro: NovaMente
Editora, 2000.
______. Velut Luna: a Clínica Geral da Nova Psicanálise (Seminário 94). Rio de Janeiro:
NovaMente Editora, 2000.
______. Est’Ética da Psicanálise - Parte II (Seminário 91). Rio de Janeiro: NovaMente Editora,
2003, 2 vols.
______. Arte & Fato: A Nova Psicanálise, da Arte Total à Clínica Geral (Seminário 90). Rio de
Janeiro: NovaMente Editora, 2001, 2 vols.
______. Est’Ética da Psicanálise: Introdução (Seminário 89). Rio de Janeiro: Imago, 1992.
5. Idem, Falatório 2000, seção 12: “A Razão e a Fé”.
6. Idem, Falatório 2001, seção 2: “Preliminares ao entendimento da marionete”.
7. HOUELLEBECQ, Michel. Partículas Elementares. 3a ed. Porto Alegre: Editora Sulina, 1999,
p. 340.