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TEORIA DA NORMA PENAL

LEI PENAL EM BRANCO


• É aquela em que a descrição da conduta punível se mostra incompleta,
necessitando de outro dispositivo legal para a sua complementação
__procedimento de remissão. Mas, a consequência jurídica aplicável (sanção)
encontra-se regularmente prevista.

• A norma penal em branco pode ser:

 própria: em que o complemento se acha contido em outra lei de outra


instância legislativa;

 imprópria: em que o complemento se acha contido na mesma lei ou em


outra norma da mesma instância legislativa. Exemplos: “denunciar à
autoridade pública” – art. 269, CP – crime de omissão de notificação de
doença; “sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar” – Lei de Drogas; “tabelas de preços aprovadas pelos órgãos
competentes” – art. 2º, VI, Lei 1.521/51 – Crimes contra a Economia
Popular; “em documento ou livro exigido pela lei fiscal” – art. 1º, II, Lei
8.137/90 – Crimes contra a Ordem Tributária.

• É imperativo que a norma penal em branco contenha:

 a predeterminação legislativa do seu conteúdo seja taxativo (vale dizer,


quando e em quais situações será usada);

 a previsão imperativa (fazer ou não fazer) fixada em seus limites de


forma precisa e transparente a respeito de sua integração por outro
dispositivo legal.

LEI PENAL NO TEMPO


• Uma lei pode favorecer o acusado pela:

 diferente configuração da infração (contravenção ou crime);

 diferente configuração de suas formas (tentativa, participação, reincidência);

 diferente determinação da espécie e duração da pena (reclusão, detenção,


prisão simples).

• A lei penal mais benéfica tem extra-atividade, i.é, retroativa quando posterior e
ultrativa quando anterior; contrariamente, para as leis penais mais gravosas, vigora
o princípio da não-extra-atividade. Assim, temos 4 hipóteses:
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 a lei posterior (lei nova) incrimina fato não previsto na lei anterior _vale o
princípio da irretroatividade;

 a lei posterior descrimina fato anteriormente punível _vale o princípio da


retroatividade favorável: abolitio criminis (extinção do crime);

 a lei posterior beneficia de qualquer forma o agente _vale o princípio da


retroatividade favorável;

 a lei intermediária – em vigor depois da prática do fato e revogada antes de


seu julgamento final _valem os princípios da retroatividade da lex mitior (lei
mais benigna) e da não-retroatividade da lex gravior (lei mais severa).

LEI PENAL EXCEPCIONAL – LEI PENAL TEMPORÁRIA


• LPE: aquela que visa a atender situações de anormalidade social ou de
emergência (estado de sítio, grave crise econômica, calamidade pública), não
fixando prazo de sua vigência, isto é, tem eficácia enquanto perdurar o fato que a
motivou.

• LPT: prevê formalmente o período de tempo de sua duração e exige duas


condicionante:

 situação transitória de emergência;

 tempo de vigência.

• Ambas têm, em comum, o regime específico da ultratividade gravosa, i.é.,


aplicam-se ao fato realizado durante sua vigência, embora decorrido o período de
sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram; logo, a lei
posterior não é capaz de revogá-las.

• Atenção: a lei penal em branco (que necessita de complementação por ato


normativo diverso, que também passa a ter natureza penal) é regida pelos
princípios da irretroatividade da lei mais severa e retroatividade da lei mais
benigna.

• Contudo, quando a lei penal em branco objetiva garantir o efeito regulador do


elemento integrador temporal contido em outro dispositivo (p. ex., transgressão de
tabelas oficiais de preços), i.é., o injusto no momento do fato, aplica-se o princípio
da ultratividade.

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TEMPO DO CRIME
• “Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro
seja o momento do resultado” __ princípio da atividade (teoria da ação).

• Assim, temos cinco possibilidades:

 nos crimes permanentes: a conduta se prolonga no tempo pela vontade do


agente e o tempo do crime é o de sua duração (p. ex., sequestro ou cárcere
privado – art. 148, CP);

 nos crimes habituais: a conduta se prolonga no tempo com a prática


repetitiva de atos (p. ex., manter casa de prostituição – art. 229, CP);

 nos crimes continuados: o tempo do crime é o da prática de cada ação ou


omissão. O crime continuado é constituído por uma pluralidade de atos
delitivos nas mesmas circunstâncias de lugar, tempo e modo de execução,
mas que são valorados como um só delito para efeito de sanção (art. 71,
CP);

 nos crimes omissivos: o que importa é o último instante em que o agente


ainda podia realizar a ação obrigada ou a ação adequada para impedir o
resultado;

 nos concursos de pessoas: o que importa é o momento de cada uma das


condutas individualmente consideradas.

LOCAL DO CRIME
• “Aplica-se lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido no território brasileiro” _princípio da territorialidade

• O território pode ser:

 real (superfície terrestre, águas territoriais: _12 milhas baixa-mar e zona


econômica: 200 milhas) e o espaço aéreo correspondente; ou,

 fictício (embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a


serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem; bem como, as
aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
privada, que se achem, no ar ou em alto-mar).
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EXCEÇÕES AO LOCAL DO CRIME


 “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no
todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado”
_princípio da atividade (teoria da ação). Tal princípio sofre as seguintes exceções
(hipóteses de extraterritorialidade):

 art. 7º, I, “a”, “b”, “c” _princípio da defesa: aplica-se a lei penal do Estado
titular do bem jurídico lesado ou ameaçado, onde quer que o delito
tenha sido cometido e qualquer que seja a nacionalidade do seu autor.
Devem ser objeto de tutela exclusivamente bens ou interesses estatais,
coletivos ou comunitários e não de ordem individual _extraterritorialidade
incondicionada;

 art. 7º, II, “a” e art. 7º, I, “d” _princípio da universalidade: aplica-se a lei
nacional a todos os fatos puníveis, sem levar em conta o lugar do
delito, a nacionalidade de seu autor ou do bem jurídico atingido. Busca
a eliminação da impunidade de condutas delitiva que afetam valores
essenciais da ordem comunitária internacional, ainda que o delito tenha sido
praticado no estrangeiro e contra estrangeiro _extraterritorialidade
condicionada;

 art. 7º, II, “b” _princípio da nacionalidade: aplica-se a lei penal do país de
origem do agente, onde quer que ele se encontre. Tem aplicação
subsidiária para evitar a impunidade de delitos praticados em país
estrangeiro por nacionais de outro Estado, porque na maioria dos países
vige a regra da não-extradição dos seus concidadãos _extraterritorialidade
condicionada;

 art. 7º, II, “c” _princípio da bandeira: aplica-se a lei do Estado em que está
registrada a embarcação ou aeronave, ou cuja bandeira ostenta, quando
o delito ocorre no estrangeiro e aí não é julgado _extraterritorialidade
condicionada.

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PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIRO


• A atenuação, em caso de diversidade qualitativa da pena imposta, é
obrigatória, ficando a quantidade da redução ao critério prudente do magistrado.

• Já na hipótese de a pena cumprida no estrangeiro ser da mesma qualidade, ela é,


simplesmente, abatida da pena a ser executada no Brasil.

EFICÁCIA DE SENTENÇA ESTRANGEIRA


• A execução da pena é ato de soberania. Tão só para duas finalidades é que ela
poderá ser executada no Brasil, e desde que a lei penal brasileira produza, na
espécie criminosa, as mesmas consequências. Ela será homologada para:

 consequências civis (reparação do dano, restituição de coisas);

 aplicação de medida de segurança.

• Tal homologação, da competência do STJ, depende:

 de pedido da parte interessada, para as consequências cíveis;

 da existência de tratado de extradição com o país em que a sentença foi


proferida (ou na falta de, da requisição do Ministro da Justiça), para a
medida de segurança.

• Secundariamente, independentemente da homologação, bastando a prova legal da


existência da condenação estrangeira, ocorrerá a geração da reincidência.

CONTAGEM DO PRAZO
• Inclui-se o dia do começo, exclui-se o dia do fim.

• A hora do início é irrelevante.

• A contagem é feita pelo número real de dias segundo o calendário usual.

• Os prazos penais não se suspendem, nem se prorrogam por férias, feriados,


domingos.

• Quando o mesmo prazo estiver previsto no Código Penal e no Código de Processo


Penal, aplica-se a contagem mais favorável ao agente.

• Exemplos onde se aplicam: duração das penas; sursis, livramento condicional,


prescrição, decadência.

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FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA


• Desprezam-se as horas nas penas privativas de liberdade e os centavos nas
pecuniárias.

• Entretanto, as frações de mês ou ano, devem ser reduzidas a dias e meses,


respectivamente.

LEGISLAÇÃO ESPECIAL
• As regras gerais do Código Penal aplicam-se aos fatos incriminados por lei
especial, se esta não dispuser de modo diverso como, p. ex., ocorre no Decreto-Lei
3.688/41 – Lei das Contravenções Penais, cujo art. 4º reza que não há tentativa de
contravenção penal.

EXPULSÃO
• Ocorre quando o estrangeiro atentar, de qualquer forma, contra a segurança
nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou moralidade pública e a
economia popular, ou cujo procedimento se torne nocivo à conveniência e aos
interesses nacionais.

• Sua principal consequência é a de impedir a volta do estrangeiro ao território


nacional. É passível, também, de expulsão o estrangeiro que:

 praticar fraude a fim de obter a sua entrada ou permanência no Brasil;

 havendo entrado no território nacional com infração à lei, dele não se retirar
no prazo que lhe for determinado para fazê-lo, não sendo aconselhável a
deportação;

 entregar-se à mendicância ou à vadiagem;

 desrespeitar proibição prevista para estrangeiro.

• Cabe ao Presidente da República.

DEPORTAÇÃO
• Consiste a deportação na saída obrigatória do estrangeiro para o país de sua
nacionalidade ou procedência ou para outro que consinta em recebê-lo, realizando-
se por procedimento policial sumário.

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• Verifica-se a deportação nos casos de entrada ou estada irregular de estrangeiro.


O deportado pode reingressar no território sob certas condições.

• Deportação e a Expulsão são medidas compulsórias administrativas de polícia com


a finalidade comum de obrigar o estrangeiro a deixar o território nacional

EXTRADIÇÃO
• Consiste na entrega de um delinquente por parte de um Estado a outro que é
competente para julgá-lo ou para executar a sanção penal imposta.

• Os princípios informativos da extradição são os seguintes:

 princípio da legalidade: não se concederá a extradição sem lei anterior que


definir o delito e a pena relativos àquela;

 princípio da especialidade: o extraditado não pode ser julgado por fato


diverso do que tenha motivado sua extradição;

 princípio da identidade: o fato pelo qual se concede a extradição deve ser


consagrado como delito pela lei dos Estados contratantes, ainda que com
denominação distinta;

 princípio da comutação: prevê a transformação da pena corporal ou de


morte em pena privativa de liberdade;

 princípio da jurisdicionalidade: não se concede a extradição quando o


extraditando houver de responder, no Estado requerente, perante Tribunal
ou Juízo de Exceção;

 princípio do “ne bis in idem”: a extradição não será concedida quando o


extraditando já tenha sido julgado (ou esteja sendo) pelos mesmos fatos que
forem objeto do processo extradicional;

 princípio da reciprocidade: a extradição será concedida quando o governo


requerente se fundamentar em tratado ou quando prometer reciprocidade.

CONCURSO APARENTE DE NORMAS


• As normas componentes de um sistema jurídico devem ser harmônicas para
garantir a vigência do princípio da segurança jurídica (art. 5º, XXXVI, CF).

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• Na ocorrência de contradições internas, recorre-se a critérios interpretativos. Se se


verificar que o agente cometeu um único delito e, aparentemente, várias leis lhe
seriam aplicáveis, apenas um lei penal deverá incidir em razão do princípio do “ne
bis in idem” o qual, veda punir duplamente o mesmo fato. São critérios para
solução do aparente conflito de leis:
 da especialidade: a lei especial derroga a lei geral, pois a primeira contém
todos os elementos gerais mais alguns especializantes que a fazem
prevalecer sobre a segunda (p. ex., o infanticídio – art. 123, CP, é norma
especial sobre o homicídio – art. 121, CP);
 da subsidiariedade: decorre da múltipla tutela realizada por tipos diversos em
relação a determinado bem jurídico. Aplica-se uma lei quando outra não puder
ser aplicada, quer por proibição explícita, quer por força de interpretação lógica
(p. ex., haverá apenas o crime de ameaça – art. 147, CP, quando não é
proferida para forçar alguém a fazer o que a lei permite ou a não fazer o que ela
não manda, o que caracteriza o crime de constrangimento ilegal do art. 146,
CP);
 da consunção: aqui, determinado crime é fase de realização do outro _ delito
progressivo _ e o tipo penal mais amplo absorve o de menor abrangência (p.
ex., o crime de roubo – art. 157, CP, inclui o de furto e o de lesões corporais –
art. 129 ou o de ameaça – art. 147, CP);
 da alternatividade: o agente só será punido por uma das modalidades
descritas nos chamados crimes de ação múltipla, embora possa praticar duas
ou mais condutas do mesmo tipo penal (p. ex., se instigar alguém ao suicídio e,
em seguida, auxiliar a vítima na prática do ato, o agente somente responderá
por instigação ou auxílio, e não pelas duas condutas – art. 122, CP).

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