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A ansiedade é um dos distúrbios psicológicos mais comuns em crianças e

adolescentes em idade escolar. Nos últimos estudos conduzidos, as prevalências


variam de 4% a 25% (Tomb & Hunter, 2004). A taxa real de prevalência, no entanto,
deve ser ainda maior, com muitas crianças e adolescentes permanecendo não
identificados e não tratados. As consequências dos transtornos de ansiedade sobre o
bem-estar de crianças e adolescentes são substanciais, afetando o funcionamento
social, emocional e acadêmico dos estudantes.
Estudos demonstraram que a ansiedade e o estresse podem afetar
negativamente o estado físico e emocional de crianças e adolescentes e podem se
transformar em problemas maiores, como o absenteísmo escolar, baixa autoestima,
problemas verbais e não verbais, dificuldades no desempenho acadêmico, problemas
comportamentais, dificuldade com relações entre pares, dependência aumentada,
comportamentos de busca de atenção de adultos e níveis reduzidos de concentração e
atenção (Allen & Klein, 1996; McLoone, Hudson, & Rapee, 2006; Orth, 2011). Além
disso, se não for tratada, a ansiedade na infância e adolescência pode levar a uma
redução nas escolhas profissionais aumento do uso de medicamentos, depressão,
problemas cardíacos, obesidade e abuso de substâncias químicas na idade adulta
(Donovan & Spence, 2000; Rapee et al., 2005) .
O sistema escolar foi identificado como um caminho ideal para a promoção de
programas de prevenção e intervenção precoce para ansiedade (Masia-Warner,
Nangle & Hansen, 2006). As escolas são vistas como tendo um contato incomparável
com os jovens e proporcionam uma oportunidade para alcançar crianças e
adolescentes que antes não foram identificados e tratados (Chatterji, Caffray, Crowe,
Freeman e Jensen, 2004).
A ansiedade em crianças em idade escolar afeta tanto sua qualidade de vida
quanto sua capacidade de aproveitar plenamente as experiências escolares (Tramonte
& Willms, 2010). Os níveis de ansiedade, particularmente a ansiedade dos exames,
são relatados como variando entre culturas para crianças em idade escolar (Bodas &
Ollendick, 2005; Seipp & Schwarzer, 1996). As normas e valores culturais e como
eles se relacionam com o desempenho escolar podem explicar as diferenças entre a
ansiedade nas culturas, particularmente na ansiedade dos exames (Zeidner, 1998).
Expectativas de desempenho escolar, valores familiares, características variadas de
diferentes sistemas escolares, expectativas da sociedade e práticas de socialização
desempenham um papel nos níveis de ansiedade dos alunos. Em um estudo conduzido
por Seipp e Schwarzer (1996) foi realizado uma meta-análise de dados de 14 países,
foi possível perceber que pais autoritários, sistemas intensivos de exames escolares e
escolas de alto estresse eram as principais razões do desencadeamento de transtornos
de ansiedade.
Constatou-se, por meio de extensa pesquisa, que os pais de crianças com
ansiedade comportam-se de forma diferente dos pais de crianças não ansiosas
(Lindhout et al., 2006). Barrett, Fox e Farrell (2005) também descobriram que pais de
crianças ansiosas demonstraram menos calor paterno, menos recompensa materna por
lidar com comportamentos e mais controle geral em comparação com pais de alunos
não ansiosos. Os pais, em particular, mostraram mais controle sobre o filho ansioso
do que sobre os irmãos. McLeod, Wood e Weisz (2007) apoiam esses achados
observando que tanto o controle parental quanto a rejeição dos pais estão associados
aos sintomas em crianças e adolescentes.
Professores e a comunidade escolar desempenham um papel importante na
abordagem e redução da ansiedade das crianças em suas escolas. Os alunos
geralmente percebem estilos de ensino específicos e estilos interpessoais de seus
professores que têm impacto na redução (ou aumento) da ansiedade na sala de aula
(Wilson, 1999).
Dentre as intervenções que o professor pode fazer, a primeira estratégia é estar
atento ao comportamento dos estudantes, estando mais atento no período de exames,
que caracteriza-se por uma intensificação do estresse nos alunos. O aluno pode
apresentar pensamentos negativos, na forma de exagerada de encarar uma nota ruim,
o medo de esquecer o que foi estudado na hora da prova, preocupação excessiva de
não decepcionar os pais e o fato de pensarem que os outros estudantes sabem mais do
que ele. Alguns sintomas físicos que podem ser observados em estudantes em crise de
ansiedade são a tensão muscular, pequenos tiques, tremores, cólicas, dor de cabeça,
dor de estômago e transpiração excessiva.
A base para a construção das estratégias pedagógicas de intervenção é um
relacionamento mais próximo entre o professor e os estudantes, para que ele não seja
uma figura temida. O uso do senso de humor também foi demonstrado como uma
técnica eficiente na redução de ansiedade, além da familiarização dos estudantes com
o formato dos exames e o esclarecimento, questão por questão, do que se espera que
eles respondam (Wilson, 1999). O professor pode também, dentre outras coisas,
reforçar a autoconfiança dos alunos, através do incentivo que eles façam o melhor que
podem, que acreditem mais em si mesmos, através da criação de listas de conquistas
já alcançadas pelo estudante para que ele se lembre do que é capaz. Expandir as
formas de avaliação também é importante para que as provas sejam compreendidas
pelo seu real valor e que o estudante ansioso não desfaleça diante de uma nota baixa.
Quando possível, é recomendado também que o professor promova trabalhos em
grupo e com consulta. Além disso, é recomendável também intercalar os trabalhos
com atividades relaxantes para que a tensão seja aliviada.
Quando necessário, o professor também promover exercícios de relaxamento e
alongamento muscular, de respiração profunda, meditação, encorajá-los a escrever os
próprios pensamentos e sentimentos em papel e depois rasgar ou amassar e exercícios
de concentração e mindfulness (Conrad & Roth, 2006; Zuercher- White, 1998;
Feldman, Greeson, and Senville, 2010).

Referências:
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