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Professor: Higor Camargo Silva

INTRODUÇÃO À RAZÃO Disciplina: Filosofia

1. Os vários sentidos da palavra razão


1.1 Razão como convicção
1.2 Razão como autogoverno
1.3 Razão como motivos, causas e ordenação
1.4 Razão como consciência intelectual e moral

2. A origem da palavra razão


3. Os opostos da razão
3.1 Ilusão ou mera opinião
3.2 Emoção, sentimento, paixão, afeto
3.3 Fé
3.4 Êxtase místico
Professor: Higor Camargo Silva
Disciplina: Filosofia

1. Os vários sentidos da palavra razão


A Filosofia se baseia na reflexão racional acerca
da realidade como um todo, do ser humano em
coletividade e enquanto subjetividade em
diálogo consigo própria e conhecedora da
realidade. A palavra racional está na base da
atividade filosófica.
Porém, o que é razão?
Professor: Higor Camargo Silva
Disciplina: Filosofia

1.1 Razão como convicção


A razão aparece como crença de alguém acerca da própria opinião,
isto é, a crença de que a própria opinião está certa.

Por exemplo, “Estou com razão quando afirmo que você não deve
mais perder tempo e iniciar os estudos em Filosofia”.

Nesse sentido, a palavra razão remente à certeza e se opõe à


incerteza.

Por meio da identificação entre razão e convicção, há também a


crença de que a verdade é racional, afinal a verdade é aquilo sobre o
que há convicção total.
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1.2 Razão como autogoverno

Razão também aparece como controle de si que pode ser adquirido ou perdido.

Por exemplo, “Claudia perdeu a razão quando começou a xingar o garçom, por
mais que ele estivesse de fato sendo negligente em seu serviço”.

Nessa acepção, a palavra razão remete à sanidade mental e se opõe à loucura.

Mediante a identificação entre razão e autogoverno, uma metáfora historicamente


associada à razão é a da luz natural, que ilumina as trevas, símbolo de forças ocultas,
poderosas e imprevisíveis.
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1.3 Razão como motivos, causas e ordenação


Outra acepção da razão é de fundamento para uma ação, um pensamento, um fenômeno natural.

Por exemplo, “Se você me disser suas razões, fica mais fácil entender suas intenções” ou “As razões para que a Terra seja esférica
e não plana já são consolidadas na comunidade científica”.

Nesse âmbito a palavra razão se identifica com fundamentos legítimos e se opõe a aleatoriedades, atos discricionários,
injustificados.

Por identificar razão e motivo, há a acepção – tornada célebre por Aristóteles – de que o homem é um animal racional, posto
que age de modo motivado e não meramente impulsivo, instintivo e injustificado.

Igualmente pela vinculação entre razão e causa, há a compreensão de que a realidade é racional, dado que segue nexos causais
em que um fenômeno é sempre explicado com vistas a algum outro, numa cadeia interconectada que permite captar certa
organização e regularidade nos eventos naturais.

Fala-se, assim, em razão objetiva e razão subjetiva.

A primeira se refere à característica da realidade ser racional nela mesma, sem depender do conhecimento humano.
A segunda se refere à capacidade intelectual e moral dos seres humanos.
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1.4 Razão como consciência intelectual e moral


Para entender esse sentido de razão, considere a frase de Blaise Pascal: “O coração tem
razões que a razão desconhece”.

Na primeira aparição, a palavra “razão” denota motivos e causas, como visto anteriormente.
Assim, o coração também segue motivos, por mais que sejam desconhecidos, que nos
influenciam a agir e a pensar.

Na segunda aparição, a palavra “razão” denota algo diferente de coração, símbolo de emoção,
sentimento, afetos. Nesse caminho, Pascal dialoga com a tradição de pensamento ocidental
quando considera razão como consciência intelectual e moral.

Enquanto consciência intelectual, a razão é a capacidade de organizar os pensamentos de


modo estruturado, concebê-los e expressá-los com clareza.
Enquanto consciência moral, a razão é a vontade racional livre que não se deixa dominar
pelos impulsos racionais e realizar ações conforme o dever e a virtude.
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1.4 Razão como consciência intelectual e moral


Assim, tal consciência age de modo diverso dos motivos do coração, isto é, é autônoma – até
mesmo porque os desconhece muitas vezes. Reescrita, a frase de Pascal pode ser expressa
desta maneira:

• Parte de nós segue uma espécie de motivos – emoções, sentimentos, afetos.


Essa parte age de modo descontrolado, impulsivo, imprevisível, oculto.

• Parte de nós segue outra espécie de motivos, que orientam o intelecto e a moral.
Essa parte age de modo controlado, calculado, previsível, evidente.

Assim, perder a razão significa ser influenciado apenas pelos motivos do coração. Ao
contrário, recuperar a razão significa que a consciência – intelectual e moral – assumiu o
controle de volta.
2. A origem da palavra razão

• A palavra “razão” se origina do latim ratio, que por sua vez traduziu o
grego logos.
• Logos vem do verbo légein – contar, reunir, juntar, calcular. Ratio vem
do verbo reor – contar, reunir, juntar, calcular.
• Em todas essas atividades, o que está em operação é a ação e o
pensamento como ordenação, medida, proporção, clareza,
compreensão. Na origem, razão é a capacidade intelectual de:
• Pensar a realidade de modo ordenado, porque ela mesma segue uma
ordem.
• Exprimir-se de modo claro e compreensível.
3. Os opostos da razão

Nesse sentido, desde a origem, a razão é considerada como oposta a


quatro outras atitudes mentais:
3.1 Ilusão ou mera opinião

• Trata-se da percepção da mera aparência das coisas, que sempre


capta de modo parcial, superficial e incompleto a realidade – sempre
mais complexa em sua estrutura profunda.
• A ilusão pode provir dos costumes não refletidos, dos preconceitos
adquiridos e da aceitação imediata da realidade como se apresenta,
sem investigação mais detida.
• As opiniões são sempre variáveis de pessoa para pessoa, justamente
porque captam apenas este ou aquele aspecto da realidade, nunca
sua visão total ou essencial, objetivo da razão.
3.2 Emoção, sentimento, paixão, afeto

• Trata-se de atitudes mentais cegas, caóticas, desordenadas e


contrárias umas às outras. Ora uma emoção é avessa a um objeto, ora
é atraída por ele. Ora os sentimentos nos impelem à ação, ora nos
impedem de agir causando repulsa diante do mesmo estímulo. A
razão é vista como ação intelectual e moral que visa a dominar a
passividade emocional.
3.3 Fé

• Trata-se da crença no sobrenatural que age não por motivos e causas


evidentes, ordenadas e compreensíveis, mas por confiança na
revelação divina. Independente do trabalho realizado pelo intelecto, a
fé opera.
3.4 Êxtase místico

• Trata-se de um estado de abandono, de rompimento com a atividade


intelectual e moral. Uma quebra com o estado consciente a fim de se
entregar à fruição, em termos metafóricos, do abismo infinito. Como
é de natureza não consciente, a razão se lhe contrapõe.

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