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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ


ESCOLA DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
DISCIPLINA DE METODOLOGIA CIENTÍFICA E PRODUÇÃO TEXTUAL
PROFESSORA: MSC. ELISIANE DONDÉ DAL MOLIN

GÊNEROS E TIPOLOGIAS TEXTUAIS


- Um texto não é apenas um texto -

Por trás de um texto existem elementos reveladores da sua constituição, funcionalidade,


produção e compreensão. Todo o texto tem um contexto: condições (externas ao texto) da sua
produção, recepção e interpretação, fazendo com que apresente diferenças no assunto, nas
expressões linguísticas usadas e na organização global. Ele também revela a identidade de seus
autores. Textos são a base do processo de comunicação, uma vez que se tornam a mensagem
produzida por um emissor, destinada ao receptor, conhecido ou não por este.
O que é um texto? Unidade global de comunicação que expressa uma ideia ou trata de
um assunto determinado, tendo como referência o contexto em que foi produzido. Apresenta-se
como uma frase de sentido completo ou um conjunto de frases e parágrafos que compõem
textos maiores (livros, artigos, relatórios, etc.).
Para ser considerado texto, sua produção deverá constar de representação oral ou escrita
relacionando, no mínimo, dois ícones linguísticos. Eles raramente se apresentam homogêneos,
pois misturam recursos de diversas naturezas, atrelados aos gêneros e às tipologias, como será
visto ao longo destas linhas.
Os textos podem ter (COSTA, 2011):

 Grupos: classe e distribuição dos gêneros textuais, feitas por meio do conteúdo
temático (assunto gerado), estilo verbal e composição;
 Tipologias: conjunto definido, sistemático e controlado de formas abstratas.

A produção textual envolve processos de comunicação, ou seja, a transmissão de


pensamentos, opiniões, informações ou sentimentos entre pessoas. Estes, por sua vez,
dependem da atuação de um emissor da informação, do receptor dela, da informação em si, do
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código usado (escrita, imagem, som), do meio (ondas sonoras, papel, texto virtual) e da situação
que desencadeou sua elaboração.
Desta forma, eles necessitam de uma linguagem como veículo de expressão,
exemplificada pelos recursos e possibilidades de comunicação enquanto interação humana, seja
ela verbal (palavra oral ou impressa) ou não verbal (cores, imagens, gestos, etc.).
Para estudar a complexidade contida nos textos os quais temos contato diariamente, os
mesmos foram agrupados em gêneros e, estes, subdivididos em tipologias, definidas de acordo
com características e funções específicas.
Segundo Costa (2011) existe uma confusão quando se fala em Gênero e Tipologia,
geradora de interpretações errôneas. Por esse motivo, é importante esclarecer que tipos textuais
se referem a aspectos relacionados ao próprio texto, como a linguagem utilizada e sua forma de
estruturação, já os gêneros, tratam da heterogeneidade de apresentação dos textos no contexto
em que a comunicação ocorre.

1 GÊNEROS TEXTUAIS

Gênero - Forma de comunicação e interação social em que um conteúdo específico é


veiculado por meio de formato característico. Um texto pode ser apresentado em diversos
formatos. Na vida cotidiana, há muitos “textos” a serem “lidos”.
Analisando em um primeiro momento, existem dois tipos de gêneros textuais:

Figura 01: Comparativo entre textos primários e secundários

Fonte: Elaborado pela autora

Podemos ainda agrupá-los em outros três grandes conjuntos de linguagens: Visual,


Oral e Escrito, sendo os últimos considerados verbais. Cada grupo textual possui gêneros e
padrões de conteúdo que possibilitam o seu reconhecimento por nossas práticas dialogais em
determinados momentos históricos.
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Os gêneros evoluem com a comunicação, e a primeira forma de entender isso é verificar


cada gênero pelas propriedades textuais, identificar os interlocutores envolvidos e o propósito
do texto. Provavelmente, é impossível listar todos os gêneros existentes, devido às suas
misturas e características particulares (PUC RIO, 2010). Tal listagem poderia se tornar infinita.
A diversidade de gêneros é fruto das maneiras que o homem encontra para se dirigir ao
seu interlocutor, entre elas os temas, necessidades, participantes do processo e as intenções dos
enunciados.

1.1 Características dos Gêneros Textuais Verbais

 Produção Oral:
 A interação ocorre face-a-face, em tempo real;
 A criação do texto é coletiva, resultante da interação;
 As mensagens adaptam-se ao interlocutor;
 O tempo afeta o modo de processamento e arquivamento na memória;
 Utiliza canais múltiplos: gestos, entonações, expressões faciais etc.;
 A construção do sentido da mensagem pode se apoiar em elementos extralinguísticos;
 O texto só existe no momento enunciado, sua retenção depende da memória;
 É menos planejado e está sujeito a hesitações, falhas e repetições.

 Produção Escrita:
 Não há presença do interlocutor;
 É geralmente criado por um único autor;
 O interlocutor nem sempre é conhecido;
 A composição e a leitura não sofrem restrições temporais;
 A comunicação vale-se de sinais gráficos organizados;
 A informação depende do material linguístico e visual;
 O conteúdo e a forma do texto ficam registrados;
 O texto escrito é planejado, permitindo o controle do formato e da estrutura.

Devemos lembrar também que (MARCUSCHI, 2002, p. 22):


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1) Os gêneros textuais são realizações linguísticas concretas definidas por propriedades sócio
comunicativas;
2) Constituem textos realizados cumprindo funções em situações comunicativas;
3) Sua nomeação abrange um conjunto de designações concretas determinadas pelo canal,
estilo, conteúdo, composição e função.

Agrupamento de gêneros – proposta de Schneuwly e Dolz (2004):

Figura 02: Agrupamento de Gêneros Textuais segundo Schneuwly e Dolz (2004)

Fonte: Elaborado pela autora

Quando se fala em escrita, para Bakhtin (2000) os gêneros textuais podem ainda ser:

 Delimitados pela alternância dos sujeitos falantes: o produtor imagina perguntas do


interlocutor com suas respostas, visando suprir a ausência deste;
 Com acabamento específico: determinado pelo tratamento do objeto de sentido, o intuito,
o querer-dizer do locutor e as formas de estruturação de gênero do acabamento;
 Marcados pela intenção do locutor: revela o propósito do locutor, projeta a
individualidade de alguém que defende um ponto de vista sobre um tema;
 Intertextuais: os enunciados mantêm relações com o que veio antes e com o que virá
depois;
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 Com destinatário certo: elemento que influencia na escolha, por parte do locutor, do
gênero, dos procedimentos compositivos e dos recursos linguísticos.

Considerando o que foi visto, não devemos esquecer que os gêneros se apresentam
como meios de enunciados particulares, concretos, relacionados às esferas da atividade humana
e de sua comunicação.
O enunciado é a unidade real da comunicação verbal e a fala só existe na realização das
emissões de um indivíduo em situação de comunicação. Por isso, entre estilo e gênero
observa-se um vínculo indissolúvel, de modo que o estilo é o estilo de um gênero numa esfera
da atividade humana.

2 O GÊNERO “DIGITAL”

O gênero digital é uma mistura dos gêneros oral e escrito, porém, o mesmo não é
considerado categoria oficial, mas uma constatação perante a tecnologia e a velocidade de
comunicação.
Há e-mails, blogs, chats e fóruns cujo conteúdo parece uma conversa, uma piada ou
ainda um anúncio. A diversificação de propósitos e conteúdos faz com que esse “gênero” seja
visto como veículo ou ambiente de divulgação. A tecnologia interage com a linguagem usada
que, cada vez mais, se torna superficial, sintética e direta.
Historicamente, os povos tinham uma cultura oral – conjunto reduzido de gêneros. A
invenção da escrita propiciou o surgimento de outros gêneros textuais, que se multiplicaram
com a criação da prensa gráfica, permitindo a reprodução de textos em grande escala.
Hoje estamos na era da cultura eletrônica, presenciamos o nascimento de outros
gêneros, fruto das misturas daqueles existentes, tanto na parte oral quanto escrita. Uma das
inovações são os Hipertextos.
Segundo Neitzel (2009) o Hipertexto é uma escrita feita em rede, construída com o
outro e concretizada no ato da leitura, criadora de intertextualidade. Pelas inferências do leitor
ao dialogar com a produção, forma-se um outro texto, mecânica esta possibilitada pelo uso de
exemplos, citações, traduções, críticas, paráfrases, etc.
Esse texto porta dentro de si outras possibilidades de leitura por ser composto de blocos
de dados conectados, que se multiplicam e se inter-relacionam, compondo uma rede não linear
– a textualidade múltipla. Ainda conforme Neitzel (2009) são citados quatro princípios de
textualidade múltipla:
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 O hipertexto se compõe da rede e de quem o lê;


 Caracteriza-se pela reversibilidade (desvio da narrativa principal e rearranjo das partes para
melhor entendimento);
 O hipertexto oferece ao leitor possibilidades de interação;
 É constituído por uma sequência fixa.

Assim, o hipertexto não se configura como uma combinação de frases, textos e signos,
mas da interferência de dois eixos: vertical (texto - contexto) e horizontal (diálogo sujeito –
destinatário) na reversibilidade da produção textual como um todo.
Considerado por autores como Ilana Snyder uma informação que existe apenas on-line
por ser a conexão virtual entre blocos de dados por meio de links eletrônicos, no computador
ele permite que o usuário acesse várias “trilhas”, mas que, por si só, não são responsáveis por
grandes mudanças no fluxo e entendimento das informações.
Contudo, para Neitzel (2009) a hipertextualidade, pelo ato de produção do hipertexto, só
se concretizará quando o leitor não reduzir as relações da obra a uma única interpretação que
julgar ser verdadeira.
Na “era digital”, a escrita se expandiu e não diz mais respeito apenas ao texto impresso,
e sim às diversas mídias em que ela se faz presente - novas maneiras do ato de ler e se produzir
textos. Conhecer as possibilidades de leitura e construção de sentidos permeados pela
tecnologia exige um “letramento digital”.
Por isso, ao trabalharmos com as informações que se referem ao gênero em questão,
devemos cuidar das fontes consultadas e, principalmente, da veracidade dos dados coletados
para posterior utilização. Na World Wide Web, todos podem inserir e modificar conteúdos,
todos possuem acesso desde que conectados à rede, contudo, não existem formas específicas
para o controle da totalidade de informações postadas diariamente.
Exemplos deste dado são textos postados e replicados sem menção a referências
consultadas ou dos responsáveis pela elaboração, imagens anônimas ou famosas, desprovidas
de contextualização ou do nome do fotógrafo relacionado a elas, textos com atribuições erradas
de autoria, etc.
A utilização destes “artifícios”, principalmente quando ponderamos sobre o meio
acadêmico, pode implicar a perda da credibilidade por parte do pesquisador (que será
questionado por outros), a falta de segurança sobre as afirmações e argumentações feitas na
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análise de resultados de pesquisa ou ainda, em casos mais graves, acusações de plágio e


desrespeito aos direitos autorais (Código Civil, art. 524 e Código Penal, art. 7, 22 a 24, 33, 101
a 110, 184 e 299)1.

3 AS TIPOLOGIAS TEXTUAIS

Tipologia Textual – construção teórica textual que apresenta determinadas estruturas


linguísticas e formais: consiste em descrever ou caracterizar um objeto, ambiente, paisagem ou
pessoa pelo seu lado físico, psicológico ou por suas ações.
A expressão “tipo textual” designa um enunciado que apresenta propriedades
linguísticas intrínsecas dentro de um propósito. Constituem sequências linguísticas ou de
enunciados pertencentes ao gênero, contudo, não são produções empíricas. Um tipo textual é a
concepção ideal ao determinar estruturas linguísticas e formais de sua própria tipologia
(MARCUSCHI, 2000).
Considerando as tipologias usuais existentes, uma narração “conta uma história”, a
descrição apresenta as características de uma entidade, a exposição ou dissertação mostra fatos
reais de maneira analítica, a argumentação defende uma ideia ou tese, a uma injunção procura
provocar uma reação/ação do interlocutor e a dialogal expões conversas entre personagens e
interlocutores.
Analisando tais tipologias podemos entender os aspectos linguísticos do gênero. Por
exemplo, é difícil separar descrição e narração, pois o que é narrado se desenvolve em um
espaço que possui uma funcionalidade e envolve personagens. A descrição de espaço e
personagens é uma forma narrativa. Características opostas das personagens revelarem conflito
em uma narrativa, ou ainda, a descrição do espaço pode desvelar traços psicológicos das
personagens.
Uma vez que os tipos textuais se misturam constantemente, tornam-se estratégias
utilizadas na organização dos gêneros, independente das funções comunicativas destes.
Lembre-se: Um único texto contém mais do que um desses tipos.
Os tipos textuais constituem elementos fundamentais da infraestrutura dos textos
(letras, sílabas, palavras, pontuações, etc.) - responsáveis pela organização linear do conteúdo
(macroestrutura). As macroestruturas que o autor dispõe na memória desenvolvem-se em várias

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Para saber mais sobre plágio, consulte a cartilha disponibilizada no ambiente virtual “Material Didático”
(Unidade 3 do plano de ensino), elaborada pela Universidade Federal Fluminense.
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formas de organização regular, suas superestruturas. Considerando tal base de reflexão, a seguir
veremos separadamente cada tipologia.

3.1 Narrativa

Os textos narrativos são narrações que se produzem na comunicação cotidiana. Tem


como base a marcação do tempo e o destaque aos personagens das ações. Na narrativa
predominam as ações subordinadas à descrição de situações.
Sequência narrativa – uma história mobiliza personagens participantes de eventos que
ocorrem sucessivamente de forma “intrigante” (COSTA, 2011). Exemplos:

“Nenhuma outra inovação da revolução industrial incendiou tanto a imaginação quanto a


ferrovia, como testemunha o fato de ter sido o único produto da industrialização do século XIX
totalmente absorvido pela imagística da poesia erudita e popular. Mal tinham as ferrovias
provado ser tecnicamente viáveis e lucrativas na Inglaterra (por volta de 1825-1830) e planos
para sua construção já eram feitos na maioria dos países do mundo ocidental, embora sua
execução fosse geralmente retardada. As primeiras pequenas linhas foram abertas nos EUA
em 1827, na França em 1828 e 1835, na Alemanha e na Bélgica em 1835 e até na Rússia em
1837” (HOBSBAWN, 2014, p. 83).

“Acenderam-se os combustores, e de repente algo inesperado aconteceu. Uma rapariga


precipitou-se do décimo terceiro andar do edifício Império, deu uma viravolta no ar e caiu
hirta e de pé contra as pedras do calçamento, produzindo um ruído seco e agudo, que ”ecoou
no largo como um tiro de pistola. Seguiram-se alguns segundos de estarrecimento, como se
aquele trecho de rua e aquele momento fossem pessoas às quais o choque da surpresa tivesse
cortado subitamente a respiração”. Érico Veríssimo – O Resto é Silêncio (1943)

Tipos de Narração (LABOV; WALETZKY, 1967 apud COSTA, 2011):

 Narrativa mínima – articulação de tempos;


 Narrativa completa - possui começo, meio e fim (apenas relato, sem posicionamento);
 Narrativa plenamente desenvolvida - introduz um comentário que expressa pontos de
vista do narrador ou personagem sobre os acontecimentos.

Estrutura de uma narrativa completa:

1 - Resumo: sintetiza a história em uma ou duas orações e serve para despertar o interesse.
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2 - Orientação: estado equilibrado que a história inicia e o acontecimento marcante que irá
gerar o contexto - informa sobre o tempo, lugar, personagens e situação inicial;
3 - Complicação: introduz perturbação e cria uma tensão, núcleo da narrativa - sem ela não
existe história;
4 - Avaliação: revela a importância do episódio narrado por comentários - usados pelo narrador
para indicar a razão de ser da narrativa;
5 - Resolução: fim da narrativa, visa satisfazer a expectativa do ouvinte quanto ao desfecho da
história;
6 - Coda: arremate da narrativa.

3.2 Descrição

É composta de fases que não se organizam em ordem obrigatória, mas se combinam e se


encaixam (hierárquica ou verticalmente):

1 - Ancoragem: o tema da descrição é dado por um nome ou título, introduzido na sequência;


2 - Aspectualização: enumeração dos aspectos do tema-título com suas respectivas
propriedades;
3 - Relacionamento: os elementos descritivos se relacionam por comparação ou metáfora.

Exemplos:
“Assim, o presente trabalho trará, em sua primeira seção, definições aplicadas para termos
como migrante, migração, imigrante, refugiado, etc., criadas por Organizações Internacionais
a exemplo da Organização das Nações Unidas e da Organização Internacional para as
Migrações, suas semelhanças e diferenças quando comparadas às construções teóricas de
autores como Jubilut e Apolinário (2010), Martinez (2012), Zetter (2014) e Massey (1993,
2015)”.

“Dirigiu-se a uma porta lateral, e fazendo correr com um movimento brusco a cortina de seda,
desvendou de relance uma alcova elegante e primorosamente ornada. Então voltou-se para
mim com o riso nos lábios, e de um gesto faceiro da mão convidou-me a entrar. A luz, que
golfava em cascatas pelas janelas abertas sobre um terraço cercado de altos muros, enchia o
aposento, dourando o lustro dos móveis de pau-cetim, ou realçando a alvura deslumbrante das
cortinas e roupagens de um leito gracioso. Não se respiravam nessas aras sagradas à volúpia,
outros perfumes senão o aroma que exalavam as flores naturais dos vasos de porcelana
colocados sobre o mármore dos consolos, e as ondas de suave fragrância que deixava na sua
passagem a deusa do templo.” Lucíola – Machado de Assis
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3.3 Exposição/ dissertação

Origina-se na constatação de um fenômeno e parte de uma tese aceita por todos, mas
com objetivo de responder a questões ou expor contradições (COSTA, 2011). Fases:

 Constatação inicial: introduz um fenômeno não contestável;


 Problematização: expõe uma questão (porquê/como) associada a uma contradição;
 Resolução: demonstra elementos capazes de responder as questões colocadas;
 Conclusão-avaliação: reformula e/ou completa a constatação inicial.

Exemplo:
“O desenvolvimento econômico exige uma estratégia nacional de desenvolvimento.
Historicamente, países que conseguiram alcançar o nível de desenvolvimento dos países ricos
adotaram estratégias de desenvolvimento nacional ou de competição nacional. O que é uma
estratégia nacional de desenvolvimento? É um conjunto de valores, ideias, leis e políticas
orientados para o desenvolvimento econômico, que levam à criação de oportunidades para que
empresários dispostos a assumir riscos possam investir e inovar”. Extraído de “Do Antigo ao
Novo Desenvolvimentismo na América Latina” – por Luiz Carlos Bresser-Pereira (2010, p. 4)

Na estrutura expositiva, não é dada atenção ao tempo e aos agentes das ações em relação
à organização dos componentes – ênfase temática. A estruturação se apresenta em relações
lógicas: premissa e conclusão, problema e solução, tese e evidência, causa e efeito, analogia e
comparação, definição e exemplo. É rara a presença de um “enunciador” ou de indicadores de
avaliação – o que predomina é a imparcialidade.
Destacam-se os termos abstratos e o relato de mudanças de situação. Como texto,
pretende expor verdades gerais, predominando formas verbais no presente, embora outros
tempos contribuam para veicular a lógica das situações.

3.4 Argumentação

A argumentação implica na existência de uma tese admitida sobre um tema, meio de se


propor novos dados que, quando analisados, geram uma conclusão. A sequência argumentativa
apresenta quatro fases:

 Premissas: constatação de partida;


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 Argumentos: elementos que orientam para uma conclusão provável;


 Contra-argumentos: restrição em relação à orientação argumentativa, que podem ser
apoiados ou refutados;
 Conclusão: integra argumentos e contra-argumentos.

Exemplo:
Em que pese a crítica de que as RI [Relações Internacionais] não são apenas as relações entre
Estados soberanos, pois novos atores/agentes internacionais capazes de manifestar sua
vontade se fazem presentes, esta área do conhecimento avançou. Nesse sentido, as relações
internacionais precisaram incorporar novas perspectivas explicativas e analíticas, advindas
da economia, da administração, da psicologia e da sociologia, entre outras ciências. Mas para
operacionalizar as relações entre estes diferentes atores/agentes, as noções originárias da
ciência política ainda são fundamentais. Nesse sentido, estudar as RI a partir dos conceitos de
poder, interesse, conflito e cooperação, implica em concebê-las como as relações de conflito
ou cooperação entre atores internacionais que, tendo interesses diversos, precisam exercer
poder para viabilizá-los. (OLIVEIRA, 2008, p. 26)

Há certas relações entre a hipótese e a conclusão que podem ser de derivabilidade


(sintática), implicação (semântica) e conclusão (pragmática). Essas fases podem ocorrer ou não
em sua totalidade e o entrelaçamento delas acarreta em menor ou maior complexidade da
sequência argumentativa.

3.5 Injunção

É centrada na ação ou procedimento, indicando o que fazer para realizá-la (lembrar,


preparar, ajustar, pressionar, etc.). Há uma interação entre os interlocutores e o falante procura
ser “ouvido”, por meio de uma ordem, conselho exigência, etc.
Há grande incidência de formas verbais no imperativo, a urgência de perguntas e
“vocabulário de comprometimento dos interlocutores” (PUC RIO, 2010). Os manuais de
instruções, textos legislativos e as próprias normas da ABNT são os melhores exemplos de
textos nesta tipologia.
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3.6 Dialogal

Discursos interativos e dialogados, quando existe uma conversa mútua e simultânea.


Sua condução precisa ser coerente para se entender a “conversa”. Existem três níveis
(BRONCKART, 2000 apud COSTA, 2011):

Nível supra ordenado: constituído de três fases gerais: abertura (contato inicial dos
interactantes); fase transacional (conteúdo da interação verbal) e; encerramento (termina a
interação).
Nível 2: cada uma das três fases gerais pode ser decomposta em unidades ou trocas.
Nível 3: cada intervenção pode ser atos discursivos (enunciados que terminam a fala).
Essas sequências podem aparecer combinadas dependendo o tipo do discurso, por ser
heterogêneo.

Exemplo:
Ela abanou a cabeça e exclamou:
- Creio na raça.
- Representa a sobrevivência do impulso.
- Tem progredido.
- Fascina-me mais a decadência.
- E que diz da Arte?
- É uma doença.
- E o Amor?
- Uma ilusão.
- E a religião?
- Uma coisa que a moda inventou para substituir a crença.
- É um cético.
- Nunca! O ceticismo é o começo da Fé.
- Que é você?
- Definir é limitar.
- Dê-me um rastro.
- Os fios partem-se. Extraviar-se-ia no labirinto.
O Retrato de Dorian Gray – Oscar Wilde

Todos os textos, segundo Marcuschi (2000), são tipologicamente variados, por


carregarem um conjunto de “traços” que formam sequências. Assim, independente da sua
forma ou do seu grau de complexidade, eles comunicam alguma mensagem ou informação. O
meio a ser utilizado para esta comunicação e a maneira como ele é concebido indicarão,
respectivamente, seu gênero e sua tipologia.
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REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

COSTA, A. R. da. Gêneros e Tipos Textuais: Afinal de contas, do que se trata? Revista
Prolíngua. João Pessoa, v. 6, n. 1, p. 96-114, jan./ jun. 2011. Disponível em: <
http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/prolingua/article/view/13551/7704> Acesso em 20 jun.
2013.

MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: o que são e como se constituem. [manuscrito] Recife:


Universidade Federal de Pernambuco, 2000.

NEITZEL, A. de A. O jogo das construções hipertextuais. Florianópolis; Itajaí: Editora da


UFSC; Editora da Univali, 2009.

PUC RIO. Introdução às narrativas e roteiros interativos. Curso de Especialização em


Tecnologias da Educação. Pontifícia Universidade Católica. Rio de Janeiro, 2010.

SCHENEUWLY, B; DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado das


Letras, 2004.

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