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Esdras
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ESDRAs
Antônio neves de Mesquita
ESBOÇO DO LIVRO DE ESDRAS
CAPÍTULO I - PRIMÓRDIOS
Finalmente, em 555, sobe ao poder um rei famoso, mais por sua cultura do que mesmo
por sua política: Nabonido, o Nabonaide dos documentos arqueológicos. Este, mais
interessado na ciência do que na política, pois é considerado o pai da Arqueologia,
dedicou-se de corpo e alma à coleção de documentos antigos. Sua filha, a princesa Bel-
Shalti-Nannar, sacerdotisa do Templo de Marduque, colaborou com o pai na busca de
documentos antigos. A antiga e famosa torre de Babel, arruinada pelos anos e pelo
tempo, foi praticamente demolida, no anseio de serem encontrados documentos
valiosos. Devemos ao inglês Woolley. grande arqueólogo, a descoberta de um anexo ao
templo onde a princesa oficiava, e que era um verdadeiro museu de antigüidades, talvez
o primeiro do mundo. Entre muitos outros documentos foi encontrado um cilindro de
barro, com escrita por todos os lados, e que Woolley considera o primeiro catálogo do
mundo antigo.
Jeremias e mesmo Isaías nos ensinam, que tanto Nabucodonozor como Ciro eram servos
de Deus (Jer. 43:10; Is. 44:28 e segs.). Todos os homens são servos de Deus para
executarem a Sua vontade, quando escolhidos para isso. É, assim que se deve entender
estas Escrituras e tantas outras, correspondentes.
Com a vinda de Ciro, rei da Pérsia, o mundo oriental, o chamado "Fértil Crescente",
entrava na sua fase final. Daniel nos informa (5:31) que Dario, o Medo, tomou o poder
com a idade de 62 anos. Nada nos diz de Ciro. Os críticos da história da Bíblia tiveram
muito trabalho para deslindar tanto a presença de Baltazar no governo, como a de Dario,
o Medo, pois nem um nem outro figura nos arquivos históricos daqueles dias. Quanto a
Baltazar é natural que isso acontecesse, pois não era o rei, mas um regente; no tocante a
Dario, o Medo, a coisa assume outros aspectos, e por isso Daniel foi julgado como falso
na história por ele descrita. Depois, tudo se esclareceu. De fato, Ciro era o líder da
conquista, mas a tomada de Babilônia não encerrava a conquista do império, e era
necessário ir adiante. Foi assim que tomou conta de Babilônia o aliado Dario até a volta
de Ciro, que se deu em 536, justamente dois anos depois da queda de Babilônia, com
quem Daniel passou a entender-se. Ficou assim perfeitamente esclarecida a história e o
profeta Daniel reconhecido como um historiador seguro. O capítulo 6 de Daniel nos dá
um dos primeiros incidentes havidos entre ele e Dario, que era seu amigo e chefe, pois
Daniel era o superintendente de todos os negócios do reino, o terceiro no curto reinado
de Baltazar e o primeiro no reinado de Dario (Dan. 6:3).
Estamos agora prontos para entrar no estudo dos grandes personagens dos livros de
Esdras e Neemias, que, a nosso ver, estão perfeitamente identificados com a história dos
judeus.
CAPÍTULO II - ORIGENS OBSCURAS DE CIRO
Ciro era neto de Astiages, rei da Média. Este Astíages teve um sonho, como tantos
que teve Nabucodonozor, e, chamados os adivinhos e astrólogos, estes lhe disseram que
a interpretação era uma torrente de água, que tinha visto e que inundava a sua cidade e
toda a Ásia, significando um novo rei que dominaria tudo. Astíages tinha uma filha,
Mandané, e, como estivesse em tempo de casar, não a quis dar a outro medo, mas a um
persa por nome Cambises, para que não tivesse o herdeiro qualquer pretensão ao trono.
Depois do casamento da filha, teve outro sonho: era uma videira, nascida do ventre da
filha, que cobria toda a Ásia. Chamados os intérpretes, disseram que o menino que ia
nascer seria um poderoso rei, que dominaria tudo. Então mandou chamar a filha, para
que logo que nascesse o menino fosse morto. Nascido o infante, Astíages chamou o seu
cortesão, por nome Harpagão, e disse-lhe: "Toma o menino, leva-o e mata-o". Harpagão
não teve coragem de matar a criança, e Ciro continuou vivo. Quem contou esta história
foi Heródoto, o chamado Pai da História. Tanto o nascimento como a educação de Ciro
estão envoltas em mistério, nada se sabendo ao certo. A primeira vez que ele surge na
História é quando, em 550 A. C., tomou Ecbátana, capital do reino dos medos, tendo o
seu avô de exilar-se noutro país. O que ele tanto temia não foi evitado. Ciro reuniu a
Média ao reino dos persas, formando um só Estado, territórios atualmente ocupados
pelos iraquianos e iraneanos. Contra esta coligação de povos se levantaram Creso, da
Lídia, na Ásia Menor, a uns 80 quilômetros distante de Esmirna, Babilônia e Esparta. Ciro
não perdeu tempo, e venceu Creso, o homem mais rico do mundo, e depois Sardes, a
capital de Esparta. Era agora o senhor absoluto, desde a Ásia Menor até o Eufrates, pois
nenhum povo de importância restava, desde os tempos das guerras assírias e caldaicas.
Babilônia era uma sedução. Nabucodonozor mesmo chegou a se envaidecer, dizendo:
"Não é esta a grande Babilônia, que eu edifiquei para a casa real, com o meu grande
poder e para a glória da minha majestade?" (Daniel 4:30). Era de fato uma glória
terrestre. Construída sobre as margens dó Eufrates, com os seus jardins suspensos,
reunindo as riquezas de tantos reis vencidos, era mesmo o que os arqueólogos tentam
dizer-nos, além do que a Bíblia nos ensina. Ciro sabia disso, e, naturalmente, depois de
vencer outros reis, esperava poder vencer o rei de Babilônia, o nosso Nabonaide. O
destino traçado por Deus estava cooperando com os sonhos de Ciro. Na noite que
Baltazar deu o seu banquete, já referido no Capítulo anterior, Ciro entrou pacificamente
em Babilônia, sem dar uri tiro, como se diria em linguagem moderna, assumindo o
governo da cidade como prefeito Dario, o Medo, enquanto Ciro continuava as suas
conquistas mais para leste.
O que Isaías tinha dito (cap. 47:1) cumpriu-se: "Desce e assenta-te no pó, virgem f ilha de
Babilônia; assenta-te no chão, pois já não há trono, 6 f ilha dos caldeus, porque nunca,
mais te chamarás (a ti mesma) a mimosa e delicada." Babilônia estava vencida. Tinha
cumprido a sua missão como Estado avassalador. Foi usada por Deus para castigar o seu
povo rebelde, mas isso já estava pertencendo ao passado; a folha do livro fora virada.
Agora era a vez de outro poder, mais alto, com missão diferente. Babilônia teve a missão
de destruir; Ciro, babilônio, teve a missão de reconstruir. Nisso está certa a Escritura, que
chama tanto a Nabucodonozor como a Ciro "servos" de Deus.
Ciro conta-nos, no seu cilindro de barro, já aludido, como conquistou a cidade. "Quando
entrei pacificamente em Babilônia e, entre manifestações de júbilo e alegria, estabeleci a
residência da minha soberania no palácio dos príncipes, Marduque (o principal deus
babilônico), o grão senhor, inclinou para mim o grande coração dos babilônios, porque eu
me preocupava em honrá-lo diariamente. Minhas tropas numerosas percorriam
Babilônia pacificamente, e não permiti que os sumérios e acádios (os primitivos povos
caldeus) fossem assustados por ninguém. Interessei-me pelo interior de Babilônia e por
todas as suas cidades. Libertei os habitantes de Babilônia do jugo que não lhes convinha.
Melhorei as suas habitações arruinadas, livrei-os do seu sofrimento. Eu sou Ciro, o rei da
coletividade, o grande rei, poderoso rei de Babilônia, rei dos sumérios e dos acádios, rei
dos quatro cantos do mundo.
Ciro gloriava-se de ser liberal, coisa que o mundo desconhecia. Era uma novidade para o
tempo, e Ciro se gloriava disso, pois sabia que nenhum outro monarca jamais tinha feito
tal coisa. Todos os povos, além dos hebreus, foram libertados, para voltarem às suas
terras, se desejassem, ou continuar em Babilônia, se gostassem.
Quando lemos outras declarações de Ciro, a respeito do Deus dos israelitas, parece-nos
um crente falando. A verdade é que ele respeitava todos os deuses e lhes prestava culto,
como vemos com o deus de Babilônia, Marduque. Era uma outra faceta do seu feitio.
Honrou todos os deuses dos siros, dos medos, dos babilônios e o Deus dos judeus. Esta
palavra deve ser reconhecida como a expressão da verdade. Ele teria sido informado das
diversas Escrituras a seu respeito e isso teria aumentado o seu respeito por Deus, mas só
isso. Foi um crente como tantos outros, que conhecem a Deus, mas conhecem também a
Mamom. Os diversos monarcas persas se mostraram tão tolerantes e amigos dos judeus,
que chegamos a julgá-los bons crentes. Quem sabe se não o seriam? Nem todos os
crentes estão nas igrejas, e muitos que lá comparecem, não o são. Esse o mistério da
revelação, em que nós apenas somos crianças, mal tentando decifrar os primeiros sinais
da escrita divina. De qualquer sorte, tanto Ciro como Nabucodonozor realizaram a obra
de Deus, e é isso o que nos cabe apreciar.
Nesta oportunidade, vale a pena abordar um outro assunto, de muita valia para a
História, de modo geral. Nos tempos de Abraão, 2160 A. C., a civilização caldaica era já
uma mistura de povos, que os historiadores, uns com certa dúvida, outros com
segurança, como este autor, chamam de acádios e sumérios, que parece terem sido os
conquistadores dos primitivos habitantes depois do dilúvio. Abraão era, pois, acádio ou
sumério. Os caminhos seguidos por esta gente e sua pátria são, em grande parte,
desconhecidos; todavia, o fato de agora, 2. 000 anos depois, ainda serem mencionados
por Ciro representa qualquer coisa que admira o historiador. Parece que, entre muitos
outros povos habitantes da Caldéia, provindos de diversas origens, por efeito de
conquistas, os sumérios e acádios ainda eram o elemento fundamental entre o povo. O
pouco que se sabe dessa gente, nos tempos de Abraão, é que era um povo laborioso,
pacífico e progressista. Isso parece ser ainda uma das facetas do povo nos tempos de
Ciro, e este reconheceu o fato e prometeu que não os molestaria, mas antes melhoraria
as condições de sua vida. Eis aqui uma, ironia da História: a Caldéia deu-nos o nosso
Abrão, depois chamado Abraão, o patriarca do povo hebreu: agora devolve-nos os seus
descendentes, para a continuação da sua história. Como é linda esta história! Como dá
tantas voltas, para chegar ao caminho que Deus determinou!
NOTA ESPECIAL
Eis a noticia:
A ocasião era única: os 2.500 anos da fundação da dinastia mais antiga da terra por Ciro,
o Grande. E como foi Ciro quem deu ao mundo sua primeira carta de direitos humanos, o
Xá achou que a festa era de toda a humanidade. O cenário também era único: uma
planície árida, junto às ruínas de Persépolis, onde artesãos construíram uma cidade de
luxuosas tendas, completando o ambiente com piscinas, fontes e jardins de rosas.
Persépolis, fundada por Ciro, foi destruída por Alexandre Magno em 330 A. C., segundo
os historiadores gregos, porque uma de suas cortesãs queria ver a cidade em chamas. O
banquete foi servido numa tenda de 75 metros de comprimento por 25 de largura, entre
dosséis de veludo vermelho, iluminado por 14 candelabros. À cabeceira da mesa de 65
metros, sentados em seus tronos, estavam o Xá e a Imperatriz Farah Diba, que hoje
completa 33 anos de idade. A mesa estava coberta por uma só toalha bordada a mão na
França. Entre os convidados se encontravam um imperador, oito reis, cinco rainhas, dois
príncipes herdeiros, dois príncipes, um grão-duque e 13 presidentes atualmente no
poder. Também estavam no banquete o Príncipe Philip e a Princesa Anne da Grã-
Bretanha, o Vice-Presidente Spiro Agnew, dos Estados Unidos, e o Cardeal Maxilian von
Furstenberg, representante do Papa (UPI) ".
Jeremias tinha prometido que depois de 70 anos (Jer. 25:11), os cativos voltariam à sua
terra. Acredita-se que durante estes anos os profetas Ezequiel e Daniel não teriam
esquecido esta promessa e procuraram manter o coração do povo na esperança da volta.
Diz-nos o texto que o Senhor despertou o espírito de Ciro, rei da Pérsia, o qual fez passar
pregão por todo o seu reino, como também por escrito, dizendo:
"Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O Senhor Deus dos céus me deu todos os reinos da
terra, e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que é em Judá. Quem há
entre vós de todo o seu povo (seja seu Deus com ele) suba para Jerusalém, que é em
Judá, e edifique a casa do SENHOR Deus de Israel; ele é o Deus que habita em Jerusalém"
(Esd. 1:2,3).
Ciro, no seu cilindro, declara que devolveu todos os deuses aos seus povos, mas como os
judeus não tinham ídolos, então todos os pertences do Deus de Israel seriam
naturalmente entregues, como foram. Todos então marchariam rumo a Jerusalém,
levando as suas riquezas adquiridas na terra do cativeiro, bem como as coisas do templo
de Deus. O verso 6 indica que todos se sentiram movidos pela nova e, os que não
subiram, ajudaram os que regressaram. Seria um reboliço maior do que aquele quando
vieram para o cativeiro. Geralmente se atribui a Zorobabel a chefia da primeira vinda dos
cativos; no entanto, o verso diz que todos os vasos foram contados e entregues a
Sesbazar, que o I Esdras chama de Sanabassar. Quem era este Sanabassar ou Sesbazar?
Há diversas opiniões: uns entendem, fosse outro nome de Zorobabel; mas à luz de Esdras
5:14 parece que não porque este Sesbazar era o governador, e Zorobabel ainda existia.
Pensam outros que seria Senazar, filho do rei Joaquim (I Crôn. 3:18); talvez Sesbazar
morresse pouco depois, e Zorobabel, homem de ação e altamente credenciado diante
dos judeus, ilustre sacerdote de família real, teria tomado o lugar, assim se identificando
com todos os pormenores da volta dos cativos. Ainda outros pensam, era um alto
funcionário do governo persa e que, ao morrer ou voltar a Babilônia, teria sido sucedido
por Zorobabel. O verso oito diz que Sesbazar era príncipe de Judá. Seria ele uma espécie
de superintendente dos serviços gerais, com a incumbência de colocar os judeus nas suas
terras e nas suas casas, enquanto Zorobabel seria um oficial secundário. Zorobabel é
mencionado em Mat. 1:12, enquanto Sesbazar desaparece do cenário pouco depois. Não
tem muita valia saber quem era ou quem não era; o certo é que foi a ele que Ciro
entregou todos os vasos, do santuário, depois de passarem pela mão do tesoureiro
Mitredate. As peças eram em número de cinco mil e quatrocentas, todas entregues na
mão de Sesbazar (v. 11). Algumas eram bastante pesadas, e outras, não. De qualquer
modo seria uma carga grande,. a ser transportada nas costas de camelos e burricos
trazidos do cativeiro pelos cativos.
3. O Rol dos Que Regressaram (2:1,70)
Há muita discussão a respeito das listas dos que regressaram. Neemias repete a lista com
algumas variantes'(Neem. 7:6-73). I Esdras também oferece uma lista diferente (5:4-6). O
comentador L. W. Batten pensa que havia uma lista oficial de todos que vieram de
babilônia até o tempo de Esdras; e outros acham ser a lista que foi dada a Tatenai,
quando este pediu os nomes dos que estavam construindo o Templo (Esd. 5). Não
adianta especular muito a respeito de listas e sobre qual seria a exata. Aceitamos o que o
texto nos oferece. Já sabemos que o hebraico não usava algarismos, e, sim, letras, e
estas ofereciam a possibilidade de erros nas cópias.
Apenas 341 levitas regressaram a Judá, quando o número deveria ser de milhares; mas o
fato de estarem com as suas vidas plantadas nos negócios da terra do cativeiro reteve-os
lá. Mais tarde, quando Esdras voltou com o seu grupo, teve de fazer uma campanha para
aliciar mais levitas para o acompanharem (8:1520). Dos sacerdotes vieram muitos, pois
se contam 4.289. Entre estes encontram-se os cantores, filhos de Asafe, 128, e os filhos
dos porteiros do Templo, 139.
Muitos não puderam provar a sua identidade judaica, não tinham o que nós
chamaríamos "certidão de batismo ou registro civil", e não foram incluídos no rol dos
verdadeiros israelitas. Isto, até que provassem a sua identidade. Vemos, assim, que não
é de agora que se exige a identidade da pessoa, seu nome, o de seus pais, etc. Entre os
tais havia um Barsilaí, nome muito familiar e muito querido, pois foi o ancestral deste
personagem que cuidou de Davi na sua fuga de Absalão (II Sam. 17:27; 19:32-39; I Reis
2:7). Esses, que eram sacerdotes, ficaram de quarentena até que se levantasse um
sacerdote com Urim e Tumim, quando então seriam consagrados ao serviço do Templo.
O Urim e Tumim eram duas pedras colocadas no peitoral do sumo sacerdote, um meio de
comunicação com Deus (Ver Êx. 28:30-37; I Sam. 28:9). Poucas vezes, no decurso da
história, se ouve falar destas pedras. Parece certo que se perderam nas muitas lutas em
que os hebreus se envolveram, ou, se existiam quando da deportação, se perderam
então; o que parece certo é que já não os possuíam mais nesta época. Não possuindo
mais estas pedras divinatórias, teriam de esperar que Deus fizesse a provisão por outros
meios, e então tais servidores seriam aproveitados no serviço. Deve ser isso o que
significa esperar "que se levantasse um sacerdote com Urim e Tumim".
No item 1 demos informações sobre estes totais, que não conferem com a lista de
Esdras, Neemias e nem mesmo com I Esdras, mas, de modo geral, o número de 42.360
confere. O que há a notar é a catalogação desta gente, primeiro por ancestrais, depois
por famílias e então por funções, etc. Quem quer que tenha tido a incumbência de fazer
esta catalogação deve ter sido um perito em organização. Aliás, os hebreus deram ao
mundo muitas lições de ordem administrativa que não se encontram em outros povos
antigos. Na história do Egito não há nada que se pareça com esta ordem de fatos, tanto
que os egiptologistas lutaram até que conseguiram pôr em ordem a lista dos próprios
faraós. Isto é de ver, pois se tratava de coisas de Deus e era urgente que fossem usados
todos os meios de cautela. Deus mesmo deu a ordenação. Quando estudamos as
genealogias em I Crôn. 2, vimos como estavam catalogados os ancestrais dos primitivos
hebreus, mesmo que para nós seja difícil determinar com segurança estas relações de
clãs. Lutamos para encadear algumas genealogias, e não conseguimos a perfeição, isso,
porém, não milita contra o fato de que os hebreus foram meticulosos nesta matéria.
Esta era a principal tarefa, segundo as determinações de Ciro, e os desejos dos que
voltavam do cativeiro. A cidade estava devastada, as casas arruinadas, mas aos poucos
seriam restauradas e a cidade voltaria a ter a sua forma antiga de cidade movimentada.
Era necessário começar a obra.
Como sabemos, muitos ficaram na terra, não seguindo o destino dos seus irmãos
cativos. Outros fugiram para o Egito, onde prosperaram, mesmo contra as profecias de
Jeremias (42:17). Os que ficaram na terra não teriam abandonado de todo o santo lugar,
e ali sacrificariam os seus animais. Temos até de admitir isso. Todavia, agora era o
tempo de restaurar a normalidade dos serviços, que estariam muito fora de ordem (Jer.
41:5). No mês sétimo, depois da volta, estando já o povo nas suas casas e vilas, juntaram-
se todos, como se fora um só homem, e, sob a direção de Jesua (Jesus ou Josué), com
seus irmãos sacerdotes e Zorobabel, edificaram o altar do Deus de Israel, e sobre ele
ofereceram holocaustos e sacrifícios, mesmo sob o terror do povo de outras terras, isto é,
o medo dos vizinhos, que não tinham gostado da volta desta gente.
Esta festa seguia sempre a Páscoa, ocorrendo no primeiro mês do ano, o mês de
Abibe, e estavam no sétimo mês. Ainda não estavam lançados os fundamentos do novo
templo (v. 6), mas já havia um bom começo, que era o início dos sacrifícios, a base
fundamental da religião de Jeová. O povo veio e trouxe dinheiro para os carpinteiros,
pedreiros e outros serventuários, e ao mesmo tempo comida, azeite e vinho, para os
tírios tirarem no Líbano madeira para construção. Sempre os mesmos amigos, desde os
tempos de Davi, cooperando com os seus vizinhos hebreus na construção do Templo.
Para tanto, Ciro tinha dado ordens a todos os povos daquém do Eufrates, para ajudarem
em tudo aos hebreus, que voltavam à sua terra para construir o seu templo e a sua
cidade. Admiramos esta gente. Todos os povos, mesmo os que não haviam sido
desterrados de suas terras, estavam agora sob o domínio dos persas. Assim, sidônios,
tirenses, filisteus e todos que restaram das guerras destruidoras dos assírios, eram agora
súditos do governo persa, porque este herdara os domínios de Nabudocodonozor, que
teria estendido o seu poderio a toda essa gente. O Egito ficou de fora, mas foi arrasado
no tempo de Cambises, filho de Ciro, e mais tarde foi totalmente submetido. Apenas
com a imaginação podemos ver o que estaria acontecendo nas montanhas de Judá. Um
povo que não seria tão pobre, porque os judeus sempre foram laboriosos e no exílio
muitos enriqueceram e voltaram trazendo as suas fazendas que poderiam transportar, e
o que não pudessem trazer teria sido passado a seus irmãos que ficaram, agora dispostos
a refazer os estragos causados por sua rebeldia. Temos a idéia de que esta gente que
voltava estaria mais bem fornida de bens do que a maioria que tinha ficado. Tudo agora
estava a serviço do culto.
No segundo ano, depois da volta (v. 8), 536 A. C., Zorobabel toma a dianteira sob a
direção de Deus, por certo. Não é mais Sesbazar que toma a frente da obra, mas
Zorobabel, o líder inconteste da nova caminhada. Logo se apresentaram alguns líderes
de quatro famílias de levitas, para tomarem a frente dos trabalhos: Jesua, Cadmiel,
Hodavias e Henadade. Os levitas de vinte anos para cima eram os diretores da obra, sob
a chefia dos Quatro Grandes aqui referidos. Ao serem lançados os fundamentos ou,
como nós diríamos, a pedra fundamental, os sacerdotes, paramentados, com as
trombetas, e os filhos de Asafe, com címbalos e outros instrumentos, conforme a ordem
de Davi, cantavam alternadamente uma espécie de coral duplo, em estilo alternado, ou
poderiam ser as diversas vozes cantando alternadamente. Seria uma coisa que Jerusalém
não tinha visto durante uma geração. O salmo que cantaram não está registrado, mas
poderia ser um dos do grupo 104: a 107. Parece que foi o 107, pois ele fala bem do que
seriam aqueles dias. Deus os congregou do norte e do mar, do Oriente e do Ocidente
(107:3). De todos os arredores de Jerusalém vieram israelitas; tanto os que tinham
voltado do cativeiro, como seus irmãos que ficaram. Uma multidão de mais de 500.000
estariam ali rodeando os homens que abriam os alicerces. Nem tudo era alegria,
entretanto. Os mais velhos, que tinham visto a grandiosidade do primeiro templo e
contemplavam este, de proporções reduzidas, choravam; e os gritos de alegria de uns e o
choro de outros misturaram-se no ar de Judá. Nunca antes tal espetáculo teria sido visto
e observado naquele local. O Templo agora iniciado e que seria inaugurado cinco anos
depois, não seria de fato o Templo do tempo de Jesus. Herodes, pouco depois de tomar
conta da Judéia como rei, em nome dos romanos, e para agradar aos mesmos judeus,
iniciou uma série de obras que estavam ainda em andamento no tempo de Jesus (João
2:20), depois de 46 anos de construção. Todavia, nem o Templo de Salomão teve tanta
glória como este, o chamado terceiro templo. Estavam postos os alicerces, e as obras
continuaram intermitentemente, como veremos no próximo parágrafo.
5. As Obras são Embargadas (4:1-24)
Depois de alguns meses de trabalho na construção, houve uma parada quase total. Os
vizinhos dos judeus, que não eram da linhagem de Jacó, pediram para cooperar na
construção (Esd. 4:1, 2). A resposta foi: Nada tendes conosco na edificação da casa do
Senhor nosso Deus: nós mesmos, sozinhos a edificaremos ao Senhor, Deus de Israel,
como nos ordenou Ciro, rei da Pérsia (Esd. 4:3).
Admite-se que, além dos mestiços, povos de outras terras Errados com os judeus, alguns
que não foram levados para o cativeiro, também queriam cooperar. Possivelmente era
gente que não se teria corrompido com os ídolos dos outros povos, porque na celebração
da Páscoa por Josias. muitos do norte vieram e tomaram, parte na festa (II Crôn. 35:
17,18). Agora estariam desligados da nacionalidade, sem registros legais, e não podiam
ser considerados limpos. Criara-se um sério problema em Judá. Os recém-víndos do
cativeiro seriam em grande maioria, e poderiam dominar qualquer tentativa de revide;
assim lançaram mão da intriga, arma terrível. Essa gente veio a ser mais tarde conhecida
por samaritanos, que ainda no tempo de Jesus viviam separados da comunidade judaica.
Estamos nessa altura da História em 529 A. C., sete anos depois do inicio da
construção. Ciro tinha morrido em 530 A. C., depois de uma expedição ao leste asiático,
subindo ao poder o seu filho Cambises, que fez a guerra contra o Egito, estendendo os
seus domínios por todo o mundo oriental. A carta aqui referida foi escrita no princípio do
reino de Assuero, que, na resposta, se chama a si mesmo Artaxerxes (Esd. 4:23). Ora, o
Assuero que se conhece é o marido de Ester (Ester 1:1) e que subiu ao poder em 486 A.
C., 43 anos mais tarde. Logo, este Assuero, marido de Ester, não pode ser o Assuero
mencionado em Esdras 4:6. Infelizmente, de todos os comentários que consultamos,
nenhum resolve este problema, e nós estamos convencidos de que o Assuero de Esdras
não é o Assuero, marido de Ester, pois ainda nem teria nascido. Havia então outro
Assuero? Quem seria ele? Por que a História ignora qualquer outro e este, que se
conhece, só é mencionado no livro de Ester, sendo totalmente ignorado na história
profana?
Deve ficar bem entendido que a ordem para parar as obras foi dada em 529 A. C., oito
anos antes de Dario 1, que subiu ao poder em 521, e 43 anos antes de Xerxes, marido de
Ester, o conhecido Assuero, subir ao poder. Devemos, pois, procurar saber quem seria o
Assuero de Esdras 4:6, também chamado Artaxerxes (4:11 e 23).
Josefo admite que o Assuero aqui referido era o Cambises, filho de Ciro, e o imediato
predecessor de Dario I, o Hitaspis, em cujo reinado foi o Templo completado e
inaugurado (Esd. 6:1-18). Poderia também ser Gautama, o Usurpador, que reinou apenas
oito meses, por morte de Cambises, em 522 A. C., mas não há multa probabilidade.
O nome Assuero não era comum e não consta dos arquivos persas, apenas é mencionado
em Ester. O Dicionário Bíblico que usamos ensina que Assuero era um título equivalente
a Senhor, que alguns reis usavam, como o pai de Dario, o medo, Astíages, avô de Ciro,
conquistador de Babilônia (Dan. 9:1). Aceitando, pois, o testemunho de Josefo, que
deveria saber um pouco da história antiga, de que o Assuero de Esdras era Cambises
(Historical Digest, p. 31) e não o Assuero de Ester, podemos, assim, concatenar a história
de um modo lógico e formal.
Resta saber quem era o Artaxerxes de Esdras 4:11,23. O único Artaxerxes que a História
registra é o Artaxerxes Longimano do tempo de Neemias (2:1) e o mesmo que deu ordem
a Esdras de vir a Jerusalém reconstruir os muros da cidade (Esd. 8:1). Muitos
comentadores, para contornarem a dificuldade da paralisação das obras do Templo em
529, alegam que a ordem de parar tais obras foi a dos muros, o que não é certo, porque
Neemias veio com permissão de Artaxerxes para reconstruir os muros e em 52 dias os
acabou. É certo que houve também oposição, mas sem efeito. Devemos fazer a distinção
entre a parada das obras do Templo e a construção ou reconstrução dos muros.
Notamos mais que a carta de Dislão, Metredate e Tabeel (Tobias) (Esd. 4:7) foi dirigida a
Assuero, também chamado Artaxerxes, pois a resposta veio de Artaxerxes mesmo. O
Artaxerxes que conhecemos e acima referido, reinou de 464-424 e era filho de Xerxes,
marido de Ester. Ora, entre a parada das obras do Templo, no reino de Artaxerxes, e
Artaxerxes I, em 464, medeia apenas o longo tempo de 55 anos, quando o Artaxerxes da
História ainda não teria nascido. Neemias veio a Jerusalém reconstruir os muros no 209
ano de Artaxerxes (Neem. 2:1), ou seja, 75 anos depois do incidente causado por Dislão,
Metredate e os demais. Não convém confundir a construção do Templo com a
reconstrução dos muros, como fazem muitos comentadores.
Resta saber, pois, quem seria o Artaxerxes de Esdras 4:11,23. Se não era o do tempo de
Neemias, como acabamos de ver, e nenhum outro Artaxerxes é mencionado na História,
quem seria? Não temos elementos para fazer afirmações em base histórica, mas
louvamo-nos no dicionário que usamos, Historical Digest, que diz que o nome de
Artaxerxes, usado por diversos monarcas persas, era também um título. O nome vem do
grego e significa GRANDE REI.
1) O Assuero de Esdras 4:8 era Cambises, que usava o título nobiliárquico comum a seus
antepassados, Astíages, por exemplo, pai de Dario, o Medo (Dan. 9:1).
Correram os anos entre 529-521 A. C., ou seja, oito anos, quando a situação
política na Pérsia mudou, com o desaparecimento de Cambises em 522 A. C., sendo o
governador daquém do Eufrates, Tatenai, junto com Setar-Bozenai e seus companheiros,
os afarsequitas (5:6). Resolveram estes consultar o novo rei sobre o problema da
construção do templo dos judeus, problema que estaria criando embaraços à boa ordem
da administração desta banda do Eufrates, pois, por um lado havia a proibição da
continuação das obras, mas por outro, e com o favor de Deus, as obras estavam andando.
Isso era uma desmoralização para o governo. Qualquer ação contra os judeus seria
contraproducente, porque eram muitos em número e não seria interessante usar a força
contra eles, mesmo porque isso era contrário aos princípios e normas persas. Além disso,
havia um decreto antigo que dava a esta gente o direito de construir o seu Templo, e isso
era sabido das autoridades. A ordem recente de Cambises, Assuero, de parar as obras
era contrária ao decreto de Ciro, que havia morrido poucos anos antes. Assim pareceu
de bom alvitre ao governador consular o novo rei da Pérsia sobre o negócio. Admiramos
esta norma do governador, que estava dentro dos princípios gerais da Pérsia de não
oprimir ou molestar os povos que haviam sido libertos. Na carta, o governador alega que
tinha ido a Jerusalém (5:8) examinar o assunto da construção, pedindo os nomes dos que
estavam trabalhando na obra, oficialmente embargada, tendo este declarado que eram
servos do Deus dos céus, e que, por outro lado, tinham tido ordem de Ciro, rei de
Babilônia (5:13), para construírem o Templo, e que até os utensílios levados por
Nabucodonozor tinham sido devolvidos por Ciro, o que se poderia provar, se fosse o caso.
Nesta ordem de Ciro estava até incluído o nome de Sesbazar, nomeado governador do
Estado judeu, o que também poderia ser provado. Noutras palavras, havia um decreto
anulando outro decreto, um rei contra outro rei, sendo este o fundador do Império Persa.
Pedia o governador que fosse dada busca nos arquivos reais, para verificar se o alegado
pelos anciãos dos judeus era verdade. ótimo proceder, e legal.
Estamos agora no ano 515 A. C., no sétimo ano do reinado de Dario Histaspes, que
subiu ao poder em 522. Não temos muitas informações históricas do governo de Dario;
todavia, a julgar pelo conjunto de fatos que possuímos, foi um governo tranqüilo. O
mundo inteiro estava sob o governo persa e, naturalmente, se sentia seguro e feliz, pois
este era tolerante, segundo os padrões daqueles dias. Vem depois o Xerxes, muito nosso
conhecido por seu casamento com uma judia, e o que se observa nos relatos possuídos é
que as ordens do império eram favoráveis. Foi, pois, neste ambiente de paz e segurança
que os oficiais judeus prepararam tudo para a festa da dedicação e muito podemos
inferir, pelo que fazemos, quando isso se dá com as nossas igrejas. Os sacerdotes, levitas
e o restante do povo, dos exilados, celebraram com regozijo a dedicação (v. 16).
Ofereceram 100 novilhos, 200 carneiros, 400 cordeiros e 12 cabritos, tudo para oferta
pelo pecado de todo o Israel, segundo o prescrito no livro de Moisés. Os cultos, agora
normalmente realizados no novo Templo, prosseguiram, num preparo nacional para a
celebração da Páscoa no dia 14 do primeiro mês, o dia nacional dessa festa, segundo
Êxodo 12:14. Preliminarmente, havia a oferta dó cordeiro pascal, um para cada família,
no caso de a família ser pequena, se ajuntariam duas e o comeriam assado (não cozido),
com ervas amargas. A este tempo, já se haviam separado muitos dos casamentos mistos
havidos entre eles, mesmo que uns tantos ainda ficassem impuros. Por sete dias
comeram os pães asmos (sem sal) e se alegraram muito, porque Deus lhes tinha dado o
coração do rei da Assíria. O escritor estava com a mente posta nos terríveis dias dos
assírios, e por isso menciona aqui Dario como rei da Assíria, o que não era. Babilônia
nada tinha com Nínive, senão a lembrança. Nem sempre os escritores sagrados são
muito seguros no uso de nomes, o que para eles estava certo, mas não para nós, que
estamos presos à História, o que não lhes acontecia.
Estamos agora em 457 A. C., ou seja, 43 anos depois da inauguração do Templo de Jeová,
em Jerusalém, no sexto ano de Dario Histaspes. Dessa data até a vinda de Esdras quase
nada se sabe; apenas que os judeus celebraram a páscoa (Esd. 6:19-22). Esta celebração
deveria ter ocorrido logo depois da inauguração em 515. Portanto, de 515 a 457,
correram apenas 58 anos. Isto compreende o resto do reino de Dario, que morreu em
486 e todo o reino de Xerxes, de 486-465, vinte e um anos. Foi o período de deboche
sexual em Susã, quando entrou em cena a linda Ester, sobrinha de Mardoqueu, de quem
nos ocuparemos quando estudarmos o Livro de Ester.
Com a subida de Artaxerxes Longímano ao trono em 464, substituindo seu pai Xerxes I, o
mundo judaico entrou num período de reconstrução social e religiosa, que será apreciada
em Esdras e Neemias. Até o mundo gentílico melhorou com a subida deste monarca que,
apesar dos vícios do trono persa, foi um admirável administrador.
Essa carta encontra-se em aramaico. Foi incluída no texto sagrado tal como escrita pelo
rei ou seus escribas. A introdução é normal, como em toda correspondência oficial.
tratava-se de um decreto real, referendado pelos sete conselheiros (ministros; conf.
Ester 1:15 e Heródoto 3:84). O fim era inquirir dos negócios da província de Judá e das
condições do povo e da religião. Portanto, Esdras era portador de uma lei que o
capacitava para qualquer trabalho que desejasse fazer.
Os judeus que não podiam voltar, por causa dos seus negócios, davam
liberalmente para o custeio dos serviços religiosos (v. 16). Ainda atualmente fazem isso.
Com esse dinheiro, Esdras deveria comprar novilhos e bodes para os sacrifícios, e o que
restasse podia ser usado conforme achasse por bem Esdras (v. 18). Era uma prova de
confiança na honestidade do enviado. Se o que Esdras havia recebido do rei e de seus
conselheiros e mais os donativos do povo não bastassem Para as necessidades da Casa de
Deus, Esdras estava autorizado a pedir aos governadores além do Eufrates o que preciso
fosse (v. 21).
Além da liberalidade do decreto, como vimos antes, o rei deu ordens aos
tesoureiros de aquém do Eufrates para darem ao sacerdote Esdras o que ele pedisse, até
os limites: cem talentos de prata, cem coros de trigo, cem batos de vinho e até cem batos
de azeite e sal à vontade. Calculando os 100 talentos de prata, e os cem coros de trigo,
os cem batos de vinho e cem batos de azeite, encontramos convertidas estas moedas e
estas medidas em valores ocidentais, uns 100.000 dólares, 800 alqueires de trigo, 2.800
litros de vinho e outro tanto de azeite. Uma liberalidade admirável.
Ó rei reconhece que o que estava fazendo para a Casa de Deus e do povo era uma
obrigação, pois não queria que a ira de Deus caísse sobre o seu reino, seus filhos e ele
mesmo. Eram tementes a Deus, ou diriam alguns, supersticiosos. Estes monarcas
deveriam ter aprendido que o Deus dos judeus era um Deus pessoal, e que não era um
ídolo como qualquer dos muitos que os outros povos adoravam.
Era homem humilde e tudo agradecia a Deus, que movera o coração do rei e de seus
conselheiros, de modo a conceder-lhe tantas honras e obrigações. Há continuamente
uma nota nesses livros de que Deus toca os corações dos homens, isto é, trata com os
homens. Isto os cristãos atuais ignoram. Esdras entendia que tudo quanto estava
ocorrendo era obra de Deus no coração do rei. Muito bonito e muito verdadeiro.
Estas estatísticas não são muito uniformes. Por exemplo, o I Esdras dá 1.690, enquanto
Esdras dá 1.689, incluindo levitas, contados à parte. Uma diferença insignificante.
Depois de reunidos os voltantes, Esdras notou que não havia levita algum (v. 15). Ficou
alarmado, naturalmente. Como é que os mais responsáveis pelas coisas de Deus se
omitiam numa hora de tanta gravidade e responsabilidade, Esdras não entendia. Então
designou nominalmente Eliezer, Ariel, Semaías, Elnatã, Jaribe, Natã (outra vez el Natã),
Zacarias, Mesulão, e também os peritos Elnatã e Joiaribe, para irem a Ido, o chefe em
Casifia, indagar porque não havia levitas dispostos a acompanharem seus irmãos a
Jerusalém. A incumbência foi coroada de êxito, e vieram ao acampamento, junto ao rio
que corre para Ava, 258.
Os geógrafos ainda não identificaram o canal ou rio que corria para Ava. Talvez
um canal dos muitos que havia em Babilônia e que tenha desaparecido agora. Reunidos
numa multidão de quase 2. 000 pessoas - mulheres, meninos e alguns velhos Esdras
achou que era bom praticar um jejum, como preparativo para o longo caminho. O valor
do jejum nas práticas religiosas evangélicas caiu da moda, e modernamente tal prática
tem causado mais mal do que bem, em alguns grupos. Entre os judeus era e é boa
prática. Porque não o seria entre todos que buscam a Deus? A preocupação de Esdras
era o caminho, que, além de longo, oferecia muitos perigos de inimigos. No trato com o
rei, Esdras teria dito que o seu Deus cuidaria dele e dos seus companheiros, de maneira
que agora teve vergonha de pedir soldados para proteção, como aconteceu na primeira
volta. Outras informações já foram dadas quando estudamos a vinda de Zorobabel. A
travessia em linha reta seria bem mais curta (ver mapa), mas teriam de enfrentar o
deserto sem água e as grandes tempestades de areia. Assim, subiriam ao longo do rio
Eufrates, passando por onde foi o antigo reino de Mari, contemporâneo de Abraão,
chegando aos subúrbios de Damasco, para então descerem pelo Anti-Líbano, até
Jerusalém. Teriam certamente se lembrado de Arã, onde morou Abraão antes de ir à
Palestina, e lá deviam ainda morar remanescentes da família de Naor. Não se sabe quem
seria o governador de Judá nesta data; possivelmente estaria unida a alguma outra
satrapia, talvez a da Síria ou do Egito. Também não sabemos se Esdras tinha
conhecimento da situação em Judá, ou não. Os correios naquele tempo eram escassos e
só transitavam a serviço do Estado. Que ligações haveria entre os judeus, em Jerusalém,
e os colonos, em Babilônia, também se ignora. Talvez uma completa ruptura de
comunicações, e isso explica o espanto que se apoderou de Esdras, quando viu a situação
a que chegara a colônia judaica quanto aos casamentos mistos. Terminamos esta seção
entregando Esdras ao seu cargo em Jerusalém após longa viagem.
Os exilados que vieram do cativeiro ofereceram holocaustos ao Deus de Israel: Por todo o
Israel, doze novilhos, noventa e seis carneiros, setenta e sete cordeiros, e como oferta
pelo pecado, doze bodes. Então Esdras comunicou as ordens recebidas do rei aos seus
sátrapas deste lado do rio, e ajudaram o povo na reconstrução da Casa de Deus. Esta
reconstrução deve referir-se a reparos, pois a casa tinha sido construída às pressas e sob
tremenda oposição, e seria mais do que natural que estivesse agora, tantos anos depois,
carecendo de reparos. Não se confunda, pois, esta declaração de 8:36 com a
reconstrução do Templo, porquanto isso foi feito no sexto ano de Dario Histaspes, 415 A.
C.
Acabadas estas coisas, vieram ter comigo os príncipes, dizendo... (v. 1). "Acabadas estas
coisas" quer dizer depois das cerimônias do Templo, do descanso necessário, e após
prestar contas dos tesouros trazidos de Babilônia, quando tudo fora devidamente pesado
e entregue à tesouraria do Templo. Admiramos o escrúpulo e o tino contábil daqueles
dias, pois tudo foi pesado e devidamente anotado ou escriturado.
Logo que Esdras soube da situação, rasgou as vestes, costume em caso de aflição,
arrepelou os cabelos e a barba (v. 3) e assentou-se atônito no chão. Isso constituiu
escândalo aos olhos dos demais judeus, pois um enviado do rei Artaxerxes, um
governador fazer tal coisa? Todo mundo se lhe chegou como a perguntar o que havia.
Ele ficou nessa posição, assentado, até o sacrifício da tarde, quando se levantou para orar
ao seu Deus. Alguns comentadores entendem que esta situação foi verificada anos
depois da chegada de Esdras, quando alguns do seu grupo também teriam cometido essa
falta. Não nos parece isso possível. Logo que chegou a Jerusalém teria procurado
informar-se da situação geral, pois de nada sabia. Teria sido informado da situação dos
casamentos mistos. Portanto, parece-nos que o assombro de Esdras ocorreu logo à sua
chegada. Não teria ficado alheio ao que se passava por muitos dias. O sacrifício da tarde
era o requerido em Êxodo 29:41, R Reis 16:15 e demais. Foi nessa hora que ele se
levantou,
Esdras não apenas confessou o pecado do seu povo, mas se confessou confuso,
aturdido e envergonhado (v. 6). Esta oração lembra-nos a de Daniel (9:4-19), de Neemias
(9:5-38) e tantas outras em situações dramáticas. Para Esdras, a nação judaica estava
arruinada; não havia mais povo puro. A religião estava perdida porque a sua salvação
constava da manutenção do povo separado do gentio. Talvez alguns se louvassem no
caso de Rúte e de Boaz, esse, porém, e alguns outros foram casos excepcionais, que não
acobertavam o casamento misto. Neemias mais tarde enfrentou o mesmo problema
(Neem. 13:23-28), não muitos anos depois de Esdras. O Novo Testamento não é alheio a
esse problema, mando que, quem se casar se case no Senhor (I Cor. 7:39). Os pastores
atualmente enfrentam uma séria luta, quando as moças das suas igrejas casam com
descrentes, alegando que não há rapazes crentes. Este autor sempre diz, que o problema
do casamento deve ser tratado como qualquer outro em que o crente não pode transigir.
A verdade é que as moças não atendem, e vão casando e arruinando a sua fé. Poucas
conseguem vencer a situação e continuar nas igrejas. Essas poucas alcançam isso, graças
à complacência dos seus maridos, que até cooperam em traze-las à Igreja. Poucas, bem
poucas. Pastores há que realizam cerimônias religiosas de casamentos mistos; outros
recusam terminantemente. Qualquer psicólogo desaconselharia tais uniões por
divergências de religião.
(3) Agora, por um breve momento, estavam livres, para outra vez dar ao povo a
sua estabilidade.
(4) Eram servos, é verdade, porém nesta servidão Deus não os havia desamparado.
(5) Os reis da Pérsia tinham sido benignos em dar aos cativos a sua liberdade. Face
a tudo isto, que se poderia dizer? Depois de tanta experiência, de tanto sofrimento,
Esdras faz uma confissão patética a Deus, como se ele mesmo fosse culpado. Não era,
mas orava por seu povo. Deus lhes havia dado um muro de segurança (v. 9), talvez uma
referência às muralhas de Jerusalém, que ainda não estavam restauradas, embora
esperança de o fazer houvesse. Pensa-se que seja uma expressão metafórica de Esdras,
se bem que o momento não comportasse figuras de retórica. Seriam mesmo os muros
de Jerusalém que estavam na mente do governador? (Miq. 7:11). Acreditam alguns
comentadores que já se estivesse trabalhando na reconstrução dos muros, mas nada
favorece esta suposição, pois 13 anos mais tarde, Neemias se sentiu humilhado, porque
os muros da cidade de seus antepassados estavam em ruínas (Neem. 2:17-19). A
reconstrução dos muros e a construção do Templo têm sido motivo para grandes
confusões e difíceis interpretações do texto. Vejam as notas em Esdras 4:6-24. Parece
curioso que, se os judeus não tinham tido escrúpulos de se unirem a mulheres gentias,
como teriam tido lembrança ou mesmo condições para cuidarem da reconstrução dos
muros da cidade? A religião estava em decadência, não há dúvida. Dos cultos mesmo,
não sabemos muito a respeito nesses dias depois de Zorobabel. A oração de Esdras é um
modelo de amor por sua cidade e pela religião do seu Deus.
Enquanto Esdras orava... e fazia confissão dos pecados do povo, chorando e prostrado
diante da Casa de Deus, ajuntou-se-lhe uma grande congregação de homens, mulheres e
crianças, todos chorando em grande choro (v. 1). Devia ser um espetáculo que nós
pagaríamos para ver. Isso mostra que o povo erra, como os homens, mas ainda há ou
sempre houve esperança. Quando há arrependimento sincero diante de Deus, tudo se
remedia. Só não há jeito quando a incredulidade domina. Então tudo está na casa do
"sem jeito", como diz o adágio popular. Nisso, um homem por nome Secanias, filho de
Jeiel, tomou a palavra e disse a Esdras: Nós temos transgredido contra o nosso Deus,
casando com mulheres estrangeiras , dos povos de outras terras, mas no tocante a isto
ainda há esperança (v. 2). Levanta-te, pois esta coisa é de tua incumbência, e nós
seremos contigo (v. 4). Felizmente que nas grandes crises sempre há um homem que
toma a frente para salvar uma situação. Ele mesmo propõe o negócio: as mulheres
seriam despedidas com os seus filhos, uma coisa de cortar o coração, mesmo aos que
estão milênios distante desta cena. Afinal, mesmo errados, estavam casados e tinham
filhos, e agora mandar embora essas criaturas, que nenhuma culpa tinham no caso, era
mesmo de dilacerar o íntimo. Era um grande sacrifício: famílias arruinadas para sempre,
novos casamentos e novas situações. Deus e a sua palavra mereciam este sacrifício. Era
feito em nome da felicidade do mesmo povo e da sua religião. Gente que não está
disposta a perder nada por amor à sua religião não serve para Deus. Note-se que Deus
aceitou esta decisão, porque estava à base de todo o passado e de todo o Concerto. Não
podia haver mistura de raças, ou melhor, de crenças. Ponham os olhos -nesta situação os
rapazes e moças que, por causa de um sentimento muito natural, trocam a religião, a
igreja, os muitos irmãos, por um homem ou por uma mulher, quando há tantos e tantas
em nosso meio. Isto está dentro do padrão de Jesus: os que não estão dispostos a deixar
pai, mãe, irmãos e terras por amor a ele, não são dignos dele. Deus e os interesses do
Seu Reino em primeira lugar, e isto porque o proveito é nosso. Em face da decisão do
orador do grupo de transgressores, Esdras se levantou e ajuramentou o; povo para uma
decisão heróica e tremenda.
O assunto era grave e o povo devia tomar conhecimento dele. Esdras, por sua vez, não
comeu nem bebeu, enquanto o assunto não estivesse pelo menos posto em bases
seguras. Os principais sacerdotes e levitas, os responsáveis pela situação, já haviam dado
a sua palavra de que o assunto seria estudado e uma solução encontrada. Recolheu-se à
câmara de Joanã, filho de Eliasibe, esperando por uma decisão.
2) Em Três Dias o Povo Estava em Jerusalém para o Acerto de CONTAS (vv. 9-15)
Dentro de três dias, a vinte do nono mês, o povo se ajuntou numa grande
multidão, e não havia espaço para acomodar tanta gente; além disso, era tempo de
grandes chuvas, e o povo ficou fora do Templo, na chuva de dezembro. O julgamento
seria longo, pois eram muitos os que tinham transgredido (v. 13). Foi alvitrado que os
culpados fossem julgados pelos príncipes do povo em lugares determinados, isto é, em
suas cidades, pois um assunto de tal monta não seria decidido ali, na chuva e ao
desabrigo. Jônatas e Asael se opuseram ao adiamento do negócio, mas parece que sua
opinião não prevaleceu. Por certo queriam que o assunto fosse tratado ali mesmo,
naquela hora.
3) Um Esclarecimento Histórico
Os comentadores que colocam Esdras depois de Neemias entendem que Joanã (v.
6), filho de Eliasibe, é o mesmo Jônatas de Neem. 12:10 e 11 e foi sumo sacerdote em
408 A. C. Nesse versículo não é chamado sacerdote nem Eliasibe tampouco; era líder e
nada mais. Conforme o testemunho de Josefo, (1) o pai de Eliasibe, Joaquim, era sumo
sacerdote quando Ezdras chegou a Jerusalém. Certamente Joaquim era agora um velho.
Eliasibe tinha pelo menos dois filhos crescidos, Jadua e Joanã, ambos com aposentos no
Templo, nas dependências destinadas aos sacerdotes. Sendo Jadua o filho mais velho,
terminou por suceder a Eliasibe, e, por sua vez, foi sucedido por seu filho mais velho, por
nome Jônatas ou Joanã, como irmão de Jadua, não sendo o de Neem. 12:10,11, a menos
que a História retroceda, o que não é possível.
7. Uma Grande Comissão É Nomeada por Esdras (10:16,44)
Prevaleceu o bom senso, e uma grande comissão foi escolhida nominalmente por Esdras
para tratar do assunto, composta dos cabeças das famílias e que logo tomaram assento
no primeiro dia de outubro e trabalharam de tal modo que em 1º, de janeiro, segundo o
nosso calendário, que é diferente do dos judeus, o serviço estava terminado. Dois meses
apenas. Cada um dos culpados, relacionados nos versos 18-43, ao todo 113, segurou a
mão dos membros da Comissão e prometeu despedir sua mulher com os seus filhos.
Estes foram os filhos dos sacerdotes, porém o princípio seria estendido a todos os
implicados. Mesmo admitindo que os laços de família não fossem tão fortes como
atualmente, pois a natureza da vida que levavam os tornava mais suscetíveis de
frouxidão, ainda assim temos de ver nisso um sacrifício que a religião exigia. Não só a
religião, como a pureza racial. Cada culpado deveria oferecer um carneiro, conforme
ordena Moisés em Levitico 5:15, por pecado de ignorância. Em II Reis, Jonadabe deu a
mão a Jeú como promessa de lealdade. Também em Ez. 17:18 há igual proceder, quando
o aperto de mão constituía um juramento solene e que alguns tinham violado.
O incidente tem suas lições para nós, como teve para os judeus do dia. Atualmente não
podemos ter a presunção de manter um povo racialmente puro, porque a mestiçagem
durante os milênios torna isso impossível. Não há povo racialmente puro, nem mesmo o
alemão, que no pensamento de Hitler o era, e, para manter essa pureza, promoveu uma
depuração horrorosa, mas, a bem da verdade, em nome de outros motivos. Não há povo
puro racialmente, dizemos, mas há uma pureza religiosa que deve ser mantida, em nome
da qual os 113 despediram suas mulheres e filhos. O Evangelho não permite que nos
misturemos com o mundo; somos separados. É outra maneira de separação. Os pastores
deveriam pregar mais a respeito desse assunto, mas não o fazem.
Terminamos aqui o nosso estudo dos problemas da SEGUNDA VOLTA do cativeiro, do
povo que veios com Zorobabel.