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Orientação educacional

eo
adolescente
C i d a S a n c h e s

Orientação educacional
eo
adolescente

C O L E Ç Ã O E S T U D O S A C A D Ê M I C O S

1 9 9 9
1999, by Editora Arte & Ciência
Coordenação Editorial
Henrique Villibor Flory
Editor, Projeto Gráfico e Capa
Aroldo José Abreu Pinto
Diretora Administrativa
Luciana Wolff Zimermann Abreu
Editoração Eletrônica
Alessandra Nery
Revisão
Letizia Zini Antunes

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total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Biblioteca de F.C.L. - Assis - UNESP)

Sanches, Cida
M337a Orientação educacional dirigida a adolescentes / Maria
Aparecida Sanches. — São Paulo: Arte & Ciência, 1998.
160p.; 21 cm
ISBN
1.Orientação educacional I. Título
92-1796 CDD-371.422

Índice para catálogo sistemático:

1.Orientação educacional 371.422

Editora Arte & Ciência


Rua dos Franceses, 91 – Bela Vista
São Paulo – SP - CEP 01329-010
Tel/fax: (011) 253-0746
Na internet: http://www.arteciencia.com.br
Ao meu marido e aos meus filhos,
meus grandes amigos,
pela paciência e colaboração demonstradas
ao longo de toda esta jornada.
Índice

Prefácio ................................................................................. 11
Introdução ............................................................................. 15
Cap. 1: Conceitos básicos ................................................... 37
Cap. 2: O que é ser orientador educacional ...................... 55
Cap. 3: Conclusão ............................................................... 87

ADENDOS:
= Descrição do método ........................................................ 95
= Exemplo de entrevista ..................................................... 105
= Bibliografia ....................................................................... 115
= Glossário ........................................................................... 119
= Índice de autores ............................................................. 123
= Índice de assuntos ........................................................... 125
Prefácio

Pode-se atribuir ao Orientador Educacional um papel


preponderante como profissional de ajuda. Esse papel tem uma
gênese interior e é construído pela sua ação específica, que pro-
duz os efeitos esperados de um profissional de ajuda.
A ação do Orientador Educacional desenvolve-se por meio
de um conjunto específico de atividades, tais como: incentivar o
aluno no processo de sua aprendizagem, orientá-lo para a ma-
turidade social e afetiva; ajudá-lo na sua definição vocacional.
Essas atividades sempre se realizam com o apoio ou a parceria
de diversas fontes, a saber: a estrutura educacional, os profes-
sores, os pais e até mesmo os próprios alunos.
A atuação do Orientador Educacional como profissional
de ajuda faz-se essencialmente junto ao adolescente — reco-
nhecido como um ser em transição, com um grande potencial a
ser trabalhado, um adulto que ainda não o é e quer ser, um al-
guém aceito com qualidades e defeitos. O trabalho do Orientador
Educacional sobre o objeto de sua ação é realizado sob um con-
junto de crenças que fundamentalmente afirmam: que é preciso
dar apoio e atenção ao adolescente; que ele só pode ser con-
quistado através de afeto que deve ser levado à reflexão e
ajudado nos momentos mais difíceis e sentir-se feliz. Em
virtude de tal atuação, o adolescente obtém algumas con-
quistas, entre elas: um desenvolvimento integral, a consci-
ência de si mesmo, um melhor aproveitamento escolar e um
amadurecimento — como ser humano — mais facilitado.
Mas não só o adolescente obtém proveitos: o próprio
Orientador Educacional cresce com a sua atuação diária, pois
aprende vivenciando-a. O Orientador Educacional, porém,
acredita, que o proveito nos alunos só pode aflorar quando
há, no próprio Orientador Educacional, uma predisposição
interior no que o conduza a isso.
Caçador de mim

Por tanto amor,


Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz,
Manso ou feroz
Eu, caçador de mim
Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim
Nada a temer
Senão o correr da luta
Nada a fazer
Senão esquecer o medo
Abrir o peito à força
Numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura
Longe se vai sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir o que me faz sentir
Eu, caçador de mim.

(Sérgio Magrão e Luís Carlos Sá)


“O adolescente é uma pessoa com uma grande
luz a ser trabalhada”.(S7)

Introdução

A proposta deste trabalho é analisar a ação do


Orientador Educacional do ensino médio, das escolas pública e
particular, focalizando a relação de ajuda ao adolescente, na pro-
moção do seu amadurecimento enquanto ser humano.
Este trabalho está dividido, basicamente, em três capítulos.
No primeiro, explicito os principais conceitos pertinentes
ao problema: Orientador Educacional, sujeito da ação da minha
pesquisa; adolescente, principal objeto; relação de ajuda, que é o
modo de atuar do sujeito e crescimento humano, o produto da
ação do Orientador Educacional.
No segundo capítulo mostro que o Orientador Educacional
atua como profissional de ajuda ao adolescente do ensino médio.
Ciente de que, entre possibilidades e limites, a escola é hoje o
local onde o aluno permanece de quatro a seis horas, em
atividades sociais, educacionais e culturais, demonstro, neste
segundo capítulo, que o Orientador Educacional está atuando
como facilitador no processo de maturidade pessoal e social do
adolescente.
Por fim, no terceiro capítulo, teço as considerações finais
e mostro algumas inferências que a análise permitiu.
16 Cida Sanches

Pela importância do processo da pesquisa realizada,


nos Adendos descrevo o método usado, centrado na análise das
histórias de vida profissional recolhidas de diversos Orientadores
Educacionais e ilustro o método com a inclusão de uma entrevista.

Minha experiência

O que me levou ao estudo deste tema foi a minha


experiência que se iniciou no 3° ano do curso de Pedagogia, em
l98l, quando monitorava a disciplina de Filosofia da Educação
em nível de terceiro grau. Nessa época, ainda muito jovem, iniciei
o meu trabalho com os alunos do l° ano, na sua maioria
adolescentes, na faixa dos 17/18 anos.
Quando terminei o curso, dois anos depois, com especia-
lizações em Orientação Educacional, Administração e Supervisão
Escolar, dei continuidade ao trabalho como professora de Filosofia
da Educação, Didática e Supervisão de Estágios para alunos do
ensino médio, no curso de formação de professores.
Com essas atividades, fui adquirindo uma grande afini-
dade com os adolescentes, o que me permitiu desenvolver a
capacidade de compreendê-los, por meio da atitude de escutá-
los, atuando como “boa ouvinte” dos seus problemas, ajudando-
os, dessa forma, a elucidar via diálogo a experiência de ser
adolescente.

... O diálogo provoca no próprio homem situações existenciais plenas,


e é na concretude do dia-a-dia que a realização plena da vida do
homem é efetivada. (Albarello, 1992: p.35)

Com o diálogo foi possível, muitas vezes, ajudar o


adolescente a entender situações que o aborreciam. Foi possível
acalmá-lo em situações de indisciplina e clarificar a necessidade
da observância das normas escolares. Foi possível ajudar o aluno
a minimizar, e às vezes esclarecer, suas dúvidas, sobre a impor-
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 17

tância do ato de estudar e sobre a opção profissional, pois tinha


dificuldade de elaborá-las. Com o diálogo foi possível, ainda, a-
judar a mim mesma, como profissional, a descobrir e entender
os processos evolutivos dessa faixa etária.

... O diálogo é o caminho mais seguro para o Orientador aprender a


essência da problemática de cada educando, a fim de poder, mais
conscientemente, orientá-lo em função da realidade existencial...
(Nérici,1992: p.72)

No processo educacional, com as minhas atividades como


educadora, e ainda por meio do relacionamento diário com os
adolescentes, descobri em mim a capacidade de identificar nos
seus comportamentos, nas suas falas e nas suas expressões, o
momento em que precisavam de ajuda. Vivenciar essa expe-
riência a cada dia me possibilitou desenvolver um novo tipo de
comunicação, definida por Maria Tereza Maldonado (1987) como
“linguagem do sentir”.
A linguagem do sentir envolve a “reflexão de sentimentos”,
que é uma forma de aprender a estar em sintonia com o outro,
por meio de uma comunicação que consiste em dizer-lhe,
explicitamente, os sentimentos subjacentes que captamos nas
mensagens que nos enviou (p.77). Consiste, ainda, em ajudar
o outro a “digerir” sentimentos evocados por situações que
ficam inconclusas ou pendentes (p.83).

... Muitas vezes, o que sentimos não está muito claro para nós. Se
alguém sintoniza conosco, é como se projetasse a luz de uma lanterna
num lugar escuro e isso nos possibilita ver com mais nitidez o que
está acontecendo dentro de nós. (p.80)

A “linguagem do sentir” é uma forma de comunicação na


qual estão presentes a sensibilidade e os recursos afetivos
(p.85) e que pode aprofundar o relacionamento, e com isso
favorecer o apoio ao desenvolvimento humano.
18 Cida Sanches

A comunicação entre os adolescentes e mim efetivou-se


exatamente dessa maneira: permeada por sentimentos, de forma
que, quando sua atitude revelava-me que precisavam ser
ouvidos, eu exercitava a sensibilidade desse ouvir até poder sentir
o problema apresentado.Vou contar um exemplo.
Maria Cláudia chegou à escola, certa manhã, preocupada
com a doença e a provável morte da sua cachorrinha. Angustiada,
chorava, manifestando a sua tristeza. Não se encontrava, dessa
forma, em condição de participar da aula.
Nada se podia fazer. Talvez mandá-la de volta para casa.
Talvez deixá-la quieta no seu canto, protegida para que ninguém
viesse aborrecê-la. Como ajudá-la, se eu nem mesmo entendia
de animais?
Mas entendo de sentimentos. Entendo de afetividade. E
para ajudá-la conduzi o diálogo de forma que ela expressasse,
sem receios, a saudade que já sentia da sua cachorrinha de
estimação. Falamos de como seria lidar com esse sentimento.
Falamos da perda, da morte e de suas várias representações,
desabafando e explorando todos os sentimentos, até que consegui
perceber que Maria Cláudia compreendia melhor o momento
que estava vivenciando.
Isso significa ouvir o que está implícito na fala, aquela
mensagem que não se diz verbalmente, mas que é comunicada,
pelo outro, no tom da voz, no olhar lançado sutilmente, na postura
que revela desconforto. Aquela mensagem que está no choro,
no grito e que pode estar, também, naquela frase construída sobre
uma mágoa que precisa ser desabafada, ou num acesso de raiva
que precisa ser liberado. Tornei-me, enfim, capaz de perceber
o momento em que o aluno precisava ser “ouvido”,
independentemente do motivo. E aprendi a ouvi-lo. Fui me
preparando para me sintonizar com o desconhecido, sem o prévio
preparo de uma resposta a ser dada. Apropriei-me cada vez
mais do sentido de ouvir, de Rogers:

... ouço as palavras, os pensamentos, a tonalidade dos sentidos, o


significado pessoal, até mesmo o significado que subjaz às intenções
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 19

conscientes do interlocutor. É como ouvir música das estrelas, pois


por trás da mensagem imediata de uma pessoa, qualquer que seja a
mensagem, há o universal. (1983:p.5)

Este é o “ouvir” que espera uma pessoa quando está


magoada, ansiosa ou até mesmo quando está confusa. Este é o
“ouvir” que acolhe, que compreende e que faz o outro sentir-se
gratificado, pois esta atitude proporciona o alívio, o
esclarecimento e o verdadeiro valor de nos sentirmos acolhidos.
Quando assim ouvimos uma pessoa, estamos ouvindo não suas
palavras, mas ela mesma (p.6), estamos ouvindo o que vem do
seu interior, expresso em palavras que mostram a importância
íntima e pessoal daquilo que foi relatado.
Ser “bom ouvinte”, no dizer de Rogers, implica um ouvir
sensível, criativo, ativo, profundo e de forma empática, o que é
uma habilidade tanto quanto uma atitude.
A atitude empática requer muita sensibilidade para que
seja possível ao ouvinte viver e captar os sentimentos de raiva,
angústia, medo, ternura, felicidade, ou qualquer outro. É
recomendável participar, mas não julgar; refletir junto, ajudando
o interlocutor a perceber os significados da sua própria vivência.
É preciso ter sempre uma postura positiva, segura e que não
constitua ameaça aos valores ou atitudes do interlocutor. Para
tal se faz necessário, ao ouvinte

... perceber o mundo interior de sentidos pessoais e íntimos do cliente,


como se fosse o seu, mas sem jamais esquecer a qualidade de ‘como
se’. Perceber a confusão, a timidez, a cólera ou o sentimento que o
cliente tem de ser tratado injustamente, como se isso se desse com
você, mas sem que a indecisão, o medo, a cólera ou a desconfiança
que você sente se incluam na relação. (199l:p.107)

Perdi o medo nos atendimentos. Aprendi a respeitar, por


detrás das atitudes, a pessoa. A raiva é humana, assim como o
é a meiguice. Também é humano o medo, tal como a coragem.
20 Cida Sanches

Também são humanas a mentira, a ironia, a agressividade, do


mesmo modo que a coerência, a compreensão e a relação de
ajuda.
Essa postura humanista, adotada no exercício profissional
e, portanto, na convivência com os adolescentes, possibilitou-
me compreender a importância do trabalho do Orientador
Educacional. Vivenciava uma satisfação que nascia do prazer
de vê-los caminhar rumo à confiança em si mesmos, à confiança
no outro e na sociedade. Com tudo isso me sentia gratificada e
profissionalmente realizada. Cada vez mais me motivava esse
tipo de trabalho, o que me levou à decisão de deixar as aulas e
só atuar como Orientadora Educacional.
Essa opção de trabalho com adolescentes levou-me a
observá-los diariamente, quanto ao modo de lidarem com seus
problemas, quanto à dificuldade para resolver uma situação
problemática, dificuldade essa resultante às vezes do medo e
da insegurança, às vezes da agressividade. No atendimento
aos pais e alunos, tive a oportunidade de observar, ainda, que
muitos jovens ficam com o relacionamento familiar abalado em
função dos questionamentos quanto a suas crenças e valores
(podendo estes serem de ordem social, econômica, afetiva ou
cultural).
Percebi que, nessa transformação do “ser criança” para
o “ser adulto”, os adolescentes oscilam nas suas atitudes. Ora
são mais infantis, ora são mais adultos, porém, sempre no “entre”,
na “passagem”. Percebi que são muito influenciados pelo grupo
de amigos, cujos componentes estão inseridos nesse mesmo
processo de transformação.
A sós, com os pais, eclode o conflito. O “entre” não é
muitas vezes compreendido, e a solidão, a falta dos companheiros
nessa hora de enfrentamento com os pais — para a conquista
do sonho, para tornar-se adulto — rapidamente gera
comportamentos agressivos, irônicos, competitivos, impedindo,
muitas vezes, o diálogo.
Para os pais é difícil confiar nesse ser em oscilação, em
constante movimento, pois também não sabem como lidar com
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 21

ele, em nome do amor e da necessária proteção, muitas vezes


ignoram esse processo de mudança e acabam cobrando essas
atitudes que são ora infantis ora adultas. Os pais e a escola, em
muitos momentos, gostariam de poder congelá-los em uma das
extremidades. Acompanhá-los nesse penoso processo de
transformação exige do Orientador Educacional uma empatia
muito grande para não reproduzir a atitude de pais e professores.
Quando tenho dificuldade para compreender a atitude de
um jovem, remeto-me ao passado e vivencio a minha ado-
lescência. Procuro lembrar como era a minha busca por um
espaço no mundo, como eram as minhas emoções e as grandes
paixões. Estamos todos, nessa fase, procurando por nós mesmos,
procurando um porto seguro onde possamos resolver essas
questões do medo e da insegurança, que se manifestam em
todas as situações em que precisamos tomar uma decisão ou
dar uma opinião própria. Como canta Milton Nascimento:

Nada a temer
Senão o correr da luta
Nada a fazer
Senão esquecer o medo
Abrir o peito à força
Numa procura ...
Eu, caçador de mim.

Muitos jovens, nessa travessia, perdem-se num mundo


onde impera a droga, a irresponsabilidade, a violência. Para eles
não é uma questão de chegar ao outro lado da ponte: a vida que
escolheram rompeu com a idade cronológica e os transformou
em seres perversos, num momento que deveria ser o da
construção de uma personalidade sadia. Em todos os ambientes
encontramos esses jovens, independentemente da classe social.
Foram vencidos pela atração fatal das drogas, do sexo, do dinheiro
e da violência.
22 Cida Sanches

Fugir às armadilhas da mata escura


Longe se vai sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir o que me faz sentir
Eu, caçador de mim.

O trabalho do Orientador Educacional para com esses


jovens não surte o efeito necessário. O que podemos fazer é
ajudá-los a perceber que, durante as horas em que freqüentam a
escola, devem tratar com deferência aqueles que ali estão,
fazendo o possível para respeitá-los, assim como respeitar os
limites estabelecidos. Não penso que seja necessário excluí-los,
mas sim que seja possível conquistar sua compreensão de que,
nesse ambiente, é assim que eles devem manter-se. Esses jovens
precisam do atendimento de profissionais mais especializados,
pois, a escola, não é uma clínica e o Orientador Educacional não
é um terapeuta.
Ao longo de minha trajetória como Orientadora
Educacional, constatei que o jovem pode, por meio de um
relacionamento de carinho e atenção, ser orientado para que
descubra que todos precisam de um projeto de vida e que, no
cerne desse projeto, está a imagem do ser humano que ele almeja
ser no futuro. Esta é uma forma de motivá-lo a crescer,
enriquecendo os seus valores.
Acredito que, quando temos uma meta para o futuro, temos
também um estímulo para crescer. Penso que é possível facilitar
ao jovem a construção de uma auto-imagem como pessoa segura
que, sobretudo, reconheça os seus próprios valores como figura
humana, com referenciais firmemente estabelecidos que o
ajudem a atuar com confiança nas atividades sociais, culturais e
econômicas. O jovem pode entender que, a partir desse contexto,
tudo o que fizer não será somente para atender à sociedade,
agradar aos seus pais, ou mesmo para ser o melhor na escola,
mas, também, para atingir um objetivo maior: conquistar a sua
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 23

independência social e financeira e, fundamentalmente, investir


na sua felicidade.
Esse jovem tem uma cultura que lhe é própria, com suas
posturas, suas músicas, danças e vestuário; tem a sua própria
forma de ver o namoro e as relações entre as pessoas e seu
vocabulário é diferenciado, recheado de gírias que constroem a
sua comunicação. Tudo isso merece ser respeitado pelos adultos.
Entendo que o problema, muitas vezes, não está no jovem e na
sua cultura, mas no adulto que não a aceita, não a entende. É
difícil para o adulto compreender os valores e as necessidades
particulares desses jovens no seu processo de crescimento, um
processo que é individual. Deixa, assim, de ser um apoio, um
amigo fiel e colaborador, para assumir uma atitude de revolta,
que ignora e critica essa cultura sem nada aceitar.
Nessa relação do adulto com o adolescente, a confiança
de um no outro adquire grande importância. É ela que abre as
portas para o diálogo e, a partir deste, ambos investem na
transformação pela qual passarão. O adolescente rumo à vida
adulta deixará para trás, na sua travessia, muitos sonhos, valores,
dores e alegrias; e aquele que o acompanha também, ao chegar
do outro lado, terá a vida modificada. Esse movimento formador
e transformador acompanhará sempre o próprio movimento do
existir, pois no dizer de Rogers,

saber-se pessoa é saber-se devir, inacabado, incompleto e construtor


de si mesmo e de seu futuro. (Rogers “in” Queluz—1984)

A meu ver o jovem tem uma grande disposição para um


“bom papo”; gosta de relacionar-se, de fazer amigos. Mesmo o
mais tímido geralmente tem o seu grupo de amigos mais íntimos
com quem estabelece troca de experiências significativas,
especialmente nos assuntos que não se sente seguro de com-
partilhar com a família. Assim, dá preferência ao relacionamento
com os amigos da escola, do bairro onde mora, do clube que
freqüenta, que são os seus companheiros de travessia. Isso vem
24 Cida Sanches

ao encontro do que diz Erikson:

... os companheiros de idade, a roda de amigos e a turma ajudam o


adolescente a encontrar sua própria identidade, em um contexto social.
O sentimento de participação no grupo, nas rodas de adolescentes é
forte e determina um sentimento de clã e intolerância com as diferenças,
inclusive aspectos mínimos de linguagem, gestos, modos de vestir”.
(1980:p.89)

No processo educativo, muitos dos alunos buscam ter,


com seus educadores, uma relação de amizade mais profun-
da. Esses alunos esperam dos educadores um espaço aberto
não só para as trocas de conhecimentos gerais (como física,
química e português), mas também para a partilha de expe-
riências vivenciadas. O aluno geralmente valoriza o relacio-
namento com os professores e sente-se valorizado quando é
ouvido, percebendo que há nessa relação um clima de liber-
dade para expor as suas idéias. Parece-me que, quando o
educando encontra esse espaço aberto, essa prédisposição
dos educadores para essa troca, nasce a possibilidade de
que ele encontre aí um amigo e conselheiro que possa ajudá-
lo. Amigo, quando o acolhe com sentimento de afeição,
ternura e crítica construtiva; conselheiro, quando nessa at-
mosfera calorosa o respeita como indivíduo livre para falar
dos seus sentimentos e desejos; respeita-o e acredita nele
como capaz de ser responsável por si próprio com tendênci-
as naturais para tornar-se maduro, ajustado socialmente, in-
dependente e confiante. Rogers diz que

... existe em todo organismo, em qualquer nível, um fluxo subjacente


de movimento para uma realização construtiva de suas possibilidades
intrínsecas. Há no homem uma tendência natural para o
desenvolvimento completo. (1986:p.17)

É nesse sentido que entendo serem os Orientadores


ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 25

Educacionais profissionais com possibilidade para facilitar


o processo de relacionamento entre professor e aluno; capa-
zes de promover o seu próprio encontro com o educando e
com os professores, como profissionais de ajuda no cresci-
mento humano do adolescente, levando sempre em consi-
deração as tendências naturais da pessoa para esse cresci-
mento. Rogers diz que o “profissional de ajuda” é

... uma pessoa facilitadora [que] pode ajudar na liberação dessas capa-
cidades, quando se relaciona como uma pessoa real para com a outra,
possuindo e exprimindo seus próprios sentimentos; quando vivencia
um cuidado e amor não possessivo em relação à outra; e quando com-
preende com aceitação o mundo interno da outra. (1986: p.23)

A orientação ao ser humano se faz necessária em to-


das as fases da vida, assim como a orientação escolar se faz
necessária em todos os níveis escolares. Porém, parece-me que
na adolescência essa necessidade é mais intensa, visto que essa
é a fase do ser humano que representa a encruzilhada entre
a infância e a vida adulta (Strôngoli. 1989:p.10).

Revisitando a história
da Orientação Educacional

A Orientação Educacional é uma atuação profissional


existente desde o século XIX, e podemos encontrar estudos a
esse respeito nas produções acadêmicas de Teresinha Andrade
(1978), Piza (1980), Penteado (1980), Osny Galvão (1980), Sena
(1985), Leda Pinto (1987), Selma Pimenta (1990), Loffredi
(1976 e 1994), Lenita Martins (1994), Regina Garcia (1994) e
outros.
Ao longo de sua história, a Orientação Educacional nem
sempre teve o mesmo enfoque. A questão ideológica permeou
26 Cida Sanches

os objetivos da Orientação Educacional, fazendo com que estes


mudassem de acordo com a estratégia mais ampla do poder
político.
Pode-se dizer que o advento dessa profissão ocorreu com
a saída dos pais dos lares, para irem trabalhar nas fábricas, no
início da era industrial. A necessidade era atender às sociedades
industriais através da Orientação Profissional, somada ainda à
necessidade do apoio e supervisão que os alunos deixaram de
ter nos lares.
A Orientação Educacional surgiu no Brasil em 1924,
através de Roberto Mange, professor da Politécnica de São Paulo,
na forma de Orientação Profissional dirigida a jovens que,
tendo terminado a escola média, pudessem ser selecionados
e encaminhados para a formação técnica em Mecânica, no
Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (Pinto,1987:p.14).
Em 1931, no Brasil, Lourenço Filho criou o Serviço de
Orientação Profissional e Educacional, dirigido pela psicóloga
Noemy Silveira Rudolfer. O objetivo desse serviço era guiar o
indivíduo na escolha de seu lugar social na profissão
(Pinto,1987:p16). Esse trabalho teve duração de quatro anos,
tendo sido extinto, então, em 1935.
As educadoras Aracy Muniz Freire e Maria Junqueira
Schmidt, em 1934, implantaram na Escola de Comércio “Amaro
Cavalcanti” o serviço de Orientação Educacional. Aracy Muniz
Freire, inclusive, escreveu a primeira obra nacional sobre a
profissão, sob o título A Orientação Educacional na Escola
Secundária, em 1940.
Mas só em 1942 a profissão aparece na legislação federal.
Daí para frente, como foi dito, seu enfoque foi mudando de acordo
com as estratégias políticas.
A regulamentação da profissão veio com o decreto 72.846,
de 26.9.73, que disciplinou a lei 5.564, de 21.12.68, que provia
sobre o exercício da profissão de Orientador Educacional. O
artigo 1o afirma que constitui objeto da Orientação Educacional
a assistência ao educando, individualmente e em grupo, no âmbito
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 27

do ensino do 1o e 2o graus, visando o desenvolvimento integral e


harmonioso de sua personalidade; ordenando e integrando os
elementos que exercem influência em sua formação e
preparando-o para o exercício das opções básicas.
Nas escolas estaduais, somente em 1977 é que o decreto-
lei 10.623, nos artigos 18, 19 e 20, fala das atribuições do
Orientador Educacional, desde o seu trabalho em cooperação
com o professor e a escola, nos programas de apoio técnico
pedagógico, até o seu desenvolvimento de esquema de contato
permanente com a família. Esse decreto-lei aprovou o regimento
das escolas de 1o grau, que só entrou em vigor em 1978.
Nas décadas de 70 e 80, a Orientação Educacional
encontrou-se em profundo questionamento, quando constatou
as limitações dos enfoques anteriores. As produções acadêmicas
dessa época falam da existência de uma “crise de identidade
profissional”. O Orientador Educacional já não sabe quem é,
nem quais são as suas funções, como exemplificam os textos
abaixo:
Teresinha Andrade afirma que:

... estudos têm mostrado que há conflito na expectativa dos membros


da comunidade escolar a respeito do desempenho de papéis e função
do Orientador Educacional.Os diretores esperam pouco, ou quase
nada da Orientação. Alguns toleram porque seus superiores o exigem.
(1978:p.29)

Piza ocupa-se da perda de identidade profissional do


Orientador Educacional:

... O presente estudo trata da perda da identidade do Orientador


Educacional no Brasil, procurando caracterizar e dimensionar tal
problema, tanto a nível de literatura especializada, como entre os
profissionais ativos que desempenham as funções de Orientador
Educacional em escolas brasileiras. (1980:p.75)
28 Cida Sanches

Osny Galvão enfatizava o fato de a função da Orientação


Educacional não ser nem compreendida, nem valorizada:

... A Orientação Educacional não é bem compreendida e nem


valorizada como função na estrutura, não só pelo corpo docente mas
também pelas direções. Isso vale não só para as escolas do estado
como também para municipais.(1980:p.86)

Leda Pinto mostra que só a partir da metade da década


de 70 a Orientação Educacional passa a dispor de um embasa-
mento teórico mais concreto:

... Após a promulgação da lei 5.692/71, com todas as conseqüências


que traz em seu bojo para a educação e conseqüentemente para a
Orientação Educacional, configura-se o momento em que o
questionamento da profissão de Orientação Educacional e de seu
embasamento teórico toma uma forma mais concreta, mais
precisamente na segunda metade da década. (1987:p.69)

Apesar de toda essa dificuldade para definir a profissão


e, igualmente, a atuação de seus profissionais, em 1982 o Estatuto
do Magistério Municipal de São Paulo mostrava a função do
Orientador Educacional integrada à comunidade e à família.
Seu trabalho seria realizado em conjunto com a Assistente
Pedagógica, mas cada um na sua função específica, visto que
cada escola era dotada de um Orientador Educacional.
Dois anos depois, em 1984, o cargo de Orientador
Educacional nas escolas municipais do Estado de São Paulo foi
extinto. Os representantes da educação, nessa altura, deram como
justificativa para extinguir esse cargo a possível cumulação de
funções entre a Assistente Pedagógica e a Orientadora
Educacional, ou seja: ambas realizavam trabalhos semelhantes.

... Havia uma ampla discussão sobre a função de cada um dentro do


ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 29

regimento escolar, referente ao que cada um fazia dentro da unidade.


Começou a se pensar que esse Assistente Pedagógico e esse Orientador
Educacional estavam em desacordo. Era uma corrente e a corrente
que ficou mais forte foi a de fundir os dois cargos em um só ...Tivemos,
então a Coordenadora Pedagógica. (Comunicação Pessoal: S2/1996)

Vale ressaltar que no ano de 1984 a maioria dos Orienta-


dores Educacionais estava ocupando cargos de direção e super-
visão, deixando assim o Sindicato dos Orientadores Educacionais
esvaziado. Ou seja, fragilizada pelas circunstâncias, a própria
categoria não se manifestou, e os poucos que se levantaram
para lutar pela categoria (os orientadores da Prefeitura de São
Paulo) não encontraram eco para a sua voz .
Uma vez extinto o cargo de Orientador Educacional, para
atender às necessidades das escolas, foi criado o cargo de Coor-
denador Pedagógico, que teria como objetivo atender às neces-
sidades dos professores e dos alunos. O regimento que criou
esse cargo, porém, pouco fala das suas funções dirigidas espe-
cificamente aos alunos, porquanto esse profissional ficou dedicado
à assistência ao professor e ao diretor.
Quanto ao aspecto formal, em termos de documentação,
no Estatuto do Magistério de 1985, nas escolas estaduais o
Orientador Educacional ainda fazia parte da classe dos es-
pecialistas com as seguintes exigências: possuir licenciatura plena
em Pedagogia, com habilitação específica em Orientação
Educacional e ter, no mínimo, três anos de docência, e/ou ser
especialista em educação de 1o e/ou 2 o grau. Porém, na prática,
não se encontrava esse especialista executando suas funções.
Na rede pública, a figura do Orientador Educacional sofreu
um desgaste em função da lei que tornou obrigatória sua presença
nas escolas (artigo 10 da lei 5.692/71). Essa obrigatoriedade,
que foi instituída com a função de estender-se a todos os
alunos, nos vários níveis de ensino, dentro da estrutura
1
escolar , acabou por identificar o profissional como um elemento
1
Relatório do Ministério da Educação e Cultura. Brasília, 1976.
30 Cida Sanches

que existiria para controle dos alunos; um controlador dos


jovens em termos ideológicos, refletindo uma conotação
totalmente política. Existem profissionais que defendem a
idéia de que a política, na época, não era levar o educando a
conhecer-se integralmente:

A ênfase era numa linha ideológica da razão sobre os sentimentos, da


razão sobre os valores. Desta forma o trabalho de orientação perdia
o seu sentido, visto que a ênfase do trabalho dos Orientadores está no
ser humano como um todo: razão e emoção”. (E.01.1996)

Loffredi faz referência à obrigatoriedade da Orientação


Educacional pela lei 5.692/71, como sendo ela a responsável
pela ruptura da posição tradicional do Orientador Educacional e
explica que:

... com a universalização da dimensão profissional, que coloca o


orientador educacional contra a parede, foi impossível manter a
acomodação ou fazer os ajustes tentados até então. A lei colocou
tantos paradoxos para o trabalho do Orientador e para a escola, que
tornou a Orientação Educacional inviável. (1994:p.44)

O referido autor definia o Orientador Educacional como


um profissional que pudesse orientar os jovens a seguir um
caminho em que se sentiriam mais seguros, ajudando-os, dessa
forma, a

... tornarem-se mais capazes de serem independentes e responsáveis


por si mesmos, oferecendo-lhes, para isso, a possibilidade de aprender
a serem livres, conscientes e responsáveis. (1976:p.43)

Lenita Martins fez parte de um grupo de debate sobre


Orientação Educacional que concluiu que
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 31

... O Orientador Educacional não está consciente de sua especificidade


enquanto profissional, e disto resulta o fato de a escola não reconhecer
nele um elemento competente e necessário no processo educativo.
(1994:p.76)

A curta e tumultuada história do Orientador Educacional,


no Brasil, impediu que se estabelecesse um perfil pacífico desse
profissional, porquanto as suas funções e atribuições ficavam ao
sabor do objetivo ideológico que se lhe atribuía.
Com efeito, o Orientador Educacional, trabalhando desde
no guiar o indivíduo na escolha de seu lugar social na
2
profissão , passando pelo trabalho de adaptação profissional
e social do aluno e para cuidar para que os estudos e o
descanso dos alunos ocorressem dentro da conveniência
3
pedagógica , bem como atuando na figura que ensina e treina
habilidades, para que o indivíduo atinja melhores níveis de
funcionamento pessoal e interfira no ambiente com vistas à
4
formação de um clima favorável à maturidade , para depois
passar à orientação do educando, individualmente ou em
grupo, visando ao desenvolvimento integral e harmonioso
dos alunos, preparando-os para o exercício das opções bá-
5
sicas , até reconhecer-se numa crise de identidade profissional
(1970-1980) em que já não sabia quem era, nem quais eram as
suas funções, sem quaisquer contornos, amoldava-se ao que era
ideologicamente conveniente. Ele, realmente, tinha perdido o seu
foco.
Só a partir de meados da década de 70 o Orientador Edu-
cacional começa a busca de um desenho consciente do seu
próprio papel, como se estivesse traçando a própria linha do
destino; porém, mais uma vez, na minha opinião, a busca mostrou-
se infrutífera. É difícil estabelecer o momento a partir do qual o
2
Objetivo do Serviço de Orientação Profissional e Educacional, criado em
1931 por Lourenço Filho.
3
Lei 4.073, de 30.1.1942
4
Lei 4.024, de 20.12.1961
5
Lei 5.564, de 21.12.1968
32 Cida Sanches

Orientador Educacional passa a preocupar-se com o seu ver-


dadeiro papel. Alguns momentos específicos em tal busca
podem ser elencados como relevantes: o I Congresso Brasi-
leiro de Orientação Educacional, realizado em Brasília em
1970, em que os Orientadores Educacionais buscavam uma
definição de um papel profissional para o Orientador Edu-
6
cacional ; no Congresso de 1972 organizam pautas que
respondam à ansiedade dos orientadores em definir concre-
7
tamente o seu papel na escola ; porém, ainda no VIII Con-
gresso, realizado em Brasília em 1984, o objetivo era redefinir
a orientação educacional, a partir da revisão crítica de sua
história, da análise crítica da escola concreta e da explicitação
8
de seu papel, o de transformação . O X Congresso, em 1988,
no Rio de Janeiro, arrasta o debate para o meio da relação
capital—trabalho. O Orientador Educacional, embora não
saiba o seu papel, já se sabe explorado:

... Até que ponto cada um de nós, Orientadores Educacionais, tem


clareza do que vem a ser um trabalhador braçal dentro de uma
sociedade que valoriza apenas o capital? Se existe este tipo de
percepção, será fácil identificar as contradições existentes na sociedade
e refletidas na escola. A sociedade exige cada vez mais que nós,
trabalhadores, nos organizemos, para que possamos dirimir a
exploração de que somos vítimas. Algumas questões devem ser
elucidadas: a) Por que existem o patrão e o empregado?...
(Araújo,1994:p.21)

Regina Garcia, sobre este momento, diz:

... do processo de participação dentro e fora da escola, do processo


de construção e assunção de sua identidade de trabalhador da
educação, do processo de engajamento na luta pela construção de

6
Garcia, Regina Leite (Org). Orientação Educacional: o Trabalho na
Escola. 1994, Loyola, p11.
7
Idem, p.12
8
Idem p.17
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 33

uma escola pública e gratuita de qualidade para a classe trabalhadora,


do processo de engajamento na luta por uma Constituição que
atendesse às reivindicações da classe trabalhadora, do processo de luta
pela transformação da sociedade, era inevitável a filiação à CUT.
...Gestada no próprio processo de filiação à CUT, emergiu outra
contradição entre os orientadores. Alguns orientadores-trabalhadores
abandonaram o seu espaço específico de ação profissional — a escola.
Negam assim o que os qualifica como trabalhadores: a sua condição
de trabalhadores da educação ...Neste momento, vivemos na orientação
educacional duas tendências: uma que privilegia o espaço sindical e
outra que dá ênfase ao espaço escolar.(1994: p.17)

O X Congresso surpreendeu pela tônica da luta de classes,


remetendo os debates para temas como “O Orientador e a
organização dos trabalhadores”, “A Orientação Educacional e a
educação do filho do trabalhador e do aluno trabalhador” e “O
Orientador Educacional e o processo de reprodução das classes
sociais na escola”.
Hoje, após tantas modificações na sociedade e ante a
constatação de que nas escolas públicas (que atendem ao filho
do trabalhador e ao aluno trabalhador) não há Orientadores
Educacionais, pode-se dizer que o X Congresso foi em vão.
Selma Pimenta, na Apresentação de Uma orientação
9
educacional nova para uma nova escola , afirma:

... A preocupação dos Orientadores Educacionais com a definição de


suas funções tem sido a constante de encontros, congressos, teses,
pesquisas. A indefinição permanece e, com ela, a insatisfação
profissional. Chega-se a imaginar que esta é conseqüente daquela.
Assim, no momento em que se conseguir definir, especificar e delimitar
claramente as funções do Orientador Educacional no interior da escola,
as causas que têm provocado a insatisfação profissional
desaparecerão.

Conseguirão esses profissionais da educação dar o salto

9
Maia, Eny e Garcia, Regina. São Paulo, Loyola, 1990, p.7.
34 Cida Sanches

da qualidade ao seu trabalho por meio dos desafios propos-


tos, durante tantos anos, pelas produções acadêmicas? A esse
respeito, Regina Garcia diz acreditar que

... é pelas próprias contradições internas da orientação educacional que


ela tem condições de recuperar o seu papel, de superar as contradições
e caminhar para um novo papel. (...) Se for um agente transformador,
começará pela transformação de sua própria prática. (1994:p.14)

Foi angustiante para mim rever essa história por per-


ceber que o Orientador Educacional não encontrava, mes-
mo quando ele se propunha à busca, um lugar para escrever
o seu destino. Ele não conseguia se encontrar, não conse-
guia estabelecer seu rumo, seu destino. Congressos, círcu-
los de estudos, debates, oficinas, discursos, discussões e te-
ses… e ao fim disto tudo, sempre a mesma questão: não sa-
ber quem era, nem o que queria ser.
Esta era a minha inquietação como Orientadora Edu-
cacional. Acreditava que outros profissionais possuem esta
mesma inquietação e a crença na sua superação. Pergunta-
va-me: Como estão esses educadores construindo, agora, o
seu papel facilitador junto aos adolescentes? Como esse
profissional constituiu, com tantas mudanças, o seu traba-
lho com adolescentes?
Pude perceber, pela minha experiência, que, em ge-
ral, as instituições educacionais possuem uma proposta edu-
cacional pragmática — no sentido de uma realidade prática
— a qual pode ser sintetizada por um objetivo dominante
em relação ao adolescente: colocá-lo com sucesso na facul-
dade ou no mercado de trabalho. Raras são as instituições
que têm uma proposta holística para o adolescente — cui-
dando do todo: da sua formação acadêmica e da sua forma-
ção como ser humano, nos seus vários aspectos.
Entendo — e já afirmei isto anteriormente — que as
necessidades do adolescente não coincidem, na maioria das
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 35

vezes, com a proposta pragmática de interesse da institui-


ção. No meu caso particular, esse conflito é vivenciado no
dia-a-dia e acredito que também o mesmo ocorra com ou-
tros profissionais.
A minha questão era, deste modo, investigar se o
Orientador Educacional no exercício do seu papel atuava
como profissional de ajuda ao adolescente. Esta relação de
ajuda pressupunha que o Orientador Educacional tivesse uma
atuação de: escuta — sendo essa escuta sensível, profunda,
criativa e empática, por meio do diálogo; de facilitação na
relação entre educador e educando — sempre atento às ne-
cessidades do grupo para que esta relação seja saudável e
sirva como principal ponto de partida para o crescimento
dos grupos discente e docente; e de promoção de ativida-
des, principalmente daquelas nas quais o aluno tem a opor-
tunidade de reconhecer a sua atitude como responsável e de
tornar-se capaz de ser independente e crítico das suas pró-
prias ações e das ações do grupo.
”Não há nada melhor do que ver
nossos alunos crescerem saudáveis,
conquistaremos seus espaços, mudarem
os seus hábitossociais, saberem avaliar suas
condições,suas próprias posições”. (S3)

CAPÍTULO I

Conceitos básicos

V imos atrás que as produções acadêmicas mostram


o Orientador Educacional, até o ano de 1994, como um profis-
sional cuja função e papel foram sendo sucessivamente alterados,
questionados e desvalorizados, influenciando na construção da
sua identidade profissional. As produções que se ocupam da
Orientação Educacional, conquanto muitas delas investiguem a
questão da sua atuação profissional, raramente fazem menção
específica à atuação do Orientador Educacional na condição de
profissional de ajuda ao adolescente do ensino médio.
A lei 5.564/68 define o exercício do Orientador Educa-
cional, em especial no ensino médio, com o objetivo genérico de

... facilitar a maturidade pessoal e social do aluno, maturidade essa


que será atingida através do desenvolvimento e de um processo em
que o aluno vai se tornando progressivamente mais consciente dos
seus atos, de si mesmo como ser social e da sociedade da qual participa.
38 Cida Sanches

Analisando todo esse percurso, verifico que o arcabouço


legal já propunha a atuação do Orientador Educacional como
profissional de ajuda que se interessasse em atuar como um
facilitador do desenvolvimento da maturidade pessoal e social
do aluno. Sendo assim, não se trata de uma questão legal. Parece-
me que a função existe; o que não encontramos são profissionais
interessados em executá-la como definia a lei e como — a meu
ver — o jovem necessita.
Dorotéa B. Valdez, na sua produção De como a
Orientação Educacional vai encontrando na história sua
identidade, levanta questões como: O que dizem de nós? De
onde viemos? Para onde vamos? E como resposta a esta última
questão diz que não se trata da importância da profissão
legalmente definida, mas trata-se de pensar, discutir caminhos,
perspectivas, para que este profissional possa contribuir
na construção de um projeto educativo que reflita a relação
escola—produção (1993:p.143).
Portanto, a proposta legal existe; o que pretendo
investigar, então, é se os Orientadores Educacionais atuam como
profissionais de ajuda ao adolescente e se essa ajuda estaria
voltada para o desenvolvimento do adolescente como pessoa —
o que chamei de “crescimento humano”. Há portanto, no mínimo,
alguns conceitos que devem ser explicados:
1. Orientador Educacional
2. Adolescente
3. Crescimento humano
4. Profissional de ajuda
É isso o que veremos a seguir.

Orientador educacional

Construí a minha atuação profissional em relação ao


adolescente influenciada por Carl Rogers. Tornar-se facilitador
não é, para ninguém, uma tarefa simples. Além disso, é preciso
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 39

considerar que essa atuação como facilitador acontece no espaço


da escola e perpassa o espaço familiar e da comunidade.
Portanto, ao procurar atuar como facilitador no desenvol-
vimento do adolescente me vi, muitas vezes, dificultando o meu
próprio desenvolvimento dentro da instituição ou junto aos pais,
ou ainda junto à comunidade.
É nesse espaço de conflito, na impossibilidade de uma
rotina fielmente seguida, que o Orientador Educacional é cha-
mado, todo dia, a atuar nas diferentes frentes que o seu cargo
exige.
O Orientador Educacional promove atividades em que o
objetivo é desenvolver no aluno uma atitude de reflexão sobre
o seu lugar na sociedade da qual participa, com questões
propostas para chamá-lo à realidade social e profissional.
Eu própria faço isto, pois no decorrer do ano letivo
programo encontros individuais, de pais com os filhos, para
falarmos sobre “objetivo de vida”. Questiono o jovem: “Quais
são suas expectativas como pessoa na sociedade? Como você
se projeta no futuro como ser humano? Que perfil faz para si
mesmo como profissional, pai, e esposo no futuro?”
A questão profissional é colocada objetivando que o aluno
não só reflita sobre o tema, mas também observe que esse é o
momento em que ele, adquirindo responsabilidade, se prepara
para ocupar uma posição social e profissional por meio do estudo,
pois lhe é dito que o estudo assegura uma vantagem adicional na
competição profissional.
É um tempo dedicado pela escola e pelos pais aos adoles-
centes. É um tempo em que é investido muito amor, muita de-
dicação. A promoção desse momento tem a intenção de
sensibilizar a todos os participantes do processo para o desen-
volvimento humano, especialmente o adolescente, através de suas
próprias propostas para com o mundo e a vida.

... O homem tem dado provas, muitas vezes dramáticas, que para
sobreviver em sua essência humana depende de metas que o
40 Cida Sanches

ultrapassem. Sua vida precisa de um significado que o transcenda.


(Rosenberg.1977:p.58)

Promover condições para que os alunos assumam seus


atos e conquistem amigos, favorecer a relação afetiva, ensinar-
lhes a responsabilidade de serem presentes ao grupo e atentos
às suas obrigações, são atitudes inerentes ao trabalho do
Orientador Educacional.
Junto aos professores, como Orientadora Educacional,
procuro estabelecer um diálogo constante, visando satisfazer a
necessidade de um clima propício para o ensino em sala de aula.
Os pais representam, no meu trabalho, um alicerce.
Sempre que necessário eu os convido a participar das situações
que emergem na escola. Nessas oportunidades procuro saber
mais e melhor sobre a relação entre eles e seus filhos para poder
facilitar a relação entre aluno, família e escola.
Com os alunos, vários níveis de atuação se desdobram no
dia-a-dia. Ora sou porta voz de decisões da instituição, ora sou
uma ouvinte atenta para subsidiar ações da instituição em relação
a eles. Ora estou no meio do conflito tentando acertar, compreender
e facilitar, sentindo que eu mesma estou prestes a implodir.
Tenho a preocupação de não perder oportunidades que
levem o aluno, ou o próprio grupo, a desenvolver o autoco-
nhecimento na ação social, de forma que, tais atitudes facilitem
o desenvolvimento de novas formas de estrutura para uma
convivência social saudável. A aceitação, o respeito e a confiança,
são bases para essa estrutura social, levando em conta que esses
conceitos devem ser transmitidos em qualquer instante ou
situação.
É importante que eu esteja atenta, de forma a promover
oportunidades para que os alunos percebam os seus atos e, a
partir daí, efetivem uma reflexão, permitindo mudanças individuais
ou em grupo para a sua evolução.

...O indivíduo que vive em um clima estimulante pode escolher


livremente qualquer direção, mas na verdade escolhe caminhos
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 41

construtivos e positivos. A tendência à auto-realização é ativa no ser


humano. (Rogers.1983:p.50)

Suely Drozdek acredita que isso é possível, na medida


em que essas diferentes vias possam ser experienciadas como
favorecendo o crescimento pessoal e a satisfação de neces-
sidades de aceitação e de auto-conceito positivo (1990: p.7).
O fio condutor que liga as várias frentes de minha atuação
é regido pela certeza de que lido com pessoas que, como tal, são
inacabadas, incompletas, como eu mesma. Assim, os percalços,
as dúvidas e os erros que fazem parte do dia-a-dia de minha
atuação estão me tornando sensível às vozes daqueles a quem
oriento. Mas, tenho sempre presente a necessidade de estar
atenta às oportunidades para salientar os seus valores internos,
para mostrar-lhes o caminho da compreensão e do respeito ao
próximo, do valor que devem dar à família e à comunidade. Isso
é fundamental para a minha realização como Orientadora
Educacional.
Desta forma entendo que o Orientador Educacional é
um profissional que facilita a maturidade pessoal e social do
aluno, por meio de um processo, em que o aluno vai-se tornando
progressivamente mais consciente dos seus atos, mais consciente
de si mesmo e da sociedade da qual participa.

Adolescente

Num ambiente descontraído, onde todos têm liberdade para


relacionar-se e dizer o que pensam, há a exigência mínima de
comportamento para que todos possam conviver em harmonia,
com respeito e responsabilidade por si próprios e pelos outros.
Esse respeito está relacionado com o campo de atuação de cada
um quando exerce o seu papel.
O professor e o aluno precisam de clima e ambiente sau-
dáveis para que haja o ensino e a aprendizagem. E a escola zela
42 Cida Sanches

por isso, exigindo do aluno disciplina e respeito pelo professor e


comportamento adequado quando este estiver atuando. O aluno,
por sua vez, espera o melhor do professor com relação ao
conhecimento e o respeito à sua pessoa que está em formação.
Portanto, todos, no cumprimento do seu papel — seja como aluno,
professor, orientador, etc.— colaboram respeitando as normas e
regras estabelecidas pela instituição.
O jovem sonda para saber quais são os limites do
ambiente que está freqüentando, para que possa organizar-
se socialmente. Para isso, precisa de alguém que explique
as regras existentes. Ele quer e gosta de ouvir o que está
“valendo” para organizar internamente os seus limites.
Quando a função das regras fica clara para o aluno —
não pela posição autoritária do adulto, mas orientada sobre
um comportamento estruturado no diálogo, na ternura, na
reflexão dos atos e de suas conseqüências — ele é capaz de
compreender e, ainda, de colaborar. Lembremos sempre que
ele é aberto para o diálogo que favorece a compreensão dos
seus atos, não o tipo de diálogo em que o adulto sempre tem
razão, mas aquele em que a voz do adolescente é recebida,
reconhecida e levada em consideração, numa mútua refle-
xão.
O adolescente é capaz de entender que os limites im-
postos pela escola têm o objetivo de protegê-lo de um ambi-
ente de desordem, desfavorável para a aprendizagem. Em
palavras simples, reiteradamente explico a ele o que são li-
mites e quais são suas funções destes. Limite é

... a criação de um espaço protegido dentro do qual a criança e o adoles-


cente podem viver suas experiências vitais criativas e espontaneamente
...Essa é uma visão do limite não como repressão, castração, proibição,
etc., e sim como algo que baliza, orienta e contém a mente do indiví-
duo, que, de outra forma, ficaria dispersa , sem forma, desorganizada.
(Outeiral,1994:p.64)

São esses os aspectos com que me ocupo para ficar


ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 43

em harmonia com o jovem que, muitas vezes, não entende


a necessidade que a escola tem de estabelecer limites. Quando
os vejo em dificuldade pelo não cumprimento dos limites
estabelecidos, o diálogo, o carinho que lhes dedico e a com-
preensão são os meus melhores companheiros.
Trabalho com jovens, na sua maioria aparentemente
muito felizes. Eles não têm aquela obrigação interiorizada
de mudar o mundo, até porque a sua preocupação maior é
buscar o prazer; a escola, a futura universidade, os amigos e
até a vida profissional parecem ter como meta o prazer. Li-
vres para o mundo, gostam de viajar com os amigos, curtem
a natureza e seus próprios corpos: o importante é o prazer
de viver, o lazer, e tudo isso sem sentimento de culpa. Cos-
tumo dizer que suas atitudes indisciplinadas não o são por
agressividade, ou ainda por desrespeito, mas sim por exces-
so de brincadeira com o professor ou até mesmo entre eles
— aquilo que eles chamam de “aprontar” — lhes parece
muito natural.
Quando se mostram agressivos, em geral a causa está
no desejo de quererem resolver um problema e se sentirem
impotentes para tal. Nesse caso procuro chamá-los em particular,
pois sei que algo de errado está acontecendo em suas vidas.
Isso é fácil de se perceber, pois — pela minha observação, que
é diária — normalmente sentem-se felizes na escola, o que me
faz satisfeita e ao mesmo tempo atenta à manifestação de
qualquer tipo de mal-estar. O meu objetivo é ter alunos adaptados
e felizes, de forma a estarem abertos para a aprendizagem.
Assim, é fácil entender essa manifestação de agressividade do
adolescente, se levarmos em consideração o que diz Outeiral:

...‘agressão’ do adolescente tem o sentido de ‘buscar o outro’ de ‘ir


na direção’, buscar o contato com alguém. Assim, o gesto agressivo
na adolescência deve ser entendido, muitas vezes, como comunicação
de uma necessidade, de uma busca de contato, da busca de se assegurar
de que existe alguém que o compreende e pode ‘suportá-lo’, de testar
o quanto o outro ‘gosta’ efetivamente dele. (1994:p.65)
44 Cida Sanches

Todos os sentimentos e atitudes têm uma origem, e é


buscando compreenderem esta origem com o intuito de
ajudá-los a também se compreender, que eu desenvolvo o
meu trabalho. De todas as maneiras procuro compreender
as atitudes dos adolescentes, seja de raiva, seja de afeto,
seja de euforia ou desânimo, pois eles são assim, inconstan-
tes.
O que mais se ouve na escola são as frases: “você está
estudando?... precisa vir ao plantão de dúvidas... não deixe
para estudar próximo das provas... não é assim que se ad-
quire conhecimento...” Mas, e o encontro com os amigos? E
as festas? Ah! essas festas! Todo dia é dia de festa ou de
show. E esse inseparável telefone que não pára de tocar? Para
comunicar algo urgente ou importante? Não: apenas para
“papear”. “...não posso sair, preciso estudar”. E o “papo” vai
longe. E continua no seu aposento predileto, seu refúgio: seu
quarto. Por favor bata antes de entrar. Individualista? Não,
apenas quer que respeitem o seu espaço.
Quando por algum motivo é solicitado aos pais que venham
à escola para falar com a Orientadora, a presença do aluno,
junto com os pais, é fundamental. Isso às vezes o aborrece, pois
nem sempre concorda que precisa da interferência dos pais para
resolver o “seu” problema. Porém, em geral, o resultado é positivo,
pois, nesse momento, temos a oportunidade de sensibilizar a
família para a união, e a compreensão de que os adolescentes
contam com os pais como amigos. Amigos que têm a intenção
de valorizá-los— não de criticá-los de forma pejorativa — e
dar-lhes força para vencer os obstáculos. Normalmente, neste
momento, se estabelece um clima de confiança entre pais e filhos
que a escola espera continue lá fora. Faço questão da presença
dos pais na escola porque percebo que os jovens gostam de
saber que têm a proteção de alguém que os ama, que não estão
soltos, que não estão “largados”. Eles mesmos dizem que é
importante que se tenha família unida; é importante estar com
as pessoas amadas.
Dentro das coisas importantes, das coisas que interessam
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 45

aos jovens, há a questão financeira. Afinal os estudos têm


também esse objetivo: a realização profissional e material.
Porém, isso não significa que estejam preocupados, nesse
momento, em realizar esses sonhos. “Calma.. eu tenho tem-
po para estudar... Você está preocupada com uma coisa que
eu sei que vou conseguir.” Sabem de tudo, entendem de tudo.
O chato é o adulto que está sempre interferindo em seus
assuntos.
Percebo, pelas nossas conversas, que parece existir ao
redor deles um escudo protetor, pois acham que as coisas ruins
nunca vão acontecer com eles, como acidentes, doenças. Ali-
ás, errei. Eles têm medo sim: da AIDS. Será? “Eu uso camisi-
nha, seleciono parceiros.”Será que têm mesmo medo? Não sei.
Geralmente iniciam a vida sexual muito cedo, trocam
freqüentemente de parceiros, pois a condição inicial para rela-
cionar-se é o “ficar” e, logo, já não estão mais, para “ficar”
com o outro. Tudo muito natural.
Como o cigarro é proibido na escola, recebo muitos
deles questionando: — “Por que não posso fumar? Em casa
eu fumo, meus pais sabem. Por que aqui não posso?” Surge
nesse momento a oportunidade para falarmos não só do mal
causado pelo cigarro, mas da droga em geral. E aí as coisas
já não são tão naturais. O adolescente esconde o uso da dro-
ga. Não falo do viciado — que traz o vício estampado no
rosto, na condição física — mas daquele que usa a droga no
embalo da turma. Esse assunto é breve: o jovem que usa
não se interessa em abordá-lo, e o amigo que sabe quem
usa, não se interessa em estender a conversa.
Na verdade temos a oportunidade de falar sobre todos
os temas que nos interessam. Tenho a dinâmica de circular
entre eles, na entrada, quando ficam aguardando o início
das aulas, nos intervalos e no final do período, enquanto
aguardam que venham buscá-los — geralmente pais ou
motoristas os pegam na saída. Quando quero falar sobre algo
que me interessa, procuro um jeito de entrar no grupo e
“papo” vai, “papo” vem, lá está o assunto. Quando é algo
46 Cida Sanches

que interessa a eles, fazem o mesmo: me procuram. Essa


dinâmica me leva a surpresas, algumas vezes: por fazer parte
do grupo, acabo por partilhar de segredos, pois sabem que
podem contar com a minha ajuda. Essa confiança e o diálo-
go são, sem dúvida, a minha maior força de trabalho para
todos os momentos, bons e ruins.
Infelizmente, não são todos os jovens que têm acesso
a este tipo de ajuda. Os adolescentes com quem atuo perten-
cem a uma classe social mais favorecida, que freqüenta es-
colas particulares; são estes, praticamente, os jovens que
recebem os serviços dos Orientadores Educacionais. Na
maioria das escolas públicas — que atendem os filhos de
trabalhadores ou estudantes trabalhadores — não se encon-
tra, praticamente, a figura do Orientador Educacional .
Tenho a certeza de que a ação do Orientador Educa-
cional não seria diferente, caso estivesse se ocupando de
adolescentes menos favorecidos. O que afirmo é que, na situação
atual, os menos favorecidos, com raras exceções, não recebem
os serviços do Orientador Educacional, porque nas escolas
governamentais que freqüentam não existe a figura deste
profissional. Lá encontram um Coordenador Pedagógico —
criado por força do decreto-lei 5.692/71. Há realmente uma
diferença gritante entre o CP — que ‘atende’ o adolescente
pobre, marginalizado, sacrificado — e o Orientador Educacional
que está voltado para atender o adolescente das escolas
particulares.
A adolescência, a meu ver, é a fase mais sonhadora por
que passamos, e penso ainda que o adolescente é a criatura mais
desafiadora com que podemos nos relacionar. O seu mundo so-
nhado não é este: é sempre um outro — melhor, menos imperfeito,
sem injustiças sociais, sem pobres, sem doenças. Mas, se o
encontramos triste, angustiado, basta uma boa conversa, para logo
o vermos sorrindo novamente. Briga, transgride, afronta, mas, se
o diálogo for “numa boa...” podemos conversar. Entendo que vive
uma fase afetivo-emocional em que não é mais criança — não se
situa como criança no mundo —, mas também não é adulto. Vive
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 47

um período de transição, fazendo uma “travessia” entre a


criança e o adulto. O jovem parte dos conceitos e valores
que adquiriu enquanto criança para buscar o seu espaço
no mundo, para buscar a si mesmo.
Por tanto amor,
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz,
Manso ou feroz
Eu, caçador de mim
Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim...

O adolescente é, desta forma, um caçador/sonhador à


procura de si mesmo e do mundo, até que a maturidade lhe
permita encontrar a si mesmo no mundo e o mundo em si mesmo.

Crescimento humano

O crescimento humano advém de uma das capacidades


que o homem tem, que é a de aprender. É preciso, portanto,
fazer referência à aprendizagem para entender o crescimento
humano e à postura do profissional de ajuda como facilitador
desse processo.
Quando falamos do processo ensino—aprendizagem para
atitudes de responsabilidade, para o crescimento humano e para
o desenvolvimento social, pensamos no aprendizagem le-
48 Cida Sanches

vando em conta não apenas a intelectualidade, como se o


aluno fosse um mero receptáculo de saber
(Drozdek,1990:p3), mas também as questõesrelacionadas
com a inteligência emocional, intuitiva e afetiva, como um
ser humano total.
Ana Gracinda Queluz apóia-se em Virgínia Axline para
mostrar que dentro de cada indivíduo parece haver uma força
poderosa

... que luta continuamente para uma completa auto-realização. Tal


força pode ser caracterizada como uma corrida para a maturidade,
independência e auto-direção. (1984: p 24)

Essa “corrida para a maturidade” implica uma modificação


constante do self que interage com as forças externas do seu
campo fenomenal, forças externas oriundas do meio ambiente.
O desenvolvimento do self — que ao longo do tempo busca
maturidade, independência e auto-direção — é feito numa
interação constante com o campo fenomenal, campo este que é
constituído de temas familiares ao indivíduo. A educação
humanista busca ampliar o alcance do campo fenomenal, levando

... para o self do aluno os elementos localizados, tanto no seu campo


fenomenal, quanto no conjunto de temas ainda isentos de significação.
Rogers acredita numa força interna do indivíduo para realizar essa
aprendizagem, isto é, todos os seres humanos têm natural potencial
para aprender. Essa força faz com que o indivíduo, movido pela
curiosidade em conhecer o mundo em que vive, traga para incorporar
ao self os conhecimentos que, explicando o mundo, explicam o homem,
uma vez que não há dualidade entre homem e mundo e sim uma
interação: um criando e modificando o outro. (Queluz, 1984: p. 26)

Essa potencialidade para a aprendizagem é uma forma


interna que envolve a pessoa como um todo. Assim, o objetivo
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 49

do ensino humanista é facilitar a realização dessa


potencialidade.
Por crescimento humano entendo a aquisição, por parte
do adolescente, de um espírito de confiança, pela consciência
de seus atos e compreensão da sociedade da qual participa,
para o amadurecimento dos seus valores e, conseqüentemente,
da liberdade para as suas conquistas sociais, pessoais, emo-
cionais que, na verdade, se resumem em conquista da inde-
pendência.

... O que foi dado ao indivíduo como bom e valioso, quer pelos pais,
pela Igreja, pelo Estado ou pelos partidos políticos, tende a ser
questionado. Os comportamentos ou modos de vida que se provaram
satisfatórios e plenos de sentido tendem a ser reforçado... Assim o
indivíduo passa a viver cada vez mais segundo um conjunto de normas
que têm uma base interna, pessoal... Não são esculpidas na pedra
mas escritas por um coração humano. ( Rogers,1983:p.61)

Profissional de ajuda

Neste contexto entendo ser o Orientador Educacional um


facilitador desse processo, cabendo a este profissional, portanto,
criar condições através de um clima propício.
Ana Gracinda Queluz (1984:p.23) busca em Tolberg
algumas competências inerentes à ação deste facilitador:

· ser capaz de criar uma situação amiga, permissível e segura, na


qual o aluno falará livremente e reagirá de forma natural;
· ser capaz de compreender o aluno, através da observação;
· ser capaz de ganhar uma melhor compreensão do aluno através
das suas produções em geral;
· ser capaz de sintetizar os vários tipos de informação sobre o aluno,
50 Cida Sanches

a fim de compreendê-lo melhor como pessoa;


· ser capaz de ajudar o aluno a localizar e utilizar informações que lhe
permitirão uma compreensão maior de si mesmo e de suas reações com
os outros;
· ser capaz de ajudar o aluno a localizar informações sobre oportu-
nidades escolares, profissionais, sociais, etc.;
· ser capaz de ajudar o aluno a tomar decisões, fazer planos, assumir
responsabilidades; deve evitar dizer ao aluno: faça isto ou aquilo,
porque neste caso estaria assumindo por ele a responsabilidade de
seus atos;
· ser capaz de reconhecer suas competências: auxiliar aqueles alunos
a quem puder assistir, de forma efetiva e encaminhar os que têm
problemas de ajustamento mais sérios.

Dessa forma será possível ao facilitador propiciar um clima


favorável à aprendizagem, pois esta é realizada a partir de
experiências vivenciadas pelo homem dentro de um clima de
confiança e aceitação, capaz de promover mudanças construtivas
no indivíduo.
Rogers sugere três atitudes fundamentais, que facilitam o
trabalho dos profissionais que tenham como objetivo promover o
crescimento de pessoas, atitudes essas desenvolvidas por ele
na terapia centrada-na-pessoa: congruência ou autentici-
dade, aceitação e compreensão empática. (1986)

Congruência ou autenticidade

Conceituando congruência ou autenticidade, Rogers diz


que o profissional deve vivenciar livremente seus sentimentos e
atitudes, ser transparente, verbalizar e exprimir seus sentimentos
de forma autêntica, sem fachada. Dessa forma, o profissional
facilita o crescimento do cliente quando oferece a liberdade para
que ele tenha o mesmo comportamento. Segundo ele, são os
sentimentos e atitudes que promovem a ajuda, quando expressos,
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 51

e não a opinião ou o julgamento sobre o cliente.


Um profissional facilitador, seja este Professor ou
Orientador Educacional, dentro de um clima caloroso e de con-
fiança mútua, demonstra ser congruente e autêntico, segundo
Drozdek, quando é espontâneo em sua interação com o aluno
e mostra-se aberto para todos os tipos de experiência, tanto
as agradáveis quanto as desagradáveis (p.13). O profissional
facilitador
... emprega construtivamente suas próprias respostas emocionais
autênticas, comunicando-as ao aluno no intuito de desvendar para si
mesmo e para o outro a natureza da situação evidenciada, para que,
juntos, possam compreendê-la e transformá-la, se desejarem.
(1990:p.13)

Vera Lúcia Duarte, com relação a este conceito diz:

... A congruência traz a descoberta de que o Adolescente, a partir


dessa experiência, pode encarar-se e não negar à sua consciência
elementos que a ela não se ajustam. Ser genuíno significa estar
consciente dos próprios sentimentos e é sendo real e verdadeiro
consigo e nas relações, que o outro poderá ser veraz, tendo em vista
que se trata de um processo recíproco. (1996: p.28)

Aceitação

A consideração positiva incondicional é a aceitação plena


do outro com estima e respeito, de maneira que, se o facilitador
perceber restrições em relação ao sentimento, conduta ou valores
do outro, ele retoma essa restrição em relação à sua congruência.
É nesse movimento de volta a si mesmo, com esse contato com
os seus próprios sentimentos, que o facilitador aceita o sentido
como pertencente à sua vivência. Para Rogers a consideração
positiva incondicional
52 Cida Sanches

... é o elemento que oferece o movimento de mudança construtiva. Eu


aceito o outro como ele é. Quando você depara-se com alguém
escutando com atenção seus sentimentos, torna-se capaz de escutar
com atenção a si mesma. (1986: p.18)

Quanto a isto, Vera Lúcia Duarte afirma que a

... Consideração positiva incondicional é a aceitação do outro como ele é


em sua totalidade; como ele se sente no momento: é o apreço genuíno pela
pessoa [do cliente] e por sua capacidade de atualização.(1996: p.30)

Atuar como profissional facilitador na relação de ajuda


implica reconhecer que o aluno é uma pessoa em evolução, com
direitos a experiências e sentimentos próprios. Para tanto a
aceitação total deste como pessoa, a aceitação do seu mundo
interior com realidades agradáveis e desagradáveis, é funda-
mental para que haja a compreensão empática exata do aluno.

Compreensão empática

A compreensão empática é uma forma de entender os


fatos em relação ao outro. É a capacidade desenvolvida pelo
facilitador de perceber, de sentir o mundo interior do outro, de
sentir suas emoções de forma sensível e espontânea, sem defesas
...sentir precisamente os seus sentimentos e os significados
pessoais que estão sendo vivenciados e lhe comunicar esta
compreensão (Rogers, 1986: p.18).
Essa compreensão empática do mundo interior do aluno
que o facilitador faz

... não deve se reduzir a uma compreensão dos sentimentos e


experiências dos quais o aluno está plenamente consciente, mas deve
se estender à totalidade do seu mundo. É necessário estar atento aos
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 53

sentimentos que estão sendo expressos apenas indiretamente ou que


estejam implícitos na comunicação do aluno. (Drozdek,1990:p.20)

Vera Lúcia Duarte faz uma esquematização do original


de Rogers e Rosemberg, para definir de uma forma geral a com-
preensão empática:
— sentir-se totalmente à vontade dentro do mundo perceptual do
outro em relação aos significados sentidos (medo, raiva, ternura);
— ter sensibilidade para as mudanças que se verificam no outro;
— sentir-se temporariamente como se fosse o outro;
— perceber os sentimentos do outro, dos quais este não tem consciên-
cia,
mas não os revelar a ele para evitar-lhe a sensação de ameaça;
— não julgar;
— transmitir como sente o mundo do outro;
— examinar, sem viés e sem medo, os aspectos que o outro teme ;
— avaliar (no sentido de checar) com o outro a precisão dos sentimen-
tos
e percepções (do facilitador) em relação aos sentimentos do outro;
— ser companheiro desse mundo interior do outro;
— apontar os possíveis significados (os conscientes) presentes no
fluxo de suas vivências;
— ajudar o outro a vivenciar os significados de forma mais plena, e
progredir nessa vivência;
— deixar de lado os seus próprios pontos de vista e valores para
entrar no mundo do outro sem preconceitos;
— deixar de lado seu próprio eu, momentaneamente. Para isto o
facilitador deve estar suficientemente seguro para não se emaranhar
no mundo estranho e bizarro do outro. (1996:p.33)

A compreensão empática deve ser comunicada ao aluno


para que este possa, a partir do diálogo, entender os seus senti-
mentos e atitudes, tornando-se capaz de reconhecer os seus va-
54 Cida Sanches

lores ou fortalecê-los.
Desta forma, entendo como profissional de ajuda o
educador que atua como facilitador através das atitudes de con-
gruência ou autenticidade, aceitação e compreensão empá-
tica, para o desenvolvimento do crescimento humano do
educando.
“É importante que todos tenham conhecimento
do aluno como um todo: social e cultural,
porque este trabalho tem que ser com o
coração, uma coisa sentida
e não só racional”.(S9)

CAPÍTULO II

O que é ser orientador educacional?

O s Orientadores Educacionais reconhecem-se, sem


dúvida, como profissionais de ajuda ao adolescente. Identifiquei
esse reconhecimento nas entrevistas que coletei, destacando as
categorias descritivas que demonstraram tal relação.
A análise das entrevistas que realizei mostra que, no dis-
curso e na descrição da ação dos Orientadores Educacionais, a
constante presença de categorias descritivas que estabelecem
uma inquestionável relação com o eixo temático da pesquisa: o
Orientador Educacional como profissional de ajuda ao adoles-
cente.

A opção pelo outro

Acredito que, quando uma pessoa faz opção pela


educação, está fazendo uma opção pela dedicação ao outro.
Procurei saber, então, de cada entrevistado, por que motivo optou
56 Cida Sanches

pela área de educação. Quem e o que foi mais significativo para


que a sua trajetória culminasse na profissão de Orientador Edu-
cacional?
Três categorias descritivas conectam-se com este tema,
o saber, motivação e crença:

Origem: exprime as causas que levaram o entrevistado a optar pelo


campo da ação educacional.
Motivação: expõe os motivos que levaram o entrevistado à Orientação
Educacional.
Crença: neste subcapítulo, a categoria descritiva crença refere-se a
valores, convicções e opiniões cujos objetos são as causas que levaram
o entrevistado a optar pelo campo da ação educacional ou motivos
que o levaram à Orientação Educacional.

São diversas as causas que levaram estes profissionais


para a Educação. Entre elas, entretanto, mostrou-se prepon-
derante a influência da família, dos bons professores e dos bons
cursos, e a necessidade de trabalho. Podemos afirmar isto com
base nas seguintes citações:

Fiz colégio normal, ainda na época do clássico, motivada pela família,


que era de professores. (S4)
Meu pai dizia que podíamos ter qualquer profissão, mas tinha,
obrigatoriamente, que ser professora. (S1)
Fui levada para ser professora por solicitação do meu pai. Sou
professora do ensino fundamental. Fiz curso normal para tornar-me
professora mais ou menos direcionada por meus pais; eu não tinha
muita consciência da escolha... Pensava: Eu não posso ficar aqui
parada como professora nível I; preciso fazer alguma coisa na minha
vida. Aí fui fazer pedagogia na PUC. (S2)

Sempre gostei da área de Humanas. Mas fiquei apaixonada pela


Educação. O curso era muito bom na escola experimental e, assim,
acabei fazendo Pedagogia. (S1)
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 57

A escolha pela Educação, pela profissão como educadora, está muito


relacionada com alguns modelos —- bons modelos e antimodelos —
do segundo grau: professores, que foram incentivos... Fui incentivada
na educação com bons professores. (S3)
Eu não queria ficar desempregada e a Educação estava mais fácil.
(S10)

Posso dizer que os Orientadores Educacionais tornaram-


se educadores por opção, já que a sua entrada para a Educação
foi, na maioria das vezes, por escolha própria. Isso foi observado
especialmente nos sujeitos que tinham por objetivo dar aulas.
Independentemente da sua formação superior, buscaram um
curso que lhes possibilitasse lecionar — transmitir conhecimento.
É o que podemos observar nas afirmações seguintes:

Fui fazer o curso superior de Ciências Sociais já com intenção de dar


aulas, mesm... Foi por opção que eu entrei na área da Educação.
Quando optei por uma faculdade, já estava estabelecido que seria
uma formação para que eu pudesse lecionar. (S8)
Aí eu entrei na faculdade, no curso de Pedagogia, por opção mesmo. (S6)
Queria era estar em contato com a pessoa, para passar o meu
conhecimento, eu queria, na realidade, era dar aula. (S7)

A opção pela educação também está ligada ao interesse


desses profissionais pela formação e ajuda às pessoas. Há um
impulso interno, um ideal a realizar. E a concretização desse
ideal passa pelo caminho de ajudar o outro:

Tem um lado romântico a minha escolha pela Educação. Tem um lado


idealista. Hoje eu posso falar desse romantismo, mas era muito certo
para mim que tinha que ser alguma coisa que trabalhasse com o ser
humano, que estivesse ligada a um tipo qualquer de ajuda ao homem,
à formação de pessoas. (S3)

O fato de participar constantemente das atividades escolares e dos


58 Cida Sanches

encontros de jovens me dava cada vez mais a certeza de que eu queria


fazer Magistério. (S5)
Quando fiz Psicologia, já foi pensando em trabalhar com a educação.
Foi sempre um trabalho paralelo, psicopedagógico. Eu gosto muito
de trabalhar com adolescentes. (S9)
Então eu fiz a opção por um curso de ajuda [Psicologia]. (S10)

Quando analisada a motivação, isto é, as razões que leva-


ram o entrevistado à Orientação Educacional, observa-se a exis-
tência de uma série de motivos. Um deles é a própria continuidade
da profissão: a experiência como professor, o contato com alunos,
a identificação, ou mesmo as dificuldades com as atividades es-
colares, fizeram com que os profissionais se percebessem com
potencial para atuar como Orientadores Educacionais:

A relação com os alunos foi uma coisa fundamental para o meu


início como Orientadora Educacional... Minha experiência com os
alunos fora e dentro da sala de aula me favoreceu no trabalho de
Orientadora Educacional. (S7)
A Orientação Educacional tinha muito a ver com a área que eu escolhi,
que era a psicologia e, com a minha experiência como professora,
percebi que dava para fazer um trabalho paralelo. (S4)
Todo este desenvolvimento que me levou à Orientação Educacional
foi incentivado pelos professores que tive e pela minha experiência em
sala de aula. (S5)
[ o motivo] Era procurar resolver algumas dificuldades que, como
professora, eu não estava conseguindo. Era a busca de mais
informações, de mais conhecimento. Eu queria aprender mais, eu
sentia que tinha mais capacidade do que aquela que estava
desenvolvendo. (S2)
A escola me solicitou uma ajuda com relação ao apoio aos professores
e aos alunos, enfim, uma ajuda na orientação da escola, incluindo a
organização geral. (S8)

Nem sempre a iniciação por um caminho profissional se


dava pela opção de atuar dentro de uma área em que o conteúdo
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 59

fosse interessante, ou pelo prazer da continuidade e evolução


dentro da profissão. Ao contrário, às vezes se dava justamente
pela falta de opção:

Todo o grupo [faculdade] da tarde optou por Orientação Educacional.


Portanto, se eu optasse por Administração Escolar teria que seguir
com a turma da noite, e eu já tinha compromisso: não podia mudar de
período. Então, fiquei com a turma na habilitação de Orientação
Educacional. (S1)
Fui para a Educação por acaso... [como funcionária da Secretaria,
na escola] Atendi os problemas da Tesouraria, da matrícula por
quase um ano. Aí eu passei para a Orientação, que também não era
uma coisa que eu queria. (S10)

Mas há outros motivos que levaram para a Orientação


Educacional e localizam-se dentro do próprio curso de formação.
Alguns dos entrevistados optaram pela Orientação Educacional,
encantados com a possibilidade de desenvolver a temática apre-
sentada no curso:

Escolhi Orientação Educacional pela própria descrição da função


que era colocada na faculdade na hora de fazer a opção. Era uma
outra linha de orientação muito próxima, junto ao aluno e eu fiquei
encantada. Tinha uma proposta, nessa relação próxima ao aluno, de
ajuda. Tinha uma relação, junto ao professor, e de tudo isso eu
gostava. (S6)
Toda a temática, todo o conteúdo ligado à matéria de Orientação
Educacional me apaixonava. (S3)

Um conjunto de crenças nortearam as opções feitas pelos


Orientadores Educacionais. Diria que, principalmente, eles
acreditam no trabalho realizado com o coração. Mesmo aqueles
que entraram na profissão por acaso, ou por falta de opção,
acreditam no trabalho como canal de ajuda.
60 Cida Sanches

Eu achava que [a educação] era uma maneira de ser útil e ajudar os


outros. Eu acho que na vida devo fazer o que gosto, com que me dê bem
— mas que também possa ser um canal para ajudar os outros. (Sl)
Acompanhar o crescimento, o desenvolvimento de uma pessoa é
fascinante. A formação das pessoas tem que ser uma opção do
profissional... Para educar é preciso ter uma predisposição da própria
personalidade do indivíduo, ou ele será mais um burocrata, ficando
só no papel: não criará, não desenvolverá, não cativará o aluno, não
conquistará o seu espaço. (S8)
Esse trabalho tem que ser com o coração, uma coisa sentida e não só
racional. (S9)
O meu lugar é junto do aluno. Por esse motivo eu voltei para a
Orientação Educacional em 1986. (S2)
Acabei achando que eu nasci para isto mesmo. Mas eu não tinha essa
consciência: eu caí nesta área. (S10)

A ação do Orientador Educacional

Como é ser Orientador Educacional de adolescentes do


ensino médio? Como se desenrola a rotina do cotidiano profissional
do entrevistado? Estas são as questões que analisarei neste
subtítulo.
Pode-se observar que a ação do Orientador Educacional
— como educador — é uma ação múltipla, multifacetada. Quando
considerada na sua totalidade, a ação do Orientador Educacional
cobre vários aspectos, incluindo aqueles referentes à sua ação
como profissional de ajuda. Entretanto, por um quesito meramente
metodológico, dividi a ação do Orientador Educacional, focando
a condição de ‘profissional de ajuda’ no subcapítulo seguinte.
Três categorias descritivas estão associadas à atividade
do Orientador Educacional dentro da instituição educacional:

Atividade: indica qualquer ação ou trabalho específico desenvolvido


pelo entrevistado na sua função de Orientador Educacional.
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 61

Esta categoria descritiva expressa unicamente a atuação do Orientador


Educacional no seu cotidiano. Portanto, verbos tais como: trabalhar,
preparar, levantar, realizar, tendem a expressar tais ações.
Cabe ressaltar que o Orientador Educacional, quando exerce o papel
de “profissional de ajuda”, o faz por meio de ações que poderiam
ficar abarcadas por esta categoria descritiva. Porém, dada a impor-
tância dessas atividades para o meu estudo, essas ações foram espe-
cificamente demarcadas através de outras categorias descritivas, que
serão explicitadas adiante: escuta, facilitação, promoção.
Parceria: representa o auxílio que o Orientador Educacional busca
com outros profissionais da instituição educacional, pais e os próprios
alunos, para melhor desenvolver sua ação ou seu trabalho.
Crença: neste subcapítulo, a categoria descritiva crença refere-se a
valores, convicções e opiniões cujo objeto seja a ação do Orientador
Educacional.

As ações exercidas pelos Orientadores Educacionais


estão concentradas no atendimento ao aluno, fundamentalmente
e, depois, na orientação aos pais e professores que, na verdade,
atuam como apoio para o desenvolvimento das suas funções.
Os Orientadores Educacionais entendem serem o professor e
os pais os principais parceiros em seu trabalho. Para tanto, pais,
professores e Orientador Educacional procuram estar sempre
em contato, para caminhar em harmonia e juntos poder facilitar
o desenvolvimento do educando dentro de uma mesma filosofia.
São diversas as atividades que os entrevistados desen-
volvem; entre elas está a atividade de organizar grupos de
estudo, com o objetivo de incentivar e aprimorar a capacidade
do aluno para a aprendizagem, discutindo suas dificuldades,
ajudando-o a entender as qualidades de um bom estudo:

Preparação de um horário de estudos racional; levantamento de


dificuldades e busca do respectivo auxilio; treino de concentração
para estudos; leituras complementares; grupos de estudos... (S1)
O projeto de orientação de estudos se propõe a ensinar o aluno a
62 Cida Sanches

cronometrar seu tempo. (S2)


Eu os ensino a estudar, a prepararem-se para as provas, a entender
que estudo é um trabalho diário e não só antes da prova.(S3)
Incentivar o aluno a pesquisar... Faço muito pouco acompanhamento
por nota, quase nunca é foco da chamada. (S6)
Procuro desenvolver a auto-ajuda, o auto-estudo, a autodisciplina e
o autoconhecimento. (S8)

Para que o aluno possa fazer a sua escolha profissional


com confiança, os entrevistados atuam de forma a facilitar-lhe
o conhecimento quanto à sua vocação:

O meu trabalho junto aos adolescentes acontece dentro dos projetos


de orientação vocacional, orientação sexual e orientação de estudos.
(S2)
O projeto de orientação vocacional compreende o estudo do mercado
de trabalho com pesquisas em jornais sobre oferta e procura de
empregos nos diversos setores. (S2)
Fazia Orientação Vocacional que era o nosso carro-chefe. (S2)
Faço levantamento conjunto de várias facetas a serem consideradas
na tomada de decisão. (S1)

O Orientador Educacional, com as suas ações, procura


encontrar caminhos que proporcionem um ambiente saudável
para o desenvolvimento do processo de aprendizagem:

Trabalhamos para que a escola seja um ambiente de equilíbrio na


vida do jovem. (S3)
Discutiremos os caminhos para estarmos confortáveis e ativos... Vou
usar a disciplina de Filosofia, entrando duas vezes por mês nas salas,
com objetivo de dar uma direção aos alunos. (S9)
Ajudo o aluno a refletir, a observar as situações nas quais está
envolvido. (S4)
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 63

Orientamos estes alunos por todos os instantes, até mesmo nas


questões disciplinares... Atuo como Orientadora com todos os alunos,
bem próxima a todos. Não sou capaz de ficar numa sala aguardando
um aluno encaminhado, ou para encaminhá-lo. (S3)
E tem o outro lado que é o de controlador social, o de impor limites:
ser a ordem, manter a escola organizada, não aceitar bagunça ou
anarquias, jamais. (S8)
Pego alguns temas, de acordo com a necessidade dos adolescentes e
os discutimos... São momentos de ajuda com a finalidade de reflexão
em todos os instantes, em grupo e individualmente. (S7)

Entre os projetos de estudo, a pesquisa com relação às


atividades mostra, também, o projeto de orientação sexual:

O projeto de orientação sexual objetiva informar sobre conteúdos


necessários ao conhecimento biológico do corpo humano; mostra as
diferentes opiniões em relação à questão sexual que, professor, aluno
e pais tinham. (S2)
Fazíamos o encontro da orientação sexual. Tínhamos uma caixinha,
onde eram depositadas as questões sobre sexo. (S2)

O trabalho do Orientador Educacional estrutura-se no tripé


formado por aluno-família-escola, no qual os demais profissionais
desempenham um papel relevante. Deve-se entender que o apoio
que o Orientador Educacional busca e recebe é fundamental
para a realização do seu trabalho.
De uma forma geral o Orientador Educacional busca apoio
em toda a estrutura organizacional, desde o Diretor até o próprio
aluno, bem como na família. Este trabalho é realizado por meio
da orientação e atendimento aos pais, alunos e professores,
objetivando a harmonia do grupo e seu bom relacionamento:

Minha ação é de total parceria com a escola toda. (S6)


Procuro quem me ajude, procuro uma parceira para realizar o
64 Cida Sanches

necessário. (S2)
Trabalho junto ao professor e junto ao aluno e ainda com toda a
equipe de apoio: é muita coisa. (S6)
Trabalho totalmente integrado com a Direção, professores e alunos,
pois somos todos formadores e responsáveis pelo processo de
mudança e crescimento do aluno. (S4)
Fazemos parceria profissional: fazemos trocas de conhecimentos [com
psicólogos e fonoaudiólogos] para que o nosso universo não fique
muito restrito. (S3)

O professor é considerado como um parceiro na cons-


cientização do aluno e como fonte de informação das necessi-
dades mais imediatas dos alunos:

Trabalhar essa questão do desenvolvimento humano, de reflexão e


também o apoio ao professor. (S9)
Não podemos trabalhar com a Orientação voltada somente para o
aluno. Precisamos entender a alma do professor... Precisamos avaliar
como deve ser estar no lugar dele em determinados momentos;
entender o processo de ensino para saberd o que o professor precisa
para melhor ensinar. (S7)
Acabo trabalhando com os professores da série que eu coordeno: um
trabalho preventivo, pedagógico. Trabalho junto dos outros
coordenadores de série, que são todos professores. (S3)
O professor tem a oportunidade de estar registrando o desempenho
geral do aluno: se o aluno falta muito, se tem uma ação pertinente, se
está isolado, enfim, coisas que acontecem que precisam chegar até a
Orientação. (S6)
Faço o trabalho com os professores, com base nos valores que todos
têm em comum. (S6)
Trabalho muito junto ao professor, e tenho uma atuação junto ao
aluno, mas é maior com os professores. (S6)
[O Orientador Educacional] Precisa do professor como seu parceiro.
(S6)
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 65

Trabalho “meio que” costurando entre as equipes de professores e de


coordenadores. (S3)
Professores que são os meus parceiros internamente. (S3)
Eu tenho um trabalho com professores que acontece semanalmente,
em que o professor vai-me passando as suas dificuldades, as
dificuldades dos alunos. (S4)
... Fazer com os professores, reuniões semanais, em que todos, de
cada série, participem ativamente neste processo de crescimento do
grupo em apoio ao aluno. (S9)
[Pretendo] trabalhar, essa questão do desenvolvimento humano, de
reflexão e também o apoio ao professor. (S9)

Os pais também são chamados a participar do processo,


seja como provedores de apoio ao trabalho desenvolvido pelo
Orientador Educacional, seja como fruidores de apoio para que
desempenhem mais facilmente o seu papel:

Estou sempre em contato com os pais, para que eles participem dessa
formação, sintam-se responsáveis, junto com a escola, dessa
preparação do jovem, aluno e filho. (S8)
“Localizo” os pais para que entendam que são eles os protagonistas
e não a escola. (S7)
Recorre à família quando é necessário. (S3)
Fazíamos um trabalho com os pais, quando sentíamos a necessidade
da família: chamávamos para participar de uma reunião em que
contávamos sobre o que as crianças faziam e ouvíamos as queixas
dos pais. Depois falávamos um pouco do desenvolvimento dos
filhos.(S2)
O papel da Orientação é buscar formas para convocar os pais para
palestras, cursos e entrevistas. (S2)
Orientava pais que me procuravam para saber como agir com
determinadas atitudes dos seus filhos. (S2)
Realização de entrevistas, cursos, reuniões com pais, para que os
mesmos possam melhor compreender seus filhos. (S1)
66 Cida Sanches

[O Orientador Educacional com a sua prática ou com o diálogo, ou


participando aos pais a problemática desse aluno e no dia-a-dia
tentando adaptá-lo à escola. (S10)

O próprio aluno, que é objeto da ação do Orientador


Educacional, também é apoio no processo, ajudando-o como
interventor junto aos colegas e na organização escolar. Sobre
este aspecto, alguns entrevistados acreditam que:

Orientador e professor precisam trabalhar juntos com os alunos,


caso contrário o trabalho fica pela metade. ( S1)
[Tenho um papel de] desencadear o processo com o professor,
desafiar o aluno com o papel de organizar, isso tudo a partir das suas
crenças. (S6)
Trabalhar com representantes de classe que possam estar liderando
esse movimento de estar trazendo as necessidades das salas e até
respondendo pelos atos desse grupo. (S9)
Trabalhamos com representantes de classe, que são os representantes
dos alunos em todas as situações. Faço uma reunião quinzenal com
esses representantes e eles têm espaço para trabalhar e reunir-se
sempre que querem e precisam. (S6)
Discutimos [Orientação e alunos] as normas da escola, as avaliações,
a organização dessas avaliações dentro da semana, a metodologia,
etc. (S6)
Faço um acompanhamento com as auto-avaliações feitas pelos alunos
com relação aos professores, ao curso, à programação e à escola...
Trabalhando com conselhos de classe, envolvendo o trabalho do
professor numa auto-avaliação. (S6)

Os entrevistados acreditam que necessitam desenvolver


ações específicas para conquistar o seu próprio espaço e obter
resultados:
Os Orientadores precisam conquistar o seu próprio espaço: eles
precisam demonstrar que são competentes para assumir a posição de
Orientador Educacional. (S1)
[A atividade do Orientador Educacional é feita através de] um processo
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 67

lento, com muita conquista e dedicação, para se ter sucesso, pois é


necessário ter respeito aos problemas particulares dos alunos. (S4)

Os entrevistados acreditam que o estabelecimento de par-


cerias — com professores, outros profissionais e pais — é
importante para facilitar o trabalho com o educando. Ressaltam
também que é importante que todos comunguem da mesma filo-
sofia da instituição:

Somos todos uma equipe que funciona a serviço de todos: tanto do


professor quanto do funcionário de apoio, e estamos sempre atuando
para o aluno. (S6)
A preparação dos professores é um caminho para trabalhar a
conscientização do aluno, pois somos todos responsáveis, mas o
professor é o primeiro envolvido no processo. Precisamos congregar
as mesmas idéias, os mesmos objetivos da escola. (S9)
Você tem que estar atenta a tudo, concentrada em todos os aspectos e
com toda a equipe envolvida no processo, inclusive os pais. (S6)

Em contrapartida, observou-se que essa assistência não


existe nas escolas estaduais, em função da junção dos cargos
de Orientador Educacional e Assistente Pedagógico:

O trabalho da Orientação Educacional perdeu-se: paramos de o fazer.


Não tínhamos mais tempo para essa assistência; não entrávamos
mais em sala para fazer orientação de estudos; deixamos o trabalho
de Orientação Educacional. (S2)

Dessa forma os adolescentes das escolas da rede estadual


não mais recebem o apoio específico do profissional de Orientação
Educacional para sua formação, ao contrário dos alunos das redes
particulares. O apoio e orientação que aqueles recebem são
oferecidos por professores com boa vontade, preocupados com
a formação dos seus alunos.
68 Cida Sanches

Profissional de ajuda

O ponto fulcral do meu trabalho assenta-se na constatação


da ação do Orientador Educacional como “profissional de ajuda”.
Aqui mostro como o entrevistado desenvolve o processo de “pro-
fissional de ajuda”, na sua rotina dentro da instituição.
Para isso fui buscar em Carl Rogers três atitudes funda-
mentais no seu entender, que facilitam o trabalho dos profissio-
nais que tenham como objetivo promover o crescimento de
pessoas, desenvolvidas por ele na terapia “centrada-na-pessoa”
são: congruência ou autenticidade, aceitação, e compre-
ensão empática. Estas três atitudes, que ajudam considera-
velmente na construção de um relacionamento maduro e menos
desgastante e que podem, ainda, fazer aumentar a possibilidade
de auxilio nos processos de mudança, foram identificadas na
fala dos entrevistados. Entendi que era importante sublinhar as
diferentes atuações do Orientador Educacional referentes ao
modo de proceder ou agir como profissional de ajuda. Para tal
desenvolvi as seguintes categorias descritivas:

Escuta: refere-se a uma ação que envolve uma postura de ouvir o


outro numa atitude sensível e de forma empática.
Esta escuta permite que o outro tenha a oportunidade de expor livre-
mente o seu pensamento, num clima de confiança, discutir o exposto
com aceitação e respeito, sem críticas pejorativas.
Esta escuta empática tem como resultado o amadurecimento dos
valores do interlocutor.
Facilitação: indica atuação no sentido de auxiliar o desenvolvimento
de relacionamentos interpessoais, envolvendo alunos e professores. A
ação de facilitar geralmente estrutura-se em torno de uma dada condição
existente sobre a qual o Orientador Educacional atua.
Este auxílio, expressa-se comumentemente por ações cujos verbos
dominantes são: relacionar, incentivar, observar. Para tal o Orientador
Educacional deve estar atento ao processo ensino-aprendizagem,
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 69

observar o comportamento do grupo, objetivando favorecer seu bom


relacionamento e suas propostas e necessidades para um bom de-
sempenho e desenvolvimento.
Promoção: exprime atitudes concretas objetivando propiciar
oportunidade para mudanças e reflexões, para que o adolescente se
perceba responsável, capaz, independente e crítico. A ação de
promover geralmente é construída em torno de uma dada condição
ou situação inexistente para a qual o Orientador Educacional atua.
Crença: Neste subcapítulo, a categoria descritiva crença refere-se a
valores, convicções e opiniões cujo objeto seja a ação do Orientador
Educacional como ‘profissional de ajuda’.

Para o Orientador Educacional o diálogo tem uma desta-


cada importância. A categoria descritiva escuta salienta a
importância do diálogo, quando mostra que os entrevistados
percebem a necessidade que o jovem tem de relacionar-se,
inclusive no ambiente escolar, com pessoas disponíveis para
ajudá-los a refletir e a entender os seus problemas:

Sabem, por exemplo, que, a qualquer momento podem me procurar


que serão ouvidos. (S7)
Procuro mostrar confiança e segurança aos alunos; acolher o mais
próximo possível e estar sempre disponível para ouví-los, a qualquer
momento, quer a portas fechadas ou no pátio. (S3)
É importante para elas [alunas] poder contar com alguém que possa
ouvi-las e orientá-las com uma palavra amiga, segura e,
principalmente, que possa dar atenção aos ‘grandes’ problemas que
estas jovens têm. (S5)

Ouvir é, também, uma forma de desenvolver no aluno a


capacidade de ser ouvinte, a capacidade de promover um diálogo
e de conduzir as suas próprias reflexões:

Eu não digo o que está certo ou errado, sentamos juntos e avaliamos


70 Cida Sanches

o comportamento em questão, através do diálogo e da reflexão. (S7)


O aluno aprende a trabalhar com o diálogo, a possibilidade de falar
sempre, mesmo que o condenem, mas precisa falar, precisa de um
ouvinte. Isso está na fala do aluno, ele gosta de ter a oportunidade de
falar. (S7)
Vamos conversar sobre esses problemas. O mais importante é que
surge nesse momento a possibilidade de reflexão sobre o seus atos.
(S4)
Temos muito que os ouvir e refletir, para que possamos nos entender
e aprimorar. (S6)

O diálogo tem ainda o seu lado funcional para a prática


escolar, visto que, por meio dele, o aluno descobre no Orientador
Educacional uma pessoa que pode atendê-lo nas suas diversas
dificuldades, sociais, afetivas e culturais:

Sou um ouvinte dos seus problemas — de qualquer ordem: familiar,


sentimental (aquele namoro que não dá certo), dificuldade na
aprendizagem. (S8)
Sou uma pessoa à disposição para ouvi-los, atenta às suas
necessidades escolares e sociais. (S8).

No caso do entrevistado (S6), sua atuação se desenvolve


numa comunidade escolar que possibilita ao aluno a oportunidade
de estar discutindo suas necessidades atuais em termos
educacionais:

Ouvir os alunos para saber o que eles gostariam de estar recebendo


na disciplina, o que eles estão precisando ouvir. (S6)

Uma das preocupações do Orientador Educacional é iden-


tificar sinais de necessidade de ajuda. Para um profissional atuar
como facilitador, as entrevistas mostram a importância de ter
uma atitude pró-ativa, voltada para identificar os sinais de neces-
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 71

sidade de ajuda que qualquer elemento do grupo emita. Para tal,


ele deve estar atento ao comportamento diário do aluno:

Tem que ter olho clínico para estar percebendo que fatores de ordem
afetivo-emocional podem estar interferindo naquele momento da vida
do aluno. (S10)
No dia-a-dia isso vai aparecer em suas atitudes, como observador:
se o aluno está triste, “sacar” se há algum problema, se vão “apron-
tar” alguma, enfim, ter a percepção das coisas. (S10)

O Orientador Educacional, com a sua atitude de ouvinte,


na verdade abre o principal canal para atuar como agente faci-
litador na escola, junto aos alunos e professores. Com os
professores pode discutir os objetivos e metas a serem alcançados,
clarear a filosofia da escola, explicitar os seus conceitos e mé-
todos, concretizando, dessa forma, sua atuação como agente
facilitador:

É importante discutir com os professores todo esse lado, assumir o


seu papel que vai além da formação de conceitos. (S1)
Incentivo para que os objetivos e metas sejam alcançados da melhor
maneira possível. (S1)
Estou procurando ajudar os professores. Ser alguém que possa
capacitar o nosso professor para atuar na sala de aula; alguém que
possa capacitá-lo para diagnosticar a comunidade de forma
diversificada na escola... Fui procurar como fazer um trabalho
individualizado. (S2)
Quero que o professor seja capaz de fazer um diagnóstico da sala de
aula, de atuar com um trabalho diversificado na sala de aula. (S2)
Promover a relação do professor com a escola, até para que ele
[professor] seja mais eficiente para com seus alunos. (S4)

Este trabalho é feito procurando discutir as idéias que se


compartilham, desde as questões disciplinares até o conteúdo
72 Cida Sanches

programático, não deixando nunca de estar atento às necessida-


des dos professores e do grupo:

Atuar como facilitadora junto ao professor, clareando, discutindo e


atualizando as idéias... Atenta para ver por onde se pode seguir, e
discutir, não importa com quem, as prioridades. É preciso ter pessoas
juntas que estejam comungando das mesmas idéias; é preciso ter um
grupo. (S6)
Estar presente com o professor até a questão do conteúdo; é facilitar
a relação entre professor e aluno. (S7)
Descobrir que os professores precisam de ajuda e que eu preciso
ajudá-los a resolver. (S2)
[conselho de classe] os professores percebem a sala, como também
percebem a disciplina de cada um. A percepção da disciplina de cada
um e da classe, eu trabalho individualmente com cada professor. (S6)

Os entrevistados falam da necessidade de estarem atentos


ao processo de ensino-aprendizagem, verificando o equilíbrio
no relacionamento professor-aluno, aluno-aluno, e inclusive ao
relacionamento da equipe escolar, visto que esta harmonia é
considerada fator importante para este processo:

Fortalecemos o grupo sempre comunicando dos fatos e ouvindo o


grupo. (S6)
O fundamental na minha atuação é a prática, a emoção; é estar
atenta. (S3)
Dá a oportunidade do aluno estar se abrindo para ser ajudado; é
apoio ao professor para facilitar suas relações com os alunos e com
os próprios colegas de trabalho. (S4)
Equilibrar a relação aluno-aluno, professor-aluno, aluno-professor,
acompanhamento de estudos, os valores dos seus grupos diferentes,
lar, escola, comunidade. (S4)
Discutimos as relações e as dificuldades desse relacionamento, a
questão da aprendizagem e da adaptação. (S4)
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 73

Ainda na intenção de desenvolver esta harmonia, a atitude


de facilitador também aparece nas entrevistas, quando os
entrevistados fazem referência à necessidade de o Orientador
Educacional clarear o papel do adolescente, o papel do professor
e até o papel da própria família:

A integração deste aluno é a sua relação com a escola e seus


participantes. Numa relação de grupo, ele deve saber seu lugar no
grupo, seu papel como aluno e como amigo. (S4)
O jovem tenta executar bem o seu papel, mas às vezes esse papel não
está bem claro. (...) (Precisamos situá-lo mostrando a todo o instante:
“Esta é a sua família, este é o seu papel na família, esta é a sua
sociedade e este é o seu papel na sociedade”. (S3)
Você vai conversar e questionar: “Se você fosse um adulto, como é
que você agiria?” (S10)
É difícil, também, para algumas pessoas serem pais: eu preciso ter
compreensão disso também. Esse é o papel que às vezes eu preciso
estimular e mostrar nos nossos encontros. Quando percebo que a
família está perdida, solicito que cada um deles verifique seus próprios
papéis, pois sei que não é fácil assumi-los. (S3)
Ajudar o professor a se perceber, a perceber que o que ele está fazendo
é uma transferência; deve mostrar como ele está transferindo a
situação e promover a reflexão. não só do professor mas de toda a
equipe da escola. (S4)

O Orientador Educacional, comprometido com a formação


destes jovens, ajuda-os a reconhecer seus valores e os valores
daqueles que os rodeiam:

Mostrar suas responsabilidades e deveres para perceber os momentos


em que muitas vezes podem estar errados. Mas, acima de tudo, me
empenho em mostrar o valor de cada uma [aluna], passando pela
família, valor que deve ser mantido e respeitado. (S5)
Discutimos [Orientador e alunos] todos os nossos problemas que
aconteceram no período. Mostro os valores, a amizade, o respeito, o
74 Cida Sanches

espaço do outro. (S7)

Como promotores de oportunidades que facilitem o desen-


volvimento do aluno, os entrevistados apresentam atividades
que estimulam a aprendizagem:

[Eu aconselho...] Como estudar, como organizar um horário de estudo,


como organizar a rotina escolar. (S8)
Através do diálogo... procuro trabalhar a vontade de estudar, dar
objetivos, dar um objetivo para essas coisas; procuro fazer com que
tenham vontade de serem indivíduos críticos, capazes de defender
suas idéias, levantarem suas dúvidas e, acima de tudo, que saibam
refletir sobre essas dúvidas e essas idéias. (S7)

Os respondentes também se ocupam dos aspectos práticos


da vida profissional dos alunos e chegam a fazer apresentação
de referenciais concretos para a escolha profissional:

A apresentação ao aluno de um quadro bem amplo de informações


profissionais, das habilidades necessárias para exercer as profissões.
(S1)
Inscrevi o meu grupo de jovens em um projeto de incentivo à
criatividade. (S2)
Fazemos pesquisas nos jornais para verificar o que o mercado oferece;
enfim fazemos com eles a pesquisa sobre profissões. (S2)

Foi interessante perceber que, entre tantos profissionais


entrevistados, pouco se falou sobre assuntos tão atuais como a
promoção de atividades para a orientação quanto à droga, ou
mesmo sobre a prevenção contra a gravidez. De dez
entrevistados, apenas dois falaram destes aspectos:

A maior ajuda é estar presente. Mostrar, em termos de prevenção, os


problemas que podem se aproximar da vida deles. Por exemplo, a
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 75

gravidez, a droga. Trabalhamos essa prevenção em grupo. (S7)


Quando percebemos um problema de drogas ou de sexualidade, damos
um jeito de provocar o assunto: colocámo-lo como tema na reunião e
aí surgem os convites que são organizados como palestras,
seminários. (S6)

Os Orientadores Educacionais acreditam que a formação


do ser humano deve ser integral. Os profissionais entrevistados,
que trabalham com adolescentes do ensino médio, acreditam na
formação do homem como um todo, na íntegra, como ser social,
afetivo-emocional e intelectual:

Na hora em que você tiver no sentimento a formação de valores, não


é só o conhecimento que importa, mas também o relacionamento
humano, o problema da ética. (S1)
(...) sobre os valores, achando que você só forma através da linha do
conhecimento, o que não é verdade. (S1)

Acreditam, os entrevistados, que o Orientador Educa-


cional é um mediador entre os profissionais da escola com o
objetivo de ajudar no processo escolar, para que todos estejam
bem relacionados e adaptados:

Ser Orientador é ser um agente mediador entre aluno e escola fazendo


com que ambos vivam bem... Tendo que dar para o aluno um pouco
de cada um desses papéis: mãe, amiga, policiadora; um pouco de pai,
um pouco de tudo na orientação do aluno. (S10)
É muito importante o estabelecimento de relações harmoniosas, desde
o relacionamento aluno—aluno até aluno—professor. (S8)
A Orientadora Educacional entra com esse lado humano dos encontros
e desencontros, da colocação. (S1)

Sendo o Orientador Educacional um mediador, está atento,


inclusive, ao seu próprio relacionamento com os demais da escola:
76 Cida Sanches

O Orientador é um profissional dentro da escola que deve estar sempre


bem relacionado com todos. (S4)

Os entrevistados acreditam que precisamos ouvir e ser


solidários para entender e promover o desenvolvimento do
educando e o seu próprio crescimento:

Julgamos com muita facilidade... mas com o jovem não podemos ser
assim: nós precisamos ouvi-los e ajudá-los a refletir através dos
questionamentos. (S6)
Serei solidário quando souber me colocar no lugar do outro, para
entender o mundo do outro, e poder avançar no meu crescimento.(...)
Precisam ser respeitados os diferentes tipos de inteligência. (S1)
O professor está muito preocupado em entrar na sala, dar o seu
conteúdo. Mas o aluno não é só isso: o aluno precisa de orientação
para a sua formação geral, precisa conversar sobre os seus problemas.
(S2)

Crescimento humano

Neste tópico analiso como é, na ótica dos Orientadores


Educacionais, o desenvolvimento humano do adolescente, bom
como as conquistas que este obtém. As categorias descritivas
associadas a este tema são:

Adolescente: define as características atribuídas pelo Orientador


Educacional ao adolescente, aluno do ensino médio.
Conquistas: exprime as vantagens ou benefícios auferidos pelo
adolescente, decorrentes da ação do Orientador Educacional como
profissional de ajuda.
Crença: neste subcapítulo, a categoria descritiva crença refere-se a
valores, convicções e opiniões cujos objetos sejam o adolescente ou
suas conquistas.
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 77

Os Orientadores Educacionais percebem os adolescentes


com quem trabalham de uma forma bem característica e têm
uma visão muito peculiar da forma como eles se vêem apoiando
o adolescente. Vejamos estes dois aspectos.
Para o Orientador Educacional o adolescente é um ser
que está transitando entre dois momentos — criança e adulto
— realizando uma travessia com muitos conflitos e, talvez por
isso, não se preocupa com as conseqüências dos seus atos:

A adolescência é um período de transição entre dois momentos bem


determinados: o momento em que se é criança — ele sabe que é uma
criança, o que faz e o que pode fazer — e o momento em que se é
adulto — ele sabe que é um adulto e o que pode fazer. (S10)
Sinto hoje o adolescente muito sem rumo, com problemas sérios em
termos de família. São muitos os conflitos que o adolescente trava
com a vida. Eu vejo sofrimento aí. (S9)
Ele é imediatista: não está preocupado com as consqüências do
amanhã, com os seus atos. (S8)

O adolescente é, também, um potencial a ser trabalhado.


A potencialidade do adolescente é reconhecida não só como
algo que precisa ser cuidado para alcançar sua totalidade, mas
especialmente pela qualidade que ela representa em si. E o que
melhor se podia dizer senão que

... ele é uma pessoa com uma grande luz a ser trabalhada. (S7)
Eles são riquíssimos. (S3)
[Se o O.E. ] atuar dando respaldo para esse aluno, para ele conseguir
externar esse lado adulto, que não é total, em atividades, ele vai
conseguir se sentir um adulto num sentido positivo. (S10)

Há qualidades e defeitos percebidos nos adolescentes. O


entrevistado (S6), pela sua experiência na organização de escola
que conta com a participação direta do aluno, também fala das
78 Cida Sanches

qualidades do jovem, quando afirma que:

O jovem é muito responsável quando você delega obrigações, e é


sempre muito rígido com essa responsabilidade. (S6)

O entrevistado (S7) levanta um aspecto importante que é


preciso levar em conta, que precisa ser trabalhado, pois faz parte
das características do adolescente: o egoísmo. Diz ele:

Essa questão do outro é muito importante trabalhar, caso contrário


eles [adolescentes] só olham para o próprio umbigo; nem mesmo a
família são capazes de olhar com olhos de comunidade. (S7)

Observa-se nos entrevistados pensamentos divergentes,


como é o caso de (S3) e (S4) quando, no decorrer das entrevistas,
falam sobre os adolescentes e comentam sobre a questão: “São
os jovens, ou é a época em que os jovens vivem que muda?”

Não se acha receita, nos livros, de como fazer para acompanhar os


jovens, pois logo aquele jovem “já foi”. São rápidos os momentos: as
situações mudam. Somente uma coisa não muda: a angústia do jovem.
(S3)
Não existe o mesmo adolescente em tempos diferentes. O universo de
trabalho é o mesmo, mas o adolescente muda. (S3)

Diferentemente do entrevistado (S3), o entrevistado (S4)


não pensa ser o adolescente que muda, mas sim a época.

Os adolescentes são sempre iguais, o que muda é a época. Por


exemplo: hoje o aluno enfrenta mais os seus problemas, questiona
mais. (S4)

Todavia, independentemente de serem os adolescentes ou


ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 79

a época em que vivem os responsáveis pelas mudanças, o


adolescente está em transição entre a criança e o adulto e, em
função disso, nem sempre sabe dosar muito bem os seus limites,
nem sempre tem presente...

o adulto que ainda não é e quer ser. (S10)


Às vezes ele age agressivamente, em função de ainda não ter o ‘poder’
que como adulto teria, para estar resolvendo algumas questões da
vida —- tanto pessoal quanto escolar —- e às vezes também se sente
uma criança —- quando querido, quando se sente mimado pelos
professores e colegas. (S10)

Os respondentes entendem ser importante mostrar quais


são os limites para os alunos. Falam, assim, da importância desse
tema:

... estabelecer limites. Os adolescentes, antes de tudo, precisam saber


até onde podem chegar. (S6)
O adolescente tem regras a seguir: tem que ter atenção com a qualidade
dos seus atos, reconhecer limites, tem que ter disciplina. (S3)
Ele só precisa saber qual é esse limite; do resto ele cuida e se enquadra.
(S8)
A questão disciplinar, a orientação profissional, tudo isso é muito
importante para o bom rendimento e crescimento dos nossos alunos.
(S8)
Você pode trabalhar, trabalhar, mas ele não se cansa e sempre espera
mais. Desta forma trabalho os limites e muito mais ainda a reflexão.
(S7)

Igualmente os entrevistados (S4) e (S8) observam que


os jovens valorizam a ordem e a disciplina:

É importante trabalhar os limites, pois os adolescentes esperam isso


dos seus formadores. (S4)
80 Cida Sanches

O adolescente gosta de saber que tem uma organização no seu


ambiente. (S8)

Os Orientadores Educacionais possuem um conjunto de


crenças referentes aos adolescentes. A primeira delas é que é
preciso dar apoio e atenção. Para tornar esse processo escolar
mais tranqüilo e o adolescente mais bem adaptado, alguns dos
entrevistados apontam caminhos, cuja tônica é o apoio, a atenção.
Como os Orientadores Educacionais se vêem no apoio ao
adolescente?

O adolescente precisa ter um porto seguro, que não apenas o critique,


mas o ajude a crescer como ser humano. (S5)
O aluno adolescente precisa do nosso apoio, muito mais do que uma
criança de Educação Infantil. Precisamos falar com ele de igual para
igual; às vezes precisa de colo e muitas vezes de uma grande chamada
pelos seus erros. Então ele precisa muito do apoio dos educadores,
mais do que qualquer série. Não existe status, não existe condição
financeira: eles precisam, todos, igualmente do apoio do adulto. (S7)
Eles gostam muito de conversar e contam muito com as pessoas
dentro da escola. (S7)

A segunda crença é a que afirma que só o afeto conquista.


Os entrevistados acreditam que o jovem só é conquistado com
afeição — muita dedicação, muito carinho, muito amor. O
trabalho do Orientador Educacional é feito com o coração:

Só conquistamos esses jovens com muita dedicação, amor mesmo. Não


é possível trabalhar na educação sem que seja com muito amor. (S7)
Este trabalho tem que ser com o coração, uma coisa sentida e não só
racional. (S9)

Uma outra destacada crença é a de que é preciso levar o


jovem à reflexão. Os entrevistados acreditam serem a reflexão
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 81

e o questionamento fatores que auxiliam o adolescente a perceber


os seus atos com maior clareza e consciência. Pelo menos é o
que se pode deduzir da importância que o Orientador Educacional
dá ao processo de reflexão, através do qual o adolescente constrói
o seu crescimento:

O Orientador Educacional dá a possibilidade para que os adolescentes


discutam seus problemas existenciais.(S1)
Nós precisamos ouvi-los e ajudá-los a refletir através dos
questionamentos. Precisamos estar próximos do mundo deles, das
coisas que eles gostam, da sua moda; precisamos estar em sintonia
com o mundo deles. Isso é fundamental para o nosso trabalho. (S6)
Entendemos que a relação da escola é com um profissional treinado
para ouvi-los, ajudá-los a aprender a refletir, refletir e refletir. (S7)
Acho importante esse trabalho dentro da escola, com um
acompanhamento visando a essa consciência [dos seus atos]
justamente para poder ser trabalhada, refletida e resolvida. (S9)

Também é preciso ajudar os adolescentes nos momentos


mais difíceis. Os entrevistados entendem que a adolescência é
uma fase difícil, que precisa ser compreendida para que se possa
ajudar o jovem nos momentos mais difíceis. Reconhecem que é
um momento difícil não só para o jovem, como também para
aqueles que com ele se relacionam:

Precisamos experimentar para entender os nossos alunos. Precisamos


olhar a nossa história: como nos lançamos no mundo, qual é a nossa
experiência para entender as experiências dos nossos alunos. Eu
preciso de um referencial para dar referência. (S3)
É difícil para o educador, é difícil para o adolescente e é difícil para a
família... É difícil crescer, são angustiantes os desencantos, os conflitos
com a família; a compreensão do mundo é muito difícil. (S3)
Somos, portanto, primeiramente, profissionais com espaços humanos
para atendê-los de maneira afetuosa quando precisam e para colocar
limites quando for necessário. (S3)
82 Cida Sanches

Também é preciso fazer com que os adolescentes se


sintam felizes. Os entrevistados acreditam ainda que, se o
adolescente se sentir bem, se sentir feliz e adaptado ao ambiente
escolar, o seu amadurecimento será facilmente conduzido, pois
se sentirá valorizado e integrando no processo:

[Se não fizermos da escola um lugar agradável...] dificilmente


conseguiremos que eles aprendam as lições importantes para a sua
formação. (S5)
A Orientação Educacional é muito importante porque aí há um espaço
grande para os alunos se sentirem gente. (S1)

Conquistas

A gama de conquistas que o adolescente obtém, em de-


corrência da ajuda do Orientador Educacional, é extensa. É difícil
definir adequadamente o principal responsável pelos benefícios
que o jovem recebe. Por isso me soa melhor falar das conquistas
que o jovem empreende. E quando falo em conquistas, sintetizo
isso numa única expressão: crescimento humano. Crescimento
humano significa amadurecimento de valores e aquisição de res-
ponsabilidades; isso tende a refletir-se numa concomitante con-
quista de liberdade, conquista da independência. É sempre
bom lembrar que cada um dos jovens é quem faz a colheita
segundo a sua vontade. Ao Orientador Educacional e aos outros
educadores cabe apenas o papel de propiciar as melhores
condições para que tais conquistas sejam feitas.
Os entrevistados afirmam que a maior conquista que o
jovem empreende é a possibilidade de um ambiente favorável
para o seu desenvolvimento integral: desenvolvimento da auto-
estima, da capacidade decisória e, especialmente, da sua ade-
quação social:

O Orientador Educacional pode propiciar estas situações para ele:


situação de segurança — fazê-lo sentir-se querido, porque ele é carente
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 83

pela própria fase... O aluno tem que estar feliz, adaptado na escola.
(S10)
Busquem uma melhor compreensão de si mesmos; desenvolvam sua
auto-estima e desenvolvam sua capacidade para tomar decisões.(S1)
Não há nada melhor do que ver nossos alunos crescerem saudáveis,
conquistarem seus espaços, mudarem o seus hábitos sociais, saberem
avaliar suas condições, suas próprias posições. (S3)
O adolescente pode fazer suas mudanças e melhorar a sua postura
como aluno, filho, enfim nos seus diversos papéis. (S4)

O desenvolvimento da consciência de seus atos é a via


por meio da qual o crescimento integral é feito. Crescer em
busca da liberdade significa crescer assumindo responsabilidades,
assumindo os resultados das próprias escolhas:

É esta a tomada de consciência dos atos, imediatamente após o


acontecimento. (S4)
O adolescente precisa adquirir uma consciência do que será, do que
virá a ser, do que poderá acontecer. (S8)
Para que ele possa decidir qual a escolha mais eficaz e eficiente. (S1)
Você trabalha a autonomia com os alunos através dos representantes.
(S6)
A escola deve ajudá-los a buscar um caminho, tanto na educação
formal, como na educação informal. (S8)

Outras conquistas, entretanto, podem ser elencadas, fruto


do trabalho do Orientador Educacional, dentro dos seus projetos
de Orientação Vocacional, Orientação Sexual e de Estudos, até
um aproveitamento escolar melhor:

Esclarecer as habilidades necessárias exigidas para desenvolver as


profissões, e ainda o autoconhecimento do aluno. (S2)
[O projeto de orientação de estudos faz com que o aluno] desenvolva
84 Cida Sanches

as atividades de forma equilibrada e também que conheça os pontos


mais importantes de cada matéria a estudar. (S2)
Os alunos percebem que há maneiras diferentes de ver o sexo,
dependendo de cada pessoa. (S2)

Este trabalho é realizado visando facilitar o desenvolvi-


mentos do aluno por um caminho mais agradável, com mais
oportunidades de resolução dos seus problemas, a partir do apoio
recebido pelo Orientador, que procura estar sempre presente:

Enfim, tento fazer com que eles se sintam felizes na escola, com que
saibam lidar com as suas dificuldades e resolvê-las. (S3)
Ele é ouvido, tem oportunidade para se colocar, questionar, desabafar,
até de portas fechadas quando assim desejar. (S8)
Quero que os alunos, mais do que nunca, sintam que existe uma
assistência, uma equipe de apoio e que saibam que todos somos
igualmente responsáveis por termos uma escola melhor. (S9)
O aluno sempre vem nos procurar para nos colocar os seus
problemas, aqueles problemas que ele não pode colocar para os pais.
Quando o profissional é atuante, o aluno descobre esta ajuda. Pois,
quando você se instala numa escola, o aluno percebe sua
dedicação.(S2)
Este trabalho aproxima muito o aluno do professor, melhora o
relacionamento e a aprendizagem. (S2)
Isso contribui com o desenvolvimento do aluno de uma maneira menos
dolorosa, menos sofrida.(S10)

Entre os profissionais entrevistados existe a preocupa-


ção de trabalhar no apoio ao adolescente, fazer um trabalho de
ajuda, sem atritar com as regras disciplinares:

Sinto que não sou ainda aquela orientadora que quero ser. Estou
ainda muito envolvida com as questões disciplinares, e penso que não
é esse o meu desenvolvimento de ajuda. (S4)
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 85

O crescimento humano não é uma conquista somente do


adolescente. O próprio Orientador Educacional cresce com a
sua atuação diária, pois aprende com a sua vivência:

... [Orientadores] que saibam valorizar o potencial do jovem, como


também aprender com eles. (S5)
À medida que ensinamos, também aprendemos. Há uma troca; é uma
questão dialética. (S8)

O entrevistado (S7) acredita que aprendemos enquanto


ensinamos aos educandos, acredita na troca pela comunicação:

O adolescente é um grande professor; não fala para agradar, mas


para comunicar-se. Dessa forma torna-se um grande educador. (S7)

Os Orientadores Educacionais possuem algumas crenças


sobre as conquistas, isto é, sobre valores, convicções e opiniões
cujos objetos sejam o adolescente ou suas conquistas. Uma delas
é que só a disposição interna pode gerar conquistas.
O entrevistado (S10) foi muito feliz quando abordou a sua
percepção com relação aos benefícios que o aluno recebe
mediante essa disposição para o trabalho de ajuda da parte do
Orientador Educacional. As conquistas feitas pelos alunos só
podem aflorar quando há uma predisposição interior no Orientador
Educacional que conduza a isso:

O desenvolvimento profissional de ajuda depende muito da disposição


interior do Orientador Educacional. As pessoas têm ou não essas
características: feeling, sensibilidade, praticidade... É assim que eu
percebo um Orientador Educacional. (S10)

Esse entrevistado associa a disposição de ajuda do Ori-


86 Cida Sanches

entador Educacional com a disposição de ajuda de um pro-


fissional da medicina, pela qualidade de assistência que
ambos precisam dar a quem lhes solicita:

Um médico, se ele não tiver um nível satisfatório de assistência como


ser humano, não pode optar por uma carreira de ajuda: ser médico;
porque ele não vai ter esta disposição interna para assistir o paciente,
sempre que este precisar... É uma coisa de dentro para fora, não dá
para se enquadrar, moldar. (S10)
Existe um chamamento interno no indivíduo que pode ser percebido
nas atividades externas. O indivíduo tem aquela vocação. Isso é
interno. (S10)
O profissional tem que estar internamente prédisposto. (S10)

Portanto, o entrevistado acredita que a ajuda é uma


questão de disposição interna e que o envolvimento não pode
passar para o campo pessoal:

Não deixar nunca que a sua relação vá para o nível pessoal, porque
assim você não consegue ajudar: o seu trabalho não será competente
se você estiver envolvida. (S10)

Em suma, ser Orientador Educacional de adolescentes é


ser um profissional de ajuda na promoção de seu crescimento
integral como pessoas.
“O adolescente precisa ter um porto
seguro, que não apenas o
critique, mas
o ajude a crescer
como ser humano.” (S5)

CAPÍTULO III

Conclusão

É inegável que o Orientador Educacional é um pro-


fissional de ajuda ao adolescente e que suas ações se mani-
festam na escuta, na facilitação e na promoção.
Ouvir, saber ouvir, é uma grande virtude em profis-
sionais de qualquer área, num relacionamento interpessoal.
Calcule-se, então, a importância dessa atitude onde a preo-
cupação do profissional é a formação de um outro ser hu-
mano. Conhecer os anseios, as necessidades, os medos de
um homem somente será possível por meio da escuta, e so-
mente por meio desse conhecimento seremos capazes de
promover e facilitar a promoção desse ser.
Eu acredito no trabalho dos educadores. Acredito que
eles podem preparar-se cada vez mais para atender às ne-
cessidades dos educandos, em termos de conteúdo e, prin-
cipalmente, no seu desenvolvimento social e pessoal. Pri-
meiramente, porém, esses profissionais precisam reconhe-
88 Cida Sanches

cer os seus próprios valores pessoais, e serem sinceros, trans-


parentes e sensíveis para poderem perceber não só os seus
sentimentos, mas os sentimentos dos outros e, assim,
compreendê-los. Desta forma, esses profissionais estarão
capacitados para partilhar de um ambiente de confiança, para
promover o amadurecimento dos valores pessoais de seus
educandos, conduzindo-os por um caminho de conhecimen-
to e autoconfiança.
O objetivo da ação do Orientador Educacional como
profissional de ajuda ao adolescente é, como demonstrou a
análise, o crescimento humano — caracterizado pela aquisição
por parte do adolescente de um espírito de confiança, pela
consciência de seus atos e compreensão da sociedade da qual
participa. É também, e sobretudo, o amadurecimento dos valores
da pessoa humana, que lhe possibilitem a conquista de seu maior
sonho — a independência.
Entendo essa independência como sendo interior, cuja
conquista só é facilitada quando a escola oferece para isso um
clima favorável. Um clima de respeito à individualidade do ser,
de modo a sensibilizá-lo para que perceba os seus sentimentos
de forma aberta e livremente, com capacidade de refletir com
confiança e responsabilidade sobre os seus valores introjetados
pela sociedade e pelos pais.
Ficou claro que só é possível facilitar o desenvolvimento
humano, quando as pessoas envolvidas no processo são capazes
de se deixarem penetrar num sentimento de amor; deixando que
a ternura flua naturalmente.
Esse amor a que me refiro é um amor não possessivo,
que não controla e não espera recompensas, mas apenas um
sentimento que vem de dentro para fora, com aceitação e
admiração pelo outro como este se apresenta.

... Significa uma forma de amor pelo cliente tal como este é, desde que
compreendamos a palavra amor como equivalente do termo teológico
agape, e não em seu sentido habitual, romântico e possessivo(...) Um
sentimento não paternalista, nem sentimental, nem superficialmente
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 89

social e agradável. (Rogers,1991:p.109)

É este o sentimento que impulsiona a realização de um


trabalho profissional na educação. Sentir-se feliz por importar-
se com o outro, por poder amá-lo e sentir-se gratificado pela
ternura que sente.

... Um dos sentimentos mais gratificantes que conheço e também um


dos que mais oferecem possibilidades de crescimento para a outra
pessoa — advém do fato de eu presenciar essa pessoa do mesmo
modo como aprecio um pôr-do-sol. As pessoas são tão belas quanto
um pôr-do-sol quando as deixamos ser [grifo meu]. De fato, talvez
possamos apreciar um pôr-do-sol justamente pelo fato de não o
podermos controlar... Não faço isso. Não tento controlar um pôr-do-
sol. Olho com admiração a sua evolução. (Rogers,1983:p.14)

É assim, com este sentimento, com respeito e aceitação


que o Orientador Educacional pode desenvolver o seu trabalho.
Está aí a possibilidade de escuta ao outro. Isso é gratificante,
pois nos faz sentir a possibilidade de podermos ser úteis, ouvindo
não o som das palavras, mas a verdadeira mensagem que está
por trás destas — um pedido de ajuda, uma angústia, um medo.
Para tudo isso o Orientador Educacional precisa ter sensibilidade,
para, fundamentalmente, ouvir sem criticar. Expor a sua maneira
de ver aquele problema colocado, expor a sua maneira de
solucionar aquela dificuldade e discutir, livre e abertamente, as
suas percepções: o jovem não aprecia o adulto como “dono da
verdade”, mas valoriza uma idéia exposta e discutida.
O Orientador Educacional e o adolescente crescem juntos,
após cada conversa, não importa quem a tenha solicitado — se
aluno ou Orientador Educacional. Ambos amadurecem seus
valores, porque há a possibilidade de mudar, de trocar conceitos
que foram discutidos e aceitos em comum acordo. Para isso, o
clima favorável é o de confiança e afetividade, os sentimentos
verdadeiros, íntegros e autênticos, e o Orientador Educacional
deve estar sempre atento às relações, observando diariamente,
90 Cida Sanches

acompanhando muito de perto o comportamento dos educandos,


professores e demais participantes da equipe.
Entendo ser importante em nossa vida, no nosso mundo
interior, a existência de um companheiro confiante. É esse
entendimento que me faz ser ouvinte, porque sei, pela minha
experiência, que os resultados de uma postura empática são
sempre positivos.
A atitude facilitadora está presente nos profissionais da
educação, não por uma questão de exigência apenas profissional,
mas porque esta atitude brota espontaneamente da pessoa,
mostrando um potencial de empatia e solidariedade que, parece-
me, é interno, próprio ou natural do educador.
Este é o desafio para os educadores: humanizar a escola.
E à frente desse desafio só podem estar pessoas que se
reconheçam como verdadeiros profissionais da educação. Por
serem conhecedores do seu compromisso com a escola em
termos de conteúdo, espera-se dos Orientadores Educacionais
que sejam capazes, ainda, de favorecer um ambiente humano e
harmonioso que possibilite às pessoas a condição de serem
felizes, pois a aprendizagem é mais significativa quando feita
com afetividade.
Fica patente para mim a necessidade de se rever a
profissão de Orientador Educacional, afim de que ele possa
atuardentro da escola no sentido de promover o crescimento
humano desse jovem que precisa de uma parceria quando sai à
“caça” de si mesmo.
Fica claro, também, que o Orientador Educacional, realiza
o seu trabalho numa postura holística que não conflita com as
posturas pragmáticas das Instituições que, primordialmente,
objetivam colocar o jovem no mercado de trabalho.
Permito-me, agora, formular alguns questionamentos que
precisarão ser mais sistematicamente explorados em estudos
futuros. Não tenho a pretensão de levantar tópicos de interesse
geral, mas é possível alinhavar alguns temas conexos, cujas
indagações podem ser assim formuladas:
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 91

Pode o Orientador Educacional — face à sua ação


indiscutível de profissional de ajuda — atuar com a mesma poten-
cialidade junto a adultos? Já que, neste caso, não há a neces-
sidade de transformar o adulto em um homem integral — um
ser social, afetivo-emocional e intelectual — pode o Orientador
Educacional ajudar o adulto a buscar o ser que ele quer ser e
ainda não é?
ADENDOS
“É importante que todos tenham conhecimento
do aluno como um todo: social e cultural,
porque este trabalho tem que ser com o
coração, uma coisa sentida
e não só racional”.(S9)

Descrição do método

N este trabalho usei o método denominado auto-


biográfico ou história de vida. A abordagem autobiográfica ou
da história de vida é um método por meio do qual o pesquisador
tenta obter dados relativos à experiência de pessoas que tenham
significado para o estudo. Neste estudo procurei investigar o
percurso profissional de cada Orientador Educacional

... entendê-lo como uma trajetória seqüenciada, onde interferem tanto


o desenvolvimento biológico, como processos estruturais socialmente
organizados e dinâmicas institucionais, e ainda aspectos complexos
específicos de cada pessoa. Aproximei-me da metodologia adotada
pela abordagem biográfica, ou das histórias de vida, através de
entrevistas abertas, semi-estruturadas em torno de grandes linhas
orientadoras decorrentes das sugestões de Ferrarotti, que aponta
como variáveis fundamentais a considerar: a experiência de trabalho
... (Cavaco,1991:p.160)

Tentei compreender como o Orientador Educacional atua


como profissional de ajuda, dentro de uma estrutura individual e
social no seu tempo e espaço.
96 Cida Sanches

O planejamento das entrevistas

As entrevistas exigiram um planejamento geral antes que


fossem executadas. Tal planejamento consistiu na escolha dos
objetivos, do tempo, do local, da situação dos entrevistados e
do roteiro.
O método da história de vida faz uso da técnica de
entrevistas, que podem ser abertas ou semi-estruturadas. Fiz
uso de entrevistas semi-estruturadas de forma a manter o
respondente à vontade e livre para expressar as suas
experiências, para assim obter um leque maior de informações.
A entrevista semi-estruturada

... se desenrola a partir de um esquema básico, porém não aplicado


rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as necessárias
adaptações. Parece-nos claro que o tipo de entrevista mais adequado
para o trabalho de pesquisa que se faz atualmente em educação
aproxima-se mais dos esquemas mais livres, menos estruturados. (
Ludke e André, 1986:p. 34)

Por meio de dez entrevistas com Orientadores Educacio-


nais do ensino médio, das redes pública e particular e contando
com mais de cinco anos de experiência, coletei dados que se
inseriram dentro do eixo temático ligado à trajetória de vida profi-
ssional dos entrevistados, objetivando saber como eles se viam
na condição de articuladores de um processo de ajuda ao ado-
lescente. As entrevistas foram realizadas nos locais de trabalho
1
dos entrevistados , não havendo especificação quanto à sua du-
ração, ficando este fator condicionado a circunstâncias pessoais
do entrevistado.
Todas as entrevistas foram por mim gravadas e transcritas.
A cada uma foi atribuída a letra (S), seguida de um número,
para que não fosse possível identificar o sujeito, resguardando
1
Com exceção de uma, que foi realizada na residência da entrevistada.
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 97

assim o sigilo.
Essencialmente, a entrevista pretendia que o entrevistado
traçasse a sua própria história de vida profissional, focando pontos
importantes que pudessem responder à questão principal: o
Orientador Educacional ajuda o adolescente no seu crecimento?
Para tal objetivo, elaborei um esquema básico, um roteiro
em torno de cinco pontos fundamentais, além da identificação
do entrevistado:
1. Devemos lembrar que a Orientação Educacional é uma
opção profissional de quem, inicialmente, escolheu a área
educativa para atuar. Desta forma, a primeira questão foi: “Fale
sobre a sua trajetória profissional, começando, por exemplo, a
contar por que optou pela área da Educação”.
2. A seguir busquei aspectos pessoais, familiares e sociais
— ideal e cronologicamente narrados — que mostrassem como
o entrevistado acabou optando pela Orientação Educacional. A
pergunta seguinte, portanto, foi: “Quem ou o que foi mais signi-
ficativo para que sua trajetória culminasse na profissão de Orien-
tador Educacional?” A razão desta pergunta foi obter a repre-
sentação do que, ou de quem fora formador do entrevistado. “O
que foi mais importante? O que foi mais representativo?”
3. Foi importante conhecer a rotina do cotidiano profis-
sional do entrevistado, tendo por foco o adolescente. Para tal,
foi feita a seguinte pergunta: “Como é ser Orientador Educacional
de adolescentes do ensino médio?” Aqui o ponto fulcral era co-
nhecer o modo como o Orientador Educacional percebia e agia,
de forma genérica, com relação ao adolescente.
4. Na questão seguinte busquei obter especificidades do
trabalho do Orientador Educacional na condição de ‘profissional
de ajuda’. A pergunta foi: “Como se desenvolve o processo de
‘profissional de ajuda’ na sua rotina de trabalho?”
5. Tal atuação produzia resultados? Que tipos de resultados
o Orientador Educacional percebia? Quais as conquistas que os
alunos obtinham, decorrentes da ação do Orientador Educacional
como ‘profissional de ajuda’? Para obter respostas a estas
98 Cida Sanches

indagações, era feita a última pergunta: “Que conquistas o


adolescente obtém em decorrência da sua dedicação?”
Esgotadas estas questões, foi deixado amplo espaço, sem
quaisquer restrições, para que o entrevistado se manifestasse.
Esta estratégia permitiu obter subsídios para a pesquisa,
considerados interessantes levando-se em conta a experiência
do entrevistado.

Trabalhando os dados coletados

Tais entrevistas produziram um grande volume de dados,


mas nem todos foram relevantes para o meu estudo. Os dados
obtidos por meio das entrevistas foram sujeitos a um plano feito,
basicamente, em quatro momentos:

— no primeiro fiz uma prévia definição das principais categorias


descritivas importantes para uma leitura ordenada das entrevistas;
— a seguir, procedi ao recorte das categorias descritivas dentro
década história de vida profissional, obtendo assim uma síntese dos
dados mais relevantes de cada entrevista;
— no terceiro momento, por meio de um processo de análise organizei
o material, adequando-o, conforme as categorias descritivas, aos
temas e subtemas;
— por fim, extraí uma conclusão e reavaliei as tendências e os
padrões encontrados, a fim de buscar maior compreensão para
elaborar as considerações finais.

A definição das categorias descritivas

A especificação prévia das categorias descritivas delimitou


o trabalho e apontou os aspectos relevantes para o estudo. Tais
categorias foram fundamentais não só para direcionar o trabalho,
mas para possibilitar uma análise adequada dos dados. Este foi
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 99

um ponto metodológico importante.


Segundo Lalande, uma categoria exprime conceitos
gerais com os quais o espírito (ou grupo de espíritos) tem o
hábito de relacionar os seus pensamentos e os seus juízos
(1993:p.142).
Assim, o conjunto de categorias descritivas

... fornece geralmente a base inicial de conceitos a partir dos quais é


feita a primeira classificação dos dados. Em alguns casos, pode ser
que essas categorias iniciais sejam suficientes, pois sua amplitude e
flexibilidade permitem abranger a maior parte dos dados. Em outros
casos, as características específicas da situação podem exigir a
criação de novas categorias conceituais. (Ludke e André, 1986: p.48).

De fato as categorias descritivas previamente definidas


não se mostraram suficientes e, durante a leitura e releitura das
histórias de vida profissional, percebi a necessidade de definir
algumas mais — não só porque a categoria em si mostrava-se
importante para a articulação da análise, mas também porque
elementos significativos passariam despercebidos se não se
procedesse ao ajuste.
Ao estabelecer cada categoria fiz uso dos princípios a
que Hegenberg faz referência:

... São freqüentemente citados certos princípios fundamentais para a


formulação de definições apropriadas. Entre estes princípios
figurariam, por exemplo: 1) uma definição deve aludir à essência
daquilo que procura definir; 2) uma definição não deve ser circular;
3) uma definição deve ser colocada, sempre que possível, em forma
afirmativa; 4) uma definição não deve ser formulada em linguagem
obscura ou metafórica. (1974: p.27)

Essencialmente, para cada categoria descritiva desen-


volvida dei um nome, sempre que possível sintético, ao qual as-
sociei uma definição, que conforme diz Maritain é um conceito
100 Cida Sanches

complexo ou uma locução que expõe o que uma coisa é ou


o que significa um nome (1983:p. 103).
Foi o caso, por exemplo, da categoria descritiva

Escuta: refere-se a uma ação que envolve uma postura de ouvir o


outro, numa atitude sensível e de forma empática.

O conceito expõe, de maneira precisa, o que significava


— ou como deve ser interpretado — o nome ‘escuta’. Com o
uso de nomes sintéticos pretendi facilitar o recorte das histórias
de vida profissional. É evidente que um outro nome ou expressão
poderia ser mais conveniente, tal como, por exemplo, “escuta
pró-ativa”, mas entendi ser recomendável a síntese, porquanto o
mais importante era a definição. Esta definição, aliás, quando
me pareceu recomendável, foi ampliada com alguns comentários
que se fizeram necessários para elucidar a categoria. No exemplo
que ora estou dando, isso ocorreu com a seguinte extensão:
Esta escuta permite que o outro tenha a oportunidade de
expôr livremente o seu pensamento, num clima de confiança,
discutir o exposto com aceitação e respeito, sem criticas
pejorativas.
Esta escuta empática tem como resultado o amadu-
recimento dos valores do interlocutor.

A síntese dos dados

Uma vez especificadas as categorias descritivas que a


análise exigiu, procedi a um trabalho de recorte das entrevistas.
Em cada uma delas destaquei as falas que se inseriam dentro
de uma ou outra categoria descritiva, obtendo, deste modo, o
que se pode chamar de história sintética de vida profissional,
porquanto se procedermos à leitura unicamente dos recortes,
obteremos uma síntese do que é significativo para o estudo.
Portanto, o trabalho de recorte foi uma dupla busca: da expressão
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 101

do entrevistado em relação a alguma categoria descriviva


específica e da delimitação adequada dessa expressão.
O recorte nada mais é, portanto, do que um apropriado
trecho da história de vida profissional do entrevistado que tem
uma referência com alguma categoria descritiva previamente
especificada. Os recortes foram feitos destacando-se as palavras
e a caracterização foi feita à margem.
Obtive, assim, uma síntese dos dados das estrevistas que
me possibilitou uma visão panorâmica de todas as categorias
descritivas elencadas e o conteúdo de expressão de cada entre-
vistado em relação à mesma categoria descritiva. Deste modo,
na história de vida profissional de cada entrevistado foram colo-
cados à margem os nomes das categorias descritivas refe-
renciadas e a sua delimitação em negrito, de tal modo que foi
possível procedermos, por exemplo, a uma leitura, em todas as
histórias de vida, apenas quanto a uma categoria descritiva
específica. Como exemplo foi selecionada a entrevista do res-
pondente (S10), que está em anexo.
Com efeito, proceder ao recorte das entrevistas foi a se-
gunda etapa do trabalho. À minha frente havia dez entrevistas
— histórias de vida profissional multifacetadas, tão diferentes
umas das outras quão diversos eram os entrevistados. Era preciso
colocá-las numa urdidura para que as tecesse dentro de um
formato que possibilitasse a análise com maior facilidade e rigor.
Nesta etapa busquei fazer uma síntese do que tinha sido
mais representativo para as perguntas que fiz. Era preciso
interpelar o percurso profissional de cada entrevistado, fazendo
os recortes necessários para que a trajetória se mostrasse
apropriada a cada categoria descritiva importante, para a
verificação ou não da tese central. Ao término desta etapa tinha
a história de vida profissional de cada um dos entrevistados
recortada, estando estes adequadamente relacionados a uma
categoria descritiva específica, relevante para o presente estudo.
102 Cida Sanches

Definindo os passos para a análise

Com a análise busquei as respostas que o problema


exigia, não em termos quantitativos, mas essencialmente
quanto ao conteúdo dos discursos — estes subordinados a
determinada categoria descritiva — mostrando a relevância
das categorias descritivas ‘recortadas’ das histórias de vida
profissional para a comprovação da minha hipótese.
A análise debruçou-se sobre a síntese dos dados das
entrevistas inicialmente produzidas e operou um trabalho
de compreensão das relações observadas. Fundamentalmen-
te centrou-se sobre os discursos pertinentes a determinadas
categorias descritivas, em busca de uma resposta para as
questões que no início eu havia formulado. Para tal procurei
me ater a categorias descritivas que pudessem me ajudar a
melhor responder às questões anteriormente formuladas.
— Por que o profissional entrevistado optou pela área
da Educação? Quem ou o que foi mais significativo para
que sua trajetória culminasse na profissão de Orientador
Educacional? Três categorias descritivas conectaram-se com
este tema: origem, motivação e crença.
— Como é ser Orientador Educacional de adolescen-
tes do ensino médio? Estão associadas a esse tema três ca-
tegorias descritivas: atividade, parceria e crença.
— Como o profissional entrevistado desenvolve o
processo de ‘profissional de ajuda’ na sua rotina de traba-
lho? As quatro categorias descritivas referentes ao modo de
proceder do Orientador Educacional foram: escuta, facilita-
ção, promoção e crença.
— Quais são as conquistas que o adolescente obtém,
no crescimento humano, em decorrência da sua dedicação?
As categorias descritivas pertinentes são: adolescente, con-
quistas e crença.
A categoria descritiva crença está presente em todos
os temas porque define um conjunto paradigmático de valo-
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 103

res sobre a realidade à qual o Orientador Educacional esteve


e está associado. As crenças presentes nos diversos momen-
tos são denotadoras de expressões que envolvem valores,
convicções e opiniões sobre o objeto do meu estudo. Res-
salta-se que não é feito qualquer juizo de valor quanto à
veracidade da opinião.
O resultado é analisado no capítulo 3, que se subdivi-
de em partes, cada uma delas abordando os tópicos acima
citados. Para a demonstração dos temas e subtemas foram
utilizados os recortes inicialmente produzidos durante o tra-
balho de síntese dos dados das entrevistas.

Da análise às considerações finais:


fechando a pesquisa

Feita a análise, dela extraí as conclusões que os processos


analíticos de inferência me possibilitavam. O traçado das
considerações finais, que podem ser vistas no capítulo 4, recorreu
a um processo lógico-dedutivo, incidindo sobre o conteúdo da
análise.
Nesse capítulo, pretendi seguir as recomendações de Asti
Vera, seja quanto ao formato, seja quanto ao conteúdo:

... Concluir um trabalho de investigação não é simplesmente colocar-


lhe um ponto final. A conclusão, como a introdução e o
desenvolvimento, possui uma estrutura própria. A conclusão deve
proporcionar um resumo sintético, porém completo, das provas e dos
exemplos (se os apresentar) consignados nas duas primeiras partes
do trabalho. Esta parte deve possuir as características do que
chamamos síntese: em primeiro lugar a conclusão deve relacionar as
diversas partes da argumentação, unir as idéias desenvolvidas. É
por isso que se diz que, em certo sentido, a conclusão é uma volta à
introdução: cerra-se sobre o começo. Esta circularidade do trabalho
constitui um dos seus elementos estéticos (de beleza lógica). Fica
assim, no leitor, a impressão, de um sistema harmônico, acabado em
si mesmo. (1968:p.172)
104 Cida Sanches

Por fim, extraí da análise as inferências que ela per-


mitia, de forma a estabelecer conexões e relações

... que possibilitem a proposição de novas explicações e interpreta-


ções. É preciso dar o ‘salto’, como se diz vulgarmente, acrescentar algo
ao já conhecido. Esse acréscimo pode significar, desde um conjunto
de proposições bem concatenadas até ao simples levantamento de
novas questões e questionamentos que precisarão ser mais sistema-
ticamente explorados em estudos futuros. (Ludke e André, 1986:p.
49)
Exemplo de entrevista

“O desenvolvimento profissional, de ajuda,


depende muito da sua disposição interior. As
pessoas têm ou não essa características: feeling,
sensibilidade, praticidade.”

1Caracterização:
1Formação: Psicologia - UNIP
1Experiência: 8 anos - Orientadora Educacional
1Sexo: Feminino
1Data da entrevista: 04.02.1997.

Eu fui para a Educação por acaso. Estou Origem


até hoje, não mais por acaso. Quando me formei, a
minha intenção era de atuar na área clínica: queria
ter um consultório. Na verdade, quando você tem
inclinação para essa área clínica, como formando
de psicologia, você tem este sonho. Além de ser
um sonho, tem que estar realmente de acordo com
aquilo que você tem intenção de estar fazendo
profissionalmente. Então não foi uma postura minha
definir que estaria atuando na área educacional; pelo
contrário: eu precisava de um emprego. Eu não
queria ficar desempregada e a Educação es-
tava mais fácil.
106 Cida Sanches

Origem A médio ou a longo prazos ia tentar consul-


tório, atuar na área clínica. Era essa a minha in-
tenção. Só que eu acabei percebendo, com a minha
atuação do dia-a-dia na escola, que toda a minha
habilidade, aptidão, estava voltada para esta área.
Me surpreendeu, a princípio, por eu conseguir me
perceber, a nível de interesse de vocação, para
atuar na área educacional. E acabei ficando até
hoje.
Iniciei fazendo matrículas — emprego
mesmo — na secretaria da escola. Inclusive a
orientação que eu tinha do meu superior era para
eu começar por baixo: entender todo o processo,
desde a matrícula. Ele dizia: “Você vai longe: vai
subir dentro da empresa”.
Eu queria era trabalhar. Atendi os problemas
da Tesouraria, da matrícula, por quase um ano. Aí
Origem eu passei para a orientação, que também não era
uma coisa que eu queria. Eu trabalhava na escola,
mas não queria nada com a escola.
Quando eu comecei a atuar como Orien-
tadora Educacional, eu pensei: “Nossa! Como eu
dou bem para a coisa”. O meu trabalho teve re-
sultados rápidos e efetivos. Então eu consegui, real-
mente na Orientação Educacional, dentro desta es-
cola, realizar um bom trabalho, reconhecido pelas
pessoas com quem eu atuo.
Acabei achando que eu nasci para isto
mesmo. Mas eu não tinha essa consciência:
eu caí nesta área. Eu nunca achei o papel de
Orientadora muito fácil para desempenhar, nem
Crença
muito gostoso — associado com o tranqüilo. Eu me
sentia sendo um pouco mãe, um pouco amiga, um
pouco conselheira, sem perder de vista o objetivo
da escola, o perfil do aluno que a escola queria e
quer formar.
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 107

A Orientadora tem um papel mediador


entre aluno e escola, tendo que dar para o
aluno um pouco de cada um desses papéis:
Crença
mãe, amiga, policiadora; um pouco de pai, um
pouco de tudo na orientação do aluno. A
Orientadora tem que procurar atuar como um
agente mediador, para que o aluno viva bem dentro
da escola onde ele passa a maior parte do seu tempo
— até mais do que com os próprios pais. A
Orientadora convive mais com o aluno do que com
a sua própria família a nível de tempo quantitativo.
Bom: quando o tempo, a nível quantitativo, é
maior, tem que ter uma qualidade muito boa, caso
contrário fica uma relação insuportável. A rela-
ção do aluno tem que ser boa com todos da escola:
colegas, professores, funcionários e com a Orien-
tadora Educacional. Então você é, acima de tudo,
um mediador entre aluno e escola. Não é muito
tranqüilo ser Orientadora, justamente porque você
tem que ter em vista todos os setores da escola e o
aluno que é o seu objeto principal de trabalho. Lidar
com pessoas, de maneira geral, não é fácil, mas
tem um lado gratificante quando você consegue
efetivar o que chamamos de ajuda.
Em relação ao aluno você sente quando o
ajudou; porém precisa atuar como profissional, não
Crença
deixar nunca que a sua relação vá para o nível
pessoal, porque assim você não consegue
ajudar: o seu trabalho não será competente
se você estiver envolvida. Agora, se você per-
cebe que o aluno tem um problema de ordem pes-
soal, que o atrapalha no dia-a-dia da escola, é um
motivo de interferência, no sentido de estar aju-
dando. Se você conseguir, com a sua prática ou Parceria
com diálogo, ou participando aos pais a pro-
blemática desse aluno, e no dia-a-dia tentando
108 Cida Sanches

adaptá-lo na escola, sempre em função deste


problema pessoal que ele tem, você está sendo
um profissional competente, porque você não
perdeu de vista o seu papel de Orientador Educa-
Crença
cional: o aluno tem que estar feliz, adaptado na
escola.
Quando você fala a palavra escola, você está
se referindo à pessoa do professor, também. O
aluno não é um papel só; ele é uma pessoa. Assim
como o Orientador Educacional. Então você tem
que conseguir trabalhar com essas pessoas que estão
por trás desses papéis, mas levando em consideração
os papéis que eles exercem: sejam alunos,
professores, até mesmo o seu, como Orientador.
Só há ajuda quando a pessoa do aluno está bem
dentro da escola, adaptada.
Se o professor se desempenha muito bem, a
nível didático, mas não tem jogo de cintura — não
é uma pessoa carismática, principalmente em sala
de aula — você também tem que apoiá-lo, sempre
se aproximando do outro como indivíduo, mas
usando o papel dele dentro da escola: você é um
agente intermediador.
Nós estamos falando de um aluno que na
verdade é um adolescente. O que é a adolescencia?
É uma fase que, a nível cronológico, se consegue
estipular que começa entre l3/14 anos — quando
está saindo da puberdade — até 17/18 anos. A nível
afetivo, o que é este adolescente? Como é essa
coisa de ser adolescente? Ele está numa fase afe-
Adolescente tivo-emocional, onde ele não se situa como criança
— porque ele não é mais — e também não se
situa como adulto, porque ele não o é. Então a
adolescência é um periodo de transição entre
dois momentos bem determinados: o momento
em que se é criança — ele sabe que é uma
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 109

criança, o que faz e o que pode fazer — e o


momento em que se é adulto, em que sabe
que é um adulto e o que pode fazer. O adoles-
cente não. Então é muito difícil para ele esse mo-
mento afetivo-emocional: ele não sabe se definir.
Facilitação
Numa hora se sente uma criança, noutra se sente
um adulto.
Então você, como Orientadora Educacional,
tem que estar ciente destas questões; quer dizer:
tem que ter olho clínico para estar percebendo
que fatores de ordem afetivo-emocional podem
estar interferindo naquele momento da vida
do aluno.
É uma fase de muita impotência e potência:
o jovem está jogando o tempo todo com estes
fatores. Impotente quando ele se sente criança e
potente quando ele se sente adulto. Só que não é
uma coisa e também não é outra. Adolescente

Você como Orientadora Educacional vai ser


um profissional de grande ajuda, sem dúvida
nenhuma, dando respaldo nesses momentos da vida
dele. Às vezes ele age agressivamente, em
função de ainda não ter o “poder” que como
adulto teria para estar resolvendo algumas
questões da vida — tanto pessoal como quanto
escolar — e às vezes também se sente uma
criança, quando querido, quando se sente
mimado pelos professores e colegas. Esse é o Conquista
lado positivo de ser criança. Ele vai se sentir como
adulto, e também é positivo, quando é solicitado pela
escola para atuar em situações úteis ou de liderança,
desenvolver trabalho em equipe, etc. Isso contribui Adolescente
com o desevolvimento do aluno de uma
maneira menos dolorosa, menos sofrida, porque
é sofrido ser adolescente, ter esta falta de definição.
Se você, como Orientador Educacional,
110 Cida Sanches

conseguir atuar dando respaldo para esse aluno,


para ele conseguir externar esse lado adulto,
Facilitação que não é total, em atividades, ele vai conse-
guir se sentir um adulto num sentido positivo.
Nas costumeiras questões a serem resolvidas
a nível disciplinar, por exemplo, caso que eles te-
nham com o professor em sala de aula, então você
vai conversar e questionar: “Se você fosse um
adulto, como é que você agiria?”
Dessa forma você estará o tempo todo dan-
do esta afirmativa para ele.
Quando ele não consegue conviver com estes
conflitos — quando pesa mais a parte negativa dessa
fase afetivo-emocional que ele passa na adoles-
cência — é que pode incorrer nas drogas, na postura
questionadora — o famoso si hay gobierno soy
contra. Isso em casa, na escola. Ele tenta essas
Conquistas
alternativas porque aí ele se sente potente: — na
droga ele se sente potente, na reivindicação ele se
sente potente, no questionamento ele se sente
potente. Ele é um padrão de comportamento des-
Crença viante. Se ele te traz esse problema, qual é o seu
objetivo? Tentar coadunar; tentar levá-lo com muitas
respostas positivas.
O Orientador Educacional pode propiciar
estas situações para ele: situação de segurança —
fazê-lo sentir-se querido, porque ele é carente pela
própria fase.
Agora, para estas atitudes, o profissional
tem que estar internamente prédisposto.
E como é estar internamente prédisposto
para ajudar ?
Bom: eu posso falar da minha experiência.
Desde menina, com cinco, seis anos, eu já
sabia que queria fazer psicologia. Nunca tive ne-
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 111

nhum momento de indefinição profissional. Eu que-


ria ajudar as pessoas, eu queria entender melhor as
pessoas, entender melhor o ser humano, eu queria
saber de gente. Eu gosto de pessoas no sentido de
Origem
estar podendo ajudar. Foi este o sentido que me fez
sentir útil na educação, nessa área de Orientação,
porque eu poderia estar na área educacional pela
minha formação e não estar conseguindo efetivar
esta ajuda que estamos falando.
Então eu fiz a opção por um curso de
ajuda. Acho que foi a maneira como fui criada.
Meu pai sempre me ensinou a ajudar as minhas
irmãs, a ter paciência e tentar entender. E a filosofia
de educação, o modelo do meu pai é que me fez
ser assim: tentar dar sempre o melhor.
Ele dizia que “se não está bom, não reclama,
porque isso não vai conseguir mudar nada. Se você
puder fazer alguma coisa para melhorar, faça”. Eu
cresci, assim, dentro desta filosofia: “Tem alguma
coisa que você pode fazer de bom? Não? Então
deixa para lá — não faça nada”.
Eu acho que começou aí essa coisa de tentar
sempre ajudar. E aprendi, também, a estar me
ajudando, pois através disso eu sempre me ajudei.
Crença Isso está em mim, em qualquer área que eu atue,
qualquer coisa que eu faça. Se há alguma coisa
que eu possa fazer para te ajudar eu vou fazer, desde
que eu não me prejudique.
Isso está associado com a minha atuação
como profissional de ajuda. Essa característica está
Crença embutida na pessoa do profissional.Você sabe que
a sua proposta é de ajuda. Por exemplo: um médico,
se ele não tiver um nível satisfatório de assistência
como ser humano, não pode optar por uma carreira
de ajuda, ser médico, porque ele não vai ter esta
disposição interna para assistir o paciente, sempre
112 Cida Sanches

que este precisar.


Quer dizer: é uma coisa de dentro para
Crença fora, não dá para se enquadrar, moldar. É da
pessoa. Se a pessoa já tiver esta característica, aí
então é mais fácil você trazer isso para uma atuação
profissional: basta ter estímulos externos que
contribuam para isso. Caso contrário esta atitude
será forçada e o profissional não será eficaz, não
conseguirá ajudar.
Ser Orientador é ser um agente media-
Crença
dor entre aluno e escola fazendo com que am-
bos vivam bem, tendo em vista o indivíduo que
tem por trás daquele papel para que aquele papel
seja bem desempenhado. E se você não tem esta
Facilitação característica interna, não tem condição.
Aí tem um pouco do conceito de vocação
quando abordamos este assunto. Vocação vem do
latim vocare, que quer dizer chamamento interno.
Então existe um chamamento interno no indi-
víduo que pode ser percebido nas atividades
externas. O indivíduo tem aquela vocação. Is-
so é interno.
No dia-a-dia isso vai aparecer em suas
atitudes como observador: se o aluno está
triste, “sacar” se há algum problema, se vão
“aprontar” alguma, enfim ter percepção das
coisas. Ele tem que ser agil, tem que estar atento a
tudo e a todos, tem que ter feeling.
Ninguém diz a um profissional: “Olha você
tem que ter intuição, tem que saber observar, tem
Crença que saber falar”. Não. O profissional de ajuda tem
que ter essas qualidades. Isso tem muito da sua
história de vida, do seu aprendizado, das suas ex-
periências. O desenvolvimento profissional, de
ajuda, depende muito da sua disposição in-
terior. As pessoas têm ou não essas caracte-
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 113

rísticas: feeling, sensibilidade, praticidade. São


n as caracteristicas que o profissional tem que ter
como pessoa para estar desempenhando esse seu
trabalho de maneira adequada.
É assim que eu me analiso, e é assim
que eu percebo um Orientador Educacional.
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formação e atuação. Porto Alegre: 1992. Dissertação (Mestrado
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Glossário

Adolescente: é um jovem entre 14 e 20 anos, caçador/so-


nhador na procura de si mesmo, do mundo, até que a
maturidade lhe permita encontrar a si mesmo no mundo
e o mundo em si mesmo.
Atividade: indica qualquer ação ou trabalho específico de-
senvolvido pelo entrevistado na sua função de Orientador
Educacional. Esta categoria descritiva expressa unicamente
a atuação do Orientador Educacional no seu cotidiano.
Portanto, verbos tais como: trabalhar, preparar, levantar,
realizar, tendem a expressar tais ações.
Conquistas: exprime as vantagens ou benefícios auferidos
pelo adolescente decorrentes da ação do Orientador Edu-
cacional como profissional de ajuda.
Crença: define um conjunto parigmático de valores sobre a
realidade à qual o Orientador Educacional esteve e está
associado. São denotadores de crença, expressões que
envolvam valores, convições e opiniões sobre o objeto do
nosso estudo. Ressalte-se que não é feito qualquer juízo de
valor quanto à veracidade da opinião.
Crescimento humano: é caracterizado pela aquisição, por
parte do adolescente, de um espírito de confiança, pela
consciência de seus atos e compreensão da sociedade na
qual participa, para o amadurecimento dos seus valores e,
conseqüentemente, da liberdade para as suas conquistas
sociais, pessoais, emocionais que, na verdade, se resume em
conquista da independência.
Escuta: refere-se a uma ação que envolve uma postura de
ouvir o outro numa atitude sensível e de forma empática.
Esta escuta permite que o outro tenha a oportunidade de
120 Cida Sanches

expor livremente o seu pensamento, num clima de con-


fiança, discutir o exposto com aceitação e respeito, sem
críticas pejorativas. Esta escuta empática tem como re-
sultado o amadurecimento dos valores do interlocutor.
Facilitação: indica atuação no sentido de auxiliar o desen-
volvimento de relacionamentos interpessoais envolven-
do os seguintes conjuntos de pessoas: alunos e profes-
sores. A ação de facilitar geralmente estrutura-se em tor-
no de uma dada condição existente sobre a qual o
Orientador Educacional atua. Este auxílio expressa-se,
comumentemente, por ações cujos verbos dominantes são:
relacionar, incentivar, atentar, observar. Para tal, o Orientador
Educacional deve estar atento ao processo ensino-
aprendizagem, observar o comportamento do grupo,
objetivando favorecer seu bom relacionamento e suas pro-
postas e necessidades para um bom desempenho e desen-
volvimento.
Holística, proposta: abordagem de trabalho com o adoles-
cente que cuida do todo: da sua formação acadêmica e
da sua formação como ser humano, nos seus vários as-
pectos.
Limites : estabelecem para o adolescente até onde ele
pode chegar com as suas atitudes e decisões; qual é o
seu espaço social e familiar; quais são claramente as re-
gras e normas dos ambientes que frequenta, de forma a
que o adolescente entenda perfeitamente o significado
do respeito ao próximo e a si mesmo.
Motivação: expõe os motivos ou causas que levaram o en-
trevistado à Orientação Educacional.
Orientador Educacional: profissional que facilita a ma-
turidade pessoal e social do aluno, por meio de um pro-
cesso em que o aluno vai-se tornando progressivamen-
te mais consciente dos seus atos, mais consciente de si
mesmo e da sociedade da qual participa
Origem: exprime os motivos que levaram o entrevista-
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 121

do a optar pelo campo de ação educacional.


Parceria: representa o auxílio que o Orientador Edu-
.cacional busca junto a outros profissionais da instituição
educacional, pais e os próprios alunos, para melhor de-
senvolver sua ação ou seu trabalho.
Pragmática, proposta: abordagem de trabalho com o
adolescente voltada para o sentido de uma realidade prá-
tica; pode ser sintetizada por um objetivo dominante em
relação ao adolescente: colocá-lo com sucesso na facul-
dade ou no mercado de trabalho.
Profissional de Ajuda: caracteriza o educador que atua
como facilitador através das atitudes de congruência ou
autenticidade, aceitação e compreensão empática, para
o desenvolvimento do crescimento humano do educando.
Promoção: exprime atitudes concretas objetivando pro-
piciar oportunidade para mudanças e reflexões, para que
o adolescente se perceba responsável, capaz, indepen-
dente e crítico. A ação de promover geralmente é
construída em torno de uma dada condição ou situação
inexistente para a qual o Orientador Educacional atua.
Self: ou “eu”, é o núcleo central da pessoa e representa
um autoconceito. Neste núcleo da pessoa se encontram
todas as auto-referências conscientes ou inconscientes.
Índice de autores

Albarello, Leoni .......................................................................... 16


Andrade, Teresinha ............................................................... 24, 26
André, Marli ................................................................... 88,91, 95
Araújo, Margareth Martins ......................................................... 31
Axline, Virgínia ........................................................................... 45
Cavaco, Maria Helena ................................................................. 87
Drozdek, Suely ............................................................... 38 45, 48
Duarte, Vera Lúcia ................................................................ 48, 49
Erikson, Erik ............................................................................... 23
Freire, Aracy Muniz .................................................................... 25
Galvão, Osny ......................................................................... 24, 26
Garcia, Regina Leite .................................................. 24, 30,31,32
Hegenberg, Leonidas .................................................................. 91
Lalande, André ............................................................................ 90
Loffredi, Laís E. ...................................................................24,29
Lourenço Filho ..................................................................... 25, 29
Ludke, Menga ...................................................................88,91,95
Maia, Eny .................................................................................... 32
Maldonado, Maria Tereza ........................................................... 17
Mange, Roberto ........................................................................... 25
Maritain, Jacques ......................................................................... 31
Martins, Lenita ...................................................................... 24, 29
Nérici, Imidio G. ........................................................................ 17
Outeiral, José O. ................................................................... 40, 41
Penteado, Vilma M.A. ................................................................ 24
Pimenta, Selma ......................................................................24,32
Pinto, Leda M.P.M.O. ................................................... 24, 25, 27
Piza, Áurea C.S. ................................................................... 24, 26
Queluz, Ana Gracinda .................................................... 23, 45, 46
Rogers, Carl R. ......................................... 18, 19, 22, 23, 24, 36,
124 Cida Sanches

............................................................... 46, 47, 48, 49, 62, 82, 83


Rosemberg, Rachel ............................................................... 37, 49
Rudolfer, Noemy Silveira ........................................................... 25
Schimidt, Maria Junqueira .......................................................... 25
Sena, Maria G. ............................................................................ 24
Strôngoli, Maria T.Q.G. ............................................................. 24
Tolberg ........................................................................................ 46
Valdez, Dorotéia B. ..................................................................... 36
Vera, Asti ..................................................................................... 94
Índice de assuntos

aceitação ................................................................................ 42, 73


acaso, influência do ..................................................................... 61
adolescência ........................................................................... 37, 83
adolescente ............................................................................ 31, 83
adulto que ainda não é e quer ser .............................................. 86
agressividade ......................................................................... 33, 86
conquistas dos ............................................................................. 90
crenças sobre o ............................................................................ 87
conceito de .................................................................................. 37
consciência de si mesmo ............................................................. 91
desenvolvimento facilitado do ................................................... 92
desenvolvimento integral do ....................................................... 90
drogas e ........................................................................................ 35
limites do ..................................................................................... 87
melhor aproveitamento escolar do ............................................ 91
mutação dos jovens e das épocas ............................................... 85
Orientador Educacional e ........................................................... 98
potencial a ser trabalhado ........................................................... 85
preciso fazer com que se sintam felizes ..................................... 89
precisa ser levado à reflexão ...................................................... 88
precisa ser ajudado nos momentos difíceis ................................ 89
problemas existenciais do .......................................................... 88
qualidades e defeitos percebidos no ........................................... 85
ser em transição ........................................................................... 84
só o afeto conquista alunos ........................................................ 30
além das conquistas do ................................................................ 93
ajudado na escolha da profissão ................................................. 66
auxiliado na compreensão da sexualidade .................................. 67
auxiliado no processo deaprendizagem ...................................... 67
conduzido à reflexão .................................................................. 75
facilitando a incorporação valores ............................................. 79
126 Cida Sanches

facilitando a integração do .......................................................... 78


facilitando o relacionamento do ................................................. 78
identificando sinais de necessidade de ajuda .............................. 76
incentivado a estudar .................................................................. 66
importância do diálogo para o ................................................... 74
promovendo o estímulo à aprendizagem do .............................. 79
promovendo atividades deorientação de conduta ...................... 80
promovendo ajuda para decisão profissional ............................. 80
ouvido sem restrições .................................................................. 75
análise .................................................................................... 53, 56
aprender ....................................................................................... 80
potencialidade para ..................................................................... 39
assistente pedagógico ............................................................ 18, 72
atividade ................................................................................ 65, 66
autenticidade ............................................................................... 73
categorias descritivas .................................................................. 50
adolescente .................................................................................. 54
definição das ............................................................................... 50
crença ........................................................................................... 54
escuta ........................................................................................... 54
conquista ...................................................................................... 54
motivação .................................................................................... 54
origem .......................................................................................... 54
recorte das ................................................................................... 50
compreensão empática .......................................................... 43, 73
conceitos básicos ......................................................................... 26
conclusões .................................................................................... 55
confiança ...................................................................................... 10
congruência ................................................................... 41, 42 , 73
conquistas .............................................................................. 84, 90
disposição para gerar .................................................................. 93
considerações finais ..................................................................... 95
coordenador pedagógico ....................................................... 18, 36
crença .....................................................................................59, 74
crescimento humano ............................................................. 38, 83
conceito de .................................................................................. 39
decreto 72846 de 26.09.73 ........................................................ 16
decreto-lei
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIRIGIDA AO ADOLESCENTE 127

4073 de 30.1.42 .......................................................................... 14


4424 de 9.4.42 ........................................................................... 14
6141 de 28.12.43 ........................................................................ 15
9613 de 20.8.46 .......................................................................... 15
10623 de 1977 ............................................................................. 16
diálogo ................................................................................ 3, 4, 74
educação, entrada para a ............................................................. 60
educação nacional ...........................................................................
diretrizes e bases da ..................................................................... 15
entrevistados, qualificação dos ................................................... 57
entrevistas
planejamento das ......................................................................... 46
recorte das ................................................................................... 52
roteiro das .................................................................................... 47
semiestruturadas .......................................................................... 47
síntese das .................................................................................... 52
escuta .............................................................................. 24, 74, 75
estatuto do magistério ........................................................... 18, 19
facilitação ....................................................................... 24, 73, 76
facilitador ................................................................. 39, 41, 42, 43
família, influência da .................................................................. 59
idealismo, escolha com base no ................................................. 60
identidade .................................................................................... 12
jovem ........................................................................................... 10
lei..
4024 de 20.12.61 ........................................................................ 15
5564 de 21.12.68 ............................................................. 15, 16, 2
5692 de 1971 ............................................................ 16, 17, 19, 20
lei orgânica
do ensino comercial .................................................................... 15
do ensino industrial ..................................................................... 14
do ensino secundário ................................................................... 14
limite ............................................................................................ 87
conceito de .................................................................................. 32
maturidade, corrida para a .......................................................... 38
mediador, orientador educacional como .................................... 82
método
autobiográfico ............................................................................. 46
128 Cida Sanches

história de vida ............................................................................ 46


metodologia da pesquisa ............................................................. 46
motivação .............................................................................. 60, 62
orientação educacional
congresso brasileiro de .......................................................... 21, 22

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