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RESUMO
Contexto: A produção de plásticos no Brasil alcançou 3,4 milhões de toneladas em 1999. Este trabalho
pretende avaliar os principais riscos para a saúde neste ramo de atividade com atenção maior para a indús
tria de embalagens – PEAD (polietileno de alta densidade). Objetivos: Avaliar os principais riscos de prob
lemas de saúde e de desconforto identificados em empresa de embalagem plástica instalada na cidade
de São Paulo e eventuais impactos destes riscos para a saúde dos trabalhadores ali ocupados. Métodos:
Trata-se de um estudo descritivo. Foram feitos: inquérito preliminar, análises do Programa de Prevenção
de Riscos Ambientais (PPRA) e do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), aná
lises prévias de cinco postos de trabalho e do processo produtivo, avaliação dos níveis de ruído, calor,
iluminamento e riscos ergonômicos e avaliação clínica de 28 trabalhadores. Resultados: O nível de ruí
do foi excessivo em três das seis máquinas e em todos os moinhos. Apenas seis trabalhadores usavam
protetor auricular. Os níveis de calor não superaram o permitido pela norma regulamentadora, mas de
acordo com o cálculo de temperatura efetiva esta é desconfortante. O iluminamento é deficiente em
todas as máquinas e no setor de serigrafia. As ferramentas ergonômicas não apontaram riscos impor
tantes. Destaque para os 75% de etilistas, 46% de funcionários com vacina antitetânica atrasada e 25%
dos trabalhadores apresentaram níveis elevados de pressão arterial. Conclusões: O processo produtivo
deve ser modificado e diversas medidas devem ser tomadas, como limitar a jornada de trabalho e re
duzir as horas extras, instituir programas de segurança, investir em medidas de proteção do maquinário,
instalar ventiladores, exaustores e lâmpadas e acompanhar e exigir PPRAs e PCMSOs mais completos.
Palavras-chave: Riscos ocupacionais, medicina do trabalho, indústrias, plásticos.
ABSTRACT
Background: Plastic production in Brazil, had reach 3,4 million tons. This work pretends to evaluate, the main
health’s risks on this activity branch focusing with more attention for the packages industries which use the
– PEAD (High Density Polyetilen). Objectives: Evaluate the main occupational risks and uncomfortableness
conditions that are identified in one enterprise of plastic packages established at the city of Sao Paulo and
the possible results of these problems for the health of the workers. Methods: This is a descriptive study.
Firstly it was applied one formulary – the Preliminary Inquire. This instrument is and enquire habitually used
in Brazil, in the first visit on the enterprises, when the visit propose is to study the occupational hygiene fac
tors that may be irregular according the legislation. Also it was analyzed the structure of the Environment
Risk Prevention Program (PPRA) and the Occupational Health Control Program (PCMSO) – that are two legal
compulsory programs that all the enterprise must do and review every year. There were studied five work
places for evaluation of the levels of noise, heat, illumination, ergonomic risks. The clinical evaluation of 28
workers was made. Results: The level of noise were higher the LT in three of the six machines and in all
the mills. Only six of the workers used auricular protectors. The heat levels did not exceed the LT but the Ef
fective Temperature (TE) was higher the comfort level. The illumination level was lower the recommended
in all the machines and in the serigraphy sector. The ergonomic study did not point for important risks. At
the clinical examination, 75% of the examined was alcooholists, 46% had the anti-tetanic vaccine not com
pleted and 25% higher levels of arterial tension. Conclusions: The productive process may be modified in
the sense of limiting the work journey, reducing extra hours, and the application of educational programs
of safety in work. Even so is necessary more protection to the machines, ameliorate ventilation, and in
creasing lighting lamps. The PPRA and PCMSO programs may be more adequate to the reality of the plant.
Keywords: Occupational risks, occupational medicine, industry, plastics.
pertensão em operários8. Outra consequência pode Durante a observação dos postos de trabalho,
ser a chamada síndrome de burn-out ou esgotamen- verificou-se que apenas seis trabalhadores (21,4%)
to profissional6, gerando estafa, fadiga e frustração. utilizavam todo o uniforme e o equipamento de
proteção individual (EPI) fornecido, dois (7,2%)
Saúde ocupacional estavam sem uniforme, pois eram funcionários re-
A empresa não possui Serviço de Engenharia, Se- centes, um (3,6%) estava sem bota e protetor auri-
gurança e Medicina do Trabalho (SESMT). Ocor- cular e 19 (67,9%) estavam sem protetor auricular.
reram dois acidentes por prensamento de mão em
máquina, sem perda de substância, mas com discre- Avaliação quantitativa dos níveis de ruído
ta diminuição funcional (um caso em 2006 e outro Foram realizadas avaliações nos postos de trabalho,
em 2007). Não há Comissão Interna de Prevenção próxima à zona auditiva do trabalhador (Tabela 2).
de Acidentes (Cipa) na empresa. A empresa não
possui um programa ativo de segurança e os dois Tabela 2. Níveis de ruído (em decibéis).
únicos acidentes que a empresa possuiu ocorreram
Local Ruído aferido Ruído no PPRA
recentemente, indicando a necessidade de progra-
Almoxarifado 59
mas que instruam melhor os trabalhadores, além de
Máquina 1 75-89 87,7
mecanismos de proteção de maquinário mais efe-
tivo. Não há sistema de bloqueio de acionamento Máquina 2 77-85 80-84
das prensas contra acidentes de trabalho em mãos, o Máquina 3 76-89 80-83,9
atual constitui de grades que fecham o local onde se Máquina 4 76-88 80-81,2
encontra o molde, mas se a grade é aberta não há in- Máquina 5 79-84
terrupção de funcionamento da máquina. É impor- Máquina 6 80-85
tante ressaltar que em agosto de 2007, o sindicato Serigrafia 75 73,7-80
da indústria, juntamente com os representantes dos Ferramentaria 79-82 67,6-80
trabalhadores, assinou uma convenção coletiva para
Moinho 1 97 80-83
prevenir acidentes em máquinas sopradoras de plás-
Moinho 2 96 80-81,8
tico, que prevê a instalação de diversos dispositivos
Moinho 3 93 80-85
para prevenção de acidentes. Essa preocupação com
os acidentes de trabalho é justificada, pois em estu-
do feito em 2000 no estado da Bahia9, a indústria O nível de ruído nas máquinas sofre grande au-
de transformação foi responsável por mais de 15% mento quando há o sopro de ar comprimido, por
dos benefícios por acidente de trabalho. isso a variação de valores nas máquinas e na ferra-
No PPRA da empresa não foram realizadas medi- mentaria, por sua proximidade com elas. O PPRA
das de temperatura na fábrica e as avaliações quan- da empresa acusou que apenas uma máquina gera
titativas do ruído e do iluminamento não foram ruídos acima do permitido pela norma regula-
feitas em todas as máquinas. As tabelas de risco mentadora (85 decibéis). Nem mesmo os moinhos
detectadas encontram-se em branco no PCMSO, encontraram-se ruidosos no PPRA. É importante
o que chama atenção para a qualidade de ambos. destacar que duas máquinas não foram avaliadas.
Os autores de um trabalho que verificou 30 PPRAs Ressalta-se que apesar dos moinhos serem mais rui-
e PCMSOs de empresas com mais de 100 funcio- dosos, o tempo a que os trabalhadores ficam expos-
nários da Bahia10 constataram a baixa qualidade tos a eles é menor, e que os moinhos se encontram
técnica desses programas e apontaram a evidente devidamente isolados do setor de produção. O ideal
necessidade de ampliar a cobertura da fiscalização para esse caso seria o uso de dosímetro de ruído
estatal, assim como de estimular a participação dos para melhor avaliação.
trabalhadores e dos seus representantes no desen- A literatura especializada internacional aponta que
volvimento dos programas. trabalhadores expostos ao ruído ocupacional inten-
colhido para uma avaliação geral de vários segmen- xam-se de acuidade visual diminuída seis trabalha-
tos do corpo, por ser completo, de fácil utilização dores (21,4%) e não fazem uso de correção.
e renomado. Logo após foi aplicado o critério de A pressão arterial encontrou-se em níveis normais
Moore e Garg, por ser mais específico para mem- em 21 trabalhadores (75%) e atingiu valores alte-
bros superiores. rados (máximo de 160 × 100 mmHg) no restante
De acordo com o check-list de Suzanne Rodgers, dos trabalhadores. A pressão arterial alterada en-
a pontuação dos ajudantes de produção apresentou contrada pode estar relacionada à jornada de traba-
prioridade baixa para riscos ergonômicos (pontuação lho prolongada, conforme discutido anteriormente.
5 em todos os seguimentos corpóreos, levando-se A literatura também revela que o excesso de ruído
em conta o nível e o tempo de esforço e o número e o calor podem ser responsáveis pela elevação da
de esforços por minuto). Os ajudantes da serigrafia pressão arterial13.
também apresentaram a mesma pontuação, exceto Quanto ao aparelho osteomioarticular, cinco
para os seguimentos de ombros e costas, em que a (17,9%) apresentaram crepitação assintomática de
prioridade foi moderada (pontuação 6). O critério de ombros, outros cinco, lordose de coluna lombar e
Moore e Garg apresentou índices baixos para ajudan- dois, crepitações sintomáticas em joelho. As dores
tes de produção (1,125) e duvidosos para ajudantes osteomusculares não foram compatíveis às ferra-
de serigrafia (5,0625). Isso ocorre porque os ajudan- mentas ergonômicas não sendo encontradas nos aju-
tes de produção trabalham sentados, em cadeira er- dantes de serigrafia e distribuídas equilibradamente
gonomicamente adequada, e o número de movimen- nos outros cargos. Os motivos podem ser o número
tos que exigem esforço e mesmo o de movimentos pequeno de trabalhadores avaliados e o fato de que,
repetitivos é relativamente baixo. Já os ajudantes de em geral, a faixa etária dos ajudantes da serigrafia
serigrafia apresentam maior número de movimentos ser jovem. De acordo com a literatura14, um novo
antiergonômicos, principalmente para as costas e os perfil patológico configura-se, o qual é caracteriza-
ombros, por transportarem as pranchas com frascos do pela maior prevalência, na população trabalha-
que foram serigrafados para o local de secagem e en- dora, de agravos à saúde marcados pelas doenças
sacarem os frascos com a tinta já seca; a maioria do crônicas, cujo nexo de causalidade com o trabalho
trabalho é feita em pé e em movimento. não é mais evidente como ocorria com as doenças
(e acidentes) classicamente a ele relacionadas. Proli-
Avaliação clínica dos funcionários feram, então, as doenças cardiocirculatórias, gastro-
São tabagistas 14,3% e ex-tabagistas 28,6% dos fun- cólicas, psicossomáticas, os cânceres, a morbidade
cionários. Quanto ao etilismo, somente 25% dos musculoesquelética expressa nas lesões por esforços
funcionários não ingerem bebidas alcoólicas, visto repetitivos (LERs), às quais somam-se ao desgaste
que um deles está em programa de reabilitação. mental e físico patológicos e mesmo às mortes por
Em relação ao estado emocional dos trabalhado- excesso de trabalho, além das doenças psicoafetivas
res: 71,4% sentem-se calmos; 21,4%, estressados (a e neurológicas ligadas ao estresse. Por meio do le-
causa maior referida é o excesso de trabalho provo- vantamento das doenças encontradas neste estudo,
cado pelas horas extras feitas aos finais de semana); foi observada essa tendência bem caracterizada. Um
3,6%, ansiosos; e 3,6%, deprimidos. outro autor15 sugere até que este novo perfil seja
Quando interrogados a respeito da presença de usado como um dos indicadores de qualidade de
patologias, são hipertensos 14,3%. Sobre a vacina- vida no trabalho.
ção de tétano, 13 trabalhadores (46,4%) negaram
estar com a vacinação devidamente regularizada. Análise dos prontuários
As queixas apresentadas pelos trabalhadores fo- A análise dos prontuários demonstrou que os exa-
ram: quatro lombalgias (14,3%), dor no ombro, mes médicos realizados são bastante sumários, com
pré-cordialgia esporádica, dor no joelho e epigas- poucas informações e os exames físicos extrema-
tralgia, cada uma em um trabalhador (3,6%). Quei- mente resumidos.
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