1.INTRODUÇÃO
Nessa introdução, Francisco Quintanilha Véras Neto fornece todo um estudo sobre o
funcionamento dessa sociedade que originou o direito antigo mais importante e que
mais influenciou nosso direito atual. Essas diversas características podem ser
observadas nas seguintes passagens:
“Ora, nenhum direito do passado reúne, para esse fim, as condições que o direito
romano apresenta. Abarcando mais de 12 séculos de evolução –documentada com
certa abundância de fontes-, nele desfilam, diante do estudioso, os problemas de
construção, expansão, decadência e extinção do mais poderoso império que o
mundo antigo conheceu”.
Francisco Quintanilha mostra como o direito romano está presente no nosso atual:
“O Senado funcionava como uma espécie de Conselho do Rei, composto por 100
membros; era subordinado ao rei e por este convocado; sua função era consultiva e
não deliberativa”.
“As fontes do direito na República são o costume, a lei e os editos dos magistrados”.
“Os magistrados patrícios julgavam segundo tradições que apenas eles conheciam e
aplicavam. A incerteza na aplicação do direito, por parte dos magistrados patrícios,
levou a plebe a pleitear a elaboração de leis escritas”.
“A lei das XII Tábuas foi elaborada por uma comissão de três magistrados…
“Todavia, mesmo sendo considerado mais forte poder de uma pessoa sobre um
objeto, o direito de propriedade nunca teve caráter ilimitado e absoluto em Roma”.
“As terras provinciais eram públicas, mas ocupadas e utilizadas por particulares, que
pagavam imposto, que não era devido pelos proprietários dos fundos itálicos”.
Francisco aponta algumas causa que fizeram com que o império romano ruísse,
detendo-se, em especial, no desgaste da economia escravagista:
“Vários fatores podem ter contribuído e se conjugado para a sua queda: o colapso
da economia escravagista; a falência dos pequenos agricultores… o crescimento do
exército de desocupados urbanos… ocorreu também o colapso da pesada
administração romana”.
“O direito romano não teve ajustamento mecânico e universal, em face das novas
condições econômicas criadas pela sociedade mercantil, demonstrando que vários
institutos jurídicos do direito moderno advinham das próprias práticas costumeiras
desenvolvidas ao final do período medieval”.
8.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Francisco apenas faz uma menção à utilização de princípios do direito romano nos
diversos direitos europeus da Idade Média:
História do Direito
Direito Grego
Páginas
37
Idéias
1 INTRODUÇÃO
É interessante para estudo do Direito grego partir do surgimento das pólis, na qual
se pode destacar Atenas como parâmetro, além de ser da pólis que se obtiveram
maiores informações. A democracia ateniense deu estrutura para o Direito atingir
perfeitos níveis quanto à legislação e ao processo. Toma-se como referência para o
direito grego, o direto ateniense. Entretanto, não se pode falar em um sistema único,
há exceções como Esparta.
* E a escrita que foi um fator importante para a codificação e divulgação das leis.
Deste modo, as instituições democráticas passam a contar com a participação do
povo, e a aristocracia também perde o monopólio da justiça. No entanto, era
incumbido ao legislador codificar as leis.
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Páginas 64 - 65
Idéias
Houve dois importantes legisladores: Dracon que deu início à introdução do código
penal, e Sólon que, além de criar leis, estruturou uma reforma institucional,
econômica e social.
2 A ESCRITA GREGA
A escrita pode ser vista como uma tecnologia por ser uma novidade na sociedade.
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Páginas 70
Idéias
Mas uns dos motivos desta primazia de falar é conseqüência das dificuldades de
veículos para a escrita, principalmente, pelo custo do material. Portanto, quando
houve disponibilidade de material para o desenvolvimento da escrita o auge da
Grécia já tinha passado e, Roma dominava.
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Páginas
74
Idéias
No ano 1.200 a 900 a.C a Grécia atravessou um período denominado “era das
trevas” e, no começo de 900 a.C eles ainda não tinham leis oficiais. Os conflitos,
como o assassinato, eram resolvidos pelos próprios membros das famílias das
vítimas. Só no meio do século VII a.C eles criaram suas primeiras leis codificadas.
As fontes de leis escritas são divididas em: fontes literárias e em fontes epigráficas.
2. Monografias constitucionais
3. Filósofos do direito
A tradição tem em Zeleuco o primeiro legislador que escreveu leis (cerca de 662
a.C), e em Dreros em Creta a primeira inscrição legal (meio ou segunda metade do
século VII a.C). No meio do século VI, a única cidade sem escrita era Esparta.
1. crimes e tort
2. família
3. pública
4. processual
No direito grego havia a importante distinção entre lei substantiva e lei processual. A
primeira é o fim que a administração da justiça busca, e a processual são os meios
para se chegar a esse fim.
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Idéias
Os gregos davam muita importância à parte processual e por isso era a mais
desenvolvida, e se dividia em arbitragem privada e arbitragem pública. A arbitragem
privada era o meio mais simples de se resolver um litígio, era realizada fora do
tribunal e nela as partes escolhiam os árbitros que julgariam visando a obter um
acordo ou uma conciliação entre as partes. Já a arbitragem pública contava de um
árbitro escolhido pela magistratura, e a principal meta era emitir um julgamento,
sendo que a decisão, neste caso, não era acordada, e sim imposta.
Os gregos não estabeleciam a diferença entre direito público e privado, civil e penal,
mas, no direito processual existia uma diferenciação quanto à forma de se mover
uma ação: ação pública e ação privada. A pública tratava de conflitos com o Estado,
sendo que qualquer cidadão era apto a iniciá-la, e a privada só em conflitos
judiciários e reservada aos envolvidos na ação.
Uma particularidade dos gregos é a retórica de persuasão, que até então não era
muito analisada pelos especialistas, mas que não deve ser deixada de lado quando
se estuda o direito grego.
Na Atenas clássica havia a Heliaia, que era o tribunal popular que julgava as causas
públicas ou privadas, somente o crime de sangue era julgado pelo Areópago. Os
cidadãos para poderem ser heliastas sem sofrerem prejuízos por isso, recebiam um
salário por dia de serviço. Os cidadãos que exerciam um serviço público eram
chamados de dikastas e a decisão final era dada pelo voto da maioria.
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Idéias
Esses profissionais tornaram-se muito importante para a retórica e pode ser uma das
grandes fontes do direito grego antigo.
Nos tempos de hoje a retórica é vista como uma embromação, mas no sentido
original grego é vista como a arte de falar, mais ainda, é falar bem, é ter total
domínio das palavras e saber convencer os seus ouvintes para o ponto que se quer
defender.
6 AS INSTITUIÇÕES GREGAS
* O Conselho (boulê): composto por 500 cidadãos, com idade superior a 30 anos.
Eram escolhidos por sorteio, substituídos anualmente, e submetidos a exames de
moral (dokimasia). Eram auxiliares da Assembléia em suas decisões, uma vez que
esta não tinha como se dedicar por inteiro à política;
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Idéias
1. Arconte epônimo: o ano em que exercia sua função receberia seu nome, sua
função era regular calendários, tutelar viúvas e órfãos.
* Justiça Criminal
* Justiça Civil
Os casos de litígio mais simples eram resolvidos por juízes dos demos. Casos mais
graves eram encaminhados a tribunais formados por árbitros privados (que eram
escolhidos secreta-
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Páginas
91
Idéias
mente) e árbitros públicos (eleitos pelo povo, tendo mais de 60 anos). No tribunal da
Heliaia, muitos casos eram submetidos a júri popular, demonstrando a soberania do
povo. Havia sorteios adicionais antes do julgamento para impossibilitar fraudes, as
seções recebiam o nome de dikasterias e os jurados de dikostas. As questões
marítimas também possuíam seu próprio tribunal.
7 CONSIDERAÇOES FINAIS
Afirmar que o direito grego não apresentou bases fortes, evoluídas é equívoco.
Criou-se o mito que o direito grego não era bem estruturado, e que as leis de Dracon
a tudo puniam com a morte. Três fatores contribuíram para tal interpretação:
* Os gregos não deram relevância para as atividades jurídicas como, por exemplo, a
do advogado;
* As leis escritas, além de serem disponíveis a poucas pessoas, eram feito com
material peculiar que se deterioraram no tempo. Isto dificultou as pesquisas.
Introdução
Este artigo pretende apresentar algumas fontes do direito grego, apontando para
uma possibilidade de se fazer história do direito grego antigo, em especial a partir de
textos de filosofia, literatura, teatro, etc, já compilados e estabelecidos. Dá-se
especial atenção para livros brasileiros de história do direito que tratam sobre o
tema, bem como livros comumente lidos no Brasil.
Por outro lado, as teorias modernas da história adotaram um espectro muito amplo
do que pode ser fonte da historia. Entende-se que podem ser fontes para a história
qualquer material que possa servir para o historiador construir sua história. Adota-se
não apenas documentos oficiais, mas todo o tipo de documentos produzidos pelos
órgãos governamentais ou não. Documentos, livros, fotografias, gravuras, arquivos
pessoais, objetos, memórias, depoimentos, são alguns dos tipos de fontes utilizados
por historiadores.
Porém, grande parte dos historiadores do direito ainda adota como fonte para uma
história do direito apenas as fontes legislativas. Em sociedades como na Grécia
antiga em que não predominavam as fontes como as leis escritas, restringir às
fontes históricas às leis impede o historiador de entender o que era o direito nessas
sociedades. É necessário reabilitar todo o tipo de fonte histórica para a construção
de uma história do direito, e não apenas se ater às fontes do direito validadas na
modernidade.
Quanto à variedade das cidades gregas também existe uma imensa diferença e isso
acarreta em uma diferença no direito. Gilissen é um dos historiadores que destacam
essa diferença:
“Não há propriamente que falar de direito grego, mas de uma multidão de direitos
gregos, porque, com exceção do curto período de Alexandre do Grande, não houve
nunca unidade política e jurídica na Grécia Antiga. Cada cidade tinha o seu próprio
direito, tanto público como privado, e tendo caracteres específicos e evolução
própria. Nunca houve leis aplicáveis a todos os gregos; no máximo, alguns costumes
em comuns. Na realidade, conhece-se mal a evolução do direito da maior parte das
cidades; apenas Atenas deixou traços suficientes para permitir conhecer os estádios
sucessivos da evolução do seu direito”[1].
Finley, por sua vez, acredita na unidade do direito grego, considerando que há
características semelhantes desse direito em diferentes tempos e locais, o que
permite atribuir uma unidade[3]. Gagarin também acredita em uma unidade do
direito grego antigo, porém de modo diferente uma vez que considera que a unidade
pode ser dada pelo processo:
“A conclusão que proponho, no entanto, sugere que embora a lei ateniense possa
diferir em seus detalhes essenciais, no âmbito do procedimento (no sentido amplo)
compartilha características importantes com outros sistemas jurídicos da Grécia
arcaica e clássica. Isso nos permite falar em uma unidade essencial do direito grego
- ou pelo menos do procedimento legal grego – o que é um pouco diferente do que
Finley tinha em mente, mas que, penso eu, satisfaz seus critérios para uma unidade.
Entretanto, parece haver uma diferença substancial entre os sistemas jurídicos da
Grécia arcaica e clássica e o do Egito ptolemaico. A unidade que se encontra na lei
grega, portanto, é uma unidade processual geral - baseada nos períodos arcaico e
clássico - e não uma unidade substancial, fundamentada na lei helenística, em que
Mitteis e seus seguidores acreditavam. Mesmo nos períodos arcaico e clássico, esta
unidade processual geral não é forte o suficiente para nos permitir tirar conclusões
sobre a lei de uma polis com base na lei de outras polei. Mas o conceito de uma lei
unificada grega pode ser de ajuda na compreensão da natureza dos diferentes
sistemas jurídicos da Grécia arcaica e clássica, incluindo o direito ateniense,
valorizando as diferenças entre o direito na Grécia e em outros lugares”[4].
São inúmeros os tipos de fontes que podem ser utilizados para a construção de uma
História do direito grego antigo e essas vão além de materiais que tem ligação direta
com o direito, como as legislações e discursos judiciários. Diante da variedade de
fontes o que é fundamental garantir é que o objeto do estudo seja o Direito e nesse
ponto a questão do conceito de direito adotado pelo historiador é importante.
Há certo receio dos juristas em lidarem com outras fontes que não as jurídicas.
Nesse caso, questões como a dificuldade de se averiguar a verdade das fontes, ou
mesmo a dificuldade de lidar com o caráter literário ou filosófico da obra aparecem.
Esses receios são muito próprios de um tipo de produção pouco ligada à discussão
histórica e muito ligada a um direito que se pretende verdadeiro. Isso porque,grande
parte da história que se produz atualmente tem consciência de que construir uma
história é interpretar e essa depende daquele que a interpreta, tendo um ponto de
vista específico, que não está ligado com ser verdadeiro ou não. Um exemplo da
dificuldade de se lidar com outras fontes para a história do direito grego é vista no
seguinte trecho:
“(....) não há como acolher por inteiramente verdadeiro o que ali se diz, já que os
filósofos poderiam estar se referindo a uma sociedade hipotética, ideal, e não real,
da qual participassem; assim, não se pode afirmar, com segurança, que as
passagens porventura escolhidas discorressem sobre a correspondente estrutura
administrativa e judiciária do período; e mais de uma seqüência, aliás, verifica-se
que estes autores usam a expressão “deve ser” o que não significa dizer que
“é”. Por sua vez, os discursos proferidos pelos exímios oradores durante o calor dos
debates, nos tribunais nem sempre estariam acompanhando também o originário
espírito da lei, como a argumentação não se fazia para convencer juízes togados,
mas jurados leigos, permitiam-se expedientes próprios da oratória, capazes de
impressionar o público para o qual aquela se dirigia”[6].
Obras literárias, como as peças de teatros, também podem ser utilizadas como fonte
para história do Direito. “Antígona”, obra comumente utilizada no estudo do direito,
possui diversas interpretações e leva a pensar sobre a existência de múltiplas
normatividades no mundo do Direito Grego[8]. “As vespas” aponta para a existência
na Grécia de tribunais de julgamento que não abarcavam profissionais, mas
cidadãos que recebiam uma determinada quantia. Essa obra também faz a crítica
dos tribunais durante a guerra do Peloponeso, trazendo uma série de informações
sobre o Direito na época.
Mesmo os mitos gregos podem ser fonte para uma história do Direito. É isso o que
faz Francesco D’Agostino em seu livro “Per un’archeologia del diritto: miti giuridici
greci”. O que o autor está interessado não é propriamente em uma história de datas,
mas sim uma história do pensamento, que tem como foco os mitos gregos que
tratam do direito.
As leis dos legisladores, como Dracon, Sólon e Clístenes, também são uma
importante fonte para a história do Direito grego. Além dessas leis há outras, como
as que apontam para um direto das colônias gregas. Algumas dessas leis estão
compiladas.
Informações escritas sobre a sociedade e o direito grego podem ser obtidas em
diversos suportes como louça, mosaicos, escritos em couro e cerâmica, tábuas de
cera, madeira e cerâmica, etc[9]. Há também papiros com informações sobre o
direito grego, e com isso surgiu um estudo específico de papirologia jurídica. Porém,
esses papiros não são de fácil leitura, mesmo para os especialistas, como afirma
Finley[10].
Mesmo quando a sociedade grega antiga já possuía uma escrita bem elaborada e
difundida, esse não era o principal meio de transmissão do direito. A Grécia antiga é
marcada por uma sociedade em que a tradição oral é muito mais valorizada do que
a tradição escrita. Isso ocorre não apenas com o direito, mas com a filosofia e com
as artes, como destaca Reinaldo de Lima Lopez no seguinte trecho:
“Os gregos preferiam falar e ouvir, a sua própria arquitetura é a de um povo que
gostava de falar, não apenas os grandiosos teatros ao ar livre e os recintos de
reuniões (.....) Por cada pessoa que lia uma tragédia, havia dezenas de milhares que
as conhecida por representação ou audição. O mesmo acontecia com a poesia lírica
composta habitualmente para execução pública (freqüentemente por coros) em
ocasiões festivas, quer casamentos, festas religiosas ou para celebrar um triunfo
militar ou uma vitória nos Jogos. O mesmo se verificava ainda, embora dentro de um
certo limite, em relação à prosa. Heródoto, por exemplo, fez leituras públicas da sua
História. Os filósofos ensinavam mediante discurso e a discussão. Platão exprimiu
abertamente sua desconfiança em relação aos livros: não podem ser inquiridos e,
por conseguinte, as suas idéias estão fechadas à correção ou ao maior
aperfeiçoamento e, além disso, enfraquecem a memória (Fedro 274-8). O seu
mestre Sócrates conseguiu a sua reputação apenas com uma longa vida de
conversação, já que não escreveu uma só linha”[11].
O documento escrito grego que continha informações sobre o direito era
denominado de symbolon, apontando para o caráter não apenas funcional ou
mesmo probatório, mas também simbólico[12]. Essas duas dimensões do direito não
são esquecidas pelos gregos antigos, porém, apesar da dimensão simbólica do
direito ser muito forte na sociedade moderna, ela dificilmente é apontada pelos
juristas e estudiosos do direito. Esse caráter simbólico das leis gregas também pode
ser visto na escrita das leis nos muros, que não tinha como função primordial ser
lida, mas de expressar a presença da lei[13].
Aquele que der uma madrasta a seus filhos, que não seja estimado
nem tenha voz entre os cidadãos com quem
Esses órgãos apresentam um tipo de direito ligado às cidades, mas o direito Grego
antigo também abarcava o direito ligado à religião e outros assuntos da cidade, sem
que se fizesse uma divisão desses assuntos, uma vez que tudo isso era direito da
polis grega.
Estudar um direito democrático como foi o direito grego ateniense, aponta para um
direito em que esses valores são possíveis. Esse tipo de direito que não vem de um
governante tirânico, de um deus distante ou de um herói, mas é criado pelo povo
para o povo.
O direito grego antigo tem sido entendido por diversos historiadores por oposição ao
direito romano e definido pela falta em comparação a este. Assim, o direito romano,
já mais estudado e com sua codificação publicada em diversas línguas, é tomado
como paradigma para o estudo do direito grego. A comparação não é somente pela
diferença, mas pela falta, evidenciando uma valoração superior dada ao direito
romano. Ao direito grego antigo falta tudo, em especial fontes e com isso afirma-se a
pouca importância de se estudar essa história do direito. Os romanistas que foram
estudar o direito grego, acostumados a utilizar como base para seus estudos as
fontes escritas codificadas, encontraram muito pouco desse material na Grécia
antiga. Assim, presos nos paradigmas romanistas, negaram a importância do direito
grego, como aponta o texto abaixo:
“Falando sobre o direito grego em Atenas, Mario Curtis Giordani menciona que os
historiadores têm dado pouca importância a ele e cita Louis Gernet como
reconhecendo “que o direito grego foi durante muito tempo uma disciplina
deserdada”, novamente porque o direito grego tem sido objeto de estudo mais por
parte de 1) filósofos (que não se preocupavam muito com a verdade jurídica) e 2) de
romanistas que permaneciam fechados em suas categorias tradicionais”[19].
“A ciência jurídica moderna começou com o estudo dos Digestos no século XII e,
dessa maneira, foi moldada a partir dos materiais romanos legais.
Consequentemente, como o pensamento filosófico e jurídico grego se fundam
principalmente na jurisprudência, o direito grego tem recebido pouca atenção. Este
não é o lugar para discutir o significado deste fenômeno. Basta dizer que o direito
grego é descrito pela ciência da lei somente como uma pequena janela para os
primórdios, o que nos obriga a repensar em diversos dogmas estabelecidos com
base na consideração exclusiva de matérias da Roma antiga, da Roma moderna e
do direito germânico. O estudo de matérias do direito grego não tem se constituido
em meio para a ampliação da base de jurisprudência histórica e filosófica de nossa
geração”[20].
Diante de categorias que não são próprias do direito grego, tentar escrever uma
História desse direito é algo que só pode ser feito pela falta, porém isso agrega
muito pouco uma vez que saber “o que não é” é diferente de saber “o que é”. Há
características positivas do direito grego antigo que são pouco evidenciadas. Ao
direito grego falta ciência, profissionalização, direito privado, objetividade, método e
principalmente leis escritas. Os historiadores do direito passaram a negar o direito
grego porque não acharam as fontes escritas. Abaixo alguns trechos dessa definição
do direito grego antigo pela falta:
“O sistema jurídico na Grécia antiga é uma das principais fontes históricas dos
direitos da Europa Ocidental. Os gregos não foram, no entanto, grandes juristas; não
souberam construir uma ciência do direito, nem sequer descrever de uma maneira
sistemática as instituições de direito privado; neste domínio, continuaram sobretudo
as tradições dos direitos cuneiformes e transmitiram-nas aos Romanos”[21].
“O direito grego privado deixou poucos traços no nosso direito moderno, e estes por
intermédio dos Romanos. Os gregos mal souberam exprimir as regras jurídicas em
fórmulas abstratas, há poucas leis, poucas obras jurídicas”[22].
“Ainda que nem sempre e possa encontrar nas fontes do Direito Grego aquela
objetividade e método que o Direito Romano proporcionaria, verifica-se quão
expressiva foi a contribuição do primeiro para os fundamentos da ciência política e
das instituições de Direito Público”[23].
“O estudo do Direito grego antigo não encontrou por parte dos historiadores e
juristas o mesmo interesse demonstrado pelo Direito Romano, o que se explica
facilmente pelo fato de o primeiro aparecer como um direito meramente histórico
sem as profundas repercussões que o segundo teve na elaboração da Civilização
Ocidental. Acrescente-se a dificuldade que o estudo do Direito grego apresenta em
virtude da documentação esparsa que constitui sua fonte de cognição. Cabe aqui
uma observação curiosa. Algumas obras gerais que focalizaram o Direito Grego
(como por exemplo a notável Histoire du droit prive de la Republique Athénienne, da
autoria de Beauchet, 1897) revestem a tendência de expor a matéria de direito
helênico dentro dos quadros tradicionais do Direito Romano. Este método de
exposição pode sugerir uma semelhança entre um e outro. Na realidade um paralelo
entre ambos mostra algumas acentuadas diferenças. Um fato chama logo a atenção
quando se estuda a formação do Direito Grego: embora tenha existido na Grécia
uma vida jurídica, não encontramos ai, anota Gernet, “como órgão de elaboração do
direito, qualquer coisa comparável aos prudentes romanos”. A Grécia não produziu
juristas. Roma, ao contrário, faz do Direito o objeto de uma jurisprudência
profissional. Outra diferença fundamental: o costume, a regra não escrita estava
enraizada em um passado mais ou menos distantes, existe em diversos planos
(familiar, religioso, econômico), mas não é considerado expressamente,
teoricamente, como fonte de direito. “Há no grego uma disposição intelectualista que
o inclina a não reconhecer outra norma além da norma escrita, que é como um
decreto da inteligência a Lei”[24].
Considerações finais
Esse olhar fez um grande historiador da Grécia como Werner Jaeger falar de uma
Grécia, mas sem interesse na política e também no Direito, fazendo que grande
parte do entendimento dessa sociedade fosse dificultado, uma vez que a política era
central para essa sociedade. A restrição de Jaeger às instituições sociais históricas
da Grécia como a política, segundo Momigliano decorreram de sua condição
pessoal, vítima do nazismo que procurava deixar a política de lado[25].
1.INTRODUÇÃO
“Falar, portanto, de um direito arcaico ou primitivo implica ter presente não só uma
diferenciação da pré-história e da história do direito, como, sobretudo, nos
horizontes de diversas civilizações, precisar o surgimento dos primeiros textos
jurídicos com o aparecimento da escrita... Autores como John Gillisen questionam a
própria expressão ‘direito primitivo’, aludindo que o termo ‘direito arcaico’ tem um
alcance mais abrangente para contemplar múltiplas sociedades que passaram por
uma evolução social, política e jurídica bem avançada, mas que não chegaram a
dominar a técnica da escrita”
Referente às características:
Referente às fontes:
“as fontes jurídicas primitivas são poucas, resumindo-se, na maioria das vezes, aos
costumes, aos preceitos verbais, às decisões pela tradição etc. No que concerne
aos costumes, há de se reconhecer como a fonte mais importante e mais antiga do
direito, manifestação que comprova por ser a expressão direta, cotidiana e habitual
dos membros de um dado grupo social.”
“As regras de direito civil caracterizadas por uma certa flexibilidade e abrangência...
compreendiam um conjunto de ‘obrigações impositivas consideradas como justas
por uns e reconhecidas como um dever pelos outros, cujo cumprimento se assegura
por um mecanismo específico de reciprocidade e publicidade inerentes à estrutura
da sociedade”.
5.CONSIDERAÇÕES FINAIS
O primeiro item que Wolkmer faz uma crítica é o que diz respeito à fragilidade de
várias teses existentes sobre o direito arcaico que usam de visão evolucionista,
vistas por John Gilissen como sendo por demais simplistas e sobejamente lógicas
para serem corretas.
Raquel de Souza
1.INTRODUÇÃO
“Sólon não só cria um código de leis, que alterou o código criado por Drácon, como
também procede a uma reforma institucional, social e econômica”.
“Com a queda da tirania de Pisístrato em 510 a.C., o povo ateniense reage... e elege
Clístenes, considerado, posteriormente, o pai da democracia grega. Clístenes atua
como legislador, realizando verdadeira reforma e instaurando nova Constituição”.
“O historiador Moses Finley... chama a atenção para essa característica dos gregos:
‘Os gregos preferiam falar e ouvir... Heródoto, por exemplo, fez leituras públicas da
sua História... Platão exprimiu abertamente a sua desconfiança em relação aos
livros... Sócrates conseguiu a sua reputação apenas com uma longa vida de
conversação, já que não escreveu uma só linha’”.
Raquel coloca a teoria mais aceita sobre o surgimento das leis escritas:
“A escrita... somente dois reaprendida pelos gregos no século VIII a.C. e um dos
usos dessa nova arte foi a inscrição pública de leis... A explicação até agora mais
predominante tem sido a de que o povo grego, em determinado ponto da história
(por volta do século VII a.C.), começou a exigir leis escritas para assegurar melhor
justiça por parte dos juízes... O propósito seria o de remover o conteúdo das leis do
controle de um grupo restrito de pessoas e coloca-lo em lugar aberto, acessível a
todos”.
“No entanto, entre as objeções a essa teoria está a falta de evidência de que as leis,
antes dos legisladores, estivessem sob controle exclusivo de determinados grupos
da sociedade”.
“Uma versão mais recente, defendida por Michael Gagarin, é a da utilização da nova
tecnologia, a escrita, pela cidade (polis) como um instrumento de poder sobre o
povo... Eles podem ter limitado a autonomia dos magistrados judiciais, mas o poder
político absoluto continuava intocável”.
“Marcel Dettienne, em seu artigo... desenvolve a idéia de que a escrita, nos povos
antigos, além de sua complexidade intrínseca, estava confinada aos palácios e era
privativa de especialistas letrados... Porém, com a nova escrita alfabética,
mercadores, poetas, artesãos e o povo em geral, cada um a sua maneira,
começaram a usar escrita... a escrita muda de status e se torna ‘operador de
publicidade’”.
Raquel discute a pouca importância dada ao direito grego no campo dos tratados:
“Os gregos não elaboraram tratados sobre o direito, limitando-se apenas à tarefa de
legislar (criação das leis) e administrar a justiça pela resolução de conflitos (direito
processual)”.
“Uma forma utilizada para classificar as leis gregas é a utilizada por Michael Gagarin,
categorizando-as em crimes (incluindo tort), família, pública e processual. A
categoria denominada por crimes e tort, que aproximadamente correspondia ao
nosso direito penal, inclui o homicídio que os gregos, já com Drácon (620 a.C.),
diferenciavam entre voluntário, involuntário e em legítima defesa... Ainda na
categoria de crimes e tort se incluem: as leis estabelecidas por Zaleuco, que fixou
penalidades para determinadas ofensas... as leis de Carondas, que também
estabeleciam penalidades para vários tipos de assaltos; as leis de Sólon, que
previam uma multa para estupro, penalidades específicas para roubo, dependendo
dos bens roubados, e penalidades para difamação e calúnia”.
“Como leis públicas temos as que regulam as atividades e deveres políticos dos
cidadãos, as atividades religiosas, a economia (regulamentando as práticas de
comércio), finanças, vendas, aluguéis, o processo legislativo, relação entre cidades,
construção de navios, dívidas etc”.
“Por outro lado, a arbitragem pública visava a reduzir a carga dos dikastas, sendo
utilizada nos estágios preliminares do processo de alguns tipos de ações legais... A
ação pública podia ser iniciada por qualquer cidadão que se considerasse
prejudicado pelo Estado... A ação privada era um debate judiciário entre dois ou
mais litigantes”.
‘Em Atenas, contudo, a administração da justiça foi mantida, tanto quanto possível,
nas mãos de amadores, com o efeito (e talvez também o objetivo) de permanecer
barata e rápida. Todos os julgamentos eram aparentemente completados em um
dia, e os casos privados muito mais rápidos do que isso’”.
“A heliaia era o tribunal popular que julgava todas as causas, tanto públicas como
privadas... Os membros da heliaia, denominados heliastas, eram sorteados
anualmente dentre os atenienses”.
“A apresentação do caso era feita por discurso contínuo de cada um dos litigantes...
A votação era feita imediatamente após a apresentação... Não havia juiz”.
“Cabia ao litigante convencer a maior parte de jurados e para isso valia-se de todos
os truques possíveis. O mais comum... foi o uso de logrógafos, escritores
profissionais de discursos forenses. Podemos considera-los como um dos primeiros
advogados da história”.
Os órgãos do governo
Em seguida, o Conselho:
Na seqüência, os estrategos:
“Os estrategos foram instituídos em 501 a.C., em número de dez, sendo eleitos pela
Assembléia, e podendo ser reeleitos indefinidamente... Tinham como atividades
principais o comando do exército, distribuição do imposto de guerra, dirigir a política
de Atenas e a defesa nacional”.
A justiça e os tribunais
É feita uma breve introdução sobre como funcionava a justiça grega, como estava
dividida e a quem ela estava subordinada:
b)Justiça civil
“Os juízes dos demos, em número de 30 e mais tarde de 40, escolhidos por sorteio,
percorriam os demos e resolviam de forma rápida os litígios que não ultrapassassem
10 dracmas”.
“Os árbitros podiam ser privados ou públicos… Funcionava também como sistema
rápido e econômico para a solução de litígios entre familiares”.
7.CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Três fatores adicionais contribuíram para o direito grego não ocupar a importância
que merece. Primeiro, o desenvolvimento da escrita e a publicação de textos em
material; durável aconteceu paralelamente à evolução da sociedade grega e do
direito. Em segundo lugar, a obstinação dos gregos em não aceitar a
profissionalização do direito... Finalmente... muito pouco material sobreviveu para
servir ao estudioso do direito grego antigo”.